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Título: ENTRE FLORES E ENCONTROS: RELATO DE EXPERIÊNCIA DE PASSEIO

COLETIVO JUNTO A MORADORES DE SERVIÇOS RESIDENCIAIS

Palavras chave: Saúde Mental. Centro de Atenção Psicossocial. Desinstitucionalização

Eixo temático: 2) Clínicas e práticas de cuidado na atenção psicossocial

Período de realização: Atividade realizada no mês de setembro de 2019.

Objeto do relato: Passeio em grupo à exposição de flores junto a moradores de serviços


residenciais terapêuticos.

Objetivos: Apresentar práticas de cuidado que considerem a importância da circulação no


território de sujeitos egressos de longas internações psiquiátricas, moradores de Serviços
Residenciais Terapêuticos. Evidenciar a importância da construção de um cuidado
antimanicomial que considere estes sujeitos enquanto cidadãos e promova o reencontro destes
com a sociedade e espaços públicos.

Descrição da experiência submetida: No mês de setembro de 2019 fomos juntos à cidade das
flores. Na movimentação comum àquela época de primavera havia em nós, técnicos do CAPS,
uma preocupação: manter o grupo próximo para que ninguém se perdesse.

Em alguns sujeitos, percebíamos a euforia de estar em um ambiente diferente e tão


cheio de gente. Em outros, pairava um certo receio por estar fora das paredes da instituição. No
entanto, estávamos lá, construindo juntos, como ouso nomear: uma “clínica do encontro”.
Encontro destes sujeitos com o território, com a cidade, com as pessoas e com a vida
acontecendo.

Na hora do almoço, cada um escolheu o que gostaria de comer: “Mas a gente pode
escolher o que comer?” nos perguntavam. Respondíamos: “Sim, vocês podem.” E assim,
partilhamos juntos as refeições, as descobertas e o dia.

Próximo à praça de alimentação havia um parque de diversões com alguns brinquedos.


Um dos sujeitos – que em poucos momentos “demandava” algo, nos disse: “Quero ir no chapéu
mexicano!”. Quando o brinquedo começou a girar, ele abriu os braços e assim permaneceu,
como se estivesse voando. Brincou, cantando sua música preferida: “Era um garoto como eu,
que amava os Beatles e os Rolling Stones”.

Naquela cena, que para muitos poderia parecer trivial, abriu-se espaço para que aquele
sujeito, marcado pelo estigma da loucura, pudesse brincar. Para quem esteve internado por mais
de 20 anos atrás de muros manicomiais, aquilo era novo.

Na hora de ir embora, um dos sujeitos perdeu-se do grupo. Passamos horas o


procurando entre as pessoas do parque. A equipe técnica, angustiada com a situação, um tempo
depois, encontrou-o, sentado em um banco, assistindo a uma apresentação musical. Quando nos
viu, ele disse: “Bonito aqui né ‘fia?’ Não quero ir embora não”.

Análise crítica: No que tange ao trabalho com sujeitos moradores de Serviços Residenciais
Terapêuticos, egressos de longas internações psiquiátricas, um dos grandes desafios coloca-se
em garantir que estes retomem direitos básicos, como o convívio social e a circulação no
território, por exemplo. Mas, anteriormente a isso, coloca-se como primordial sustentar práticas
que os devolvam o direito à palavra. É comum que estes sujeitos, marcados por anos de
vivências de práticas manicomiais, tenham também perdido o direito de falar sobre si, seus
desejos e necessidades. Nessa direção, o intuito do trabalho desenvolvido pelos profissionais da
atenção psicossocial junto a estas pessoas, está essencialmente, em sustentar práticas e espaços
que garantam a retomada de seus estatutos de sujeitos singulares, desejantes e cidadãos.

Conclusões e/ou Recomendações: A autora abordou possibilidades de práticas


antimanicomiais, que visam garantir a sujeitos egressos de longas internações psiquiátricas a
retomada do direito à cidade. Assim, o trabalho na atenção psicossocial, convoca seus atores a
sair dos espaços institucionais e aventurar-se junto a estes sujeitos em seus deslocamentos pelos
espaços públicos.

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