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Descrição da experiência submetida: No mês de setembro de 2019 fomos juntos à cidade das
flores. Na movimentação comum àquela época de primavera havia em nós, técnicos do CAPS,
uma preocupação: manter o grupo próximo para que ninguém se perdesse.
Na hora do almoço, cada um escolheu o que gostaria de comer: “Mas a gente pode
escolher o que comer?” nos perguntavam. Respondíamos: “Sim, vocês podem.” E assim,
partilhamos juntos as refeições, as descobertas e o dia.
Naquela cena, que para muitos poderia parecer trivial, abriu-se espaço para que aquele
sujeito, marcado pelo estigma da loucura, pudesse brincar. Para quem esteve internado por mais
de 20 anos atrás de muros manicomiais, aquilo era novo.
Análise crítica: No que tange ao trabalho com sujeitos moradores de Serviços Residenciais
Terapêuticos, egressos de longas internações psiquiátricas, um dos grandes desafios coloca-se
em garantir que estes retomem direitos básicos, como o convívio social e a circulação no
território, por exemplo. Mas, anteriormente a isso, coloca-se como primordial sustentar práticas
que os devolvam o direito à palavra. É comum que estes sujeitos, marcados por anos de
vivências de práticas manicomiais, tenham também perdido o direito de falar sobre si, seus
desejos e necessidades. Nessa direção, o intuito do trabalho desenvolvido pelos profissionais da
atenção psicossocial junto a estas pessoas, está essencialmente, em sustentar práticas e espaços
que garantam a retomada de seus estatutos de sujeitos singulares, desejantes e cidadãos.