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MASTIGAÇÃO, DEGLUTIÇÃO E SECREÇÃO SALIVAR

Essas funções ocorrem na boca, que é uma câmara de recepção e identificação do


alimento. A língua, importante órgão presente na cavidade oral, possui uma capacidade
propriaceptiva e gustativa que nos permite identificar sabores – doce, salgado, azedo ou
amargo – e temperaturas – quente, frio e morno -, sendo assim importante para identificação
dos alimentos. Ao longo das experiências vamos guardando essas sensações de modo que é
criada uma memória afetiva. Com isso, quando nos deparamos com um alimento que
gostamos temos a nossa salivação aumentada enquanto que somos ‘indiferentes’ a um
alimento que não gostamos. A língua é também importante na fala e deglutição do alimento.
Além da identificação de sabores, na cavidade bucal também se inicia a degradação e
a trituração dos alimentos. A trituração ocorre por ação dos dentes pela mastigação, que
significa reduzir o tamanho da partícula do alimento. Nesse contexto, cada dente possui sua
função específica. Durante a mastigação ocorre mistura do alimento com a secreção salivar,
fato que permite o início da degradação deste, pela digestão dos carboidratos.
INTERAÇÕES DE RECEPTORES COM O SISTEMA NERVOSO

Dentro da cavidade bucal existe uma série de receptores que nos permitem definir
algumas situações e levam esta cavidade a iniciar alguns processos. Essa cavidade está entre o
meio externo e o meio interno e pode ser tanto influenciada pelo que está entrando como
pelo que já está lá.

Presença de água

A água, por exemplo, provoca a ativação de osmorreceptores presentes na oro-


faringe, que agem no hipotálamo indicando a presença de água, de modo que há inibição do
centro da sede e estimulação para secreção de ADH. Esses receptores são muito sensíveis à
temperaturas frias de modo que tomar líquidos muito gelados os superestimula, promovendo
uma falsa sensação de satisfação. Quando bebemos refrigerante ou outros líquidos, temos a
nossa sede saciada por um tempo, mas como há aumento da osmolaridade logo temos sede
de novo.

Centro da deglutição, centro do vômito e centro da saciedade


A presença do bolo alimentar ativa também mecanorreceptores que vão até o centro
da deglutição informando a presença destes. Somos nós que iniciamos o processo de
deglutição, mas o centro da deglutição assume todo o controle motor, modificando as
estruturas para que o bolo alimentar possa ser deslocado para o esôfago e deste para o
estômago através de movimentos peristálticos. Podemos também ter estímulos que levam a
uma resposta oposta. A estimulação do centro do vômito leva a ativação de movimentos anti-
peristálticos, que promovem a eliminação do conteúdo presente no estômago. Além disso, os
mecanorreceptores podem também agir no centro da saciedade no hipotálamo, fazendo com
que o indivíduo não sinta mais fome.

Secreção salivar

Estímulos mecânicos e químicos provenientes do bolo alimentar agem ainda


estimulando a secreção salivar – estímulos à chegada do alimento. Esses estímulos são
diferentes daqueles que ocorrem quando vemos ou pensamos no alimento que gostamos ou
já está na hora de comer. Nesse caso, também há aumento de secreção, mas são estímulos
prévios à chegada do alimento. Os estímulos prévios e estímulos momentâneos se somam
maximizando a secreção salivar.

MASTIGAÇÃO

É realizada pelos dentes, que promovem redução do tamanho do alimento,


facilitando assim a ação enzimática – por aumentar a superfície de contato – e a deglutição
do alimento. A duração do processo de mastigação é variável, dependendo do tipo de
alimento e da nossa vontade.
A mastigação é inicialmente voluntária e posteriormente se torna um reflexo.
Entretanto, mesmo como reflexo, pode voltar a se tornar voluntária. Quando vemos, por
exemplo, que há algo que não está bem mastigado, movimentamos o alimento com a ajuda da
língua e reiniciamos a mastigação. Assim, temos um controle completo desse processo. O
alimento então estimula quimio e mecanorreceptores que geram reflexos que se direcionam
ao SNC, onde regulam os músculos mastigatórios e as secreções.

- Primeira Fase: Temos a abertura da boca com relaxamento reflexo dos músculos
levantadores da mandíbula e contração isotônica dos músculos abaixadores. Essa fase permite
que haja uma abertura para entrada do alimento.

- Segunda Fase: Temos o fechamento da boca com contração isotônica dos músculos
levantadores e relaxamento reflexo dos músculos abaixadores.

- Terceira Fase: É a chamada fase oclusal onde temos uma contração isomérica dos músculos
levantadores da mandíbula, que gera uma pressão e permite a quebra dos alimentos. Durante
esse mecanismo de quebra os dentes envolvidos não são mais os incisivos ou caninos, mas sim
os molares e pré-molares, que fazem uso de uma força muito grande.

Insuficiência Mastigatória
Pode ser determinada por diminuição da área dentária de oclusão – por ausência de
dentes ou anomalias de oclusão -, por hábitos mastigatórios – preguiça de mastigar -, por um
limiar de deglutição – de modo que o centro da deglutição é ativado muito rápido, fazendo
com que a deglutição se inicie precocemente -, diminuição da força mastigatória – por
presença de dor ou uso de próteses – ou movimentos mandibulares anormais – por
alterações na ATM ou alteração na contratilidade muscular.

SECREÇÃO SALIVAR

A medida que o alimento é mastigado ele é misturado com a secreção salivar, que é
produzida por dois tipos de glândulas salivares. As glândulas salivares maiores – parótida,
submandibular e sublingual – produzem cerca de 90% da saliva. As parótidas são
principalmente responsáveis por uma secreção serosa com grande quantidade de enzimas –
amilase principalmente. A sublingual e a submandibular são glândulas mistas, que produzem
muco e proteínas. As glândulas salivares menores – glândulas orais – se encontram
espalhadas por toda a cavidade bucal e são responsáveis pela secreção de muco – mucina.
Esse conjunto de glândulas produz uma saliva com vários constituintes e apresentam
uma regulação diferenciada. As glândulas orais possuem secreção constante uma vez que é
necessário manter a cavidade bucal umedecida, protegendo assim o epitélio. As glândulas
produtoras de enzimas, por sua vez, geralmente realizam uma produção basal que é
aumentada pela presença do alimento. Esse estímulo é necessário porque a produção de
amilase sem que haja digestão seria um grande gasto energético.

Funções

- Facilita a fala por manter a cavidade umedecida – pela presença de muco, água e eletrólitos.

- Inicia a digestão de amidos e também de lipídeos. A digestão de amidos ocorre por ação da
alfa-amilase, mas não é algo extremamente necessário uma vez que há secreção de grande
quantidade de amilase pancreática e de outras enzimas que digerem açúcar. Há presença
também de uma lipase, mas esta possui ação praticamente desprezível uma vez que o pH da
saliva é alcalino e a lipase precisa de um pH mais ácido para se ativar. O que se acredita é que
a ação lipídica que se tem no estômago – que é muito pequena – ocorra por ação dessa lipase.

- Funciona como uma primeira barreira de proteção, tendo ação antibacteriana por presença
de íons tiocianato, lisozimas e anticorpos.

- Umidifica o bolo alimentar, evitando lesão do epitélio e facilitando a deglutição.

- A saliva é inicialmente produzida com um pH em torno de 6.2 que se modifica até 7 no


momento da secreção – por conta de trocas iônicas. Esse pH alcalino é importante para a
neutralização do refluxo gástrico, que é muito ácido. Se o refluxo for muito intenso e não
houver essa proteção, há lesão da cavidade bucal.

Secreção Primária e Secundária

Há uma secreção primária de saliva, contendo muco, eletrólitos e amilase – no caso


das glândulas serosas maiores. Mas essa secreção inicial é modificada a partir de trocas iônicas
a medida que passa pelo ducto. Essas trocas fazem com que a saliva, que é inicialmente
isotônica ao plasma, se torne hipotônica à medida que é modificada – seja em alto ou em
baixo fluxo a saliva é hipotônica, mas quanto menor o fluxo mais hipotônica ela é. Um fator
que garante essa hipotonicidade é o fato de não haver reabsorção de água no ducto, apenas
reabsorção ou adição iônica.
A troca iônica que caracteriza a saliva é a adição de bicarbonato (HCO3-). A presença
deste reflete na alcalinidade final da saliva, que dá a ela essa característica de poder proteger
a mucosa do refluxo gástrico.
A medida que aumenta o fluxo se aumentam as concentrações de Cl- e diminuem as
concentrações de Na+ – que permanecem inferiores ao do plasma -, já a concentração de K+
praticamente não se altera. Conforme já mencionado HCO3- também aumenta conforme o
fluxo aumenta, mantendo assim a alcalinidade – a concentração de HCO 3- na saliva é maior do
que no plasma.
Lembrando que a amilase salivar não é essencial para a digestão desses carboidratos. Na sua
ausência, a amilase pancreática dá conta do recado.

Importante:
Vários acinos formam os lobulos.

cavidade
oral

A saliva primaria tem uma composição isotônica em comparação ao plasma. A passagem dessa
saliva primária ao longo dos ductos, especialmente o ducto estriado, permite uma modificação
da composição dessa saliva, uma reabsorção de sódio e cloreto e secreção de potássio e
bicarbonato, deixando-a hipotônica.
Se a passagem dessa saliva por esses ductos for lenta, ela vai ter mais tempo de ocorrer essas
trocas.
Por´wm, se a passagem for rápida, não haverá tempo para que ocorra as trocas e a
tonicicidade da saliva secundária fica quase similar à primária.
Comparação da composição da saliva no fluxo salivar alto e baixo:

Regulação
A regulação é feita pelo Sistema Nervoso Simpático (SNA.S) e Parassimpático (SNA.P),
com ação preponderante deste último, que é um grande estimulador. A inibição pode ocorrer
através da estimulação do SNA.S ou de inibição do SNA.P.

Inervação parassimpática:

Núcleo salivatório superior – nervo facial – nervo corda do tímpano – glândula submandibular
e sublingual.

Núcleo salivatório inferior – nervo glossofaríngeo - nervo auriculotemporal – glândula


parótida.

Inervação simpática:

Origem nos segmentos T1, T2 e T3 da medula, ramificando-se no gânglio cervical superior e


caminhando ao longo dos vasos sanguíneos responsáveis por irrigar as glandulas.
O reflexo condicionado (pavlov) está relacionado aos estímulos olfativos, visão, fome... que
vão estimular o SNA parassimpático.
Com a ativação do SN simpático, há contração dos vasos sanguíneos, diminuição do fluxo
sanguíneo para as glândulas e a secreção fica mais viscosa, sando a sensação de boca seca.

+ Sistema Nervoso Parassimpático

O SNA.P atua via N. Glossofaríngeo – que regula a glândula Parótida– e via N. Facial –
que regula as glândulas submandibulares e sublinguais.
Em relação à estimulação, temos como fatores estimulantes a visão, olfato e audição,
fatores já citados que, mesmo anteriormente à ingestão do alimento, já provocam aumento
da secreção salivar via SNA.P. Ocorre também aumento da secreção gástrica, pancreática e
biliar, mas só nos damos conta da secreção salivar. Todo esse estímulo à secreção acontece
para que haja uma preparação do TGI para receber o alimento. Esses fatores, entretanto, só
conseguem aumentar a secreção até certo ponto, promovendo um aumento limitado – até
30%. A secreção só alcança seu ápice com a presença de alimento na cavidade oral, que é o
principal estimulador desta.
A náusea também é um elemento estimulador da secreção salivar via SNA.P. Caso haja
a ingestão de algo maléfico ou potencialmente lesivo, há geração de um estímulo pelo TGI –
que também pode ocorrer nos pilares amigdalianos – que promovem a náusea, levando
posteriormente ao vômito com o objetivo de colocar para fora aquilo que está incomodando.
Em caso de desidratação, medo ou sono há inibição do SNA.P, de modo que o
estímulo para secreção salivar é diminuído.

+ Sistema Nervoso Simpático

O SNA.S possui um efeito bifásico. Embora ele haja como um inibidor, diminuindo a
secreção salivar por provocar intensa vasocontrição, ele antes promove contração das células
mioepiteliais, que fazem com que haja contração dos ácinos - levando a um aumento prévio
da secreção, antes que haja inibição.
Fatores como ansiedade, grande excitação ou fadiga estimulam o SNA.S, promovendo
inibição da secreção salivar.

Distúrbios da Secreção Salivar

Entre os distúrbios a Parotidite aguda é a infecção mais comum das glândulas


salivares, sendo causada pelo vírus da Caxumba.
A síndrome de Sjogren é uma síndrome autoimune que atinge as glândulas salivares e
as glândulas lacrimais. Assim, além de lesão na cavidade bucal – acompanhada de dificuldade
na fala e deglutição - há também uma conjuntivite decorrente da falta de lubrificação do globo
ocular. Ocorre principalmente em mulheres a partir dos 40 anos. Pode também estar
associada à outras doenças autoimunes como a artrite reumatoide.
Já a Xerostomia, caracterizada pela sensação de boca seca, pode ser causada por
lesão ou alteração congênita dos nervos cranianos – tendo assim ausência da secreção
salivar. Isso aumenta a possiblidade de lesões, dificuldade na fala e deglutição e também a
ocorrência de cáries.
DEGLUTIÇÃO

A deglutição pode ser dividida em três fases, de acordo com o percurso percorrido
pelo bolo alimentar. Inicialmente a regulação é feita pelo centro da deglutição, sendo
responsabilidade no SNC. Entretanto, quando o bolo alimentar passa da musculatura estriada
para a musculatura lisa, o comando passa a ser do SNE(compreende plexo nervoso
mioentérico e submucoso).

+ Fase Oral

Nesta fase tomamos consciência de que queremos deglutir, captamos o alimento, o


preparamos e o organizamos deslocando o bolo alimentar da região anterior da cavidade para
a região posterior. O alimento então é direcionado para a base da língua onde é ajustado para
que de fato ocorra a deglutição – o alimento não poderia estar simplesmente espalhado pela
cavidade oral. Essa fase é controlada voluntariamente, mas recebe influência de movimentos
reflexos.

+ Fase Faríngea

Nessa fase temos elevação do palato mole(úvula) – que fecha a cavidade nasal – e
também elevação da epiglote – que fecha a laringe. O fechamento da laringe é garantindo
também pela ‘junção’ das cordas vocais, que impendem a passagem de qualquer coisa pela
traqueia. Nesse momento a respiração é inibida e o bolo alimentar é empurrado em direção à
faringe, onde se inicia a onda peristáltica primária, promovida pela ação dos músculos
constrictores. Essa onda direciona o bolo alimentar para baixo, em direção ao esôfago, de
modo que promove o relaxamento do EES, permitindo assim a entrada do alimento neste
tubo.

+ Fase Esofagiana

Ocorre quando o bolo alimentar chega ao esôfago. A onda peristáltica primária


continua deslocando o alimento para baixo, sendo ela muitas vezes suficiente para que o
alimento chegue ao estômago. Entretanto, quando ela não é suficiente, é gerada uma onda
peristáltica secundária local – por ação do SNE – que continua propulsionando o alimento.
A medida que o alimento desce há estímulo para que o EEI – e também a porção inicial
do estômago(cárdia) – façam um relaxamento receptivo, permitindo assim a entrada do bolo
alimentar do estômago. A medida que o estômago se enche o EEI é novamente contraído.

Distúrbios da Deglutição

+ Lesão do SNE

Acomete o TGI a partir dos 2/3 inferiores do esôfago. No caso de aumento do tônus
do EEI, não há ocorrência de relaxamento receptivo de modo que todo alimento ingerido se
acumula no esôfago. Com isso, ocorre uma dilatação do esôfago, chamada de acalasia. Já, no
caso de diminuição do tônus do EEI, ocorre lesão da mucosa esofagiana por conta do refluxo
do conteúdo gástrico.

+ Paralisia da Deglutição

Pode ser derivada de lesões centrais – lesões nos nervos cranianos ou no centro de
deglutição -, lesões na parede do esôfago – SNE ou doença de Chagas – ou insuficiência da
transmissão neuromuscular – botulismo ou miastenia grave.

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