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Uma versão em inglês deste texto foi publicado na revista polonesa Forum Oświatowe (Educational Forum)
sob o título "FORMATION OF THEORETICAL THINKING IN PRESCHOOL CHILDREN IN THE CULTURAL-
HISTORICAL PERSPECTIVE".
10.37885/210404099
RESUMO
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Educação Matemática em Pesquisa: Perspectivas e Tendências - Volume 3
INTRODUÇÃO
Uma das questões, a ser enfrentada na discussão sobre a relação entre o pensamento
empírico e o pensamento teórico na atividade pedagógica, refere-se à interpretação sobre o
que seria a dimensão teórica do conhecimento nos processos de ensino e de aprendizagem.
Uma interpretação sobre o conhecimento teórico pautada no senso comum materializa-se
em proposições de ensino nas quais o conhecimento teórico é reduzido à definição do
conceito. A partir dessa interpretação tem-se, como corolário, uma expectativa pedagógica
de que a aprendizagem de um conceito se manifeste fundamentalmente pela declaração
verbal de sua definição. Se, por um lado, um conceito não depende de sua materialização
verbal, como uma “definição” ou conjunto de definições, por outro, essa forma de apresen-
tação do conceito não é suficiente para explicitar a sua dimensão teórica e, assim, suscitar
o movimento do pensamento teórico na atividade de aprendizagem dos educandos. Por
essa razão podemos dizer que o conceito teórico está e, ao mesmo tempo, não está em
suas definições verbais.
O pressuposto para entendermos essa relação é o de que a dimensão teórica do conhe-
cimento precisa sempre ser revelada, para o sujeito e por ele, a partir de seu engajamento
com a atividade humana que produziu tal conhecimento, como demonstram os estudos de
Davidov (1988), Davydov (1982), Galperin (2001), Leontiev (1983), Vigotski (2009), Vygotski
(1996, 2001). Do ponto de vista da organização do ensino, esse pressuposto relaciona-se,
fundamentalmente, com a proposição de ações que sejam capazes de desencadear o mo-
vimento do pensamento dos sujeitos em relação ao produto e ao processo de elaboração
de um determinado conceito.
Para desenvolvermos essas posições sobre o trabalho pedagógico com o conceito
teórico, apoiamo-nos em quatro teses vigotskianas (VIGOTSKI, 2009): a) o pensamento é
uma ação que está sempre direcionada a resolver algum problema; b) a palavra é o principal
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signo mediador do pensamento; c) fora do sistema conceitual, os conceitos assumem vín-
culos empíricos com o objeto; e d) o conceito propriamente dito forma-se somente na idade
de transição (por volta dos 12 anos). A partir dessas teses e da discussão sobre como o
ensino pode desencadear o pensamento teórico na atividade pedagógica, desdobram-se
algumas questões específicas que passam a ocupar o papel de instrumentos para a análise
de situações de ensino (Quadro 1).
O pensamento é uma ação que está sempre direcionando a Qual a qualidade do problema que é proposto para o sujeito no
resolver algum problema. seu processo de engajamento em uma atividade pedagógica?
Quais os tipos de generalização da palavra materializados nas
A palavra é o principal signo mediador do pensamento.
situações de ensino?
Fora do Sistema conceitual, os conceitos assumem vínculos Como se apresenta esse sistema conceitual em uma atividade
empíricos com o objeto. pedagógica concreta que analisaremos?
O conceito propriamente dito forma-se somente na idade de Como considerer o movimento do pensamento teórico desde a
transição. educação infantil?
Fonte: Elaboração das Autoras.
A primeira tese vigotskiana que nos orienta nesse debate sobre como o ensino pode
desencadear o pensamento teórico na Atividade Pedagógica é a própria conceituação so-
bre o que é o pensamento. Segundo Vigotski (2009), o pensamento é uma ação que está
sempre direcionada a resolver algum problema.
O pensamento não se reflete na palavra, mas se realiza nela. Por essa razão,
pode se falar do processo de formação (a unidade do ser e do não ser) do
pensamento na palavra. Todo pensamento tenta unir algo com algo, estabelecer
uma relação entre isto e aquilo. Todo pensamento tem movimento, curso, des-
dobramento, em uma palavra, o pensamento cumpre alguma função, algum
trabalho, resolve alguma tarefa. (p. 409).
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[...] o conceito é impossível sem palavras, o pensamento em conceitos é impos-
sível fora do pensamento verbal; em todo esse processo, o momento central,
que tem todos os fundamentos para ser considerado causa decorrente do
amadurecimento de conceitos, é o emprego específico da palavra, o emprego
funcional do signo como meio de formação de conceitos. (p. 170)
Essa afirmação é uma chave importante para nossas discussões. Tomado isoladamente
ou como uma pura definição, um conceito (por exemplo, “mamífero”, “número”, “jogo”) não é
nunca um conceito teórico propriamente dito. Tomando como exemplo a área de matemática,
o conceito de “número” revela-se para os sujeitos e por eles, à medida que eles conseguem
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atuar de forma autônoma ou consciente com as relações entre o problema humano historica-
mente surgido para controlar quantidades e os meios que foram sendo descobertos para se
resolver esse problema. Essas relações aparecem, por sua vez, em um sistema conceitual
que envolve os significados de: senso numérico, correspondência um a um, correspondên-
cia um a muitos (agrupamento), valor posicional e sistema de numeração. O conceito de
número, portanto, vai se construindo para os sujeitos em sua atividade de aprendizagem, à
medida que a atividade de ensino do professor organiza ações com esse sistema conceitual.
Por essa razão, a despeito da importância de compreendermos a posição vigotskiana
de que o conceito propriamente dito se forma somente na idade de transição (quarta tese
do quadro 1), podemos considerar que um ensino que busque organizar intencionalmente o
desenvolvimento do pensamento teórico nos sujeitos deve ter essa orientação em todas as
etapas da educação escolar (incluindo, portanto, a educação infantil). Isto porque se trata
de um ensino orientado pela compreensão de que os conceitos compõem um determinado
sistema, e este reflete a unidade entre o problema humano historicamente surgido em uma
dada atividade e os meios historicamente encontrados para resolvê-lo.
Tal posição nos permite afirmar que a formação do pensamento teórico, como processo
de produção e/ou utilização dos conceitos teóricos, tem seu início na infância. Uma questão
nuclear que se apresenta é: Como considerar, na atividade pedagógica, o movimento do
pensamento teórico desde a educação infantil?
Por se tratar da asserção central deste estudo, esta questão será mais desenvolvida
a seguir, a partir da ideia do pensamento como processo da atividade humana. Assim, ao
discutirmos sobre o movimento do pensamento teórico na atividade pedagógica, precisamos
analisar, centralmente, a qualidade do problema que é posto para estudantes e professores
e que desencadeia neles uma determinada necessidade de pensar, bem como o conteúdo
ou objeto específico desse pensamento. Para tal, direcionamos nossas discussões para
a análise de uma atividade pedagógica organizada a partir das premissas da Atividade
Orientadora de Ensino. Discutimos a situação desencadeadora de aprendizagem e o pro-
blema desencadeador como aqueles elementos da atividade pedagógica que efetivamente
materializam a qualidade e a direção do objeto de pensamento dos sujeitos.
MÉTODO
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pelas crianças participantes assinaram um termo de anuência em relação à realização da
intervenção bem como gravação dos encontros que foram, posteriormente, transcritos.
A situação de ensino aqui analisada, foi elaborada e desenvolvida por uma estudante
de Pedagogia no contexto da Disciplina de Metodologia do Ensino de Matemática, em um
curso de Pedagogia, sendo parte de um projeto que envolveu diversas atividades como a
contagem um a um, jogos, situações gráficas e foi realizado durante um semestre letivo,
totalizando 60 horas. Todo o projeto foi registrado em caderno de campo da professora e
discutido no âmbito da disciplina, além da produção de um vídeo com a duração de 22 mi-
nutos, no qual todo o processo é apresentado em uma sistematização teórico-metodológica.
Escolhemos tal situação por ser reveladora da síntese do processo.
Neste artigo o foco de nossa análise dessa situação de ensino foi em relação ao modo
de organização da atividade pedagógica por parte do professor, buscando evidenciar os
aspectos teóricos e metodológicos que permitem promover as bases do desenvolvimento
do pensamento teórico desde a educação infantil.
Ao focarmos o ensino na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural, destacamos o papel
atribuído à Atividade Orientadora de Ensino (AOE), proposta por Moura (1996, 2012), com
base no conceito psicológico de atividade (LEONTIEV, 1983). Os princípios teórico-me-
todológicos presentes no conceito de Atividade Orientadora de Ensino, como já indicado,
explicitam-na como a unidade entre a atividade de ensino e a atividade de aprendizagem
no contexto da educação escolar (da educação infantil ao ensino superior).
A Atividade Orientadora de Ensino estrutura-se
[...] contemplar a gênese do conceito, ou seja, a sua essência; ela deve ex-
plicitar a necessidade que levou a humanidade à construção do referido con-
ceito, como foram aparecendo os problemas e as necessidades humanas em
determinada atividade e como os homens foram elaborando as soluções ou
sínteses no seu movimento lógico-histórico. (MOURA et al., 2010, p.103-104)
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RESULTADO E DISCUSSÃO
A história virtual “A viagem de Ulisses” tem sua origem no trabalho desenvolvido com
um clássico de literatura, A Odisseia, na adaptação da autora Ruth Rocha. A partir da
história de Ulisses, é criada pelos professores uma história virtual na qual o herói grego é
capturado pela poderosa feiticeira Circe, que o mantém refém e o obriga a determinadas
tarefas. De acordo com a história virtual, logo que aporta na ilha, a feiticeira destitui Ulisses
de todos os seus conhecimentos matemáticos e dá a ele a tarefa de cuidar dos animais da
ilha, de modo que nenhum se perca. Sem os conhecimentos matemáticos, Ulisses pede
ajuda às crianças, por meio de uma carta, para resolver o seguinte problema: como ele
poderia fazer isso sem saber contar? Do contrário, não seria libertado. As crianças se mo-
bilizam com a necessidade do herói e o ajudam por meio de uma carta, propondo que ele
controle a quantidade de animais por meio da correspondência um a um: uma pedrinha para
cada animal. Na continuidade da atividade de ensino, Ulisses agradece a ajuda recebida e
apresenta um novo problema que ele tem para resolver: a quantidade de animais aumentou
muito, e já não seria possível controlar usando a correspondência de uma pedrinha para
cada animal. Então, muito preocupado com a enorme quantidade de animais de que agora
deveria tomar conta, ele pede ajuda novamente às crianças para que consiga fazê-lo utili-
zando uma pequena quantidade de pedrinhas.
Assim, a história sintetiza o seguinte problema desencadeador de aprendizagem:
Como Ulisses pode controlar uma quantidade muito grande de bichinhos de que ele tem de
cuidar, sem carregar tantas pedras? Tal problema coloca a criança diante de uma situação
semelhante ao problema humano vivido no processo de criação do conceito de número:
controlar quantidades cada vez maiores com o menor número de objetos-signos possível.
A organização da Atividade de Ensino pela professora possibilitou que as crianças
elaborassem e discutissem algumas hipóteses, demonstrando estar mobilizadas a assumir
para si o problema desencadeador proposto na história. Retomando a tese vigotskiana de
que “fora do sistema conceitual, os conceitos só podem assumir vínculos empíricos com o
objeto”, uma primeira questão a ser analisada sobre A viagem de Ulisses é, justamente, o
sistema conceitual ao qual o conceito de agrupamento se vincula. Em que medida o conceito
de agrupamento é apresentado às crianças como parte de um sistema nesta situação de
ensino que estamos analisando? Que sistema é esse e como ele pode desencadear para
as crianças o movimento do pensamento teórico?
O conceito de agrupamento pertence ao sistema conceitual de “número”, bem como
ao Sistema de Numeração (SN). Assim, por um lado, poderíamos pensar esse sistema
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conceitual como uma sucessão de conceitos cada vez mais complexos, sendo o próprio
SN, incluindo aí o Sistema de Numeração Decimal (SND), seu elo final: correspondência
um a um – agrupamento – valor posicional – frequência – potência – base – sistema de
numeração decimal.
Embora tenhamos nessa descrição uma dimensão importante desse sistema conceitual,
essa forma linear de apresentação dos conceitos nos dá – do ponto de vista da análise peda-
gógica – apenas o que seria a definição desses conceitos. Mais do que isso, ao realizarmos
a composição desse sistema conceitual apenas dessa forma, criamos uma tendência de
reforçar a posição de que a dimensão teórica do conceito esteja no último elo da cadeia de
conceito (no caso, o conceito de SND), considerando-se, por conseguinte, todas as demais
etapas como modos empíricos do conceito.
Assim, embora visualizar essa sequência do sistema seja importante como uma refe-
rência de seus elos, é necessário, em uma análise do movimento do pensamento teórico
dos sujeitos, explicitarmos os nexos conceituais que unem esses conceitos. Isso deve ser
feito a partir do ponto de vista da atividade humana encarnada no conteúdo que se está
ensinando, buscando explicitar a relação entre o problema surgido na prática social da
humanidade e os meios criados por ela, em sua atividade, para resolvê-lo, processo esse
que expressa o movimento lógico-histórico do conceito (MOURA et al., 2010). No caso aqui
referido, o problema é como controlar grandes quantidades com o menor número possível
de signos-símbolos, e um dos meios para resolvê-lo está no conceito matemático de um
que vale muitos.
Considerando os princípios teórico-metodológicos da Atividade Orientadora de Ensino,
podemos dizer que, para analisar o movimento do pensamento teórico desencadeado pela
Atividade Pedagógica, seja necessário observar o modo específico a partir do qual o sistema
conceitual a ser ensinado pode se materializar nas ações propostas.
Nessa perspectiva, afirmar que um dado conceito assume uma dimensão teórica ou
empírica no ensino requer que analisemos seu efetivo papel no pensamento dos sujeitos,
ao resolver o problema de aprendizagem proposto na atividade pedagógica.
Considerando a tese vigotskiana de que o pensamento visa sempre a estabelecer
uma relação e é um movimento de formação do pensamento na palavra (VIGOTSKI, 2009),
podemos retomar algumas questões apresentadas no início do texto: qual a qualidade do
problema posto para o sujeito em uma atividade pedagógica capaz de desencadear o seu
pensamento para desenvolver o pensamento teórico?
Recuperemos a situação de ensino A viagem de Ulisses. Ela propõe como problema
para a atividade das crianças um problema real surgido na prática social: o controle do
movimento de quantidades, buscando controlar grandes quantidades com o menor número
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possível de signos-símbolos. E sugere trabalhar com um meio específico de resolução desse
problema: o conceito de correspondência um a muitos (um que vale muitos – agrupamento).
Notemos, por ora, que o conceito de “correspondência um a muitos” é um dos elos possíveis
para resolver esse problema e, sendo assim, permite uma determinada qualidade nessa
resolução. O conceito de “valor posicional” (que amplia a ideia de “um que vale muitos”, ao
substituir as características físicas dos objetos-signos pela posição que ele ocupa) é outra
possibilidade nesse caso e permite outra qualidade na resolução. Temos, assim, para solu-
cionar um mesmo problema, modos diferentes, sintetizados em dois conceitos: “um que vale
muitos” e “um que vale muitos na posição”. Entretanto, a despeito de toda a “simplicidade” do
conceito de agrupamento, comparativamente ao de valor posicional, quando o sujeito chega
à ideia de um que vale muitos como uma síntese da sua atividade de pensamento, ao se
engajar em um problema de como controlar grandes quantidades com o menor número de
signos-símbolos possível, essa resposta indica um movimento do pensamento conceitual
desse sujeito. Indica-nos sua relação consciente com o problema e, em certa medida, com
sua própria atividade de pensamento, posto que utiliza esse conceito (agrupamento) como
um meio real de organizar as suas ações. Essa relação consciente com o problema proposto
e os meios para solucioná-lo constitui-se em um dos indicativos centrais para avaliarmos o
movimento do pensamento conceitual do sujeito na atividade pedagógica.
Quando uma criança diz, na tentativa de solucionar o problema desencadeador, “já sei,
uma pedrinha que vale 3... ou 4 ou 5!”1, sua fala evidencia o seu pensamento em direção à
resolução do problema humano sintetizado na situação desencadeadora de aprendizagem
aqui analisada e mediado pelo conceito de um que vale muitos. A fala dessa criança não nos
permite afirmar que ela tenha se apropriado, de forma “definitiva” do conceito, mas possibilita
dizer que esse conceito passa a fazer parte da sua atividade de pensar o problema humano
de controlar grandes quantidades com o menor número de signos-símbolo possível.
Para as demais crianças, essa síntese apresentada pela colega pode ter aparecido
como uma solução pronta ao problema e, assim, como um instrumento não consciente de sua
atividade. Ainda que essa outra criança verbalize em suas respostas a solução desejada (“é
uma pedrinha que vale 3”), essa relação pode ser para ela nada mais do que uma frase, uma
“regra para sua ação” de controlar quantidades (por exemplo: “a cada 3 bichos, eu pego uma
pedra”), mas não ainda um “conceito” orientador de sua atividade, uma síntese consciente
entre o problema humano surgido na prática social e os meios possíveis para solucioná-lo
(“já sei, uma pedra pode valer 3!”). O fato de o sujeito saber que um objeto (pedra) pode
valer qualquer quantidade e que essa quantidade pode ser atribuída por ele mesmo faz
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1 Transcrição da gravação em vídeo.
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Na história A viagem de Ulisses, as crianças, por meio da resolução do problema pro-
posto, vão atribuindo sentido ao conceito em movimento, lembrando, como afirma Vigotski
(2009), que o sentido é dinâmico, fluido, complexo e possui várias zonas de estabilidade.
Mesmo que a solução, em um primeiro momento, tenha partido de uma única criança, o fato
de resolver o problema contribui para explicitar a necessidade desse conceito para cada
uma das crianças que participam da história.
Nesse contexto, evidenciamos também ações organizadas pela professora, concre-
tizadas na utilização do recurso material escolhido para o desenvolvimento da atividade
pedagógica. O material sensorial utilizado, a maquete da ilha, exposta na Figura 1 e com-
posta pelas plantas, pelos animais e pelos pedregulhos, exerce um papel indispensável no
processo de formação do conceito para as crianças nessa etapa do ensino.
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faz-se relevante no trabalho pedagógico? Qual o papel desse tipo de aprendizagem para a
formação dos sujeitos?
Para nos aproximarmos de respostas a essas questões, buscamos, neste artigo, expli-
car o significado atribuído à expressão pensamento teórico, relacionando-a a um processo
a partir do qual o sujeito pode se conscientizar da própria atividade do seu pensamento.
A consciência da própria atividade de pensamento que, invariavelmente, transforma
a atuação do sujeito no mundo, não se extingue na sua ação imediata. Ter consciência da
própria atividade de pensamento ao operar, por exemplo, com o conceito de Sistema de
Numeração (SN), não se limita a poder “fazer as contas mais rápido” ou “não errar a contas”
etc. Ainda que essa operacionalidade seja parte do produto almejado com a formação do
pensamento teórico em relação ao conceito de SN (saber fazer contas bem e, em alguns
contextos, fazer rápido), a questão central é a possibilidade que esse aprendizado concei-
tual fornece para nos descobrirmos como sujeitos criadores de nós mesmos e do mundo.
Reconhecer isso significa entender tal conhecimento como processo e produto de uma de-
terminada atividade humana – no caso, uma atividade que buscava resolver o problema de
como controlar quantidades cada vez maiores com o menor número de signos-símbolos e
de como esse controle poderia ocorrer, atribuindo significados distintos conforme a posição
ocupada pelo signo-símbolo. Trata-se, assim, de formar a consciência não simplesmente do
processo de atividade, mas dele como um produto da prática social humana, o que implica
a possibilidade de o sujeito ter consciência sobre aquilo que sabe. Como destaca Vigotski
(2009), “ao generalizar meu próprio processo de atividade, ganho a possibilidade de outra
relação com ele” (p. 289).
A formação de conceitos como ato mental toma como princípio a compreensão de que
Para Davidov (1988), do ponto de vista da formação dos conceitos científicos na esco-
la, desenvolver o pensamento teórico, por sua essência lógico-histórica, permitirá às novas
gerações apropriar-se do estágio mais avançado da cultura humana, pois o
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atual. [...]. A escola, a nosso juízo, deve ensinar os alunos a pensar teorica-
Podemos trazer essas ideias para nossos dias e considerar que o conhecimento teórico
constitui o objetivo principal da atividade pedagógica, pois é por meio de sua apropriação
que se estrutura a formação do pensamento teórico (MARCO, 2009). Entretanto, para que
esse processo seja desencadeado nos sujeitos, é preciso um ensino organizado especifi-
camente para este fim.
Colocar as crianças nesse movimento significa colocá-las em atividade e, portanto,
podemos, como defende Rubinstein (1979), considerar o pensamento como atividade, na
sua dimensão psicológica, pois, para o autor,
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
1. CARAÇA, B. J. Conceitos fundamentais da matemática (Paulo Almeida, Rev.) Lisboa: Gra-
diva. 2010.
7. IFRAH, G. Os números: a história de uma grande invenção (Stella M. de Freitas Senra, Trad.).
São Paulo: Globo. 2005.
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14. MOURA, M. O.; ARAUJO, E. S.; RIBEIRO, F. D.; PANOSSIAN, M. L.; MORETTI, V. D. A Ati-
vidade Orientadora de Ensino como unidade entre ensino e aprendizagem. In
19. VYGOTSKI, L. S. Obras escogidas (Tomo I). Madrid: Antonio Machado Libros. 1991. VYGOT-
SKI, L. S. Obras escogidas (Tomo IV). Madrid: Visor. 1996.
20. VYGOTSKI, L. S. Obras escogidas (Tomo II). Madrid: Antonio Machado Libros. 2001.
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