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RevistaProlíngua–ISSN1983-9979 P á g i n a | 72

Volume 11 - Número 2 - out/dez de 2016

O CURSO DE LINGUÍSTICA GERAL E A CONSTITUIÇÃO DO


CAMPO CIENTÍFICO DE ESTUDO DA LINGUAGEM

1 Resumo

O texto destaca que, embora a Linguística tenha se fragmentado em diversas teorias a partir
dos anos 1960, Saussure e o "Curso de Linguística Geral" (CLG) mantêm um papel crucial
como o início da história dessa disciplina. Mesmo considerando que o CLG não foi escrito por
Saussure, mas organizado por seus discípulos, a tradição o credita ao autor suíço. O gesto
inaugural de Saussure ao definir a língua como único objeto permitiu a proliferação de teorias,
como o gerativismo de Chomsky, mas essas correntes ainda precisam dialogar com o CLG
para estabelecerem-se na Linguística. O texto ressalta que o debate científico saussuriano
continua a influenciar o campo de estudos da linguagem, mesmo que muitos linguistas hoje
pesquisem em outras áreas. Este texto destaca a importância do "Curso de Linguística Geral"
(CLG) de Saussure na consolidação da Linguística como ciência. O CLG definiu o objeto da
Linguística ao distinguir língua e fala. A publicação do livro foi crucial para o surgimento do
estruturalismo e conferiu à Linguística o status de "ciência-piloto das ciências humanas".
Apesar de Saussure não ter publicado o CLG, a obra tornou-se uma referência fundamental,
moldando a disciplina. A figura de Saussure é usada para garantir a unidade da Linguística,
embora as interpretações variem. O texto enfatiza a importância cultural e a transformação da
referência a Saussure no contexto do estruturalismo. O texto destaca Saussure como um dos
primeiros a distinguir o campo de investigações da Linguística, definindo língua e fala. A
oposição língua/fala foi fundamental para estabelecer um objeto específico para a Linguística.
Saussure escolheu a língua como objeto científico devido à sua homogeneidade, concretude e
natureza social. A exclusão da fala focou na busca pela regularidade do sistema linguístico,
mas levou a limitações teóricas e críticas quanto ao dinamismo da linguagem. A decisão teórica
de Saussure pelo objeto língua, embora necessária, acabou por simplificar a complexidade da
linguagem. O estruturalismo saussuriano, embora tenha alcançado sucesso, foi posteriormente
superado por correntes linguísticas mais abrangentes. Apesar disso, a presença do domínio da
memória, como representado pelo CLG, continua a ser um ponto de referência no
desenvolvimento disciplinar da Linguística. Maingueneau destaca que a definição da
linguística como o estudo científico da linguagem encerra o debate sobre o objeto, deixando
em aberto apenas o problema metodológico para garantir sua cientificidade. No entanto,
Borges Neto argumenta que as concepções de empreendimento científico e de método e objeto
em uma ciência estão em constante evolução histórica. O nascimento de uma disciplina
envolve uma reivindicação de autonomia, seguida pela demarcação de suas fronteiras para
manter sua integridade. Esse processo é evidente no desenvolvimento da Linguística pós-
estruturalismo, onde diversas correntes surgiram, rompendo com o paradigma único. A noção
de Feyerabend sobre a multiplicidade na ciência destaca que o conhecimento científico deve
emergir da diversidade de métodos, experiências e fatores culturais, históricos e subjetivos. A
ciência, para Feyerabend, é anárquica e pluralista, não podendo ser reduzida a um discurso
único. Ele argumenta que a uniformização da ciência não reflete o caos e a imprevisibilidade
reais do trabalho científico. O cientista age como um "oportunista metodológico", adaptando-
se a diferentes caminhos para atingir seus objetivos em situações específicas. O texto conclui
ressaltando que, embora o CLG seja o discurso fundador da Linguística, sua desnecessidade
posterior indica seu sucesso em estabelecer a ciência da linguagem. Evoluir na Linguística não
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implica apagar ou substituir teorias, mas sim retomar e refundar o momento fundador,
incorporando ou refutando suas ideias.

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