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Capítulo 3

Precipitação

3. PRECIPITAÇÃO

3.1 DEFINIÇÃO E MECANISMOS DE FORMAÇÃO


Precipitação é toda água proveniente do meio atmosférico que atinge a superfície terrestre. Suas
principais formas de ocorrência são a chuva, neve e granizo. A precipitação é derivada do vapor
d’água presente na atmosfera, sendo sua forma e quantidade influenciada pela ação de outros
fatores climáticos tais como: vento, temperatura e pressão atmosférica.
O vapor d’água presente na atmosfera é condição necessária, mas não suficiente para a
ocorrência da precipitação. O ar quente e úmido (quanto mais quente maior a capacidade de
armazenar umidade) torna-se mais leve e sobe diminuindo sua temperatura até atingir a condição
de saturação. A partir desse ponto, em condições favoráveis, e com a existência de núcleos de
condensação (partículas argilosas, químicas, orgânicas e sais marinhos existentes no ar
atmosférico), o vapor d’água condensa, formando minúsculas gotas em torno desses núcleos.
Entretanto essas minúsculas gotas formadas não possuem massa suficiente para vencer a
resistência do ar sendo, portanto, mantidas em suspensão até que, por um processo de
crescimento, elas atinjam um tamanho suficiente para precipitar. Portanto o processo de
condensação, isoladamente, não produz uma forma significativa de precipitação, mas apenas
nevoeiro, orvalho e geada.
Para que ocorram precipitações mais significativas, tais como, chuva, neve, granizo é necessário
o crescimento do tamanho das gotas, o qual acontece principalmente através do processo de
coalescência. Neste processo as pequenas gotas das nuvens aumentam seu tamanho através da
colisão entre elas. Quando as gotas atingem tamanho suficiente para vencer a resistência do ar,
elas se deslocam em direção ao solo. Nesse movimento de queda, as gotas maiores adquirem
maior velocidade do que as menores, o que faz com que as gotas menores sejam alcançadas e
incorporadas às maiores aumentando, portanto, seu tamanho.
As gotas de chuva têm diâmetros de 0,5 a 2,0 mm, com um valor máximo de 5,0 a 5,5 mm.
Quando uma gota cresce até atingir 7mm a sua velocidade é tão alta que a mesma se deforma e
se subdivide em gotas menores, passando a repetir o processo de coalescência produzindo um
efeito em cadeia. Verifica-se, assim, que as gotas de chuva têm dimensões muito maiores que as
gotículas das nuvens (0,01 a 0,03mm).
O interesse pelo estudo das gotas está diretamente ligado ao estudo da erosão do solo. A ação
da chuva, como causa da erosão, não é só devido ao arrastamento das partículas pelo
escoamento superficial, mas, principalmente, por sua ação desagregadora e compactadora da
superfície do solo.
O impacto direto da gota de chuva sobre a superfície do solo é a causa principal da erosão,
devido sua força de compactação que origina uma crosta superficial dificultando os processos de
infiltração de água e ar. Posteriormente, as partículas de solo movimentadas pela ação da gota
serão arrastadas pela lâmina d’água que escoa pela superfície do solo.

3.2 TIPOS DE PRECIPITAÇÃO


De acordo com o exposto no item anterior, a formação das precipitações está ligada à ascensão
das massas de ar, que pode ser devida aos seguintes fatores:
 convecção térmica
 relevo
 ação frontal de massas
Os tipos de precipitação são dados a seguir, de acordo com o fator responsável pela ascensão
das massas de ar.
Convectivas: o aquecimento desigual da superfície terrestre provoca o aparecimento de camadas
de ar com densidades diferentes, o que gera uma estratificação térmica da atmosfera em
equilíbrio instável. Se esse equilíbrio por qualquer motivo for quebrado, isto provoca uma

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ascensão brusca e violenta do ar menos denso, capaz de atingir grandes altitudes. Essas
precipitações são de grande intensidade e curta duração, concentradas em pequenas áreas. São
precipitações típicas das zonas equatoriais onde, pela debilidade dos ventos, o movimento do ar é
essencialmente vertical. Nas zonas temperadas, ocorrem nos períodos quentes, na forma de
tormentas de verão, localizadas e violentas. São importantes para projetos em pequenas bacias,
principalmente bacias urbanas.
Orográficas: quando os ventos carregados de umidade, soprando normalmente do oceano para
o continente, encontram uma barreira montanhosa, as massas de ar úmido elevam-se para
transpor o obstáculo, resultando num resfriamento que pode alimentar a formação de nuvens e
desencadear precipitações. São localizadas nas encostas que olham para o mar, e quando os
ventos conseguem ultrapassar a barreira montanhosa, do lado oposto projeta-se a “sombra
pluviométrica”, dando lugar a áreas secas ou semi-áridas, causadas pelo ar seco, já que a
umidade foi descarregada na encosta oposta.
Ciclônicas: estão associadas com o movimento de massas de ar de regiões de alta pressão para
regiões de baixa pressão. Essas diferenças de pressão são causadas por aquecimento desigual
da superfície terrestre. A precipitação ciclônica pode ser classificada em precipitação frontal ou
não frontal. Qualquer baixa barométrica pode produzir precipitação não frontal, através do
deslocamento horizontal de massas de ar em direção a pontos de baixa pressão. A precipitação
frontal resulta da ascensão do ar quente sobre o ar frio na zona de contato entre duas massas de
ar de características diferentes. Se a massa de ar se move de tal forma que o ar frio é substituído
por ar mais quente, a frente é conhecida como frente quente, e se por outro lado o ar quente é
substituído por ar frio, a frente é fria. As precipitações ciclônicas são de longa duração e apresenta
intensidade de baixa a moderada, espalhando-se por grandes áreas.

3.3 PARÂMETROS QUE CARACTERIZAM A PRECIPITAÇÃO


Altura pluviométrica (P): a chuva é medida através de uma altura, que pode ser definida como
sendo a altura de água precipitada sobre uma determinada área, caso a mesma não infiltrasse,
não escoasse e nem evaporasse. A unidade utilizada é o milímetro de chuva, definido como a
quantidade de chuva correspondente a um volume de 1 litro por metro quadrado de superfície.
(1 mm = 1litro / m2 ).

Duração (D): é o tempo transcorrido entre o início e o fim da precipitação, expresso usualmente
em horas ou minutos.
Intensidade (I): é a relação entre a altura pluviométrica e a duração da precipitação (I = P/D)
expressa em mm/h ou mm/min.
Freqüência (Tr): por ser um fenômeno aleatório, a sua freqüência é definida através da
probabilidade de ocorrência de uma chuva de uma dada magnitude. Esta freqüência é expressa
através do tempo de retorno (Tr) ou de recorrência que é definido como sendo o período de
tempo, em anos, em que em média, uma determinada chuva será igualada ou superada.

Eq. 1

Exemplo: Qual o tempo de retorno de uma precipitação de intensidade de 110 mm/h cuja
probabilidade de ser igualada ou superada em um ano qualquer é de 1%?

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EXERCÍCIOS
1) Através da análise de cada precipitação descrita abaixo determine:
a) literalmente os parâmetros expressos;
b) o valor do parâmetro que falta e sua unidade;

Exemplo: Precipitação (15min, 20mm) Precipitação (15mm, 120mm/h)


a) duração e altura a)
b) intensidade = 80 mm/h b)

Precipitação (6mm, 2mm/h) Precipitação (10mm, 120mm/h)


a) a)
b) b)

Precipitação (5mm, 60mm/h) Precipitação (30min, 90mm/h)


a) a)
b) b)

Precipitação (15min, 120mm/h) Precipitação (30mm, 10min)


a) a)
b) b)

Precipitação (20mm, 10min) Precipitação (10min, 120mm/h)


a) a)
b) b)

2) Determinar, para cada situação expressa abaixo, o volume de água precipitado sobre a área da
bacia hidrográfica. Expressar o volume em litros (l) e em metros cúbicos (m³)

CHUVA ÁREA DA BACIA VOLUME VOLUME


(mm) (km2) (m3) (litros)
50 1
10 10
5 100
1 1000
100 1
100 10
20 8
1800 0,01
100 0,01

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3.4 MEDIÇÃO DA PRECIPITAÇÃO


Refere-se à determinação da altura d’água precipitada sobre a superfície do terreno. Como essa
medição não pode ser feita sobre toda a área de interesse, são instalados em alguns pontos
previamente escolhidos aparelhos medidores que se classificam em duas categorias: pluviômetros
e pluviógrafos. Salienta-se, então, o caráter pontual das medições de precipitação. A medição
espacial da chuva é feita com radares.

Figura 1 – Pluviógrafo e pluviômetro

3.4.1 Pluviômetros
Um pluviômetro é um recipiente coletor de chuva que armazena a água num depósito interno,
sendo a mesma captada através de uma bocal receptor horizontal de área que varia de 100 a
1000 cm². O mais utilizado é o pluviômetro tipo “Ville de Paris” que possui uma superfície de 400
cm². A altura de chuva é determinada dividindo-se o volume coletado de chuva pela área do bocal
receptor. Existem provetas calibradas diretamente em milímetros e décimos de milímetros
(0,1mm) para medir o volume de chuva coletado pelo pluviômetro.
O pluviômetro é um aparelho totalizador, que marca a altura de chuva total acumulada num dado
período de tempo. Sua leitura é feita normalmente uma vez por dia, gerando séries de valores
diários de precipitação.

Figura 2 – Pluviômetro

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Apesar das tentativas de homogeneização internacional, feitas pela Organização Mundial de


Meteorologia (OMM), existem várias normas de instalação e operação dos pluviômetros. Nestas
notas de aula serão transcritas as normas e recomendações adotadas pelo Departamento
Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE, 1967), no que se refere às:
I) características
II) instalação
III) operação

I) Características exigidas nos pluviômetros:


 pintura realizada obrigatoriamente com tinta branca brilhante;
 aro do receptor com bordo agudo (aresta viva), de material inoxidável e encaixe justo;
 desenho do receptor capaz de evitar os salpicos quando do impacto das gotas de chuva;
 reservatório com capacidade para conter chuvas intensas sem transbordamento;
 formato capaz de reduzir ao mínimo a evaporação e o efeito de auto-obstrução;
 ausência de vazamento;
 torneira com chave convenientemente adaptada para permitir, sem perdas, o enchimento da
proveta.
As provetas devem atender às seguintes condições:
 baixo coeficiente de dilatação e boa transparência do vidro ou material plástico utilizado na sua
fabricação;
 devem ser cuidadosamente calibradas para cada tipo de aparelho (com relação à área do
bocal receptor) e graduadas de modo a permitir leitura com estimativa de 0,1mm.
II) Normas para instalação dos pluviômetros:
 deve ser feita em local que permita a livre recepção de toda e qualquer precipitação
independente de sua direção. O pluviômetro deve ser instalado afastado de qualquer obstáculo
a uma distância de pelo menos o dobro da altura do obstáculo;
 a borda do aro receptor deve estar rigorosamente nivelada e a 1,50m do solo;
 o aparelho deve ser fixado, através de braçadeiras, a uma estaca suporte rigidamente
enterrada e pintada;
 evitar a instalação em terrenos fortemente inclinados, sobretudo em encostas voltadas para a
direção dos ventos predominantes;
 se no local da instalação os ventos causarem grandes perturbações recomenda-se a utilização
de barreiras protetoras, que poderão ser de vegetação, localizadas a uma distância de 3 ou 4
metros do pluviômetro com uma altura de 1,50m.
 o local escolhido deve permitir o acesso em qualquer época do ano;
 deve-se fazer um cercado em volta do aparelho para protegê-lo contra pessoas e animais,
cuidando para que sua altura não ultrapasse a altura do aparelho (1,50m)
 deve-se determinar as coordenadas (latitude e longitude) e a altitude do local. Estes dados
deverão constar na ficha do posto que ficará no escritório da companhia responsável pela
operação do mesmo. SE, POR ALGUM MOTIVO, O POSTO TIVER QUE SER DESLOCADO
PARA OUTRO LOCAL NÃO ESQUECER DE DETERMINAR AS NOVAS COORDENADAS
(latitude, longitude e altitude) E DE FAZER CONSTAR AS MODIFICAÇÕES E A DATA DA
MESMA NA FICHA DE CONTROLE DO POSTO.
 deve-se proceder a um cuidadoso ensinamento ao observador, com relação a operação e
manutenção do aparelho, bem como demonstrar a anotação dos dados coletados na caderneta
de observação.
III) Operação de estações pluviométricas:
 o pluviômetro deverá ser lido as 7:00 hs da manhã, anotando-se as observações na caderneta
de campo apropriada. A leitura deve ser feita com a proveta colocada em lugar plano e
horizontal, adotando-se como referência o vértice da concavidade do menisco;
 se a água recolhida do pluviômetro encher mais de uma vez a proveta, a quantidade de chuva
será a soma de todas as leituras até acabar a água no pluviômetro;
 a leitura feita na proveta deve ter o número inteiro, a vírgula e o número decimal;
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 se não houver água no pluviômetro a anotação na caderneta deve ser 0,0 ;


 mesmo não tendo chovido a caderneta deverá ser anotada todos os dias;
 quando o observador não puder fazer a leitura, a água da chuva ficará acumulada no
pluviômetro até a leitura seguinte. Neste caso deverá ser anotado o sinal “+” nos dias sem
leitura;
 quando for perdida a leitura, por exemplo: torneira aberta, etc..., deverá ser anotado um traço“ -
“ na caderneta;
 observador deverá ter um calendário para saber o dia do mês após a medição da chuva
verificar se a torneira do pluviômetro ficou bem fechada
 se o pluviômetro estiver em cidade, vila ou povoado, a porta do cercado deverá ficar sempre
fechada com um cadeado para evitar que pessoas ou animais mexam no aparelho.
 caso ocorram fatos que impeçam a continuidade das leituras, o observador deverá comunicar a
companhia responsável pela operação do posto, usando telefone a cobrar, telegrama ou
mesmo carta;
 a cada inspeção deve-se proceder a uma cuidadosa manutenção do aparelho, fornecimento do
material necessário à operação do posto (caderneta, lápis, borracha, proveta, calendário, etc),
avaliação qualitativa do observador e das condições de exposição do aparelho
 Na manutenção do aparelho deve-se ter os seguintes cuidados:
 a tela que existe dentro do pluviômetro serve para impedir a entrada de folhas e insetos
devendo estar sempre limpa;
 a torneira de rosca do pluviômetro tem uma borracha de vedação. Com o tempo ela fica
ressecada e causa um pinga-pinga. Quando isso acontecer ela deverá ser trocada;
 se o bico do pluviômetro ficar entupido, tirar o bico e limpar com um pedaço de arame.
Na operação do aparelho aponta-se as seguintes fontes de erro que devem ser eliminadas
ou minimizadas:
 perdas por evaporação da água contida no coletor;
 contagem incorreta do número de provetas resultantes;
 água derramada quando da transferência do coletor para a proveta;
 graduação da proveta não correspondente à área do bocal do pluviômetro;
 leitura incorreta da escala da proveta;
 anotação incorreta com relação ao dia do mês.

3.4.2 Pluviógrafos
Pluviógrafos são aparelhos registradores automáticos, dotados de um mecanismo de relojoaria
que imprime um movimento de rotação a um cilindro, no qual é fixado um papel devidamente
graduado que é impressionado por uma pena que registra continuamente a chuva que cai no
coletor (do mesmo tipo dos pluviômetros). O gráfico (altura de chuva x tempo) é chamado de
pluviograma, e permite determinar a altura de chuva e sua respectiva duração, e portanto calcular
a sua intensidade.

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Figura 3 – Pluviógrafo e o gráfico altura de chuva x tempo - pluviograma


Como o pluviômetro permite apenas a determinação da altura pluviométrica diária (ou de um
intervalo de tempo menor, desde que se realizem observações com mais freqüência), e como a
maioria dos estudos hidrológicos exige o conhecimento da intensidade da chuva em intervalos
curtos, como 5, 10, 30 minutos, houve a necessidade de se construírem pluviógrafos. Portanto
quando é necessária informação mais detalhada da precipitação, como sua distribuição temporal,
ou a variação das intensidades, usa-se o pluviógrafo. Como é evidente, os aparelhos
registradores são um meio mais preciso de coleta de dados, mas ao mesmo tempo, são mais
delicados, necessitando uma manutenção contínua e especializada, sendo também muito mais
caros que os pluviômetros (US$ 1000 a 3000 no mercado internacional). Os pluviógrafos são de
vários tipos, sendo os mais comuns, com relação ao sensor utilizado para medição, os
pluviógrafos de “flutuador”, “basculantes” e de “balança”.
PLUVIÓGRAFOS DE FLUTUADOR: a variação do nível d’água é registrada em um recipiente
apropriado por meio de um flutuador, ligado por uma haste diretamente à pena de inscrição no
papel do tambor. O recipiente de medida é ligado a um recipiente armazenador por um sifão que o
esvazia automaticamente quando é atingido um nível determinado (o que corresponde à queda do
flutuador e ao traçado de uma reta no pluviograma voltando a pena à posição zero).

Figura 4 - Esquema de funcionamento do pluviógrafo de flutuador (Garcez, 1975)

PLUVIÓGRAFOS BASCULANTES: são aparelhos que dispõem de 2 recipientes conjugados de


tal forma que quando um é preenchido, bascula e se esvazia, colocando o outro em posição para
receber a água oriunda do bocal receptor do pluviógrafo. O esvaziamento é feito em um
reservatório que acumula o volume total de chuva e permite o controle dos resultados. O registro é
feito por um mecanismo especial que faz com que a pena se desloque de um certo valor, para
cada basculamento do sistema. Este valor depende do volume que cada cuba pode armazenar.

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Figura 5 - Esquema de funcionamento do pluviógrafo basculante (Garcez, 1975)


PLUVIÓGRAFOS DE BALANÇA (ou de massa): neste tipo de aparelho é registrado
automaticamente, por meio de uma balança apropriada, o peso da água recolhida no recipiente
coletor. Com o aumento de peso da água a balança desce e movimenta um braço e uma pena
que registra a altura de chuva no papel que se encontra no tambor. O depósito esvazia através de
um sistema de sifão análogo ao existente nos pluviógrafos “de flutuador”.
As formas de transmissão do sinal podem ser:
 mecânica (pena colocada na ponta de uma alavanca ligada ao movimento do sensor de
medição);
 elétrica (sinal digitalizador: fotoelétrico, etc)
As formas de gravação da chuva podem ser:
 escritas em um suporte de papel
a) fita colocada em volta de um tambor com rotação de 24 horas até 8 dias
b) rolo adaptado a um movimento de desenrolamento com funcionamento de 1 mês até 6 meses
 memorizadas em um suporte eletrônico ou magnético (cartuchos ou disquetes móveis, fitas
magnéticas)
 transmitida em tempo real
A precisão das medições pluviográficas depende dos dois parâmetros envolvidos: a altura da
precipitação e o tempo (duração). A precisão de medição esta relacionada com a área do bocal
interceptor (quanto maior o volume de chuva recolhido, tanto melhor é a precisão) e com o
sistema de sensor de medição (um registro contínuo com aparelhos de sifonagem fornece uma
precisão melhor que um registro descontínuo com cubas basculantes).
Por exemplo: a precisão, em altura de chuva, de um pluviógrafo basculante de área de captação
de 400 cm² é de 0,5mm (volume de cada cuba). A precisão de um aparelho de balança, de
200cm² de área, chega a 0,1mm. A precisão no tempo também é muito variável, dependendo da
velocidade do movimento do pluviógrafo.
Tabela 1 - Características de alguns pluviógrafos(Chevallier,1993)
TIPO ORIGEM ÁREA SENSOR SUPORTE DURAÇÃO PRECISÃO
chuva(mm) tempo(min)
IH PLG 4 Brasil 200 balança tambor 24 horas 0,1 5
IH PLG 7S Brasil 200 balança tambor 8 dias 0,1 30
Lambrecht Alemanha 200 flutuador desenrolador 1 mês 0,1 5
Précis França 1000 báscula tambor 24 horas 0,1 5
Oedipe França 400 báscula cartucho > 6 meses 0,5 1/60

Normas e recomendações adotadas pelo Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica


(DNAEE 1967), no que se refere às:
I) características
II) instalação
III) operação

I) Características exigidas nos pluviógrafos


Admite-se o uso de pluviógrafos com qualquer dos três tipos clássicos de dispositivos de medição:
flutuador, cuba basculante e balança.
II) Normas para instalação dos pluviógrafos
Além de serem obedecidas as mesmas condições estabelecidas para os pluviômetros,
recomenda-se as seguintes:

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 deve-se SEMPRE instalar um pluviômetro no local para comparar com as leituras do


pluviógrafo;
 deve-se evitar a sua instalação próxima a estações ferroviárias
 ou outros locais sujeitos a fortes vibrações;
 sua colocação é feita em bloco de alvenaria, tijolo ou concreto, bem estável e com altura
suficiente para que o bocal receptor fique a 1,50 metros do solo;
 a abertura do abrigo do pluviógrafo deve estar voltada para o quadrante onde seja menor a
incidência de chuvas e vento.
III) Operação do pluviógrafo:
 no pluviograma deve ser anotado o nome da estação, data e hora, na colocação e também na
retirada do papel, para permitir a correção do tempo;
 algumas folhas de papel devem ser guardadas no interior do abrigo do pluviógrafo para
submete-las aos efeitos da umidade do ar antes de sua colocação no tambor;
 o observador deverá efetuar a limpeza da pena, o abastecimento de tinta e a corda no relógio;
 a cada inspeção deve-se proceder cuidadosa manutenção dos aparelhos, do fornecimento do
seu material de operação (caderneta, proveta, tinta, pena, papel, pilha, etc), avaliação
qualitativa do observador e das condições de exposição dos aparelhos.

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EXERCÍCIOS SOBRE ANÁLISE DE PLUVIOGRAMAS


1) Através da análise do pluviograma abaixo, determinar:
a) a altura de chuva (mm) ocorrida entre 7 e 8 horas =
b) a hora do início da chuva =
c) a hora do término da chuva =
d) altura de chuva (mm) ocorrida entre 8h10min e 10h15min =
e) intensidade da chuva (mm/h) ocorrida entre 8h10min e 10h15min =
f) altura de chuva (mm) ocorrida entre 10h15min e 11h20min =
g) intensidade da chuva (mm/h) ocorrida entre 10h15min e 11h20min =
h) altura de chuva (mm) ocorrida entre 11h20min e 12h15min =
i) intensidade da chuva (mm/h) ocorrida entre 11h20min e 12h15min =
j) altura de chuva (mm) ocorrida entre 12h15min e 13h40min =
l) intensidade da chuva (mm/h) ocorrida entre 12h15min e 13h40min =
m) a duração total da chuva (horas) =
n) a altura total precipitada (mm) =
o) a intensidade da chuva total (mm/h) =

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2) Utilizando o pluviograma abaixo e a tabela em anexo, determine:


a) a chuva acumulada (mm)
b) o total precipitado (mm) a cada intervalo de 10 minutos
c) a intensidade (mm/h) da chuva no mesmo intervalo

Dia Hora Chuva acumulada (mm) Chuva no intervalo


h min (mm) (mm/h)
16/9 8 10 0,0
20 0,5 0,5 3,0
30 0,8 0,3 1,8
40
50
9 00
10
20
30
40
50
10 00
10
20
30
40
50
11 00
10

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3) Utilizando o pluviograma e a tabela em anexo, determine:


a) o total precipitado (mm) em cada intervalo de 1 hora
b) a intensidade (mm/h) da chuva no mesmo intervalo

Dia Hora Chuva acumulada Chuva no intervalo


h min (mm) (mm) (mm/h)
29/3 8 00
9 00
10 00
11 00
12 00
13 00
14 00
15 00
16 00
17 00
18 00
19 00

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3.5 VARIAÇÃO DA PRECIPITAÇÃO


A precipitação é a variável hidrológica que mais claramente manifesta seu caráter aleatório,
variando drasticamente temporal e espacialmente. É comum que, num determinado período de
tempo, enquanto num ponto ocorre uma chuva, em outro próximo não ocorre precipitação
nenhuma. Justamente esta característica típica da precipitação é que introduz dificuldades na sua
avaliação correta. Por ser a precipitação a causa dos mais importantes fenômenos hidrológicos, a
sua quantificação correta é um dos desafios que o técnico deve enfrentar.

3.5.1 Variação geográfica


Como já foi mencionado, uma característica da precipitação é sua extrema variabilidade espacial.
Em geral, a precipitação é máxima na linha do Equador e decresce com o aumento da latitude. Há
outros fatores que afetam a distribuição geográfica das precipitações, tais como:
 altitude: normalmente as regiões com maior precipitação anual situam-se em regiões de baixa
pressão (regiões montanhosas).
 distância do mar: as nuvens formadas sobre os oceanos vão se consumindo à medida que
avançam para o interior dos continentes, ocorrendo uma redução do total de precipitação com
o aumento da distância à costa (ou a outra fonte permanente de umidade).
Uma maneira de visualizar estas variações é através da altura anual média de precipitação, que
junto com outros fatores climáticos, diferencia várias áreas ou regiões em todo o mundo. Na figura
abaixo é representada a precipitação média anual (mm)

Figura 6 - Precipitação média anual (mm) do Brasil (PRONI, 1987).


A região Sul, compreendida pelo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, possui um clima
temperado, úmido, sem estação seca. Essa área apresenta oscilação de temperatura durante o
ano, com inverno frio e verão quente. A chuva é bem distribuída, não havendo uma estação
definidamente seca. O período de menor ocorrência de chuvas varia de julho a agosto.
A região Sudeste, compreendida por São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro,
apresenta grande diversificação climática, caracterizando-se por um clima moderado, com
diferenças de temperatura não muito acentuadas. É uma região bem regada pelas chuvas, mas
com uma distribuição desigual ao longo do ano. Os meses mais secos vão de maio a agosto.
A região Nordeste, compreendida pela Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio
Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão, apresenta poucas diferenciações de temperatura,
com médias anuais variando entre 26º e 28ºC. Esta região apresenta, de modo geral, poucas
chuvas. No entanto, há locais de exceção como a Bahia, que apresenta clima úmido em várias
localidades.
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A região Norte, compreendida pelo Pará, Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima e Amapá, possui
temperatura média mensal superior a 22ºC. Com relação as chuvas, é uma região muito úmida
que apresenta em algumas áreas restritas (Roraima, sul do Acre e Rondônia) meses com
deficiências hídricas.
A região Centro-Oeste, compreendida por Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito
Federal, apresenta dominância de clima quente e úmido durante o verão, com oscilações de
temperatura, de amenas a elevadas. A estação chuvosa ocorre no verão e a estação seca, com
duração média de 4 a 5 meses, centraliza-se no inverno.
Mesmo dentro de uma mesma área, existem diferenças nas médias anuais de precipitação. No
Rio Grande do Sul, segundo BERLATO (1992), a média anual de todo o estado é da ordem de
1540 mm, variando de 1235 mm (Santa Vitória do Palmar) a 2162 mm (São Francisco de Paula).
Chove mais na metade norte do estado (acima da latitude 30º) com totais anuais superiores a
1500 mm, que na metade sul (abaixo da latitude 30º), com totais anuais inferiores a 1500 mm.
A análise estatística da precipitação anual do RS (BERLATO,1992) mostra que na média de todo
o estado, a freqüência de anos considerados secos (14%) é maior que os anos considerados
chuvosos (10%). Entretanto, em algumas regiões do estado, como a Campanha e Baixo Vale do
Uruguai (fronteira sudoeste) a freqüência média de anos secos atinge 20% .
Apesar da precipitação do estado ser bem distribuída nas quatro estações do ano (verão=24% ;
outono=25% ; inverno=25% ; primavera=26%), tendo em vista a mais alta demanda evaporativa
da atmosfera no verão (dezembro, janeiro e fevereiro), determinada especialmente pela maior
intensidade da radiação solar e maior temperatura do ar, a chuva normal no verão é em geral
insuficiente para atender às necessidades hídricas das culturas dessa estação, principalmente no
Sul do estado.
As variações anuais das chuvas, nas várias regiões do Brasil, podem ser observadas na figura 7,
através da precipitação média mensal.

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Hidrologia - Notas de aula - Profª Jane Pieruccini de Almeida
Capítulo 3
Precipitação

Figura 7 - Precipitação média mensal (mm) em diferentes localidades do Brasil (PRONI, 1987)

3.5.2 Variação temporal


Como podemos notar através dos exercícios com pluviogramas, a variação temporal da chuva é
bastante clara mesmo dentro de um mesmo evento chuvoso. Isto quer dizer que a intensidade da
chuva não é constante durante o tempo que precipita. Esta variação temporal é particularmente
acentuada quando da ocorrência de chuvas intensas (curta duração e grande altura de chuva).
Como a maioria dos modelos precipitação-vazão, utilizados em hidrologia, pressupõem a chuva
constante, é necessário dividir a duração da chuva em intervalos discretos de tempo ∆t, admitindo
que neste intervalo a intensidade da chuva foi constante. O ∆t é escolhido em função do tamanho
da bacia hidrográfica. Quanto menor a área da bacia menor deverá ser o ∆t escolhido. Daí a
importância da existência de pluviógrafos, pois para utilizar dados de pluviômetros (chuva diária) a
área da bacia deve ser superior a 2500 Km2. Com o aumento da área da bacia, os erros
cometidos com a suposição da chuva constante acabam se compensando, dada as variações
climáticas e fisiográficas da bacia.
Dentro de um mesmo evento chuvoso podemos notar, visual ou auditivamente, que a intensidade
da chuva não se mantém constante no tempo. Esta variação temporal é extremamente importante
nos processos de transformação de chuva em vazão, e pode ser visualizada através de um
gráfico denominado HIETOGRAMA. Este gráfico nada mais é que um diagrama de barras que
representa no eixo dos “x” o tempo de duração da chuva que se quer analisar, e no eixo dos “y” a
altura ou intensidade de chuva correspondente.
Deve-se salientar que o hietograma, por ser um diagrama de barras, deve trazer no eixo dos
tempos um intervalo de tempo discreto (∆t). Isto quer dizer que a duração do evento chuvoso, que
é um tempo contínuo, deve ser discretizado em intervalos ∆t de acordo com a necessidade do
estudo. O hietograma só pode ser definido através da leitura de pluviogramas (gráficos retirados
dos pluviógrafos), e portanto o limite mínimo do ∆t é, normalmente, de 5 minutos.
EXEMPLO: Determinar, para o evento chuvoso apresentado no pluviograma abaixo, a altura (mm)
e a intensidade (mm/h) e desenhar os respectivos hietogramas, para a chuva compreendida entre
às 8 e às 12 horas, utilizando um intervalo de tempo de 30 min (∆t = 30min).

Intervalo de tempo (h) ∆t (30min) P (mm) I (mm/h)


8:00 - 8:30 1 2,0 4,0
8:30 - 9:00 2 1,4 2,8
9:00 - 9:30 3 1,2 2,4
9:30 - 10:00 4 3,0 6,0
10:00 - 10:30 5 7,4 14,8
10:30 - 11:00 6 12,6 25,2

33
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Capítulo 3
Precipitação

11:00 - 11:30 7 7,8 15,6


11:30 - 12:00 8 1,6 3,2

HIETOGRAMA

14
12
Altura de chuva (mm) 10
8
6
4
2
0
1 2 3 4 5 6 7 8
Intervalo de tempo (30min)

HIETOGRAMA

27
Intensidade de chuva (mm/h)

24
21
18
15
12
9
6
3
0
1 2 3 4 5 6 7 8
Intervalo de tempo (30min)

3.5.3 Variação espacial


A precipitação não é homogênea sobre uma determinada área, se apresentando em forma de
células mais intensas que migram segundo a direção dos ventos. Tanto a variação temporal como
a espacial são marcadamente mais acentuadas quando da ocorrência de chuvas intensas (curta
duração e grande altura de chuva).

3.6 ANÁLISE DE DADOS DE CHUVA


Antes de iniciar qualquer análise ou aplicação dos dados de chuva, há necessidade de se
executar certas verificações, tais como: análise de consistência e/ou preenchimento de falhas da
série de dados de chuva coletados.
Denomina-se de “Análise de Consistência” a análise dos dados observados visando a
identificação de erros. A ação de eliminar os erros, encontrados nos dados coletados, é
denominada de corrigir, ou geralmente, “consistir” os dados. Nesta atividade de “consistir” os
dados, duas situações podem ocorrer:
 possibilidade de se eliminar o erro de medição, recuperando-se o valor correto;

34
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Capítulo 3
Precipitação

 impossibilidade de se eliminar o erro de medição, e portanto, a medição deverá ser eliminada


ocasionando uma “falha” na série de medições.
Denomina-se por “Preenchimento de Falhas” a atividade de se estimar por outros meios que não
a medição correta, os valores da precipitação, de forma a preencher lacunas eventualmente
verificadas na série de observações. Estas falhas ou lacunas podem ocorrer devido a leituras
erradas que não podem ser corrigidas, perda de leitura devido à falhas no aparelho medidor, ou
falha de leitura do observador.
A análise de consistência e o preenchimento de falhas são, portanto, procedimentos que deverão
anteceder o uso de séries de chuva para estudos hidrológicos.

3.6.1 Análise de Consistência


Os erros de observação podem ser classificados em dois tipos: erros grosseiros e erros
sistemáticos.
Os erros grosseiros se originam nos enganos de observação, anotação ou cópia de dados.
Exemplos de erros grosseiros cometidos com o pluviômetro:
 anotar 25mm ao invés de 52mm;
 anotar 2,5mm ao invés de 25,0mm;
 anotar 2,25mm quando a precisão da proveta é 0,1mm;
 anotar leitura correta mas em data errada;
 escrever números de forma pouco clara, dando margem a enganos.
Os erros sistemáticos são derivados de tendenciosidades inseridas pelos aparelhos de medição
ou pelos locais onde os mesmos estão instalados.
Exemplos de erros sistemáticos cometidos com o pluviômetro:
 coleta de quantidades menores de água devido ao posicionamento do aparelho próximo a
obstáculos como árvores, prédios, acidentes topográficos, etc...
 coleta de quantidades menores de água devido a vazamentos no aparelho através de furos
causados por corrosão ou outros fatores, ou através da torneira do aparelho;
 coleta de quantidades menores de água devido ao posicionamento do aparelho fora da vertical;
 uso de provetas não compatíveis com o pluviômetro.
Exemplos de erros sistemáticos cometidos com o pluviógrafo:
 erros temporais de registro devido a atrasos ou adiantamentos do relógio ou à colocação
errada do gráfico;
 erros devido à descalibragem do aparelho;
 coleta de quantidades menores de água devido ao posicionamento do aparelho próximo a
obstáculos como árvores, prédios, acidentes topográficos, etc...
 coleta de quantidades menores de água devido a vazamentos no aparelho através de furos
causados por corrosão ou outros fatores;
 coleta de quantidades menores de água devido ao posicionamento do aparelho fora da vertical.
Uma propriedade que distingue erros grosseiros de erros sistemáticos é a de que os erros
grosseiros se distribuem, usualmente, de forma aleatória em torno do valor real de medição, e os
sistemáticos tendem a subestimar ou superestimar as medições.
As técnicas utilizadas para a detecção de erros grosseiros podem ser as seguintes:
 análise criteriosa da caderneta do observador (cadernetas sujas, rasuradas, com caligrafias
diferentes significam, em geral, más condições de observação);

35
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Capítulo 3
Precipitação

 comparações com estações vizinhas que possuam o mesmo regime pluviométrico, utilizando
para tanto o traçado de hietogramas.
EXEMPLO: de acordo com os dados de chuva do mês de novembro de 1993 de dois postos de
medição de chuva, localizados em uma região homogênea sob o ponto de vista meteorológico e
obtidos através da leitura de pluviômetros:
 determine os hietogramas, altura de chuva (mm) versus ∆t (1dia), para os dois postos (A e B)
com os dados do mês de novembro de 1993.
 b) analise e interprete, através da caderneta do observador e dos hietogramas, os possíveis
erros cometidos na coleta dos dados.
POSTO “A” POSTO “B”
NOVEMBRO DE 1993 NOVEMBRO DE 1993
dia Altura dia Altura dia Altura dia Altura dia Altura dia altura
(mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm)
1 8,5 11 8,5 21 0,0 1 10 11 10 21 0
2 18,5 12 10,0 22 0,0 2 20 12 10 22 0
3 10,0 13 9,5 23 0,0 3 10 13 10 23 0
4 5,5 14 8,0 24 0,0 4 0 14 10 24 0
5 7,0 15 10,0 25 0,0 5 0 15 10 25 0
6 9,5 16 0,0 26 0,0 6 20 16 0 26 0
7 0,0 17 0,0 27 0,0 7 0 17 0 27 0
8 0,0 18 0,0 28 0,0 8 0 18 0 28 0
9 0,0 19 0,0 29 0,0 9 0 19 0 29 0
10 0,0 20 0,0 30 0,0 10 0 20 0 30 0

20 20
18 18
16 16
altura de chuva (mm)
altura de chuva (mm)

14 14
12 12
10 10
8 8
6 6
4 4
2 2
0 0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 8 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 8 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30

t (1 dia) t (1 dia)

3.6.1.1 Preenchimento de falhas


Muitas estações pluviométricas apresentam falhas em seus registros devido à ausência do
observador, por defeito nos aparelhos ou leituras erradas que não podem ser corrigidas.
Entretanto, como há necessidade de se trabalhar com séries contínuas, essas falhas devem ser
preenchidas.
Nestas notas de aula serão abordados dois métodos para preenchimento de falhas:
a) método de ponderação regional
b) método de regressão linear simples

a) MÉTODO DE PONDERAÇÃO REGIONAL

É um método simplificado, normalmente utilizado para o preenchimento de séries mensais ou


anuais de precipitação, e tem como base os registros pluviométricos de, no mínimo, 3 estações
localizadas o mais próximo possível da estação que apresenta falha nos dados de precipitação. É

36
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Capítulo 3
Precipitação

importante salientar que os postos vizinhos escolhidos devem possuir o mesmo regime
pluviométrico, e no mínimo dez anos de dados comum ao posto que se deseja preencher a
falha.
O método da ponderação regional parte da premissa de que a precipitação faltante Px no posto X,
seja proporcional às precipitações das estações vizinhas A, B e C num mesmo período, que serão
chamadas de Pa, Pb e Pc.
Se aceita que o coeficiente de proporcionalidade seja a relação entre a média Mx e as médias Ma,
Mb e Mc no mesmo período de anos. Adota-se, então, como valor do dado que falta Px, a média
entre os três valores calculados ã partir de A, B e C. A equação a ser utilizada é a seguinte:
1  Mx  Pa Mx  Pb Mx  Pc 
Px      (Eq. 2)
3  Ma Mb Mc 
Px = a precipitação mensal (ou anual) do posto X a ser estimada
Mx = a precipitação média mensal (ou anual) do posto X
Pa, Pb e Pc = as precipitações correspondentes ao mês (ou ano) que se deseja preencher,
observadas nos postos vizinhos A, B e C
Ma, Mb e Mc = a precipitação média mensal (ou anual) dos postos vizinhos A, B e C

A fórmula acima deve ser aplicada sempre que QUALQUER UMA das relações abaixo for MAIOR
QUE 10%
 Mb  Mx   Mc  Mx 
   100;    100; (Eq. 3)
 Mx   Mx 
Caso isto não ocorra, o valor faltante Px pode ser calculado simplesmente como a média
aritmética das precipitações ocorridas nas outras estações.

(Eq. 4)

b) MÉTODO DA REGRESSÃO LINEAR SIMPLES

Neste método as precipitações do posto com falhas e de um posto vizinho são correlacionadas
através de uma regressão linear simples. É importante salientar que os postos vizinhos
escolhidos devem possuir o mesmo regime pluviométrico, e no mínimo dez anos de dados
comum ao posto que se deseja preencher a falha.
(Eq. 5)
y = variável dependente ou resposta (posto com falhas)
x = variável independente ou explicativa (posto vizinho)
a = coeficiente angular ou declividade da reta (parâmetro a ser estimado)
b = coeficiente linear (parâmetro a ser estimado)

A estimativa dos parâmetros a e b é feita através do método dos mínimos quadrados.

(Eq. 6)
2
A qualidade do ajuste é feito através do coeficiente de determinação ( R ) que varia de 0 a 1,
sendo que, quanto mais próximo de 1, melhor será o ajuste ou pelo coeficiente de correlação (R)

37
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Capítulo 3
Precipitação

que é a raiz quadrada do coeficiente de determinação: R  R 2 e varia de -1 a +1, sendo que,


quanto mais próximo de l1l melhor será o ajuste.

(Eq. 7)

Esta correlação também pode ser feita graficamente, plotando-se no eixo dos “x” os valores
mensais (ou anuais) do posto auxiliar e no eixo dos “y” os valores correspondentes mensais (ou
anuais) do posto que se deseja preencher as falhas. A reta que melhor se ajusta à nuvem de
pontos pode ser traçada a “sentimento”, procurando passá-la pelo ponto definido pela média da
série do posto auxiliar e pela média da série do posto faltante.

EXERCÍCIO

1) Na tabela abaixo são apresentadas 4 séries de precipitações totais, correspondentes ao mês


de janeiro (período 1987-2005), observadas em 4 postos vizinhos.
Preencha o dado faltante para o posto X, ano 1998, através dos métodos:
a) ponderação regional
b) regressão linear simples com os postos: A, B e C

PRECIPITAÇÕES DO MÊS DE JANEIRO (mm)


ANO Posto A Posto B Posto C Posto X
1987 329 310 326 300
1988 153 191 197 243
1989 57 45 43 40
1990 82 80 84 78
1991 24 37 27 31
1992 76 81 104 71
1993 52 38 32 29
1994 115 116 106 135
1995 285 242 290 237
1996 92 139 123 107
1997 86 97 100 88
*1998* *90* *80* *93*
1999 129 124 109 119
2000 189 150 175 150
2001 153 137 163 120
2002 184 157 137 174
2003 98 86 96 80
2004 82 88 78 81
2005 59 50 84 55
Média
(mm)
Desvio
padrão
(mm)
Coef. de
variação
%

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Capítulo 3
Precipitação

*NO CÁLCULO DAS ESTATÍSTICAS NÃO SE UTILIZA OS DADOS DE 1998, PARA QUE
TODOS OS POSTOS TENHAM O MESMO TAMANHO DE SÉRIE.

3.6.1.2 Verificação da homogeneidade da série


Após o preenchimento de falhas é necessário analisar a série com relação ao grau de
homogeneidade dos dados do posto com relação às observações registradas em postos vizinhos.
Os dados hidrológicos em geral, estão constituídos por uma longa seqüência de observações de
alguma fase do ciclo hidrológico feitas em um determinado local. Embora um longo registro seja
altamente desejável, deve-se reconhecer que quanto mais longo o período de registro, maior é a
chance de que tenham ocorrido mudanças, ao longo deste tempo, nas condições ou mesmo no
local de observação. Uma série gerada nessas condições, se a mudança é apreciável, é
inconsistente ou carece de homogeneidade.
Para verificar esse tipo de inconsistência, usa-se o método da Dupla Massa, baseado no fato de
que um gráfico de uma quantidade acumulada plotada contra outra quantidade acumulada,
durante o mesmo período de tempo, deve ser uma linha reta sempre que as quantidades sejam
proporcionais. A declividade da reta representa a constante de proporcionalidade, e portanto uma
alteração na declividade da reta indicará uma mudança na constante de proporcionalidade entre
as duas grandezas. Na figura 8 são apresentados casos típicos quando da utilização do método
de dupla massa na verificação da homogeneidade de séries de precipitação.

Figura 8 – Casos típicos relativos ao método de dupla massa (Bertoni e Tucci,1993)


 Caso (a) - Série homogênea (não ocorre mudança de declividade)
 Caso (b) - Série não homogênea típica (mudança na declividade). As causas podem ser
devidas a erros sistemáticos, mudança nas condições de observação ou a existência de uma
causa física real, como alterações climáticas no local.
 Caso (c) - Alinhamento dos pontos em retas paralelas. Ocorre quando existem erros de
transcrição de um ou mais dados ou pela presença de anos extremos em uma das séries
plotadas. A ocorrência de alinhamentos, segundo duas ou mais retas aproximadamente

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Capítulo 3
Precipitação

horizontais (ou verticais), pode ser evidência da utilização de postos com diferentes regimes
pluviométricos.
 Caso (d) - Distribuição errática dos pontos. Geralmente é resultado da comparação de postos
com diferentes regimes pluviométricos, sendo incorreta toda associação que se deseje fazer
entre os dados dos postos plotados.
Para se determinar à curva de dupla massa deve-se escolher vários postos na região, próximos
àquele que vai ser ajustado, e construir um gráfico onde são plotados no eixo dos “x” a média
acumulada dos totais anuais de todos os postos escolhidos, e no eixo dos “y” os totais anuais
acumulados do posto que se deseja testar a consistência.
Caso a reta assim obtida mudar sua declividade, isto significa que naquele ano ocorreu alguma
modificação, criando uma inconsistência na série histórica, devendo portanto os dados serem
corrigidos para a condição desejada da seguinte forma:
Ma  Po
Pa  (Eq. 8)
Mo
Pa = são as observações ajustadas à condição desejada
Po = dados observados a serem corrigidos
Ma = coeficiente angular da reta (declividade) da tendência desejada
Mo = coeficiente angular da reta (declividade) da tendência a corrigir.

Embora possa acontecer que o número de anos em que o posto foi operado nas condições
iniciais seja maior do que nas atuais, é mais interessante corrigir os dados referindo-se aos atuais.
A escolha da alternativa de correção depende das causas que provocaram a mudança de
declividade. Os dados deverão ser acumulados a partir do período para o qual se deseja
manter a tendência da reta.
Deve-se salientar que o método de dupla massa não deve ser usado com valores diários de
precipitação.
EXERCÍCIO
1) A tabela abaixo fornece as precipitações anuais (mm) de cinco postos vizinhos, situados em
uma área homogênea do ponto de vista climático. Verifique a homogeneidade da série do posto
“D” através do método da Dupla Massa. Caso o referido posto não seja homogêneo, retire a
inconsistência corrigindo-o para as condições atuais. (NESTE CASO AS SÉRIES DEVEM SER
ORDENADAS DE FORMA DECRESCENTE, isto é, iniciando pelo ano mais recente das séries)

X Y
AN0 “A” “B” “C” “D” “E” MÉDIA MÉDIA POSTO “D”
(mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) ACUMULADA ACUMULADO
1983 1261 1216 991 1283 1201
1982 1056 1266 1044 1190 1264
1981 989 1099 1286 1287 1170
1980 1120 945 1121 963 1165
1979 1003 899 796 1088 829
1978 1223 781 1056 967 1140
1977 1059 918 824 1188 1153
1976 751 832 683 771 1012
1975 814 1215 981 1175 1222
1974 1082 1584 930 1483 1410
1973 917 933 923 604 801

40
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Capítulo 3
Precipitação

X Y
AN0 “A” “B” “C” “D” “E” MÉDIA MÉDIA POSTO “D”
(mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) ACUMULADA ACUMULADO
1972 704 825 1014 751 1051
1971 981 1027 1067 851 1067
1970 782 1041 784 713 1006
1969 928 779 949 834 1009

RESOLUÇÃO

X Y
“A” “B” “C” “D” “E” MÉDIA MÉDIA POSTO “D”
AN0 (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) ACUMULADA ACUMULADO
1983 1261 1216 991 1283 1201 1190,4 1190,4 1283
1982 1056 1266 1044 1190 1264 1164 2354,4 2473
1981 989 1099 1286 1287 1170 1166,2 3520,6 3760
1980 1120 945 1121 963 1165 1062,8 4583,4 4723
1979 1003 899 796 1088 829 923 5506,4 5811
1978 1223 781 1056 967 1140 1033,4 6539,8 6778
1977 1059 918 824 1188 1153 1028,4 7568,2 7966
1976 751 832 683 771 1012 809,8 8378 8737
1975 814 1215 981 1175 1222 1081,4 9459,4 9912
1974 1082 1584 930 1483 1410 1297,8 10757,2 11395
1973 917 933 923 604 801 835,6 11592,8 11999
1972 704 825 1014 751 1051 869 12461,8 12750
1971 981 1027 1067 851 1067 998,6 13460,4 13601
1970 782 1041 784 713 1006 865,2 14325,6 14314
1969 928 779 949 834 1009 899,8 15225,4 15148

41
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Capítulo 3
Precipitação

TESTE DUPLA MASSA

16000
Posto "D" acumulado (mm)

14000

12000

10000

8000

6000

4000

2000

0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000
Média acumulada (mm)

TESTE DUPLA MASSA


y = 1,0504 x - 3,8471
16000
R2 = 0,9996
14000
Posto "D" acumulado (mm)

12000

10000

8000

6000

4000

2000

0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000
Média acumulada (mm)

42
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Capítulo 3
Precipitação

TESTE DUPLA MASSA


y = 0,8611 x + 2011,9
16000 2
R = 0,9997
14000
Posto "D" acumulado (mm)

12000

10000

8000

6000

4000

2000

0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000
Média acumulada (mm)

Ma  Po
Pa 
Utilizando a equação Mo (Eq. 8) calcula-se os valores corrigidos das chuvas de 1969 à
1973
Pa = são as observações ajustadas à condição desejada
Po = dados observados a serem corrigidos
Ma = coeficiente angular da reta (declividade) da tendência desejada
Mo = coeficiente angular da reta (declividade) da tendência a corrigir.

“A” “B” “C” “D” “E” MÉDIA MÉDIA POSTO “D”


AN0 (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) (mm) ACUMULADA ACUMULADO
1983 1261 1216 991 1283 1201 1190,4 1190,4 1283
1982 1056 1266 1044 1190 1264 1164 2354,4 2473
1981 989 1099 1286 1287 1170 1166,2 3520,6 3760
1980 1120 945 1121 963 1165 1062,8 4583,4 4723
1979 1003 899 796 1088 829 923 5506,4 5811
1978 1223 781 1056 967 1140 1033,4 6539,8 6778
1977 1059 918 824 1188 1153 1028,4 7568,2 7966
1976 751 832 683 771 1012 809,8 8378 8737
1975 814 1215 981 1175 1222 1081,4 9459,4 9912
1974 1082 1584 930 1483 1410 1298 10757,2 11395
1973 917 933 923 737 801 862 11619,4 12131,8
1972 704 825 1014 916 1051 902 12521,4 13047,9
1971 981 1027 1067 1038 1067 1036 13557,4 14086
1970 782 1041 784 870 1006 897 14453,9 14955,7
1969 928 779 949 1017 1009 936 15390,4 15973

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Hidrologia - Notas de aula - Profª Jane Pieruccini de Almeida
Capítulo 3
Precipitação

POSTO "D" CORRIGIDO

16000

14000
y = 1,0363x + 67,078
2
R = 0,9998
12000

10000

8000

6000

4000

2000

0
0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000 16000

3.7 PROCESSAMENTO DOS DADOS DE CHUVA


Uma vez feitas as verificações e correções expostas no item 3.6, os dados estão prontos para
serem processados de acordo com o objetivo do estudo.
A primeira etapa do processamento é o cálculo dos parâmetros estatísticos das séries tais como:
média, desvio padrão, coeficiente de variação, coeficiente de assimetria, e também a seleção de
máximos e mínimos observados, que podem ser feitos tanto para observações diárias como para
totais de períodos maiores (mensais, sazonais, anuais). Posteriormente poderão ser feitas
análises estatísticas destas séries para a determinação de sua freqüência. ou probabilidade de
ocorrência. Estes estudos serão apresentados no capítulo 4, denominado PROBABILIDADE E
ESTATÍSTICA APLICADA À HIDROLOGIA.

3.8 PRECIPITAÇÃO MÉDIA EM UMA BACIA HIDROGRÁFICA


Até agora foi visto como se analisam os dados de precipitação obtidos por aparelhos
(pluviômetros e/ou pluviógrafos) isolados dentro da bacia. Como já foi salientado anteriormente,
as chuvas medidas por estes aparelhos têm caráter pontual, isto é, representam apenas a chuva
ocorrida em uma área restrita em torno do aparelho.
Para se computar a precipitação média na bacia hidrográfica, é necessário utilizar as observações
dentro da bacia e nas suas vizinhanças. Se aceita a precipitação média como sendo uma lâmina
d’água de altura uniforme sobre toda a área considerada (fig.a), fazendo referência a um período
de tempo dado, como um dia, mês, ano. Isto não deixa de ser uma abstração, já que a chuva real
obedece a distribuições espaciais muito mais complexas (fig.b) variáveis, inclusive,
temporalmente.
A única maneira de conhecer a distribuição real das chuvas, seria instalando um número muito
grande de aparelhos na área, o que seria inviável econômica e operacionalmente. Trabalha-se,
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Capítulo 3
Precipitação

então, com amostragens reduzidas, como os dois aparelhos da figura abaixo, cuja informação
deve ser aproveitada ao máximo, ponderando seus valores (fig. c) (Sanchez,1986).

Figura 9 - Precipitação média na bacia

Várias formas de ponderação têm sido propostas, originando alguns métodos à seguir descritos.
 Método da média aritmética
 Método dos polígonos de Thiessen
 Método das isoietas

3.8.1 Método da média aritmética


É o método mais simples, onde se concede a todos os postos pluviométricos da bacia hidrográfica
a mesma importância. A precipitação média é então calculada como a média aritmética dos
valores medidos em cada posto da bacia hidrográfica. Neste método utilizam-se apenas os postos
que se encontram dentro da bacia.

(Eq. 9)

_
P = precipitação média da bacia (mm)
Pi = precipitação de cada posto “i” (mm)
n = número total de postos pluviométricos existentes na bacia

O método ignora as variações geográficas da precipitação, e portanto é aplicável apenas em


regiões onde isso possa ser feito sem incorrer em grandes erros, ou seja, regiões planas com
variação gradual e suave do gradiente pluviométrico e com cobertura de postos de medição
bastante densa (n grande).

3.8.2 Método dos polígonos de Thiessen


Neste método atribui-se uma área de influência em torno de cada aparelho, como se indica na
figura abaixo.

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Capítulo 3
Precipitação

Figura 10 - Determinação dos polígonos de Thiessen

Inicialmente os pontos de localização dos aparelhos adjacentes são ligados por retas,
constituindo-se uma rede de triângulos (fig.a). A seguir traçam-se as perpendiculares nos pontos
médios dos lados dos triângulos (fig.b), obtendo-se assim os lados dos polígonos que delimitam a
área de influência de cada aparelho, dentro da qual se considera a chuva como uniforme e igual a
medida no respectivo aparelho. A precipitação média na bacia será:
n

  Pi  Ai 
P i 1
n

 Ai
i 1 (Eq. 10)
_
P = precipitação média da bacia (mm)
Pi = precipitação de cada posto “i” (mm)
Ai = área de influência do aparelho medidor “i”

A área de influência do aparelho medidor “i” é normalmente medida com um planímetro ou através
de geometria plana.Este método da bons resultados em terrenos levemente acidentados, quando
a localização e exposição dos aparelhos são semelhantes e as distâncias entre eles não são
muito grandes. Facilita o cálculo automatizado, já que uma vez estabelecida a rede, os valores de
Ai permanecem constantes, mudando apenas as precipitações Pi (para cada dia, mês, ano, etc).
EXERCÍCIOS
1) Para a bacia hidrográfica esquematizada abaixo determinar:

a) os polígonos de Thiessen.
b) a precipitação média na bacia através do método da média aritmética
c) a precipitação média na bacia hidrográfica através do método dos polígonos de Thiessen
(sabendo que a área de cada polígono de Thiessen já foi determinada através de planimetria e se
encontra na tabela abaixo)
d) o volume (m³) de chuva que representa a diferença entre a estimativa da precipitação média
através dos dois métodos

POLÍGONO CHUVA MENSAL (mm) ÁREA DO POLÍGONO (Km²)


1 80 25
2 70 10
3 80 15
4 65 10
5 70 5
6 65 5

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Capítulo 3
Precipitação

3.8.3 Método das isoietas


Não é tão puramente mecânico como os anteriores, e depende muito do julgamento do usuário,
permitindo introduzir no traçado do mapa todo o conhecimento que se tem da região, incluindo a
topografia, regime de ventos, etc. A figura abaixo mostra os passos para traçar o mapa de
isoietas, sendo estas definidas como as linhas que unem pontos de igual precipitação.

(a) (b) (c)

Figura 11 - Determinação das isoitas


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Capítulo 3
Precipitação

Depois de plotar o valor da precipitação lida em cada posto (fig a), se unem estes pontos com
linhas retas nas quais se interpolam linearmente os valores de chuva para os quais se quer traçar
as isoietas (fig.b). Com esses pontos se procede o traçado das isoietas (fig.c), como se fossem
curvas de nível. Como norma geral, as isoietas devem acompanhar as curvas de nível do terreno,
nunca cortando-as perpendicularmente.

  Pi  Ai 
P i 1
n (Eq. 11)
 Ai
i 1

_
P = precipitação média da bacia (mm)
Pi = média das precipitações das duas isoietas que delimitam a área Ai.(mm)
Ai = área delimitada por duas isoietas
Tr= “X”anos
Para o cálculo da precipitação média, determina-se a área Ai delimitada por duas isoietas, e
usa-se essa área como elemento de ponderação.
A escolha dos intervalos usados entre isoietas será função do objetivo do estudo e do tamanho
das cartas topográficas disponíveis. Quanto maior a diferença entre os valores extremos de chuva
da região e quanto menor a escala da carta, maiores deverão ser os intervalos entre isoietas. Se
tomarmos intervalos muito pequenos poderemos ter tantos detalhes que tornaremos a carta de
isoietas confusa.

3.9 CHUVAS INTENSAS


Chuvas intensas são precipitações de caráter excepcional (valores máximos) que podem ocorrer
dentro de uma determinada área. A importância do estudo das chuvas intensas é básico para o
dimensionamento de obras hidráulicas em projetos de drenagem urbana e agrícola, vertedores de
barragens, entre outros. Como já foi exposto anteriormente, as chuvas intensas são as que
apresentam as maiores variações espaciais e temporais, além de serem o principal agente
causador de erosão do solo de uma bacia
As chuvas intensas de uma determinada região são retratadas através de curvas que relacionam
as três grandezas que as caracterizam: a sua intensidade, duração e o risco desta precipitação
ser igualada ou superada (tempo de retorno). Estas curvas são conhecidas como CURVAS
INTENSIDADE-DURAÇÃO-FREQÜÊNCIA, ou CURVAS I-D-F (fig.12). Através destas curvas
podemos visualizar que quanto maior a intensidade da chuva menor é sua duração.

(intensidade)

alta intensidade

baixa intensidade

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Capítulo 3
Precipitação

curta duração longa duração (duração)

Figura 12 - Curva intensidade-duração-freqüência (IDF)

Os dados necessários para a determinação destas curvas, isto é, as chuvas máximas para cada
duração, são obtidos através dos registros dos pluviógrafos existentes na região em estudo. A
obtenção destes dados deve ser feita para um período suficientemente longo e representativo dos
eventos extremos da região. Depois de obtidas as séries de precipitações máximas para cada
duração é necessário uma análise estatística destas séries, para podermos determinar a
probabilidade de cada valor ser igualado ou superado (tempo de retorno). Na figura 13 é
apresentada as curvas I-D-F de Porto Alegre destacando apenas a duração de 30minutos.

Intensidade (mm/h)

89,4

70,8

63,0

30 min duração (min)

Figura 13 - Curvas intensidade-duração-freqüência de Porto Alegre (Pfafstetter,1957)

Através do exemplo das curvas I-D-F de Porto Alegre, onde foi explicitado apenas a duração de
30 minutos, fica claro que, para uma mesma duração, quanto mais intenso um evento chuvoso
maior será o seu tempo de retorno (evento mais raro).

3.9.1 Determinação das curvas intensidade-duração-freqüência (I-D-F)


As chuvas intensas, por serem chuvas de caráter extraordinário (valores máximos) são utilizadas
como chuvas de projeto para dimensionamento de obras hidráulicas e portanto é necessária a
determinação das curvas intensidade-duraçao-freqüência para a região onde estas obras serão
efetuadas. Pode-se substituir a intensidade da chuva pela sua altura, gerando assim curvas
denominadas ALTURA-DURAÇÃO-FREQÜÊNCIA, ou CURVAS A-D-F.
As curvas intensidade-duração-freqüência (I-D-F) e/ou altura-duração-freqüência (A-D-F), podem
ser determinadas através de diferentes métodos, de acordo com o tipo,Tr=50anos
quantidade, e qualidade
de dados de chuva disponíveis na região em estudo. Nestas notas de aula serão abordados os
Tr=10anos
seguintes métodos:
Tr=5anos
I) DIRETO: deve ser utilizado quando na região em estudo houver pluviógrafo e for possível
obter uma série longa de observações ;

II) DESAGREGAÇÃO: deve ser utilizado quando na região em estudo só houver pluviômetro
(chuva diária), e for possível obter uma série longa de observações e os coeficientes de
desagregação para a região;

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Capítulo 3
Precipitação

III) REGIONALIZAÇÃO: deve ser utilizado quando na região em estudo não houver nem
pluviômetro e nem pluviógrafo, ou quando os dados disponíveis não tiverem boa qualidade ou
quantidade suficiente.

I) Método direto
Consiste na obtenção de séries de chuvas máximas anuais com base nos dados do pluviógrafo.
Nos pluviogramas devem ser obtidas, para cada ano da série, as chuvas mais intensas com
durações de, por exemplo: 5, 10, 15, 20, 30, 40 minutos, 1, 2, 4, 6, 12, 24, 48, 72 horas. As
durações desejadas vão depender da finalidade do estudo e da precisão do pluviógrafo. De posse
destas séries (uma série para cada duração) é necessário fazer-se uma análise estatística para
determinar o tempo de retorno de cada valor. Esta análise estatística será abordada no
capítulo 4 assim como um exemplo de aplicação do método direto,

II) Método da desagregação


Devido a necessidade de se determinar as relações intensidade-duraçao-freqüência das chuvas
de curta duração em regiões onde as únicas informações disponíveis são as chuvas de um dia,
obtidas em pluviômetros, utiliza-se o método da desagregação que, através de coeficientes,
desagrega chuvas de duração de um dia em chuvas de 24 horas, e a partir dessa em durações
menores.
Ë importante salientar a diferença entre chuva de 1 dia e chuva de 24 horas:

 Chuva com duração de 1 dia ou diária é a chuva lida entre os horários de observação do
pluviômetro;
 Chuva com duração de 24 horas é o maior valor de chuva relativa a um período contínuo de 24
horas.
Os coeficientes de desagregação nada mais são que relações entre alturas (e/ou intensidades)
de chuva de diferentes durações. Estas relações baseiam-se em uma característica observada
nas curvas I-D-F de postos localizados em diversas partes do mundo que é a de se manterem
paralelas entre si, como pode ser observado na fig. 12.
Os coeficientes de desagregação são obtidos segundo a expressão:

altura de chuva com duração D1


Coef.(D1/D2) =
altura de chuva com duração D2
Os valores médios destes coeficientes para o Brasil foram obtidos pela CETESB (1979) através
da análise das curvas A-D-F, de 98 postos pluviográficos, que foram determinadas por Otto
Pfafstetter e publicadas pelo DNOS (1957) em um trabalho intitulado “Chuvas Intensas no Brasil”.
Observando a tabela abaixo podemos notar que os valores dos coeficientes médios obtidos para
o Brasil não se diferenciam muito dos adotados nos Estados Unidos.

Tab. 2 - Relações entre as alturas pluviométricas de diferentes durações


(CETESB,1979)
Coeficientes de desagregação
Relações entre alturas pluviométricas de Valores médios Estados Unidos Estados Unidos
diferentes durações do Brasil U.S.W.Bureau Denver
5 min/30min 0,34 0,37 0,42
10min/30min 0,54 0,57 0,63
15min/30min 0,70 0,72 0,75
20min/30min 0,81 0,84
25min/30min 0,91 0,92
30min/1hora 0,74 0,79

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Capítulo 3
Precipitação

Coeficientes de desagregação
1hora/24horas 0,42
6horas/24horas 0,72
10horas/24horas 0,82
12horas/24horas 0,85
24horas/1dia *1,14* 1,13
*Valor para a cidade de São Paulo*

Os coeficientes médios para o Brasil só devem ser adotados quando, na região em estudo, não
existirem curvas A-D-F já definidas. É conveniente calcular os coeficientes de desagregação
utilizando os dados das curvas A-D-F existentes em regiões próximas à região em estudo, desde
que as mesmas possuam características pluviométricas semelhantes. A publicação da
CETESB (1979), intitulada “Drenagem Urbana: manual de projeto”, apresenta as curvas A-D-F e I-
D-F de 98 postos brasileiros. Destes 98 postos, 14 se encontram no estado do Rio Grande do Sul.

Tab. 3 - Postos do Rio Grande do Sul que possuem curvas A-D-F e I-D-F (CETESB,1979)
POSTOS Latitude Longitude
Alegrete 29 46’ 55 47’
Bagé 31 20’ 54 05’
Caxias do Sul 29 10’ 51 12’
Cruz Alta 28 38’ 53 37’
Encruzilhada 30 33’ 52 31’
Iraí 27 11’ 53 17’
Passo Fundo 28 16’ 52 25’
Porto Alegre 30 02’ 51 13’
Rio Grande 32 02’ 52 06’
Santa Maria 29 41’ 53 49’
Sta.Vitória do Palmar 33 31’ 53 22’
São Luiz Gonzaga 28 24’ 54 58’
Uruguaiana 29 45’ 57 05’
Viamão 30 05’ 50 47’

Como foi citado anteriormente, existe diferença entre chuva diária (dado coletado no pluviômetro)
e chuva de 24 horas. Segundo a CETESB (1979) pode-se estimar a altura pluviométrica máxima
de 24 horas através da média das chuvas máximas de 1 e 2 dias.
Isto posto, o método da desagregação consiste na obtenção de uma série de alturas
pluviométricas máximas de duração diária para a região em estudo. De posse desta série é
necessário fazer-se uma análise estatística para determinar o tempo de retorno de cada valor, e
utilizar os coeficientes de desagregação da região para estimar as chuvas máximas para as
durações desjadas. Um exemplo do método da desagregação, com a obtenção dos
coeficientes de desagregação e a análise estatística, será efetuado no capítulo 4.

III) Método da regionalização


Em alguns estados brasileiros existem trabalhos publicados sobre regionalização de chuvas
intensas, como por exemplo:
 Rio Grande do Sul - “Chuvas Intensas” (IPH/UFRGS, 1991);
 Paraná - “Precipitações Pluviais Extremas no Paraná” (IAPAR, 1990).
Estes trabalhos utilizam uma metodologia de regionalização para os estudos de chuvas intensas
que incorpora, além dos registros pluviográficos regionais, as leituras pluviométricas diárias,

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Capítulo 3
Precipitação

fazendo uso intensivo de toda a informação disponível. Esta metodologia foi aplicada ao Rio
Grande do Sul (IPH/UFRGS, 1991), gerando resultados que permitem a estimativa de alturas e/ou
intensidades de chuvas máximas para durações de até 24h e tempos de retorno de até 100 anos.
Um exemplo da aplicação do método da regionalização para o Rio Grande do Sul será
efetuado no capítulo 4.

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