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DIREITO.
Introdução:
O direito corporifica valores em seu bojo. Por seu turno, os valores são estados de
não indiferença em detrimento de uma determinada situação.
“Fontes materiais ou reais são não só fatores sociais, que abrangem os históricos,
os religiosos, os naturais (clima, solo raça, natureza geográfica do território,
constituição anatômica e psicológica do homem), os demográficos, os higiênicos,
os políticos, os econômicos e os morais (honestidade, decoro, decência, fidelidade,
respeito ao próximo), mas também os valores de cada época (ordem, segurança,
paz social, justiça), dos quais fluem as normas jurídico-positivas. São elementos
que emergem da própria realidade social e dos valores que inspiram o
ordenamento jurídico”.
Por força nas considerações retro, repertório vem a ser a colação dos mais
variados elementos para vir compor, ainda que transitoriamente, um conjunto. O
conjunto, no sistema jurídico pátrio, diz respeito à composição de normas e
demais atos, fatos e valores, protegidos pelo ordenamento. È o repertório
representativo do “qualia” (ventre, espírito, essência das coisas), enquanto que
seu complemento, a forma, é caracterizado pelo “quanta” (feição, formato,
expressão).
“um enunciado lógico, implícito ou explicito, que, por sua grande generalidade,
ocupa posição de preeminência nos vastos quadrantes do direito e, por isso
mesmo, vincula de modo inexorável, o entendimento e aplicação das normas
jurídicas que com ele se conectam”.
Com base na analogia do rio, sustenta García Máynez, citado por Sérgio Pinto
Martins, que as fontes formais são o leito de um rio por cujas águas são
representadas pelas fontes materiais. A fonte formal assume especial importância
no mundo jurídico, eis que representada pelo Direito posto.
Sem exteriorização não há intelecção, daí o exagerado zelo, não sem razão, por
parte dos estruturalistas, lógicos e demais estudiosos. A forma, desse modo, é
responsável pela sustentação do corpo sistêmico.
Objeto é o elemento sobre o qual incide uma ação, denominada de efeito imediato.
Essa ação é o poder conferido ao legítimo titular de se reclamar perante outrem
uma determinada prestação que vise a modificar, extinguir, transmitir, dentre
outras, direitos. O simples ato de observamos algo, traduz-se em uma ação
focalizadora, e é dirigida a um objeto de interesse. Nesse sentido, objeto é o foco,
a direção, o sentido, em que se pousa a ação pretendida por determinado sujeito.
É o princípio magistral.
A relação entre sujeitos tem por assento um objeto que é sua razão de ser. Por
encetar duas faces em uma mesma moeda, tudo aquilo que é devido ao sujeito
ativo pelo sujeito passivo é considerado como objeto de direito, podendo ser até
um bem incorpóreo.
Professam alguns juristas como Denis Borges Barbosa que o real objeto do direito
é o arbitrário, ao talante da vontade do legislador. Nesse sentido, Maria Helena
Diniz remete-nos ao conceito da decidibilidade pelo legislador. Acrescenta Marcos
Roberto Gentil Monteiro que “o objeto do Direito é a regra de conduta de alguém
que interfere na conduta de outrem”.
No direito o objeto pode recair, segundo Miguel Reale, sobre uma obrigação, sobre
uma coisa, ou ainda, sobre uma pessoa. Por ocasião do objeto na relação
obrigacional, professa Maria Helena Diniz que:
“Na relação jurídica, o poder do sujeito ativo recai sobre um objeto imediato, que
é a prestação devida pelo sujeito passivo consistente num ato ou abstenção,
abrangendo, portanto, um dever positivo (dar ou fazer) ou negativo (não fazer). O
sujeito passivo deverá cumprir a prestação obrigacional, limitando a sua liberdade,
pois deverá dar, fazer, ou não fazer algo em atenção ao interesse do sujeito ativo,
que, em caso de inadimplemento, poderá buscar, por via judicial, no patrimônio do
devedor, recursos para satisfazer seu direito de crédito (CPC, arts. 568 e 591).
Infere-se daí que o sujeito ativo tem o direito de exigir do passivo uma obrigação”.
No caso de objeto recair sobre uma pessoa ou sobre uma coisa, este será
reclamado perante toda a sociedade, de quem o detiver ilegitimamente. Por seu
turno, na relação obrigacional, a reclamação incidirá sobre a parte contrária e
responsável pelo adimplemento da obrigação. Trata-se, neste último caso, de uma
relação entre as partes obrigadas, somente.
Uma simples palavra tal como “onça” pode assumir toda uma sorte de variações, a
depender do repertório mental do intérprete. Se invocarmos a referida palavra
isoladamente em uma norma jurídica, poderemos imaginar como um animal
selvagem que habita as florestas, em uma estreita relação com o Direito
Ambiental; ou ainda, o conceito de onça como elemento quantificador de ouro
comercializado no mercado de capitais relacionado com o Direito Aduaneiro. Um
reporta-se ao critério qualitativo da palavra, ao passo que o outro, ao critério
quantitativo. Portanto, uma interpretação literal ou estreita pode desfalcar o
verdadeiro âmago da significação da norma, o que passarmos a indagar: por qual
motivo o legislador escolheu um determinado termo jurídico?
“Não nos alongaremos aqui na discussão sobre linguagem e realidade: ela permeia
toda a questão da filosofia, da arte, da religião, da psicanálise; é uma questão
ancestral. No entanto, é possível desde já, desconfiar dessa relação ingênua entre
signo e realidade como algo direto, sem intermediários. A partir da afirmação de
Saussure acerca da arbitrariedade do signo em relação ao objeto, podemos
perceber como não é fácil fazer afirmações categóricas e absolutas a respeito da
representação da realidade através do signo. Porque se convencionou nomear
‘árvore’ o objeto que conhecemos como tal, e não por outro signo? Portanto,
levemos em conta que, apenas por necessidade didática, enviamos a essa cisão –
linguagem legível, denotativa e linguagem figurada, conotativa”.
A priori, ainda que não diga respeito às nossas inclinações e à visão de mundo (de
como sendo justo), deveremos alçar a essência da linguagem, a sua bastante
razão de ser e de coexistir com determinadas outras normas do ordenamento
jurídico pátrio. Não fundamenta dizer que devemos ser neutros e imparciais diante
os fatos, mas que, por uma perquirição dessa razão deôntica, é que buscamos
uma compreensão e que esta difere de aceitação, pois poderemos compreender e
não aceitarmos, por exemplo, como sendo justa uma determinada conduta...
Esses valores não podem, portanto, serem invocados de forma absoluta, dado a
relatividade (polaridade) de seus preceitos, sempre a depender da convocação de
um suporte contextual.
Nobert Rouland reproduz que os “Valores que nos parecem ‘naturais’, tais como o
indivíduo, a igualdade jurídica, a liberdade religiosa (até mesmo a liberdade de não
crer em nada) não são obrigatoriamente universais”.
Considerações finais:
Urge destacar que não existem formas nem substâncias absolutas. A substância
necessitada de uma forma para se impor, para se exteriorizar; por outro giro, a
forma necessita de um conteúdo, para se fazer existente, eis que suporte material.
Bibliografia:
BORBA, Cláudio. Direito tributário: Teorias e 600 questões. 4. ed. Rio de Janeiro:
Impetus, 2000, p. 378.
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 10. ed. São Paulo:
Saraiva, 1998.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 24. ed. São Paulo:
Malheiros, 1999.
REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2000.