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Ambiente 2
Ambiente 2
Sociedade e
Cidadania
Yara Maria Gasbelotto
E-book 2
E-book Teorias, Conceitos e
Neste E-book:
INTRODUÇÃO���������������������������������������������� 3
CIÊNCIAS DA NATUREZA E
CIÊNCIAS DA SOCIEDADE����������������������� 4
Diferenças nas metodologias e suas implicações7
FORMAÇÃO DA SOCIEDADE
BRASILEIRA�������������������������������������������������10
Patrimonialismo, coronelismo e o “jeitinho
brasileiro”��������������������������������������������������������������� 11
Construção da cidadania no Brasil���������������������� 16
Sociedade civil������������������������������������������������������ 19
CONSUMO E CIDADANIA���������������������� 23
Posse de bens e serviços nas sociedades
humanas���������������������������������������������������������������� 24
Origens do consumismo�������������������������������������� 26
Consumismo e seus impactos ambientais��������� 31
CONSIDERAÇÕES FINAIS����������������������38
SÍNTESE�������������������������������������������������������39
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INTRODUÇÃO
Saudações!
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CIÊNCIAS DA NATUREZA E
CIÊNCIAS DA SOCIEDADE
Já estudamos, no Módulo 1, a Revolução Científica
do final do século 16, que estabeleceu um novo mo-
delo de produção de conhecimento: o método cien-
tífico. De acordo com este método, as investigações
científicas devem estar sempre baseadas na obser-
vação e na experimentação, partindo da redução do
fenômeno analisado às suas menores dimensões
observáveis e mensuráveis.
4
terá disciplinas como Histologia, Citologia, Zoologia,
Botânica. À medida que avança no nível de escola-
ridade, você aprende sobre dimensões menores e
mais específicas de determinada área de conheci-
mento. Observe uma síntese esquemática de como
se constrói uma teoria científica (Figura 1).
Método Científico
(esboço)
Observação:
*sistemática Fatos: Hipóteses
* controlada * verificáveis *Testáveos
* Falseáveis
Teoria Científica
Conjunto indi sociável de
todos os fatos e hipóteses
harmônicos entre si.
Implicações Experimentos
Conclusões * Novas observações Novos Fatos
Previsões * Análise lógica
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Por muito tempo, persistiu a noção de que as ciên-
cias sociais seriam capazes de desvendar as leis
de funcionamento das sociedades humanas tal
qual as ciências naturais tinham feito com as leis
da natureza.
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estudo, as ciências sociais conseguiam estabele-
cer algumas generalizações, mas sempre condi-
cionadas às sociedades em que se encontrava o
objeto de estudo.
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científico, mas também o campo das práti-
cas sociais, como o demonstram as dificul-
dades de compreensão e a intervenção da
questão ambiental, dificuldade que somente
no fim do século 20 começou a ser seria-
mente tematizada (ZIONI, 2014, p. 49).
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Atualmente, o desafio é conciliar os dois campos
do conhecimento, que possuem metodologias dis-
tintas de pesquisa, em busca de soluções que equi-
librem o desenvolvimento social e a conservação
de nossos recursos naturais. Novos campos de
pesquisa, como as Ciências Ambientais, buscam
essa conciliação na produção de conhecimento.
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FORMAÇÃO DA
SOCIEDADE BRASILEIRA
Já estudamos que a formação de uma sociedade
requer a construção e o reconhecimento de afinida-
des culturais entre os indivíduos, sendo, portanto,
algo mais do que um simples agrupamento de pes-
soas convivendo em um mesmo período e espaço.
Em uma sociedade cujos indivíduos compartilham
um conjunto de valores, normas sociais, costumes,
idioma, manifestações artísticas etc., que se mani-
festam por meio do comportamento social e das
representações sociais.
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Patrimonialismo, coronelismo e
o “jeitinho brasileiro”
De maneira resumida, podemos dizer que patrimo-
nialismo refere-se a uma forma de domínio em que
não se faz distinção entre o patrimônio público e
o patrimônio privado (particular). Diversos autores
apontam o patrimonialismo como um legado da co-
lonização portuguesa que persistiu à modernização
do Estado brasileiro. Iniciou com a família real portu-
guesa, seguiu com os senhores de engenho, com os
barões de café e com a consolidação dos governos
democráticos. O avanço do capitalismo, da indus-
trialização e da urbanização não foram capazes de
modificar essa realidade.
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poder hereditário, passado de uma geração a outra
dentro de uma mesma família.
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ou mesmo assassinadas, como ocorreu na França
e na Rússia.
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O coronel está presente nas análises sobre
poder local, sobretudo no período que com-
preende a República Velha (1889-1930), cuja
principal característica política era a complexa
rede de relações e trocas de favores que se
estabelecia entre o poder público e os chefes
políticos locais. O coronelismo denotaria pre-
cisamente o sistema político derivado dessa
rede de relações e barganhas entre o governo
central e os coronéis (KERBAUY, 2013, p. 203).
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O jeitinho brasileiro tem entre suas origens as barga-
nhas, os “toma-lá-dá-cá”, as apropriações da coisa
pública pelos interesses privados, enfim, toda a es-
trutura de poder e organização do poder do patrimo-
nialismo e do coronelismo.
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frágil em relação ao Estado, que distribui fa-
vores, empregos, subsídios, benefícios em
geral (SACRAMENTO; PINHO, 2013, p. 667).
Construção da cidadania no
Brasil
Estudamos anteriormente que o Brasil desenvolveu-
-se e modernizou-se apesar de manter uma estrutura
“arcaica” de organização de poder ancorada em rela-
ções de subordinação e dependência da população
em relação ao Estado. De que maneira isso influen-
ciou a construção de nossa cidadania?
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A chegada de grande contingente de imigrantes nas
primeiras décadas do século 20, especialmente eu-
ropeus com experiência sindical, é um fato impor-
tante que influenciou a organização de movimentos
trabalhistas durante o processo de industrialização
e obteve os primeiros direitos sociais relacionados
ao trabalho.
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Podcast 1
Especialmente a partir da década de 1970, o país
entra em um período de forte crescimento econô-
mico, conhecido como “milagre econômico”, com
intensa industrialização e um acelerado processo
de urbanização.
FIQUE ATENTO
A Constituição Federal de 1988 instituiu em seu
artigo 225: “Todos têm direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida,
impondo-se ao Poder Público e à coletividade o
dever de defendê-lo e preservá-lo para as presen-
tes e futuras gerações”.
Com isso, podemos afirmar que o meio ambien-
te passou a integrar oficialmente o conjunto de
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direitos de todo brasileiro, constituindo parte da
plena cidadania. Disponível em: http://www.pla-
nalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.
htm. Acesso em: 1 mai. 2019
Sociedade civil
Para esta disciplina, podemos definir sociedades ci-
vis como todos os grupos sociais que não compõem
nem representam o Estado, podendo ser entendida
como uma instância autônoma e intermediária entre
a família e o Estado.
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mentos, organizações de classe, corporações priva-
das (empresas, instituições de ensino, comércios,
indústrias) etc.
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três razões: fiscalizar o poder público e as práticas
abusivas das empresas, atuar ao lado do governo,
diante das deficiências e por uma causa de idealismo
de seus fundadores. Economicamente, caracterizam-
-se pelo trabalho voluntário ou pelo fato de não ge-
rarem lucro, como as empresas.
FIQUE ATENTO
ONG é a sigla de Organização Não Governamen-
tal, termo mais difundido para essas organiza-
ções. Porém, o termo não tem embasamento
jurídico, ou seja, não é previsto no Direito brasilei-
ro; possui apenas um reconhecimento de cunho
cultural, político e sociológico que está em vigor
mundo afora. OSCIP é a sigla para Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público. Trata-se de
uma qualificação concedida pelo governo fede-
ral para instituições privadas sem fins lucrativos
que atendam aos requisitos da Lei 9.790/1999. A
qualificação e o enquadramento legal permitem
que a instituição crie vínculo com o Poder Públi-
co através de parcerias com repasse de recursos,
dentre outros benefícios.
Fonte: https://www.megajuridico.com/a-socie-
dade-civil-e-o-terceiro-setor/. Acesso em: 2 mai.
2019.
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Como estudamos no item anterior, os primeiros mo-
vimentos organizados da sociedade são movimentos
reativos ao sentimento de marginalização, e surgem
inicialmente impulsionados pelos imigrantes euro-
peus que vão trabalhar nas indústrias brasileiras. As
organizações sindicais são, portanto, as primeiras a
se organizarem e as primeiras a serem cooptadas
pelo Estado, especialmente nos períodos de governo
de Getúlio Vargas.
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CONSUMO E CIDADANIA
Nesta última etapa, abordaremos um assunto essen-
cial para a compreensão do contexto dos desafios
socioambientais que estamos enfrentando: o con-
sumo. Para começar nossa conversa, é importante
deixar claro o que se entende pelos seguintes termos:
consumo, consumismo e consumidor.
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SAIBA MAIS
A definição de consumidor apresentada cons-
ta do Art. 2º do Código Brasileiro de Defesa do
Consumidor (Lei Federal nº 8.078/90). Trata-se
de importante legislação brasileira sobre o tema.
Vale a pena você conhecê-la. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.
htm. Acesso em: 1 mai. 2019.
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As pesquisas arqueológicas já comprovaram que as
sociedades mais antigas e primitivas confecciona-
vam diversos objetos, desde úteis vasos para arma-
zenar alimento até bonecos e adornos corporais que
não teriam, a princípio, utilidade para a sobrevivência
de nossa espécie.
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de tênis. No entanto, temos mais do que isso, pois
a sociedade coloca como regra que não se vai ao
teatro de chinelo, do mesmo modo que não se vai
ao clube de sapato social.
Origens do consumismo
Então o consumo não é um problema? Não causa
impactos negativos na sociedade e no meio ambien-
te? O consumo, em si, não é uma adversidade. O
problema reside na disfunção do consumo, que é o
consumismo. Volte no início deste texto e releia a
definição de consumismo.
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ou seja, na necessidade por determinados objetos
ou serviços (fossem eles essenciais ou supérfluos).
A partir da demanda, havia a produção e oferta do
objeto ou serviço. Quanto mais demanda, mais pro-
dução e consequentemente mais oferta. Porém, a
Revolução Industrial inverteu essa ordem. Graças
às novas tecnologias de produção de bens, a oferta
passou a ser maior do que a demanda.
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Com essa metodologia inovadora, Henry Ford lançou
sobre a sociedade uma quantidade de automóveis
incompatível com as necessidades das pessoas
(demanda) e mesmo com a infraestrutura urbana
existente à época.
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Portanto, a inversão na relação demanda e oferta
inicia-se com a Revolução Industrial e ganha forças
com a organização produtiva em linhas de monta-
gem. Com muita oferta de bens e serviços, é pre-
ciso estimular a demanda existente e criar novas
demandas. Como fazer isso? Por meio de diversas
estratégias de publicidade e marketing, cujas agên-
cias se profissionalizaram especialmente a partir
da década de 1960. Essas estratégias, ao mesmo
tempo em que estimularam o consumo legítimo de
produtos supérfluos, geraram como efeito colateral o
consumismo. Você pode conhecer algumas dessas
estratégias em A propaganda é a alma do negócio.
Podcast 2
Uma das estratégias mais relevantes para tratarmos
aqui é a obsolescência programada. Em termos de
consumo, denomina-se como obsoleto todo produto
ou serviço que está fora de uso, ou por utilizar de
uma tecnologia ultrapassada, ou por não atender
mais às necessidades da sociedade, ou por estar
envelhecido etc. Escolas de datilografia eram muito
procuradas até meados dos anos 1990, mas hoje
elas oferecem um serviço obsoleto. Máquinas de
escrever e videocassetes são exemplos de produtos
obsoletos. A obsolescência faz parte do ciclo de vida
de qualquer bem ou serviço.
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obsoletos, apenas como estratégia de incentivo ao
consumo. Por exemplo, a indústria automobilística
lança anualmente novos modelos de carro. Quais são
as inovações tecnológicas de fato relevantes? Em
geral, as mudanças são apenas estéticas e não justifi-
cariam a aquisição de um novo modelo. A velocidade
com que a indústria da moda lança novas tendências
é outro exemplo de obsolescência programada.
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Podemos constatar que a obsolescência planejada se
dá por meio de três possibilidades: 1) Obsolescência
tecnológica, quando o novo produto traz inovações
funcionais ou relacionadas à qualidade e eficácia;
2) Obsolescência psicológica, quando o produto
em uso deixa de ser desejável ou atraente, especial-
mente pelas inovações estéticas do novo produto;
3) Obsolescência econômica, quando o produto em
uso se quebra ou gasta em determinado prazo, re-
sultando em depreciação financeira e/ou de valor.
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Vamos retomar nosso exemplo dos sapatos.
Consumo essencial, em termos biológicos, seria
somente um par de sapatos para proteger os pés.
Consumo essencial, em termos sociais, seria, por
exemplo, ter um par de chinelos, um de calçados es-
portivos e um de calçados sociais. É a quantidade de
sapatos necessária à vida em sociedade. Consumo
supérfluo seria, por exemplo, possuir dois pares de
cada tipo de calçados apenas para variar a cor ou o
modelo conforme a roupa ou vontade. Consumismo
é comprar calçados de maneira exagerada, de modo
a não utilizá-los, guardando no armário com etique-
ta ou não ter lugar para guarda-los de tantos pares
adquiridos.
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Figura 3: Consumismo é sempre um consumo exagerado, mesmo
de livros. Fonte: Pixabay.
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externos ao indivíduo, que causa grande impacto
negativo à sociedade e ao meio ambiente.
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Figura 4: Representação do consumismo “consumindo” nosso planeta.
Fonte: Pixabay.
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sumo. Um consumo exagerado, sem necessidade
real, chamado de consumismo, gera excesso de re-
síduos pelos produtos e embalagens jogados fora.
SAIBA MAIS
Annie Leonard é uma norte-americana que fi-
cou mundialmente conhecida pelo seu vídeo A
história das coisas, na qual apresenta questões
essenciais sobre o ciclo de vida de bens mate-
riais. Esse vídeo ilustra muito bem o tema que
estamos analisando, por isso vale a pena você
assisti-lo. Disponível em: https://youtu.be/xagl-
F9jhZLs. Acesso em: 10 mai. 2019.
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ficar a possibilidade de reutilização e reciclagem
de seus componentes.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste módulo, abordamos como o método científico
estabelecido por Francis Bacon e René Descartes
impulsionou o conhecimento sobre os fenômenos
da natureza e as dificuldades de utilizar essa me-
todologia para a compreensão dos fenômenos re-
lacionados às sociedades humanas. Na sequência,
percorremos historicamente a nossa formação en-
quanto sociedade, ressaltando o patrimonialismo e
o coronelismo como características persistentes,
além da influência dessa estrutura de poder sobre
a consolidação de nossa cidadania. Apresentamos
a noção de sociedade civil e os conceitos de ONG,
OSCIP e Terceiro Setor. Por fim, tratamos da questão
do consumo, iniciando pelos primórdios da civiliza-
ção humana para mostrar que a posse de bens e o
uso de objetos como status social são praticamente
inerentes às nossas sociedades.
Identificamos o que se entende por consumo essen-
cial, consumo supérfluo e consumismo. Analisamos
como o consumismo é fortemente estimulado pelas
estruturas produtivas da sociedade pós-Revolução
Industrial, especialmente por meio da obsolescência
programada, e como ele impacta negativamente o
meio ambiente.
No próximo módulo, entenderemos o papel das or-
ganizações da sociedade civil na consolidação da
agenda ambiental no Brasil e conheceremos os prin-
cipais desafios das grandes cidades.
Até lá!
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Síntese
TEORIAS, CONCEITOS
E MÉTODOS DAS
CIÊNCIAS AMBIENTAIS
E SOCIAIS
Ciências da natureza e
ciências da sociedade
Formação da sociedade
brasileira
• Patrimonialismo, coronelismo e o
“jeitinho brasileiro”
• Sociedade civil
Consumo e cidadania
• Origens do consumismo