Segundo Guyton (ano) as principais glândulas da salivação são as parótidas, as
submandibulares e as sublinguais; mas, além disso existem outras numerosas e pequenas glândulas orais. As glândulas parótidas secretam exclusivamente o tipo seroso, enquanto as glândulas submandibulares e sublinguais secretam tanto o tipo seroso quanto o mucoso. As glândulas orais secretam apenas muco. A saliva tem pH situado entre 6,0 e 7.4 ou seja, a faixa favorável para a ação digestiva da ptialina. O mesmo classifica a saliva em dois tipos principais de secreção protéica: ''(1) a secreção serosa, contendo ptialina (uma a-amilase), que é uma enzima para a digestão dos amidos, e (2) a secreção mucosa, contendo mucina, com função lubrificante.'' (Guyton. Ano, p.619). Secreção de íons na saliva. A saliva contém grandes quantidades de íons potássio e bicarbonato. Porém, são menores as concentrações de íons sódio e cloreto na saliva do que no plasma. A partir da descrição do mecanismo relativo à secreção de saliva, pode-se compreender melhor. Para Guyton, a secreção salivar é uma operação em dois estágios: o primeiro envolve os ácinos, e o segundo, os dutos salivares. Os ácinos secretam a secreção primária que contém ptialina e mucina em solução de íons cuja concentração não difere muito das observadas no líquido extracelular típico. Mas, à medida que a secreção primária flui pelos dutos, ocorrem dois grandes processos de transporte ativo, que modificam acentuadamente a composição iônica da saliva. Em primeiro lugar, os íons sódio são ativamente reabsorvidos dos dutos salivares, enquanto os íons potássio sofrem secreção ativa, porém com menor velocidade, em troca do sódio. Consequentemente, a concentração de sódio da saliva fica muito reduzida, enquanto a concentração de íons potássio aumenta.O excesso de reabsorção de sódio em relação à secreção de potássio cria negatividade de cerca de -70 mV nos dutos salivares, ocasionando reabsorção passiva dos íons cloreto. Por conseguinte, a concentração de íons cloreto cai para níveis muito baixos, juntamente com a redução da concentração de íons sódio. Em segundo lugar, os íons bicarbonato são secretados pelo epitélio dutal para o lúmen do duto. Essa secreção é, pelo menos em parte, causada pela troca de bicarbonato por íons cloreto, mas também pode resultar, em parte, de um processo secretor ativo. Secreção diária de sucos intestinais
pancreática 1.0008,0-8,3Bile 1.0007,8 Secreção do intestino delgado 1.8007,5- 8,0Secreção das glândulas de Brunner2008,0-8,9Secreção do intestino grosso2007,5- 8,0Total6.700----------
O resultado final desses processos de transporte ativo é que, em condições de
repouso, as concentrações de íons sódio e cloreto na saliva são de apenas cerca de 15 mEq/l cada uma, ou seja, aproximadamente um sétimo a um décimo de suas concentrações no plasma. Por outro lado, a concentração de íons potássio é de cerca de 30 mEq/l, ou seja, sete vezes maior que sua concentração no plasma, e a concentração de íons bicarbonato é de 50 a 70 mEq/l, representando cerca de duas a três vezes sua concentração plasmática. Durante a salivação máxima, as concentrações salivares de íons modificam-se de modo considerável, uma vez que a velocidade de formação da secreção primária pelos ácinos pode aumentar por até 20 vezes. Assim, a secreção flui pelos dutos com tanta rapidez que a reconstituição da secreção por esses dutos fica muito reduzida. Por conseguinte, quando são secretadas quantidades copiosas de saliva, a concentração de cloreto de sódio eleva-se de cerca da metade a dois terços da concentração observada no plasma, enquanto a concentração de potássio cai para apenas quatro vezes a do plasma Na presença de secreção excessiva de aldosterona, a reabsorção de sódio e cloreto e a secreção de potássio aumentam acentuadamente, de modo que a concentração de cloreto de sódio na saliva está algumas vezes reduzida para quase zero, enquanto a concentração de potássio aumenta ainda mais. Em qualquer estado anormal em que ocorra perda de saliva para o exterior do organismo durante longos períodos de tempo, o indivíduo pode apresentar grave depleção de íons potássio no organismo, devido à elevada concentração desse íon na saliva, resultando, eventualmente, em hipocalemia grave e paralisia. Função da saliva na higiene oral. Em condições basais, ocorre secreção de cerca de 0,5 ml de saliva por minuto, quase totalmente do tipo mucoso, exceto durante o sono, quando a secreção fica muito pequena. Essa secreção desempenha um papel de suma importância na manutenção da saúde dos tecidos orais. A boca é repleta de bactérias patogênicas que facilmente podem destruir os tecidos e causar cáries dentárias. Por isso, a saliva ajuda a impedir os processos de deterioração de várias maneiras: primeiro, pelo próprio fluxo de saliva que ajuda a remover as bactérias patogênicas, bem como as partículas alimentares que lhes fornecem a sustentação metabólica. Segundo, pela saliva também contém diversos fatores que realmente destroem as bactérias. Dentre esses fatores destacam- se os íons tiocianato, bem como várias enzimas protealiticas -das quais a mais importante é lisozima - que (1) atacam as bactérias, (2) ajudam os íons tiocianato e penetrar nas bactérias, onde se tornam bactericidas, e (3) digerem partículas alimentares, ajudando ainda mais a remover a sustentação metabólica das bactérias. E, terceiro, a saliva contém quase sempre quantidades significativas de anticorpos capazes de destruir as bactérias orais, incluindo as que provocam cáries dentárias. Desse modo, na ausência de salivação, os tecidos orais sofrem ulceração e são infectados, e as cáries dentárias ocorrem com grande facilidade. Regulação nervosa da secreção salivar. Pelas vias nervosas parassimpáticas durante a regulação da salivação, as glândulas salivares são controladas principalmente por sinais nervosos parassimpáticos, provenientes dos núcleos salivares. Esses núcleos salivares localizam-se aproximadamente na junção do bulbo com a ponte e são excitados tanto por estímulos do paladar quanto por estímulos táteis procedentes da língua e de outras áreas da boca. Muitos estímulos do paladar, em particular o sabor ácido, provocam grande secreção de saliva - muitas vezes, de até 5 a 8 ml/minuto ou 8 a 20 vezes a secreção basal. Além disso, certos estímulos táteis, como a presença de objetos lisos na boca (uma pedrinha, por exemplo), provocam menor salivação e, em certas ocasiões, até mesmo a inibem. A salivação também pode ser estimulada ou inibida por impulsos que chegam aos núcleos salivares provenientes de centros superiores do sistema nervoso central. Por exemplo, quando uma pessoa cheira ou come seus alimentos favoritos, a salivação é maior do que quando cheira ou come alimentos de que não gosta. A área do apetite do cérebro, que regula parcialmente esses efeitos, localiza- se muito próximo dos centros parassimpáticos do hipotálamo anterior e funciona, em grande parte, em resposta a sinais provenientes das áreas do paladar e do olfato no córtex cerebral ou na amígdala. A salivação também ocorre em resposta a reflexos que se originam no estômago e na porção superior do intestino – em particular quando são deglutidos alimentos muito irritantes, ou quando a pessoa sente náuseas cm decorrência de alguma anormalidade gastrintestinal. Presumivelmente, a saliva deglutida ajuda a remover o fator irritante no tubo gastrintestinal ao diluir ou neutralizar as substâncias irritantes. A estimulação simpática também pode aumentar a salivação, porém, em grau bem menor do que a estimulação parassimpática. Os nervos simpáticos originam-se dos gânglios cervicais superiores superiores e, a seguir, seguem seu trajeto ao longo dos vasos sanguíneos até as glândulas salivares. Um fator secundário que também afeta a secreção é o suprimento sanguíneo das glândulas, uma vez que a secreção sempre requer nutrição adequada. O processo de salivação dilata indiretamente os vasos sanguíneos, proporcionando, assim, maior nutrição, quando necessária. Parte do efeito vasodilatador é ocasionada pela calicreína secretada pelas células salivares ativadas;por sua vez, a calicreína é convertida no sangue em bradicinina, um forte vasodilatador.
SECREÇÃO ESOFÁGICA
As secreções esofágicas são de caráter totalmente mucóide e proporcionam
sobretudo a lubrificação para a deglutição. A porção principal do esôfago é revestida por numerosas glândulas mucosas simples; entretanto, em sua extremidade gástrica é em menor grau, na porção inicial do esôfago, existem muitas glândulas mucosas compostas. O muco secretado pelas glândulas compostas na porção superior do esôfago evita a escoriação da mucosa pelos alimentos que aí chegam, enquanto as glândulas compostas próximas à junção gastroesofágica protegem a parede do esôfago da digestão pelos sucos gástricos que refluem para o esôfago inferior. Apesar dessa proteção, pode ocorrer, algumas vezes, úlcera péptica na extremidade gástrica do esôfago.
Referência
Guyton, Arthur C. Tratado de fisiologia médica. 9° ed. Cidade: Guanabara Koogan, ano. p.619 – 620.