Artigo - O ESSENCIAL DA DIDÁTICA E O TRABALHO DE PROFESSOR – EM
BUSCA DE NOVOS CAMINHOS (José Carlos Libâneo)
Hoje, especialmente, a didática está fortemente ligada a questões que envolvem o
desenvolvimento de funções cognitivas, visando a aprendizagem autônoma. Podemos chamar isso também de competências cognitivas, estratégias do pensar, pedagogia do pensar, etc. A característica mais destacada do trabalho do professor, do ponto de vista didático, é a mediação. O professor põe-se entre o aluno e o conhecimento para possibilitar-lhe as condições e os meios de aprendizagem. Tais condições e meios parecem poder ser centrados em ações orientadas para o desenvolvimento das funções cognitivas. Nesse sentido, a questão crucial que se põe à didática é: como se dá o processo de construção individual de significados? Em outras palavras: como um sujeito aprende, de um modo que as aprendizagens sejam eficazes, duradouras, úteis para lidar com os problemas e dilemas da realidade? Como podemos ajudar as pessoas a desenvolverem seus processos de pensamento? Que papel ou que intensidade têm nesses processos o meio exterior, o contexto concreto de aprendizagens? Que recursos cognitivos ajudam o sujeito a construir significados, ou seja, interpretar a realidade e organizar estratégias de intervenção nela? Um dos aspectos mais relevantes para entender a formação da cultura experiencial de cada indivíduo é a análise de seus processos de construção de significados. São estes significados os responsáveis das formas de atuar, sentir e pensar, enfim, da formação da individualidade peculiar de cada sujeito, com diferente grau de autonomia, competência e eficácia para situar- se e intervir no contexto vital. Os estudos sobre os processos do aprender destacam o papel ativo dos sujeitos na aprendizagem, e especialmente, a necessidade dos sujeitos desenvolverem habilidades de pensamento e competências cognitivas. Isto traz implicações importantes para o ensino, pois se o que está mudando é a forma como se aprende, os professores precisam mudar a forma de como se ensina. O como se ensina, em princípio, depende do como se aprende. Os pedagogos começam a compreender que a tarefa da escola contemporânea não consiste em dar às crianças uma soma de fatos conhecidos, mas em ensiná-las a orientar-se independentemente na informação científica e em qualquer outra. Isto significa que a escola deve ensinar os alunos a pensar, quer dizer, desenvolver ativamente neles os fundamentos do pensamento contemporâneo para o qual é necessário organizar um ensino que impulsione o desenvolvimento. Chamemos esse ensino de desenvolvimental. Em síntese, estar preocupado com a qualidade de ensino hoje implica em assumir uma pedagogia do pensar crítico, reflexivo, criativo. A didática preocupa-se com as condições e modos pelos quais os alunos melhoram e potencializam sua aprendizagem. Ela se pergunta como os alunos podem ser ajudados a lidar com conceitos, a argumentar, a raciocinar logicamente, a concatenar idéias, a pensar sobre o que aprende. Ou seja, como os alunos aprendem a internalizar conceitos, competências do pensar, elementos categoriais, de modo que saibam lidar com eles para resolver problemas, enfrentar dilemas, sair-se bem de situações-problema. Adicionalmente, uma didática a serviço de uma pedagogia crítica precisa buscar novas idéias para assegurar o desenvolvimento do pensar crítico. Interessa-lhe, pois, refletir sobre objetivos e estratégias de formação de sujeitos pensantes e críticos. O pensamento didático mais avançado, em conexão com as tendências atuais nos planos epistemológico, psicocognitivo e pedagógico, apóia-se hoje, no Brasil, em algumas proposições consensuais, ao menos como pontos de partida da investigação teórico-prática. Tais proposições são, sinteticamente: papel ativo do sujeito na aprendizagem escolar, formação de sujeitos capazes de desenvolver pensamento autônomo, crítico e criativo, desenvolvimento de competências cognitivas do aprender a aprender, aprendizagem interdisciplinar, construção de conceitos articulados com as representações dos alunos. O processo de ensino e aprendizagem teria, então, como referência, o sujeito que aprende, seu modo de pensar, sua relação com o saber e como constrói e reconstrói conceitos e valores, ou seja, a formação de sujeitos pensantes implicando estratégias interdisciplinares de ensino para desenvolver competências do pensar e do pensar sobre o pensar. Além disso, a sociedade do conhecimento põe exigências mais definidas para a aprendizagem escolar, pelo impacto das novas tecnologias da comunicação e informação. Os meios de comunicação produzem significados, passam idéias e valores, ou seja, atuam na construção da subjetividade e da consciência. Que recursos cognitivos podem ajudar os alunos a atribuírem significado à informação? Quais ingredientes do aprender a pensar ajudam os alunos a reordenarem e reestruturarem a informação que lhes chega fragmentada e em mosaico? Uma questão crucial que decorre dessa perspectiva é saber que experiências de aprendizagem possibilitam mais qualidade cognitiva no processo de construção e reconstrução de conceitos, procedimentos e valores. Em outros termos: que recursos intelectuais, que estratégias de aprendizagem, podem ajudar os alunos a tirar proveito do seu potencial de pensamento e tomarem consciência de seus próprios processos mentais. Embora essa problemática não seja nova, trata-se, mais uma vez, de buscar os meios pedagógico-didáticos de melhorar e potencializar a aprendizagem dos alunos. A aposta, aqui, é de ensinar pensar através de uma metodologia direta e sistemática. É necessário o recurso a estratégias de ensino que estimulem os alunos a aprenderem a pensar. Junto a isso, no intento de uma educação crítica e democrática, cumpre recuperar as possibilidades do pensamento dialético no plano epistêmico em função de formar não apenas um sujeito com raciocínio autônomo mas também crítico. Trata-se, pois, de pensar em experiências de aprendizagem que mobilizem o aluno a pensar por conceitos, lidar praticamente com conceitos, argumentar, raciocinar logicamente, concatenar idéias, pensar sobre o que aprende. Todavia, a reflexão pretende ir mais longe: associar o movimento do ensino do pensar, as estratégias cognitivas, aprender a aprender, aprendizagem significativa, ao processo de reflexão dialética de cunho crítico . Tem-se como premissa que pensar é mais que explicar e para isso a formação escolar precisa formar sujeitos pensantes, capazes de um pensar epistêmico ou categorial, ou seja, um sujeito que desenvolva capacidades básicas em termos de instrumentação conceitual que lhe permite, mais do que saber coisas, mais do que receber uma informação disciplinar, poder colocar-se frente à realidade, apropriar-se do momento histórico e reagir frente a ela.