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Artigo apresentado no ADM Congresso Internacional de Administração em setembro de
2015, em Ponta Grossa-PR.
RAU/UEG – Revista de Administração da UEG – ISSN 2236-1197, v.6, n.3 set./dez. 2015
MENDES, Mirela; CARNEIRO, Alexandre de Freitas
sobre os assuntos abordados no âmbito foi promovido por Getúlio Vargas, que
nacional, quais sejam: modelos de introduziu a burocracia no serviço público
administração pública patrimonialista e através da criação do Departamento de
burocrático, a administração pública Administração do Serviço Público (DASP),
gerencial e a LRF. Na sequência, são cuja finalidade era a de promover a
apresentados os procedimentos estruturação básica do aparelho
metodológicos do trabalho, bem como o administrativo, instituir o concurso público e
conteúdo das discussões e a conclusão. as regras para admissão e treinamentos dos
servidores públicos (ARAUJO; PEREIRA,
2012).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Para Klering, Porsse e Guadagin
2.1 A Administração Pública no Brasil (2010), a base da administração pública
burocrática tinha como princípios
Conforme observado por Gomes e orientadores o da profissionalização, o de
Oliveira (2010), o modelo convencional carreira, o de hierarquia funcional, o de
patrimonialista, vigente no Brasil na época impessoalidade e o do formalismo, ou seja, o
em que o país era governado por D. João VI do poder racional-legal. Esse último
no início do séc. XIX, era o tipo de princípio é também mencionado por Max
administração típico das monarquias Weber. Segundo Bresser (2010), a
absolutas, em que o patrimônio público e o dominação de racional-legal formulada por
patrimônio privado eram confundidos e o Weber desempenha condição fundamental
poder era tratado como uma extensão da no processo histórico de reflexão da
soberania, o que favorecia o nepotismo e burocracia. Através dela, uma administração
atendia às necessidades de poucos. profissional é criada com a fundação de
O modelo patrimonialista era instituições e políticas públicas constantes da
caracterizado, portanto, pela inexatidão em administração pública burocrática. Nesse
relação ao que era público ou privado e entre contexto do modelo weberiano que se
o político e o gestor público. Tal pode ser instalou no Brasil, e mesmo diante do
encarado como resultado do nepotismo e da progresso da burocracia com o controle de
corrupção que caracterizavam esse modelo hierarquia e com o formalismo nos
de administração (KLERING; PORSSE; processos, esse modelo de administração
GUADAGIN, 2010). O patrimonialismo restou inadequado (PASCARELLI FILHO,
permaneceu até a Revolução de 1930. Foi a 2011).
partir desse movimento que o país iniciou Também para Keinert (2000), esse
um processo de modernização das estruturas modelo tradicional-burocrático tornou-se
do Estado através das reformas realizadas inadequado e foi marcado por crises e
pelo governo, dando início à administração transformações profundas. No entendimento
burocrática (COSTA, 2008). dessa autora, a burocracia auto-referida deve
Para Henrique e Ricci (2011), com a dar lugar a uma administração
administração pública burocrática, surgiram verdadeiramente pública e democrática, em
as amarras do sistema, ou seja, as normas e que a matriz centrada na sociedade substitui
as leis que definiam as ações públicas e os a matriz centrada no Estado. Assim, a
seus recursos, e ainda regulavam seus administração pública gerencial, segundo
agentes. Esse tipo de administração no Brasil
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combater a corrupção e exercer sua principal mais abertas à participação social e voltadas
função, que é a social. às necessidades dos cidadãos.
Ferretti, Tres e Louzada (2012) Para identificar se o modelo
observam que a administração pública gerencial foi adotado na gestão pública
gerencial possui algumas características brasileira, Freitas Junior (2009), por meio de
básicas: foco no cidadão, obtenção de estudo com a utilização de índices aplicados
resultados, descentralização do poder e nos municípios do Sul de Minas Gerais,
tomada de decisão. Desse modo, propôs a identificação e análise dos tipos de
incentivando a criatividade e inovação por administração pública por meio de
parte dos políticos e funcionários públicos, indicadores adequados (Quadro 1). Segundo
esse modelo de gestão também possuir como esse autor, a identificação desses índices
finalidade o combate à corrupção e ao pode contribuir para a definição de políticas
nepotismo, sem, entretanto, aplicar públicas mais eficientes e adequadas a cada
procedimentos de controle severos. município, de acordo com as características
A NGP, segundo Jones e Thompson locais que possuem. Para a identificação dos
(2000), caracteriza-se por: contextualizar o índices, o autor elaborou uma estrutura com
cidadão como um cliente em foco; as variáveis e indicadores, conforme
estabelecer o sentido claro da missão da demonstrado no Quadro 1.
organização pública; delegar autoridades; Na pesquisa realizada por Freitas
substituir normas por incentivos; elaborar Junior, de 177 municípios mineiros, apenas
orçamentos baseados em resultados; expor 39 mostraram um nível intermediário de
operações do governo à concorrência; gerencialismo, apresentando um tipo híbrido
procurar soluções de mercado e não apenas de administração. Segundo esse autor
administrativas; e medir o sucesso do (2009), embora o modelo gerencial seja
governo pelo cidadão. Jones e Thompson dominante na atualidade, ele vem seguindo
(2000) também listam os princípios da NGP: estruturas determinadas pelo modelo
reestruturação, reengenharia, reinvenção, burocrático e ainda existem bases
realinhamento e reconceituação. E, para patrimonialistas na administração atual.
Heyer (2011), o quadro teórico da NGP é Portanto, ainda há muito espaço a ser
definido por: teoria da escolha pública, teoria explorado para que se atinja um modelo mais
do agente-principal (agência), teoria dos democrático e participativo.
custos de transação, teoria da técnica Com base nos resultados da pesquisa
racional e teoria institucional. realizada por Freitas Junior, Araújo e Pereira
Conforme a abordagem de Gomes e (2012) realizaram um estudo em um dos
Oliveira (2010), durante o ano de 1990, municípios onde foi aplicado o índice para
diversos governos aderiram a essa nova identificar as possíveis causas de o
proposta de gestão, em especial os chamados município não ter aderido ao modelo
governos das frentes populares. Os autores gerencial. Os autores concluíram que, para
destacam como os principais pontos que o modelo de administração pública
positivos encontrados nessas experiências a gerencial ou qualquer outra reforma
busca pela elaboração de um projeto de administrativa se efetive, é necessário que
desenvolvimento que atendesse aos haja preparação técnica e política dos
interesses nacionais e a construção de gestores públicos.
instituições políticas e políticas públicas
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O que se discute sobre a nova gestão pública após a lei de responsabilidade fiscal
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O que se discute sobre a nova gestão pública após a lei de responsabilidade fiscal
O Brasil é o pais que apresenta mais publicações, seguido do México. Na Tabela 3, estão
dispostos os anos pesquisados e a ocorrência de artigos nacionais publicados sobre o tema, a partir
da LRF (2000) até 2014.
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
0 0 0 0 0 0 0 1 2 2 3 1 2 0 1
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O que se discute sobre a nova gestão pública após a lei de responsabilidade fiscal
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O que se discute sobre a nova gestão pública após a lei de responsabilidade fiscal
Mirela Mendes
Graduada em Ciências Contábeis.
Universidade Federal de Rondônia. Contato:
mirelamen@hotmail.com.