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OZONIOTERAPIA E SUA APLICABILIDADE NA

ODONTOLOGIA

Dra. Roberta Cardoso

O Ozônio Medicinal

Há mais de um século uma molécula presente na natureza foi descoberta, e a partir


daí, em decorrência de estudos, inúmeras formas de utilização deste gás foram
desenvolvidas, tamanha a potencialidade de suas propriedades, seja nos âmbitos físico,
químico ou biológicos. O Ozônio(O3), um composto alotrópico do oxigênio (O2) que
pode ser produzido através de descargas elétricas sobre as moléculas de oxigênio,
quebrando-as, liberando dois átomos (O + O) onde um deles se liga a outra molécula de
oxigênio, formando o O3.
O Ozônio Medicinal é obtido a partir do oxigênio puro medicinal, evitando assim,
a presença de subprodutos tóxicos de outros gases. Sendo assim, é uma mistura de ozônio
e oxigênio puro(O3/O2) em que o ozônio atinge no máximo 5% do total da mistura.

Propriedades Físico-Químicas do Gás Ozônio

Considera-se que o ozônio, enquanto gás puro, possui coloração suavemente


azulada com cheiro pungente, acre, semelhante àqueles sentidos após trovoadas. Sua
molécula triatômica de oxigênio possui peso molecular igual a 48g/mol, densidade(g/L)
igual a 2,144 e sua solubilidade em água oscila entre 0,49 ml e 0,64 ml de ozônio / ml de
água, sendo, portanto, 1,6 vezes mais denso e aproximadamente 10 vezes mais solúvel
em água que o oxigênio. Seu potencial de oxidação é de 2,07 Volts, o que o coloca na
terceira posição entre os agentes oxidantes mais potentes da natureza, depois do Flúor
(como elemento químico mais eletronegativo e reativo) e dos Persulfatos (compostos
químicos com altíssimo poder oxidativo).
O ozônio pode ser produzido a partir de três fontes de energia: através da eletrólise
químicas, descargas elétricas e através da radiação de luz ultravioleta, de modo que esta
reação é considerada reversível, o que significa que o ozônio se tornando-o praticamente
impossível de ser armazenado, o que exige sua produção no ato de sua utilização.

Ex: 2 O3 3 O2
É exatamente em razão desta instabilidade que o ozônio possui uma meia vida
curta, e sua decomposição na água depende diretamente da temperatura e da pureza da
água.

O gráfico mostra a decomposição de ozônio dissolvido em água bidestilada variando de acordo com a
temperatura.
Fonte: http://www.philozon.com.br/sobre-o-ozonio/propriedades-fisicas/

Ou seja, em um meio aquoso, a decomposição do ozônio depende da qualidade da


água, temperatura e do pH do meio. O aumento do pH acelera a decomposição de ozônio,
reduzindo sua concentração na água, processo semelhante quando elevamos a
temperatura.
Quando falamos em propriedades biológicas do ozônio, nos referimos àquelas em
que a ozonioterapia atua de forma antiinflamatória, anti-séptica, na melhora da circulação
periférica e da oxigenação, bem como na modulação do sistema "Redox", permitindo sua
aplicação num amplo número de patologias, sendo utilizada isolada ou
complementarmente. E é exatamente por suas propriedades bactericidas, fungicidas e
virustáticas que, dependendo da concentração da mistura oxigênio/ozônio, a
ozonioterapia pode tratar patologias de origem inflamatórias, infecciosas e isquêmicas,
em sua maioria relacionadas ao estresse oxidativo.
Os tratamentos com o ozônio dependem da dose (Dose-Dependente), de modo
que a dose total de ozônio é equivalente a concentração de ozônio, em mcg, multiplicado
pelo volume de gás, em ml.

DOSE = CONCENTRAÇÃO x VOLUME

Atuando de modo seletivo e em baixas concentrações, o ozônio pode ativar o


sistema imunológico desencadeando a produção de citocinas (incluindo mediadores
importantes como Interferons e Interleucinas), pelas células imunológicas, que por sua
vez sinalizam outras células, ativando a cascata imunológica, devolvendo o equilíbrio
orgânico.

Escala de concentração dos efeitos do ozônio

Fonte:
https://www.facebook.com/o3ozonioterapia/
posts/2065829580194224/

Mecanismo de Ação do Ozônio

Os mecanismos multifatoriais de ação terapêutica do ozônio tem como base seus


Efeitos Diretos com substratos orgânicos (Carboidratos, Proteínas e Lipídeos), que
modulam a conversão destes substratos aos produtos finais biologicamente ativos no
organismo, oxidando-os; e seus Efeitos Fisiológicos ou Indiretos na homeostase devido
aos ozonídeos resultantes (produtos de ácidos graxos e lipoproteínas), que são portadores
de oxigênio ativo na corrente sanguínea. Estas reações através destes substratos em níveis
fisiológicos de pH, favorece ao organismo suprimento prolongado de oxigênio para
manter o metabolismo aeróbico

1- Acão antioxidante
O Ozônio pode ser classificado, do ponto de vista farmacológico, como um pró-
fármaco, pois os efeitos farmacológicos desencadeados são mediados pela sua ação
indireta através das reações com as moléculas biológicas, especialmente os lipídeos,
originando mediadores oxidados de seus efeitos diretos, ou seja, seus efeitos são
produzidos por segundos mensageiros, também chamados de "Espécies Reativas de
Oxigênio (ROS) e "Produtos de Oxidação Lipídica (LOPs), gerando um "Estresse
Oxidativo", agudo, porém absolutamente transitório, sem causar toxicidade, podendo
reagir com compostos orgânicos e inorgânicos. Da mesma forma, a interação do ozônio
com aminoácidos contribuem para um desenvolvimento mais equilibrado das reações
compensatório-adaptativas do corpo em condições patológicas favorecendo a
homeostase.
Um efeito sistêmico devido a baixas concentrações de peróxidos induzidos pelo
ozônio, formados como resultado da interação do ozônio com ácidos graxos insaturados,
ativam o mecanismo de desintoxicação por peróxido - o sistema da Glutationa (GSH). É
observado o efeito do ozônio no aumento da atividade desse sistema, que forma uma
defesa antioxidante intracelular para o corpo.
A ozonioterapia, aplicada por vias sistêmicas, promove um aumento da atividade
antioxidante no plasma sanguíneo melhorando a circulação periférica e microcirculações,
auxiliando o sistema de hemostasia, desidratação, com efeitos antiinflamatórios,
imunomodulatórios e de desintoxicação.

As principais enzimas antioxidantes que auxiliam as nossas células contra os


radicias livres são a Superóxido Dismutase (SOD), Glutationa Peroxidase (GPx) e a
Catalase (CAT), e o resultado de algumas reações conduzem, geralmente, à formação de
peróxidos (H2O2) e oxigênio (O2) que acontecem no citosol e na mitocôndria (exemplos
1 e 2). Quando estas enzimas reagem com algumas espécies reativas (ROS), advindas do
ozônio, geram um aporte de oxigênio que podem ser usados pela célula, na respiração
celular, através das mitocôndrias, estimulando a produção de ATP no ciclo de krebs .
2 - Efeitos bactericida, fungicida e virustático

Os efeitos bactericidas, fungicidas e virustáticos do ozônio estão entre os


mecanismos de ação direta mais relevantes para a odontologia, e para os tratamentos
tópicos de feridas contaminadas na medicina. Geralmente conseguido quando aplicado
por uma via externa e em altas concentrações. Devido o organismo multicelular do ser
humano possuir um potente sistema antioxidante, o ozônio em sua ação anti-séptica não
produz irritações ou mesmo destruição dos tecidos protetores. O mesmo não se pode
dizer, de acordo com estudos microbiológicos in vitro, a todos os tipos de bactérias Gram-
positivas e Gram-negativas, incluindo Pseudomonas aeruginosa e Legionella, todos os
vírus hidrofílicos e lipofílicos, dentre eles o da Hepatite A,B e C, esporos e formas
vegetativas de todos os fungos e protozoários patogênicos conhecidos.
O ozônio compromete a integridade do envelope celular bacteriano através da
oxidação de fosfolipídios e lipoproteínas, cujas múltiplas ligações químicas assumem
novas configurações angulares incompatíveis com a arquitetura da membrana bacteriana.

Ilustração do efeito do ozônio sobre a membrana bacteriana


Fonte: http://www.naturaltec.com.br/ozonio-desinfeccao-agua/

O ozônio possui efeitos fungicidas, através de mecanismos ainda pouco


compreendidos. A parede celular dos fungos é composta por uma multicamada de
aproximadamente 80% de carboidratos e 20% de proteínas e glicoproteínas com a
presença de muitas ligações dissulfeto, tornando este um possível local de inativação
oxidativa pelo ozônio. Acredita-se que o ozônio em fungos patogênicos primeiro altera
as estruturas externas do micélio (membrana citoplasmática) e, em seguida, as estruturas
e organelas da membrana intracelular são envolvidas no processo.
Como resultado desse efeito, as hifas de fungos patogênicos tornam-se planas,
torcidas e enrugadas, os defeitos na parede celular surgem até a completa destruição de
todos os componentes da estrutura celular dos fungos.

Representação do principal mecanismo


envolvido na interação do ozônio com os
fungos.

Os vírus são parasitas intracelulares que possuem uma cápsula, constituída por
moléculas de proteínas, formando um capsídio que protege o(s) ácido(s) nucléicos(s) em
seu interior. Em alguns casos, esse capsídio pode conter um revestimento de lipídios ou
de glicoproteínas. Acredita-se que os vírus que não apresentam envelope lipídico sejam
mais resistentes do que os com revestimento lipídico. Ainda assim, o ozônio pode gerar
dano ao capsídeo viral e perturbar o ciclo reprodutivo. Todavia, sabe-se que o ozônio
possui a capacidade de neutralização dos vírus in vitro, no entanto, in vivo, essa
capacidade apresenta desafios especiais, pois devemos ajustar essas doses para baixo para
proteger a integridade dos constituintes do sangue e com isso evitar a toxicidade.

Possível ponto de interação do ozônio com o vírus. O exemplo mostrou uma representação da partícula
do vírus influenza (vírus RNA).

3 - Efeitos Benéficos do Ozônio no Organismo Humano

A Ozonioterapia conduz a uma melhora geral significativa de muitos processos


fisiológicos do organismo, melhorando a qualidade de vida, além de poder retardar o
processo de envelhecimento. Seus efeitos são essenciais para o bom funcionamento do
organismo e podem ser considerados duradouros. Além da ação germicida, alguns
exemplos desses efeitos podem ser descritos da seguinte forma.

Analgésico e anti-inflamatório

Na aplicação local apresenta esses efeitos, por neutralizar mediadores


neuroquímicos de sensação dolorosa e facilitar metabolização e eliminação de
mediadores inflamatórios, como histaminas, quininas, etc.

Imunomodulador

Dependendo da dose e formas de aplicação, é capaz de estimular as defesas


imunológicas celulares e imunológicas humoral em pacientes com imunossupressão ou
modulador reações dos sistemas imunológicos exacerbados que produzem as chamadas
doenças Autoimune. Por isso, é considerado um BRM (Modulador de Resposta
Biológica).

Oxigenação

O ozônio aumenta a capacidade do sangue de absorver e transportar maior


quantidade de oxigênio em todo o corpo, melhorando a circulação e funções celulares em
geral. Também estimula as enzimas que participam na sua metabolização. Estimula a
glicólise, que é a fonte fundamental de energia para todas as células. Eles melhoram suas
funções gerais sendo, portanto, muito útil em insuficiências vasculares periféricas,
cardíacas, etc.

Regenerador

É capaz de promover a regeneração de diferentes tipos de tecido, por isso é muito


útil na cicatrização de lesões de difícil cicatrização, em ulcerações de vários tipos, nos
tecidos articulares, medicina estética, etc.
Indicações para o uso do Ozônio Medicinal

A Ozonioterapia está intimamente relacionada ao conceito de equilíbrio da


oxidação-redução celular (REDOX) com suas propriedades antioxidantes, embora,
paradoxalmente, seja um oxidante. Doenças associadas as alterações dos processos
oxidativos, geralmente respondem bem as terapias com ozônio devido aos mecanismos
de ação produzidos que se transformam em pulsos biológicos para as células levando o
organismo a diferentes respostas terapêuticas.
De modo geral, a ozonioterapia deve se apresentar como TRATAMENTO
COMPLEMENTAR às diversas especialidades na área da saúde, auxiliando na cura de
patologias e/ou fornecendo ao organismo condições metabólicas favoráveis ao estado de
saúde plena.

Ozonioterapia e seu uso na odontologia

A cavidade oral aparece como um ecossistema aberto, com um equilíbrio


dinâmico entre a entrada de microrganismos, modalidades de colonização e defesas do
hospedeiro. A formação e desenvolvimento do biofilme oral e a seleção interna de
microrganismos específicos foram correlacionadas com as patologias orais mais comuns,
como cárie dentária, doença periodontal e peri-implantite. A remoção mecânica do
biofilme e o uso adjuvante de clorexidina e/ou vários antibióticos têm sido os métodos
convencionais para a terapia periodontal. O ozônio (O3), como já dito, é uma molécula
triatômica, composta por três átomos de oxigênio, e sua aplicação em medicina e
odontologia tem sido indicada para o tratamento de inúmeras patologias.
A terapia com ozônio tem apresentado resultados excelentes quando comparados
com as modalidades terapêuticas convencionais que seguem uma aplicação minimamente
invasiva e conservadora ao tratamento odontológico. A exposição de mecanismos
moleculares do ozônio beneficia ainda mais a função prática em odontologia.
Na odontologia utilizamos os 3 meios de administração do ozônio: Gás, água
e óleo.
Em odontologia encontramos normalmente 3 situações patológicas: Inflamação,
infecção e isquemia. Em todas essas situações o ozônio se mostra eficaz, portanto, o seu
uso na odontologia se torna amplo, podendo ser utilizado em várias especialidades. Como
é descrito na resolução 166/215 do CFO.

ÁREAS DE APLICAÇÃO DA OZONIOTERAPIA EM ODONTOLOGIA segundo a


resolução 166/215
• DENTÍSTICA: Tratamento da Cárie pela ação antimicrobiana;
• PERIODONTIA: Prevenção e Tratamentos dos quadros inflamatório e
Infecciosos;
• ENDODONTIA: Potencialização da fase de Sanificação do sistema de canais
radiculares;
• CIRURGIA: Auxílio no processo de reparação tecidual;
• DOR e DISFUNÇÃO DE ATM: Atividade antiálgica e antiinflamatória; e,
• NECROSE DOS MAXILARES: Osteomielite, Osteorradionecrose e Necroses
induzidas por medicamentos.

A principal forma de utilização do ozônio para o tratamento de lesões cariosas é


através da aplicação direta do gás na lesão através da utilização de um dispositivo em
forma de campânula própria para a técnica da ozonioterapia, juntamente com a aspiração
contínua, que possibilita o controle da quantidade de gás disperso para que não ocorra
danos ao cirurgião-dentista e ao paciente, uma vez que o gás inalado é tóxico para os
pulmões.
A aplicação de ozônio na superfície oclusal de dentes com sulcos e fissuras
profundas é capaz de auxiliar na remineralização de lesões de mancha branca, visto que
o gás é capaz de penetrar com facilidade nessas regiões. Devemos ter cuidado com o
isolamento absoluto, pois como o ozônio é um gás oxidante e altamente reativo, podendo
reagir com o látex do lençol de borracha utilizado nos isolamentos absolutos, provocando
sua ruptura.
Podemos afirmar que a terapia com ozônio é eficaz na redução da contagem
microbiana em lesões cariosas dentinárias profundas, sendo também eficaz como terapia
complementar da sensibilidade dentinária.
O ozônio atua melhor na descontaminação de preparos cavitários se a superfície
estiver ÚMIDA.
Os meios de administração do ozônio
Gás

Ozônio medicinal com seringa acoplada para captação do gás.

Seringa com 2,5 ml do gás ozônio com 5mcg/ml


Água Ozonizada

A água ozonizada demonstrou ser muito eficaz contra bactérias, fungos e vírus,
sendo utilizados também como:
• Bochechos,
• Na limpeza de feridas,
• No preparo e limpeza da pele antes de procedimentos estéticos,
• Lavar preparos cavitários antes das restaurações (NÃO interfere no
sistema adesivo)
• Lavar bolsas periodontais após a raspagem
• Tratamento das osteonecroses
Para a ozonização da água com finalidade terapêutica é utilizada a água bidestilada
(água para injeção) ou a água de osmose reversa. NÃO devemos utilizar nenhum outro
tipo de água como por exemplo água mineral, água filtrada, etc...

Coluna com água bidestilada ozonizada

Óleo Ozonizado

Além da forma gasosa e aquosa, óleos ricos em gorduras poliinsaturadas como


por exemplo o de girassol ou óleos ricos em gorduras monoinsaturadas como por
exemplo os de oliva, são os de escolha para a ozonização, pois geram os maiores
índices de peróxidos e são utilizados topicamente em diversas patologias atuando nos
processos de cicatrização.
Os óleos de côco são ricos em gordura saturada, por isso quando ozonizados
geram poucos peróxidos, não sendo desta forma um óleo de escolha para ozonização. O
mercado de cosméticos tem evoluído bastante e apresentado produtos a base de óleos
ozonizados com eficácia terapêutica comprovada, desde suas propriedades
antimicrobianas, passando pela reparação tecidual (aceleração no processo de
cicatrização) até o alcance de atividades antioxidantes locais e de liberação de fatores de
crescimento. É importante salientar que a produção de óleos ozonizados não deve ser
realizada dentro dos consultórios, pois sua produção demanda muitas horas e os geradores
comercializados para fins medicinais não suportam essa produção, sob o risco inclusive
de acidentes graves, devendo ser obtido de empresas que comercializam esse produto.

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