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UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL

CAMPUS CHAPECÓ
CURSO FILOSOFIA

Acadêmicos/as: Pâmela Carine de Souza Perosso


Professora: Neide Cardoso de Moura

Artigo - O ESSENCIAL DA DIDÁTICA E O TRABALHO DE PROFESSOR – EM


BUSCA DE NOVOS CAMINHOS (José Carlos Libâneo)

Hoje, especialmente, a didática está fortemente ligada a questões que envolvem o


desenvolvimento de funções cognitivas, visando a aprendizagem autônoma. Podemos chamar
isso também de competências cognitivas, estratégias do pensar, pedagogia do pensar, etc.
A característica mais destacada do trabalho do professor, do ponto de vista didático, é a
mediação. O professor põe-se entre o aluno e o conhecimento para possibilitar-lhe as
condições e os meios de aprendizagem. Tais condições e meios parecem poder ser centrados
em ações orientadas para o desenvolvimento das funções cognitivas. Nesse sentido, a questão
crucial que se põe à didática é: como se dá o processo de construção individual de
significados?
Em outras palavras: como um sujeito aprende, de um modo que as aprendizagens sejam
eficazes, duradouras, úteis para lidar com os problemas e dilemas da realidade? Como
podemos ajudar as pessoas a desenvolverem seus processos de pensamento? Que papel ou que
intensidade têm nesses processos o meio exterior, o contexto concreto de aprendizagens? Que
recursos cognitivos ajudam o sujeito a construir significados, ou seja, interpretar a realidade e
organizar estratégias de intervenção nela?
Um dos aspectos mais relevantes para entender a formação da cultura experiencial de cada
indivíduo é a análise de seus processos de construção de significados. São estes significados os
responsáveis das formas de atuar, sentir e pensar, enfim, da formação da individualidade
peculiar de cada sujeito, com diferente grau de autonomia, competência e eficácia para situar-
se e intervir no contexto vital. Os estudos sobre os processos do aprender destacam o papel
ativo dos sujeitos na aprendizagem, e especialmente, a necessidade dos sujeitos
desenvolverem habilidades de pensamento e competências cognitivas. Isto traz implicações
importantes para o ensino, pois se o que está mudando é a forma como se aprende, os
professores precisam mudar a forma de como se ensina. O como se ensina, em princípio,
depende do como se aprende.
Os pedagogos começam a compreender que a tarefa da escola contemporânea não consiste em
dar às crianças uma soma de fatos conhecidos, mas em ensiná-las a orientar-se
independentemente na informação científica e em qualquer outra. Isto significa que a escola
deve ensinar os alunos a pensar, quer dizer, desenvolver ativamente neles os fundamentos do
pensamento contemporâneo para o qual é necessário organizar um ensino que impulsione o
desenvolvimento. Chamemos esse ensino de desenvolvimental.
Em síntese, estar preocupado com a qualidade de ensino hoje implica em assumir uma
pedagogia do pensar crítico, reflexivo, criativo.
A didática preocupa-se com as condições e modos pelos quais os alunos melhoram e
potencializam sua aprendizagem. Ela se pergunta como os alunos podem ser ajudados a lidar
com conceitos, a argumentar, a raciocinar logicamente, a concatenar idéias, a pensar sobre o
que aprende. Ou seja, como os alunos aprendem a internalizar conceitos, competências do
pensar, elementos categoriais, de modo que saibam lidar com eles para resolver problemas,
enfrentar dilemas, sair-se bem de situações-problema. Adicionalmente, uma didática a serviço
de uma pedagogia crítica precisa buscar novas idéias para assegurar o desenvolvimento do
pensar crítico. Interessa-lhe, pois, refletir sobre objetivos e estratégias de formação de sujeitos
pensantes e críticos.
O pensamento didático mais avançado, em conexão com as tendências atuais nos planos
epistemológico, psicocognitivo e pedagógico, apóia-se hoje, no Brasil, em algumas
proposições consensuais, ao menos como pontos de partida da investigação teórico-prática.
Tais proposições são, sinteticamente: papel ativo do sujeito na aprendizagem escolar,
formação de sujeitos capazes de desenvolver pensamento autônomo, crítico e criativo,
desenvolvimento de competências cognitivas do aprender a aprender, aprendizagem
interdisciplinar, construção de conceitos articulados com as representações dos alunos. O
processo de ensino e aprendizagem teria, então, como referência, o sujeito que aprende, seu
modo de pensar, sua relação com o saber e como constrói e reconstrói conceitos e valores, ou
seja, a formação de sujeitos pensantes implicando estratégias interdisciplinares de ensino para
desenvolver competências do pensar e do pensar sobre o pensar.
Além disso, a sociedade do conhecimento põe exigências mais definidas para a aprendizagem
escolar, pelo impacto das novas tecnologias da comunicação e informação. Os meios de
comunicação produzem significados, passam idéias e valores, ou seja, atuam na construção da
subjetividade e da consciência. Que recursos cognitivos podem ajudar os alunos a atribuírem
significado à informação? Quais ingredientes do aprender a pensar ajudam os alunos a
reordenarem e reestruturarem a informação que lhes chega fragmentada e em mosaico?
Uma questão crucial que decorre dessa perspectiva é saber que experiências de aprendizagem
possibilitam mais qualidade cognitiva no processo de construção e reconstrução de conceitos,
procedimentos e valores. Em outros termos: que recursos intelectuais, que estratégias de
aprendizagem, podem ajudar os alunos a tirar proveito do seu potencial de pensamento e
tomarem consciência de seus próprios processos mentais. Embora essa problemática não seja
nova, trata-se, mais uma vez, de buscar os meios pedagógico-didáticos de melhorar e
potencializar a aprendizagem dos alunos. A aposta, aqui, é de ensinar pensar através de uma
metodologia direta e sistemática. É necessário o recurso a estratégias de ensino que estimulem
os alunos a aprenderem a pensar.
Junto a isso, no intento de uma educação crítica e democrática, cumpre recuperar as
possibilidades do pensamento dialético no plano epistêmico em função de formar não apenas
um sujeito com raciocínio autônomo mas também crítico.
Trata-se, pois, de pensar em experiências de aprendizagem que mobilizem o aluno a pensar
por conceitos, lidar praticamente com conceitos, argumentar, raciocinar logicamente,
concatenar idéias, pensar sobre o que aprende. Todavia, a reflexão pretende ir mais longe:
associar o movimento do ensino do pensar, as estratégias cognitivas, aprender a aprender,
aprendizagem significativa, ao processo de reflexão dialética de cunho crítico . Tem-se como
premissa que pensar é mais que explicar e para isso a formação escolar precisa formar sujeitos
pensantes, capazes de um pensar epistêmico ou categorial, ou seja, um sujeito que desenvolva
capacidades básicas em termos de instrumentação conceitual que lhe permite, mais do que
saber coisas, mais do que receber uma informação disciplinar, poder colocar-se frente à
realidade, apropriar-se do momento histórico e reagir frente a ela.

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