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THUNDER BAY – PARTE 2

É duas vezes maior, então atenção.


- Apenas um lembrete de que o bônus se passa no mundo da Devil’s Night, mas não
contém nenhum dos personagens da série. Por favor, leia a parte 1 antes dessa aqui.
Aviso: inclui violência e situações sexuais.
- Está no processo de edição, então, por favor, espere que haja erros gramaticais.
Aproveite!!
HALLOWEEN
ALICE
Ainda não terminei.
Mais de vinte horas depois e ainda não consigo tirar essa voz da minha cabeça. Ele sabe
quem eu sou. Saberia onde me encontrar, que é o motivo de eu mal ter dormido na noite
passada.
Mesmo que eu soubesse que ele não viria. Ele não teria ligado. Teria me matado no
labirinto.
Mas, ainda assim, não consigo parar o medo. Estava tão perto dele. Centímetros. Sozinha.
Não seria capaz de escapar. E ele me deixou ir embora.
E pode ter mudado de ideia.
Inclino-me contra a fonte e encaro meu reflexo na água. Ela se derrama pelos lados da
bacia superior e cai na debaixo, espirrando um pouco nas minhas pernas, mas não sinto o frio.
Rolo a cabeça para trás, ouvindo meu pescoço estalar, e enfio as unhas na pedra. Estou pronta
para hoje à noite.
Minha saia preta combina com meus suspensórios e vai até alguns centímetros abaixo da
minha bunda. Meu cabelo cai em volta da minha regata branca, meu gorro o mantendo para fora
dos olhos e evitando que borre a minha maquiagem. Pintura facial branca e lábios vermelhos. A
ponta do nariz vermelha e alguma decoração preta ao redor dos olhos. Tipo alguém que se
apresenta em um circo sombrio.
O que vai acontecer se eu o vir? Ele tinha o tamanho do Dorian, mas a geração de
jogadores de basquete desta cidade é como se tivéssemos o nosso próprio marcador genético
especial. Poderia ser qualquer um.
Espero que seja o Dorian. Ou alguém como ele. Alguém próximo a eles, que não aguenta
mais, como o Mane, que sabia que precisava dar um fim a todos eles, inclusive a si mesmo.
— Alice! — Arden chama.
Dou um passo para me afastar da base da fonte, um das duas posicionadas de cada lado
do caminho de acesso, e vou em direção à Arden e às suas amigas reunidas.
Arden está com o braço passado por Pru, a última mandando mensagens com as
sobrancelhas franzidas.
Apoio-me em Arden.
— O que há de errado?
— McGivern não voltou para casa — murmura. — Ela não o vê desde a noite passada.
O namorado dela. Relacionamento ioiô.
Afasto o olhar, fingindo estudar a paisagem e tentando descobrir se eu deveria dizer algo.
Essas pessoas são amigas da Arden, não minhas. Se algo aconteceu a ele — se ele ainda estiver
naquele campo de milho, eu não quero estar no meio da tempestade de merda. De novo não.
Encaro-a.
— Ligou para a polícia?
Ela nega.
— Os pais dele não querem — responde, rolando os olhos. — Tenho certeza de que estão
certos. NetherNight é sobre as travessuras. Ele provavelmente está bêbado em um dos
esconderijos — repete as desculpas que eles claramente deram a ela — ou fazendo uma
pegadinha, ou preparando algo para nos surpreender. Algum grand finale para amanhã, talvez.
— Para, mas um olhar preocupado ainda está em seus olhos. — Não sei… Só parece estranho que
ele não tenha me avisado.
Tori termina seu cigarro, jogando no chão e pisando nele.
— Bem, Dorian também não foi visto, aparentemente.
Fico tensa.
— É — Arden comenta, entregando-me um cigarro. — Provavelmente estão juntos. — E
ela olha para mim. — O que me deixa mais nervosa de bater em qualquer porta hoje à noite.
— Estou bem — afirmo a ela.
Dou uma tragada, nem tão preocupada com a minha segurança quanto deveria. Ela ainda
está preocupada que os cavaleiros estejam buscando vingança contra mim, mas não sabe que há
um novo jogador agora. Não vou ficar em casa hoje à noite.
Fumaça sai da minha boca e devolvo o cigarro a ela.
— Vamos lá. — Puxo-a comigo. — Preciso dar uma olhada dentro dessas casas.
Todo mundo nos segue ao passarmos pela longa entrada, o vento noturno carregando
certa indicação de chuva, enquanto as nuvens se fecham, encobrindo as estrelas.
Doces ou travessuras é algo um pouco diferente em Thunder Bay. Cidadezinha, todo
mundo se conhece, casas abertas, e um monte de oportunidades para aprontar. Vander entrega
as abóboras de plástico e Arden pega duas — uma para mim e outra para ela —, então
carregamos nossos baldes, vendo um grupo de crianças com seus pais saírem da casa de Damon
Torrance.
Sua residência é a primeira da “Rota dos Cardeais”. Todo mundo acaba aqui em algum
ponto — uma chance de dar uma olhada lá dentro e pegar os melhores doces.
Mas eu nunca vim.
— Não acredito que você nunca foi a nenhuma das festas deles ou algo do tipo — Arden
fala.
Pego seu cigarro de novo e dou outra tragada, jogando no chão e amassando com meu pé.
— Bom, quando eu cheguei à idade de vir, a merda já tinha batido no ventilador.
Os amigos do Mane mataram aquele garoto há quatro anos e ele dirigiu o carro que os
matou. Os Haverhill têm sido persona non grata desde então. Éramos bem-vindos, é claro, mas
fiquei quieta por um longo tempo, sem querer sentir os olhares dos outros convidados.
Desta vez não.
Paramos no meio da entrada, a grande fonte vazando em várias direções diferentes, e a
porta da frente aberta. Luzes de velas brilham do lado de dentro.
— A casa de Damon Torrance. — Arden suspira. — Minha mãe só concordou que eu fosse
babá deles se eu tivesse mais alguém comigo.
— Bem, com cinco crianças, você precisaria mesmo de ajuda — comento.
Eles têm, tipo, seis babás de tempo integral — três turnos de duas, o que parece muita
coisa, mas a esposa dele é cega, então tenho certeza de que saber que ela tem alguém para
ajudar o acalma.
Passo o braço da Arden pelo meu.
— Tenho certeza de que metade dos rumores sobre ele não é verdade.
— E aqui estou eu, esperando que seja — Tori murmura, lançando um sorriso malicioso.
— Eu seria uma babá safadinha se ele olhasse para mim.
— Já viu a bunda da esposa dele? — Arden dispara. — Nenhum humano tem cinco
crianças e ainda parece daquele jeito. Tenha medo.
Vander dá um passo à frente, arrastando a Pru.
— Minha mãe não quer que eu entre na casa de nenhum deles — explica. — Especialmente
dos Mori.
— Te encontro em Coldfield, então — Tori fala, caminhando em direção à casa. — Eu vou
entrar. Não vou desperdiçar a única noite do ano que posso trazer a tona minha vadia interior.
— A única noite do ano? — Arden murmura.
Rio baixinho.
— Vamos.
Passamos pela soleira, o saguão vazio está escuro, exceto por dois candelabros acesos. Um
está no topo da escada, dando apenas sugestão de todos os cômodos escondidos das vistas.
Esta não é a minha casa favorita das falésias, mas nunca vi os interiores para julgar
corretamente. Até aqui, não deixa de ser impressionante. Painéis pretos adornam cada parede,
candeeiros dourados criando um halo de luz. Olho para cima, vendo um lustre Cold Fog
suspenso sobre nós. Dá para dizer que é pelo trabalho da haste esférica e o corpo de bronze,
características de Emory Grayson. Ela raramente os faz, cada peça sendo única, o que os torna
ímpares, especiais e muito cobiçados.
É claro, os Torrance, Fane e Mori são sua família, então, naturalmente, Damon e Winter
teriam um.
O fio vermelho do destino — com uma ponta amarrada a uma mesa alta e redonda cheia
de guloseimas — se estende pela sala e desaparece no corredor. O objetivo é coletar nossos doces
e seguir o fio que nos leva para cada casa dos cardeais.
Mas, não oficialmente, é um aviso para ficar no caminho e não se aventurar. Essas são
suas casas, afinal. Onde seus filhos vivem.
Onde guardam segredos.
Um atendente está parado perto das escadas, vestido de terno e usando uma máscara
completa de fantasma. Olho ao redor do saguão, vendo outro no topo da escada, com as costas
para a parede. Um pouco mais de segurança para nos manter comportados, acho. Parados,
quietos e sem rostos, nos observando da casa dos seus mestres.
Então me viro para frente, vendo outro homem no meio do corredor. Meu estômago
instantaneamente se revira. Vestido com um terno preto, camisa preta e gravata, os punhos
fechados por abotoaduras, o dourado combinando com detalhes da sua… mascara preta.
Meu peito afunda.
Preto e dourado, sobrancelhas onduladas que se esticam para cima e linhas que traçam o
nariz afilado e a mandíbula. Fica parado com as pernas abertas e os braços para o lado, sem se
apoiar contra a parede como os outros.
Como se estivesse pronto.
Sei que ele está olhando para mim mesmo sem poder ver seus olhos. Pretos, que me
puxam para mais e mais perto.
Um baque alto e oco subitamente ecoa no saguão e eu pisco, quebrando o transe. Respiro
fundo, percebendo que parei de respirar por um minuto.
— Você está bem? — Arden pergunta.
Deixo o olhar cair para o chão, vendo que derrubei meu balde.
— S-sim. — Abaixo-me para pegar. — Estou bem.
Sacudo a cabeça e lanço um olhar para o corredor do outro lado do saguão. Mas ele se foi.
Era ele. Não vi a mascara claramente na noite passada, no escuro, mas sei que era ele.
Movo o olhar pelo cômodo, fazendo um novo inventário, mas não o vejo.
Embora ele esteja aqui. Nas falésias, junto de nós, esta noite. Os pelos em meu braço se
erguem e fecho os olhos por um momento, percebendo agora que eu esperava que ele estivesse.
— Então, hm… — começo, limpando a garganta. — Para onde eles foram? Os donos, quero
dizer.
— Provavelmente estão levando os próprios filhos para pegar doces — Arden responde.
Todas caminhamos pela mesa.
Os cardeais sempre têm outros planos na Noite do Diabo. Eles nunca ficam no vilarejo
para a festa. Mas e no Halloween? Outra festa privativa, talvez? Em Meridian City?
— Acho que eles ficam aqui, na verdade — Tori comenta, andando até o atendente e
deixando sua abóbora de plástico cair no chão. — Bem debaixo dos nossos narizes.
Ela se inclina para mais perto, ficando na ponta dos pés para tentar ver os olhos do
guarda por entre os furos da máscara.
Forço um sorriso, relaxando um pouco, mas ainda olhando ao redor de vez em quando.
— Se este é Damon Torrance — digo a ela, o restante de nós juntando os doces —, eu
diminuiria o flerte. Ele pode não ser violento com você, mas as irmãs dele são malucas.
Arden ri e Pru até deixa sair um sorriso, porque todas sabemos que é verdade. Nem toda
história sobre eles é exagerada.
Vander pega duas pipocas e uma maçã do amor, e eu olho para tudo aquilo, sem ter
certeza do que pegar. Parece coisa de gente rica e minha família tem dinheiro, mas isso é
ridículo. Biscoitos caseiros gigantes. Maçãs do amor. Marshmallows decorados e donuts de
abóbora. Guloseimas crocantes do Frankestein, chocolate quente e…
Paro, olhando mais perto da bacia.
— Isso é…? — Sorrio, pegando a fruta. — Uma maçã diamante negro?
Ergo-a, examinando na iluminação parca do lustre, vendo que, na verdade, não é
realmente preta, mas roxo bem escuro, que parece algo que saiu de um conto de fadas sombrio.
— Plantam isso no Tibete. — Olho para Arden, como se ela se importasse. — Apenas no
Tibete.
— Sim, mas ainda é só uma maçã — murmura.
— É uma maçã que custa dez dólares — explico. E não estou incluindo o valor do frete de
avião.
Porra. Vou levar uma.
Sendo a primeira a me mover, não espero por elas. Pegando o fio vermelho do destino,
sigo pelo corredor e passo pela cozinha e por uma porta lateral. Mantenho os olhos abertos, as
imagens de sua máscara me encarando entre o milho na noite passada voltando, e quero
continuar me movendo.
Andamos ao lado do fio fino, para dentro da floresta, preso nas árvores para que eles se
mantenham contra o evento, e, eventualmente, caímos dentro de uma clareira. À frente, está a
Mansão Mori — antiga casa dos Torrance —, o fio vermelho nos levando por uma porta lateral e
desaparecendo no vazio da casa escura.
Olhando para a esquerda, pego um pouco de luz pelos buracos no labirinto do jardim que
se espalha no gramado atrás da casa. Outro evento de doces ou travessuras e suas lanternas. Não
consigo evitar um sorriso. Podemos entrar lá?
Seguimos para dentro, passando por outro guarda mascarado, e vagamos pelo saguão no
fundo da casa, no pátio. Um caldeirão está colocado no meio, derramando vapor do gelo seco.
Olhamos para dentro, mas não conseguimos ver nada. Olho para as outras garotas,
esperando quem vai colocar a mão dentro, mas então apenas decido ir em frente. Estico,
imediatamente segurando algo.
— Hmmm… — digo.
— O que é? — Vander pergunta.
Aperto em meu punho.
— É grande — descrevo. — Duro…
Risadas saem do nosso grupo e puxo uma barra de chocolates que encontrei lá dentro.
— Sério? — Pru geme. — É isso? Eu consigo pegar Snickers em qualquer lugar. Pensei que
teria algo bom.
Dou de ombros, balançando as sobrancelhas.
— Mas é tamanho grande.
Arden sorri e todo mundo começa a se mover, enquanto coloco o doce no meu cesto. Mas,
antes que eu me mexa, uma parede atinge minhas costas, me prendendo.
— Quantos anos você tem agora? — uma voz baixa e profunda pergunta em meu ouvido.
Agora?
Viro a cabeça, mas ele se pressiona contra mim, para que eu não possa me virar. Olho
para as garotas, meu coração pulando, porque não sei se soa como ele ou não. Os olhos da Arden
brilham e Tori morde os lábios como se estivesse prestes a pular no cara.
— Dezoito — respondo, minha voz tremendo, e não sei dizer se estou assustada ou
empolgada.
Ele pega minha mão, aquela que eu tinha colocado no caldeirão, e força para dentro de
novo. Resisto por impulso, mas então relaxo e o deixo me guiar.
— Velha o bastante, eu diria — me tenta.
Apertando meus dedos, ele empurra sua mão enluvada e a minha para dentro dos doces,
passando por eles e cavando mais e mais até eu sentir algo por baixo. Algo menor. Mais suave.
Tipo um vidro.
— Pegue — sussurra em meu ouvido. Arrepios se espalham por meu pescoço do hálito
quente que sai pela máscara fria pressionada em meu pescoço, e eu agarro um dos itens frios.
Ele me solta e eu trago meu prêmio para fora do caldeirão, segurando a garrafinha de
vodca. Solto uma risada, virando a cabeça para olhar para ele, mas…
Ele sumiu.
Viro a cabeça para a esquerda e para a direita, sem ver ninguém, exceto os dois guardas
dos dois lados das portas do pátio.
As garotas não perdem mais tempo e passam pelas barras de Snickers para buscar seus
doces — garrafas de gin, rum, uísque e Jaeger saem de lá, sem nem entrarem nos baldes, mas
sim sendo imediatamente abertas e drenadas.
Destampo a pequena garrafa de Grey Goose, vendo-a me observar conforme viro e bebo.
Queima pela minha garganta, mas a sensação é rapidamente substituída pela agitação em meu
estômago que o álcool sempre promete.
Enfio a mão para pegar uma garrafa de Jaeger e coloco junto com a outra vazia em meu
balde, com Tori caminhando até o guarda.
— Aposto que foi o Torrance — fala. — Ou Will. As histórias dizem que eles tinham um
comportamento mais destrutivo, como induzir adolescentes a beber.
— Não é nenhum deles, Tori — garanto, indo em direção ao labirinto, enquanto todo
mundo me segue. — São importantes demais para perder tempo conosco.
— Não acho que eles pensam assim — rebate, correndo para nos alcançar. — Acho que
talvez eles queiram um assento na primeira fileira para experimentar tudo de novo. Com a
gente.
A vida deles é tão desinteressante assim? Acho que não.
Uma brisa fresca sussurra entre as árvores e as folhas voam pela grama. Olho para a
entrada. Outro guarda está parado contra a cerca-viva, imóveis conforme passamos.
Os arbustos se estendem por cima das nossas cabeças, a visão do longo caminho à nossa
frente desaparecendo na névoa. Dou uma olhada para a esquerda, para a direita, tentada a
voltar para um dos becos escuros, mas sigo a liderança de Arden. Tenho certeza de que todas
elas estiveram aqui antes.
Pegando um movimento à frente, vejo pequenos sinais de luz e uma risada ecoa dos
caminhos ao nosso redor. Minha espinha formiga e solto um suspiro, tentando me acalmar.
Kai e Banks Mori parecem ser os cardeais mais tranquilos, mas, na minha experiência, os
quietinhos são os piores. Ela não é como o pai, antigo dono deste local, mas isso não significa
que ela e o marido não sejam perigosos.
Estão dando álcool a menores, afinal.
— Ele está nos encarando — alguém diz. Leva um momento até eu perceber que é a Tori.
— Quem? — Arden questiona.
Sigo o olhar de Tori, pela entrada por onde viemos, para a pequena inclinação que leva ao
pátio onde os caldeirões ainda estão borbulhando.
Ninguém está lá.
Ela hesita, tropeçando por ficar olhando para trás.
— O cara que nos deu as bebidas. Sumiu de novo.
Lanço o olhar para o pátio mais uma vez, o guarda na casa dos Torrance que desapareceu
voltando à minha mente. Queria ter visto se era o mesmo.
Um grito perfura o ar, seguido por um zumbido agudo, e eu giro de novo, movimento
vindo para nós de todos os lados. Pru é jogada no chão, dois garotos em capuzes pretos girando
motosserras e nos ameaçando, ao chegar mais e mais perto.
Largo o balde, respirando com força e encarando as máscaras com cara de porco, os
capuzes puxados.
Eles invadem nosso espaço, vindo em nossa direção com as motosserras e forçando Pru a
correr para trás, mas vejo que não há correntes nelas, então é apenas para nos assustar.
— Máscaras de porco? — Pru grita, morrendo de rir. — Eu… odeio… máscaras de porco!
Está rindo com tanta força que mal consegue respirar. Ela não parece mais tão
preocupada com o paradeiro de McGivern.
Eles empurram para frente, fazendo as garotas irem para trás e eu pulo para o lado, fora
do caminho.
— Não! — Vander chora e todo mundo corre.
Os garotos seguem e eu vou atrás, mas, se eles girarem, eu estarei de cara para eles.
Sozinha. Como eles querem.
Entro em um dos caminhos paralelos em vez disso, sumindo de vista.
— Cai fora! — Ouço Tori gritar, à distância.
Risadas se seguem, desaparecendo, e eu corro até não ouvir mais ninguém. Girando,
caminho para trás, respirando forte e tocando a cerca-viva com as mãos, mantendo o olho no
trajeto por trás de mim.
Eu deveria ir embora. Voltar pelo caminho que vim.
As outras me abandonaram, então não tenho que tomar conta delas.
Mas ouço um barulho por trás de mim e viro, treinando meu ouvido. Pairando perto da
parede, escuto e sigo o som, virando à esquerda e à direita logo em seguida, chegando mais e
mais perto, até estar correndo para uma clareira aberta com uma fonte que borbulha em
silêncio.
Olho ao redor, vendo aberturas em todas as quatro direções, que levam a caminhos
diferentes no restante do labirinto. Aqui é o centro.
Um borrão passa pela entrada à minha esquerda, e eu me assusto, a risada
desaparecendo.
Suor cobre minhas costas e esfrego os braços, sentindo-me rodeada. A fonte lança água
pelo alto, que se derrama em uma bacia antes de transbordar e escorrer em uma área maior. O
trabalho em pedra é bonito e a água quase parece piscar ao luar.
Estendendo a mão, mergulho os dedos no fluxo, o frio cortante me atingindo assim que
uma figura surge à minha frente, do outro lado do spray.
Pulo para trás. Ele está distante, enchendo a entrada, e sua máscara está borrada pela
água.
Máscara preta. Sobrancelhas douradas onduladas e sem olhos.
Recuo.
Ele não se move.
Abaixando os olhos, percebo as luvas em suas mãos, relembrando a sensação de uma
delas segurando a minha no caldeirão.
Girando nos calcanhares, corro de volta pelo caminho que vim, pegando a direita,
esquerda e chegando a uma parede.
— Droga — solto, entredentes.
Viro de novo, meus nervos à flor da pele, porque na noite passada fui eu quem procurei
por ele, mas dessa vez está claro que ele está procurando por mim.
Está me seguindo.
Pressiono as mãos nas folhas da parede, os galhos afiados e aparados furando minhas
palmas. Tento passar por elas, mas não dá. Não é o labirinto de milho.
Volto e viro à esquerda, correndo o máximo que posso. Uma longa reta está à frente e eu
afundo os saltos, correndo tanto que meus músculos queimam.
Pego a direita, vejo uma figura e quase sorrio, porque é ajuda.
Mas o alívio só dura um segundo.
Menos de um segundo.
Máscara de porco… Ouço passos atrás de mim, virando a cabeça apenas o suficiente para
ver um segundo me encurralar.
Porra.
Deixo os olhos caírem, vendo as motosserras descartadas na grama. A percepção me
atinge. Arden estava nessa? Deixando os garotos persegui-las para me separar do grupo?
Essa história muda?
Aquele que está na minha frente me aborda, rodando o polegar até estalar. Uma
peculiaridade sua desde que o conheço. Eric Feldman.
— Como você saiu do labirinto na noite passada? — pergunta.
Enraízo os pés no chão, endireitando a coluna. O outro — Slater, eu acho — fecha nas
minhas costas.
— Você não vai sair dessa — Eric continua quando não respondo.
— O que você quer? — exijo. — Cuspa logo.
Não tenho ideia do que eles querem — o que tudo isso significa e quem está ao meu lado,
se alguém estiver —, mas estou cansada. Cansada de todos eles. É tão entediante.
Eric me agarra e me trás para os seus braços, girando-me no local em uma valsa
desajeitada.
— La, la, la, la, la. La, la. La, la — cantarola.
Puxo a mão esquerda da dele, afastando-me, mas ele me puxa de volta com força. Meu
corpo se esmaga no seu, o ar deixando meus pulmões.
Envolve o braço com força em minha cintura e nos gira, uma e outra vez, mais e mais
rápido, levando-nos de um caminho ao outro. O mundo ao meu redor desliza e fica borrado.
Engulo o vômito que sobe, mas então vejo a fonte no canto dos olhos de novo e sei que ele nos
levou para o centro.
Tiro a mão de dentro da sua, mas ele está segurando com tanta força os meus dedos, que
eles doem e se enchem de sangue.
— Verdade ou consequência? — pergunta.
— O quê?
Ele não para de virar e estou prestes a cair como um peso morto quando para de repente.
— Eu disse: verdade ou consequência?
Slater se aproxima em minha visão periférica e volto o olhar para Eric. Assumo que o
labirinto agora está vazio. É como no campo de milho, na noite passada. Uma façanha elaborada
para me pegar sozinha.
Fico tensa, fechando o punho direito ao lado. A outra mão ainda está na dele.
— Consequência — respondo.
Vamos ver o que ele quer.
Ele inclina a cabeça e quase vejo um brilho em seus olhos castanhos, por dentro da
máscara.
Ele não esperava aquilo. Todo mundo me subestima. Mas, em seguida, diz:
— Leve-nos para casa com você.
Rio, puxando-me para longe dele.
— Verdade.
Ele anda em minha direção, mas não recuo.
— Onde estão meus amigos? — pergunta, com calma.
Caio em silêncio, sentindo Slater por perto, atrás de mim. Amigos. Plural.
Então ninguém viu McGivern… ou Dorian. Inúmeras possibilidades correm pela minha
mente e olho rapidamente ao redor da clareira, quase torcendo para ver alguém com a máscara
preta.
Se Eric está procurando por McGivern e Dorian, então ou ele não está dentro de qualquer
que seja a pegadinha que estão fazendo — o que é difícil —, ou McGivern realmente está morto.
E, por um momento, estou no campo de milho, olhando para o seu corpo, que está lá até
agora.
Isso não é uma pegadinha. Quem está na máscara preta?
— Não sei — finalmente digo, surpresa com a firmeza que ouço em meu tom.
Não posso dizer o que vi na noite passada. Ele vai achar que eu estava metida nessa.
Eric se aproxima, lentamente passa o braço por mim outra vez e segura meu rosto na
mão. Travo a mandíbula.
— Sua… — sussurra por cima da minha bochecha, indo para meu ouvido — puta…
mentirosa.
— Se ela não vai falar a verdade, então é consequência — Slater ameaça.
Aceno, sem resistir. Apenas dormente. Tanto potencial. Tantas oportunidades e o que eles
fazem? O que traz prazer a eles? A humilhação de uma garota que nunca foi uma ameaça.
Também não será uma noite de humilhações. Não apenas hoje, quando eles me oprimem
e se revezam pra cima de mim, mas em todos os dias pelo resto do ano, quando me verão e eu os
verei nos corredores da escola, e toda vez que eu esbarrar com eles na cidade daqui a um ano,
cinco ou dez. Eles sempre saberão que me superaram.
Os cardeais merecem um legado melhor.
— Deixe-me ir — aviso. Primeira chance.
— Depois — Eric responde.
Segunda.
— Quero que você me deixe ir.
Ele suaviza a voz, soando muito inocente.
— Mas eu não quero.
Forço meu sorriso a se esconder antes que ele veja.
— Também não quero que você faça isso — ofego, esfregando o nariz no dele.
Não de verdade.
Sua respiração está pesada por trás da máscara.
— Quero me divertir.
— Quero que você se divirta. — Engulo, lágrimas enchendo meus olhos por não olhar para
ele, mas tudo ao seu redor. As árvores. As paredes. A fonte atrás de nós. — Quero me divertir.
Sufoco um gemido que não estou fingindo, incerta se quero chorar ou rir. Talvez eu não
esteja acreditando que isso está acontecendo. Talvez eu mal possa esperar que aconteça.
Minha cabeça parece se desprender, flutuando acima daqueles homens como um balão, e
sinto gosto da bile subindo pela minha garganta.
Mas eu sou uma pena. Leve.
Sendo carregada.
— Porque você também tem sido vítima — ele murmura.
Aceno, encarando seu pescoço quando deslizo a mão por seus braços e sentindo algumas
gotas de chuva nos meus. Dou um passo para frente, forçando-o a dar alguns para trás.
Ele agarra minha cintura, apertando minha carne em seus punhos, mas não reclamo.
— Quero entrar no quarto dele — diz.
Meu irmão. Paro antes de perguntar o motivo. Eu sei por que. O quarto de Mane não foi
tocado. Meu pai insistiu nisso.
Passo a boca pela do Eric, indo para frente e forçando-o a recuar.
— Queime tudo — sussurro.
As roupas do Mane. Sua cama. Seus livros, sua bola do Campeonato estadual, toda a
merda que ele deixou para trás, incluindo eu.
Queime tudo.
Ele lambe meus lábios, passando a língua pelo inferior.
— E depois quero entrar no seu quarto.
Assinto de novo.
— Sim.
Algo afiado é pressionado na minha garganta e sinto uma pontada. Ofego, tensionando
quando Slater cobre minhas costas e segura uma faca contra mim. Viro para olhar por cima dos
ombros e ele desce a boca sobre a minha, sua mão livre envolvendo meu seio.
Suavemente.
Não esperava que eles fossem gentis. Estremeço com o gosto de uísque em seu hálito, mas
arqueio as costas e gemo. As mãos do Eric deslizam pelo meu corpo enquanto fica de joelhos na
minha frente, seus dedos deslizando por baixo da minha saia.
Gotas de chuva molham meu cabelo e, assim que sinto minha calcinha descer pelas
minhas pernas, afasto-me do beijo do Slater e viro o rosto para o céu, fechando os olhos.
O que eu faço?
Você já está fazendo, uma voz diz na minha cabeça.
Eles me odeiam.
Abusaram de mim e me forçaram — a mesma história que nunca, nunca muda.
Essa cidade merece algo melhor.
Mal ouço Eric ou percebo quando tira minha calcinha pelas pernas, deslizando-as no
bolso antes de subir minha saia. Chuva molha minha coxa e a pele nua.
— E pensar… — Sua voz quase parece debaixo d’água. — E pensar que estávamos
aguardando nossa hora de apenas matá-la, quando ela escondia isso aqui de nós. — Ele olha
para mim. — Estaríamos dispostos a tornar os últimos anos mais toleráveis para você. Se você
estivesse disposta a se tornar mais tolerável para nós.
Ele arranca a máscara e mergulha a cabeça entre minhas pernas, lambendo a carne e
enterrando a língua até encontrar meu clitóris.
A fonte jorra atrás dele e meus olhos parecem ter dez toneladas a mais quando os ergo e
vejo uma figura. Com um telefone apontado para nós.
Leva um momento para eu ver que é Pru, abraçando uma cerca-viva, boquiaberta com o
que está documentando naquela tela.
É tudo parte do plano. Sabia.
— Destrua o quarto dele. — Entrelaço os dedos no cabelo escuro do Eric, deixando-a
filmar isso. — E me foda. — Viro a cabeça, beijando Slater de novo, sua faca ainda pressionada
na minha garganta. — Deixem marcas, para eu senti-los em uma semana.
— Nós vamos, baby — Slater sussurra, girando a língua dentro da minha boca. Forço para
não vomitar.
Eric levanta e logo fica uma bagunça de mãos, bocas e gemidos com eles avançando sobre
mim e aqui — bem agora — eu sei que qualquer coisa vale a consequência. Uma lágrima desce
por minha bochecha.
Eles vão me conhecer, porra.
Mergulho no pescoço de Eric, beijando-o com força enquanto ele geme, e jogo a cabeça
para trás, ouvindo o nariz do Slater quebrar.
— Ah! — grita.
Eric abre os olhos, mas não tem tempo para ver o que aconteceu. Agarro seu queixo,
passo o outro braço em sua cintura e o pé por trás de seu tornozelo, derrubando-o.
Ele ofega e eu o agarro, nós dois caindo, seu pescoço batendo na borda da fonte. Sangue
instantaneamente começa a correr pelo lado da pedra, pingando.
Slater cospe por trás de mim, e fico parada acima de Eric, sem ter certeza se ouvi um
estalo ou não. Suas pupilas estão fixas, mas sua cabeça está balançando. Calculei essa distância
perfeitamente.
— Você está morta! — Slater declara, nas minhas costas.
Primeiro você.
Ergo-me, levando a máscara de Eric comigo, e vejo sangue pingar do nariz do Slater, seus
olhos quase fechados.
Finalmente, ele pisca várias vezes, limpando a bagunça de seu rosto, mas foca o olhar em
mim. Depois no amigo.
— Ele não está morto — aviso. Deslizo a máscara de porco pela cabeça e abaixo-me para
pegar a faca que caiu. Dou um passo para trás, empunhando a lâmina. — Mas dá para esperar.
Você primeiro.
Ele funga, os olhos arregalados mirando entre seu amigo e eu. Move-se para frente como
se fosse na minha direção, mas então para. Troca de peso nos pés por dois segundos, encara a
sua faca em minha mão e em seguida… rosna em frustração e gira, fugindo. Observo-o
desaparecer pela cerca, mas, em vez de segui-lo, eu me viro.
Pru está parada lá, seu sorriso se foi ao encarar a tela do telefone de olhos arregalados.
Eles voam para mim e ela deixa os braços caírem enquanto a chuva começa a descer em gotas
leves.
Vou cobrá-la.
Agarrando a faca, deixo Eric no chão e voo até ela, que leva um momento até encontrar
suas pernas para se virar e fugir de mim. Salto pela entrada, sem pensar sobre que diabos estou
fazendo ou por que. Eu sempre paro. Sempre dou a outra face. Sempre vou para casa com a
minha vontade de lutar presa dentro de mim, boca fechada.
Eu nunca grito.
Correndo mais e mais, sigo-a por um corredor, mal notando Tori, muito menos ela nos
notando, pois está chupando algum cara com cabeça de lobo.
Pru grita quando me aproximo e pega uma esquerda que dá num beco sem saída. Lanço-
me, chutando suas costas. Ela tropeça na cerca-viva, caindo na grama, e gira, encarando-me.
Giro o cabo da lâmina ao redor da mão em uma pegada reversa, dando um passo à frente
em sua direção.
— Não, não, não… — implora, soluçando.
Mas em vez de ir até ela, pego seu telefone no chão e encaro.
Respirando com dificuldade, um choro sai a cada vez que ela inala. Depois de um
momento, pergunta:
— Você fez algo com o McGivern?
A chuva resfria meus ombros, mas é tão bom. Inclinando a cabeça para trás, fecho os
olhos e deixo molhar meu pescoço e entrar nos buracos da máscara onde estão meus olhos e
boca.
— Eu vou contar tudo! — solta.
— Conte, então. — Meus olhos também estão fechados. — Eu também tenho histórias.
Marcas.
Já posso sentir a dor do aperto do Eric de hoje à noite, assim como a lâmina do Slater em
meu pescoço.
Sinto que deveria estar nervosa. Assustada. McGivern está morto. Eric pode estar
morrendo agora. Ninguém parece saber onde Dorian está. Eu poderia ser culpada. O bode
espiatório perfeito, na verdade. A cidade já me odeia.
Mas, porra, estou cansada de me importar com o amanhã e isso é bom. A terra parece se
curvar aos meus pés, até que não consigo dizer onde eu começo e ela termina, e cada fio de
cabelo em meu corpo se estica como se estivesse implorando para crescer. Não consigo pensar.
Não quero parar.
Deixe acontecer.
Jogo o celular de volta para ela, lambendo a chuva em meus lábios, que entrou pela boca
da máscara.
— Delete — digo a ela.
Abaixo a cabeça e encaro-a, refazendo o aperto na faca.
Ela pega o telefone, segurando nas duas mãos enquanto me encara, seus olhos indo entre
a lâmina e seu telefone. Lágrimas descem por seus olhos, seu peito sacudindo.
Agora, ela sabe que aquele vídeo é a única coisa que pode dar à polícia alguma direção do
evento de seu desaparecimento, então ela pode mandar para alguém por segurança e morrer, ou
deletar e possivelmente viver.
Clica na tela, a lixeira ficando visível.
— Agora esvazie a lixeira e me dê o cartão de memória — ordeno.
Sua mandíbula se flexiona, mas ela faz o que digo.
— É só disso que você é capaz? — questiono.
Ela volta o olhar para mim, sabendo muito bem o que estou perguntando.
— E o que é?
— Me fazer perder tempo.
Ela vacila, um pequeno grunhido saindo de sua boca ao procurar na porra daquele
cérebro por uma resposta e não achar nenhuma. Ela abaixa os olhos.
McGivern não foi uma perda. Ele a engravidou no ano passado e, junto da família dele, a
forçou a tirar discretamente e não era segredo que a traía o tempo todo.
— Levante-se — falo.
Ela me encara, mas não tenho tempo para sua merda.
E nem ela.
— Você vai dirigir.
Enfio a mão no bolso do seu moletom e puxo suas chaves, assim, se ela estiver pensando
em argumentar, agora não pode.
— Merda — resmunga.
Mas me segue assim mesmo. Voltamos por onde estávamos, direto para o centro do
labirinto, mas ao passarmos pela fonte e irmos para a entrada mais distante, Eric não está mais
deitado no chão.
Ele se foi.
Puxo-a para a outra metade e ela guia o caminho, tirando-nos dali.
Não ligo de não saber o que está acontecendo. Não ligo para quem está morto e quem não
está. Não sei quem está naquela máscara.
Mas vou dar uma surra no Slater.
Voltamos para a casa, passamos pela entrada, os portões, e voltamos pela estrada até os
Torrance, onde os carros estão estacionados ao lado da estrada.
As lanternas traseiras do Escalade do Slater brilham pela rua enquanto ele acelera.
Bem na direção em que todo mundo, eventualmente, irá hoje à noite.
— Vá! — grito, empurrando-a para o carro. Subimos em seu Pontiac GTO de 1964, que seu
pai deixou para ela no divórcio ano passado, e jogo suas chaves. Ela dá partida.
— Arden estava envolvida nisso? — indago, vendo-nos cair na estrada.
Observo seu olhar para mim pelo canto do olho.
— Não houve nenhum plano, Alice — revela, aumentando a marcha e pisando fundo. —
Eu a vi ali, peguei meu telefone. — Para e suspira. — Olha, sei que nada disso é sua culpa, eu só…
— Quieta.
Não ligo mais para nada daquilo. A sensação dessa máscara é boa. Muito boa. É uma
mentira menor do que a que eu mostro todos os dias.
As pessoas reagem à Alice. Mas não podem reagir ao que não veem.
Eu a retiro, meu cabelo caindo ao redor do rosto, e não olho no espelho para ver se minha
maquiagem estragou. Provavelmente pareço uma aberração de algum circo dos horrores.
— Eu realmente odeio máscaras de porco — Pru comenta, tirando-me dos meus
pensamentos. Mas ela parece tão inocente que eu quase sorrio.
Jogo a máscara para o banco de trás e olho para ver se ainda enxergo o SUV do Slater,
mas uma luz atrai meu olhar. Aperto os olhos, encarando o retrovisor.
Faróis.
Observo-os, vendo o carro se aproximar.
— Estamos sendo seguidas — aviso.
— O quê? — Lança vários olhares para trás de si, tentando manter também os olhos na
estrada. — Quem…?
— Não sei. — Vejo as tochas de Coldfield à frente e sento, preparando-me. — Estacione e
vá até a segurança — instruo. — Diga que você está esperando a sua carona fique por lá.
Ela para no estacionamento, as duas paredes pretas à frente servindo como uma cerca que
se estende por seis metros de altura e os portões entre elas abertos dos dois lados. Era para
parecer a entrada de um castelo, mas não há outras paredes. Nem dos lados, nem atrás. É
apenas uma coleção de casas mal-assombradas, escape room, comida e bebida, labirintos,
campos, sustos e emoções. As paredes do castelo são apenas parte disso, erguidas para te fazer
sentir como se estivesse deixando um mundo e entrando em outro.
Tenho uma relação de amor e ódio com os cardeais. Por este ângulo, porém, eles fizeram
algo certo.
Pru olha para mim.
— Só me deixe ir para casa.
— Você pode ir — digo —, mas não posso garantir que é a mim que ele está seguindo.
Suas sobrancelhas alcançam seu cabelo e ela me encara.
— Realmente quer ficar sozinha hoje? — indago.
Ela suspira, franze os lábios, desliza para uma vaga e desliga o motor.
O carro atrás de nós desapareceu e não sei se estacionaram ou não. Saímos e eu pego a
faca antes que ela tranque as portas.
Mas quando olho para cima, ele está lá. O cara de preto. Parado depois do mar de corpos
que se move em direção ao parque temático.
Ainda está vestido de terno preto e camisa combinando, mas, lentamente, começa a tirar
o paletó e me encara pela máscara. Sangue pinga da faca em sua mão e meu estômago dá uma
cambalhota. Ele encontrou o Eric?
O paletó cai na lama.
Alguém corre pela multidão em direção à entrada e afasto os olhos do homem para ver
Slater correndo. Máscara Preta olha, notando-o, e depois volta para mim.
Como se estivéssemos prestes a partir para ver quem o alcança primeiro.
— Vá — digo para Pru.
Ela segue meu olhar, vendo o homem, depois volta para mim, gastando apenas dois
segundos para dar o fora. Ela corre, Máscara Preta e eu nos virando em sincronia, caminhando
até o portão. Ele solta a gravata, arrancando do pescoço e descartando no caminho. Encaro-o e
ele não tira os olhos de mim, e não consigo evitar o sorriso em meus olhos que exige cada grama
de vontade que eu tenho em mim para não deixar que ele se espalhe em meus lábios.
Slater mostra para sua pulseira de entrada, eu olho para Máscara Preta e nós… corremos.
Passamos pela multidão, atravessando a bilheteria, ouvindo o grito do segurança por trás
de nós:
— Ei!
Slater sobe as escadas do Manicômio e empurra as portas, brevemente olhando para trás
antes de desaparecer lá dentro.
— Volte aqui! — o homem grita para nós.
Mas eu já fui.
Pulo os degraus, dois de cada vez, empurro a fila e abro as portas. Olho para trás, mas
Máscara Preta não está mais lá.
Procuro por um momento, mas ele se foi.
Enfiando-me no prédio, paro instantaneamente e pisco com as luzes. Verde, azul e
amarelo brilham do teto, mal iluminando o corredor, enquanto gravações de gritos e risadas
maníacas soam à distância. Um beco sem saída está à frente e eu viro à direita, vendo um
corredor longo de portas de celas em ambos os lados.
Braços saem pelas aberturas, mãos prontas para te agarrar.
Ele tem que ter vindo por aqui.
Vou em frente, sem me preocupar com que mãos são reais e quais não são. Dedos de
manequim roçam em mim, outros garram minha camisa. Afasto, recuando enquanto mais
procuram por mim, algumas batendo na porta e gemendo lá dentro.
Estou quase do lado de fora quando uma pega meu braço, puxa-me para porta e agarra
meu outro braço em sua mão direita. Meu estômago afunda e eu ofego.
Engulo, encontrando minha voz.
— Me solta! — grito.
Ele ri, e levanto os olhos, vendo dentes marrons sorrirem para mim pela fresta da porta.
Ele passa a mão pela minha cintura, a outra apertando meu rosto.
— Bonita — diz, soando como um Frankestein excitado. Começa a bater na porta,
gemendo como se estivesse saindo, e levo um momento até perceber que suas mãos estão em
mim, então com o que ele está batendo?
É quando percebo que ele está investindo.
— Porra! — Afasto-me, levantando minha arma.
Subitamente, joga as mãos para trás, dentro da sela, por segurança.
— Era brincadeira! Desculpa.
Corro, a droga do meu coração saindo pela boca. Viro à direita e à esquerda, sem saber
onde estou e sem ver ninguém. Viro para voltar pelo caminho que vim, mas a parede se fechou e
meu caminho sumiu.
Pressiono para frente, chegando a uma sala da casa de pula-pula, e olho em volta, não
gostando de quão escuro está aqui. A saída do outro lado se acende e eu inalo, absorvendo a
fumaça e a chuva no ar. Está frio, mas estou suando.
Coloco um pé na superfície, o chão parecendo uma cama d’água. Procuro pelos cantos e
acho que estou sozinha, mesmo tendo muitas sombras para ter certeza.
Dando um passo, pulo para cima e para baixo, as luzes acima do toldo roxo fracas o
suficiente para eu quase não enxergar. Mantendo a faca na mão, corro, pulo pela superfície até a
saída e pouso no chão, exalando.
Mas, antes que eu perceba, alguém se choca contra mim e me tira do chão. Sou jogada por
cima dos ombros de cabeça para baixo e atirada de volta para a sala dos pula-pulas.
— Ah! — Ofego.
Eu me levanto e giro em círculos enquanto procuro pela faca. Deixei cair. Merda! Viro-me
para Slater, mas… não é o Slater.
Eric está lá, sangue cobrindo a lateral do seu pescoço e pingando em seu capuz. Ele corre
até mim e só tenho tempo de erguer os braços para me proteger antes que ele me derrube de
novo e suba em mim.
Agarro sua camisa, tentando empurrá-lo, mas ele segura meu pescoço e aperta.
Não.
Tento respirar, mas não consigo mais do que curtas inspirações. Luto contra seus pulsos,
contorcendo-me para jogá-lo para longe.
— Vou amarrar uma corda no seu pescoço e te pendurar na ponte — diz, entredentes. —
Não vai surpreender ninguém que você tenha se matado.
Resmungo, lágrimas enchendo meus olhos quando meus pulmões gritam por ar, mas não
importa o quanto eu me debato, não consigo me livrar dele.
Abro a boca para gritar, mas nenhum som vem.
— Morra, Haverhill — sussurra, apertando meu pescoço mais e mais até pontos brancos
encherem minha visão. — Você será famosa como sempre sonhou.
Lágrimas surgem no canto dos meus olhos. Não.
Algo cutuca minhas costas, cortando a pele, e minhas pálpebras tremem quando me dou
conta.
A faca…
Abro a boca, com dificuldades de respirar, e estico a mão por cima do ombro, procurando
o cabo debaixo de mim. Agarro.
Reunindo a última gota de força que tenho, lanço a mão, cortando sua pele e o fazendo
recuar, afrouxando o aperto o suficiente.
Respiro fundo, ofegando e tossindo, sentindo seu peso me deixar. Viro para o lado,
ouvindo sons de engasgamento, mas tudo que consigo pensar é em fugir. Rastejo, lutando para
fugir e respirando com tanta força que eventualmente meu coração começa a se acalmar.
Recupero o fôlego, finalmente virando o rosto para encará-lo antes que ele volte até mim,
mas…
Ele está de joelhos do outro lado do cômodo, sangue jorrando do seu pescoço.
Fico imóvel.
Suas mãos estão ensopadas e ele ofega, buscando ar que nunca chegará até ele, por causa
do corte que vai da jugular até o esôfago.
Ah, não. Olho para a faca ainda em minhas mãos, a lâmina revestida de vermelho.
Eu me mexo para ir até ele. Para pedir ajuda — sei lá —, mas uma figura vem por cima de
mim, forçando-me a recuar até o colchão.
Olho para cima, o Máscara Preta me encarando.
— Saia — digo, pressionando a lâmina em sua garganta.
— Deixe-o morrer.
Ele paira sobre mim, suas mãos em cada lado da minha cabeça e seus joelhos entre os
meus. Sua camisa agora se foi, manchas de sangue em seu peito. Slater.
Por um momento, não consigo falar. Eric se engasga atrás do Máscara Preta, sua luta
diminuindo. Acalmando.
Neste ponto, não consigo salvá-lo. Quando a ambulância chegar aqui…
Mas não tentar é uma escolha que não posso refazer.
Ainda assim, eu não luto. Ficamos lá, minha faca em sua pele, seus olhos escuros — me
desafiando, me impulsionando… E os momentos se passam, os suspiros de Eric diminuem até
não haver nada.
Ele se foi.
O mundo parece parar. Largo a faca, sentindo sua cintura estreita entre minhas pernas. A
veia em seu pescoço pulsa na luz roxa.
Colocando a mão no bolso, ele tira algo branco de lá e estica, deixando na minha mão.
Não tenho que olhar para saber o que é.
Ele encontrou Eric no labirinto. Pegou minha calcinha.
Ele estava vendo.
— Dorian? — questiono. — Você é o Dorian?
Este garoto raramente fala e, quando o faz, é um sussurro profundo. Ele está alterando a
voz. O que significa que eu o conheço.
Mas ele continua em silêncio.
— Quem é você? — Levo a mão para sua máscara, mas ele a segura a tempo e me prende
no colchão. — Você é daqui — declaro, imperturbável. — Por que não me matar para me manter
quieta?
Ele se inclina, a máscara maldosa e os olhos escurecidos fazendo parecer que ele não é
humano. O nariz para a poucos centímetros do meu.
— Eu te disse para ficar em casa.
Encaro-o, sentindo uma dor na minha garganta.
— Não quero ficar em casa. — Minha voz parece pequena, surpreendendo-me. — Eu… Eu
não sinto nada lá.
Ele inclina a cabeça.
— Você quer me matar? — pressiono. — Deveria ser tão fácil fazer isso agora. — Pauso e as
palavras saem antes que eu perceba o que estou dizendo. — Me mate. Me mate agora.
Vejo seu peito subir e descer mais rápido e quase posso senti-lo me encarar através da
máscara.
— Faça isso — peço. Meu estômago dá cambalhotas, mas não estou com medo.
Não sei o que estou dizendo, mas continuo falando pra caralho.
Ele pega minha faca, pressionando a ponta no meu peito, marcando seu lugar, e então
ergue bem alto.
— Vamos lá — imploro, entredentes, mesmo que um enjoo tome minha barriga.
Ele desce o braço, eu grito e rolo, mas a faca rasga o fundo do pula-pula e eu corro para
fora dele. Arrasto-me, lutando para ficar de pé, e irrompo pela saída enquanto seu rugido ecoa
atrás de mim, balançando as vigas.
Saio correndo pelo longo corredor, ouvindo seus passos atrás de mim. Passo pelas pessoas
na ala hospitalar, empurrando atores para os colchões e entrando pela porta marcada para
funcionários. Corro para os bastidores, invadindo uma sala pequena e escura que é um beco sem
saída. Um grande painel de vidro, que vai do chão ao teto, cobre a parede da minha esquerda e
olho para lá, vendo uma chapa e uma mesa com partes falsas de corpos ao lado de bisturis e
serras.
A sala de autópsia.
Eu já fui lá. A parede de vidro é onde os zumbis provocam os clientes, arranhando e
gemendo, tentando passar. Viro, sem ter a certeza se deveria ficar ou voltar por onde vim. Ele
deve estar perto. Deve estar lá fora.
Mas a porta da sala de autópsia se abre e eu paro, olhando pelo vidro quando ele entra.
Meu coração incha e eu o observo, sentindo a mesma coisa daquele momento no labirinto
de milho antes de eu me mijar.
O sentimento de estar desesperada para me esconder, mas necessitando chegar mais
perto.
Ele se vira, me vê, e é a primeira vez que o vejo com esse tanto de luz. Tons verdes
decoram a sala, mas um caldeirão próximo borbulha, dando-me uma visão do seu corpo.
Nunca vi Dorian sem camisa, apenas à distância. Os dois têm ombros largos, cinturas
estreitas, corpos tonificados… são altos.
Aproximo-me do vidro, assim como ele, nós dois nos encarando.
— Você não me assusta — digo a ele. — Eric me assustava. Slater. McGivern.
Ele toca o vidro, traçando a linha da minha mandíbula, e acho que quase sinto na minha
pele. Lambo os lábios.
— Você não.
Lentamente, ele fecha o punho em uma bola, gentil e calmo, e então… puxa-o para trás e
bate com força no vidro. Quase sorrio.
— Você não me assusta. Você me deixa mais forte.
Fecho os olhos, apoiando a cabeça no vidro por um momento, e então me estico,
espalmando o botão vermelho que abre a porta.
Ela desliza para a direita e eu encaro sem piscar enquanto ele caminha para o cômodo e
agarra a faca em minha mão. A faca do Slater.
O sangue de Eric ainda está nela e vejo-o bater no botão, fechando a porta de novo.
Trancando-nos.
Esticando-se, ele segura meu cabelo por trás, me empurra até a parede e consigo ouvir
sua respiração forte dentro da máscara. Cada centímetro da minha pele queima enquanto forço
os olhos para os dele, desafiando-o. Querendo-o. Me faça gritar.
Suor escorre pela minha testa, o cheiro do seu corpo enchendo minha cabeça. Âmbar,
fogo, vento…
Porra.
— Me faça gritar — imploro.
Ele larga a faca, me ergue nos braços e coloca minhas pernas por cima dos seus ombros,
até eu estar presa na parede e montada em sua boca.
Sua máscara se foi, os lábios e hálito acariciando minha pele enquanto roça sua boca pela
pele sensível entre minhas pernas. Arqueio minhas costas, levando a camisa para cima dos seios
para ele, esticando-me para segurar seu cabelo em punho. Está escuro, mas é tudo que consigo
ver nele.
Cada um dos meus nervos pega fogo e é muito bom. Sua língua vai fundo, provando-me, e
eu gemo. A pele dos meus mamilos endurece em pequenos seixos, e só me dou conta quando
estou sendo abaixada para o chão novamente e girada. Ele cobre as minhas costas, meus seios
pressionados no cimento frio da parede, e morde minha orelha, rosnando. Seu cinto balança
quando ele o desfaz e ouço o som do seu zíper.
Fecho os olhos e me toco. Algo quente e escorregadio cobre meus dedos e ele me agarra
pelas coxas, abre minhas pernas e só sinto a ponta por um momento antes de ele deslizar em
mim, enterrando-se profundamente.
— Ah! — grito.
Estende a mão para segurar meu pescoço, gemendo em meu ouvido. Seu peito se move
em minhas costas e ele luta para respirar. Estremeço, sentindo a cabeça afundar dentro de mim,
esticando-me, mas me contraindo nele. Amando.
Quero que ele se mova, mas ele fica lá por um minuto. Soltando minha orelha, passa seus
lábios onde mordeu e corre os nós dos dedos pelo lado do meu rosto.
— Minha — murmura. E beija minha bochecha.
A porta da sala de autópsia se abre e ele desliza sua máscara pela minha cabeça, cobrindo
meu rosto, e sinto sua respiração em meu ouvido de novo.
— Tem certeza de que não quer ir para casa?
Três pessoas entram na sala, viram à direita e nos veem pelo vidro, seus olhos se
arregalando com um brilho de excitação.
Mas não saem.
— Quando eu puder levar um pouco de você comigo — digo.
E ele não precisa que eu explique o que quero dele. Deslizando até a ponta, ele me penetra
de novo com força.
Estremeço.
— De novo — peço.
Entrando em mim uma e outra vez, ele me preenche, mantendo um ritmo, e estico-me
para trás para segurar seu pescoço, jogando minhas próprias costas em seu ombro.
Fecho os olhos, sentindo-os encararem meus seios nus e corpo, sabendo que não vão sair,
porque gostam de assistir.
Em menos de três segundos, ele me tira da parede e me coloca em cima de um banco no
meio da sala. Encaro o vidro, seus olhares em mim a 60 centímetros, e ele senta atrás de mim, e
apoio as mãos no banco, montando nele na cowgirl reversa.
Ele segura meus quadris, puxando-me para si de novo e de novo, e levo um momento,
mas forço os olhos para nossos expectadores. Não me afasto ao encará-los pelos buracos da
máscara, vendo seus olhos trilharem por todo o meu corpo. O jovem pega o celular, nos
filmando, e sei que não deveria estar fazendo isso, mas é estranho o quão pouco eu me importo
quando sei que eles não fazem ideia de quem sou.
De fato, eu meio que gosto.
Ele me puxa para o seu peito e giro os quadris, sua respiração em meu ouvido e seu aperto
em meu peito aumentando.
— Argh — geme, ainda empurrando.
Meus seios balançam enquanto ele me puxa em seu pau, e eu grito, porque é muito bom.
Meu estômago gira e se aperta, e deslizo para cima e para baixo mais rápido — mais forte — até
meu interior queimar e eu não conseguir mais controlar. Lanço-me, sentindo o orgasmo, seus
dedos afundando em meus ombros. Ele enrijece, estremece e para de respirar por um momento,
e não sei se ele gozou até sentir algo quente espirrar dentro da minha coxa.
Inclino-me para frente novamente, jogando a cabeça para trás e tentando recuperar o
fôlego, o garoto ainda nos filmando. Uma das mulheres parece sem ar e a outra está congelada,
apenas encarando.
Ele vem até mim e puxa minha blusa para baixo, beija meu pescoço molhado e quase me
segura por um momento.
— Eu nunca te mataria — declara.
E então se levanta e eu ouço seu cinto novamente antes de a porta se abrir e fechar.
Eu nunca te mataria.
O jeito que ele fala às vezes…
Tão familiar…
Levanto, arrumando minhas roupas, e encaro os três, que ainda me assistem. Devo tentar
pegar o celular?
Em vez disso, eu me viro e saio pela mesma porta, fazendo o caminho por onde vim. Não
ligo.
Não é até que eu retorno para a casa de pula-pulas que me lembro do Eric. Entro, vendo
uma parte do colchão afundada onde o Máscara Preta rasgou, mas quando viro para a esquerda,
não vejo o corpo do Feldman onde deixamos. Não vejo em lugar nenhum.
Ele sobreviveu à queda na fonte, mas não a isso. Ando até lá, vendo sangue, mas Eric não.
Voltando ao Manicômio, atravesso o pátio debaixo de chuva fina, encontrando meu
caminho até a área da segurança sem olhar para cima.
Eu nunca te mataria. Suas palavras se repetem na minha cabeça, algo que me é familiar.
Dorian me conhece desde que nasci, mas… Não sei. Não parece ser ele.
E para onde ele está levando os corpos? Se eu for à polícia, vou parecer maluca. Não há
evidências. Não vi Slater lá, também.
— Que droga aconteceu com você? — Ouço Arden gritar.
Encontro seus olhos e logo desvio para baixo, vendo sangue na minha regata.
Ele deve ter me sujado quando…
— Nada aconteceu comigo — murmuro, entregando a ela a faca que parece outro adereço
de Halloween. — Esconda isso.
Empurro para ela, que pega, piscando. Ela encara o sangue na lâmina e eu devolvo o olhar
para ela.
— Hm, okay… — finalmente gagueja. — Mas que droga!
Viro-me para Pru, que se abraça para fugir do frio. Ando até ela, fazendo-a recuar até
encostar na parede.
Ela fica boquiaberta, a severidade em meus olhos fazendo-a vacilar até baixar o olhar. Não
ligo se ela tem medo de mim. Qualquer coisa que a faça ficar quieta.
Depois de um momento, ela percebe algo na minha mão e pega.
— Eu… — Engole. — Eu gostei dessa, na verdade.
Quase sorrio. Estudo-a por um momento, esperando pelo sinal de que ela não consegue
lidar com isso, mas sei que odiava McGivern e sua dependência dele, o tratamento de merda que
recebia. Sei quem ela realmente quer e, sem McGivern, agora ela pode ter qualquer coisa. Vou
me certificar disso.
Dou as costas, mas viro a cabeça para ela, deixando a luz acalmar meu rosto.
— Descubra onde vendem — digo a ela. — Precisamos de mais. Uma para cada.
— E algumas extras?
Sorrio e olho para ela.
— Boa ideia.
É hora de sangue novo no comando da escola em Thunder Bay.
— Posso te uma carona para casa? — indaga.
— Vou andando — explico. — Preciso me acalmar. Vejo vocês amanhã na vila.
Dia de Todos os Santos.
NetherNight ainda não acabou.

***

Continuamos em DIA DE TODOS OS SANTOS, a conclusão!

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