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Instinto x Pulsão: Semelhanças e diferenças

Quando iniciamos o estudo em Psicanálise e começamos a aprofundar nas


temáticas, logo conhecemos o famoso termo “pulsão”, que chegou no que Sigmund
Freud definiu como Teoria das Pulsões. O conceito de pulsão, seria a de um
“representante psíquico das excitações provenientes do interior do corpo e que
chegam ao psiquismo” (ZIMERMAN, 1999, P.82). Mas, e na prática? O que é uma
pulsão e como ela se difere do instinto? Por que pulsões e instintos não são a mesma
coisa?

Entendendo a pulsão

A pulsão, como o próprio nome sugere, é como se fosse um impulso. Uma


espécie de força que precisa ser dirigida para um representante – seja ele um afeto ou
uma ideia – para se manifestar. Resumindo, ela nos mobiliza para uma direção e busca
um representante para a energia se manifestar. Ela advém de um desejo e quer
satisfazer esse desejo por meio de um objeto.
Uma mulher viciada em comprar bolsas, por exemplo, mesmo tendo várias
bolsas novas em folha no armário. Qual é o desejo que ela busca saciar dentro de si
mesma e os realiza por meio da compra excessiva de bolsas novas? Afinal, bolsas são
bolsas, servem para carregar coisas. Ter uma ou duas, no máximo, seria mais que
suficiente. Essa energia que a faz comprar a bolsa para satisfazer seu desejo
inconsciente é a pulsão.
Antes de entendermos o instinto, é importante saber que a pulsão nasce a
partir dele, mas se constitui acima dele. Essa demanda que vem do corpo ao psiquismo
para saciar os prazeres é a pulsão.

Entendendo o instinto

O instinto, por sua vez, é determinado pela hereditariedade. Vem com todos os
seres vivos. Um leão se alimenta única e exclusivamente por instinto. Ele sente fome,
caça e come, saciando sua fome. Possivelmente, ele nem sabe que aquele sentimento
é fome. Talvez seja apenas um desconforto que sua hereditariedade faz com que ele
coma a fim de acabar com aquela sensação. Ele tem um cunho biológico que dirige o
organismo para um fim particular, com um objeto de representação bem específico. O
leão come porque tem fome. Só por isso.
Os instintos são uma espécie de força que incita o ser vivo a tomar uma ação,
ele inicia a necessidade da ação, sem determinar qual ação e com qual intensidade de
força essa ação precisa ter para se realizar.

Instinto e pulsão: colocando os pingos nos “Is”

Agora que entendemos os conceitos separados de instinto e pulsão, vamos


relaciona-los, lado a lado. Enquanto o instinto é uma pressão que vai dirigir o
organismo de um ser vivo para um fim específico e particular, pela necessidade, a
pulsão é uma força que vai tender o ser humano para um alvo específico, com uma
direção e um representante.
O instinto, portanto, é a força que inicia a NECESSIDADE de uma ação. Sem
predeterminar qual ação em particular e qual é a força dessa ação. Já a pulsão, terá
aspectos mentais, como um impulso, um desejo. A força da pulsão precisa ser dirigida
para um representante para a energia se manifestar. Voltando ao exemplo das bolsas,
ninguém compra bolsas por instinto. Mas também, voltando ao exemplo do leão, as
pessoas não comem somente por instinto, como os animais.
Um bebê, quando nasce, por exemplo, vai sentir um desconforto e chorar. Sua
mãe, por meio de toda conexão que existe entre criança e mãe vai interpretar aquele
desconforto como fome e vai oferecer seu seio para que a criança possa mamar.
Enquanto ela amamenta, ela passa a mão na cabeça do filho, ela olha com ternura e
afeto, ela canta, ela oferece seu colo, no sentido literal e figurado. O bebê chorou de
fome, pela primeira vez, mesmo sem saber que aquilo era fome, por instinto. Da
segunda vez em diante, ele vai chorar pelo desconforto, mas não vai ser somente o
alimento que ele deseja: ele vai desejar também o colo da mãe. A pulsão, nesse caso,
ficou sobre o instinto.
Além disso, nós, como seres humanos, imaginamos saber o que é fome. Mas
será que esperamos estar morrendo de fome para irmos atrás de alimentos? Não. A
gente interpreta nossos sinais e nos alimentamos, na hora que bem entendemos.
Sabemos que é necessário, mas não comemos só quando é necessário: comemos
quando nos sentimos felizes, tristes, para comemorar.... Por que você acha que as
pessoas saem para beber quando estão felizes? Por uma mera necessidade? Ou por
satisfazerem seus desejos inconscientes de socialização, extroversão e diversão? Se
você ainda estiver em dúvida, a segunda opção é a correta!
Podemos pensar de forma resumida e compacta da seguinte forma:
- Um instinto inicia a necessidade da ação, sem predeterminar qual ação e qual
é a sua força. Ele só sabe que precisa fazer alguma coisa;
- Uma pulsão tem a função de realizar um desejo, de causar prazer, por meio de
um objeto representante (afeto ou ideia);
- Instintos são puramente necessidades, pulsões tem aspectos mentais, o que
comumente podemos denominar como desejos.
O conceito de pulsão passou por várias variantes dentro do estudo de Freud
com o nascimento da psicanálise, como pulsões de auto conservação, pulsões sexuais
e posteriormente, pulsões de vida e pulsões de morte. No entanto, esse debate é
propício para outro artigo, já que neste aqui vou me ater a somente diferenciar pulsão
de instinto, conceitos muito parecidos que podem facilmente causar dúvidas.

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