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ESFERAS DA INSURREIÇÃO

NOTAS
Suely Rolnik
PARA UMA VIDA NÃO CAFETINADA Suely Rolnik
O Suely Rolnik, 2018

ESFERAS DA
> n-1 edições, 2018
ISBN 978-85-66943-59-7

Embora adote a maioria dos usos editoriais do âmbito


brasileiro, a n-1 edições não segue necessariamente as INSURREIÇÃO
convenções das instituições normativas, pois considera
a edição um trabalho de criação que deve interagir NOTAS PARA UMA VIDA
com a pluralidade de linguagens e a especificidade NÃO CAFETINADA
de cada obra publicada.

COORDENAÇÃO EDITORIAL Peter Pál Pelbart


e Ricardo Muniz Fernandes
DIREÇÃO DE ARTE Ricardo Muniz Fernandes
ASSIS ENTE EDITORIAL Inês Mendonça
PROJETO GRÁFICO Érico Peretta
PREPARAÇÃO E REVISÃO Pedro Taam
IMAGENS Capítulo O inconsciente colonial-capitalístico
Rodrigo Araújo - coletivo BijaRi
IMAGENS/CAPA Grafismos a partir de pintura corporal Guarani

A reprodução parcial deste livro sem fins lucrativos,


para uso privado ou coletivo, em qualquer meio impresso
ou eletrônico, está autorizada, desde que citada a fonte.
Se for necessária a reprodução na íntegra, solicita-se
entrar em contato com os editores.

2º edição | Junho, 2019


La izquierda bajo la piel
Um prólogo para Suely Rolnik
Paul B. Preciado

Estes ensaios de Suely Rolnik nos chegam em meio à névoa


tóxica que nossos modos coletivos de vida produzem sobre
o planeta. Vivemos um momento contrarrevolucionário.
Estamos imersos em uma reforma heteropatriarcal, colonial
e neonacionalista que visa desfazer as conquistas de longos
processos de emancipação operária, sexual e anticolonial dos
últimos séculos. Como já anunciava Félix Guattari em 1978,
Tespirar se tornou tão difícil como conspirar. Se detrás do
brilho da prata de Potosí se ocultava o trabalho exterminador
da mina colonial no século XVI, detrás do brilho das telas se
ocultam hoje as formas mais extremas de dominação neoco-
lonial, tecnológica e subjetiva. A obscura era do pixel poderia
ser inclusive a última, se não conseguirmos inventar novas
formas de equilíbrio entre os mundos do carbono e do silício,
novas modalidades de diálogo entre as entidades subjetivas,
maquínicas, orgânicas, imateriais e minerais do planeta.
Estes textos são como um oráculo que nos fala de nosso
próprio futuro mutilado. Vêm nos recordar que o que esta-
mos vivendo não é um processo natural, mas uma fase a mais
de uma guerra que não cessou: a mesma guerra que levou à
capitalização das áreas de preservação de terras indígenas,
ao confinamento e ao extermínio de todos os corpos cujos
modos de conhecimento ou afecção desafiavam a ordem
disciplinar, à destruição dos saberes populares em benefí-
cio da capitalização científica, à caça às bruxas, à captura de
corpos humanos para serem convertidos em máquinas vivas
da plantação colonial; a mesma guerra na qual lutaram os
revolucionários do Haiti, as cidadãs da França, os proletários análise do “golpe neoliberal” no Brasil, Rolnik chama a aten-
da Comuna, aquela guerra que fez surgir a praia sob os para- ção para à aparição de uma nova e insuspeitada aliança entre ,
lelepípedos das ruas de Paris em 1968, a guerra dos soroposi- o neoliberalismo financeiro e as forças reativas conservadoras
tivos, das profissionais do sexo e das trans no final do século Enquanto, durante os anos 80, se pensava que a extensão do
XX, a guerra do exílio e da migração... | neoliberalismo traria a globalização da democracia, a disso-
Suely Rolnik reuniu aqui três textos elaborados durante lução dos estados-nação e à generalização do multicultura-
os últimos anos que poderiam funcionar como um guia de lismo como modelo de integração social, a atual deriva do
em tempos de contrarrevolução.
, Tesistência micropolítica | neoliberalismo, analisada por Rolnik, deixa antever um hori-
Tive a sorte de escutar e ler muitas versões destes textos, zonte muito mais histriônico. A inesperada aliança das forças

como quem assiste à germinação de um ser vivo. O pensa- — : neoliberais e conservadoras tem a ver com o fato de ambas
mento de Suely, como sua própria prática analítica, tem a =| compartilharem uma mesma moral e um mesmo modelo de*-
qualidade de estar sempre em movimento. O que os leitores À identificação subjetiva: o inconsciente colonial-capitalístico.
têm agora em suas mãos é uma foto da tarefa crítica de Suely Daí que os alvos da nova “perseguição neoliberal às bruxas”
tirada em um momento preciso. Trata-se de um trabalho j sejam os coletivos feministas, homossexuais, transexuais,
aberto, de um arquivo em beta, em constante modificação. indígenas ou negros, que encarnam no imaginário conserva-
O livro, extremamente rico e cuja leitura levará a múltiplas dor a possibilidade de uma autêntica transformação micro-
intervenções críticas e clínicas, poderia ser lido tanto como | política. Se desenha aqui a paisagem que Guatrari e Deleuze
umdiagnóstico micropolítico da atual mutação neoconser- haviam conjecturado como uma terrível e insólita encarnação
) ta financeiro neoliberal quanto
do regime
vadorae nacionalis : dol“fascismo democrático”. Essa é a condição na qual nos
como uma hipótese acerca da derrota da esquerda, no con- — encontramos e na qual temos que imaginar coletivamente
texto não só latino-americano, mas também global. Mas esse novas formas de resistir.
réquiem por uma esquerda macropolítica é acompanhado em ] Suely Rolnik descreve os processos de opressão colonial e
Suely pelo desenho de uma nova esquerda radical: Esferas da | capitalística como(processos de captura da força vital/uma
Insurreição é uma cartografia das práticas micropolíticas de como
captura que reduz a subjetividade a sua experiência
um
: desestabilização das formas dominantes de subjetivação) Í sujeito, neutralizando a complexidade dos efeitos das forças |
| diagrama da esquerda por vir. | do mundo no corpo em benefício da criação de um indivíduo ><
A análise da condição neoliberal que Suely Rolnik leva a | com uma identidade. Esse processo de subjetivação funciona
cabo em dois dos três textos reunidos nesta antologia aparece por repetição e pelo cerceamento das possibilidades de cria-.
como o complemento micropolítico necessárioàs análises São, impedindo a emergência de “mundos virtuais”. O sujeito
macropolíticas que vêm sendo feitas, a partir de distintas colonial moderno é um zumbi que utiliza a maior parte de
perspectivas, por Giorgio Agamben, Naomi Klein, Antonio Sua energia pulsional para produzir sua identidade norma"
Negri, Michel Feher ou Franco Bifo Berardi. Partindo da tiva: angústia, violência, dissociação, opacidade, repetição...

ESFERAS DA INSURREIÇÃOZ LAI ZQUIERDA A BAJO. LA PIEL 18


não são mais do que o preço que a subjetividade colonial- o
e, mais recentemente, com as práticas de reinvenção da
-capitalística paga para poder manter sua hegemonia. Por ssos o "
rania indígena e anticolonial. Todos esses proce
isso, para Rolnik, todo processo revolucionário não é nada ——— Y
zem uma transformação radical das linguagens da
mais do que a introdução de um hiato, de uma diferença A revolução não se reduz a uma apropriação dos meios
e
no processo de subjetivação, de “um corte em outro lugar” ção dos
produção, mas inclui e baseia-se em uma reapropria
da fita de Moebius, para utilizar a expressão de Lygia Clark meios de reprodução - reapropriação, Portanto, do saber-
mobilizada em sua proposta artística Caminhando. Diante da -do-corpo”, da sexualidade, dos afetos, da linguagem, da ima-
máquina de encontrar soluções prêt-a-porter para se refazer ginação e do desejo. A aurêntica fábrica é o meonsciente e,
um contorno subjetivo ou discursivo por meio do consumo portanto, a batalha mais intensa e unia] é micropolítica.
da “marca Lacan”, ou do que Suely chama jocosamente de A partir de sua passagem pela clínica de La Borde e de sua
“desodorante D&G (Deleuze e Guattari)”, a esquizoanálise colaboração com Félix Guattari, Suely Rolnik inicia um dôs
se propõe como um tipo de revolução molecular lentíssima, experimentos esquizoanalíticos mais produtivos das últi-
quase imperceptível, que, no entanto, modifica radicalmente mas décadas, ao levar as perguntas pela economia política
a existência de todo o percebido. do inconsciente, que Jean Oury, François Tosquelles, Frantz
Rolnik entende a condição colonial-capitalística como uma Fanon e Félix Guattari haviam elaborado nos anos imediata-
patologia histórica do inconsciente que funciona por meio mente posteriores à Segunda Guerra Mundial, ao contexto
- de uma micropolítica reativa, contra a qual se desencadeia do desdobramento do neoliberalismo e também das práticas
uma multiplicidade de micropolíticas ativas num processo de descolonização, no final do século XX e em princípios do
constante de transformação planetária. O trabalho de Suely século XXI, na América do Sul. Exilada política e linguística na
Rolnik inspira-se diretamente no conjunto de micropolíticas França durante uma década, sua prática de resistência toma
ativas que surgiram nos anos 60 - 70, tanto no Brasil quanto a forma de um retorno pós-traumático ao Brasil. Voltar ao
na Europa: primeiro nos processos contraculturais de luta Brasil, como fez em sua viagem iniciática com Guattari, assim
antiditatorial no Brasil, dos quais participou em sua juven- que chega ao País, implica em tirar a prática esquizoanalítica
tude e que a levaram à prisão. Depois, em sua passagem por do contexto institucional e clínico do velho continente colo-
Paris, Rolnik entrou em contato com a multiplicidade de nial europeu para lançá-la ao magma da vida em seu processo
movimentos críticos e ativistas, desdobramentos das revoltas de recolonização e descolonização na América do Sul. Rolnik
de Maio de 68, e mais especialmente com a prática clínico- desterritorializa a própria prática esquizoanalítica levando-a
-política de Félix Guattari, com os processos de experimen- em duas direções aparentemente contraditórias, mas que na
tação institucional na prisão e no hospital, assim como com realidade estão subterraneamente conectadas.
o movimento de alternativas à psiquiatria. Mais tarde, depois De um lado, o retorno de Suely Rolnik ao Brasil permite
de seu retorno ao Brasil, Rolnik elabora sua prática crítica em Conectar o discurso psicanalítico com as linguagens e as prá-
diálogo com o movimento internacional de resistência na arte ticas contemporâneas da descolonização. A psicologia, afirma

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SS

”,
a de “saber-do-corpo
Rolnik, pertence ao dispositivo colonial-capitalístico: nasceu Ivimento do que cham te das
ão rentemen
vivente. DifeDo
ão o dedare condiç
eo d e , saà con dicçiçã
historicamente como uma narrativa e uma técnica que legi- o sab er de nos g Dê eo
eit as de fel ici dad es instantâneas e do fee
timava e naturalizava os modos dominantes de subjetivação. Tec ropolítica é “sustents
:
A psicologia do eu é nada mais e nada menos que a ciência ibilidade de resistência mic rod u |
jetivação a int
do inconsciente colonial-capitalístico, e suas práticas, apa- cs » que gera nos processos de sub
uma mudança. E SS
rentemente terapêuticas, não são senão sofisticados dispo- Oo, diferença, uma ruptura, !
' ais rupturas supõem: resist
sitivos micropolíticos reativos. No Brasil, fica evidente que — ita lís tic a
Subjetividade colonial-cap
é a própria tradição psicológica, surgida no centro dos impé- e e sda nte
interpreta O mal-esta! a
rios coloniais e patriarcais europeus, que, estando atraves- cida ao sujeito, |
ega ção e o tra nsf orm a em angústia, em To
sada desde suas origens por estruturas de opressão colonial E. desagr e eeenrado
de acordo com um .
e sexual, necessita de um duplo processo de descolonizaçãoe deve ser diagnosticado ruso
medicamento e, fina DO
de despatriarcalização. Para Rolnik, essa dimensão normativa mentais, tratado com Saio
ma. Para Suely, es
nor
da psicologia afeta inclusive a própria psicanálise, que, apesar em favor da reprodução da dos racao
mal -es tar em ang úst ia e = A
de ter surgido como uma contraciência que, diferentemente do se —
o da comp!exie
da psicologia, reconecta a subjetividade com os efeitos das reitera e naturaliza a reduçã i
celando ainda mais
forças do mundo no corpo e a leva à reapropriação da lin- ietivação ao “sujeito”, can
eransfiguraõoM “" =
guagem desde esses afetos, opera, com raras e belas exce- — Dossibilidades de “criação
o — —
ções, como uma prática micropolítica reativa. Uma prática lução esquizoanalítica que |
tiv a do mal -es tar par a permitir
que, como nos mostram Deleuze e Guattari, contribui com a ria s.
buscam amenos am &« N
expropriação da produtividade do inconsciente para subme- Taundos. Estes textos não : sã
erminação, a c
tê-lo ao teatro dos fantasmas edípicos. Por isso, para Rolnik, tar a exclusão, o exílio, a ext e, mas,
numa esquerda ready mad
descolonizar a psicanálise passa pela ativação da força micro- :al, ou nos devolver a fé d
ender a natureza e
política que a habitava em sua fundação, pela mobilização de .. eemendera nos fazer ent e:
nos ajudar a entrar n E as ent
sua potência clandestina. do mal-estar que nos habita:
poder imaginar estratég,
e permanecer ali juntos, para
A prática de Suely Rolnik se destaca diante das psicologias ão. Luilleva de sua pas-
do sujeito e da identidade. Trata-se aqui da construção de tivas de fuga e de transfiguraç
Suely Rolni PANA
um relato autocrítico, reflexivo, capaz de tornar visíveis as A segunda aprendizagem que oulho
retorno para o o
sagem por La Borde e de seu
relações de poder colonial e sexual que permitiram o estabe- como um lugar de rabaão
lecimento da psicanálise como “ciência do inconsciente” e ção da cena da criação artística
ta aqui, em se
micropolítico e clínico. Não se tra
prática clínica. Frente a elas, Suely aposta numa prática ana- , do que poderíamos aonom
lítica que funcione como uma política de subjetivação dissi- “arte terapia”, mas, ao contrário tica Clin)
er que a prá
nar de “terapia arte”, de entend
dente, permitindo a reapropriação da potência vital de criação

ESFERAS DA INSURREIÇÃO
(«“ HÁ
termos mlI :
| icro-
t tar com os
entara á apon
is Foucault
ser feita como uma prática artística, ou seja, de forma sem- de Pp sen t ido, a
que . ' Nesse
mais
ai r rde,
ta “piopoder”
” e,
pre experimental, apelando à transformação da sensibilidade | ica do " odder c
fís
ítica re resenta uma
s ver-
& Pp
e da representação, inventando em cada caso os protocolos micropo
porta que seja| em
sua
o
noção de
ic io na l (p ou co :
im
necessários que permitem renomear, sentir e perceber o squerda trad o cons! i
ã sta
sta , leninista, trotskista ou socialista)
mundo. Sua colaboração com artistas (especialmente com a A e inarsd como O momen
líticas de produção
artista brasileira Lygia Clark e com os artistas colombianos -modificação das po : ; ; íticas de
social, deixando as políticas É
do Mapa Teatro) e com aqueles que produzem pensamento Eprio ritário da transformação no. Daí í o ro mp imen a
oto
em segundo pla
e ação micropolíticos no interior do sistema de arte ou no produção da vida homossexuais, anticoto
mo vi me nt os feministas, eestões:
Para a esquerda, as qu
âmbito da luta dos indígenas na América Latina (como o bra- o.
“entre OS
qu er da tra ion
ici
dic al.
sileiro Ailton Krenak e o paraguaio Ticio Escobar) constitui ais e a es ansexualidade, do euso
, da ho mo ss exualidade,: da tran:
não só instâncias de reinvenção da psicanálise, mas também feminist
É as alizadas de poder, .
das relações raci
do que entendemos por arte, teatro e política. Dissolve-se de drogas, e também à questoÕes se cundá-
díígegena, são
to s pe la so be ra niaa in
ind
: confliit
dos classe s. Suel Yy
aqui a oposição clássica entre teoria e prática, poéticae polí-
fre nte à ve rd ad ei ra , honrosa e viririil luta de
tica, representação e ação. Esse movimento não deve ser lido rias que não há possibilid
ade
ação e afirma
Rolnik inverte essa rel sem o a modi- ? |.
como um gesto de expansão dos territórios clínicos, mas
tr an sf or ma çã o das estruturas de gover no p—

como o próprio lugar onde a transformação micropolítica do de uma produção E


os micropolíticos de
|

fic açã o dos di sp os it iv olí >


j

inconsciente acontece. ào de mi cr op
a ain i da maisi à noçã
política que não con- jetividade. Ela radicaliz stê êmico
epiist
Todo processo de transformação
et en do -a pri mei ro a um aprofundamento
temple a descolonização do inconsciente está, adverte-nos subm tato com estaàs nãofor-
es âmbi tos ' em cono
que surge ao colocar ess e corp:
tt
Suely, condenadoà repetição (inclusive quando há desloca- que família, sexual1da! e
ças do inconsciente. Daí anato ômiceas,
mento) das formas de opressão. Suely continua aqui a tarefa
si mp le sm en te ins tituições ou rea lidades A
de Guattari de cartografar uma multidão de revoluções mole- sej am
s fei tas de afe tos e pe rceptos
idinai
mas autênticas tramas lib rica
culares que se produzem no nível da economia do desejo. Um
pa m ao âmb ito da con sciência individual.
que esca cropo
dos pontos fortes destes ensaios é que não devemos esperar a crítica descolonial ma
Do mesmo modo que raiis, Rolniki alerta -nos
a chegada messiânica “da revolução”, mas implicar-nos cons- recursos nat atu
ura
fala do extrativismo de e J&
, tantemente numa multiplicidade heterogênea de processos eral dos rece ursosspedo
para o extrativiivi smo co lonial e neo lib iso
— micropolíticos revolucionários. “Micropolítica” E O nome que e - a pulsão vital, a ee o -
inconsciente e da subjetividad
—Guattari deu, nos anos 60, àqueles âmbitos que, por serem afeto... Inspirada pelas pol!
o desejo, a imaginação, O m ” esse dispo- ,
considerados relativos à “vida privada” no modo de subjeti- , Sue ly de no mina
ina geem
“ cafetiinnaag
trabal ho sex ual
cap!”italismo :
vação dominante, ficaram excluídos da ação reflexiva e mili-
sitivo de extração da pulsão ão vitvi al que16 opera no
tante nas políticas da esquerda tradicional: a sexualidade, a seguindo Freud, ch ama de |
família, os afetos, o cuidado, o corpo, o íntimo. Tudo isso
colonial capturando o que ela,

LA IZQUIERDA BAJO LA P!EL


ESFERAS DA INSURREIÇÃO
“pulsão de vida” e o que eu denominei, em outros textos, larva que cresce no esterc À ulação i
o: a ond
m o uma pelíssima conta:
seu pensamento, seu riso
seguindo Espinosa, “potentia gaudendi”) Enquanto a esquerda E suavidade aveludada de rar nas
o lhe permite ent
.

se mantém atenta aos processos de expropriação da força de a falta de vergonha e de med


E.
trabalho e da acumulação de capital, ela segue ignorando os obscuras
camadas mais : É :
processos de captura da “potentia gaudendi”. No entanto, o ue mais no :
guiai r nos lugares q coletiva. Suely Yy
capitalismo mundial integrado, havendo já devastado quase uir um horizonte de vida
co m o que constr
vagem, uma freudiana ransiê
por completo as forças materiais do planeta, dirige-se agora Rolnik é uma espinosista sel
ginário, uma indigenista quee
à expropriação total de nossas forças inconscientes. É por minista, uma arqueóloga do ima
no passado) a origem de Ss
isso que os processos históricos de emancipação da esquerda que busca no futuro (e não
éria é a pulsão: Uma em va
só podem sobreviver agora se, também e junto com sua luta história, uma artista cuja mat se
erda bajo la piel”. o
macropolítica, aceitarem o desafio do trabalho micropolítico. dora dos bichos-da-seda da “izqui cartogra ara
Em segundo lugar, Suely submete a noção de micropolí- pode pedir mais de uma escritora: devir-larva,
uma
com que outro cartografaria
tica a um processo de descolonização que sacode e altera lama com a mesma precisão
, adentrem com essa o no
. as posições tradicionais de natureza e cultura, de sujeito e mina de ouro. Por isso, leitores o
mens da vida que, ain
objeto, de masculinidade e feminilidade, de homem e animal, magma da besta e busquem os gér
, com uma torção do olhar,
de dentro e de fora. Poderíamos dizer que ela aponta assim a desconheçam, os rodeiam, e que
propria vida.
existência de outra esquerda e, cruzando as coordenadas, nos poderiam ser seus - poderia ser sua
orienta em direção a uma política do subsolo, subterrânea,
Arles, maio de 2018
uma política sob a pele, sob a terra, uma esquerda clorofílica
ou telepática, ali onde a planta e o pensamento se conectam
Josy Panão
através da imagem ou da poção. * Traduzido para o português por
A prática de Suely Rolnik consiste em lançar o divã na praça
pública, em levá-lo ao ateliê do artista, em colocá-lo no meio

plo processo de desindividuação (não de dessingularização),


de politização é de devir-público do divã. É assim que o divã
freudiano-lacaniano se desfaz e muda, entrando num processo
infinito de transfiguração: divã-cartaz, divá-cama, divá-museu,
divãá-poção, divá-parlamento, divá-ritual, divá-texto, divã- ...
Poderia lhes falar de minha experiência de leitura durante
horas, mas devo me calar para deixá-los ler. Esta é a última
coisa e o mais necessário que quero lhes dizer: este livro é

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ESFERAS DA INSURREIÇÃO LA IZQUIERDA BAJO LA PIEL

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