Você está na página 1de 73

2009

2010

Biofísica Celular
3º Ano 1º Semestre
Bioquímica FCTUC

Dactilografado por CMTC


Bioquímica

Biofísica Celular 2009 – 2010

Índice Página

Tema 1 – Polaridade da Água e de Biomoléculas ---------------------------------------------------- 3

Tema 2 – Difusão e Permeabilidade Membranar ---------------------------------------------------- 7

Tema 3 – Origem do Potencial de Membrana em Repouso ---------------------------------------- 16

Tema 4 – Transporte activo: Bombas e Trocadores ------------------------------------------------- 23

Tema 5 – Transdução de Sinais ------------------------------------------------------------------------ 30

Tema 6 – Canais Iónicos -------------------------------------------------------------------------------- 40

Tema 7 – Electrogénese da excitabilidade celular e propagação de sinais eléctricos ------------ 55

2
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Tema 1 – Polaridade da Água e de


Biomoléculas
Membrana Organelos
Plasmática
Célula
Citoplasma Citoesqueleto

Citosol

Tudo o que existe na célula funciona de modo a manter a homeostase. As células


apresentam assim trabalho químico, osmótico, mecânico e eléctrico.

Membrana Plasmática
Compartimentalização – A membrana plasmática permite a divisão entre os meios extracelular e
intracelular;

Transporte – A membrana apresenta transportadores que permitem a incorporação de moléculas;


Reconhecimento – A membrana possui receptores que permitem o reconhecimento de várias
moléculas;
Excitabilidade – Na membrana existem canais iónicos que permitem a sua excitabilidade.

A membrana permite ainda à célula ter capacidade de realizar endocitose e exocitose, sendo
que existem proteínas na membrana que possuem actividade enzimática.

Citosol
O citosol permite a solubilização e acumulação de iões e moléculas polares pois possui uma
grande quantidade de água. O citosol permite a existência de gradientes entre locais dlimitados por
uma bicamada lipídica (por exemplo o gradiente de Ca2+ entre o citosol e o Reticulo
Endoplasmático).

No Músculo
Iões Meio Intracelular Meio Extracelular
(mM) (mM)
Na+ 10 120
K+ 140 2,5
Cl- 3-4 120
Ca2+ <10-3 2
A presença de proteínas carregadas negativamente no meio intracelular ([A-] = 140mM)faz
com que exista uma elevada pressão osmótica no interior da célula. Por esta razão a concentração
de sódio extracelular é muito elevada em relação ao meio intracelular, sendo que a membrana

3
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

celular é pouco permeável ao sódio. A concentração de sódio extracelular funciona assim como um
compensador osmótico.

A concentração de cloreto extracelular é muito maior que a intracelular, o que vai


compensar as cargas negativas existentes nas proteínas do meio intracelular. A este efeito de
compensação dá-se o nome de efeito de Donnan.

A concentração de Ca2+ intracelular é muito baixa, pois o Ca2+ é um segundo mensageiro


intracelular e qualquer alteração da concentração deste ião no interior da célula, por mais pequena
que seja, tem de ser sentida por esta.

Polaridade da Água e Biomoléculas


A polaridade de uma molécula está ligada às diferenças de electronegatividade, isto é, à
tendência dos átomos de, numa ligação covalente, atraírem para si os electrões. Assim, a ligação de
tipo O-H é polar, visto que os electrões da ligação tendem a passar mais tempo nas vizinhanças do
Oxigénio. Ocorre polarização da ligação.

Como os electrões estão mais deslocados para o Oxigénio, admite-se a existência de um


dípolo. Todas as ligações entre heteroátomos são polares, sendo a polaridade proporcional às
diferenças de electronegatividade.

Pode-se quantificar a polaridade de uma ligação através de uma grandeza vectorial, o momento
dipolar permanente (μ):

q – carga dos átomos ou partículas envolvidas


d – distância vectorial entre ambas as partículas

Ex: um electrão e um protão à distância de 0,1 nm têm:

O valor de μ = 4,8D é o valor para o desdobramento total das cargas.

Na água:

Na água, ou em outras moléculas, o momento dipolar permanente é dado


pela soma vectorial dos momentos dipolares de cada ligação. Assim μH20 =
1,85D, que é um momento dipolar muito grande, o que permite a
solubilização dos vários iões. A água possui um momento dipolar
permanente muito maior do que o de outras moléculas que poderiam,
hipoteticamente, suportar a vida.

É imperativo que exista na célula um bom solvente polar pois só assim é possível diminuir
as interacções electroestáticas provocadas pelos iões e outras moléculas carregadas. A água por ter

4
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

um momento polar permanente, vai funcionar como o solvente ideal, sendo também um bom
dieléctrico.

Se colocarmos Na+ e Cl- num hipotético “vácuo aquoso”, ocorreria a sua associação em
NaCl, pois não existiriam forças que contrariassem este processo. Na célula isto não pode ocorrer
por razoes óbvias.

No vácuo ocorreria o seguinte processo:

Na+ + Cl-  NaCl

Mas em solução aquosa o que ocorre é o seguinte:

A água vai funcionar como dieléctrico,


reduzindo as forças electrostáticas entre os iões
ao orientar-se de acordo com o campo eléctrico
criado por estes.

Ocorre então a polarização do dieléctrico (H2O) por acção de um campo eléctrico (par Na+/Cl-).
Falamos então em P, polarização do dieléctrico, que é o momento dipolar médio por unidade de
Volume. A ocorrência da polarização do dieléctrico reduz a força do campo eléctrico (E) em
qualquer ponto do dieléctrico.

Lei de Coulomb
A força electrostática entre duas partículas é dada pela lei de Coulomb.

No vácuo,
ε0 – permissividade do vazio (=1)
d – distância entre as duas partículas
q – carga de cada uma das partículas

Em solução,
ε – permissividade do meio
d – distância entre as duas partículas
q – carga de cada uma das partículas

A força de atracção electroestática entre as cargas (força efectiva) é diminuída, quando em


comparação com o vácuo, devido à presença do dielétrico (H2O). Isto acontece pois ε > ε0
(sempre que o dielétrico tem momento dipolar permanente), o que implica que F < F0.

Lei de Coulomb para o par Na+/Cl- num dieléctrico.

Onde εr é a constante dieléctrica, sendo que esta constante reflecte a atenuação da


intensidade do campo eléctrico, isto é, relecte a atenuação das forças electrostáticas entre os iões ou
partículas carregadas, e relaciona ε com ε0, sendo igual a:
𝜺
𝜺𝒓 =
𝜺𝟎

5
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Comparação da Água com o Benzeno

Molécula μperm εr
Benzeno 0 2,28
Água 1,85 78,5
Verifica-se que mesmo para compostos com momento dipolar nulo, ou seja, momento
dipolar permanente igual a zero, existe uma constante dieléctrica εr (caso do Benzeno). Isto deve-se
ao facto de existir um momento dipolar induzido (μind), que aparece devido á ocorrência de
deformações na distribuição das moléculas devido à presença de um campo eléctrico.

O benzeno é uma molécula simétrica pelo que possui um momento


dipolar permanente igual a zero. Contudo o benzeno possui electrões nas
orbitais π, que quando sujeitos a um campo eléctrico formam um dipolo
induzido.

Sabe-se ainda que:

Onde α é a polarizabilidade da molécula.

Assim é mais correcto afirmar que εr é directamente proporcional ao momento dipolar total, que
é dado por:

𝝁 = 𝝁𝒑𝒆𝒓𝒎 + 𝝁𝒊𝒏𝒅

E onde regra geral μperm tem uma maior contribuição para μ.

EM SUMA

A constante dieléctrica reflecte a diminuição do campo eléctrico entre dois pontos criados
por uma molécula que apresente polarização (momento dipolar), quer permanente criado pela
orientação, quer por indução.

Se εr  F  E diminui.

6
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Tema 2 – Difusão e Permeabilidade


Membranar
Imagine-se um tubo em que num certo ponto deste se injecta um gás.

Ao fim de algum tempo as partículas distribuem-se ao longo do tubo para ambos os lados da
injecção.

As partículas vão efectuar um Movimento Browniano, ou seja, vão mivimentar-se ao


aleatoriamente apenas pela sua própria agitação térmica. Como existem também mais moléculas nas
zonas mais concentradas, a probabilidade das moléculas migrarem para regiões onde a sua
concentração é mais baixa, é maior. Por isso, se se seccionar o tubo, vamos verificar a ocorrência de
gradientes de concentração, ou seja, vão existir diferentes concentrações da molécula nas diferentes
secções do tubo.

Para determinar o número de partículas em cada secção utiliza-se uma derivada e define-se
a grandeza de Fluxo (J). Esta grandeza é a quantidade de matéria que flui por unidade de área e por
unidade de tempo, ou seja,

𝒅𝑵
𝑱∝
𝒅𝒛
Onde N é o número de partículas por unidade de volume, e z é a secção do plano. Assim sendo, o
fluxo de partículas num meio homogéneo é dado por:

O fluxo é medido em todos os planos do


1 – Logo após a injecção; tubo e obtém-se uma função decrescente
2 – Após algum tempo da pois há medida que nos afastamos do
injecção; ponto de injecção, o número de
3 – Quando o sistema está moléculas que está no plano diminui.
em equilíbrio.

Obtém-se a primeira Lei da Difusão de Fick.

Como a o número de partículas vai diminuindo ao longo do tubo, a derivada dá um valor


negativo, assim colocamos o sinal – (menos) na expressão para tornar o fluxo uma grandeza
positiva.

7
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

O coeficiente de difusão é introduzido, visto que as diferentes moléculas não se difundem


todas do mesmo modo. Assim este coeficiente reflecte a maior ou menor tendência que as
moléculas terão para se difundirem.

Na fase condensada (por exemplo em solução), a primeira Lei de Fick é enunciada da


seguinte forma:

Todos estes aspectos aplicam-se à difusão simples.

As equações que traduzem a primeira Lei de Fick não têm em conta o aspecto temporal.
Para incluir este aspecto obteve-se a Segunda Lei da difusão de Fick.

Sendo A área da base do tubo e n0 o número total de moléculas de açúcar.

𝒙𝟐
𝒙𝟐 −𝟒𝑫𝒕
𝒏𝟎 𝑪𝑨 𝒆
𝑪= 𝒆−𝟒𝑫𝒕 ⇔ =
𝑨√𝝅𝑫𝒕 𝒏𝟎 √𝝅𝑫𝒕

Quanto maior Dt, menor será a difusão de concentração entre dois pontos (maior será a
uniformização da matéria). Quanto maior a área superficial, maior será a diferença de concentração
entre dois pontos (x).

Para casos mais simples de difusão unidireccional, pode-se usar a equação:

Onde <x2> é o quadrado médio da distancia percorrida por


difusão, D é o coeficiente de difusão e δt é o lapso de tempo
difusional.

Ex. 1: Difusão da Glicose dos capilares para os tecidos.

Apresenta um lapso de tempo difusional de


aproximadamente 70ms, que é um tempo bastante
pequeno e como tal compatível com o processo e
com a manutenção da vida. A passagem da glicose
pode ser por difusão simples.

8
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Ex. 2: Num neurónio como é que ocorre preferencialmente a absorção de Glicose?

Para este neurónio, o transporte de


glicose por difusão simples desde o
corpo do neurónio até 1 cm do
axónio tem um lapso de tempo
difusional de 21h, o que sugere que
há transporte de glicose por difusão facilitada, não só no corpo do neurónio, como também ao
longo do axónio, sendo este transporte tanto maior, quanto maior for o axónio.

Como a dependência do tempo pela distância é quadrática, pode-se afirmar que a difusão é
um processo rápido á escala microscópica, mas bastante lento á escala macroscópica.

Difusão através de uma Barreira Permeável ao soluto e ao solvente

C1 diferente de C2

A barreira pode ser por exemplo papel de filtro

Para determinar o fluxo de partículas, considera-se um perfil linear da variação da


concentração de soluto na barreira:

Considera-se que a barreira tem uma


espessura infinitesimal.

O fluxo é dado pela equação:

Difusão Simples através da Bicamada Lipídica

Imaginando uma membrana de espessura infinitesimal que separa duas


zonas de concentrações de uma determinada molécula (C1 > C2), a
passagem desta molécula através da membrana é também descrita pela
lei de Fick.

Contudo, assumimos assim que todas as moléculas ou iões possuem o


mesmo comportamento ao passar pela bicamada lipídica, o que sabemos
que não é verdade.

Assim, partindo do princípio que cada molécula tem


uma diferente afinidade pela membrana, os valores de k1 e k-1 são

alterados, sendo introduzido na equação o coeficiente de partição


(considerando (2) o passo determinante).

9
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Qual destes três factores (Dm, K ou δ) é mais importante para Pm?

δ – Nos vários tipos de células o tamanho da membrana é semelhante, pelo que não será o
que mais influencia a permeabilidade membranar.

Dm – tendo em conta a equação de Stokes-Einstein,

𝒌𝑻
𝑫𝒎 =
𝟔𝝅𝜼𝒂

Onde k é a constante de Boltzmann, T é a temperatura absoluta, η é a viscosidade e a o raio da


partícula hidratada, para uma mesma membrana, o que vai determinar se uma molécula tem maior
Dm (e por conseguinte maior Pm) do que outra será a viscosidade e o raio da partícula hidratada.

↑η  ↓Dm ; ↑a  ↓Pm

Polaridade da molécula e K

[𝑺𝒐𝒍𝒖𝒕𝒐 𝒏𝒂 𝒇𝒂𝒔𝒆 𝒍𝒊𝒑í𝒅𝒊𝒄𝒂]


𝑲=
[𝑺𝒐𝒍𝒖𝒕𝒐 𝒏𝒂 𝒇𝒂𝒔𝒆 𝒂𝒒𝒖𝒐𝒔𝒂]

Se uma molécula é muito polar será pouco lipofilica, tendo portanto um baixo coeficiente
de partição. Assim quanto maior a polaridade, menor K e por conseguinte menor Pm.

Mas qual dos dois factores, K ou Dm, influencia mais?

 Comparando duas moléculas semelhantes, Uretano e Glicerol:

Estas duas moléculas têm tamanhos muito semelhantes, contudo o Uretano é aproximadamente 4x
menos viscoso que o glicerol, assim:

Dm(Glicerol) = 1/4 Dm(Uretano)

E como tal o Glicerol possuiria um Pm 4x menor que o Pm do Uretano, isto se a permeabilidade


Pm dependesse de Dm.

Verifica-se contudo que a permeabilidade do Uretano é cerca de 1000x maior que a do


Glicerol, e como tal o factor principal nunca poderá ser Dm mas sim K, pelo que a
permeabilidade depende principalmente do Coeficiente de Partição (K) das moléculas
entre a fase lipídica e a fase aquosa.

10
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Determinar experimentalmente:

Pm  com rádioisotopos verifica-se a velocidade de passagem de moléculas pela membrana.

K  Usar diversos meios lipídicos para simular a membrana

Ex: Utiliza-se um lípido (ex: azeite) para simular a bicamada. De seguida coloca-se num balão de
decantação água, azeite, e o soluto do qual se pretende K. Agita-se o balão e deixa-se repousar, para
que o soluto difunda. Retira-se a água e por um processo analítica determina-se a concentração de
soluto na fase aquosa.

δ  É determinado por microscopia molecular, ou por medição da capacidade eléctrica da


membrana.
Caso da Água

A molécula de água possui um Pm


elevado, o que não era de esperar uma vez que
estamolécula possui um elevado momento
dipolar permanente (é polar).

A correlação entre K e Pm serve para


moléculas com um peso molecular considerável.

A molécula de água é muit pequena,


comportando-se como um gás, espaçando assim
pelos interstícios da célula.

Transporte Mediado

Existem compostos que têm uma permeabilidade muito baixa. Isto leva a que existam na
membrana celular um grande número de transportadores (proteínas e ionóforos) que permitem a
passagem de moléculas para o interior da célula.

Existem dois tipos principais de transporte mediado:

Difusão facilitada – transporte de acordo com o gradiente de electroquímico;


Transporte activo – transporte contra o gradiente electroquímico com gasto de energia.

Quando falamos de gradiente em transporte mediado, falamos de gradiente electroquímico e não


apenas de gradiente de concentrações, pois também ocorre transporte de partículas carregadas (por
exemplo iões).

Transporte mediado e Cinética

No transporte mediado obtemos gráficos como o seguinte:

No transporte mediado atinge-se um plateu, uma vez que ocorre a


saturação dos transportadores da membrana. O transporte mediado
tem portanto uma cinética de Michaelis-Menten. 𝑆 + 𝐸 ⇄
𝐸−𝑆 → 𝐸+𝑃
[𝑺]
𝒗 = 𝑽𝒎á𝒙 = 𝑺 + 𝑲𝒎
onde Km traduz a afinidade entre a molécula e
o transportador, e Vmáx traduz a capacidade do processo.

11
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Através do recurso a gráficos deste tipo, podemos numa experiencia simples, distinguir se o
transporte de uma dada molécula é feito por difusão simples ou transporte mediado.

Factores que afectam o transporte mediado

 Concentração (tanto de transportadores como das moléculas);


 Afinidade do transportador para a molécula;
 Velocidade de alteração conformacional do transportador (turnover), se esta existir.

Difusão Facilitada

Um exemplo de difusão facilitada é dado pelos transportadores de glicose que existem


praticamente em todas as células. Estes existem em diversas isoformas que variam entre si em
quatro pontos principais: Km, Vmáx, Regulação e Localização.

Ex:

Glut-1 – Existe no cérebro e nos eritrócitos;


Glut-2 – Existe no fígado (hepatócitos) e nas células-β pancreáticas;
Glut-3 – Está presente no metabolismo basal do cérebro;
Glut-4 – É o transportador de glicose do músculo-esquelético e cardíaco, e do tecido adiposo.
Este transportador é sensível à insulina;
Glut-5 – Responsável pela absorção de glicose no intestino delgado.

Comparação do Glut-1 vs. Glut-2

Glut-1 Glut-2

tem menor Km tem maior Km

Está localizado no cérebro, logo Precisa de ser activado quando


é necessário o reconhecimento ocorrerm grandes variações da
de glicose mesmo para baixas concentração de glicose no sangue
concentrações desta. Assim vai (da ordem do mM) como por exemplo
ter uma grande afinidade para após uma refeição. Não necessita de
a Glicose. ter tanta afinidade para a glicose.

Estes transportadores, para além de permitirem o transporte de D-Glicose, transportam


também outras hexoses, como por exemplo a D-Manose ou a D-Galactose, ou ainda pentoses,
como a D-Xilose, a L-Arabinose ou a D-Ribose. Estes transportadores são esteroespecíficos, pelo
que não permitem a entrada da grande maioria dos isómeros L. Ao nível da inibição, os próprios
substratos actuam como inibidores competitivos, enquanto moléculas como a Citocalasina B
e Floretina actuam como inibidores não competitivos.

12
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Glut-4

O Glut-4 é o único transportador de glicose com possui regulação hormonal. Este


transportador é muito importante na homeostasia da glicose na corrente sanguínea uma vez que os
adipócitos e o músculo-esquelético representam a grande maioria da massa corporal.

O armazenamento de Glicose nas células dá-se na forma de Glicogénio, sendo que os


órgãos onde este armazenamento tem maior relevância são o fígado e o músculo-esquelético (no
músculo o glicogénio armazenado é para uso interno exclusivo).

Fase após uma refeição – Período pós Prandial

O aumento dos níveis de glicose no sangue leva a que esta seja captada e utilizada pelas
células para a glicólise e para a produção de glicogénio. Nesta altura os níveis de insulina são
elevados, pelo que esta vai-se ligar nos seus receptores específicos nas membranas das células.
Quando esta ligação ocorre, os Glut-4, que estão armazenados em vesículas no interior das células,
migram para a membrana, ficando integrados nesta devido à fusão das vesículas com a membrana.
Uma vez na superfície da membrana, os Glut-4 começam a incorporar Glicose.

A insulina liga-
se nos seus Glut-4
incorporados Uptake de
↑[Glicose] ↑[Insulina] Glicose
receptores
específicos na Membrana

Quando a insulina se desliga dos seus receptores, as


vesículas de armazenamento do Glut-4 formam-se novamente
por endocitose.

A este processo dá-se o nome de regulação por


recrutamento de transportadores para a membrana., sendo
que este é um processo rápido (ocorre em minutos), não
requer a síntese de novos transportadores, e é um processo
essencial para a homeostasia da Glicose.

Constituição dos Glut-4

Os Glut-4 são geralmente constituídos por 12 segmentos transmembranares, sendo que


apenas cinco permitem obter as faces hidrofílica e hidrofóbica.

13
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Experiências realizadas com o Glut-4 para obter informações sobre a translocação


para a membrana

Foi adicionada proteína verde fluorescnte (GFP) no terminal carboxílico do Glut-4, sendo
que este fica na face citoplasmática da membrana. Foi também introduzido um TAG entre os
segmentos I e II, sendo que este TAG vai ficar voltado para o meio extracelular. O TAG era um
segmento polipeptídico (Myc), que é reconhecido por um anticorpo específico.

Na Situação de Repouso

Verifica-se a emissão de fluorescência


verde (GFP) ou vermelha (após o tratamento
das células com um anticorpo secundário) em
vários pontos do citoplasma.

Após a estimulação com Insulina

Verifica-se a emissão de fluorescência


verde e vermelha na membrana plasmática, ou
seja, o Glut-4 foi translocado para a membrana.

Difusão Facilitada de Iões


𝑫𝑲
Viu-se anteriormente que 𝑱 = 𝑷∆𝑪, e que para espécies não iónicas, que 𝑷 = .
𝜹
Contudo, para iões temos que:
𝝁𝑹𝑻
𝑫=
𝒛𝑭
Em que R é a constante dos Gases perfeitos, T é a temperatura absoluta em Kelvin, z é a carga do
ião, F é a constante de Faraday e μ é a mobilidade do ião em m2.s-1.v-1, e que é dada por
𝑺 = 𝒖𝑬
Sendo S a velocidade do ião em solução, e E o campo eléctrico.

Na membrana plasmática u e K são aproximadamente zero,


pelo que é bastante difícil aos iões passarem através dela. No entanto é
possível aumentar u e K, recorrendo a canais iónicos (fisiologicamente)
ou a ionóforos (artificialmente). Um exemplo de um Ionóforo é a
Valinomicina, que é um antibioótico macrocíclico polipeptídico de
aminoácidos D e L, de tal forma que os grupos carbonilo estão
voltados para o interior formando uma bolsa hidrofílica, enquanto as
cadeias laterais estão voltadas para o exterior, formando uma zona
hidrofóbica, o que permite a passagem deste composto pela membrana. O poro no interior da
valinomicina tem o tamanho ideal para captar iões K+, permitindo a sua entrada na célula.

14
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Porque é que a Valinomicina tem uma constante de formação maior para o K+ do que para
o Na+?

O ião na cavidade da valinomicina interage com os grupos carbonilo dos aminoácidos. Pela
Lai de Coulomb:

Se a distância entre as duas cargas for menor, o que acontece com o K+ uma vez que tem
maior raio iónico, a força que estabelece entre o ião e os grupos carbonilo da valinomicina será
maior. Como o Na+, possui um raio iónico menor, a distância entre o ião e os grupos carbonilo da
valinomicina vai ser maior, logo a força de ligação vai ser menor. A força é inversamente
proporcional ao quadrado da distância.

Exemplo de Ionóforo em Bactérias

Gramicidina A – forma canais ao longo de toda a membrana plasmática, permitindo a


entrada de iões, com diferentes afinidades. É constistuído por dois hemicanais ligados topo a topo,
por ligações de H. Tem uma grande afinidade para H+ e outros catiões.

Como ionóforos canais temos ainda a Nistatina que é especíca para catiões monovalentes e
aniões, e Alamectina, que é específica para Na+, K+ e Cl-.

Outros exemplos de ionóforos são os desacopladores mitocondriais FCCP e DNP, que


captam protões no espaço intermembranar das mitocôndrias e levam-nos para a matriz
mitocondrial, levando assim à dissipação do gradiente protónico.

15
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Tema 3 – Origem do Potencial de Repouso


da Membrana
Existe uma distribuição de cargas desigual no interior e no exterior da célula, o que gera
uma diferença de potencial designada por Potencial de Membrana (Em).

𝑬𝒎 = 𝑬𝒊 − 𝑬𝒐

Onde Ei é o potencial intracelular ou citosólico, e Eo é o potencial extracelular.

Em condições de repouso o potencial de membrana Em situa-se entre os -90 e os -60mV,


estando a membrana hiperpolarizada.

Podemos medir o potencial de membrana de duas maneiras:

1  Usando dois microeléctrodos, um no interior e outro no exterior da célula, calculando assim


Ei e Eo.

2  Usando um microeléctrodo no interior da célula, e efectuar um contacto cm a terra do meio


extracelular. Neste caso,

𝑬𝒐 = 𝟎 ⇒ 𝑬𝒎 = 𝑬𝒊

Para preparar os microeléctrodos, coloca-se um tubo de vidro com ±2 mm de diâmetro


num esticador de pipetas (com um sistema incandescente). A pipeta vai então esticando e o deu
diâmetro vai diminuindo até ao diâmetro de 0,1μm. É então necessário encher o microeléctrodo
com um electrólito, sendo este passo realizado por inserção da pipeta numa solução electrolítica,
ficando esta cheia por capilaridade. Electrólito é normalmente uma solução de KCl 3M, pois tanto
o K+ como o Cl- existem abundantemente no citoplasma, não havendo problema se ocorrer fuga de
electrólito.

Membrana como Circuito RC

1ª Versão - Membrana celular vista como uma resistência, em


que o fluxo de iões apenas se dá por canais iónicos que são os
condutores da corrente electrica. Em repouso, a membrana é muito
permeável ao K+ e pouco permeável ao Na+.

16
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Pela Lei de Ohm

∆𝑬 = 𝑹𝑰

Quanto maior for a diferença de potencial (ΔE) nas extremidades do condutor, maior será
a intensidade da corrente que vai tender a passar pelo condutor.

Condutância – é uma medida da maior ou menor facilidade que um condutor tem para
deixar passar corrente. A condutância é expressa em Siemens (S) e é dada por:

𝑰
𝒈=
𝑹
Resistência – é a medida da dificuldade que a corrente tem para passar por um
determinado condutor. A resistência é expressa em Ohm (Ω), e é dada pela razão entre o produto
da resistividade (ρ) pelo comprimento (l) a dividir pela área de secção transversal (A).

𝒍
𝑹=𝝆
𝑨
Condutividade – é o inverso da resistividade, e é expressa em S.cm-1.

𝟏
𝑲=
𝝆

2ª Versão – Membrana celular vista como um circuito RC. A membrana não pode ser
encarada como um condutor, isto é, um sistema apenas com resistência, mas sim como um
Condensador.

Se a membrana fosse encarada apenas como uma resistência, obter-se-ia uma relação
directa entre a corrente e o potencial e membrana Em, verificando-se o perfil da imagem.

Contudo o que se verifica é que o potencial de membrana vai aumentando gradualmente ao


longo do tempo em que o pulso de corrente é aplicado, começando a diminuir exponencialmente
para zero quando o pulso deixa de se verificar. Obtém-se assim um perfil parecido com os dos
condensadores.

17
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

O perfil observado é este pois os lípidos da bicamada acumulam carga, sendo que a
membrana deve ser encarada como um condensador, onde as cabeças polares formam as
placas condutoras, e as caudas apolares dos fosfolípidos formam a substância isoladora (ou
dieléctrico). Assim, o circuito eléctrico equivalente é o seguinte:

onde Rm é a resistência membranar dada pelos canais iónicos, e


Cm é a capacidade membranar (condensador).

No circuito, a corrente I flui pela resistência e não pelo


condensador.

Para um condensador verifica-se:

Onde Q é a carga acumulada no condensador, C é a capacidade do condensador e E é a diferença


de potencial aos terminais do condensador.

Para a Membrana Plasmática tem-se:

𝝆𝜹
𝑹𝒎 =
𝑨
onde Rm é a resistência total da Membrana expressa em Ohm (Ω), ρ é a resistividade, δ é a
espessura da membrana e A é a área da membrana.

𝑹𝒆𝒔𝒑 = 𝝆𝜹 = 𝑹𝒎 𝑨

Onde Resp é a resistência específica da membrana expressa em Ohm por centímetro quadrado
(Ω.cm2), que é independente da área (A).

𝜺𝜺𝟎 𝑨
𝑪𝒎 =
𝜹

Onde Cm é a capacidade membranar expressa em (μF), ε é a constante dieléctrica da membrana, ε0


é a permissividade do vazio, e δ é a espessura da membrana.

𝜺𝜺𝟎 𝑪𝒎
𝑪𝒆𝒔𝒑 = =
𝜹 𝑨

Onde Cesp é a capacidade específica membranar que é expressa em μF.cm-2.

Tal como um condensador de um circuito “normal”, também a membrana tem uma


dependência temporal na diferença de cargas (Q) e portanto, diferença de potencial entre o meio
intracelular e o meio extracelular. Essa dependência é dada pela seguinte equação:

𝝉

𝑬 = 𝑬𝒐 𝒆 𝑹𝒎 𝑪𝒎

18
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

A constante temporal τ é dada por:

𝝉 = 𝑪𝒆𝒔𝒑 𝑹𝒆𝒔𝒑 𝒐𝒖 𝝉 = 𝑪𝒎 𝑹𝒎

O valor de τ situa-se normalmente entre os 10μs e 1s, e


Resp entre 10 e 106Ω.cm2, valor que varia de membrana para
membrana, consoante a densidade de canais iónicos presentes na
membrana.

Potenciais de Equilíbrio

Já foi referido que o potencial membranar tem origem na distribuição desigual de cargas
entre os meios intracelular e extracelular. Contudo não foi ainda explicado como é que essa
diferença de cargas é atingida e mantida, traduzindo-se num potencial de repouso tão negativo.

Considerando um sistema onde duas soluções electrolíticas de um mesmo sal (por exemplo
KA) são separadas por uma membrana semi-permeável, e em que uma das soluções tem maior
concentração que a outra, vamos obter um gradiente de concentrações.

Como existe um gradiente de concentrações, antes do equílibrio, vai ocorrer a difusão da


espécie permeante K+, da solução mais concentrada para a menos concentrada. Isto leva a que se
comecem a acumular cargas positivas no lado 2 e negativas no lado 1, pois a espécie A- é
impermeante à membrana. Gera-se um Gradiente Eléctrico (diferença de potencial) que vai ser
contrário ao gradiente de concentrações. Devido a este gradiente eléctrico, os iões K+ começam a
fluir no sentido contrário, de 2 para 1, até que o equilíbrio entre os gradientes eléctrico e químico
seja atingido, ficando o fluxo de K+ de 1 para 2 igual ao fluxo de K+ de 2 para 1. A diferença de
potencial registada neste equilíbrio vai ser o potencial de equilíbrio do K+ (EK).

Na célula, o potencial electroquímico surge da diferença de concentrações através da


membrana, e do consequente aparecimento de um gradiente eléctrico. Estes são a principal causa
da semi-permeabilidade da membrana e são os responsáveis por muitos dos mecanismos de
transporte activo.

19
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Equação de Nernst

Considerando um sistema em que duas soluções salinas de diferentes concentrações são


colocadas em compartimentos separados por uma membrana permeável apenas a um dos iões da
decomposição do sal, temos:

O ião X+ vai difundir-se de 1 para 2 pois a sua concentração em 2 é menor. Isto leva à
acumulação de cargas positivas no compartimento 2, o que gera uma diferença de potencial e por
conseguinte e gradiente eléctrico.

O gradiente eléctrico vai então exercer trabalho sobre os iões X+ de modo a levá-los de
volta para o compartimento 1. O trabalho para mover δn moles de X+ de 2 para 1, ou seja, contra o
gradiente de concentração, é dado por:

𝑿+ 𝟏
𝜹𝒘𝒄 = 𝜹𝒏𝑹𝑻𝒍𝒏( + )
[𝑿 ]𝟐

Por outro lado, também o gradiente químico vai exercer trabalho sobre os iões X+ de
modo a levá-los do compartimento 1 para o 2, ou seja, contra o gradiente eléctrico. O trabalho
realizado sobre δn moles de X+ para levá-las de 1 para 2 é dado por:

𝜹𝒘𝒆 = 𝜹𝒏𝑭𝑬

sendo E = E2 – E1.

No equílibrio, os trabalhos anulam-se pelo que são grandezas iguais. Obtemos então e a
equação de Nernst

𝑹𝑻 [𝑿+ ]𝒐
𝑬= 𝐥𝐧⁡
( + )
𝒛𝑭 [𝑿 ]𝒊

sendo o potencial E expresso em mV.

A equação de Nernst pode fornecer diversos dados sobre as concentrações dos iões e o
potencial de membrana por eles gerado.

Considerando uma temperatura de 37ºC, e substituindo o ln por log, transformamos, após


fazer as contas todas, a equação de Nerst em:

[𝑿+]𝒐
𝑬 = 𝟔𝟏 × 𝐥𝐨𝐠
[𝑿+ ]𝒊

Ex: Para o ião Na+


[Na+]i = 12mM [Na+]o = 145mM T = 37ºC
145
𝐸𝑁𝑎 = 61 × log = +67𝑚𝑉
12

20
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Potenciais dos iões importantes

[Ião]o [Ião]i EIão


Ião
(mM) (mM) (mV)
Na+ 145 12 +67
K+ 4 155 -98
Ca2+ 1,5 ≤10-7M >+128
Cl- 123 4,2 -90

Verifica-se que EK é muito semelhante a Em, o que vem em concordância com o facto de a
célula em repouso ser muito permeável a K+. Pode, através da comparação do potencial destes iões
com o potencial de membrana, verificar o comportamento deles em solução.

𝐸𝑚 − 𝐸𝑁𝑎 = −80 − +67 = −147

O sinal negativo indica que o Na+ tem uma forte tendência para entrar na célula.

𝐸𝑚 − 𝐸𝐾 = −80 − (−98) = +18

O sinal positivo reflecte a tendência natural que o K+ tem para sair da célula. EK é muito
negativo uma vez que por acção do gradiente de concentração o K+ tem tendência a sair da célula,
assim tanto Em como EK são muito negativos, para que a acção do gradiente de concentração possa
ser contrariada e evitar a saída de K+.

Pode-se então definir o Potencial de Equilíbrio de um ião como o potencial de


membrana que a célula deveria ter para que não ocorresse movimento relativo desse ião.

Os fluxos de entrada e de saída dos iões da célula são iguais. Esta entrada e saída de iões
cria uma corrente eléctrica na membrana cuja intensidade é dada por:

𝑰𝒙 = 𝒈𝒙 (𝑬𝒎 − 𝑬𝒙 )

Sendo gx a condutância de X e Em-Ex a força electromotriz que actua sobre X. A equação


tem de ter este formato e não Ix=gxEx, pois a corrente transportada por X+ é nula se o potencial de
membrana for igual ao potencial de equilíbrio do ião.

A membrana plasmática comporta-se então como um circuito do seguinte tipo:

Quando a célula está em repouso, Em é estável e a corrente iónica total é nula, logo

21
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Nota:
 ICl- é desprezável pois o ECl é passivamente distribuído, sendo Em ~ ECl.
 ICa é também desprezável pois gCa é um valor muito pequeno para células em repouso,
podendo, contudo aumentar com a despolarização da célula.

Ex: Em = -90mV ENa=+67mV EK=-98mV

Em repouso:
gNa(Em-ENa) = -gK(Em-EK) Em-ENa=-157mV Em-EK=-8mV
𝑔𝑁𝑎 −8
𝜌= 𝑔𝐾
= −157 = 0,05

O Na+ tem uma baixa condutância em relação ao


K+ (apenas de 5%), mas possui uma elevada f.e.m, em
repouso.

Portanto numa célula em repouso, o valor de gK é muito


maior que o valor de gNa, e como tal a valor de Em aproxima-se de
EK. Numa célula excitada, o valor de gNa aumenta e Em aproxima-
se de ENa.

Uma vez que existe sempre a tendência natural de dissipar os gradientes de concentrações
de Na+e K+, torna-se necessário recorrer à Na+/K+ ATPase, para evitar que os gradientes sejam
perdidos.

Equação de Goldman-Hodgkin-Katz (GHK)

Existe uma outra equação que nos permite relacionar o potencial de membrana com as
concentrações de sódio e potássio.

Onde PNa é a permeabilidade da membrana ao sódio e PK é a permeabilidade da membrana


ao potássio.

Traçando um gráfico de Em em função do Log[K+]

Para concentrações de K+ menores que 5mM, a


concentração de Na+ é mesurável, havendo um desvio da
linearidade. Se a célula fosse estritamente permeável ao K+,
a equação de Nernst poderia representar o potencial de
membrana. Por isso é que ao aumentar a concentração de
K+ o Em se aproxima de EK dado pela equação de Nernst.
Quanto maior for α maior será a significância do termo
α[Na+]i, e logo maior será o desvio da linearidade.

22
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Tema 4 – Transporte Activo: Bombas e


Trocadores
Um exemplo de transporte activo de extrema importância verifica-se quando é necessário
equilibrar as concentrações de iões para evitar a rotura das células.

Equilíbrio de Donnan

Inicialmente não há gradiente de K+ pois a sua


concentração é igual nos dois compartimentos. No entanto,
existe um grande gradiente de concentração para o Cl-,
havendo fluxo deste ião de o par i. Assim, para podermos
respeitar o princípio da electroneutralidade, vai também
existir um fluxo de K+ para o interior da célula, sendo que
ao fim de um certo intervalo de tempo as concentrações de
potássio e cloreto intra e extracelulares vão ser diferentes
entre si.

Como a membrana é permeável aos dois iões, pode-se aplicar a equação de Nernst aos dois
iões, e uma vez que não podem existir dois valores de Em, igualam-se os potenciais de repouso do
Cloreto e do Potássio.

Chegamos então à regra de Donnan, através da qual é possível prever a distribuição


assimétrica dos iões. Pela regra de Donnan e aplicando o principio da electroneutralidade aos dois
compartimentos ficamos com:

Isto implicaria que a osmolaridade dentro da célula fosse maior que a osmolaridade fora de
célula, o que levaria a um influxo de água para o interior da célula que causaria a sua ruptura. Uma
vez que tal não pode acontecer, tem de haver um mecanismo de compensação osmótica. Este
mecanismo de compensação é provocado pelo Na+, que funciona como
o compensador osmótico pela bomba de Na+/K+ ATPase. O Na+, por
ser pouco permeante à membrana é um bom compensador osmótico. A
bomba de Na+ possui uma estequeometria de 3:2, ou seja, ejecta 3 Na+
e incorpora 2 K+. Esta perda de uma carga positiva líquida permite a
compensação osmótica. O equilíbrio de Donnan nunca se pode
estabelecer pois haveria o rebentamento da célula.

23
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Na+/K+ ATPase

Estereoquímica – 3 Na+ para 2 K+ - Transporte de 3 Na+ para o exterior da célula, e 2 K+


para o interior da célula, contra o gradiente electroquímico, pelo que este movimento de iões tem
de ser acoplado à hidrólise de ATP.

Substratos – Na+ e MgATP no lado intracelular, e K+ (ou Rb+ ou NH4+) no lado


extracelular.

Estrutura – Heterodímero (uma subunidade α e outra β)

Inibidores – Glicosídeos Cardíacos (ouabaína)

Mecanismo – O seu mecanismo passa pela alternação de conformações causadas por


fosforilações e desfosforilações, ocorrendo as transições E1 – E2. No estado não fosforilado (E1) a
bomba tem uma alta afinidade para o Na+ e uma baixa afinade para o K+. Quando os 3 iões de
Na+ se ligam á bomba, ocorre a fosforilação desta, passando a bomba a estar na conformação E 2.
A alteração da conformação provocada pela
fosoforilação leva a que os iões de Na+ fiquem
voltados para o lado extracelular. A mudança de
conformação induz ainda um grande abaixamento na
afinidade da bomba para os iões Na+, o que faz com
estes sejam libertados no meio extracelular. A
conformação E2 possui uma grande afinidade pelos iões
de K+, sendo que dois destes iões vão se ligar à bomba.
Ocorre então a desfosforilação e a bomba volta à
conformação E1, expondo os iões K+ ao lado
citoplasmático. A conformação E1 possui uma pequena
baixa afinidade pelos iões K+ pelo que estes são
libertados no citoplasma.

A bomba funciona como auto-cinase e auto-fosfatase, uma vez que promove a sua própria
fosforilação e desfosforilação de um resíduo de aspartato.

A Bomba de Na+ evita a dissipação do gradiente de concentração e permite a compensação


osmótica.

Ca2+ ATPase

Existem dois tipos de bombas de Cálcio, umas na membrana plasmática, e outras no


retículo endoplasmático/sarcoplasmático. Ambas têm o mesmo mecanismo de libertação de Ca2+
para o exterior da célula ou interior de reservatórios intracelulares.

O mecanismo de Transporte é baseado em alterações conformacionais E1 – E2.

 Em E1, a bomba está desfosofrilada, estando voltada para o citosol com alta afinidade
para Ca2+.

24
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

 Após a ligação do Ca2+, a bomba é fosforilada (E2) e dá-se uma alteração na


conformação, virando o local de ligação de Ca2+ para o exterior da célula (ou interior
do retículo).
 No estado E2~P, a bomba tem baixa afinidade para o Ca2+, pelo que este vai ser
libertado.
 Após a libertação do Cálcio a bomba vai ser desfosforilada, voltando à conformação
E1.

Este transporte é feito contra o gradiente electroquímico, havendo acoplamento com a


hidrólise de ATP.

Existem diferenças nos dois tipos de bombas de Ca2+

A Fosfalambana, proteína que regula a bomba de cálcio do retículo endoplasmático, é uma


proteína de baixo peso molecular, que está associada a Ca2+, e que quando fosforilada por uma
cinase dependente de Ca2+, altera a sua conformação levando à entrada de Cálcio.

ATPases

Existem vários tipos de ATPases, consoante as suas propriedades.

ATPases do tipo P:

Na+/K+ ATPase; Ca2+ ATPase; H+/K+ ATPase(Mucosa Gástrica)

Fazem parte da família de bombas catiónicas. Durante os seus ciclos catalíticos, ocorre
fosforilação reversível de resíduo de aspartato.

25
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

ATPases do tipo F:

H+ ATPase (F1 e F0 ATPase mitocondrial)

Existem na mitocondri e não envolvem a formação de um intermediário fosforilado. A


passagem de H+ é a responsável pela formaçãol de ATP.

ATPases do tipo V:

H+ATPases de outros organelos

Contribuem para a acidificação de organelos intracelulares como os lisossomas, os


endossomas e vesículas sinápticas.

Tipos de Transporte Activo

1 – Primário

Usa directamente o ATP como fonte de energia (ATPases). As proteínas mudam a sua
conformação pela ligação covalente de um grupo fosfato.

2 - Secundário

Usa o gradiente electroquímico gerado pelas diferenças de concentração de um


determinado ião como fonte de energia. As proteínas mudam a sua conformação por modulação
alostérica, como resultado da ligação de iões (Ex: Na+, Cl-).

Co-Transporte – o Soluto é transportado no mesmo sentido do ião.

Acontece muito no caso do transporte de aminoácidos,


que utiliza o gradiente de Na+, e também no transporte da Glicose
nas células epiteliais do Intestino, já que ocorre o acoplamento do
transporte de glicose ao gradiente electroquímico do Na+.

Contra-Transporte – O soluto e o ião são transportados em sentidos opostos

Exemplos de contra-transporte são os trocadores


Na+/Ca2+ e Cl-/HCO3-, este último importante na regulação do
pHi.

Trocador Na+/Ca2+

O Trocador Na+/Ca2+ é um exemplo de transporte activo secundário por contra


transporte. Este trocador evita que hajam grandes concentrações de Cálcio na Célula. A
estequeometria deste trocador é de 3 Na+/ 1 Ca2+. Promove o transporte do Ca2+ contra o seu
gradiente electroquímico, acoplando ao contra transporte de Na+. Este trocador é electrogénico, ou
seja, gera uma corrente eléctrica devido à criação de um balanço de cargas.

O trocador possui uma baixa afinidade para Ca2+ em repouso, sendo que esta afinidade
aumenta quando a concentração de Ca2+ intracelular aumenta. Tem uma regulação alostérica. A
Ca2+ ATPase, possui uma sensibiliadade para a concentração intracelular de Ca2+ que este trocador.

26
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Este trocador serve então para eliminar o excesso de Ca2+que se encontre no citosol após um
estímulo.

Este trocador de Na+/Ca2+ pode funcionar tanto no sentido directo, como sentido inverso,
devendo-se este facto à sensibilidade que o trocador tem ao potencial de membrana.

Potencial de Reversão – é o potencial ao qual ocorre a reversão no fluxo dos iões. No caso
de um canal, é o potencial ao qual o potencial de membrana é igual ao potencial do ião
(Em = Ex).

Com o trocador Na+/Ca2+ acontece algo mais complexo.

Potencial de reversão 𝐸𝑁𝑎 /𝐶𝑎 = 3𝐸𝑁𝑎 − 2𝐸𝐶𝑎 .

Como foi dito, o modo de funcionamento do trocador Na+/Ca2+ depende do potencial de


membrana. O transportador dos iões depende do gradiente electroquímico.

O trocador reverte nos dois pontos onde


os gráficos se cruzam.

Inicialmente, o Em é mais negativo que o


𝐸𝑁𝑎 /𝐶𝑎 , logo o citoplasma está muito negativo. Por
esta razão, vão ter de entrar cargas líquidas
positivas (entram 3 Na+ e sai 1 Ca2+).
A partir da primeira Intersecção, o Em já é
maior que o 𝐸𝑁𝑎 /𝐶𝑎 , e o trocador reverte,
passando a entrar Ca2+ e a sair Na+. Esta situação
ocorre quando há um estímulo (como por exemplo a despolarização da membrana), que promove a
entrada de Ca2+ para mecanismos de sinalização celular.
Na segunda intersecção, o trocador volta a reverter, pois agora o 𝐸𝑁𝑎 /𝐶𝑎 >Em (situação
que se verifica após a resposta fisiologia) , sendo que o Ca2+ começa a ser expelido do citoplasma.

Como tal temos dois modos:

Digitalis e Insuficiência Cardíaca

A digitalis é um cocktail natural de glicosídeos cardíacos que é administrado a quem sofre


de insuficiência cardíaca (isquémia)

A digitalis inibe cerca de 30% das Na+/K+ ATPase, o


que vai fazer com que a concentração intracelular de Na+
aumente. Este aumento leva à dissipação do gradiente
electroquímico. Havendo a dissipação do gradiente
electroquímico, o trocador Na+/Ca2+ não vai conseguir ter
tanta eficácia na expulsão do Ca2+ do citosol. O como Ca2+ é
um segundo mensageiro intracelular e a sua concentração
aumenta, as contrações musculares vão ser estimuladas.

27
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Transportadores de Equivalentes Ácidos e regulação do pH citosólico

Trocador Na+/H+

O Trocador Na+/H+ é um dispositivo fundamental para a regulação do pH intracelular. Se


os protões se distribuíssem pela membrana de forma passiva, Em ~ EH

𝑅𝑇 [𝐻 + ]0 [𝐻 +]0
𝐸𝐻 = ln → 𝑇 = 37°𝐶 → 𝐸𝐻 = 60 log → 𝐸𝐻 = 60 𝑝𝐻𝑖 − 𝑝𝐻𝑜
𝐹 [𝐻 + ]𝑖 [𝐻 + ]𝑖

Para uma célula em repouso, sábe-se que o potencial varia entre -60 e -90mV, assim se não
houvessem trocadores, e o pHo fosse 7,4 teriamos um pHi que variaria entre 5,9 e 6,4. No entanto
sabe-se que o pHi varia entre 6,9 e 7,2, o que indica que há um mecanismo que impede a
acidificação do citoplasma devido ao influxopassivo de H+.

Esse mecanismo é o Trocador Na+/H+que bombeia um protão para


o exterior da célula, por cada ião Na+ captado. Este processo não envolve
gasto de ATP, sendo regulado alostericamente de modo a que o ambiente
intracelular não fique muito alcalino.

pH do Estômago, Células Parietais

No estômago existem três tipos de transportadores:

1. H+/K+ ATPase, que é o acidificador do lúmen do estômago, sendo uma ATPase do tipo P;
2. Co-transporte de K+ e Cl-, levando à formação de cerca de 2L de HCL por dia no lúmen do
estômago;
3. Trocador Cl-/HCO3-, necessário pois a saída de H+ para o lúmen do estômago leva a uma
alcalinização do citoplasma. Este contra-transporte leva a uma reposição do pH intracelular,
uma vez que o ião bicarbonato sai da célula.

Na terapia de excesso de acidez no estômago, procede-se à toma de inibidores da bomba


de H+/K+ ATPase. Assim o H+ já não vai ser bombeado para o lúmen do estômago, sendo que o
pH deste nãi baixar tanto.

28
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

29
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Tema 5 – Transdução de Sinais


Todas as Células têm de comunicar umas com as outras de modo a poder responder às
exigências do organismo. Assim, existe um sofisticado mecanismo de sinalização inter e intracelular.

Pode-se classificar os agentes de sinalização extracelular como:

Mediadores Químicos Locais: somente no ambiente local (difusão extracelular).

Ex: Factores de crescimento, histamina e prostaglandina.

Hormonas: Interactuam com células alvo em zonas remotas do organismo (são


transportadas pelo sangue).

Ex: Insulina, Adrenalina, Testosterona.

Neurotransmissores: Interagem com células alvo pós-sinápticas (difundem-se na fenda


sináptica).

Ex: Glicina, noradrenalina, GABA, acetilcolina.

Todas estas moléculas podem ser:

Hidrofílicas

 A maior parte das Hormonas e dos mediadores químicos locais, e todos os


neurotransmissores são soluveis em água.
 Ligam-se a Receptores na membrana plasmática

Hidrofóbicas

 As hormonas esteróides e hormonas da tiroide são derivados do colesterol, pelo que


são hidrofóbicas.
 Ligam-se a receptores intracelulares.
 São transportadas na corrente sanguína por proteínas transportadoras, como por
exemplo a Albumina.

Nota: As hormonas actuam na célula a concentrações muito baixas (<10mM), pois são diluídas na
corrente sanguínea. Os receptores das hormonas possuem assim uma grande afinidade para estas.

Receptores Membranares

1 – Metabotrópicos

Podem ser receptores não catlíticos, possuindo 7 segmentos transmembranares (7-TMS),


ou receptores catalíticos, que possuem um único segmento transmembranar.

2-Ionotrópicos

Estes receptores integram um canal iónico aberto pela ligação de um neurotransmissor.

30
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Os receptores Ionotrópicos dividem-se em superfamílias

 Tipo colinérgico – estimulado por acetilcolina


Exemplos:
 5-HT3 (serotonina) – sistema muito estudado farmacologicamente para estudos da
depressão.
 GABA-A (receptores inibitórios) – canais com grande permeabilidade a Cl- (influxo),
promovendo a hiperpolarização da membrana e diminuindo a excitabilidade dos
neurónios.
 Benzodiozepinas (ex: Valium) são agonistas deste receptor, estimulando a
entrada de Cl-;
 O ácido butírico é um activador endógeno deste receptor.
 Acetilcolina (Nicotínico) – este receptor é principalmente sensível a Na+.
 A acetilcolina liga-se ao canal, activando-o e provocando a entrada de Na+.
 A entrada de Na+ leva a uma despolarização que por sua vez leva à activação de
CCSV’s, e que desencadeia um influxo de Ca2+.

 Glutamatérgicos ionotrópicos

Exemplos:

 NMDA
 AMPA/Kainato

Receptores Catalíticos com um único segmento transmembranar

Os receptores catalíticos com um único segmento transmembranar, podem ser receptores


metabotrópicos (1-TMS) ou receptores com activade de tirosina-cinase

Ex: EGF-R (Classe I); PDGF-R (Classe III); IGF – A (Classe II).

Receptor de Insulina

A ligação de insulina ao local de ligação extracelular induz a dimerização de dois receptores,


havendo interacção entre os dois domínios catalíticos que leva auma auto-fosforilação dos resíduos
de tirosina (o receptor de insulina é uma tirosina cinase).

As fosfotirosinas são reconhecidas por domínios SH2 de proteínas substrato, activando-as


(ou inibindo-as).

31
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Receptores 7-TMS

São constituídos por sete segmentos transmembranares. Estes receptores possuem um


local de reconhecimento externo de ligandos, e um local de reconhecimento interno de Proteínas
G.

Proteínas G Heterotriméricas

No estado inactivo são constituídas por três subunidades, α, β e γ. A subunidade α tem activiade de
GTPase.

Mecanismo de activação

Quando o agonista se liga ao receptor, este altera a sua


conformação fazendo com que a afinidade da proteína G pelo GTP
aumente. Isto leva a que a subunidade catlítica α, troque o GDP que tem
associado, por um GTP, e se desprenda das subunidades β e γ. A
subunidade α vai então activar proteínas efectoras. Como esta subunidade
possui actividade de GTPase, o GTP vai ser hidrolisado a GDP, e a
subunidade α, volta a juntar-se às subunidades β e γ.

Amplificação do Sinal

Por cada molécula de ligando a interagir com o receptor vão


formar-se várias moléculas de 2os mensageiros. Isto vai ocorrer enquanto a
proteína estiver a activar a enzima efectora. A subunidade Gα/GTP pode
desligar-se da enzima e ligar-se a outra enzima ainda antes de exercer a
actividade de GTPase. Após hidrolisar o GTP, a subunidade α liga-se
novamente às subunidades βγ. Contudo se o ligando ainda estiver ligado ao
receptor, a proteína G é estimulada novamente, e o ciclo repete-se.

cAMP como 2º Mensageiro

O cAMP é sintetizado a partir de ATP por acção da adenilciclase. A


reacção de conversão do ATP a cAMP é endergónica, contudo forma-se
um PPi que é hidrolisado, sendo esta uma reacção exergónica, e que fornece
a energia necessária para a formação do cAMP. A adenilciclase é activada
por uma proteína G estimulatória (Gs) e é inibida por
uma proteína G inibitória (Gi). O cAMP é degradado por
uma fosfodiasterase a 5’AMP e a H+. Após a sua formação, o cAMP vai activar a
Proteína Cinase A (PKA), que , quando está no estado inactivo, é constituída por
duas subunidades reguladoras e duas subunidades catalíticas. Duas moléculas de
cAMP vao-se ligar a cada uma das subunidades, e levar à dissociação das duas
subunidades catalíticas, activando assim a PKA. Esta enzima vai então fosforilar
proteínas substrato em resíduos de serina ou treonina.

32
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Mecanismo de Amplificação do Sinal

Activação de um complexo
agonista receptor

Activação de várias
moleculas proteína G por
cada recptor activado

Activação de várias adenil


ciclase por cada proteína G
activada

Sintese de várias moleculas


de cAMP por cada adenil
ciclase activada

Activação de Várias PKA

Fosforilação de várias
proteínas alvo por parte da
PKA

Amplificação da resposta
Celular

33
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Inibidores das proteínas Gs e Gi

Gs: é sensísel à tóxina da colera (cTox)

Gi: é sensível à toxina pertussis (da tosse convulsa), sendo activada pelo receptor adrenergico α2.

Estas toxinas permitem distinguir os dois tipos de proteína G. Ambas as toxinas aumentam
os níveis da concentração de cAMP, por reacção de ADP ribosilação.

Segundos mensageiros derivados de fosfolípidos membranares

Uma outra via coordenada por proteínas G é a via fosfoinositídeos, sendo que as proteínas
G activam esta via.

Quando ocorre a ligação de um dado ligando ao receptor 7-TMS acoplado a uma proteína
G, esta última vai ficar activa, ocorrendo a troca de GDP por GTP, e a subsequente dissociação da
subunidade α que vai activar uma Fosfolipase Cβ (PLC). A fosfolipase, vai então promover a
hidrólise do Fosfoinositos 4,5 bisfosfato (PIP2) (fosfolípido membranar) a Diacilglicerol (DAG) e
Inositol 1,4,5 trifosfato (IP3). Os dois produtos desta reacção vão servir de segundos mensageiros
intracelulares.

Ao agirem como segundos mensageiros, o DAG vai activar uma Proteína Cinase C (PKC),
enquanto o IP3, por ser hidrosoluvel, vai viajar pelo citoplasma até ao Retículo Endoplasmático,
onde vai activar os canais de Ca2+, promovendo a libertação deste, consequente aumento da
concentração no citosol.

Isoformas da PKC

cPKC nPKC aPKC


Convencionais ou
novo atípicas
clássicas
Sensíveis a Ca2+ e Sensíveis a DAG mas Insensíveis quer a
DAG não a Ca2+ DAG quer a Ca2+

Proteína Cinase C clássica

É uma proteína cinase que existe em


locais de reserva no citoplasma, sendo
mobilizada para a membrana plasmática quando
se forma DAG. A activação da cPKC
corresponde a uma desrepressão.

34
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Acção da Cinase C

Esta cinase catalisa a fosforilação de proteínas substrato em resíduos de serina ou treonina.

Existem alguns receptores 7-TMS acoplados à PLC, são eles o receptor muscarínico da
acetilcolina, o adrenergico α1, e o glutamato metabotropico.

Ca2+ intracelular como 2º mensageiro

O aumento intracelular da concentração de Ca2+ pode ser provocado por canais na


membrana plasmática, como por exemplo CCSV’s, ou trocadores Na+/Ca2+, ou pela libertação a
partir de resarvatórios intracelulares, como o Retículo Endoplasmático/Sarcoplasmático, sendo esta
libertação activada pela ligação de IP3 a canais de Ca2+, ou pela activação de canais de rianodina.

Para diminuir as concentrações de Ca2+ citosólico, existem na membrana plasmática e do


retículo Ca2+ ATPases, podendo o abaixamento ser realizado ainda pelo trocador Na+/Ca2+, ou
pela tomada por parte de outros organitos celulares, como por exemplo a mitocôndria
(acoplamento à cadeia respiratória). A calsequestrina, é outra enzima que sequestra Ca2+ do citosol,
transportando-o para o RE.

Canais de Ca2+ sensíveis a IP3

São constituídos por 4 subunidades iguais, cada uma com 6 segmentos transmembranares
(6-TMS), que delimitam um poro. Estes canais são activados por IP3

Receptores de Rianodina

Estão presentes nos reservatórios intracelulares de Ca2+,


sendo compostos por 4 subunidades iguais todas
transmembranares, que delimitam o poro. Estes canais são
activados por Ca2+ e por cADPR, sendo também activados por
rianodina e por cafeína. Estes dois últimos activadores alteram a
estrutura 3D do receptor, o que resulta num aumento da afinidade.
O receptor de Rianodina pode ser activado de duas maneiras:

 É sensível à voltagem;
 A ligação de Ca2+ induz a libertação de Ca2+.

35
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Razão Sinal/Fundo de Ca2+ intracelular

𝑺 ∆[𝑪𝒂𝟐+]
=
𝑭 𝑪𝒂𝟐+ 𝒓𝒆𝒑𝒐𝒖𝒔𝒐

Quando à um estímulo, a concentração intracelular do Ca2+fica maior que 10-6 – 10-5,


passando da ordem dos μM para os mM. Isto implica que a razão sinal fundo seja maior que
10 a 100 unidades do que era inicialmente.

Proteínas Dependentes de Ca2+

Existem várias proteínas que são dependentes de Ca2+, como por exemplo:

 Proteína Cínase C;
 Anexinas, proteínas envolvidas em mecaninos de excreção de vasículas;
 Troponina C, proteína envolvida no mecanismo de contracção muscular;
 Calnexina e Calreticolina, Proteínas Chaperones do Retículo Endoplasmático que
ajudam as outras proteínas aqui sintetizadas a assumir o folding correcto.
 Calmodulina (CaM);

Calmodulina (CaM)

É uma proteína com aproximadamente 15kDa, que tem a capacidade de ligar 4 iões de
Ca2+ nos loops entre as suas hélices α. O cálcio pode exercer a sua função na forma livre, ou
complexado com a CaM. O complexo CaM/Ca2+promove a desrepressão do local catalítico de
várias proteínas. Na ausência de CaM/Ca2+, o domínio catalítico está ocupado pela sequência de
pseudo-substrato do domínio regulador dessas proteínas, quando se liga CaM/Ca2+¨, o domínio
catalítico fica livre para exercer a sua função (por exemplo a fosforilação de Serinas e Treoninas).

Exemplos de Proteínas dependentes de CaM

 Cinase das cadeias leves miosina;


 Cinase da Glicogénio Fosforilase;
 Fosfatases (Calcineurina);
 Sintase do Óxido Nítrico;
 Cinases dependentes de CaM (tipos I-IV).

36
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Porque é que o Ca2+ funciona como segundo mensageiro e o Mg2+ não?

O Mg2+ possui um raio iónico muito menor que o Ca2+ [ r(Mg2+) = 0,6Ǻ, r(Ca2+) = 0,95Ǻ].
Para além disto, o Mg2+ tem uma grande densidade de carga, tendo preferência para se associar
electroestaticamente a aniões, como por exemplo os fosfatos. O Mg2+ forma complexos
estritamente octaédricos e de ligação curta, enquanto o Ca2+ forma ligações mais flexíveis (6 a 10
ligações), podendo fazer cross-linking, ou seja, vai buscar ligandos mais afastados e induzir alterações
conformacionais nas proteínas.

Sinalização por Óxido Nítrico

O óxido nítrico (NO) é um mensageiro intracelular. Este composto é produzido pelas


células endoteliais vasculares, a partir das quais se difunde, indo exercer a sua função nas células do
músculo liso vascular.

O óxido nítrico é produzido pela Sintase do Óxido Nítrico (NOS), ocorrendo a seguinte
reacção:

A sintase do óxido nítrico tem algumas isoformas:

 nNOS, ou NOS neuronal (NOS-1), é activada por CaM/Ca2+ (via receptores);


 eNOS, ou NOS endotelial (NOS-3), é activada por CaM/Ca2+ (via receptores);
 iNOS, ou NOS indutível (NOS-2), é induzida por transcrição genética (via citoquinas,
endotoxinas, etc.) e possui uma grande afinidade para CaM/Ca2+.

Regulação por NOS:

A NOS está envolvida nos mecanismos de regulação do fluxo sanguíneo e da


vasodilatação, da agregação plaquetária, da neurotransmissão e da neuromodulação, e ainda das
defesas imunitárias.

37
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Efeitos do NO

Efeitos Do NO

Dependentes de cGMP Independentes de cGMP

Nitrosilação de Proteínas,
Activação de Guanil Ciclase Hemoglobina,
Solúvel (sGC) Oxígénio/Superóxido

cGMP como segundo mensageiro intracelular

O cGMP está envolvido na regulação:

 Da tonicidade do músculo liso;


 Fototransdução do sinal (nos olhos);
 Homeostasia de fluidos e electrólitos.

Classes de Guanil Ciclase

A Guanil Ciclase é a enzima que produz cGMP a partir de GTP. Ela catalisa a seguinte
reacção:

Existem duas classes de de Guanil Ciclase,


a classe membranar (pGC), que possui um receptor
que é activado por péptidos natriuréticos, guanilina
ou endotoxinas, e a classe solúvel (sGC), que
vagueia pelo citosol, sendo activada pela ligação de
NO ao seu grupo Hemo.

Após a chegada dos Primeiros


Mensageiros, tanto a pGC (que é sensível aos
primeiros mensageiros) como a sGC (que necessita
da entrada de cálcio para a activação NOS e
conseuente produção de NO que a vai activar), vão
produzir cGMP. O cGMP vai então ligar-se a uma
Proteína Cinase (PKG) activando-a.

38
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Alvos do cGMP

O cGMP tem como alvo Proteínas Cinases dependentes de cGMP (PKG), canais activados
por nucleótidos cíclicos (caso da fototransdução na retina), e fosfodiasterases reguladas por cGMP.

Fosfodiasterases Reguladas por cGMP

Pertencem à família das PDE’s, nas quais se destacam as específicas para cAMP, e as
específicas para cGMP. Dentro das específicas para cGMP há a destacar:

 PDE5, existente nas plaquetas, no músculo liso, e no corpus cavernosum;


 PDE6, presente no mecanismo de fototransdução;
 PDE9.

Existem ainda algumas PDE’s que possuem especificidade mista para cAMP e cGMP.

As fosfodiasterases são responsáveis pela remoção do grupo


fosfato deste nucleótidos cíclicos, levando assim à degradação do
sinal.

Corpus Cavernosum

Tecido situado no órgão sexual masculino, que é responsável pela erecção do pénis. O uso
de inibidores da PDE5 leva a que os níveis de cGMP aumentem, o que faz com que ocorra o
relaxamento do músculo liso do corpus cavernosum, este relaxamento leva ao aumento do fluxo
sanguíneo que se traduz na erecção do pénis.

O sildenafil, é uma molécula que mimetiza o cGMP, ligando-se no centro activo da PDE5
e inibindo-a. É portanto um inibidor competitivo em relação ao cGMP.

39
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Tema 6 – Canais Iónicos


A presença de canais iónicos é essencial para a manutenção do potencial de membrana,
sendo que existe uma elevada heterogeneidade destes canais (canais de K+, Ca2+, Na+, Cl-) e que
eles estão intrinsecamente associados às funções vitais das células. Os canais iónicos podem ser
excitáveis e não excitáveis.

Existem diversas patologias associadas aos canais iónicos, ou seja, sempre que algum destes
tipos de canais tenha um problema associado, dá-se o aparecimento de uma doença. Exemplos de
doenças associadas aos canais iónicos são:
 Fibrose Quística (associada a canais de Cl-, alteração genética);
 Surdez;
 Certas formas de epilepsia;
 Miotonias;
 Certas formas de Diabetes;
 Arritmias;
 Cegueira Nocturna.

Como tal, os canais iónicos são um dos principais alvos para a produção de fármacos,
como por exemplo:
 canal de K+ATP (AMARYL, glimepirida- diabetes);
 canal de Ca2+ (di-hidropiridinas- hiper-tensão);
 canal de Na+ (lidocaína- arritmias cardíacas);
 canal de Na+ (TEGRETOL, carbamazepina- epilepsia);
 canal de Cl- (VALIUM, diazepan- ansiedade).

Os primeiros estudos com canais iónicos começaram nos anos 70, e foram realizados no
axónio gigante da lula. Nestes estudos chegou-se à conclusão que existiam moléculas que
transportavam iões ao longo do axónio. Essas moléculas foram mais tarde baptizadas de canais
iónicos.

Os investigadores procuraram determinar qual deveria ser a porção de membrana a utilizar,


para que os registos de corrente do canal tivessem um ruído inferior a 10%.

Sabia-se que no axónio gigante da lula existiam 553 moléculas/μm2 e que a condutância
por μm2 era de 1200 pS. Assim chegou-se ao valor de ~2,2pS/canal iónico, que é o valor da
condutância de um único canal iónico. Para este valor está associada a corrente de um único canal,
que corresponde a 1-2pA (o que corresponde a 10 milhões de iões por segundo).

Através da Fórmula de Johnson, foi então calculado qual o raio da porção de membrana
para o qual os registos teriam um ruído inferior a 10%, ou seja, menores que 0,1pA.

𝟒𝑲𝑻𝒇𝒄
𝝇𝟐 =
𝝆

onde σ é o ruído, ρ é a resistividade da membrana que tem o valor de 1,5 x 109, K é uma constante
de grandeza igual 1.381x10-23J.K-1, T é a temperatura absoluta (em K) e fc é a frequência. Feitos os
cálculos e considerando então o valor da resistência como sendo R = 1000Ω.cm2, e tendo em conta
que a área do axónio era de 50μm2, chegou-se ao valor 4μm para o raio da porção de membrana.

40
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Surgiu então a dificuldade em obter uma porção de membrana tão pequena, pelo que foi
desenvolvida a técnica de Patch-Clamp.

Técnica de Patch-Clamp

Através do uso desta técnica, não é cortado um pedaço da membrana, procedendo-se sim
ao isolamento eléctrico desta.

Esta técnica envolve a utilização de:

 Pipetas polidas pelo fogo, sendo usadas uma única vez;


 Vidro limpo;
 Membrana limpas de materiais extracelulares;
 Soluções filtradas.

Utiliza-se uma pipeta de vidro, que ao ser encostada à membrana das células e realizando
uma pressão negativa, consegue sugar uma porção da membrana que se encontra agora isolada
electricamente (selada).

A selagem é a ordem dos GΩ (10+12Ω), a que se impede a


dissipação de cargas que se propagam no líquido que a pipeta contém,
sendo que estas cargas são medidas por um eléctrodo de Ag+/AgCl,
que se encontra no interior da pipeta. A pipeta de vidro é ligada a um
microscópio invertido, e a um osciloscópio que regista as correntes.
Esta técnica permite isolar porções de membrana com cerca de 1-
2μm de raio (ruído menor que 10%).

Conformações Patch-Clamp

Uma vez efectuado o contacto entre a pipeta e a célula, podem-se fazer diversos tipos de
estudos:

1 – On Cell – permite o estudo da parte extracelular dos canais, sem remover a porção da
membrana do contexto celular. Também se designa por “Cell atached”.

41
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

2 – Inside-Out – permite o estudo da parte extracelular dos canais, mas fora do contexto
celular. Remove-se a porção de membrana ao puxar a pipeta, tendo este procedimento que ser
realizado num meio sem Ca2+, pois este ião permite a resselagem da membrana. Permite alterar o
meio extracelular e não influênica da célula.

3 – Whole Cell – após a interacção da pipeta com a célula, faz-se uma sucção, o que
provoca um rompimento da membrana plasmética, de tal modo que o líquido da pipeta altera a
composição do citoplasma, permitindo medir as alterações intracelulares dos canais, num contexto
celular. Neste caso está-se a medir as correntes iónicas da célula e não só de um canal.

4 – Outside-Out – se após o processo anterior, se puxar a pipeta, (num meio com Ca2+), a
a fracção de contacto separa-se da membrana e obtém-se um canal com a parte intracelular original
da membrana, virada para o interior da pipeta, e a parte extracelular original da membrana virada
para o meio extracelular. Assim é possível efectuar estudos sem a influência celular.

Uso de lipossomas

Pode-se fazer Patch-Clamp em lipossomas, sendo para


tal necessário extrair e purificar o canal a ser estudado, tendo
depois que o reconstituir funionalmente em lipossomas. Esta
técnica permite o estudo de canais inacessíveis ou de canais
que existam em pequena quantidade, sendo os únicos estudos
viáveis, os de Inside-Out, e os de Outside-Out, uma vez que o
conteúdo do lipossoma é diferente do conteúdo celular.

42
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Uso de Oócitos

Através do uso de oócitos, podemos estudar modificações


genéticas feitas a um canal, ou seja, podemos ver como as
modificações vão afectar a corrente do canal. É importante perceber a
estrutura dos canais para podermos desenvolver fármacos mais
eficazes e específicos. A técnica de Patch-Clamp pode ser utilizada em
oócitos, pois estas células não possuem canais, assim quando
expressamos um determinado canal nestas células garantimos que
estamos a estudar o canal de interesse. Através das modificações
genéticas podemos criar canais quimera.

Registo de correntes de canal Iónico

Na técnica de Patch-Clamp é possível captar e analisar um único canal iónico. Os dados


obtidos são estatísticos, ou seja, apenas reflectem a probabilidade de um determinado canal estar
aberto ou fechado. Isto leva a que um conjunto de resultados obtidos nas mesmas condições, possa
𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑎𝑏𝑒𝑟𝑡𝑜
ser diferente. A abertura e fecho do canal é aleatória, contudo, a razão 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑓𝑒𝑐 𝑕𝑑𝑜
é sempre igual,
apesar da cinética ser diferente.

Existem dois estados de corrente, o estado condutor em que o canal está aberto, e o estado
não condutor, em que o canal está fechado. Os canais ou conduzem corrente, ou então não
conduzem, sendo o estado intermediário indetectável. Por esta razão forma-se um plateu constante
durante o tempo em que o canal está aberto, ou fechado. Quer no estado condutor, quer no estado
não condutor, a corrente que passa por cada canal é constante.

Tipos de correntes medidas

Correntes positivas, que são as correntes de saída, e nas quais ocorre movimento do
catiões do citoplasma para o meio extracelular.

Correntes negativas, em que existem as correntes de entrada, nas quais ocorre o


movimento de catiões do meio extracelular para o citoplasma, e as correntes de saída, nas quais se
dá o movimento de aniões do citoplasma para o meio extracelular.

43
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

É simples de compreender que, como o sensor está dentro da pipeta, se aumentarem cargas
positivas dentro desta (saída de catiões), então é registada uma corrente acima de zero. Estas
convenções de corrente servem quando se está a trabalhar em “cell-atached”.

Correntes de Canal Único

Quando efectuamos um estudo por vezes podemos estar a excitar mais que um canal em
simultâneo. Na imagem vemos que por vezes, aparece o dobro da intensidade da corrente. Isto é
resultado da abertura de um segundo canal. Podemos ter dois canais, mas a probabilidade de
abertura dos dois em simultâneo é muito baixa, uma vez que a maior parte das vezes apenas vemos
uma intensidade de corrente.

Características dos Canais Iónicos

Fluxo iónico através dos Canais

Como já foi visto, o fluxo iónico não obedece à lei de Ohm,

𝐸 = 𝑅𝐼

pois I não nula quando E é nulo, sendo que só se verifica I=0 quando E é igual ao potencal de
equilíbrio.

Assim, o canal já não Ohmico, sendo denominado rectificador tardio. O gráfico de I em


função de E não é uma recta.

44
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Mas com um canal não ohmico também podemos saber qual a condutância. Traçamos à
mesma um gráfico de I vs Em. A corrente corrente corresponde á deflecção do sinal (no pico
máximo). A condutância será o declive da recta no gráfico.

Ex:

Aplicando um Em de -40mV, obter-se-ia o seguinte registo:

À medida que vamos diminuindo o


potencial de membrana, ou seja, à medida que o
vamos tornando mais negativo, o que se
verifica é que a deflecção (intensidade) da
corrente vai também diminuindo, até chegar ao
zero nos -80mV. Isto não quer dizer que os
canais estejam fechados, mas sim, que o que
acontece para um lado é igual ao que acontece
para o outro, ou seja, as correntes nos dois
sentidos anulam-se mutuamente.

Para o valor de Em=-100mV, já


começa a haver reversão, ou seja, o K+ começa
a entrar.

Constrói-se então o gráfico de I vs Em:

Para valores acima do potencial de equilíbrio do K+, este ião flui do ponto onde a sua
concentração é maior (100mM) para onde esta é menor (5mM), o que é facilitado pela condutância
(elevada). Para valores abaixo de EK, ocore o opsto (a condutância é menor).

Para se saber qual a condutância, é necessário fazer uma outra experiência, em que as
concentrações do ião dentro e fora da célula sejam iguais, pois assim vamos obter um gráfico com
apenas um declive.
𝑅𝑇 𝑋𝑜
𝐸𝑋 = ln → 𝑋 𝑜 = 𝑋 𝑖 → 𝐸𝑋 = 0𝑚𝑉
𝐹 𝑋𝑖

45
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Assim, para Em = 0mV tem um registo deste género.

Para Em > 0, obtêm-se deflecções positivas (correntes de saída), e para Em < 0, aparecem
deflecções negativas (correntes de entrada).

Para um canal ohmico, a condutância não depende do potencial de membrana, enquanto


que para um canal rectificador, existe uma diferença de condutâncias quando se trata de corrente de
entrada ou de saída. Esta diferença deve-se à assimetria do canal. Em canais rectificadores tardios, a
condutância é dependente do potencial de membrana.

Selectividade dos Canais

Os canais são capazes de discriminar os iões que passam por eles. Esta discriminação pode
ser feita com base no tamanho do ião, ou no tamanho do transportador, sendo que a existência de
um transportador não é consistente com o grande fluxo de iões.

A principal característica da selectividade é o tamanho do filtro de selectividade. O filtro de


selectividade é composto por aminoácidos que permitem a perda de águas de hidratação dos iões.
Assim, cada tipo de canal apresenta um diâmetro do poro de selectividade e tipo de aminoácidos
que lhe permitem fazer uma mais rápida desidratação do ião que lhe é específico. O ião específico
para um determinado canal, tem de interagir electrostaticamente com o canal, daí ter de perder as
águas de hidratação.

A selectividade de um ião é feita devido à existência de ligações


electrostáticas entre o ião e os aminoácidos, ligações estas que devem ser
mais fortes que as ligações de hidrogénio estabelecidas entre os
aminoácidos e água. Por esta razão, se o ião for mais pequeno que o ião
específico, a sua entrada não será possível, pois as forças electroestáticas
entre o ião e os aminoácidos não serão suficientemente fortes, para
vencer as pontes de hidrogénio entre as águas e os aminoácidos.

46
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Fases de Transporte

1 – Perda das águas de hidratação (total ou parcial)

2 – Translocação pelo canal

3 – Rehidratação e dissociação do canal.

Por aqui se vê que quanto maior a perda das águas de hidratação, maior será a corrente que
passa pelo canal.

Determinação da Selectividade

A selectividade pode ser determinada a partir do cálculo de EX, onde se comparam os


dados obtidos num estudo teórico com os dados obtidos num estudo prático. Se os dados forem
iguais, o canal é permeável apenas a esse ião. Se os dados não forem iguais, o canal ou não é
permeável a esse ião, ou não é só permeável a esse ião, sendo-o também a outros.

Experiência Exemplo:

Canal de K+.

Vai-se alterando a concentração de K+ extracelular, e constrói-se um gráfico de Em vs I,


onde se detectam os potenciais de reversão.

Em termos teóricos, a partir da equação de Nernst, calculam-se os vários potenciais de


reversão teóricos. Caso os valores de EX sejam iguais aos potenciais de reversão do gráfico, então o
canal será selectivo apenas a esse ião (neste caso o K+).

47
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Estados dos Canais

Os canais iónicos podem estar em três estados diferentes:

1. Abertos – há fluxo iónico mediante um certo estímulo que abre o canal;


2. Fechados – não há passagem de corrente;
3. Refractário ou inactivado – não há passagem de corrente pois o canal ficou menos
sensível ao estímulo.

Modelos Físicos

Existem três modelos físicos principais que explicam as


alterações entre o estado aberto e fechado:

1 – Alteração conformacional numa única zona, ou seja,


há alteração conformacional do canal numa zona que
fecha o canal;

2 – Alteração conformacional global, ou seja, todo o


canal muda de conformação;

3 – Partícula de bloqueio, sugere que existe uma molécula


que fecha o poro do canal.

Transição Fechado-Aberto

k2

k1

k2 >> k1 k2 << k1

A probabilidade de o canal passar Ocorre o oposto, a probabilidade de


mais tempo no estado fechado é estar no estado aberto é maior
maior

48
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Gating

As aberturas e fechos dos canais são controlados por estímulos específicos, existindo
diversos mecanismos que os regulam:

 Interacção do canal com o ligando;


 Fosforilação/Desfosrilação, em que a energia associada
à abertura do canal advém da transferência do grupo
fosfato para o mesmo.
 Sensibilidade à voltagem, em que a energia associada à
abertura do canal advém da alteração de Em;
 Sensibilidade à pressão ou estiramento da membrana,
em que forças mecânicas intervêm na alteração estado
fechado para o estado aberto.

Pelo gráfico vê-se que quanto maior o estimulo, maior a probabilidade (Po) de o canal se
encontrar aberto. Os estímulos que aumentam esta probabilidade são por exemplo, a ligação de um
agonista, a fosforilação ou desfosforialação (que ocorre na maioria dos canais sensíveis à voltagem
(CSV)), estiramento da membrana e mudança de temperatura, entre outros.

Cineticamente temos:

Para calcular α teríamos de estimar o tempo que o canal está


fechado, fazendo um histograma. τ 1
é igual a , e corresponde ao tempo
𝛼
médio de permanência do canal no estado fechado. Para calcular β realiza-se
o mesmo procedimento, mas estimando desta vez o tempo que o canal está
aberto.

49
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

No entanto, os canais não possuem só estes dois estados, sendo que normalmente o que
ocorre é:

Onde α, β, γ, e δ são constantes de transição, e C2, C1 e O, representam o canal fechado


sem agonista, fechado com agonista, e aberto, respectivamente. Para este caso realiza-se também
um histograma.

Experimentalmente o que se determina é:

A probabilidade do canal passar de C2 para C1 é baixa, sendo que o canal passa mais tempo
no estado C2. No entanto, quando está no estado C1, a probabilidade de abrir é muito elevada. O
estado C2 pode ser considerado o estado inactivo ou dessensibilizado.

Assim os registos obtidos são deste género:

50
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Canais apresentam mais do que dois estados

Os canais nunca passam directamente de inactivos para abertos, primeiro fecham e só


depois voltam a abrir.

Exemplos de canais:

Canais sensíveis à voltagem

Estes canais apenas inactivam com o prolongamento da despolarização. Com a


hiperpolarização passam de inactivos a fechados.

Ligação de Ca2+

Estrutura dos Canais Iónicos

Existe uma grande diversidade de canais iónicos, todos eles têm diversas características
distintas como:

 Número de subunidades;
 Zonas responsáveis pela activação;
 Zonas responsáveis pela inactivação;
 Zonas de permeia de iões.

Os canais foram agrupados em três grupos:

 Estrutura tetramérica;
 Estrutura pentamérica;
 Estrutura Hexamérica.

51
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Canais Pentaméricos

São canais com 5 subunidades (por exemplo: receptor de glicina, do GABAa, receptor
nicotínico da Ach).

O receptor nicotínico da Ach é muito estudado devido à existência de uma grande


densidade destes canais no órgão eléctrico do torpedo. Existe uma toxina do veneno de uma cobra,
que é altamente específica para este canal. Este canal é pentamérico e possui 2 subunidades α, 1β,
1γ e 1δ. Na sequência de aminoácidos da subnudidade α, aparece primeiro uma zona LSS (leading
signal sequence) que é clivada na proteína madura, e que tem a função de guiar a proteína para a
membrana. Cerca de 200 aminoácidos após a LSS, existem 3 zonas fortemente hidrofóbicas, M1,
M2 e M3. Mais à frente existe uma outra zona também hidrofóbica M4. Assim parece óbvio que a
subunidade α tem 4 segmentos transmembranares.

Pelo estudo de todas as subunidades, o que se verifica é que todas têm estrutura
semelhante, tendo no entanto actividades diferentes:

 δ controla a condutividade do canal;


 α é o local de ligação da Ach e a subunidade com maior influência no gating;
 A zona M2 de todas as subunidades está voltada para o poro, ou seja, os
segmentos M2 não têm aminoácidos carregados, mas imediatmente antes e depois,
existem aminoácidos polares. A meio do canal existe ainda uma outra zona com
aminoácidos polares, o que faz com existam 3 aneis carregados negativamente no
canal.

Estes anéis carregados negativamente atraem catiões, neste caso o Na+. O anel intermédio,
é o que mais contribui para a se selectividade do canal. Uma alteração num destes aminoácidos leva
a uma diminuição da condutância.

52
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Família de Receptores

Existem muitos canais pentaméricos com características semelhantes ao nicotínico da Ach,


como por exemplo, o 5HT3R da serotonina, o GABAa Rα1, ou o GlyRα1. Neste último grupo
existem excepão, que são os receptores de glutamato (AMPA, NMDA e Kainate), e os receptores
purinérgicos P2X.

Os canais pentaméricos conseguem seleccionar aniões de catiões mas não conseguem


diferenciar entre os catiões. No entanto apresentam maior ou menor selectividade consoante o
catião.

Canais Tetraméricos

Exemplos de canais tetraméricos são os canais sensíveis à voltagem (Na+, K+, Ca2+), os
canais dos sinaptossomas dos cérebros de rato, e os canais do órgão eléctrico da lula.

Verifica-se que estes canais podem apresentar uma só subunidade (com vários domínios)
ou várias subunidades, apesar de existir sempre uma de maiores dimensões que delimita o poro.

Canal de Na+

Apesar de possuir diversas subunidades, a sub. Α é a mais importante. Esta subunidade é


constituída por 4 domínios de repetição (I, II, III e IV) que contêm cada um 6 segmentos
transmembranares hidrofóbicos, cinco dos quais hidrofóbicos (S1, S2, S3, S5, e S6). A subunidade
que forma o poro é codificada num único polipéptido.

Canal de Ca2+

É semelhante ao de Na+, variando a composição das subunidades.

Canal de K+

É constituído por 4 subunidades α que se encontram separadas, estando ligadas por


interacções dos terminais amínicos dentro da célula.

Sensor de Voltagem

É o segmento transmembranar S4. Este segmento tem ~19 aminoácidos, sendo que 4 a 6
destes estão carregados positivamente. Quando ocorre despolarização da membrana, a região
S4roda sobre si própria causando uma alteração conformacional que arrasta consigo as regiões S5 e
S6, afastando-as e abrindo o canal. O loop entre S5 e S6 funciona como um filtro de selectividade do
poro do canal.

No segmento S4, de 3 em 3 aminoácidos aparece um que é positivo (Lisina ou Arginina).


Este segmento encontra-se bastante condensado nos canais de Na+, Ca2+ e K+.

Poro do Canal

A região que faz o filtro de selectividade é a parte do


loop extracelular que existe entre os segmentos S5 e S6. Este
loop entra no poro e cria assim o filtro.

53
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Filtro de Selectividade

O canal de K+ constituído pelos aminoácidos TVGYG. Só o K+ é capaz de passar, pois o


poro apenas possibilita a libertação das águas de hidratação deste ião. Para o Na+, este processo não
é energeticamente favorável.

Família de Canais

Nem todos os canais tetraméricos têm 6 segmentos transmembranares e 1 poro, como os


enunciados. Existem canais com 2 segmentos transmembranares e 1 poro (Ki), com 4 segmentos
transmembranares e 2 poros (KCNK), ou ainda com 3 segmentos transmembranares e 1 poro. Os
canais tetraméricos fazem distinção entre catiões.

Canais Hexaméricos

A maior parte destes canais está envolvida em Gap-junctions, permitindo a passagem de


compostos indiscriminadamente, até 1kDa, entre células justapostas.

Estrutura

São constituídos por 6 subunidades (conexinas), em cada uma possui 4 segmentos


transmembranares. Cada gap-junction possui dois poros, um em cada uma das membranas
plasmáticas das células que une. Cada conexina roda sobre si própria cerca de 30º, pelo que a sua
ligação para formar a gap-junction é mais forte. Assim, cada
conexina está em contacto com duas do outro poro. A
rotação das subunidades permite o fecho e abertura dos
canais. As gap-junctions não estão permanente abertas
fechando em segundos quando se dá o aumento da
concentração de Ca2+ intracelular.

54
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Tema 7 – Electrogénese da excitabilidade


celular e propagação de sinais eléctricos
A célula pode ser descrita como um circuito RC, logo se se aplicar uma determinada
corrente tem-se:

𝒅𝑵
𝑰𝒎 = 𝑰𝒄 + 𝑰𝒊 = 𝒄 + 𝑰𝒊
𝒅𝒕
Onde Ic é a corrente que flui no condensador, Ii é a corrente que flui pela resistência (nos canais
iónicos).

Contudo, nem sempre é útil a presença de Ic, que em principio é independente do canal
iónico. Assim recorre-se ao Voltage Clamp.

Voltage Clamp

É uma técnica que permite fazer medições da corrente em condições de potencial


controlado, ou seja, o sistema recebe uma voltagem e mede-se a corrente. O potencial aplicado é
controlado, impedindo que o potencial inserido seja alterado devido ao deslocamento de iões.

Isto é conseguido devido à existência de um aparelho que compensa a diferença de


potencial.

Ex: Ocorre despolarização e há entrada de Na+. O aparelho (FBA) insere uma corrente negativa
pala contrapor a diferença entre o potencial inicial (potencial de Clamp) e o potencial que se gerou
devido à abertura dos canais.

Células excitáveis electricamente

São células capazes de gerar potenciais de acção (PA). O PA para se gerar o estímulo
recebido tem de levar a que o potencial de membrana (Em) ultrapasse o potencial limiar. O PA é
uma mudança no Em que se deve ao movimento de iões através de canais iónicos situados na
membrana. O PA á uma resposta tudo-ou-nada a um estímulo, ou seja, ou atinge o limiar e
desencadeia um PA que se propaga para a célula seguinte, ou então não atinge o limiar e nada
acontece.

55
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Registo das correntes totais em Voltage Clamp

As primeiras medições de corrente foram efectuadas no axónio gigante da lula. Podemos


tomar este axónio como um cilindro, que contem no seu interior o axoplasma, e que é rodeado por
uma membrana superficial contínua.

1 - Hiperpolarização

Neste registo partiu-se de um potencial de -65mV para um de -130mV.

O que se verificou foi um pequeno aumento da corrente, o que corresponde a uma


condutância baixa.

2 – Despolarização

Partiu-se de -65mV para 0mV.

Ocorre a activação de canais de Na+ assim que a corrente deflecte para baixo, e ocorre
activação dos canais de K+ no pico da corrente de entrada. Esta experiência mostra que os
mecanismos de permeabilidade aos dois iões são completamente distintos.

Identificação das correntes

A identificação das correntes pode ser feita de 3 formas:

1 – Alteração das concentrações iónicas

Nesta experiência uma solução tinha


100% de Na+ e na outra o Na+ foi substituído
por um ião não permeante da membrana. O
gráfico de subtracção representa apenas o efeito
do Na+, e podemos medir a corrente de Na+.
Verificou-se que o Na+ não é responsável pela
corrente de saída. O canal de Na+ tem uma
cinética de abertura maior.

56
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

2 – Determinação do potencial de reversão

Na determinação do potencial de reversão realiza-se uma curva I vs E, em que se verifica


qual a corrente máxima para cada potencial.

O potencial de reversão será o ponto em que a corrente passa de negativa a positiva.


Quanto mais perto estiver o potencial de reversão do potencial de equilíbrio, mais selectivo é o
canal para um dado ião.

3 – Uso de Bloqueadores específicos

Com o uso de inibidores específicos pode-se verificar o desaparecimento de correntes


características de cada ião.

1º hiperpolariza-se a membrana para -


120mV, despolarizando-se depois para medir
as correntes de Na+ e K+ antes da inactivação
dos canais.

Usando TEA inibimos os canais de


K+ e medimos as correntes de Na+.

Usando TTX fazemos a operação


contrária da anterior.

57
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Relação entre correntes unitárias e totais

Utilizando a técnica de Patch-Clamp, pode-se registar a corrente de um único canal.


Fazendo a soma das correntes parciais, obtemos um valor para toda a célula.

Onde N é o número de canais presentes na membrana, po é a probabilidade de um canal se


encontrar no estado aberto e i é a corrente de um só canal.

Medindo a corrente de três canais verificou-se que a probabilidade de abertura de um canal


é maior quando outros canais já abriram.

Curso Temporal das condutâncias de Na+ e K+

Os valores de permeabilidade de um canal (condutância) são dependentes da voltagem:

Mas verificou-se que gx também tem uma dependência temporal.

Nos canais de K+, quando baixamos o potencial após uma despolarização, verificamos que
a sua condutância diminui exponencialmente. Isto deve-se ao facto de que o aumento da
condutância destes canais é sigmoidal, e como tal o decaimento será exponencial. Temos de ter em
atenção que o canal de K+ possui 4 gates de activação, que funcionan individualmente, estando o
canal activo apenas quando as 4 gates estão abertas, o que leva a que g aumente lentamente. No
entanto basta que uma gate se feche para que o canal fique inactivo, daí o decaimento exponêncial
de g.

NOTA:

Despolarização

 Abertura dos canais de Na+. Estes canais


começam a inactivar rapidamente com a
manutenção do pulso de corrente. Algum
tempo depois abrem os canais de K+.

Hiperpolarização

 Os canais de K+ começam a fechar.

58
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Variação das condutâncias em função da voltagem

As condutâncias dos canais de sódio e potássio são tanto maiores quanto maior for o
potencial de membrana (despolarização).

Pode então ser construído um gráfico:

Verifica-se que para valores


superiores a 20 mV começa a haver
saturação, pois todos os canais estão
recrutados.

A meio verifica-se uma depencia


linear entre g e Em.

Contudo, a relação g vs Em não é infinita, existindo valores máximos e mínimos para a


permeabilidade de cada ião.

Modelo de Hodgkin-Huxley (HH)

Estes dois cientistas procuraram descrever, em termos de mecanismos moleculares, a


alteração dos fluxos iónicos e de permeabilidade dos iões. Criaram um modelo empírico para
descrever cineticamente as alterações para o K+ e o Na+.

K+

59
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Os canais de K+ apresentam quatro partículas de gating n, que são responsáveis pela


activação dos canais. Não existe partícula inactivadora, assim a inactivação funciona como um todo,
ou seja, uma alteração conformacional global.

Na+

Para o Na+ há um fragmento de fora que funciona como gate de inactivação (h) e que
coloca o canal num estado refractário. As 3 partículas m são responsáveis pela abertura do canal, ou
seja, passagem do estado não permissivo ao estado permissivo que ocorre durante a despolarização.

As partículas m atingem o plateu de activação muito mais rapidamente que as partículas n,


levando a que a activação dos canais de Na+ seja bastante rápida.

Agora já se percebe porque é que o gNa aumenta mais rapidamente que o gK.

Gate de activação do canal de Na+

Como seria de esperar, existem correntes iniciais (correntes de gating) que ocorrem
imediatamente antes do aparecimento das correntes iónicas, pois abrem os canais, permitindo a
passagem dos iões. Estas correntes são bastante mais pequenas que as correntes iónicas e, por isso,
nem sempre são detectáveis. Estas correntes apresentam uma dependência da voltagem idêntica à
dependência da voltagem do canal, sendo que as correntes de gating mostram o deslocamento das
cargas positivas dos aminoácidos do segmento S4 na membrana plasmática, do folheto interno para
o folheto externo.
Podem ser criadas correntes de gating sem haver correntes iónicas, sendo que para que as
correntes de gating existam basta que um segmento S4 se movimente, enquanto para existir
corrente iónica, é necessário que se movam os 4 segmentos, ficando assim o poro disponível para a
passagem dos iões.

60
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Gate de Inactivação do canal de Na+

Está localizada no loop intracelular entre o segmento III e IV da subunidade α (órgão do


torpedo e músculo), sendo que no sistema nervoso existem ainda as subunidades β1 e β2 com
capacidade de inactivação.

A gate de inactivação funciona como uma rolha:

Pronase – a administração intracelular de pronase vai fazer com que haja clivagem
enzimática da gate de inactivação, ocorrendo:

Doenças Genéticas

Miotonias – ocorre o desaparecimento da gate de inactivação do canal de Na+, provocada


por uma mutação no gene SCN4A. Com esta patologia, estão sempre a gerar-se potenciais de
acção, sendo que após a contracção do músculo, pode não ser possível o relaxamento.

Convulsões associadas a febres altas – Há uma mutação na subunidade β1 em neurónios, o


que altera a gate de inactivação do canal de Na+. Em crianças, febres altas podem levar a mutações
no gene SNC1R que codifica a subunidade β1. A cinética de inactivação dos canais de Na + é mais
lenta, levando a uma sobreexcitação da célula (convulsões).

61
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Inactivação das correntes de K+

A inactivação dos canais é dependente da voltagem. À medida que o potencial de


membrana aumenta, menor é a corrente IK, havendo portanto uma maior inactivação dos canais de
K+. Os canais de K+ começam a inactivar após a inactivação dos canais de Na+, o que leva a uma
hiperpolarização da membrana.

Selectividade dos canais de Na+ e de K+

Os canais de Na+ são muito selectivos para este ião, mas podem também ser atravessados
por H+, ou por Li+, ou ainda por hidroxilamina.

Os canais de K+ são também muito permeáveis a Rb+ e a Tl+.

Agentes modificadores do gating do canal de Na+

É a propriedade mais fácil de modular (em comparação com a selectividade e a condutânica


do canal).

Toxinas α

 Actuam no lado extracelular;


 Mantêm o canal aberto.

As toxinas α levam à criação de um potencial de


acção muito maior. Estas toxinas apenas se ligam a
canais de Na+ abertos ou em repouso. A sua ligação
estabiliza a forma aberta do canal, levando ao influxo
de maior número de catiões ao longo do tempo, o
que prolonga o potencial de acção. Esta toxina está
presente no veneno do escorpião.

62
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Toxinas β

Depois de o canal estar aberto, a toxina permite a entrada de Na+ mesmo quando já não há
despolarização. Estas toxinas actuam no lado extracelular e só se ligam depois de o canal estar
aberto, impedindo que este se feche por bloqueamento da gate de inactivação. Estas toxinas podem
levar a que os canais de Na+ se activem a partir do repouso, formando-se correntes de cauda.

As toxinas β causam uma modificação da activação do canal de Na+, levando a que os


canais abram durante vários milisegundos, formando-se uma corrente de cauda ainda maior.

As toxinas β existem em Centruroides, e também em escorpiões.

Toxinas Lipossolúveis

Estas toxinas têm efeitos semelhantes às anteriores, mas como são lipossolúveis podem
actuar também no lado intracelular.

Aconitina – No potencial de repouso já há


abertura dos canais de Na+, e existe uma alteração na
dependência da corrente pela voltagem. Ocorre uma
diminuição da condutância do canal, e ocorre também
a diminuição da selectividade do canal (verificada pelo
afastamento do potencial de reversão.

63
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Veratridina – possui um efeito semelhante às toxinas β, ligando-se ao canal aberto. Esta


ligação leva a que o canal seja alterado, diminuindo a corrente que passa por ele, mas bloqueando a
inactivação do canal. O canal mantém-se aberto, havendo um fluxo contínuo.

Batracotoxina (BTX) – A BTX não provoca inactivação, mas sim uma alteração da
activação. Ocorre uma ligação irreversível da toxina ao canal.

O que ocorre:

Forma-se um novo estado chamado de O*, que é menos condutor, mas impossibilita a
inactivação.

Bloqueio da corrente de Na+ por toxinas

Uso de TTX e STX e consequente registo de correntes:

Não afectam o gating do canal, ou seja,


não afectam as correntes de gating criadas pelo
mivomento de aminoácidos. As drogas que
afectam o gating não afectam a ligação do TTX ao
canal. Estas toxinas actuam no lado no lado
extracelular na configuração fechada (possuem
carga positiva). A velocidade de bloqueio é a
mesma em axónios estimulados e não
estimulados.

64
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Não é necessário o canal estar aberta para a droga actuar, elas ligam-se junto do filtro de
selectividade. A ligação destas toxinas é diminuída por soluções ácidas, sendo que com a
despolarização este antagonista é diminuído devido ao pH baixo.

Estas toxinas bloqueiam o canal e quanto maior for a sua concentração, maior será o
bloqueio.

Modificação do gating em canais sensíveis à voltagem (CSV)

As toxinas mais investigadas para este processos, são as modificadoras da cinética de


gating. Como exemplos temos os polipéptidos do veneno do escorpião e de nematocistos, as
toxinas alcalóides segregadas pelos sapos tropicais, e outras toxinas lipossolúveis. Todas estas
toxinas actuam ao nível dos canais de Na+, aumentando a probabilidade de abertura destes, ou
impedindo que estes se fechem.

Três principais classes de modificadores de gating

1 – Previnem a inactivação;

2 – Promovem a activação, quando em repouso;

3 – Alteram a dependência da voltagem nos processos de gating.

Toxina α (α-NaTx)

Está presente no veneno do escorpião e das anémonas, e diminui a inactivação do canal de


Na+, ou seja, o canal demora mais tempo a inactivar. A α-NaTx liga-se reversível e
competitivamente ao canal de Na+ num receptor extracelular. Esta ligação não bloqueia o fluxo de
iões no poro. O efeito clássico desta toxina é o prolongamento do potencial de acção por vários
ms, podendo mesmo atingir os segundos, havendo depois uma inactivação lenta.

65
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

A velocidade e a dependência da voltagem da activação do canal, normalmente não são


alteradas pelas toxinas α.

A ligação da toxina α ao canal de Na+ depende do estado do canal. A toxina α liga-se


fortemente ao canal no estado aberto ou de repouso, e fracamente no estado inactivo. Assim, a
inactivação de um canal com uma toxina α ligada, é menos favorável, uma vez que o processo de
gating necessita de energia extra para enfraquecer a interacção. Por isso as transições entre o estado
de repouso e aberto, permanecem normais.

Toxina β (ver também p.62)

Esta toxina está também presente no veneno do escorpião. A toxina β modifica a activação
dos canais de Na+, fazendo com que estes permaneçam abertos no potencial de repouso normal,
durante centenas de milissegundos. Esta toxina liga-se a um receptor distinto do da toxina α,
demoram alguns minutos a actuar e dissociam muito mais lentamente que a toxina α.

Toxinas Lipossolúveis (ver também p.62)

Exemplos destas toxinas são a Aconitina, a Veratridina, a Batracotoxina, o DDT, entre


outros. Estas moléculas fazem com que o canal de Na+ abra mais facilmente e que assim se
mantenha por mais tempo.

Propagação de sinais eléctricos

Consideremos células esféricas e isopotenciais. Nestas células o sinal eléctrico propaga-se


da mesma forma pela célula toda. Células longas não são isopotênciais, sendo que a alteração do
potencial num ponto não altera o potencial no resto da célula (ex: neurónios)

A velocidade de propagação do sinal depende de propriedades próprias da fibra (τ e λ).

𝒓𝒎
𝝀 𝒓𝒊
𝑽𝒆𝒍𝒐𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆 → 𝜽 ∝ =
𝝉 𝒓𝒎 𝒄𝒎

Registo extracelular de potenciais de acção (PA)

Registo Biofísico: Colocam-se dois eléctrodos em zonas condutoras e regista-se a diferença


de potencial entre eles ao longo do tempo.

Em 1, o citoplasma está mais positivo que o lado


extracelular, estando o 1º eléctrodo (no lado de fora) mais
negativo que o 2º eléctrodo (no lado de dentro). Isto leva
a que haja uma maior diferença de potencial (dá-se o
aumento do PA);

Em 2, o potencial nos dois eléctrodos é igual;

Em 3, acontece o contrário de 1, o registo inverte.

66
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Registo monofásico: Só um dos eléctrodos é que é


colocado numa zona condutora, estando o colocado numa zona
não condutora (potencial igual a zero). Aqui efectua-se o registo
da passagem de corrente ao longo do tempo, num só local .

Potenciais sub-estimulatórios

Nem sempre se detectam potenciais de acção, pois para tal é necessário que a membrana
seja despolarizada até um certo limite, ou seja, estes potenciais de membrana não geram um PA.

Potenciais electrotónicos

São potenciais que não chegam ao limiar, não causando assim o recrutamento de canais.
Hodgkin realizou uma experiência em que se hiperpolarizava ou despolarivaza a membrana até um
certo valor. Verificou-se que o decaimento do potencial de membrana não é instantâneo, mas que
demora um certo tempo (curva com forma exponencial).

Isto deve-se a um descarregamento do condensador (perde a carga acumulada) da


membrana, pela resistência. A mudança eléctrica que é atribuída à passagem de corrente através de
uma resistência e condensador de membrana é conhecida por potencial electrotónico. Este
potencial distribui-se livremente.

67
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Registos Locais

Na formação de um potencial de acção


electrotónico, pode ocorrer uma resposta excitatória
local, em que houve despolarização, mas não o
suficiente para a criação de um potencial de acção.
Quando o potencial de membrana se aproxima do
potencial limiar para um PA, existe um recrutamento de
canais, levando a que a resistência da membrana seja
maior, o que leva a uma despolarização da célula,
gerando-se um PA. Assim, a distribuição do potencial
electrotónico sofre um desvio da linearidade quando o
potencial se aproxima do limiar.
Lapso de matéria

Potenciais Multiplos

Os nervos são conjuntos de axónios mielinizados e não mielinizados, sendo constituídos


por diversas fibras com diferentes velocidades de propagação.

Tipos de fibras:

Mielinizadas  diminuição do raio do axónio  aumento da velocidade de


propagação.

Não mielinizadas  propagação mais lentas.

Canais de Ca2+

Até agora desprezou-se a contribuição dos canais de Ca2+ para a geração de um PA, mas
verificou-se que, em algumas células, mesmo na ausência de canais de Na+, existem PA, que são
criados pelo Ca2+. Contudo estes PA são diferentes dos de Na+. Os PA de Na+ duram cerca de 2 a
3ms (poupança de energia), enquanto os PA de Ca2+ duram entre 100 e 300ms. Este grande
aumento de tempo tem de ser assim pois o Ca2+ funciona como segundo mensageiro intracelular,
ou seja, o PA tem de durar o tempo suficiente para que haja aumento da concentração de cálcio
significativa no citoplasma.

Esta curva I vs E é muito semelhante à de Na+, no


entanto encontra-se deslocada para a direita em relação a ela.

A cerca de -40mV dá-se a activação de CCSV. Aqui a


contracção do músculo não depende de Ca2+.

68
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Activação de canais de Cl- dependentes de Ca2+.

Verificou-se que as actividades dependentes do influxe de


Ca2+ têm um perfil em forma de sino. As actividades dependentes da
libertação de Ca2+ do retículo sarcoplasmático apresentam um perfil
sigmoidal.

Estrutura dos Canais de Ca2+ sensíveis à voltagem (CCSV)

No músculo esquelético, o canal é tetramérico. A subunidade principal (α1) é muito


semelhante subunidade α do canal de Na+. Esta subunidade possui quatro domínios de repetição
com 6 regiões transmembranares em cada domínio. A região S4 funciona como um sensor de
voltagem (está carregada positivamente). O loop intracelular entre os domínios I e II funciona como
gate de inactivação (onde se liga a subunidade β). A subunidade β tem como funções aumentar a
expressão de α1, desviar a curva de activação para valores mais negativos, e modular a inactivação.

Selectividade do Canal de Ca2+

Este canal apresenta um poro semelhante ao do canal de sódio, sendo que este poro é
praticamente impermeável a catiões monovalentes. O poro possui um anel de selectividade com 4
glutamatos (1 para cada domínio de repetição). Este filtro de selectividade apresenta dois locais de
ligação para cálcio.

 Se existir muito cálcio disponível, existe uma grande corrente de cálcio (os dois
locais estão preenchidos);
 Se apenas um local é preenchido, não há influxo nem efluxo de Ca2+ (o cálcio liga-
se com alta afinidade aos glutamatos);
 Se não existir Ca2+, o canal perde a selectividade e começa a permear outros iões.

69
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Inactivação dos Canais de Ca2+

Existem dois tipos de inactivação:

 Dependente da voltagem;
 Dependente de Ca2+.

Inactivação dependente da voltagem

Existem três zonas que interferem na interacção: o segmento S6 do domínio II, o S6 do


domínio III e o loop intracelular entre I e II (rolha). Neste loop liga-se a subunidade β que pode
interferir com a interacção.

Inactivação dependente de Ca2+

Existe uma zona muito perto do terminal carboxílico que liga Ca2+. Existe uma outra zona
perto do domínio IV onde se liga a calmodulina. A calmodulina liga-se a este Ca2+ e bloqueia o
canal.

Este facto é comprovado pelas experiências em que, a injecção de Ca2+ intracelular provoca
inactivação, a injecção de EGTA e BAPTA (que são agentes quelantes) reduz a inactivação, a
substituição do ião Ca2+ pelo Ba2+ reduz a inactivação (o bário não se liga a CaM), a despolarização
para o ECa provoca inactivações insignificantes, uma vez que o Ca2+ não entra.

Correntes de Ca2+ LVA e HVA (células cardícas)

Existem dosi tipos de canais que abrem para Em diferentes. Os LVA (low voltage
activation) abrem ~-50mV, são também chamados de T. Os HVA (High voltage activation) abrem
para Em > 20mV, são também chamados de L.

Para separar estes dois tipos de canais, realizou-se a seguinte experiência:

Usaram-se células atriais cardíacas, sujeitando-as a potenciais teste de -20mV ou +10mV,


partindo de diferentes potenciais de repouso. Registaram-se então as correntes de Ba2+ em “Whole
Cell”.

70
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Quando o potencial de repouso parte de -30mV (potencial suficiente para inactivar os


canais de LVA), não se verifica corrente de Ba2+, ao despolarizar para -20mV. Por outro lado
quando a despolarização se dá de -30mV para +10mV, verifica-se uma corrente enorme (activação
das correntes de HVA). Quando o potencial de repouso é de -80mV, e se procede à despolarização
para -20mV, é visível a corrente de LVA. Se a despolarização for para +10mV, observam-se as duas
correntes.

Curva de I vs E

LVA – possuem uma condutância baixa, e uma


inactivação rápida, sendo que estas correntes surgem para
valores de Em baixos, existindo um pico de corrente
transitório. Os canais LVA são sensíveis a Níquel, mas não
a dihidroxipiridina.

HVA – possuem uma grande condutância, e


apresentam uma inactivação lenta. Estes canais são
sensíveis a dihidroxipiridina.

EM SUMA

Os canais LVA activam a potenciais mais baixos (-50mV), criando uma corrente transitória.
Esta corrente faz aumentar o potencial, havendo uma despolarização que possibilita a activação dos
HVA. Os canais HVA têm uma condutância maior, possibilitando a formação de PA.

Modulação de canais de Ca2+ por Proteínas G

Esta é uma modulação directa e negativa, ou seja, a proteína liga-se ao canal e diminui a
corrente. As subunidades βγ da proteína G ligam-se num loop intracelular do canal, entre as
subunidades α1 e α2. Neste loop liga-se também a subunidade β do canal. Desta ligação resulta uma
maior demora na activação dos canais da família 2.

71
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Canais de K+

Existe uma enorme variedade de canais de K+, o que permite as diferenças na actividade
eléctrica das diferentes células. Os canais de K+ têm em comum o filtro de selectividade. A
diversidade destes canais é conseguida pois as 4 subunidades provêm de polipéptidos diferentes,
havendo várias possibiliades no agrupamento.

Correntes de K+ do Tipo A

Estas correntes permitem controlar a frequência de disparos de potenciais de acção, sendo


correntes transitórias.

Estes canais de K+ tipo A são diferentes são diferentes dos canais de K+ refractários
tardios.

72
cmtc
Biofísica Celular 2009 – 2010

Pode ser feita uma experiência para distingui-los

Quando a célula é despolarizada de -40mV para -5mV, aparece uma corrente que
corresponde à activação de canais de K+ rectificadores. Se despolarizarmos a membrana de -80mV
para -5mV, aparece uma nova corrente de activação muito rápida e transitória. Subtraindo as duas
curvas obtém-se a curva da corrente de canais do Tipo A.

Após o Potencial de Acção

No final do PA os canais de K+ rectificadores tardios levam à rectificação do potencial de


acção. Quando se atinge um certo potencial (de ~-70mV) os canais do Tipo A são activados, sendo
inactivados os rectificadores. Existe assim uma corrente IA alta que impede a criação de um outro
PA.

Inactivação dos Canais do Tipo A

O terminal amínico desloca-se para o poro e promove a inactivação. Pensa-se que a


subunidade β também tem influência na inactivação. A inactivação destes canais é realizada por um
mecanismo bala e corrente.

Activação e Inactivação, e Em

73
cmtc

Você também pode gostar