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UM ESTUDO SOBRE A INTRODUÇÃO À CIÊNCIA DO

DIREITO.

Ricardo Régis Oliveira Veras

Última revisão: 10 de Junho de 2005.


Bacharel em Direito pela Universidade de Fortaleza - Ceará
Advogado OAB/CE 16895
Endereço completo e telefone do autor :Rua Alberto Eloy Costa n° 053, o Monte
Castelo - Fortaleza – Ceará
(85) 32816090

“O espírito das profundezas do vale é imperecível


Como o seio profundo da maternidade
Céus e terra radicam no seio da mãe.
São a origem de todos os vivos,
Que espontaneamente brotam da Vida.
Fracamente visível, seu poder inexaurível permanece.
A fêmea misteriosa dura perpetuamente
o seu uso, entretanto, jamais a esgotará”.
Tao Te King.

Cuida-se de texto relacionado à epistemologia jurídica e seus aspectos sistêmicos


constitutivos, abordando, por esse modo, elementos superficiais em estilo
coloquial.

Introdução:

Toda ciência tem que haver um objeto, um repertório e uma estrutura.


Poderíamos ademais, acrescentar um quarto elemento que é constituído pela
finalidade, por força imperativa da necessidade a que se reporta o estudo
científico. O Direito enquanto forma de conhecimento não está alheio a esse
critério.

Em torno dos elementos constitutivos, faz-se necessário a realização das


perguntas basilares que lhe são imanentes.

O direito corporifica valores em seu bojo. Por seu turno, os valores são estados de
não indiferença em detrimento de uma determinada situação.

A valoração surge ante a potencialidade de satisfação de alguma necessidade


humana por meio de algum objeto sobre o qual recaia determinada ação.
Não há como depreender a existência de um corpo social sem a imposição de
regras de conduta como mecanismos de frenagem, capazes de coibir os
caprichosos e ilimitados desejos do ser humano. O Direito assume fundamental
papel quando outros mecanismos de controle “impostos” ao convívio sócio-cultural
falharem, tais como a ética, a religião, o decoro, a consciência individual, dentre
outros.

O Direito, a partir do uso adequado da força, intenta a restauração do equilíbrio


violado oriundo da ação humana intersubjetiva. Dentre tais mecanismos
reguladores, esclarecem Francisco Uchoa de Albuquerque e Fernanda Maria Uchoa:

“Encontramos considerável número de regras, preceitos, princípios e conceitos,


oriundos das mais diferentes fontes, empenhadas em realizar esse trabalho de
harmonia social. Os conselhos maternos, as lições dos mestres, as regras de
etiqueta e urbanidade, os preceitos morais, os mandamentos religiosos etc., são
peças de um gigantesco mecanismo de regulamentação da sociedade. Dentre
estes, ergue-se o Direito como o mais severo e eficiente instrumento de controle
social, chamado a atuar sempre que a conduta humana ultrapasse os limites do
meramente inconveniente e se constitua ameaça ao fato da convivência social”.

Dessa sorte, Direito, por linhas gerais, é atitude de conservação da sociedade.

Por meio das considerações expostas, o intento do presente estudo é o resgate


sintético da matéria referente à introdução científica do Direito, pelo menos ao
âmbito sistemático, em estreita restrição aos seus elementos sistêmicos
constitutivos.

Repertório (o que é?):

O ser humano ao mesmo tempo impossibilitado de viver à própria sorte como um


animal selvagem, pelas dificuldades que a natureza proporciona, encontra
albergue e proteção na sociedade, que o acolhe. A escolha de conviver com seus
pares implica na observância de limitação (auto ou hetero) de sua conduta perante
os demais e é uma simples forma de se compensar a sua intervenção no meio. É
pela adesão que se promove a colaboração com o sistema social.

Desde os tempos aristotélicos entendia-se a família como a célula embrionária da


sociedade, enquanto um ensaio fundamental de todos os seres humanos para a
vida pública e para relação inter-social. Professavam os mestres em que seria
impossível conceber um humano fora do convívio social, pois seria isso ou um
atributo das feras ou dos deuses. Maria Amália Andery, ao prelecionar sobre a vida
dos homens em sociedade, assim se manifesta:

“O processo de produção da existência humana é um processo social; o ser


humano não vive isoladamente, ao contrário, depende de outros para sobreviver.
Há interdependência dos seres humanos em todas as formas da atividade
humana; quaisquer que sejam suas necessidades – da produção de bens à
elaboração de conhecimentos, costumes, valores... –, elas são criadas, atendidas e
transformadas a partir da organização e do estabelecimento de relações entre os
homens”.

Com base nesse pressuposto, a Carta Política de 1988 prescreve que:

“Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”.

È na família, como um meio de suporte emocional, material, de proteção, dentre


outros aspectos, que se traçam à formação política, moral e, portanto, valorativa
do indivíduo enquanto ente cidadão, cívico e atento aos deveres da sociedade.

A qualidade “acolhimento” é o primeiro passo para que se instaure a convivência


social. É, ainda, o primeiro ensaio para o processo de conhecimento do mundo que
lhe envolve. Acolher, assim, significa colecionar, agregar, trazer junto de. É o
princípio matriarcal.

Todo conhecimento emana de uma base, de um assento substancial, que é seu


fundamento ou sua “nutrição” sistêmica. São representativos deste elemento as
fontes materiais e o direito material. Com muita propriedade preleciona Sergio
Pinto Martins a respeito das fontes formais que:

“Fontes Materiais são o complexo de fatores que ocasionam o surgimento de


normas, envolvendo fatos e valores. São analisados fatores sociais, psicológicos,
econômicos, históricos etc. São, portanto, as fontes materiais, ou seja, os fatores
reais que irão influenciar a criação da norma jurídica, isto é, valores que o Direito
procurar realizar”.

Ademais, clarifica Maria Helena Diniz:

“Fontes materiais ou reais são não só fatores sociais, que abrangem os históricos,
os religiosos, os naturais (clima, solo raça, natureza geográfica do território,
constituição anatômica e psicológica do homem), os demográficos, os higiênicos,
os políticos, os econômicos e os morais (honestidade, decoro, decência, fidelidade,
respeito ao próximo), mas também os valores de cada época (ordem, segurança,
paz social, justiça), dos quais fluem as normas jurídico-positivas. São elementos
que emergem da própria realidade social e dos valores que inspiram o
ordenamento jurídico”.

Por força nas considerações retro, repertório vem a ser a colação dos mais
variados elementos para vir compor, ainda que transitoriamente, um conjunto. O
conjunto, no sistema jurídico pátrio, diz respeito à composição de normas e
demais atos, fatos e valores, protegidos pelo ordenamento. È o repertório
representativo do “qualia” (ventre, espírito, essência das coisas), enquanto que
seu complemento, a forma, é caracterizado pelo “quanta” (feição, formato,
expressão).

Do cerne de onde provém o substrato reside o mérito, a razão de ser, a causa da


substanciação no mundo pela norma.

Das raízes mais profundas e densas sobrevêm os princípios e responsáveis pela


“nutrição” mor do sistema. O termo princípio encerra uma concepção equívoca
(multi-versa) comportando inúmeras acepções em seu bojo, além de manter uma
grande afinidade com o seu significado etimológico. Conforme preleciona o ilustre
mestre tributarista Roque Carrazza, deve ser entendido como:

“um enunciado lógico, implícito ou explicito, que, por sua grande generalidade,
ocupa posição de preeminência nos vastos quadrantes do direito e, por isso
mesmo, vincula de modo inexorável, o entendimento e aplicação das normas
jurídicas que com ele se conectam”.

Enquanto sistema normativo, o repertório assume feição outra, pela condição de


direito material, o que confere a titularidade aos legítimos proprietários nas
condições prescritas por lei.

O nível de maturação dessa forma conhecimento tem sentido “fundamental”. É


condição primeira para a compreensão dos passos seguintes. Em analogia com a
árvore são as raízes do conhecimento.

Estrutura (como é?):

Não basta o mero acolhimento e o espírito gregário, faz-se de essencial sorte


organizar o meio segundo um critério válido para que se coíbam mal-entendidos
ou a geração da desordem. Tal critério diz respeito à estruturação segundo os
ditames da razão. É o princípio patriarcal.

Estrutura é o ato de intelecção pelo qual se busca os liames entre os diversos


componentes existentes no sistema, com o escopo de se imprimir um sentido pela
utilização de um método validamente aplicável. Por esse ato que se corporifica e
exterioriza o conteúdo é que se permite a cognição da matéria aplicável.

O Direito concebido unicamente no plano de conteúdo é inexistente, dado a sua


natureza subjetiva e interior. Necessita, portanto, da expressão de seus preceitos,
uma vez que é impossível invocar-se o Direito quando se há uma única pessoa, tal
como recordamos do ilustre exemplo de Robson Crusoé... Para que seus ideais se
consumem, faz se por fundamento a sua expressão que incute o liame dos
diversos sujeitos a uma proposição.

A utilização de uma forma garante a estabilidade e a ordem sistêmicas.


Igualmente, a forma estipula a interpretação dos conteúdos existentes no aparato
jurídico, formando, dessa sorte, liames de subordinação, segundo os critérios de
escalonamento das normas, ou de coordenação, ao permitir a coexistência
harmônica em um mesmo plano horizontal.

Uma relação de subordinação pressupõe uma conformidade com o plano diretor


por uma relação de contigüidade. A coordenação, por seu turno, diz respeito à
relação entre as normas de mesma gradação (plano horizontal) no ordenamento
jurídico.

Ainda, consoante os termos de coordenação e de subordinação, podemos invocar,


por exemplo, que a relação entre a Constituição de 1988 e as demais normas é de
subordinação; e que, entre duas leis ordinárias federais, é de coordenação.

Não obstante, a tendência à desordem é um elemento intrínseco da natureza como


um todo: desafia a criação e a ordem da energia, pela desconcentração de seus
esforços. A luta pela vida, a concorrência, a reprodução, são alguns exemplos
marcantes de como enfrentamos cabalmente esses imperativos da natureza.

Com base na analogia do rio, sustenta García Máynez, citado por Sérgio Pinto
Martins, que as fontes formais são o leito de um rio por cujas águas são
representadas pelas fontes materiais. A fonte formal assume especial importância
no mundo jurídico, eis que representada pelo Direito posto.

Sem exteriorização não há intelecção, daí o exagerado zelo, não sem razão, por
parte dos estruturalistas, lógicos e demais estudiosos. A forma, desse modo, é
responsável pela sustentação do corpo sistêmico.

O Direito Processual, em traços rudimentares, é o encadeamento de atos


sucessivos e subordinados a um termo, orientados para um fim que é a pacificação
social, sobre uma matéria controvertida.
A instrumentalidade que o processo assume é um escoadouro metódica e
temporalmente disposto, por meio do qual são filtradas as máculas de interesses
pessoais. A meta mor do processo diz respeito à pacificação social, por meio do
qual a sociedade outorga poderes a um organismo hábil e desinteressado
denominado Estado.

O Direito Processual entra quando não há o adimplemento espontâneo de


determinado ato, ou quando assim determina a lei. Se a matéria confere a
legitimação de determinado direito, a forma a assegura o exercício sobre esse
direito.

No âmbito jurídico existe a dualidade entre forma (estabilidade e segurança) em


contraposição à celeridade (maior instabilidade, no entanto, com maior
aproximação do objeto ou do efeito imediato de uma postulação), da mesma
forma que na política há o embate entre liberais e conservadores, e na economia a
política monetarista e, por outro, a desenvolvimentista. Essas formalidades
conforme acrescenta Cláudio Borba visam a assegurar a certeza e a licitude do
procedimento. Sem prejuízo das ponderações anteriores, Miguel Reale, com
propriedade e refutando o reducionismo do conhecimento jurídico, ensina que:

“...não é possível, a esta altura de nosso curso, esclarecer a natureza da Ciência


Jurídica, que alguns pretendem que seja uma Arte, ou uma Técnica”.

O nível de maturação dessa forma conhecimento tem sentido “técnico”. Em


analogia com a árvore é o caule do conhecimento.

Objeto (por quê?):

Inútil imaginar forma e substância sem um propósito imediato. Como seres


humanos são entidades transitórias no mundo orgânico, reclamam para si a
manutenção de suas vidas por meio de (inter)ações sobre o meio. São atos
volitivos, intencionais, portanto. A vontade encerra uma necessidade, ainda que
não aparente. A sociedade se estrutura por intermédio de aparatos e objetos,
capazes de gerar efeitos imediatos e necessários à coexistência e à coesão de seus
membros. Toda atividade humana, por mais que despretensiosa e desinteressada,
enceta uma volição, um querer. As ligas não acontecem por acaso e o mero
encontro casual entre dois indivíduos, que embora em um mesmo ambiente, não
tem o condão de se formar um consórcio, nem tampouco formar uma sociedade.

Objeto é o elemento sobre o qual incide uma ação, denominada de efeito imediato.
Essa ação é o poder conferido ao legítimo titular de se reclamar perante outrem
uma determinada prestação que vise a modificar, extinguir, transmitir, dentre
outras, direitos. O simples ato de observamos algo, traduz-se em uma ação
focalizadora, e é dirigida a um objeto de interesse. Nesse sentido, objeto é o foco,
a direção, o sentido, em que se pousa a ação pretendida por determinado sujeito.
É o princípio magistral.

A relação entre sujeitos tem por assento um objeto que é sua razão de ser. Por
encetar duas faces em uma mesma moeda, tudo aquilo que é devido ao sujeito
ativo pelo sujeito passivo é considerado como objeto de direito, podendo ser até
um bem incorpóreo.

Professam alguns juristas como Denis Borges Barbosa que o real objeto do direito
é o arbitrário, ao talante da vontade do legislador. Nesse sentido, Maria Helena
Diniz remete-nos ao conceito da decidibilidade pelo legislador. Acrescenta Marcos
Roberto Gentil Monteiro que “o objeto do Direito é a regra de conduta de alguém
que interfere na conduta de outrem”.

No direito o objeto pode recair, segundo Miguel Reale, sobre uma obrigação, sobre
uma coisa, ou ainda, sobre uma pessoa. Por ocasião do objeto na relação
obrigacional, professa Maria Helena Diniz que:

“Na relação jurídica, o poder do sujeito ativo recai sobre um objeto imediato, que
é a prestação devida pelo sujeito passivo consistente num ato ou abstenção,
abrangendo, portanto, um dever positivo (dar ou fazer) ou negativo (não fazer). O
sujeito passivo deverá cumprir a prestação obrigacional, limitando a sua liberdade,
pois deverá dar, fazer, ou não fazer algo em atenção ao interesse do sujeito ativo,
que, em caso de inadimplemento, poderá buscar, por via judicial, no patrimônio do
devedor, recursos para satisfazer seu direito de crédito (CPC, arts. 568 e 591).
Infere-se daí que o sujeito ativo tem o direito de exigir do passivo uma obrigação”.

No caso de objeto recair sobre uma pessoa ou sobre uma coisa, este será
reclamado perante toda a sociedade, de quem o detiver ilegitimamente. Por seu
turno, na relação obrigacional, a reclamação incidirá sobre a parte contrária e
responsável pelo adimplemento da obrigação. Trata-se, neste último caso, de uma
relação entre as partes obrigadas, somente.

O nível de maturação dessa forma conhecimento tem sentido “científico”. Em


analogia com a árvore são as folhas e flores do conhecimento

Finalidade (para que?):

Por trás de uma vontade imediata reside a promessa de eternidade consagrada


pelos valores áureos da sociedade, quer sejam pela justiça, pela paz social, pela
ordem, por dentre outros. Trata-se, desse modo, uma meta em longo prazo. É o
princípio da sabedoria, representada pelo arquétipo do velho sábio.

A finalidade pauta-se, sobretudo, no critério da essencialidade e no da utilidade,


sem se preocupar com preciosismos e com a utilização de elementos
desnecessários. Por critério da utilidade da ciência jurídica, posta ao convívio
social, proclama Miguel Reale:

“A Ciência do Direito é sempre uma ciência de um Direito positivo, isto é,


positivado no espaço e no tempo, como experiência efetiva, passada ou atual.
Assim é que o Direito dos gregos antigos pode ser objeto de ciência, tanto como o
da Grécia de nossos dias. Não há, em suma, Ciência do Direito em abstrato, isto é,
sem referência direta a um campo de experiência social. Isto não significa,
todavia, que, ao estudarmos as leis vigentes e eficazes no Brasil ou na Itália, não
devemos estar fundados em princípios gerais comuns, produto de uma experiência
histórica que tem as mesmas raízes, as do Direito Romano”.

Na seara do Direito Administrativo, Hely Lopes Meirelles remete-nos as


ponderações acerca da finalidade imanente aos atos públicos do Estado,
esclarecendo que:

“Não se compreende ato administrativo sem fim público. A finalidade é assim,


assim, elemento vinculado de todo ato administrativo –discricionário ou regrado –
porque o Direito Positivo não admite ato administrativo sem finalidade pública ou
desviado de sua finalidade específicas. Desde que a Administração Pública só se
justifica como fator de realização do interesse coletivo, seus atos hão de se dirigir
sempre e sempre para um fim público, sendo nulos quando satisfizerem
pretensões descoincidentes do interesse coletivo”.

De pouco adianta a caprichosa apreensão de um objeto se não traz uma utilidade.


É o mesmo que remediar sem o propósito de curar. Por mais imparcial seja a visão
do cientista, melhor seja, do jurista, este tem em mente um propósito maior que,
não raro, permanece na obscuridade, inconsciente. Suas considerações embora
com a pretensão de serem imparciais, dispassionais e desprovidas de quaisquer
interesses, há em seu bojo falhas, quer seja da limitação da linguagem, quer seja
pelo condicionamento do referente utilizador pelo pesquisador, ainda, quer seja
para propósitos os mais diversos.

A visão despretensiosa e desinteressada do cientista, antes proclamada pelo


modelo cartesiano que vigeu por durante décadas, encontrou fortes oponentes a
partir das descobertas da física moderna, em que o simples ato de observação e
de manipulação do objeto importa em interferência neste.

Sabe-se, pelos postulados de Heisenberg, o pesquisador é convidado a participar


do processo, imprimindo, dessa arte, um ato de cognição com base em próprias
ponderações, sem desconsiderar a possibilidade de falseamento por outra visão,
em sentido diverso. E sua observação é um ponto de vista dentre outros possíveis,
o que sua presença causa a interferência, embora diminuta, mas essencial, no
sistema.

Uma simples palavra tal como “onça” pode assumir toda uma sorte de variações, a
depender do repertório mental do intérprete. Se invocarmos a referida palavra
isoladamente em uma norma jurídica, poderemos imaginar como um animal
selvagem que habita as florestas, em uma estreita relação com o Direito
Ambiental; ou ainda, o conceito de onça como elemento quantificador de ouro
comercializado no mercado de capitais relacionado com o Direito Aduaneiro. Um
reporta-se ao critério qualitativo da palavra, ao passo que o outro, ao critério
quantitativo. Portanto, uma interpretação literal ou estreita pode desfalcar o
verdadeiro âmago da significação da norma, o que passarmos a indagar: por qual
motivo o legislador escolheu um determinado termo jurídico?

Aclamamos, acerca da limitação da linguagem referencial (a da norma para o seu


objeto, por exemplo), a lúcida expressão de Samira Chalhub:

“Não nos alongaremos aqui na discussão sobre linguagem e realidade: ela permeia
toda a questão da filosofia, da arte, da religião, da psicanálise; é uma questão
ancestral. No entanto, é possível desde já, desconfiar dessa relação ingênua entre
signo e realidade como algo direto, sem intermediários. A partir da afirmação de
Saussure acerca da arbitrariedade do signo em relação ao objeto, podemos
perceber como não é fácil fazer afirmações categóricas e absolutas a respeito da
representação da realidade através do signo. Porque se convencionou nomear
‘árvore’ o objeto que conhecemos como tal, e não por outro signo? Portanto,
levemos em conta que, apenas por necessidade didática, enviamos a essa cisão –
linguagem legível, denotativa e linguagem figurada, conotativa”.

Não obstante, Maria Helena Diniz remete-nos à reflexão acerca da impossibilidade


da ciência jurídica ser concebida sem uma linguagem. Professa ainda Maria Helena
Diniz que, como a linguagem utilizada pelo legislador não é ordenada, é passível
de sistematização por parte do jurista.

A priori, ainda que não diga respeito às nossas inclinações e à visão de mundo (de
como sendo justo), deveremos alçar a essência da linguagem, a sua bastante
razão de ser e de coexistir com determinadas outras normas do ordenamento
jurídico pátrio. Não fundamenta dizer que devemos ser neutros e imparciais diante
os fatos, mas que, por uma perquirição dessa razão deôntica, é que buscamos
uma compreensão e que esta difere de aceitação, pois poderemos compreender e
não aceitarmos, por exemplo, como sendo justa uma determinada conduta...
Esses valores não podem, portanto, serem invocados de forma absoluta, dado a
relatividade (polaridade) de seus preceitos, sempre a depender da convocação de
um suporte contextual.

Nobert Rouland reproduz que os “Valores que nos parecem ‘naturais’, tais como o
indivíduo, a igualdade jurídica, a liberdade religiosa (até mesmo a liberdade de não
crer em nada) não são obrigatoriamente universais”.

Wilson de Souza Campos Batalha classifica que os valores individuais (não


confundir com direitos e garantias individuais), por uma razão de fugacidade
(efemeridade) não têm reflexo no Direito.

O valor mor do sistema jurídico é a justiça, que é condição primeira para a


consecução dos demais valores. Abaixo seguem os demais, como o da segurança e
ordem públicas, o da vida, o de habitação, dentre outros.
O nível de maturação dessa forma conhecimento tem sentido “filosófico”. Em
analogia com a árvore são os frutos do conhecimento

Considerações finais:

Por derradeiro a base de um sistema é uma reprodução do sistema de base


familiar sobre o qual está condicionada a visão (utilização do referente) do
intérprete, a do estudioso, a do aplicador do Direito, em que o repertório é o
aspecto “feminino” e a estrutura o aspecto “masculino” do sistema, como um
processo básico de cognição ou de juízo fático-valorativo.

Desde tempos imemoriais o ser humano em célula matricial da família buscou


consagrar a convivência em um conjunto, sendo que com este possibilitou o
surgimento do patriarcado (princípio normativo e estrutural da sociedade). O
conjunto é o “albergue” (ventre) do sistema. Como podemos depreender,
repertório e estrutura representam o símbolo de um sistema, o que, em termos
familiar, reproduzimos a proto-célula da sociedade.

Cada elemento dissociado do outro, leva-se a graves distorções, resultando em um


conhecimento parcial da realidade jurídica.

Urge destacar que não existem formas nem substâncias absolutas. A substância
necessitada de uma forma para se impor, para se exteriorizar; por outro giro, a
forma necessita de um conteúdo, para se fazer existente, eis que suporte material.

A “argamassa” é a qualidade da qual assume como forma a modelação produzida


sobre esta substância.

Para o desfecho do presente trabalho, utilizaremos a analogia de um aparelho


televisor para fins de resgate do conteúdo abordado: a televisão, como sabemos,
tem um suporte material, palpável, sendo constituída por peças, tubos, circuitos e
demais componentes. Esses elementos por si só são incapazes de oferecer uma
destinação específica. Esses componentes estão conectados por uma complexa
cadeia sobre os quais forma se uma estrutura. Por conseguinte, o objeto da
televisão é a transmissão de som e imagens ao telespectador. De nada adiantaria
se essas imagens forem exibidas de forma desordenadas e sem uma sintonia com
os seus conteúdos. A exibição presta uma finalidade qualquer, quer seja pela
transmissão de uma informação para quem transmite, quer seja por deleite para
quem é o receptor. Para o leigo interessa unicamente o uso para fins próprios; ao
passo que para o cientista interessa a apreensão de todas as suas qualidades,
processos e funcionamento, para fins universais.

Texto elaborado por Ricardo Régis Oliveira Veras, Advogado.

Bibliografia:

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estudo do direito. São Paulo: Saraiva, 1982.
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CARRAZZA, Antônio Roque. Curso de direito constitucional tributário. 3. ed. São


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CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 10. ed. São Paulo:
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CHALHUB, Samira. Funções da linguagem. 7. ed. São Paulo: Ática, 1995.

DINIZ, Maria Helena. Compêndio de introdução à ciência do direito. 9. ed. São


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MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da seguridade social: Custeio da seguridade social


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MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 24. ed. São Paulo:
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REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.

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