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DR.

ROBERTO GARCIA

Técnicas práticas para lidar com a

ANSIEDADE
em tempos de isolamento e caos

Rio de Janeiro
Edição do Autor
2020
Copyright © 2020 por Dr. Roberto Garcia

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste e-book pode ser utilizada ou
reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização por escrito do autor.

EDIÇÃO e REVISÃO: Ana Daysi Araujo

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Gar c ia, Ro ber t o


T écnica s pr át ica s par a lid ar co m a ans ie dade e m
t empo s de iso la me nt o e cao s [ livr o elet r ô nico ] /
Ro ber t o Gar cia. - - 1. ed. - - Nit eró i, RJ : E d. do
Aut o r, 2020.
300 Kb ; P DF

B ibl io gr a fia.
I S BN 978 - 65- 00- 01996 - 4

1. Ans iedade 2 . Co nt ro le ( P s ico lo g ia) 3. E mo çõ es


4. E st r esse - Ad min ist r ação I . T ít ulo .

20-35754 CDD-152.46

Índices para catálogo sistemático:


1. Ansiedade : Psicologia 152.46
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
1

LIVRE-SE DA TRISTEZA

Nesse período de pandemia tenho atendido, via on-line, pacientes que,


por estarem confinados, acabam exagerando na alimentação ou perdendo o
apetite. Esses dois extremos carregam, em si, uma emoção comum,
manifestada pela situação atual: tristeza.
Há um clima de abatimento no mundo inteiro. Permanecer em
isolamento social, confinados em de casa, é algo que não temos como mudar
neste momento. Precisamos obedecer às autoridades de saúde pública. Eu sei
que para algumas pessoas é muito difícil aceitar ficar “preso” em casa. Mas é
uma situação que temos de aprender a lidar. Quem não consegue lidar com
isso está pondo em risco a própria sanidade mental.
Quando estamos numa situação de isolamento, o fluxo de pensamentos
em nosso cérebro se avoluma. Para quem tem tendência à ansiedade ou
depressão, esse fluxo aumenta mais ainda, tomando proporções gigantescas
que vão desencadear emoções negativas. Por isso o aumento dos casos de
depressão.
Então, como lidar com isso? Vou citar como exemplo dois filmes muito
famosos. Não estou ganhando nada para fazer comercial deles, ok? Cito, aqui,
apenas como ferramenta educativa. Caso já os tenha assistido, vai concordar
comigo que são excelentes entretenimentos.
O primeiro deles, “O Náufrago” 1, no qual o personagem vivido por Tom
Hanks, após um acidente, se vê preso em uma ilha deserta por quatro anos.
Durante esse período, ele precisa lutar pela sobrevivência e manter sua
sanidade mental, na esperança de que, um dia, consiga ser resgatado e possa
retomar a vida que foi obrigado a deixar para trás. Uma das passagens
memoráveis desse filme é quando ele tenta amenizar sua solidão criando um
amigo imaginário, o Wilson.
O outro filme que eu quero destacar é “Eu sou a Lenda” 2 , com Will
Smith, que retrata uma situação de pandemia, onde um vírus dizimou grande
parte da população. Will Smith é um cientista que se tornou imune ao vírus.
Ele, na companhia de um cachorro, percorre a cidade durante três anos, na
esperança de encontrar algum outro sobrevivente que não seja um monstro,
um zumbi ou coisa e tal.
Os dois filmes têm um paralelo comum ao que estamos tratando agora.
Dois personagens passando por solidão, vivendo crises internas e externas. No
entanto, a maior lição que desejo extrair, neste momento, é: ambos
aprenderam a lidar com a própria mente para preservar a sanidade mental no
contexto de isolamento. Qual o segredo deles? Algo que pode ajudá-lo não
apenas durante o período de quarentena, mas em qualquer fase da sua vida:
uma rotina bem estruturada. Se você deseja um remédio eficiente para sua
sanidade mental enquanto estiver recluso, precisará criá-lo e ter a
responsabilidade de se adaptar a uma nova rotina.
Veja bem, os dois personagens que citei criaram uma rotina para
conseguirem lidar com a situação. Eles acordavam, faziam coisas, davam um
sentido à própria vida, ainda que cheia de restrições. Rotina é sinônimo de
segurança para o cérebro. Há uma tendência a ficarmos emocionalmente mais
estáveis diante de uma rotina.
Pacientes internados em UTI’s, por exemplo, têm a tendência à
desorientação. Eles perderam a rotina de suas vidas e estão presos a um leito,
sem saber se lá fora é dia ou noite, sem dinamismo em suas vidas. A cena
mais habitual diante dos seus olhos são os enfermeiros para lá e para cá,
somando-se ao barulho reiterado das máquinas ao redor. Muitos ficam

1
Um filme de Robert Zemeckis, com Tom Hanks, Helen Hunt, Nick Searcy e outros.
2
Um filme de Francis Lawrence com Will Smith, com participação da brasileira Alice Braga.
desorientados, não falando coisa com coisa. O cérebro perdeu a rotina. Mas,
quando eles retomam as rotinas, voltam à sanidade mental.
Como vai sua rotina enquanto está recluso? Se ela não existe, é hora de
pegar papel e caneta e começar a agendar suas atividades. Por exemplo:
 8h às 9h – fazer atividade física em casa
 9h às 12h – vou trabalhar no computador
 11h às 13h – almoço…
E por aí vai... Reserve tempo para a família, para relaxar, para assistir
filmes e seriados, para ajudar nos afazeres domésticos... enfim, estabeleça
uma rotina diária adequada para que mantenha sua sanidade mental.
Perceba que não estou falando em se abarrotar de atividades ou
transformar sua casa num quartel com horários e regras exigentes. Apenas não
enfrente a quarentena acordando todos os dias sem saber o que fazer. Dê um
propósito ao seu tempo.
Se quiser lidar com o impacto da tristeza, da adversidade que está
vivendo, do sentimento ruim, precisa investir em construir uma rotina no seu dia
a dia. Seja responsável pela sua própria sanidade mental. Construa uma rotina
prazerosa. Uma rotina possível de ser encarada. É a forma de sentir que está
no controle da sua vida e isso fará com que consiga enfrentar melhor todo esse
caos.
2

MANTENHA O CONTROLE NA ALIMENTAÇÃO

Estamos sendo constantemente bombardeados de inúmeras


informações, muitas delas aterrorizantes, sobre a propagação do vírus COVID-
19. Tem muita gente perdendo a calma, surtando, dando lugar ao nervosismo.
E, por conta disso, tenho visto atos extremos: alguns deixam de se alimentar
bem; outros estão comendo exageradamente. O que eu tenho a dizer? Muita
calma nessa hora! Se o mundo lá fora está um caos, aí dentro da sua mente e
do seu corpo precisa haver um equilíbrio.

A) Para quem perdeu o apetite


Muitas pessoas estão me dizendo: “estou passando por um momento de
caos. Não dá para me alimentar bem”.
Temos que tomar cuidado com algumas deduções do nosso cérebro
emocional. Ele é incrivelmente capaz de tirar conclusões equivocadas,
tomando por base fatos do cotidiano. Achar que este momento difícil é razão
para descuidar da alimentação nada mais é do que uma “pegadinha” do
cérebro emocional, que juntou dois fatos incoerentes:

ESTOU PASSANDO POR UM NÃO CONSIGO ME


PROBLEMA ALIMENTAR BEM
Porém, desligando um minuto o cérebro emocional e analisando
racionalmente esta sentença, podemos questionar: “o que uma coisa tem a ver
com a outra?” Ora, elas são completamente distintas entre si! Não há uma
relação de causa e efeito que se justifique. Não há coerência e razoabilidade
nessa conclusão.
Se esta é a sua situação, quero que se desprenda desse fardo e se
torne uma pessoa menos tensa, mais feliz. As dicas estão no final deste
capítulo.

B) Para quem está comendo em excesso


Tenho ajudado muitos pacientes que estão em casa, de quarentena, e
acabavam comendo a cada instante por tédio, tensão nervosa ou com a
desculpa de que precisavam aumentar a imunidade.
A primeira coisa que precisa ficar muito clara é que comer em excesso
não é sinônimo de se alimentar bem. Alimentar-se bem é ter uma dieta
regrada, balanceada, com horários definidos, na quantidade certa, com
orientação nutricional. É alimentar-se o suficiente para que o corpo tenha
energia e nutrientes para funcionar bem. É não viver para comer, mas comer
para viver.
Não adianta comer tudo o que passar na sua frente, achando estará se
fortificando, aumentando a sua imunidade. Pelo contrário, obesidade é
prejudicial à saúde.
É preciso agir com responsabilidade e cada um fazer a sua parte. Nesse
quesito, estamos ouvindo muito a respeito de não estocarmos alimentos. Em
muitos lugares, pessoas correram desenfreadamente para os supermercados,
comprando quantidades enormes de alimentos e produtos de limpeza para
estocagem. As autoridades estão constantemente pedindo que as pessoas não
tenham esse tipo de comportamento, pois podem prejudicar a sociedade com a
falta de produtos para aqueles que mais precisam ou que têm algum tipo de
emergência.
Espero que esteja fazendo a sua parte, agindo com responsabilidade,
não estocando alimentos dentro da sua casa. E aqui vai um duplo sentido:
casa, no sentido de moradia, e casa, no sentido de corpo.
A segunda questão a se ter em mente é: não fazer estoque de comida
dentro do seu corpo. Se, ao se alimentar, seu corpo está gerando uma
quantidade de energia que não consegue gastar, o nome disso é estoque.
Também pode ser traduzido como “desperdício”. Quando a pessoa tem uma
gama de energia que não consegue utilizar, ela está desperdiçando ao
acumular isso tudo dentro de si. Está fazendo um estoque desnecessário. E, o
que é pior, está aumentando as chances de que esse mesmo alimento fique
escasso no futuro, já que tudo tem um limite. Outro duplo sentido: escassez de
alimento no planeta e escassez de alimento no seu corpo.
Sabe como proporcionar escassez de alimento no seu corpo? Há um
limite para que a entrada de alimentos no seu corpo seja benéfica. Por
exemplo, ao se alimentar de açúcar em excesso agora, no futuro poderá ter
que enfrentar uma escassez para poder sobreviver. Terá que ser forçado a não
ingerir açúcar por conter altas taxas no seu sangue. Coma com
responsabilidade hoje para que não venha a ter escassez amanhã.

Aqui vão as dicas!


Não deixe de se alimentar bem e nem descuidar da dieta, mesmo que o
mundo esteja desabando ao seu redor. Pelo contrário, é preciso manter-se
firme e forte... por si próprio, por seus familiares, por seus amigos, pelo mundo
todo. Sugiro se alimentar bem para manter o controle e, assim, conseguir
enfrentar o caos, o medo, as indefinições. Veha alguns conselhos importantes:

1. Mude a mentalidade
Achar que não deve se alimentar bem porque o mundo está um caos
pode ser convertido num outro tipo de mentalidade: “quando eu me alimento
bem, sinto que, nesse caos todo, pelo menos alguma coisa está sob o meu
controle”. Esta é a mentalidade certa! Quando a pessoa se alimenta bem:

tem mais energia e isso


consegue tomar traz um sentimento
sente mais decisões mais bom, um bem-estar,
estabilidade emocional assertivas nessas que ajuda a aliviar as
situações de caos sensações angustiantes
2. Pratique exercícios
Tenho pacientes que mudaram de mentalidade, passaram a se
alimentar corretamente e, inclusive, estão praticando exercícios físicos dentro
de casa para oxigenar o cérebro e aliviar a tensão. Uma prática excelente e
possível até mesmo para quem mora em lugares com pouco espaço. Com
criatividade, e tomando os devidos cuidados, a prática de exercícios é
importante aliada.
Há muitos professores de educação física ministrando aulas gratuitas na
internet para quem deseja fazer exercícios em casa nesses tempos de
quarentena. Comece praticando uns 15 minutos e vá aumentando na medida
do possível.
Não há desculpa: mova-se!
3

EXERCÍCIOS PARA REDUÇÃO DA ANSIEDADE

Seu nível de ansiedade aumentou? Há quem esteja à beira do pânico!


Isso não é bom. A boa notícia é que pode ser revertido. E eu quero te dar
algumas dicas sobre isso. Mas, primeiro, preciso que entenda como o cérebro
funciona nesses tipos de situação. Vamos a um exercício reflexivo. Imagine o
seguinte:
Um amigo fez o convite para uma trilha. “Oba, uma aventura!”
Ambos caminham mata adentro. Sobem morro, descem morro e, num
determinado momento, se dão conta de que estão perdidos.
Seu amigo toma uma decisão e avisa: “Fica aqui, que eu vou um
pouquinho mais ali adiante, descendo a trilha, para ver onde a gente se
perdeu e, assim, podermos nos reorientar”. Não dá nem tempo de
concordar, porque ele já foi.
O tempo passa e nada do amigo voltar. Começa a escurecer. Surgem
sons de todos dos lados da mata: coachar de sapos, o pio da coruja, o
grasnar de um corvo, o trinado de grilos e os zumbidos de uma
infinidade de insetos.
De repente, sai um tigre do meio da mata, indo em sua direção, com
aqueles olhos reluzentes. Qual seria a sua reação? É quase certo que
perderia a visão do todo para focar somente naquele animal (que é o
que chamamos de hiperfoco). Começaria a suar frio, tremer de medo. A
garganta ficaria seca. Sua pupila iria dilatar. Seu coração, acelerar. Seu
estômago iria alterar o funcionamento. Você ficaria extremamente aflito.

Agora perceba uma coisa: todos esses sintomas que mencionei são os
mesmos da ansiedade.
Você tem se sentido indefeso, como se a qualquer momento fosse
atingido por um mal? Tem muita gente se sentindo assim por conta da
pandemia. E, por isso, tornam-se mais sensíveis. O que era importante antes
passa a não ser mais agora. Emagrecer, evoluir como pessoa, como
profissional etc. – tudo isso perde o sentido e é relegado a um segundo plano,
comparado a todas as estratégias de sobrevivência. O que importa agora é
sobreviver.
É por isso que vemos pessoas desesperadas, indo ao mercado para
fazer estoque de alimentos em casa, apesar dos avisos do governo para não
tomarem essa atitude. Na verdade, essas pessoas querem sentir que estão “no
controle” – uma forma (errônea) de tentarem aliviar a tensão.

Dicas para aliviar a tensão da ansiedade


Se a ansiedade está batendo a sua porta, aqui vão algumas técnicas
que podem ajudar:

1. Técnica dos cinco sentidos


Você está em casa e percebe seu corpo manifestando várias reações –
coração acelerado, respiração ofegante, falta de ar, sudorese 3 etc. A ansiedade
o sufoca? Apodere-se dos cinco sentidos (visão, olfato, paladar, audição e tato)
todos de uma vez ou use apenas um.
Escolha algo no que focar. Por exemplo, há uma vela num castiçal, em
cima da sua mesa de jantar. Foque na vela. Gaste pelo menos um minuto em
cada um dos sentidos na percepção daquele objeto.
Como ela é? Qual a altura, a espessura, o material de que é feita? Onde
ela está? Como ela foi parar ali? Onde ela foi comprada? Deixe o sentido da
visão passar por sua mente como um filme.
Agora vamos para o olfato. Qual aroma ela exala? Se não estiver acesa
agora, lembre-se do aroma.

3
Transpiração excessiva.
Audição. Qual o barulho do fósforo ao acender a vela? E, sem querer
tirar o foco da vela, quais são os sons que estão ao redor? Qual o barulho que
está vindo lá de fora, entrando pela janela? Existe algum outro som
preenchendo o ambiente?
O uso da Técnica dos Cinco Sentidos permite a diminuição da
intensidade dos sintomas de ansiedade.

2. Respiração diafragmática
Nos noticiários, nas redes sociais, em qualquer lugar só se fala do
corona vírus. Isso não é uma crítica, ok? Estou apenas levantando a questão
de que o assunto está massificado em todos os lugares e, para quem sobre de
ansiedade, a enxurrada de informações pode ter um hiperfoco muito negativo.
Ao gerarmos um hiperfoco no corona vírus, acabamos nos deixando
levar pelas emoções e nos tornamos pessoas menos racionais e mais
emocionais, consequentemente, mais reativos, mais impulsivos. E aí cresce o
medo, a preocupação, o desespero.
Qual a saída? Desligar-se disso tudo por alguns minutos. Use a Técnica
da Respiração Diafragmática4.
1. Esteja numa posição confortável, sentado ou deitado.
2. Mantenha a boca fechada e inspire pelo nariz, enchendo lentamente
os pulmões. Sinta que está expandindo não apenas a parte de cima,
mas também a parte de baixo dos pulmões.
3. Concentre-se nesse movimento. Aguarde uns 3 segundos e depois
solte lentamente o ar pela boca.
4. Repita por mais duas ou três vezes, ou até sentir que está relaxado.

Essa respiração estimula os centros do córtex frontal. É como se os


circuitos elétricos da sua racionalidade fossem bombeados. E isso proporciona
mais controle, porque essa região racional do córtex pré-frontal também é
responsável pelo autocontrole. É justamente por isso que as áreas de
meditação mindfulness5 usam tanto a respiração, pois ela estimula a atenção, a
consciência e a racionalidade.

4
Simplificando, o diafragma é um músculo localizado na parte de baixo dos pulmões. Ele não é
importante apenas para a respiração, mas também para o bom funcionamento dos intestinos e da
circulação sanguínea.
5
Técnica de “atenção plena”
Nos momentos de tensão, procure um lugar mais sossegado e exercite
a Técnica da Respiração Diafragmática. Ela será uma ferramenta excelente na
sua vida!
4

TÉCNICA “AMV”

Uma paciente me falou dessa técnica e eu achei tão especial que resolvi
colocá-la num capítulo à parte deste e-book! Ela me explicou que, por conta da
quarentena, teve que dar férias para as ajudantes e assumir a maioria dos
trabalhos domésticos, além de cuidar das atividades recreativas e educacionais
das crianças. Ela se sobrecarregou de responsabilidades e, num dado
momento, o estresse veio à tona. “Eu tinha que dar conta de muitas coisas e
aquilo tudo quase me fez surtar”, disse ela. “Foi então que eu parei e decidi:
vou usar a Técnica AMV – Atitude Mínima Viável”. Ou seja, fazer pelo menos o
mínimo possível e manter a calma.
Muitas vezes, nos vemos dentro de um contexto de vida que não
conseguimos controlar. São forças maiores que nós mesmos. É certo que
precisamos nos adaptar a essas circunstâncias, mas nem sempre vamos
conseguir dar o nosso melhor. Nem sempre as coisas vão sair como queremos.
Nem sempre vai ser daquela forma maravilhosa que sabemos fazer. E tudo
bem. Não precisamos entrar em crise. Nesse momento, precisamos acionar o
botão AMV. No caso da minha paciente, ela procurou responder qual a atitude
mínima viável:
 para manter a casa em ordem;
 para estudar com as crianças e, ao mesmo tempo, fazê-las
entender que aquilo era necessário;
 para realizar atividades recreativas com a família dentro de casa;
 para praticar exercícios físicos usando a criatividade etc.
É possível que não dê tempo para fazer 1h de atividade física diária. Só
dá para fazer meia hora? Ok! Não dá para fazer faxina na casa inteira? Ok, dá
para fazer por partes – uma hoje, outra amanhã? Ok! Sozinha não consegue
dar conta de tudo? Ok, vamos sentar com toda a família e dividir as tarefas.
Todos precisam ajudar.
Quando usamos a Técnica AMV, nós nos tornamos mais flexíveis e isso
nos deixa mais leves internamente. Mais estáveis emocionalmente. Assim,
podemos tomar decisões mais assertivas.
Este é um momento em que precisamos de união e empatia. Em relação
aos outros e, principalmente, em relação a como lidamos com nós mesmos.
5

CONSTRUA UM AMBIENTE MENOS ANSIOSO

Você tem se sentido sozinho?


É comum, nesse período de isolamento social, sentirmos falta do toque,
do afeto, do abraço das pessoas que queremos bem. Somos seres humanos,
sociais. Precisamos nos sentir pertencentes a grupos onde nossa identidade é
firmada e confirmada através dos contatos sociais. Em tempos de isolamento
social, não é raro afluir o sentimento de solidão. Uma parte de nós parece que
vai se perdendo...
Quando entramos em contato com essa solidão, nós também entramos
em contato com uma espécie de abandono, de tristeza. É por isso que eu
quero chamar sua atenção para dois conceitos diferentes:
1) Solidão
2) Solitude
A solidão é um vazio, uma falta de algo. E, geralmente, quando há
solidão, nós temos uma tendência à compensação. Compensar em outras
coisas, em outros objetos, em outras formas de autoagrado.
Por outro lado, a solitude não é uma falta. A solitude é uma companhia.
Uma companhia de si mesmo. É quando nos agradamos e curtimos a nossa
própria companhia. Quando percebemos que o nosso relacionamento com nós
mesmos tem significado, valor, importância.
Qual sua situação nesses últimos dias: solidão ou solitude?
Como está o seu ambiente?
Nisso tudo, há outra questão muito importante: o ambiente. Existe o
ambiente externo (aquele que existe ao seu redor) e o ambiente interno (a sua
casa interior, onde residem os seus sentimentos, as suas emoções). Esses
ambientes podem estar preenchidos pela solidão ou não. Identifique-os e trate-
os.
Tem um livro muito interessante, chamado “Força de vontade não
funciona”6, em que o autor Benjamin Hardy descreve sua história de sucesso e
aborda essa questão do ambiente. Ele trabalhava numa empresa onde não era
reconhecido. Onde o chefe não lhe dava o mínimo valor. Suas ideias não eram
acatadas ou sequer observadas. Ele se sentia um “Zé Ninguém” ali naquele
lugar e sem a menor possibilidade de crescimento profissional. Até que, um
dia, conseguiu mudar de emprego. Na nova empresa, o quadro era
completamente diferente. Ele conheceu um chefe aberto a sugestões e
incentivador. Uma empresa inovadora, que valorizava seus funcionários. Ali,
ele cresceu profissionalmente e como pessoa. Concluiu o mestrado e,
posteriormente, o doutorado. Publicou livros e, hoje, é uma autoridade mundial
em sua categoria. E a pergunta que ele faz é: “sou talentoso ou não”? A
resposta: “Depende do ambiente”.
Existem ambientes, na nossa vida, que nos tornam pessoas tóxicas. E
existem ambientes que extraem de nós o nosso melhor, o nosso potencial.
Ambientes que nos tornam joias raras, lapidadas, pessoas do bem.
Sim, depende do ambiente, mas é sua a responsabilidade de construir
tanto os ambientes externos como o interno. Responsabilidade também de
mudá-los, enriquecê-los ou, no caso de ambientes externos, deixá-los. O
ambiente interno não há como abandonar. O ambiente interno deve ser
cuidado com muito carinho.
Como está o seu ambiente interno? Com mágoas, raivas e rancores?
Faça uma limpeza e jogue todo o “lixo” fora. Lembre-se do ditado: “a raiva é um
veneno que bebemos esperando que os outros morram”. Ela só faz mal a nós
mesmos. Exercite o perdão e sinta-se mais aliviado.
Seu ambiente interno está recheado de dúvidas e incertezas sobre o
que vai acontecer amanhã? Tudo bem! Quem não está?! Mas a questão é:

6
Força de vontade não funciona / Benjamin Hardy ; tradução de Alessandra Esteche. – Rio de Janeiro :
LeYa, 2018
como você tem lidado com isso? Está se enchendo das notícias aterrorizantes
cada vez mais ou tem buscado focar em coisas que lhe fazem bem? Está
descarregando sua ansiedade comendo a cada quinze minutos ou tem mantido
a disciplina, seguindo uma rotina saudável dentro, pelo menos, do razoável
neste momento de restrições?
Você é responsável pelo que absorve.
Tem horas que é preciso desligar-se um pouco do mudo; parar de ouvir
notícias ruins e alarmantes. Nessa época em que estamos vivendo, não
descuide do seu ambiente interno e do ambiente externo, para que a sua
solitude seja uma experiência agradável.
6

CONCLUSÃO

Eu realmente espero que este e-book tenha acrescentado pensamentos


e atitudes positivas em sua vida. A pandemia vai passar, mais cedo ou mais
tarde. O caos, que tanto nos amedronta, também. Não sei se tudo voltará ao
que era antes. É possível que não. Porém, se usarmos sabedoria e
mantivermos nossa sanidade mental, sairemos dessa mais fortes, mais unidos,
mais conhecedores de nós mesmos.
Toda essa crise teve o seu lado ruim, é verdade. Mas ela também
proporcionou à humanidade a oportunidade de exercitar o amor ao próximo, a
reflexão das atitudes, o compartilhamento de ideias. Proporcionou o aumento
do convívio com as pessoas que estão em nossa casa que, muitas vezes,
ficavam em segundo plano em virtude do corre-corre diário.
Há medo e insegurança? Sim, há. Mas nós podemos domá-los! Eles não
vão se tornar monstros maiores do que a nossa força e a nossa fé. Nós
resistiremos e passaremos por tudo isso aprendendo ainda mais a valorizar a
vida.
Conte comigo para isso!
Juntos somos mais fortes.

Dr. Roberto Garcia


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