Você está na página 1de 21

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4

Cadernos PDE

VOLUME I
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS
DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009
REPRESENTAÇÕES SOBRE A FORMAÇÃO DOCENTE: a práxis na formação humana

Valéria Aparecida Lopes¹

Sonia Ana Leszczynsk²

Resumo

O presente artigo teve como objetivo investigar as representações de discentes


sobre a relação entre a teoria e a prática pedagógica na formação docente, dentro
da perspectiva da práxis transformadora e produtora da existência humana. Verificou
como tem ocorrido a superação da dicotomia entre a razão técnica-instrumental e a
crítico-reflexiva dos alunos,diante das novas exigências do mundo do trabalho. Usou
como suporte a abordagem do materialismo-histórico, que entende o trabalho como
princípio educativo, o que significa, compreendê-lo como ação sobre a natureza que
produz a transformação do indivíduo e da sociedade. Na dimensão teórico-prática
teve como base o conceito de práxis, a qual relaciona-se com o processo de
constante relação entre teoria-ação-reflexão, e parte do pressuposto de que existe
um diálogo entre a teoria e a prática que é contrário ao modelo de racionalidade
técnica, instrumental. A pesquisa foi desenvolvida em uma escola pública da rede
estadual de ensino com alunas do curso de formação de docentes. Optou-se por
escolher a disciplina de prática de ensino porque ela proporciona um momento
importante de construção da identidade do aluno e, torna possível verificar como
está se constituindo a práxis no processo de formação humana. A compreensão
teórica teve como apoio principal os estudos de Nóvoa (1995), Vygotsky (1991) e
Pimenta (1995), entre outros. Foi utilizado o método dialógico porque ele pressupõe
sujeitos que usam a abordagem dialética, favorecendo a ação-reflexão-ação para
que todos os envolvidos na pesquisa pudessem atuar como protagonistas na
transformação de si e do outro indivíduo. Os resultados contribuíram para observar
que a maioria dos alunos mostraram dificuldade em estabelecer relações entre a
teoria e a prática mas, demonstraram preocupação e avanços nas reflexões sobre a
necessidade do processo de formação ter como referencial a perspectiva da práxis
transformadora.

Palavras chave: Formação docente, práxis, formação humana

1
1.Pós-graduação em Tecnologia e Sociedade, graduação em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná,
atua como professora no Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilloto ..............................................
2Possui doutorado em PhD in Education - University of Iowa., mestrado em Masters of Arts - University of Iowa,
graduação em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná, e chefe do departamento de educação -
PROGRAD
1. Introdução

Este artigo teve por objetivo compreender as representações sobre a constituição


da práxis transformadora dos alunos do segundo ano na disciplina de prática de
formação do Curso de Formação de Docentes – Educação Infantil e Anos Iniciais do
Ensino Fundamental do Instituto de Educação do Paraná Professor Erasmo Pilotto,
em Curitiba.

Nesta pesquisa verificou-se como tem ocorrido a superação da dicotomia entre a


teoria e a prática no curso de formação de docentes.

O motivo que levou ao estudo da relação entre a teoria e a prática, deve-se ao


fato de perceber-se durante a trajetória profissional, muitos questionamentos entre
os professores com relação ao tema em questão, onde os docentes demonstraram
preocupações com a dificuldade dos alunos em estabelecer a unidade entre a teoria
e a prática no processo de aprendizagem.

Como os cursos de formação inicial de professores tem a prática de formação


como momento da constituição da práxis, esta, foi escolhida para atender o objetivo
do estudo.

Algumas questões se fizeram presentes no processo de investigação desse


trabalho como: Como a práxis vem sendo constituída no curso de formação de
docentes? Qual o lugar da disciplina de prática de formação na constituição da
práxis? Tem sido feito questionamentos entre o professor e os alunos na prática de
formação sobre a efetivação da práxis transformadora? Por que os alunos sentem
dificuldade de estabelecer relação entre a teoria e a prática no curso de formação de
docentes?

Para impulsionar a análise da relação entre a teoria e a prática na disciplina de


prática de formação selecionou-se como referencial alguns conceitos da teoria de
Vygotsky (1991), na tentativa de perceber como o aluno os identifica e os inclui na
sua prática. Este autor, também contribuiu para o estudo porque sua teoria baseia-
se no materialismo histórico que pressupõe uma relação dialética entre os
envolvidos na produção do conhecimento.

Com o objetivo de esclarecer sobre como as atividades seriam desenvolvidas,


tornou-se relevante no primeiro encontro contextualizar os alunos sobre os temas
que seriam apresentados nas atividades.

As atividades foram divididas em três etapas, com 3 encontros de 4 horas. No


primeiro encontro foi analisado como o aluno percebia a relação entre a teoria e a
prática no curso de formação de docentes, também,ocorreu o esclarecimento dos
conceitos de racionalidade instrumental e crítica e, da constituição da práxis. No
segundo encontro, foi feita a exposição dos conceitos de interação, mediação, da
zona de desenvolvimento proximal, de linguagem e da formação de conceitos
espontâneos e científicos. No terceiro encontro os alunos escolheram e simularam
situações para explicar como a teoria de Vigotsky pode ser observada e analisada
na prática de formação.

O resultado da pesquisa mostrou a dificuldade que os alunos apresentaram em


relacionar a teoria com a prática, mas instigou-os a refletirem sobre como tem se
constituído a práxis transformadora no contexto histórico atual da educação.

2. A constituição da práxis na prática de formação

Com o objetivo de investigar o modo com que os alunos compreendiam a


relação entre a teoria e a prática no curso de formação, foram apresentadas
questões para que respondessem como estavam percebendo e refletindo a práxis
na prática de formação.
Questões

Refletir e discutir em 4 alunos sobre os seguintes itens:

Como acontece a relação entre a teoria e a prática na disciplina de prática de


formação?

Como percebem a relação entre a disciplina de fundamentos psicológicos e a prática


de formação?

Para tornar possível uma discussão mais aprofundada sobre a relação entre a
teoria e a prática tornou-se necessário fazer uma exposição teórica do histórico da
racionalidade técnica e crítica na educação, da concepção dialética de educação e,
da constituição da práxis transformadora na prática de formação.

2.1 Compreensão dos conceitos de racionalidade técnica e crítica

Histórico da racionalidade técnica e da racionalidade crítica na educação.

O homem, sua consciência e subjetividade, são construídos historicamente. A


educação depende do processo histórico de como constituiu-se a racionalidade na
sociedade. Um dos motivos que ainda torna difícil a constituição da práxis
transformadora relaciona-se ao fato de que a racionalidade técnica ainda permanece
no modo de pensar de muitos indivíduos.
Foi no iluminismo que aconteceu o resgate da idéia de que somente a razão
deveria ser a fonte de construção do conhecimento, isso, ocorreu com o objetivo de
tornar os homens livres para pensar. Neste período, com o fortalecimento do
sistema de produção capitalista e com os ideais positivistas, a racionalidade técnica,
baseada numa concepção epistemológica da prática, herdada da filosofia positivista
tornou-se referência para a educação ao longo do século XX e, acabou sendo
imposta em diversos setores da sociedade, inclusive na educação. A racionalidade
técnica fez do professor um indivíduo que somente executa programas elaborados
por outros indivíduos, um mero transmissor de conhecimentos, impedindo-o de
desenvolver sua capacidade criativa, reflexiva, o que acabou tornando-o limitado nas
suas atividades. Esta racionalidade segundo Nóvoa (1995), opõe-se a uma
racionalidade reflexiva. Na medida em que a razão torna-se instrumental, a ciência
deixa de ter acesso a muitos conhecimentos verdadeiros para constituir-se num
elemento de dominação da classe dominante.

Diante de muitos questionamentos nos meios sociais, inclusive no educacional,


surgiu em oposição a racionalidade técnica, a razão crítica, com o objetivo de
questionar as limitações que vinham sendo impostas, de analisar quais os saberes
do professor que seriam fundamentais, e como eles deveriam relacionar-se com a
sua prática.

A racionalidade crítica reconhece o professor como produtor de conhecimento,


alguém que pensa a sua prática, que é reflexivo, questionador, investigador,
autônomo, criativo, e com capacidade para solucionar problemas.

Textos para análise e debate

Os textos selecionados tiveram por objetivo, instigar os alunos a refletirem sobre


como a racionalidade técnica ainda influencia no modo de pensar dos indivíduos na
educação.
Para Giroux (1988, p.23) existe resistência à concepção e assimilação da educação
como práxis a qual justifica-se pela racionalidade técnica que se tornou uma herança
cultural na mente dos indivíduos e na educação.

O modelo de formação profissional fundado na racionalidade técnica,


pressupõe a superioridade do conhecimento teórico sobre os saberes
práticos e provoca: (i) a divisão do trabalho em diferentes níveis,
estabelecendo relações de subordinação; (ii) o exercício de um
trabalho individual que gera isolamento do profissional; (iii) a
aceitação de metas e objetivos externos, considerados neutros.
Transformada numa atividade técnica e instrumental porque
decorrente da aplicação do conhecimento sistemático a prática
pedagógica passa a ser entendida como neutra e isenta de
subjetividade.( ALMEIDA 2001).

2.2 Concepção dialética de educação

Para compreender a relação entre a teoria e a prática na disciplina de prática de


formação, tornou-se relevante apresentar o conceito de dialética e sua relação com
a educação.

A dialética pode ser identificada como um método usado para explicar o


movimento conflituoso da história, entre a oposição de forças contrárias. Na
concepção dialética, a teoria e a prática são integradas, e remete-nos a buscar a
teoria para compreender a prática de forma reflexiva.

A educação fundamentada na dialética entende que o indivíduo é histórico e que


é pela sua ação, sobre a natureza que ele transforma a si e a realidade. O
desenvolvimento do indivíduo não baseia-se somente na sua teoria ou na sua
prática, ele acontece pela relação desses dois elementos, sendo então um processo
dialético.
2.3 A constituição da práxis transformadora na prática de formação

O objetivo central da prática de formação é o de constituir-se num momento em


que as disciplinas teóricas relacionam-se com a prática para produzir aprendizagens
significativas. Este tema tem sido motivo de questionamento nos meios educacionais
porque percebe-se uma dicotomia entre a teoria e a prática. Ou os cursos são
considerados muito teóricos ou, práticos. Na prática de formação o que percebe-se é
o predomínio das atividades práticas.

A prática de formação deve ser entendida como um momento de relação entre a


teoria e a prática onde deve acontecer a interação e a reflexão sobre a prática.
Como afirma Pimenta (2001) o estágio deve ser identificado como uma aproximação
da realidade, ele não significa somente a prática.

A prática de formação deve incentivar o aluno a produzir a reflexão sobre a


prática ou seja, construir a práxis fazendo com que o aluno entenda e transforme a
realidade. Isto, deve acontecer através da compreensão da interação entre as
teorias estudadas nas disciplinas e a prática. Segundo Nóvoa (1992), no processo
de formação de docentes, é importante desenvolver e estimular uma perspectiva
crítico-reflexiva que permita ao indivíduo obter os meios necessários para um
pensamento autônomo.

A práxis pode ser compreendida como ação, reflexão, e transformação da ação.


O aluno deixa de ser passivo e passa a ser o produtor da construção do
conhecimento. Portanto, pode-se concluir que o desenvolvimento de uma
consciência crítica sobre a interação entre teoria e prática, numa perspectiva
dialética, é fundamental para a constituição da práxis transformadora. O trabalho
docente deve fundamentar-se na reflexão teórico-prática, e precisa de um referencial
teórico que o permita refletir, e a abordagem mais adequada para isso, é a sócio-
histórica.
Textos e questões para reflexão e debate

Os seguintes textos foram selecionados para impulsionar os alunos a refletirem


sobre a construção da identidade profissional e, a entenderem como tem se
constituindo a práxis no curso de formação de docentes

“O estágio não é somente um momento de colocar em prática o que


se aprende, é também onde se pode refletir e construir a identidade
docente. A identidade do professor é construída ao longo de sua
trajetória como profissional do magistério. No entanto, é no processo
de sua formação que são consolidadas as opções e intenções da
profissão que o curso se propõe legitimar ” ( PIMENTA, 2004:62).

Vasquez(1968, p.185) para explicitar o conceito de práxis distingue-o de atividade e


afirma que: “Toda práxis é atividade mas nem toda atividade é práxis.”

Freire (1996, p.25) nos coloca que: “[...] ensinar não é só transferir conhecimentos”.

A nova sociedade exige, cidadãos responsáveis,


capazes de iniciativa, dispostos a correr riscos,
inovadores e flexíveis na sua capacidade de adaptação às
novas formas de vida, resistentes a desânimos e
frustrações em face das dificuldades, interventores e
lutadores de idéias, realizadores de projetos, avaliadores
de sucessos e fracasso ( ALARCÃO, 2003, p.100).

Para compreender o que os alunos entenderam após a exposição teórica sobre


a constituição da práxis na disciplina de prática de formação, algumas questões
também foram apresentados para impulsionar o debate sobre o tema em questão.

Questões

Qual a função da prática de formação?

Tem sido predominante a prática sem teoria?


Qual o sentido da teoria e da prática na formação dos alunos do curso de formação
de docentes?

O contato com a prática deve aparecer desde o início da formação?

Existe a união entre teoria e prática?

Existiu algum momento de confronto entre a teoria aprendida e a prática?

O que entende por práxis na prática de formação?

3. A teoria de Vygotsky

Considerando que a teoria de Vygotsky contribui para a compreensão do


processo de desenvolvimento e aprendizagem, esta, foi selecionada para que os
alunos entendessem como os conceitos desse autor poderiam ser identificados na
disciplina de prática de formação.

Os pressupostos filosóficos, epistemológicos e metodológicos de Vygotsky,


foram influenciados pela teoria dialético-materialista de Marx e Engels (Rego, 1995,
p. 32).

Segundo Rego (1995, p. 96), de acordo com o materialismo histórico e dialético


,são os indivíduos concretos que na luta pela sobrevivência organizam-se em torno
do trabalho estabelecendo relações entre si e com a natureza e se diferenciam dela
na medida em que a transformam conforme as suas necessidades.

Segundo o materialismo histórico a realidade evolui por contradição, é histórica,


e os conflitos dessa realidade é que produzem as mudanças de forma dialética.
Pode-se afirmar então, que as idéias nascem da interação entre o indivíduo e a
natureza e, são determinadas pela realidade objetiva, desta forma, o
desenvolvimento psíquico, a produção de idéias, as representações da consciência
estão diretamente relacionados à atividade material e ao intercâmbio entre os
indivíduos. (id, 1995 ,p.96- 98).

Segundo Oliveira(1993), Vygotsky utiliza-se do materialismo histórico de Marx


e Engels, e com seus colaboradores elabora a psicologia histórico-cultural com base
na perspectiva dialética, a qual entende que a atividade mental é construída nas
relações sociais, que o funcionamento do psiquismo e o desenvolvimento
psicológico acontecem através da internalização do modo de pensar e agir de uma
determinada cultura.

Para Vygotsky, “organismo e meio exercem influências recíprocas, portanto o


biológico e o social não estão dissociados (id, 1995, p.93).

Segundo Oliveira (1993 ,p.38), é através da relação interpessoal concreta com


outros homens que o indivíduo vai chegar a interiorizar as formas culturalmente
estabelecidas de funcionamento psicológico”.

Um dos conceitos fundamentais para a compreensão do funcionamento


psicológico é o de mediação. Por mediação entende-se a existência de um elemento
intermediário numa relação. Os mediadores das relações são os instrumentos os e
signos criados na interação social. Os instrumentos e os signos construídos
históricamente é que fazem a mediação dos indivíduos entre si e deles com o
mundo (REGO, 1995, p.42).

Os instrumentos são os elementos intermediários da relação entre o indivíduo e


o objeto. Por exemplo, o computador serve para uma determinada função , quando o
indivíduo utiliza-o, está formando aptidões, funções mentais e psicomotoras que não
existem em culturas que não o utilizam. Daí que surge o conceito de funções
mentais superiores que diferencia o homem de outros animais. O João-de-barro
constrói sua casa da mesma maneira que era construída em outros momentos
históricos, de forma instintiva, o homem, transforma a natureza e a si no decorrer da
história.

Os signos são os instrumentos psicológicos orientados internamente, eles fazem


uma mediação de natureza simbólica, como por exemplo, a representação mental
do computador antes de ele ser inventado e usado na prática. Eles iniciam fora do
indivíduo como forma de comunicação e depois são internalizados como forma de
controle da personalidade.

O uso combinado de signos e instrumentos modificam as funções psicológicas,


de processos simples para complexos, denominados de funções mentais superiores.

A linguagem é um signo mediador fundamental na formação dos processos


mentais superiores, ela organiza os signos em estruturas complexas, designa os
elementos e oferece conceitos para organizar a percepção, atenção e outras
funções psicológicas. A conquista da linguagem foi fundamental para o
desenvolvimento humano, através dela a criança sob a influência dos adultos pensa,
imagina e reavalia a sua relação com os objetos e com outros indivíduos.

No início, a criança ainda não tem domínio da linguagem como sistema


simbólico, utiliza manifestações verbais como o choro e o balbucio para resolver
problemas práticos. Aproximadamente aos dois anos, o pensamento encontra-se
com a linguagem e a fala torna-se intelectual, com função simbólica,e o pensamento
torna-se verbal mediado por significados oferecidos pela linguagem (Oliveira, 1993,
P. 47). Em seguida, a criança passa a desenvolver o discurso interior mas ainda de
forma egocêntrica, voltado para si própria como instrumento que auxilia na solução
de problemas. Depois, estabelece relações mais complexas na linguagem interior e
com outros indivíduos.

Outro aspecto fundamental, é o da relação entre aprendizagem e


desenvolvimento. O desenvolvimento depende do aprendizado realizado em uma
cultura, o que ocorre através da interação entre os indivíduos. A aprendizagem ,
quando acontece de forma organizada, resulta em desenvolvimento, colocando em
movimento vários processos mentais que de outra forma seriam impossíveis de
acontecer. Rego (1995, p.72), afirma que para compreender isso Vygotsky
desenvolveu o conceito de zona de desenvolvimento proximal, onde existem dois
níveis de desenvolvimento, um que ele chama de desenvolvimento real, que
relaciona-se ao que a criança consegue fazer sozinha, porque refere-se a
conquistas já efetivadas, e o outro, que recebe o nome de nível de desenvolvimento
potencial, que relaciona-se com as capacidades em processo de construção, onde a
criança consegue desenvolver as atividades mas com auxílio de alguém mais
experiente.

O que uma criança pode fazer hoje com o auxílio dos adultos,
podê-lo-á fazer amanhã por si só. A área de desenvolvimento
potencial permite-nos, pois, determinar os futuros passos da
criança e a dinâmica do seu desenvolvimento, e examinar
não só o que o desenvolvimento já produziu, mas também o
que produzirá no processo de maturação (VYGOTSKY, 1991,
p. 44).

Com base na idéia de que a criança desenvolve-se na relação com o outro,


Vygotsky apresenta uma nova idéia sobre a imitação na aprendizagem. A atividade
imitativa é associada à idéia de um processo puramente mecânico de repetição
(Rego, 1995, p.111), mas a criança pode, através da imitação, superar etapas do
desenvolvimento com o auxílio de outras pessoas, podendo fazer coisas que não
conseguia sozinha. O educador, é fundamental para auxiliar no processo de
desenvolvimento e de aprendizagem dos alunos, ele pode interferir de forma
intencional no processo de aprendizagem do aluno para fazê-lo avançar no nível de
desenvolvimento. É principalmente na escola que a criança apropria-se do
conhecimento científico. Por isso é importante que o professor amplie seus métodos
para que os alunos consigam compreender a forma de operar sobre os conceitos
cotidianos e científicos. Para isso, é importante que estabeleça uma relação de
diálogo com as crianças para que possam expor o que já conhecem, observar de
que modo interagem com os objetos e outros indivíduos para que então, se consiga
agir sobre a zona de desenvolvimento proximal partindo das conquistas já efetivadas
a nível de conhecimento para em seguida, produzir aprendizagens significativas.

Com o objetivo de impulsionar o debate e a análise dos conceitos de Vygotsky


na prática de formação, foram elaboradas algumas questões referentes ao que foi
exposto na apresentação da teoria deste autor.

Análise e debate a partir das seguintes questões:

Qual o significado da mediação docente baseada na abordagem sócio-histórica?


Como o processo de desenvolvimento do pensamento e da linguagem tem sido
observado na prática de formação?
De que forma o aluno tem pensado a intervenção pedagógica para que aconteça
a aprendizagem significativa?

Com o objetivo de complementar o conhecimento dos alunos sobre a teoria de


Vygotsky foram sugeridos alguns vídeos de Marta Kohl da Oliveira.

SUGESTÃO DE VÍDEOS COMPLEMENTARES

OLIVEIRA.M.K.Vygotsky.Disponívelem:http//:www.youtube.com/watch?v=TpFLOsoy
KTA&feature=related>Acesso em 18 de junho de 2010

___________.Vygotsky.Disponívelem:<http://www.youtube.com/watch?v=apDADNF
TUQA&NR=1>. Acesso em: 18 de junho de 2010

___________.Vygotsky.Disponívelem<http://www.youtube.com/watch?v=QSOBXfcH
bHI&NR=1>. Acesso em: 18 de junho de 2010.

___________.Vygotsky.Disponívelem<http://www.youtube.com/watch?v=mj2XBkwT
VDw&NR=1>. Acesso em: 18 de junho de 2010.

___________.Vygotsky.Disponívelem:<http://www.youtube.com/watch?v=EapR3rNT
kAs&feature=related>. Acesso em: 18 de junho de 2010.

ATIVIDADES PARA ANÁLISE E DEBATE

Foi solicitado aos alunos que apresentassem situações através de estudo de


caso ou simulação sobre o que ocorre na sala de aula com as crianças para
fundamentar a teoria de Vygotsky na prática. Como alguns alunos já trabalhavam
em creches, trouxeram relatos sobre a atuação deles com as crianças, outros,
relataram as suas aulas ministradas na disciplina de prática de formação.
3,1 Metodologia da pesquisa

O presente trabalho teve por objetivo investigar as representações dos alunos do


Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais sobre como
percebiam a relação entre a teoria e a prática na perspectiva da práxis na disciplina
de prática de formação.

Nesta pesquisa o referencial metodológico foi a pesquisa participante a qual teve


como propósito trabalhar na perspectiva da práxis, a qual tornou possível ao
pesquisador e ao pesquisado desenvolverem a análise das contradições entre a
teoria e a prática. Baseou-se na abordagem qualitativa, através de estudo descritivo-
interpretativo de relatos dos sujeitos pesquisados para entender como eles
construiram suas representações sobre a práxis no curso de formação de docentes
e, possibilitou a análise de seus discursos através da interação entre o pesquisador
e o grupo pesquisado.

Esta pesquisa teve como propósito fazer com que o pesquisador e o


pesquisado analisassem as contradições da relação entre a teoria e a prática. Como
afirma Haguete (1985), em algum momento da pesquisa, o processo educativo
atinge a equipe envolvida, onde pesquisadores e pesquisados interagem na dialética
do processo ensino e aprendizagem, e ambos tornam-se sujeitos do conhecimento
constituindo-se uma mão dupla na busca da práxis.

3.2 Sujeitos da pesquisa

Os sujeitos da pesquisa foram alunos do Curso de Formação de Docentes da


Educação Infantil e dos Anos Iniciais, da rede estadual. Participaram das entrevistas
14 alunos do 2º ano subseqüente.
3.3 Instrumentos utilizados

A pesquisa teve como base as técnicas qualitativas de investigação tais como,


entrevista livre, questionário e observação, porque permitiram ao aluno expressar
suas percepções, concepções, opiniões sobre o problema e possibilitou a análise
dos discursos de todos os envolvidos.

3.4.Resultado e análise

Na primeira parte da entrevista foram explorados os conceitos espontâneos dos


alunos sobre o que compreendiam da relação entre a teoria e a prática na disciplina
de prática de formação. Quando os alunos foram questionados sobre o que
entendiam do conceito de práxis, explicaram que a teoria é importante para
compreender a prática, mas tiveram dificuldade em explicar como articulavam a
teoria com a prática de forma reflexiva e transformadora. Poucos alunos
conseguiram responder que a práxis tratava-se de um processo de reflexão
constante de articulação entre a teoria e a prática.

Quando foram questionados se a disciplina de prática de formação prepara para


a prática profissional e, qual a sua função, todos concordaram que ela é fundamental
para a atividade docente e que a sua função era de observar, conhecer a realidade e
preparar para dar aula para as crianças, que o que aprendiam nas aulas era muito
importante para a prática,como por exemplo quando aprenderam a montar o plano
de aula, quando o professor orientou sobre quais atividades eram mais adequadas
para serem aplicadas e, qual a postura que o professor deveria ter diante das
crianças.

Quanto ao conhecimento teórico e prático acontecer desde o início da formação,


os alunos afirmaram que os dois tipos de conhecimento são importantes desde o
início, porque a atividade prática torna possível o conhecimento da realidade mesmo
quando nas primeiras vezes vão fazer somente observações, e que tanto a teoria
quanto a prática auxiliam na construção da identidade profissional, pois cada
experiência contribui para aumentar a segurança nas atividades com os alunos.

Com relação ao plano de aula,os alunos foram questionados se ele era


fundamentado em teorias aprendidas como as da disciplina de fundamentos
psicológicos da educação. A maioria respondeu que disciplinas como esta ofereciam
um conhecimento geral, mas que não eram inseridas na prática, que não faziam
parte do questionamento na prática de formação.

Quando foi perguntado sobre qual a importância do que aprenderam sobre


Vygotsky para a prática, a maioria respondeu que ele tem relação com o social e
auxilia como conhecimento geral, mas não tem relação específica com a prática.

Quanto aos conhecimentos sobre os conceitos de Vygotsky, a maioria considera


o conceito de mediação o mais importante porque relaciona-se com a influência da
cultura no processo de aprendizagem, e que os signos e instrumentos deveriam ser
utilizados pelo professor na construção de significados.

No debate sobre a relação entre a teoria de Vygotsky e a prática a maior parte


das alunas afirmaram que a teoria auxilia no processo de formação mas, que
oferece um conhecimento geral que ajuda a entender a escola e os alunos, mas que
tem pouca relação com a prática. Diante dessas afirmações, pode-se perceber que
os temas específicos da teoria de Vygotsky fazem parte de uma formação centrada
na transmissão de conteúdos mas que são ignorados e não são articulados com o
cotidiano das crianças na sala de aula.

No terceiro encontro foi solicitado que as alunas relacionassem os conceitos de


Vygotsky com a prática elas optaram por relatar como fizeram o plano de aula e a
prática desenvolvida na creche. Sobre o conceito de interação a maioria afirmou que
é através das interações sociais que a educação torna-se possível que elas se
transformam no decorrer da história e é diferente nas diversas culturas.

Quando foi pedido que explicassem como inserem o conceito de mediação na


prática, a maioria afirmou que o professor deve ser o mediador oferecendo
instrumentos e signos, que deve instrumentalizar a criança de forma adequada.

Quanto a atitude do professor de fazer intervenção com, demonstrações da


situação, criação de pistas e permitindo que a criança o imitasse para auxiliar na
criação de uma zona de desenvolvimento proximal, poucas afirmaram que agiram
dessa forma, a maioria disse que na prática explicavam o que deveria ser feito para
a criança desenvolver sua atividade sozinha, que intervinham somente se ela
apresentasse muita dificuldade. Uma aluna disse que identificava-se mais com a
teoria de Piaget, que apresentava a atividade para o aluno e que ele deveria agir
sozinho, que o professor deve facilitar a aprendizagem e ajudar se o aluno não
conseguir resolver o problema.

Quanto a relação entre conhecimentos espontâneos e cientifico ou


pseudocientíficos com crianças pequenas, poucos alunos relataram que iniciavam
as atividades explorando os conceitos espontâneos para depois apresentar os mais
complexos, a maioria apresentava somente a atividade que deveria ser feita pelos
alunos, e afirmaram que a maior preocupação era a de que a criança participasse
dela, poucos aluno demonstraram preocupação em criar uma zona de
desenvolvimento proximal, onde deve-se explorar a zona de desenvolvimento real
através conhecimentos espontâneos para auxiliar a criança a avançar para a zona
de desenvolvimento potencial onde adquire conhecimentos mais avançados.

Com relação a importância da brincadeira no processo de aprendizagem e


desenvolvimento a maioria afirmou que na prática não relacionaram a idéia de que
a brincadeira pode criar uma zona de desenvolvimento, afirmaram que no momento
da prática a utilizaram somente como um auxiliar na aprendizagem.

Com relação a imitação poucas alunas apresentaram suas atividades onde


aparecia a imitação, e uma aluna afirmou que não estimula a imitação porque o que
se observa na pratica é que quem imita acomoda-se e não procura resolver um
problema. Na perspectiva de Vygotsky a imitação não sendo apresentada de forma
mecânica, pode se tornar um recurso auxiliar no processo de desenvolvimento
através do auxílio de outro indivíduo, onde a partir do que a criança percebe,pode
depois fazer por si própria e de forma criativa.

4. Conclusão

Considerando que a prática de formação é um dos momentos mais importante


porque auxilia na articulação entre a teoria e a prática, tornou-se evidente que os
alunos tem consciência de que devem atuar com base numa abordagem reflexiva,
mas apresentam dificuldade de articular a teoria com a prática nas situações
vivenciadas, que por questões históricas ainda tendem a desenvolver suas
atividades e a raciocinar com base na racionalidade instrumental. Torna-se
necessário, conscientizar e possibilitar situações em que a disciplina de prática de
formação não se apresente somente como um momento de produção de
aprendizagem mecânica, fragmentada e, destituída de significados, mas que
transforme-se numa oportunidade de formação crítica, reflexivas para que os alunos
atuem de forma autônoma e transformadora.

Referências

ALARCÃO, Isabel. Formação Continuada como Instrumento de


Profissionalização Docente. In: VEIGA, IIma Passos A. (org). caminhos da
profissionalização do magistério. 3 ed. Campinas, S. P.: Papirus, 2003.
ALMEIDA, Célia Maria de Castro. A problemática da formação de professores e
o mestrado em Educação da Uniube. (Revista profissão docente online), Uberaba,
v. 1, n. 1, fev. 2001. Artigo.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática


educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.

GIROUX, Henri,. A escola crítica e a política cultural. Trad. Dogmar M. L. Zibas.


São Paulo: Cortez, 1988.

HAGUETE, Teresa M, F. Metodologias qualitativas na Sociologia. Petrópolios:


Vozes, 1987, 163p.

LURIA, LEONTIEV, VIGOTSKY et all. Psicologia e Pedagogia I. Bases psicológicas


da aprendizagem e do desenvolvimento. Lisboa, Estampa, 1991.

NÓVOA, A. (Org). Os professores e a sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1995.

________. Formação de professores e profissão docente. In: Nóvoa, A. (Coord.). Os


professores e sua formação. Lisboa: Publicações Dom Quixote, p. 15-34, 1992.

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo


sócio-histórico. São Paulo: editora Scipione, 1993.

_________________________. Vygotsk: parte 2. Disponível em:


<http://www.youtube.com/watch?v=TpFLOsoyKTA&feature=related>.Acesso em: 18
de junho de 2010.

_________________________. Vygotsky: parte 3. Disponível em:


<http://www.youtube.com/watch?v=apDADNFTUQA&NR=1>. Acesso em: 18 de
junho de 2010

__________________________. Vygotsky parte 4. Disponível em:


<http://www.youtube.com/watch?v=QSOBXfcHbHI&NR=1>. Acesso em: 18 de junho
de 2010.
___________________________. Vygotsky parte 5. Disponível em
<http://www.youtube.com/watch?v=mj2XBkwTVDw&NR=1>. Acesso em: 18 de
junho de 2010.

OLIVEIRA, M. K. de,. Vygotsky parte 6. Disponível em:


<http://www.youtube.com/watch?v=EapR3rNTkAs&feature=related>. Acesso em: 18
de junho de 2010.

PIMENTA, S. G. O Estágio na Formação de professores: unidade entre teoria e


prática? Caderno de pesquisa, São Paulo, n.94, p. 58-73, ago. 1995

____________. O estágio na formação do professor. 5 ed,.S.P., Cortez, 2002.

REGO, Tereza C., Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação.


Petrópolis, R. J. : Vozes, 1995.

VASQUEZ, Adolfo S. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1968.

Você também pode gostar