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INTRODUÇÃO

A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um distúrbio crônico, caracterizada


por dor abdominal, inchaço, diarreia e constipação que podem variar de pessoa
para pessoa, podendo ser muitas vezes debilitante e altamente prevalente da
interação intestino-cérebro. A SII é uma das desordens funcionais intestinais
predominante em todo o mundo, numa média mundial de 8%, mas no Brasil sua
prevalência é de 14-16%.
A causa da SII é complexa e envolve vários fatores, incluindo
irregularidade nos movimentos peristálticos do intestino, sensibilidade
abdominal, reações após infecções e interações entre o cérebro e o intestino.
Além disso, a dieta, bactérias intestinais e inflamação também têm um papel
importante.
O diagnóstico da SII é um desafio clínico, uma vez que, ao contrário de
muitos distúrbios gastrointestinais, não apresenta alterações bioquímicas
plausível ou estruturais detectáveis nos métodos diagnósticos convencionais.
Com isso, o diagnóstico é pela avaliação clínica dos sinais e sintomas, somado
com a realização de exames de imagem e bioquímico para desconsiderar
patologias estruturais do intestino, como doença celíaca e Crohn.
Este e-book tem o objetivo de explicar a SII de forma compreensível,
desde suas possíveis causas até opções de tratamento baseadas em
evidências.

MECANISMO/FISIOPATOLOGIA

Embora a causa da SII ainda não esteja completamente esclarecida, a


compreensão dos possíveis mecanismos subjacentes aos distúrbios intestinais,
sensações viscerais e manifestação de sintomas está progredindo rapidamente.
Novas evidências indicam que na SII, vários fatores desempenham um papel
crucial na desencadeação de respostas anormais nos principais reguladores das
funções sensório-motoras. Isso inclui a barreira epitelial, a microbiota intestinal,
os antígenos alimentares e os ácidos biliares, que interagem com sistemas como
o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA), o sistema imunológico, o eixo

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intestino-cérebro e o sistema nervoso entérico (ENS) (Fig. 1), onde será
abordado cada mecanismo de forma individual.

Fig. 1 - Os mediadores que provavelmente estão envolvidos na patologia da SII.

1- PERMEABILIDADE INTESTINAL

A barreira epitelial é importante, pois protege nosso corpo contra bactérias


e substâncias indesejadas no intestino. Na SII, essa barreira fica comprometida,
permitindo que bactérias e substâncias passem para o interior do intestino.

Isso acontece devido a mudanças na estrutura das células que compõem


essa barreira, e também por influência de processos inflamatórios no intestino,
consequentemente a expressão anormal de genes e proteínas de junção
estreita. Essas alterações nas junções estreitas podem ser resultado da
degradação mediada por bactérias e proteassoma, desencadeada pela
inflamação de baixo grau. Isso envolve mediadores inflamatórios como
eicosanoides, histamina e proteases, que aumentam a permeabilidade intestinal.
A participação do sistema nervoso entérico (SNE) também pode amplificar esses
efeitos.

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Essas mudanças na barreira estão relacionadas à diarreia e à dor
abdominal intensa, sugerindo que esse mecanismo pode contribuir para a
geração de sintomas na SII. Embora as causas exatas da "intestino permeável"
na SII ainda não estejam totalmente definidas, diversos fatores têm sido
postulados, incluindo genética, epigenética, disbiose e alergias/intolerâncias
alimentares.

Além disso, a alimentação pode desempenhar um papel importante.


Estudos sugerem que certos alimentos, como: carboidratos refinados, gorduras
saturadas, excesso de proteína animal e alimentos que causam alergias e
intolerâncias (analisar individualidade do paciente) podem causar danos à
barreira intestinal, tornando-a mais permeável. Isso significa que o que comemos
pode afetar a gravidade dos sintomas da SII.

Com isso, na SII, a barreira do intestino fica comprometida devido a


mudanças nas células e à influência de processos inflamatórios. Isso pode levar
a sintomas como diarreia e dor abdominal. Além disso, a alimentação
desempenha um papel na saúde dessa barreira.

2- ÁCIDOS BILIARES

Os ácidos biliares desempenham um papel relevante em um subconjunto


de pacientes com características compatíveis com a Síndrome do Intestino
Irritável com Diarreia (IBS-D). Nesses casos, os níveis de ácidos biliares nas
fezes estão elevados devido a mudanças na forma como o corpo os produz.
Essa mudança influencia o funcionamento do intestino, acelerando o trânsito no
cólon, o que pode causar diarreia e tornar o intestino mais sensível.

3- SISTEMA IMUNE

A resposta imunológica desempenha um papel na SII. Isso se baseia na


observação de que pessoas que tiveram gastroenterite infecciosa têm um risco
maior de desenvolver SII. Além disso, alguns pacientes com outras doenças
intestinais, chamadas Doenças Inflamatórias Intestinais (DII), têm sintomas
semelhantes aos da SII.

Mesmo que o número de células imunes não seja sempre maior na SII,
há evidências de que essas células estejam mais ativas em muitos pacientes

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com SII. Os mastócitos e células T, por exemplo, desempenham um papel
importante na ativação imunológica e estão mais ativos em pessoas com SII,
liberando substâncias que podem afetar os sintomas.

Em resumo, a ativação do sistema imunológico é relevante para entender


a SII, particularmente em pacientes que tiveram infecções intestinais no
passado. Mesmo quando o número de células imunes não é significativamente
maior, essas células parecem estar mais ativas e desempenham um papel na
condição.

4- INTERAÇÃO NEUROIMUNES

Na SII as interações entre o sistema imunológico e o sistema nervoso


desempenham um papel importante (Fig. 2). A pesquisa tem se concentrado em
estudar substâncias liberadas na mucosa intestinal de pacientes com SII para
entender como elas afetam o funcionamento do intestino e a percepção da dor.

Pacientes com SII demonstraram reações anormais do sistema nervoso


ao expor o intestino a essas substâncias. Mastócitos, células enteroendócrinas
e proteases são identificados como desempenhando um papel central nesse
processo. Por exemplo, a histamina liberada pelos mastócitos e a serotonina das
células enteroendócrinas têm um impacto nas vias de dor e ativação do sistema
nervoso.

Além disso, proteases, que são enzimas, desempenham um papel na SII,


sendo que algumas delas estão em níveis mais elevados no intestino de
pacientes com SII do que em pessoas saudáveis. Essas proteases podem ser
provenientes de diferentes fontes, como o pâncreas ou bactérias.

A atividade das proteases está correlacionada com sintomas como dor


abdominal e permeabilidade intestinal comprometida. Além disso, os neurônios
intestinais ativados pelas proteases transmitem sinais de dor ao cérebro.

Além disso, a liberação crônica de fatores no intestino pode causar


alterações na estrutura do Sistema Nervoso Entérico (SNE) e nas fibras
sensoriais, contribuindo para os sintomas da SII. O fator de crescimento nervoso
(NGF) é uma dessas substâncias e está presente em níveis mais elevados no
intestino de pacientes com SII, principalmente em mastócitos.

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Conclui-se a SII envolve interações complexas entre o sistema
imunológico e o sistema nervoso. Mediadores da mucosa intestinal afetam a
sensibilidade à dor e a ativação neural, com mastócitos, células
enteroendócrinas e proteases desempenhando papéis significativos. Além disso,
a liberação crônica de substâncias pode causar mudanças estruturais no SNE,
contribuindo para os sintomas da SII.

Fig. 2 - Interações neuroimunes no intestino.

5- INFLUÊNCIA DA MICROBIOTA

A microbiota gastrointestinal, composta por uma grande variedade de


microrganismos, desempenha um papel crucial na nossa saúde, apesar de ainda
haver muito a aprender sobre seu funcionamento. Ela é particularmente
relevante na SII, onde a composição alterada da microbiota intestinal tem sido
associada à doença.
Estudos identificaram certos grupos de bactérias que estão
desequilibrados na SII, como Clostridiales e Ruminococcus torques, enquanto a
relação entre Firmicutes e Bacteroidetes também se mostra perturbada em

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alguns pacientes. Essas descobertas levaram à compreensão de que a disbiose
da microbiota pode desempenhar um papel importante na SII.
A microbiota é fundamental na fermentação de componentes não
digeríveis da dieta, produzindo ácidos graxos de cadeia curta (AGCC) que
desempenham um papel vital na saúde intestinal. No entanto, em pacientes com
SII, a presença de certos carboidratos resistentes, conhecidos como FODMAPs,
pode causar sintomas da doença. A produção inadequada de AGCC pode levar
à inflamação intestinal de baixo grau, um achado comum na SII.
Além disso, bactérias que produzem gás em excesso podem levar a
flatulência e dor abdominal. Esses gases também afetam o trânsito intestinal,
tornando-o mais rápido em alguns pacientes com SII-D. Por outro lado, pacientes
com SII-C podem ter trânsito intestinal mais lento. Isso está relacionado à
presença de metano no intestino, que é controlado por microrganismos
metanogênicos.
A degradação de proteínas também desempenha um papel na SII, com
níveis aumentados de proteases no conteúdo intestinal de pacientes. Isso pode
ser devido à falta de inibidores de serina protease produzidos por bactérias
benéficas, como as bifidobactérias, que são menos abundantes em pacientes
com SII. A fermentação de proteínas gera substâncias prejudiciais, incluindo
sulfeto de hidrogênio, que afetam o revestimento do intestino.
A microbiota também está envolvida na síntese de serotonina (5-HT), um
regulador da motilidade intestinal. Estudos mostram que bactérias intestinais
desempenham um papel crucial na produção de 5-HT. A SII está associada a
mudanças na composição da microbiota, especialmente em relação ao filo
Firmicutes, o que pode estar ligado à regulação do 5-HT.
Portanto, a microbiota desempenha um papel significativo na SII, afetando
a fermentação de alimentos não digeríveis, a produção de gases, a degradação
de proteínas e a síntese de 5-HT. A compreensão dessas interações complexas
é fundamental para avançar no tratamento da SII.

6- EIXO INTESTINO-CÉREBRO
A SII é uma doença caracterizada por distúrbios intestinais, no entanto,
existe uma forte ligação dos aspectos psicológicos e o funcionamento intestinal.
Em pacientes com SII muitos apresentam o quadro de ansiedade e tenham

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comorbidades com outras condições de dor crônica e transtornos psiquiátricos,
levando a estudos que analisam essa interligação do sistema nervoso e
desregulações intestinais.
O cérebro, o intestino e a microbiota intestinal estão interligados de várias
maneiras. O cérebro pode influenciar a motilidade intestinal, a permeabilidade
do intestino, a função imunológica e a composição microbiana. Por outro lado,
alterações nessas funções periféricas também podem afetar a estrutura e o
funcionamento do cérebro, criando um ciclo de interações entre o intestino e o
cérebro.
O processamento de informações relacionadas ao intestino no cérebro
desempenha um papel importante na percepção da dor e nos sintomas da SII.
Por exemplo, a catastrofização, que é a tendência a antecipar os piores
resultados, está relacionada à gravidade dos sintomas de dor na SII. Imagens
cerebrais mostraram diferenças nas redes cerebrais que controlam a emoção, a
atenção e a sensação no contexto da SII. Essas diferenças no cérebro estão
relacionadas à gravidade dos sintomas, a eventos adversos na vida, à
composição da microbiota e a outros fatores.
Esses achados sugerem que a SII envolve alterações no processamento
cerebral das sensações intestinais, bem como disfunções no sistema nervoso,
imunológico e na microbiota. No entanto, ainda são necessárias mais pesquisas
para entender completamente essas complexas interações e determinar a
causalidade entre esses fatores. Por exemplo, é preciso saber se as alterações
cerebrais são uma resposta às mudanças no intestino, ou se são uma
característica genética que predispõe as pessoas à SII. Além disso, é importante
investigar se diferentes subgrupos de pacientes com SII têm variações nas
respostas cerebrais.
Essa pesquisa é fundamental para desenvolver abordagens de
tratamento mais eficazes para a SII e para entender por que a síndrome é
frequentemente associada a outras condições de dor crônica e transtornos
psiquiátricos.

7- GENÉTICA E EPIGENÉTICA
Pesquisas genéticas revelaram associações entre a SII e variações em
genes relacionados à função de barreira intestinal, sistema imunológico e

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transmissão de sinais neurais. Além disso, mutações em genes que afetam o
sistema serotoninérgico, importante na comunicação entre o intestino e o
cérebro, também estão ligadas à SII.
Outros estudos mostraram que variantes genéticas relacionadas à
regulação da síntese de ácidos biliares podem influenciar a velocidade do
trânsito intestinal em pacientes com diferentes subtipos de SII.
Além da genética, a pesquisa de miRNA (microRNA) demonstrou perfis
de expressão diferencial desses miRNAs na mucosa intestinal de pacientes com
SII. Esses miRNAs estão ligados à permeabilidade intestinal, sensibilidade
visceral e outros aspectos da SII.
Esses avanços na pesquisa genética e epigenética têm o potencial de
levar a diagnósticos mais precisos e tratamentos direcionados para a SII. No
entanto, ainda há muito a ser investigado, e estudos futuros são necessários
para entender completamente o papel dos genes e epigenética na SII.
DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da Síndrome do Intestino Irritável (SII) baseia-se


principalmente nos sintomas do paciente, seguindo critérios estabelecidos.
Exames complementares são utilizados para descartar outras condições
médicas, embora não haja um biomarcador definitivo para a SII. A escolha de
exames é orientada pelos sintomas e pelo médico, e, na maioria dos casos, não
são necessárias investigações invasivas. Devido à complexidade da SII e à falta
de consenso, o rastreamento de risco e a prevenção ainda não são aplicáveis.
Mais pesquisas são necessárias para entender melhor essa condição.

Critérios de diagnósticos

Os critérios de diagnóstico clínico da SII com base nos sintomas e é feita


uma distinção entre os seguintes subtipos com base nos critérios Roma IV, a SII
é classificada de acordo com o padrão fecal predominante, reconhecido pela
Escala de Fezes de Bristol. Existem quatro subtipos diferentes de SII:
• Constipação predominante IBS (IBS-C): mais de 25% fezes duras e
menos de 25% fezes soltas.

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• Diarreia predominante IBS (IBS-D): mais de 25% fezes soltas e menos
de 25% fezes duras. Parece ser o subtipo mais comum, acometendo
aproximadamente 40% dos pacientes.

• Hábitos intestinais mistos IBS (IBS-M): mais de 25% fezes soltas e


mais de 25% fezes duras.

• IBS não classificado (IBS-U): menos de 25% de fezes soltas e menos


de 25% de fezes duras.

Além disso, sintomas, como dor abdominal, devem ser recorrentes pelo
menos 1 dia/semana nos últimos 3 meses (mas com início pelo menos 6 meses
antes) associados a dois ou mais dos seguintes critérios:
1- Melhora da dor com defecação;
2- Início associado a uma mudança na frequência das fezes;
3- Início associado a uma alteração na forma (aparência) das fezes.

No entanto, é importante destacar que esses critérios não são perfeitos e


que alguns pacientes com outras doenças gastrointestinais também podem
atender a esses critérios, o que torna a diferenciação entre as condições clínica
um desafio.

Características Clínicas

Além dos sintomas listados nos critérios de diagnóstico, existem outras


características clínicas que podem ajudar no diagnóstico da Síndrome do
Intestino Irritável (SII), embora não sejam obrigatórias. Por exemplo, variações
na consistência e frequência das fezes ou um padrão intestinal imprevisível
podem ser usados para distinguir a SII de outras condições. Além disso,
características como frequência anormal de evacuações, esforço excessivo
durante a defecação, urgência para ir ao banheiro, sensação de evacuação
incompleta, muco nas fezes e piora dos sintomas após as refeições são comuns
na SII, mas também podem ocorrer em outras condições.

Muitos pacientes com SII também têm outros diagnósticos


gastrointestinais funcionais, como dispepsia funcional, e experimentam sintomas
em outras partes do corpo, como fadiga, fibromialgia, dores musculares, entre

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outros. Além disso, é comum encontrar comorbidades psicológicas, como
ansiedade e depressão, em pacientes com SII.

Exame Físico e de imagem

Realizar um exame físico é para descartar outras causas orgânicas dos


sintomas, assim como exame de imagem, a colonoscopia. Esses exames vêm
com o intuito de descartar patologias estruturais do intestino, como Doença de
Crohn, Reticulite ulcerativa, Doença celíaca e até mesmo câncer. No entanto,
como são exames de critérios de exclusão, esses exames são solicitados em
caso de necessidades e com sintomas de suspeita médica.

Testes Laboratoriais

Na investigação diagnóstica da SII, não existe um teste laboratorial


definitivo. No entanto, alguns testes podem ser úteis. Por exemplo, a proteína C
reativa (PCR), a calprotectina fecal e a lactoferrina podem ajudar a excluir
doenças inflamatórias intestinais. Além disso, em alguns casos, é recomendável
realizar testes para doença celíaca ou verificar a função da tireoide, dependendo
dos sintomas do paciente.

TRATAMENTO

O tratamento da SII envolve uma abordagem abrangente, incluindo uma


boa relação médico-paciente, educação, alterações na dieta, medicamentos e
terapias comportamentais e psicológicas. Muitos pacientes têm sintomas
adicionais, tornando a terapia cognitiva e interpessoal uma escolha apropriada.
O tratamento é personalizado com base nos sintomas predominantes, usando
medicamentos e intervenções nutricionais e psicoterapia quando necessário. O
objetivo é melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

FARMACOLÓGICOS:

O tratamento medicamentoso visa minimizar o impacto da SII, focando


nos principais sintomas e considerando as necessidades individuais dos
pacientes para aliviar os sintomas.

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Para SII-D, antidiarreicos são comumente utilizados, como loperamida. Se
esses não forem eficazes, medicamentos de segunda linha, como alosetron,
ramosetron, rifaximina e eluxadolina, podem ser considerados.
No casos SII-C, os laxantes são frequentemente prescritos.
Polietilenoglicol e erva sene são comumente usados para tratar a constipação,
embora as evidências de sua eficácia sejam limitadas, tendo maiores vantagens
com a alimentação adequada e o consumo de fibras solúveis..
Para casos mais complexos, neuromoduladores, como antidepressivos
tricíclicos (ADTs) ou inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRSs),
são uma escolha comum. Esses neuromoduladores atuam na comunicação
entre o intestino e o cérebro para melhorar os sintomas. A maioria deles é
inicialmente considerada como antidepressivos, e seus efeitos na SII podem
estar relacionados a mudanças na percepção da dor e no processamento
central, bem como na melhoria do bem-estar psicológico. Neuromoduladores
podem ser usados em combinação para obter melhores resultados,
principalmente em pacientes com sintomas graves ou refratários.
PSICOTERAPIA:

A abordagem do tratamento psicológico para a Síndrome do Intestino


Irritável (SII) é fundamentada no modelo biopsicossocial da doença. Esse
modelo sugere que os sintomas abdominais podem influenciar secundariamente
a ansiedade e a depressão, e fatores psicossociais podem impactar os fatores
fisiológicos. Para tratar esses aspectos psicossociais da SII, é necessário
considerar a regulação alterada da função intestinal, a comunicação entre
cérebro e intestino e o sofrimento psicológico dos pacientes, incluindo a
hipervigilância e a catastrofização. É bem comum paciente com SII
frequentemente experimentam sentimentos de vergonha, medo e
constrangimento devido aos seus sintomas.

As diretrizes internacionais de tratamento recomendam uma abordagem


gradual, sugerindo que pacientes com sintomas refratários à medicação por mais
de 12 meses podem se beneficiar de terapias psicológicas, as mesmas têm se
mostrado seguras, com poucos relatos de efeitos adversos.

No geral, a terapia psicológica desempenha um papel importante no


tratamento da SII, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e reduzindo a
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gravidade dos sintomas. No entanto, é essencial adaptar o tratamento às
necessidades individuais dos pacientes, uma vez que a SII é uma condição
complexa e heterogênea.

ALIMENTAÇÃO:

A nutrição desempenha um papel significativo para amenizar sintomas da


SII, alguns alimentos são mais susceptíveis a fermentação e causar
intolerâncias, onde atenua os desconfortos gastrointestinais e é importante
reconhecer que as intolerâncias alimentares e alergias desempenham com a
individualidade do paciente. Pacientes com SII frequentemente identificam
alimentos específicos que podem agravar seus sintomas, enquanto outros
alcançam alívio ao adaptar sua dieta e aumentar a atividade física.

A ingestão de gordura, principalmente saturada, tem que está em


consumo equilibrado, pois o alto consumo de gordura está relacionada ao
aumento das fezes e diarreia em pacientes com SII.

Para muitos pacientes, dietas de exclusão são uma abordagem eficaz que
envolve a remoção de alergênicos comuns da dieta. É importante uma análise
individual e a remoção vai ser a partir da sensibilidade do paciente. Algumas
abordagens dietéticas como low-FODMAPs, restrição de glúten, lactose e
orientação no consumo de fibras são investigados para melhora dos sintomas
da SII.

FODMAPs:

Nos últimos tempos, a eliminação de certos carboidratos chamados


FODMAPs (Oligossacarídeos Fermentáveis, Dissacarídeos, Monossacarídeos e
Polióis) tem se tornado uma opção popular de tratamento para pacientes que
lidam com a Síndrome do Intestino Irritável (SII). Os FODMAPs, são carboidratos
fermentáveis de cadeia curta, como lactose, frutose, frutanos, galactanos e
poliálcoois (sorbitol, manitol, maltitol, xilitol e isomalte) presentes em diversos
alimentos, eles têm a capacidade de aumentar a secreção de água no trato
gastrointestinal, estimulando a fermentação no cólon. Esse processo gera ácidos
graxos de cadeia curta e gases, muitas vezes resultando em distensão

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abdominal e o desencadeamento de sintomas desconfortáveis em pessoas com
SII.

Embora haja apoio considerável para o uso da dieta baixa em FODMAP,


ainda existem muitas questões não respondidas que requerem investigação
adicional. Para obter informações completas sobre a eficácia, adesão e
quaisquer efeitos adversos não intencionais na microbiota intestinal, são
necessários estudos de alta qualidade a longo prazo.

É de extrema importância que a recomendação a dieta baixa em FODMAP


orientem adequadamente seus pacientes sobre as três fases do plano:

1. Eliminação Inicial (até 6ª semana): A primeira etapa envolve a


substituição de alimentos ricos em FODMAPs por opções com baixo teor desses
carboidratos.
2. Reintrodução Gradual (6ª a 8ª semana): Na segunda etapa, os
pacientes que responderam positivamente à restrição de FODMAPs devem
reintroduzir gradualmente alimentos específicos na dieta, enquanto monitoram
seus sintomas. Isso ajuda a identificar quais FODMAPs individuais podem ser
problemáticos. Sugere introduzir um alimento por vez, começa a introdução com
uma quantidade pequena e ir aumentando o consumo a cada 3 dias, avaliando
a tolerância do paciente.
3. Personalização da Dieta (longo prazo): A terceira etapa consiste
em personalizar a dieta com base nas informações coletadas nas fases
anteriores. Isso permite que os pacientes evitem alimentos que desencadeiam
seus sintomas de forma mais eficaz.

Embora a maioria das pesquisas tenha se concentrado na primeira fase


de restrição de FODMAPs, é crucial lembrar que os pacientes respondentes
podem ser identificados em um período de 2 a 6 semanas. Portanto, a segunda
e terceira fases desempenham um papel igualmente importante na gestão da
dieta de pacientes com SII.

Lactose e Glúten:

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A intolerância à lactose é uma preocupação comum em pacientes com
SII, com relatos de sintomas como distensão abdominal e diarreia. A diminuição
da ingestão de lactose pode ser benéfica para alguns pacientes, pois a
fermentação bacteriana da lactose não absorvida pode causar produção de gás
e distensão intestinal. Curiosamente, a maioria dos pacientes com SII não
demonstra intolerância à lactose em testes de hidrogênio, mas a lactose é um
FODMAPs e em pacientes com SII a sua fermentação causas sintomas
parecidos com a intolerância, contudo, ainda sim é absorvido.

A sensibilidade ao glúten não celíaca é uma área controversa, com


resultados mistos em estudos sobre o impacto do glúten nos sintomas da SII. A
exclusão de glúten em pacientes com SII é popular, mas sua justificativa ainda
não é conclusiva, sendo assim, sua exclusão dependerá apenas da sensibilidade
individual.

Fibras:

Em pacientes com SII, o consumo de fibras provenientes de frutas e


vegetais tem o potencial de reduzir os sintomas de inchaço abdominal. No
entanto, é importante escolher as fibras apropriadas, priorizando as solúveis em
vez das insolúveis.

As fibras solúveis, encontradas em alimentos como psyllium e farelo de


aveia têm a capacidade de se dissolver em água, formando uma substância
semelhante a um gel. Isso pode ajudar a regular o trânsito intestinal e reduzir os
sintomas da SII. Por outro lado, as fibras insolúveis, presentes em alimentos
como farelo de trigo, grãos integrais e alguns vegetais, não têm o mesmo efeito
benéfico.

Para pacientes com SII-C aumentar a ingestão de fibras solúveis, como o


psyllium, é uma recomendação importante. Isso pode contribuir para aliviar os
sintomas e melhorar a qualidade de vida desses pacientes. No entanto, a
escolha das fibras deve ser personalizada, levando em consideração as
necessidades individuais de cada paciente.

Hortelã-pimenta (peppermint):

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A hortelã-pimenta (Mentha piperita) tem ganhado destaque no tratamento
fitoterápico para aliviar os sintomas da Síndrome do Intestino Irritável (SII).
Embora a pesquisa sobre o assunto ainda seja limitada e as evidências sejam
consideradas de baixa qualidade, seu uso é amplamente difundido na busca por
alívio da dor abdominal, especialmente devido ao composto L-mentol presente
na planta.

O L-mentol, componente-chave da hortelã-pimenta, é frequentemente


associado ao bloqueio dos canais de cálcio, o que resulta no relaxamento da
musculatura lisa do trato gastrointestinal. No entanto, diversas outras
explicações estão sendo exploradas. Isso inclui a possibilidade de que a hortelã-
pimenta possa modular os canais de voltagem potencial do receptor transitório,
afetando a sensação visceral. Além disso, evidências sugerem que a hortelã-
pimenta pode ter efeitos antimicrobianos e anti-inflamatórios diretos, bem como
influenciar o bem-estar psicossocial dos pacientes.

Portanto, existe um potencial que necessita ser fundado da hortelã-


pimenta em proporcionar alívio dos sintomas gerais e da dor abdominal em
pacientes com SII. Seu uso é comum e baseado em experiências positivas, onde
é fundamental ressaltar a importância de conduzir estudos abrangentes e
metodologicamente rigorosos para determinar a formulação ideal, compreender
os benefícios relativos em diferentes subgrupos de pacientes com SII e
estabelecer sua eficácia comparativa com outras abordagens terapêuticas.

CONCLUSÃO

A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é uma condição multifacetada que


envolve a interação complexa entre vários sistemas, incluindo o sistema
nervoso, microbiota intestinal, aspectos psicológicos e fatores dietéticos. Abordar
a SII de forma eficaz requer uma abordagem multidisciplinar que considera a
individualidade de cada paciente.

O diagnóstico, baseado em critérios clínicos e exames complementares


para excluir outras condições, estabelece o ponto de partida. O tratamento
envolve tanto abordagens farmacológicas para alívio dos sintomas físicos quanto
terapia psicológica para lidar com os fatores emocionais envolvidos.

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A nutrição desempenha um papel fundamental no manejo da SII, e a dieta
baixa em FODMAPs tem se destacado como uma opção promissora. No entanto,
a escolha dos alimentos deve ser personalizada de acordo com as necessidades
de cada paciente, pois intolerâncias variam amplamente.

Além disso, o uso de fibras solúveis, como o psyllium, pode ser benéfico
para pacientes com constipação predominante. A pesquisa contínua é
necessária para entender melhor as abordagens dietéticas e otimizar sua
eficácia.

Outro destaque é o uso de óleo de hortelã-pimenta, vem sendo


comumente utilizado para aliviar os sintomas da SII, especialmente a dor
abdominal. No entanto, a necessidade de estudos mais aprofundados e
rigorosos é evidente para determinar seu uso ideal e compará-lo a outras opções
terapêuticas.

Por tanto, abordar a SII de maneira eficaz exige uma abordagem


abrangente que leve em consideração todos os aspectos envolvidos, desde
fatores psicológicos até escolhas alimentares específicas.

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