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Museologia Social e
Educação Popular Patrimonial
winter 2017
Ficha Técnica:
Informal Museology Studies
Papers on Qualitative Research
Issue 16 – Winter /2017
Directory
Pedro Pereira Leite
ISSN – 2182-8962
Editor: Pedro Pereira Leite
Publisher: Marca d’ Água: Publicações e Projetos
Redaction: Casa Muss-amb-ike
Ilha de Moçambique,
3098 Moçambique
Lisbon: Passeio dos Fenícios, Lt. 4.33.01.B 5º Esq.
1990-302 Lisbon –Portugal
APRESENTAÇÃO ....................................................................................... 7
1. Educação Patrimonial e participação comunitária ..................................... 9
2. Educação Global e museologia social: Experiências do sul global sobre
desenvolvimento sustentável ................................................................... 18
A ideia de Educação global .................................................................... 23
Aspetos relevantes da metodologia da educação global: ........................... 24
Educação Popular e Educação patrimonial ............................................... 25
Conclusão. .......................................................................................... 27
Universidades Populares e Educação popular .............................................. 29
Da educação para o desenvolvimento à Educação Global .......................... 30
Aprendizagem baseada na resolução de problemas .................................. 30
Aprendizagem baseada no diálogo ......................................................... 30
Aspectos importantes da metodologia da educação global: ....................... 30
Educação global II ............................................................................... 31
Os grandes objetivos da educação são ................................................... 31
Princípios da pedagógica pela emancipação ............................................. 32
Educação e Universidades Populares ...................................................... 33
Dimensões atuais das Universidades Populares........................................ 36
Património e Educação Popular ................................................................. 38
Educação e desenvolvimento ............................................................ 39
Dos públicos à população ...................................................................... 40
Os recursos do território ....................................................................... 41
A pedagogia da educação popular .......................................................... 43
Como pôr em prática esta nova pedagogia? ............................................ 44
Conclusão ........................................................................................... 46
Abordo aqui hoje esta efeméride, porque me parece uma relevante questão
para os trabalhos nos museus nos tempos que vivemos. A questão do género
está hoje no centro das políticas do património, e duma forma mais lata, da
cultura na defesa da dignidade humana. A dimensão do património nos museus
e a sua proposta de ação sobre o desenvolvimento das comunidades não pode
ser dissociada da questão da dignidade humana e do reconhecimento da sua
diversidade. E este é um desafio que a questão do género nos coloca na
construção das narrativas museológicas ou sobre o património.
Quem trabalha hoje nos museus e nas organizações culturais não pode deixar
de estar atento e crítico às linguagens usadas na construção das narrativas
sobre as posições sociais dos seus autores. É necessário não ter a ingenuidade
de pensar que as representações são desprovidas de sentidos sociais, e que se
sobre elas não exercermos um olhar crítico, a narrativa é uma mera reprodução
de estereótipos e não contribui para a função social de criar consciência
A questão da representação crítica das mulheres nos museus é uma das formas
de afirmar o género como um sujeito social. De dar configuração ao conteúdo
da Convenção Contra a Discriminação e a Violência sobre as Mulheres. De
entender que a discriminação implica que os diferentes atores sejam os sujeitos
das suas próprias narrativa.
1
Investigador doCentro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, membro do
MINOM e Professor de Museologia na ULHT
Para quem trabalha com as questões do direito da cultura, usa como referencia
a Declaração de Friburgo que tem como objetivo garantir o acesso e o usufruto
dos bens patrimoniais, bem com a livre criação, considerados como elementos
agregadores da Dignidade Humana, questão intimamente associada aos
Direitos Humanos. Esta questão está hoje no centro dos debates que levamos a
cabo para entender o lugar da cultura no âmbito do desenvolvimento e da
educação patrimonial. E é nesta dimensão que queremos discutir a questão se o
património é ou pode ser um instrumento de desenvolvimento para a
comunidade.
Não deixando de ser uma narrativa que menoriza o lugar da cultura, os atores
da cultura não deixarão certamente de colocar a questão do lugar da cultura e
do direito à cultura na agenda e manter uma ação de reivindicação da
relevância da cultura para o tempo que vivemos. Em que dimensões poderemos
então intervir?
Por essa razão os bens culturais têm que ser de acesso universal, necessitam
de uma atividade de educação e formação. A cultura necessita de ser
comunicada e é um instrumento de cooperação entre os povos e nações.
Através da cultura constroem-se diálogos entre diferentes comunidades.
Na verdade, isso não é algo de novo nos museus. Há vários lugares onde se
tem vindo a criar práticas de intervenção no campo da educação popular e
patrimonial. A aplicação dos princípios da educação popular parte da crítica aos
sistemas de educação formal, formados na acumulação de informação de forma
acrítica e aplicada a situações abstratas; e propõem, como alternativa, atuações
Apenas para dar alguns exemplos onde isso está a acontecer no Sul global, não
podemos deixar de evidenciar o caso dos processos de museologia social no
Brasil Nos seus museus de Favela e nos ecomuseus indígenas. Neste ano o
MINOM realizou a sua 17ª conferência na Comunidade da Nazaré, situada nas
margens do Rio Madeira, no Estado da Rondônia, na amazónia. Ele realizou-se
nesse lugar, porque aa comunidade local procurava desenvolver um museu.
Quando lá chegamos verificamos, que em grande medida pelo trabalho
anteriormente feito pelo programa de extensão universitária da Universidade da
Rondônia, o museu já existia. Não tinha era o nome de museus, pois todo o
trabalho feito, de educação patrimonial popular, já tinha criado uma consciência
crítica sobre as heranças patrimoniais e a autonomia dos membros da
comunidade, que usam o património para organizaram as suas ações no
mundo. É claro, que essa consciência não resulta apenas do trabalho do
património, mas sobretudo do envolvimento das diferentes movimentos sociais,
que atualmente se desenvolvem nesta região do mundo.
Temos que reconhecer, ao olharmos para estes processos, que a maioria dos
casos a Educação Patrimonial Popular está ligada a ações que são dinamizadas
por profissionais que se envolvem nos processos museais. Eventos ou situações
em que algo sucede na sociedade onde se chama a atenção para o património,
para a sua situação de perigo ou um outro qualquer motivo. E quando há
sabres para agir a vontade de património tem condições de se exprimir de
formas mais eficiente.
Bibliografia
Vale a pena olhar para três conceitos básicos nesta questão: - Educação,
Cidadania e Desenvolvimento, e procurar entender a forma como o seu
significado se foi consolidando na linguagem. A linguagem é o que sustenta a
forma como olhamos para o mundo, como construímos as nossas práticas. Eles
transportam intenções, certezas e ambiguidades.
Haverá hoje poucas dúvidas que estes três conceitos: Educação, cidadania e
desenvolvimento, são hoje campos semânticos de complexidade. São por um
lado construções históricas e apresentam significados diferentes em função do
seu lugar de enunciação. Por outro lado, eles são também conceitos que
ancoram a formulação de políticas públicas, afetam recursos públicos e
mobilizam a ação social. Em suma são conceitos que legitimam as políticas
públicas no campo da ajuda ao desenvolvimento e na educação para a
cidadania nos sistemas de ensino. São essas políticas que definem o que se
entende como Desenvolvimento e Cidadania.
É nesse sentido que nos últimos anos tem crescido a ideia da Educação Global
como alternativa à Educação para o Desenvolvimento, um processo que se
desenvolvia nas sociedades europeias e que tinha como objetivo dar a conhecer
o estado de desigualdade do mundo, ao mesmo tempo que procurava
acrescentar ação de solidariedade e apoio a esse desenvolvimento.
Abordamos até aqui as questões sobre a Educação global. Há várias vozes que
se tem vindo a levantar defendendo a necessidade de descolonizar,
despatricalializar e descapitalizar a educação. Vozes que defendem que é
necessário que a escola ajude a pensarem de forma diferente. Uma escola de
não seja um instituição de reprodução dum conhecimento inútil, mas uma
escola que se preocupe com os problemas relevantes do tempo em que
vivemos. Uma educação voltada para o futuro, marcada pelos valores da
justiça, pela criação de capacidade de ação e pelo trabalho com as emoções.
• A procura de soluções
Conclusão.
A educação patrimonial popular, enquanto proposta emancipatória é uma
aventura de conhecimento. A produção do conhecimento não como uma
coerência mas como uma procura da coerência.
Neles sente-se a emergência dum novo paradigma de viver bem e bem viver.
Uma Paradigma de viver numa sociedade planetária, feita de diversidade e em
relação com a natureza. O Bem-viver poderá afirmar-se ou não como uma
alternativa ao desenvolvimento sustentável, na sua versão tecnocrática.
Propõem-se partir das situações de cada local, de cada agregado regional para
construir interdependências com base na diversidade. A autonomia e a
autodeterminação são questões base na afirmação dos direitos culturais que
permitem transformar as relações de poder
Nos últimos anos tem crescido a ideia da Educação Global como alternativa à
Educação para o Desenvolvimento. Educação Global segundo a Escola Mundo é
uma abordagem metodológica na educação onde a aprendizagem é baseada na
cooperação.
Educação global II
• Implementar soluções,
• Enfrentar complexidades,
• Educação horizontal
Antecedentes.
A universidade era vista como um espaço de elites. Por isso era necessário que
o povo dela se apropriasse. Se o conhecimento das universidades era um
conhecimento erudito, as universidades populares deveriam procurar um
conhecimento popular. Construir os seus próprios conteúdos sem serem
eurocêntricos.
Em sexto lugar a Educação Popular tem que construir o seu próprio sistema de
poder. A educação popular tem que entrar nos sistemas de educação formal e
acabar com a dicotomia entre popular e tecnologia.
A crise universitária
O modelo universitário está em crise desde os anos oitenta. A ideia geral é que
o sistema está subfinanciado, o que obriga as universidades a procurarem uma
parte do seu financiamento na sociedade, fundamentalmente através de
empresas, em troca do qual são criadas ações educativos voltadas para o
mercado. As universidades deixaram de se recriar. A entrada das classes
médias na Universidade acabou por ditar o fim das Universidades como espaços
das elites, que se transferiram para universidades privadas, financiadas pela
atividade empresarial. As universidades públicas tendem a perder o papel da
universalização no ensino.
A educação tende a ser olhada como uma oportunidade. Há que pensar novos
processos de intervenção do conhecimento. Por exemplo educação e saúde. A
educação popular terá que construir o seu próprio conhecimento a partir das
relevâncias da sociedade.
Ordem/
Desord
em
•Estrutura/
Fluído
União/Separação
• Simbólico
/Diabólico
2
Patrimônio e Educação Popular", (2002) Revista Ciências & Letras, FAPA 31, Porto
Alegre, 2002, 287-296 http://www4.fapa.com.br/cienciaseletras/pdf/sum/sum31.pdf
3
Ex-Director do ICOM, Conselho Internacional dos Museus. Viveu e trabalhou vários
anos em Portugal, ligado à Acão cultural da Embaixada francesa. Atualmente dirige uma
associação de desenvolvimento local e é consultor internacional nesta mesma área,
tendo efetuado frequentes missões no nosso país. Contacto: 21360 Lusigny-sur-Ouche,
França. E-mail: hdevarine@interactions-online.com
4
Hughes de Varine, em 1997 na Jornadas Sobre a Função social dos Museus já havia
abordado a questão do Desenvolvimento Sustentável. http://www.minom-
icom.net/_old/signud/DOC%20PDF/199700404.pdf
Além disso, mesmo nas sociedades mais “educadas”, há sempre uma certa
percentagem da população que passou ao lado desta educação bancária, quer
se trate de analfabetos, de iletrados ou de abandonados pelos estabelecimentos
escolares, que nem sequer adquiriram os conhecimentos formais mínimos para
fazer o seu caminho na vida segundo as normas da sociedade que os rodeia.
Estes não podem regressar à escola e a sua única esperança será de entrar
num processo educativo novo, original, adaptado aos seus ritmos, à sua cultura
viva, aos seus interesses reais.
Nas linhas que se seguem, falarei apenas de educação popular, para sublinhar o
que aqui nos interessa, o facto de que se trata de uma educação que se destina
ao conjunto da comunidade, associando-a e envolvendo-a no seu todo, com
todos os seus membros e os recursos do território.
Nesta abordagem, não se pode falar de públicos específicos, tal como se fala no
ensino clássico ou na Acão cultural e artística. É certo que cada um deve poder
aí encontrar respostas às suas necessidades próprias, em função do grau de
desenvolvimento pessoal a que chegou: o analfabeto procurará adquirir, ao seu
ritmo, os conhecimentos de base que lhe permitam poder ir mais longe de
seguida, o erudito ou técnico pedirá para aceder ao conhecimento do seu
quadro de vida ou a técnicas que lhe não são familiares, o imigrante ou o
recém-chegado quererá ligar-se ao passado e às línguas do seu novo quadro de
vida, enquanto os autóctones desejarão valorizar-se graças aos contributos
destes diferentes vizinhos, etc.
É, com efeito, apenas através do domínio da sua própria cultura que uma
população pode pretender tornar-se parceiro ativo e responsável do seu
presente e do seu futuro. As equipas locais da Associação “In Loco”, que
trabalham no seio das populações no interior serrano do Algarve, em Portugal,
produziram recentemente um notável trabalho de síntese e de metodologia,
que inclui nomeadamente a formação para o desenvolvimento pessoal5. Este
trabalho retoma, atualizando-o, o dos movimentos de educação popular ativos
na Europa em reconstrução, após a II Guerra Mundial. Todavia, na sua prática
quotidiana, onde geralmente a educação popular de ontem procurava fornecer
meios de formação ou de animação trazidos principalmente do exterior
(formadores, animadores, artistas, conferencistas), os técnicos da “In Loco”
procuram, antes de mais, dentro da própria comunidade os recursos e os
materiais da formação.
5
“Formação para o Desenvolvimento. Formação / Inserção Profissional Territorializada”.
Associação “In Loco”, www.in-loco.pt
Os recursos do território
Das estruturas
Das pessoas
Dos saberes
Tudo o que existe, com duas ou três dimensões, sobre o território e no seio da
comunidade, pode ser utilizado para a educação popular, para a observação, o
conhecimento do meio, a análise, a aprendizagem, o consumo, o controlo da
técnica, a identidade, o conhecimento do passado. A sua principal qualidade é
ser uma realidade tangível que multiplica a sua virtude pedagógica. Organizei
pessoalmente, em vários locais do Norte (Compiègne e arredores) e do Oeste
(Bouguenais, perto de Nantes) de França, “passeios de descoberta” do
património, destinados a formar militantes e animadores do desenvolvimento,
oriundos da população local, levando-os a ganhar consciência, ao mesmo
tempo, dos materiais à sua disposição e das suas responsabilidades na
respetivas preservação e utilização. Mencionarei também as exposições
participativas e os inventários participativos, deveras eficazes, não só para
(re)criar a identidade local, mas também para identificar as pessoas-recurso
que poderão tornar-se atores voluntários do desenvolvimento.
A educação popular não é nada de novo, mas, para além de um período inicial
de prática militante, manteve-se vezes demais nas mãos dos docentes,
membros de uma corporação de técnicos da pedagogia. A verdade é que os
hábitos dos “clientes” potenciais da educação popular já não são os mesmos de
há 50 anos. Os não-letrados recusam o quadro escolar e os constrangimentos
da educação bancária, sobretudo quando o conheceram e dele saíram sem
qualquer bagagem cultural utilizável. Por seu turno, os letrados não veem a
utilidade de uma abordagem que não considere até certo nível os seus próprios
adquiridos culturais e intelectuais. Além disso já não se procura ocupar de
forma inteligente os tempos de lazer, mas sobretudo aceder a um estatuto
sociocultural e socioeconómico reconhecido ou adquirir o controlo dos meios de
expressão e de criação, tendo em vista uma plena participação na construção
do futuro. Em ambos os casos, a procura das pessoas coincide com a dos
agentes de desenvolvimento e da Acão comunitária, que pretendem interagir
com atores locais conscientizados e formados.
6
Para as pessoas locais, Ecoturismo significa um diálogo aberto e contínuo entre os de
fora e os de dentro; ao explicarem aos visitantes aquilo que são, as comunidades
indígenas descobrem o que realmente são” <em inglês no original
Conclusão
Fontes.