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Os “Bispos Dalém”, os “Frades Gringos” e a “Gente do Sertão” no

Santuário do Divino Pai Eterno (Trindade - GO): Sobre quem quer


falar com Deus – da “Romanização” à “Restauração” ∗

Carlos Eduardo S. Maia∗∗

1. Introdução
“Por que se fala com Deus?” Esta pergunta, como ressalta Da Matta, admite múltiplas
respostas, pois “a religião oferece respostas a perguntas que, rigorosamente, não podem ser
respondidas pela ciência ou pela tecnologia” (1998, p. 112) - por isso, não iremos pisar neste
trabalho em tal seara. Queremos, por outro lado, tecer alguns comentários sobre onde e como nós,
brasileiros, falamos com Ele. Para tanto, resgatemos o princípio de que temos o hábito de “falar
com Deus” mediante uma comunicação que se realiza “através de um elo pessoal. Nós, brasileiros,
temos intimidade com certos santos que são nossos protetores e padroeiros, nossos santos patrões,
do mesmo modo que temos como guias certos orixás ou espíritos do além, que são nossos
protetores (Ibidem). Tal “intimidade” com nossos “protetores” permitiu-nos, inclusive, romper com
a prática religiosa universalizada de se dirigir a Deus-Pai com “reza à distância, sem festa nem
romaria” (Brandão, 1989, p. 25), já que para Ele, ao contrário do que talvez ocorra no restante do
mundo católico, aqui também se faz festa. Desse modo, cultuamos Deus-Filho nos universais
festejos natalinos, da paixão e morte, da ressurreição, etc. Para Ele dedicamos inúmeros templos,
realizamos procissões, folias e romarias. Ao Espírito Santo, a tradição católica reserva a Festa de
Pentecostes, que é realizada 50 dias após a Páscoa, sendo em diversas partes acompanhadas de
folias, teatros, jogos eqüestres, etc. Mas nós também fazemos festa para Deus-Pai, essa Pessoa da
Santíssima Trindade que, “afora um misericordioso velho de supostos cabelos e barbas brancas, é
também um olho terrível, temível, de que nem um pensar, nem uma fala, nem um corpo ou gesto
escapam”. Deus que é “um ser sagrado do espaço, mas não do lugar” (Ibidem) – quiçá por isso,
alhures, não se Lhe faz festa.
Como dissemos, não só fazemos festa para Ele, mais que isso, relacionamo-nos com Ele de
modo “íntimo”. Uma explicação para tal “intimidade” pode estar no fato de que falamos com Deus-
Pai recorrendo às mesmas tradições com as quais falamos com os santos, com Deus-Filho e com o


Texto parcialmente baseado na tese de doutorado intitulada Enlaces Geográficos de um Mundo Festivo: Pirenópolis –
a tradição cavalheiresca e sua rede organizacional, defendida no PPGG/UFRJ em Setembro de 2002.
∗∗
Professor Adjunto no IESA/UFG. E-mail: carlmaia@uol.com.br.
Espírito Santo: uma “limpa” e “educada” proveniente do “culto oficial”; outra “sensível, concreta
e dramática” ligada ao que se costuma denominar por “religião popular” (Da Matta, 1998).
Em nosso trabalho, retomaremos o pressuposto de que a religião popular e a erudita são
“complementares” (Da Matta, 1998) e, por isso mesmo, o “espaço dos santuários” tem servido
como campo de luta e fórum de conciliação entre “o povo” (fazedor da religião popular) e a Igreja
(promotora da religião erudita) no momento máximo de se demonstrar devoção, falar com Deus e
reafirmar aquela “intimidade”: a festa.
Para entendermos a constituição daquelas duas “tradições de se falar com Deus” no Brasil,
enfocaremos, principalmente, a Romanização e a Restauração, uma vez que, nestes contextos, as
alianças e os conflitos entre o “povo” (neste caso, a “gente do sertão”) e os segmentos da Igreja
(bispos reformadores e “frades gringos”) demonstram-nos com clareza a complementaridade
existente entre essas tradições religiosas.
Em termos específicos, trataremos da Festa do Divino Pai Eterno (Trindade – GO), pois
esta singulariza-se por ser a maior romaria do mundo feita a um santuário consagrado a Deus Pai
(igualmente o maior do mundo).

2. Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que alveja é prata: sobre um medalhão
(o oratório, o “rancho” e a capelinha)
Por tradição, costuma-se dizer que o culto ao Divino Pai Eterno em Trindade (antiga Barro
Preto) iniciou-se por volta de 1840 na casa dos agricultores Constantino Xavier e Anna Roza, onde
era venerado um medalhão de barro com a representação da Santíssima Trindade coroando a
Virgem Maria. Sob a origem desse medalhão, a versão mais aceita pelos devotos é a de que
Constantino Xavier o teria achado enquanto roçava, tal como pode-se observar nos vitrais do novo
Santuário e os textos abaixo corroboram:
Por volta de 1840, já existia em terras de Campinas (...) um aglomerado
urbano conhecido por Barro Prêto. Conta-se que, em seus arredores, numa
olaria de propriedade de Constantino Xavier Maria, foi encontrada uma
pequena imagem de barro, em formato de medalha, representando a Coroação
da Virgem Maria pela Santíssima Trindade. De posse da medalha, o casal (...),
levado pelo espírito religioso, juntamente com pessoas ali residentes,
passaram a rezar o terço diante da imagem (IBGE, 1958, p. 425).
Tudo começou por volta de 1840. No pequeno arraial chamado Barro
Preto, hoje Trindade (...) havia apenas distância e esperança de um amanhã
melhor. Constantino Xavier e sua esposa (...) viviam do trabalho da terra,
como as poucas famílias que também ali moravam. Certo dia, na roçagem do
pasto, encontraram um pequeno medalhão de barro, pouco mais de meio
palmo, onde estava representada a Santíssima Trindade coroando Nossa
Senhora.
Religioso, o casal viu ali a mão de Deus. A cada Sábado, reunia os
familiares e rezavam o terço diante do medalhão (Terra Goyá, 2000, p. 6).
Esta versão, conforme aponta Jacób, “carrega um forte apelo à teofania, ao achado
milagroso, a uma manifestação sobrenatural” (2000, p. 54); por isso, talvez, seja a mais propalada.
Ainda que pese a maior divulgação desta “versão teofânica”, há outra cujos postulados são bem
distintos, sendo sumariada do seguinte modo:
Foi pelo ano de 1830 que entrou em Goyaz um mineiro de nome
Constantino Xavier Maria. Era seu intento comprar terras e constituir família.
Foi feliz...
...Como todo mineiro da gemma trouxe da sua terra o «Santo» da sua
devoção. Era mais veronica do que imagem (...) Perante este seu thesouro
religioso que occupou lugar de honra em sua casa, Constantino costumava
reunir a sua família para rezar o terço. Isto chamou a attenção dos visinhos...
(Santuário de Trindade, 1 jul. 1924, p. 2)

Não nos cabe aqui polemizar o fato de o medalhão ser um “achado”, ou se foi “trazido” por
Constantino (ou mesmo se esculpido por este oleiro); todavia, queremos ressaltar que este se
dispunha, como aventa o texto anteriormente citado, num “lugar de honra em sua casa”. A nosso
ver, incontestavelmente Constantino Xavier não deixaria a “imagem do Santo” em qualquer lugar,
mas lhe reservaria um “nicho” em forma de oratório, pois tal nicho, outrora, era comum “tanto nas
cidades como na zona rural” (Azzi, 1978, p. 25), estando eminentemente relacionado aos rituais da
“religião doméstico-familiar” (Santos, 1984, Azzi, 1978). Esta sugestão de que diante do oratório
praticavam-se primeiramente as rezas de terço, em rituais doméstico-familiares, também é proposta
em matéria publicada sobre a Romaria ao Divino Pai Eterno na revista Ecos Marianos:
Trindade, sede da romaria, fica distante da nova Capital do Estado quatro
leguas, num vale ameno e fertil (...) Lá na beira do corrego «Barro Preto»
morava um bom roceiro: Constantino Xavier Maria, que no seu oratorio
venerava uma pequena imagem em forma de medalha de barro cosido e de
meio palmo de diametro (...) Mas não era a Mãe de Deus o objeto da
veneração das familias e dos devotos dos arredores que vinham assistir ás
rezas; era a primeira Pessoa da Santíssima Trindade: o Divino Padre Eterno
(Ecos Marianos, 1938, p. 37).

Segundo a tradição trindadense, com o passar do tempo, a reza do terço, de um ritual


doméstico-familiar, adquiriu um caráter vizindário, o que teria levado Constantino a expor o
medalhão num local mais amplo:
...Isto [a reza do terço] chamou a attenção dos visinhos. Vieram assistir a estes
actos de religião em tão grande numero que o dono da casa se viu obrigado a
construir um rancho para abrigar os devotos. Este rancho coberto de folhas de
burity estava (...) nos fundos da casa do actual zelador do Santuário. Nesta
«casa de oração» (...) celebravam muitas vezes os actos da religião os vigarios
de então... (Santuário de Trindade, 1 jul. 1924, p. 2).
... Com o ajuntamento de mais e mais pessoas para o ato religioso,
Constantino Xavier construiu em 1843, uma capela coberta com folhas de
buriti (IBGE, 1958, p. 425).
A inauguração do “rancho” coberto com folhas de buritis, em 1843, demarcaria o início da
“primeira festa oficial”, na qual é provável que tenha havido missa, procissão e um pequeno
comércio, este último quiçá com o objetivo de arrecadar fundos para a construção de uma capela.
No sertão, isto (a construção de capelas e igrejas) costumava implicar em doação de terras “ao
Santo”. Desse modo, em 1850, o casal Xavier doou o amplo patrimônio de uma légua e meia de
comprimento por uma légua de largura ao “Divino Pai Eterno”, atitude seguida por outras famílias
sertanejas1. De acordo com Jácob, nesta época, teria ocorrido também a substituição do “medalhão”
pela “imagem” esculpida em madeira como objeto de veneração. Ao mesmo tempo, houve uma
transmudação no mando da Festa, pois a doação de patrimônios acarretou a “generalização da
responsabilidade e interesse; isto porque doaram terras ao ‘Divino padre Eterno’ e não a esta ou
aquela família detentora do objeto sagrado” (Jacób, 2000, p. 179).
Neste momento primordial da Festa, Goiás estava sob o báculo de D. Francisco Ferreira de
Azevedo, natural da Bahia e formado no Seminário de São José no Rio de Janeiro (Silva, 1948).
Embora D. Francisco tenha sido o primeiro bispo a pôr os pés na sede prelatícia2 e o seu “governo
espiritual” estender-se durante os primeiros anos da Festa, ele não chegou a visitar a Romaria,
talvez em virtude da cegueira que o afetara antes mesmo sagrar-se prelado de Goiás. Além da
“ausência episcopal”, pode-se apontar como causa para a existência de um simples “rancho”, ou de
uma tosca capela em alvenaria, o regime do Padroado, já que, naquele contexto, embora coubesse
ao Rei e, posteriormente, ao Imperador a tarefa de subvencionar a construção de templos, era o
povo quem comumente tomava para si tal incumbência (Hauck, 1985, Hoornaert, 1992).
Logo, não nos estranha que no período de vacância administrativa deixada pelo sergipano
D. Domingos Quirino de Souza, sucessor de D. Francisco, cujo intervalo entre o ritual de Entrada
Episcopal e o seu falecimento foi de 7 meses, continuasse existindo a capelinha em Barro Preto, a
qual, segundo Jacób (2000), sofreria reformas em 18663. Entretanto, a “gente do sertão” não se
satisfez com tão rústico lócus para falar com Deus e, em 1876, demoliria a “capelinha pequena” e
construiria outra “maior” sob a liderança de uma comissão de leigos que, mais tarde, se organizaria
como “Irmandade”.

1
Jacób (2000) propõe que, por volta de 1850, teria sido construída uma capelinha, em alvenaria e coberta de telhas
substituindo o “rancho”.
2
Os dois primeiros prelados , D. Frei Vicente do Espírito Santo e D. José Nicolau de Azevedo Coutinho Gentil, não
chegaram a assumir o cargo. Já o terceiro e o quarto prelados (D. Vicente Alexandre Tovar e D. Antônio Rodrigues de
Aguiar) morreram a caminho da sede prelatícia.
3. Muito riso, pouco siso: a romanização (da Capelinha ao Santuário Episcopal)
O incentivo para a construção daquela “capelinha maior” foi fornecido por D. Joaquim
Gonçalves de Azevedo, cujo episcopado ficou marcado pela introdução do ideário reformador na
diocese.
D. Joaquim era natural da antiga província do Grão-Pará, mais especificamente, do
logradouro de Tury-Assu. Em seu episcopado, iniciaram-se as “visitas pastorais”, o que ratifica sua
inserção no movimento de Reforma Católica no Brasil; movimento este que ficou marcado, entre
outras coisas, pela supervisão do culto, das festas e do estado dos templos por representantes
oficiais da Igreja Católica Apostólica Romana4, restringindo-se o papel dos leigos nestas tarefas. No
periódico Santuário da Trindade encontramos alguns comentários sobre as investidas de D.
Joaquim em Barro Preto, os quais revelam-nos sua tentativa incipiente de substituir o “catolicismo
tradicional brasileiro” pelo “catolicismo romanizado”:
...Foi elle o primeiro principe da Egreja que veiu (Outubro de 1870) á
Trindade em Visita Pastoral, tratou da decencia do lugar sagrado, deu ordem
de não mais enterrar defunctos na porta da Capellinha e sim escolher um
lugar próprio para o Cemitério... (Santuário da Trindade, 1 jul. 1924, p. 3).
Após a transferência de Dom Joaquim para Salvador, ocorrida em 1876, ano em que, como
dissemos, construiu-se a nova capelinha, a diocese de Goiás permaneceu por cinco anos em
vacatura, até a posse de Dom Cláudio José Gonçalves Ponce de Leão.
Dom Cláudio era baiano de Salvador e, antes de vir para Goiás, exerceu o cargo de Vice-
Reitor no Seminário de São José, no Rio de Janeiro. Sua indicação para o cargo de Bispo de Goiás
pelo governo brasileiro deu-se aos 7 de janeiro de 1881, mas esta só foi homologada aos 13 de maio
do mesmo ano. Depois da sagração, Dom Cláudio permaneceu no Rio de Janeiro até meados de
agosto, segundo Silva, “com o objetivo principal de cuidar de sua diocese, ora se entendendo com
as autoridades, ora promovendo uma campanha para angariar auxílios para sua pobre e distante
igreja de Goiás” (Silva, 1948, p. 285). É óbvio que estes pretextos justificam a permanência do
bispo na sede do Império. Entretanto, lembramos que, desde o Padroado, os prelados adiavam o
quanto podiam a viagem, ou mesmo se recusavam a deixar a Corte rumo ao “sertão” impregnado de
“vícios, abusos, sacrilégios, superstições...”
Após ocupar a diocese, D. Cláudio teve de enfrentar as circunstâncias pouco favoráveis da
“separação Igreja-Estado”, além de defrontar-se com a oligarquia bulhônica (maçônica, positivista
e anti-clerical). No que se refere à sua ação pastoral ressaltou-se, entre outras medidas, o combate
ao “desmazelo do baixo clero”, que atuava como mero coadjuvante nas festas e, além disso,
praticava concubinato e outros “vícios”. Causava espécie no bispo que partissem dos clérigos

3
Cf. Santuário da Trindade, 1 jul. 1924, p. 3
4
Consulte-se, entre outros Hauck, 1985; Azzi, 1990a e 1990b e Maia 2002.
crimes de toda sorte e os mais variados atentados à “verdadeira religiosidade”. Em efeito, no ano de
1885, D. Cláudio dirige aos seus subordinados uma Carta Circular Reservada, na qual os repreendia
tanto por praticarem a simonia e o concubinato, quanto por se dedicarem excessivamente às
atividades mundanas e por estarem envolvidos em escândalos públicos (Leão, 1885). Entretanto,
todo seu descontentamento com o “despreparo” do baixo clero foi revelado na convocação do
Sínodo Diocesano, meio “... dos mais poderosos, (...) dos mais efficazes para produzir a correção
dos costumes, a conservação e a perfeição da disciplina clerical” (Leão, 1887, p. 5).
A preocupação de D. Cláudio com a disciplina do clero era totalmente procedente e
indispensável naquele contexto, pois não tinha sentido “disciplinar os atos de fé povo” quando
alguns representantes do próprio clero eram, habitualmente, “indisciplinados”5. Destarte, entre as
matérias tratadas no Sínodo encontravam-se as festas, mais especificamente, as novenas, procissões
e folias, acerca das quais preconizava-se:
Do respeito devido ás Egrejas, e aos actos do culto divino. Do silencio, do
aceio, da cessação dos escandalos nas novenas, e em outras circumstancias
mais, sendo necessario para este fim marcar hora conveniente para as
novenas, e para esses outros actos.
As procissões devem principiar e acabar com o dia claro; quando será
permettido ás mulheres acompanhal-as, e em que lugar.
Das Folias. Não se pode consentir de modo algum, que continuem, como até
agora. É preciso absolutamente acabar com os abominaveis abusos, com as
desordens, que as acompanhão... (Leão, 1887, p. 14).

Durante o episcopado de D. Cláudio, a romaria de Barro Preto já alcançava projeção


regional, sendo organizada pela “Irmandade do Divino Padre Eterno do Barro Preto”, cuja diretoria
era composta de “provedor, tesoureiro, procurador e doze irmãos de mesa” (Compromisso da
Irmandade do Divino Padre Eterno do Barro Preto, 1888). Afora a diretoria, participavam da
Irmandade um “número indefinido de irmãos no compromisso”. Para ser membro, além de saber ler
e escrever, cada irmão deveria contribuir com quantia pré-estipulada, conforme determinavam os
artigos 8 , 9 e 31 do Compromisso:
Art 8º. Todo aquelle que quizer se inscrever como irmão do Divino Padre
Eterno, na forma d’este compromisso, pagará cinquenta mil réis, pela entrada
e mais uma annuidade de um mil réis.
Art 9º. Poderão fazer parte da Irmandade, todas as pessôas que saibam ler e
escrever, podendo igualmente assignar os trabalhos no livro da Irmandade.
Art 31. Todo aquelle que não for irmão e na hora de sua morte o quiser ser,
dará para sua remissão, vinte mil réis, gosando dos direitos que lhes são
devidos, o que poderá dar igualmente os sãos (Compromisso da Irmandade do
Divino Padre Eterno do Barro Preto, 1888).

5
Leia-se Maia, 2002.
Pelo Compromisso, autorizava-se a Irmandade “a tomar conta da Igreja e seos
pertences”, e a contratar “um Capellão que esteja sempre prompto para acompanhar os
enterramentos dos irmãos que fallecerem e dizer missas da obrigação pelos mesmos”. O Capelão
contratado receberia da Irmandade a “congrua de um Vigario Collado”, e não teria ingerência
alguma sobre o santuário ou sobre a renda da romaria (Compromisso da Irmandade do Divino Padre
Eterno do Barro Preto, 1888, arts. 21, 24 e 28).
No que se refere à Festa, o Compromisso estabelecia as seguintes responsabilidades para a
Irmandade:
Art 10º. Haverá, na 1ª Dominga do mez de Julho, de cada anno, precedendo-se
as novenas, Missa Cantada e Procissão solemne, conforme permittir os réditos
da Irmandade; e na 2ª feira immediata haverá mais uma Missa Cantada – por
tenção dos Romeiros e Devotos que concorrerem com suas esmolas.
Art 36º. A meza autorizara o Thesoureiro, a comprar apolices da Provincia,
com o dinheiro que sobrar das despezas do anno, em nome da Irmandade, áfim
de crear-se um fundo, para no caso de desapparecerem as esmolas, festejar-se
com as mesmas solemnidades ao Divino Padre Eterno (Compromisso da
Irmandade do Divino Padre Eterno do Barro Preto, 1888).

Nessa época, a Festa acolhia, segundo o viajante Oscar Leal, “centenas de romeiros,
alguns dos quaes residiam a mais de cem leguas d’aquelle lugar”, além de “negociantes,
especuladores, jogadores” e “curiosos” (Leal, 1980, p. 148). Este viajante nos fornece outras
informações relevantes sobre a capela e a Festa que nos levam a questionar os “investimentos” da
Irmandade em ambos, ainda que tais informações estejam carregadas na tinta do preconceito:
Durante a festa assistimos a verdadeiros actos de fanatismo ou
bestealismo... O mais engraçado é que esta capella, talvez a mais rica de todo
o estado, como deve ser, não possue nem ao menos um órgão, pois lá dentro o
único instrumento que existe é um realejo! Um realejo n’um templo! É duro
dizel-o mas é a verdade.
Uma festa que deve pelo menos produzir annualmente de dez contos para
cima, é no entanto citada ao viajante pelo simples facto de reunião e nada
mais. Não há um fogo de artificio, uma representação publica, um motivo de
attacção por mais simples que seja, promovido pelos encarregados da
arrecadação...
Bandeiras, galhardetes, kermesses, coretos, nada d’isto existe. Creio mesmo
e não andarei errado em dizer que talvez nenhum dos taes encarregados, nem
mesmo o thesoureiro, saiba o que é um coreto (Leal, 1980, p. 149).

Tencionando debelar os “abusos” praticados pelos devotos, D. Cláudio determinou que a


Festa fosse acompanhada por “santas missões”, empreitada em que lhe valeu o auxílio de padres
dominicanos da capital (Jacób, 2000; Santuário da Trindade, 1 jul. 1924) – provavelmente, melhor
“disciplinados” que os representantes do clero secular. No tocante ao “cofre” e ao estado da capela,
teria o bispo idealizado a nomeação de um Padre Diretor da Romaria, mas, talvez para evitar
quizilas com os membros da Irmandade, abdicou de tal idéia, a qual foi retomada pelo seu sucessor:
D. Eduardo Duarte Silva.
D. Eduardo era natural de Santa Catarina e possuía uma ascendência aristocrática. O
“bruto” de sua formação religiosa ultramontana foi-lhe dada por lazaritas, em internato, e por
jesuítas, como externo, à época dos estudos secundários. Contudo, lapidaram-lhe em Roma, onde
cursou o Colégio Pio Americano e doutorou-se em filosofia e teologia pela Universidade
Gregoriana (Silva, 1948).
Retornando ao Brasil, Dom Eduardo ocupou diversas funções eclesiásticas. Em 1890, foi
intimado por Leão XIII a comparecer em Roma. Cumprindo tal determinação, viajou para o
Vaticano, onde ficou sabendo que, pelo fato de D. Joaquim Arcoverde renunciar ao cargo de bispo
de Goiás, esta função lhe caberia. Apesar de argumentar com Sua Santidade as dificuldades por que
passaria deixando o Rio de Janeiro rumo ao sertão goiano, Dom Eduardo aceitou a designação,
ainda que constrangido (Silva, 1962, p. 22).
Além de uma designação a contragosto, D. Eduardo teve de enfrentar durante seu
episcopado uma situação extremamente turbulenta, uma vez que a República era vista pela corrente
conservadora e monárquica da Igreja como “uma espécie de ‘bête noire’ a sobressaltar os mais
avançados e corajosos, era um estuário onde desaguavam o laicismo, o cientificismo materialista,
o positivismo, o anticlericalismo, o maçonarismo” (Lustosa, 1990, p. 26).
Aos 29 de setembro de 1891, D. Eduardo chegou à capital do Estado, onde “circunstâncias
políticas” tentaram “não só desorientar, mas até desvirtuar a atenção do povo” (Silva, 1948, p.
329). Logo, sua entrada na diocese ocorreu sem recepção oficial, mas com grande
acompanhamento. Durante seu episcopado, assim como D. Cláudio, D. Eduardo altercou-se com a
oligarquia bulhônica, cujos conluios contra a Igreja já haviam motivado a transferência daquele
outro e iram impeli-lo a transferir a sede diocesana para Uberaba, em 1896.
Afora a grei bulhônica, D. Eduardo defrontou-se com o fervor do catolicismo popular6.
Temos visto que o ideário romanizante implantado em Goiás desde o episcopado de D. Joaquim não
conseguiu subverter a religiosidade popular manifesta em romeiros e quinquilheiros, folias e
fuzarca, penitência e flanância. D. Eduardo, mais que os seus predecessores, combateu esse modo
de religiosidade praticado por leigos e tolerado, ou mesmo incentivado, por representantes da baixa
clerezia (que foram severamente advertidos por D. Cláudio). Para tanto, utilizou-se de cartas e

6
A separação entre a Igreja e o Estado não trouxera consigo mesma modificações na piedade popular,
... a não ser a nova orientação da Igreja apoiada no crescente concurso de padres e congregações
estrangeiras, que os afetava apenas esporadicamente em sua prática doméstica e privada da
religião ou então em seus terços e festas do padroeiro. E do mesmo modo que há um conflito entre
o aparelho eclesiástico e o Governo, há um conflito que se instala entre o povo e suas devoções e
o clero e sua doutrina. O povo vivendo uma pauta tradicional luso-brasileira, o clero esmerando-
se por uma pauta europeizante e romanizante (Beozzo, 1984, p. 280).
visitas pastorais; cuidou dos cofres, dos templos e dos patrimônios eclesiásticos com desdobrada
atenção e procurou regulamentar as festas religiosas.
Entre as festas e os templos que D. Eduardo investiu de maneira mais enérgica visando
amoldar ao doutrinário romanizante estavam os de Barro Preto, sobre os quais exarou:
De Bela Vista nos encaminhamos para Campininhas, para dali (...) visitar
um santuário chamado “Do Divino Padre Eterno” no qual durante a viagem
iam os goianos falando-me, por verificarem ali milagres extraordinários...
Àquele santuário acodem anualmente romeiros de todo o Estado de Goiás e
fora dele para levarem suas ofertas, cumprirem suas promessas e assistirem à
festa que celebra no primeiro Domingo de julho.
Como sempre em tais lugares reunem-se as bilhardonas e as calonas de
tôdas as freguesias, bem como sujeitos avilanados e rapazes mariolas, que
aproveitam essa reunião de gente ruim e de marafonas para saciarem a sua
luxúria e executarem suas vinganças; de sorte que não há ano algum em que
não haja assassinatos e ferimentos graves.
A renda anual do Santuário é avultada e dela até a minha chegada era dona
e proprietária uma comissão de três indivíduos a que davam o nome de
Irmandade! Irmãos de mesa, irmãos do cobre é que eles eram. De pobres
tornaram-se ricos fazendeiros, donos de imensas terras e abundante gado...
(Silva, 1962, p. 36-7).

Suas investidas sobre Barro Preto ocorreram antes mesmo de sentar-se na cadeira
episcopal, pois, durante sua insólita viagem rumo à diocese, resolveu “conhecer os fatos e abusos”
que ali ocorriam. Como sua passagem por aquela localidade deu-se pouco depois da romaria, quis
saber com o tesoureiro da Irmandade do Divino Padre Eterno do Barro Preto qual fora o rendimento
da Festa. Foi informado que a Festa rendera vinte e dois contos. Ordenou ao tesoureiro que a chave
do cofre lhe fosse entregue, juntamente com o Compromisso da Irmandade e o livro de contas. Teve
às mãos o Compromisso (que não possuía aprovação canônica), entretanto, negaram-lhe acesso à
chave e ao livro de contas, o que irritou o bispo, mas não foi o suficiente para dissuadi-lo de seu
propósito:
E que tal essa irmandade? Uma verdadeira comissão! Lá fiquei três dias
aboletado na sacristia dia e noite à espera da chave e do livro de contas, que
não apareceram. Reiterado o meu chamado, veio o tesoureiro e afinal
confessou que no cofre nada havia porque o regimento fôra aplicado na
compra de bois. Marquei-lhe um prazo para a prestação de conta, dissolvi a
comissão e nomeei administrador do Santuário o Padre Francisco Inácio de
Sousa...
Esta providência absolutamente necessária e urgente irritou os Irmãos de
mesa, que revoltaram-se e com seus apaniguados pretenderam matar-me, o
que não fizeram porque um caboclo avalentado dali apresentou-se em minha
defesa (Silva, 1962, p. 39).

A nomeação do Padre Francisco Inácio de Souza não resolveu o problema do controle


laico sobre a Festa. Jacób comenta que “das vezes que esteve em Trindade, não teve autoridade
alguma como diretor, tanto que, para sua segurança, dormia dentro da igreja” (2000, p. 187). Em
efeito, o próprio Padre sugeriu ao bispo que entregasse o controle do Santuário a uma missão
religiosa:
Quatro annos lutei na parochia de Campinas e na direcção da romaria da
Trindade (...) Mas mais e mais me convenci de que um Vigário não póde
preencher o posto de director da romaria da Trindade. Senti a necessidade de
se estabelecer ahi uma congregação religiosa para a boa orientação e
estabilidade da romaria como também para o desenvolvimento da mesma e a
santificação dos fiéis. Apresentei ao Snr. Bispo essa idêa providencial
offerecendo da minha parte para garantia da congregação as minhas
propriedades (Souza in Santuário da Trindade, 09 fev. 1924, n.º 46 p. 3)

Aceita a sugestão, partiu o bispo para a Europa tencionando contatar ordens religiosas.
Depois de sucessivos malogros, conseguiu o auxílio de Redentoristas da Baviera, com os quais
firmou um contrato pouco proveitoso para a Diocese, como as palavras do próprio bispo deixam
transparecer: “Vindo eles a sua custa e devendo fazer grandes despesas, impus o onus único de
concorrerem com a pensão e mais o que fosse necessário para a manutenção de dois seminaristas,
o que sempre fizeram, com o rendimento da festa” (Silva, 1962, p. 85).
Esse contrato, obviamente, desagradou a Irmandade que, até então, julgava-se dona do
cofre. Assim sendo, seus membros passaram a conspirar contra os “frades gringos”, acarretando
drástica redução na quantidade de “gente do sertão” que participava dos atos religiosos. Afora isso,
agravou-se a intolerância dos “católicos goianos” com a administração dos “católicos romanos”.
Em 1897, por exemplo, “um grupo de arruaceiros, sob pretexto de que queriam o dinheiro do cofre
para embelezar o Santuário, canalizar água e fazer pontes (...) tentou invadir o santuário e buscar
à força o dinheiro das doações, sob ameaça de morte” (Jacób, 2000, p. 189).
No ano de 1898, apesar das ameaças do bispo e da realização em Barro Preto de uma
“missão religiosa”, continuaram os acintes, conforme nos narra Jacób:
...Nesta ocasião, os padres adquiriram um pasto para suas montarias e uma
casa em Trindade para, mais diretamente, cuidarem do Santuário. O povo do
lugar teimava em não respeitar as cercas do pasto pois aquilo havia sido
adquirido com o dinheiro do Padre Eterno; daí, todos tinham o mesmo direito
de colocar ali seu gado (2000, p. 191).

Em 1899, durante uma viagem que fazia a Roma, D. Eduardo dirigiu aos seus diocesanos
uma longuíssima Pastoral Sobre o Culto Interno e Externo e Regulamento Para as Festividades e
Funcções Religiosas, na qual havia prolegômenos comparando as manifestações de religião do
povo romano (“santíssimas e solenes”) às do povo goiano (“desatentas e com intuitos mercantis”).
Paralelamente, de modo provocativo, o bispo convidava seu rebanho a refletir sobre si mesmo:
...porque, porque os nossos diocesanos, que no entretanto brilham por tão
bellas virtudes, não hão de praticar seos deveres religiosos com este mesmo
espirito de Fé; de celebrar as festividades da Egreja, de tomar partes nas
romarias, nas procissões, nos actos da Semana Santa com egual piedade e
recolhimento? Porque tantas exterioridades (...)? Por que ao apparatoso e ás
vezes reprehensível, porque abusivo, culto externo não hão de unir o culto
interno? Porque enfim suas solemnidades religiosas não hão de ter o cunho
catholico (...) como fazem aqui estas populações catholicas tão venturosas?
(Silva, 1899, p. 8-9).

Em sua pregação contra os excessos, D. Eduardo reparava que as festas deveriam servir
para adorar a Deus e prestar-Lhe culto com dignidade e “sentimentos d’alma”, pois, somente assim,
poder-se-ia adentrar nos “páramos celestes”. Reclamava ainda que uma festa religiosa não poderia
ser assistida à maneira de um espetáculo profano, ou qualquer outro tipo de recreio, posto que
importava procedimentos penitentes. Não escapavam também de suas críticas os foguetórios, o
excesso de barulho e as “exterioridades” em geral, além dos “canticos, ou em latim ou em
portuguez, cuja letra é tão estropiada, que frequentemente dá um sentido ridiculo”. Continuando
sua mensagem pastoral, D. Eduardo profere: “Não, filhos, adorar Deus com taes festas, e
celebradas por tal modo, não é adorar: é offendel-o” (Silva, 1899, p. 11-2).
Apesar de reprovar e mostrar-se descontente com o excesso de “exterioridades” cultivado
pelo seu rebanho, D. Eduardo não era contrário às manifestações festivas ligadas ao culto externo.
Nesta mesma Carta, ele reconhecia que “abolido o culto externo, aos poucos a fé esfria-se, certas
verdades da religião obliteram-se, a pratica das virtudes fica no ouvido, começa o reinado do
indifferentismo, e em vez do christianismo, surgirá o racionalismo...” (Silva, 1899, p. 29).
Desse modo, a seu ver, nas festas e nas manifestações de culto externo, o cristão deveria
expressar sua submissão e adoração ao Todo Poderoso, afastando-se dos vícios, dos pecados e da
lascívia. Nesse sentido, aproveita para provocar novamente seu diocesanos:
É por tal modo, amados filhos, que todos vós até hoje haveis tomado parte
nas solemnidades da Egreja?
Indo em romarias aos mais devotos santuarios, que a fé e a generosidade de
vossos pais ergueram na Diocese, todos, todos tendes sempre em vista
directamente a gloria de Deus, a honra de Maria SS. e vossa santificação; ou
antes ides para mercadejar, para assistir um simples espectaculo de reunião de
povo, para passar alguns dias em regosijos, em divertimentos, em jogos e
muitas vezes em peccados, prestando talvez mais honra e gloria a Deus, si em
vossas casas santamente fizesseis vossas devoções? (Silva, 1899, p. 31-2).

Terminadas as advertências ao seu rebanho, D. Eduardo expede o Regulamento a fim de


afastar as funções religiosas de exterioridades, mas sem que isto implicasse na abolição do culto
externo. Deste Regulamento, transcrevemos os artigos que mais nos interessam no presente
trabalho, quais sejam:
Artigo 1 . Em suas parochias os Rev.os Sen.res Vigarios são os absoluta e
exclusivamente competentes para fazer as festas ou funcções religiosas,
designar dia, hora e modo de celebral-as. Onde os não houver, recorram á
auctoridade diocesana.
Ficam exceptuadas as Irmandades que tiverem compromissos approvados
pela Auctoridade Ecclesiastica e as Conferencias de S. Vicente de Paulo, em
cujo regulamentos já este ponto está determinado.
Artigo 2. As esmolas, os donativos, as offertas e os productos de leilões serão
entregues exclusivamente ás pessoas mencionadas no artigo 1º, as quaes
deverão escripturar tudo em uma folha, que será exposta em logar publico,
com os nomes dos doadores ou outra qualquer procedencia, bem como a
applicação que tiveram, e saldo restante, para conhecimento de todos.
Quanto ás pequenas esmolas dadas na salva ou postas no cofre basta que se
publique a somma total.
Artigo 9. Prohibimos severamente aos Revd. Vigarios, Capellães ou seos
substitutos, que empreguem dinheiros dados para as festas, imagens ou
Egrejas, ou por occasião das mesmas, em outra cousa que não o culto divino,
ou cousa que com elle se relacione: pelo que desses dinheiros não distrahirão,
nem permittirão que se distraia quantia alguma para divertimentos profanos,
como bailes, theatros, banquetes, cavalhadas, bandos, musicas em coretos
etc...
Artigo 13. Sob pena de suspensão prohibimos toda e qualquer festa ou
funcção religiosa de caracter publico com assistencia de Sacerdote em
capellas particulares, ou mesmo publicas de arraiaes, sem expressa licença
nossa, de nosso Vigario Geral, ou do respectivo Parocho. (Silva, 1899, p. 56-8
– grifos nossos).

Mediante este Regulamento D. Eduardo atingia, entre outros alvos, os “Irmãos do Divino
Padre Eterno” que porventura se julgassem no direito de ter ingerência sobre o cofre e mesmo na
organização da Festa, visto que o Compromisso da Irmandade fora aprovado por um “Juiz de
Capelas”, e não por uma Autoridade Diocesana. Desse modo, conforme dissemos, o documento não
possuía validade canônica.
Observe-se ainda que, pelo Regulamento, os rendimentos das festas religiosas não
poderiam ser aplicados em “profanidades”, e isto, conforme expõe Santos, ia diretamente contra os
“usos e costumes tradicionais, provando cerradas oposições (...) e marcando, com o tempo, o fim
de antigas festas que vinham desde os tempos coloniais sob a direção de irmandades leigas”
(Santos, 1984, p. 234-5).
Apesar do Regulamento e das diretrizes dadas aos missionários Redentoristas para que a
Festa transcorresse na maior piedade possível, o bispo não se contentou e, desse modo, baixou uma
Portaria transferindo a data da Festa para 15 de agosto, pois, desse modo, sua data coincidiria com
as Festas de Muquém “e de outra capela pertencente à Paroquia de Corumbá, e assim o povo
dispersar-se-ia por três lugares diferentes” (Silva, 1962, p. 85). Com isso, estourou uma
“revolução” em Barro Preto com episódios dantescos.
D. Eduardo conta-nos que, retornando de uma Visita Pastoral que fizera a Bela vista foi
abordado por “Pe. Speth, superior do convento, o qual chegando à fala exclama todo apavorado:
‘revolução, Sr. Bispo, revolução’!! (Silva, 1962, p. 79). O Pe. Speth advertiu D. Eduardo que o
Coronel Anacleto, líder da localidade, expulsara os padres Redentoristas, provisionara um sacristão
no santuário e ordenara que a romaria ocorresse na data de sempre. Segundo o bispo, aproveitando-
se disso, “gente de todas as paróquias, mascates, jogadores e mulheres decaidas lá estavam em
grande número e todos eram partidários do Coronel palhaço” (Silva, 1962, p. 79).
Após acalmar o Padre Speth, D. Eduardo seguiu para Barro Preto sob a guarda do Juiz de
Direito e de seu séquito de religiosos. Ao chegar, encontrou “o arraial em completo silêncio” e
somente após insistir, conseguiu do sacristão a chave do Santuário. Ao adentrar na Igreja com sua
comitiva, eis a surpresa: o Santuário encheu-se de gente disposta até a matá-lo. À frente de todos
estava o Coronel Anacleto, com quem D. Eduardo manteve, nas suas palavras, o seguinte “diálogo”:
Quem é o senhor que me fala com tanta autoridade? Perguntei. Sou o
Coronel Anacleto, catolico, apostolico, mas não Romano.
E o senhor perguntei o outro individuo que o acompanhava.
Sou o Coronel Gonçalves também catolico, Apostolico, mas não Romano.
Pois então o que pretendem se não Católicos Romanos, quando eu o sou, os
Padres o são, o povo o é, e este Santuário é de Catolicos Romanos.
Qual nada, contestou o Anacleto estamos em Republica e quem governa é o
povo, e o povo há de fazer como e quando quizer; eu e que hei de administrar
as rendas da Romaria, e não êstes Frades estrangeiros (Silva, 1962, p. 80-1).

Como D. Eduardo viu que não conseguiria demover os “Coronéis” de sua idéia, seguiu o
conselho dado pelo Frade Joaquim Mestellau: recolheu a Imagem e os vasos sagrados para levá-los
a Campininhas. Com isso, a insurgência agravou-se e, à porta da Igreja, segundo o Bispo, “havia
grande aglomeração de homens armados de garruchas e um bando de mulheres da vida alegre
armadas de facas” (Ibidem). De posse da Imagem, D. Eduardo explica aos revoltosos que “não
estava ali para amaldiçoá-los, mas para perdoá-los”. Nesse momento, houve uma trégua temporária,
mas o Coronel Anacleto insuflou novamente o povo contra o bispo e os “frades gringos”,
encontrado apoio incondicional entre os mais exaltados, entre eles, destacou-se um morador da
localidade conhecido como Joaquim de Morais, que conseguiu pôr mais lenha na fogueira:
Joaquim de Morais arrombou a porta do Santuário, gritanto: A Igreja é do
povo!... Os padres são simples empregados!... Não queremos mais padres... eu
sou o chefe do povo, ajudai-me! Fora com os padres! Um baiano (...)
entusiasmado com o histerismo de Joaquim, acrescenta: “Tenho costume de
matar padres... Já matei cinco, quero matar também estes padres, estes
ladrões!...
Caetano Assunção e João Gomes do Nascimento unem seus xingatórios aos
de Joaquim Morais (...) Ouviram-se exclamações como estas: - Botam fogo
nestes diabos! Matem estes ladrões! (Santuário da Trindade, 23 jun. 1957, p.
3)
Acautelado pelo Juiz de Direito, D. Eduardo retirou-se do Santuário sem levar a imagem,
lançou o Interdito e partiu com os missionários. Nisso, o povaréu gritava: - Viva no Céu o Padre
Eterno e na terra o Coronel Anacleto!” (Silva, 1962, p. 81). Foi o fim da revolução e o início da
decadência da Festa e da própria cidade7, pois, enquanto durou o Interdito (de 1900 até a Festa
1903), tanto a romaria oficial, que passou a ser realizada em Campininhas no mês de agosto, como a
extra-oficial, promovida pelos coronéis em Barro Preto na data de costume, perderam em
concorrência de fiéis.
A suspensão do Interdito envolveu concessões de ambas as partes: o Coronel Anacleto
desculpou-se formalmente com o bispo e D. Eduardo teve que aceitar a continuidade da romaria
(idéia que, a princípio, ele descartava terminantemente). Jacób salienta que o levantamento do
Interdito marcou “a redenção do Santuário das mãos leigas e o princípio, sem peias, do trabalho
missionário” (2000, p. 223). Mas, paralelamente ao trabalho missionário liberto das rédeas do
“coronelismo”, os Redentoristas conquistaram, por tabela, uma situação privilegiada, visto que
passaram a administrar os cofres do Santuário segundo os termos da determinação contratual. Tal
fato proporcionou-lhes uma “pastoreação espiritual” num oásis de riqueza, comparativamente ao
miserê reinante na diocese. E a gente do sertão? O seu ganho foi o retorno da Festa e do livre acesso
ao caminho e ao lugar privilegiado que, por tradição, escolheu para falar com Deus. Poderia haver
ganho maior?
Em 1907, as dioceses de Goiás e Uberaba foram desmembras e D. Eduardo “preferiu”
empunhar o báculo desta última. No ano seguinte é eleito como bispo de Goiás D. Prudêncio
Gomes da Silva que, ao contrário de D. Eduardo, não tinha ascendência aristocrática. Seu ingresso
na carreira eclesiástica ocorreu somente aos 17 anos de idade, no Seminário Diocesano de Mariana.
Foi ordenado sacerdote aos 24 de abril de 1892 pelo Bispo D. Silvério Gomes Pimenta, de quem era
grande amigo. Após a ordenação, permaneceu naquele Seminário como professor até ser designado
como coadjutor na Paróquia de Belo Horizonte e pároco em Contagem (Santos, 1984; Silva, 1948).
A seguir, D. Prudêncio assumiu a freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Boa Vista,
onde criou o jornal O Lidador.
Conforme esclarece Vaz, foi bastante vantajosa a escolha deste “matuto” para a Diocese
de Goiás, posto que a mesma não teria “mais um ultramontano, monarquista e europeizado como
bispo, e sim um bispo humilde, formado em seminário nacional, sem estudos no exterior” (1997, p.
163).
Em termos administrativos, D. Prudêncio tratou de dividir a diocese em doze comarcas
menores; de desmembrar a Diocese de Nossa Senhora das Mercês (Porto Nacional) da Diocese de

7
Uma matéria publicada no Santuário da Trindade corrobora isso ao observar que “Trindade parecia então acabar-se
e as casas eram vendidas a cincoenta mil reis”(3 dez. 1924, p. 1)
Goiás; de instituir as conferências eclesiásticas; de baixar um “Regulamento dos Patrimônios” (que
colocava sobre o controle dos Vigários, ou dos Fabriqueiros e Conselhos de Fábricas a
administração dos Patrimônios, ou seja, daqueles terrenos pertencentes à Igreja); além de ter fixado
uma nova tabela de emolumentos no intuito de refrear a simonia (Silva, 1909).
D. Prudêncio, na qualidade de Bispo Romanizante atento à santificação do clero e dos
fiéis, teve uma prática pastoral marcada por sucessivas visitas (realizadas em toda a diocese), pela
publicação de Cartas (nove grandes Cartas Pastorais e diversas outras menores reservadas ao clero)
e pela realização de retiros espirituais (de ocorrência anual).
De um modo geral, a administração de D. Prudêncio foi menos conflituosa que a de seus
antecessores pelos seguintes motivos:
a) o povo identificava-se mais como esse “matuto” que, segundo Jayme (1971), soube se
fazer “popular”:
Em toda parte, era recebido com festas e flores e, à casa em que se
hospedava, realizavam verdadeiras romarias, diariamente. Todos queriam
beijar-lhe o sagrado anel, apresentar-lhe votos de boa vinda e ouvir-lhe os
paternais e salutares conselhos. (Jayme, 1971, vol. 2, p. 624).

b) a sua postura diante das novas condições políticas – no episcopado de Dom Prudêncio
deu-se a derrocada bulhônica; paralelamente, o bispo não era um “neo-monarquista”, o
que facultou-lhe alianças com o Estado e as oligarquias que assumiram o poder.

No que se diz respeito à Festa do Divino Pai Eterno, não se registraram grandes conflitos
no episcopado de D. Prudêncio, embora o bispo continuasse combatendo as “exterioridades”.
Assim, por exemplo, na edição de 20 de junho de 1912, publicou-se no Lidador (“porta-voz” oficial
da diocese) uma extensa matéria de advertência ao “modus faciendi” goiano nos templos religiosos,
na qual aconselhava-se, como norma de civilidade, “o silêncio” e “o respeito” - tal qual se
verificavam em “grandes centros civilizados Rio de Janeiro, São Paulo” (O Lidador, 20 jun.
1912, p. 2). Passados alguns meses, foram divulgados no Lidador os capítulos da “Pastoral
Collectiva dos Srs. Arcebispos e Bispos do Sul do Brasil...”, de 1910, versando sobre “o culto das
relíquias”, “o culto das imagens”, “jejum e abstinência”, “igrejas e oratórios” e “santificação das
festas” (O Lidador, 17 de out. 1912, p. 1). No ano de 1919, D. Prudêncio, em sua Oitava Carta
Pastoral, malquistou-se com as farras dos romeiros e advertiu:
Si é certo que boa parte o faz [a romaria] com fé e recta intenção, para
execução dos seus votos ou visita ao Santuário, com enormes sacrificios ás
vezes, o que aliás reconhecemos, não é menos certo que não poucos servem-se
dessas viagens excusivamente para se distrair, para fazer negocios, ou, o que é
mais condemnavel, para jogar e offender a Deus de outros modos.
(...)
A estes [Cooperadores] recomendamos o cuidado, de annualmente, quando
se approximarem o tempo das Romarias da S.S.Trindade de Barro Preto e de
N. S. da Abbadia do Muquem as duas mais celebre e de mais importancia na
Diocese, explicarem em pratica uma e mais vezes aos fieis, como devem elles
proceder e o que convem evitar nessas occasiões, para que em logar de
bençãos, não lhes aconteça trazer para casa as maldições de Deus...(Silva,
1919, p. 15).

Com os Redentoristas, D. Prudêncio manteve uma relação amistosa, apesar de ter


tencionado rever o contrato. Costumeiramente, era acompanhado por um missionário da
congregação em suas visitas. Cabe salientar que, em seu episcopado, os Redentoristas conseguiram
subverter a pecha que tinham de “frades alemães”, principalmente após a chegada dos Padres
Pelágio Sauter e Conrado Kollman, em 1909. O primeiro caiu de modo especial nas graças dos
fiéis. Nas festas, este que recebeu a alcunha de “Apóstolo de Goiás”, distribuía esmolas e alimentos
aos pobres e dedicava especial atenção aos romeiros. Com isso, a suspeita que existiu noutros
tempos em relação aos “frades gringos” foi soterrada, tanto que, durante a Primeira e a Segunda
Guerras Mundiais, conforme observa Jacób, “houve manifestações de apreço de todo o povo em
favor deles. Temiam nova decadência do lugar (...) Os padres alemães mostraram-se felizes com o
povo; viram, nessas manifestações, a marca indelével de que sua missão começava a mostrar
resultados” (2000, p. 242-3).
Em 1911, o antigo templo, erguido em 1878, foi demolido para a construção de outro mais
espaçoso em regime de mutirão. A inauguração do “novo Santuário”, denominado por D. Prudêncio
como “Episcopal Santuário da Santíssima Trindade”, ocorreu aos 8 de setembro de 1912, embora
na Festa deste ano, mesmo sem estar concluído, já servisse como local de prestação de culto ao
Divino Pai Eterno.
A inauguração do “novo templo” consagrou o caráter regional da romaria, traduzindo
ainda um momento de relativa comunhão entre a “gente sertaneja” (mais sensível às diretrizes da
clerezia) e a Igreja - representada pelo “bispo sertanejo” e os “frades gringos” (mais próximos do
povo). Contudo, esta “calmaria” seria rompida após a morte de D. Prudêncio, em 1921, e uma nova
tempestade de brigas pelo cofre varreria a Vila Trindade na Restauração Religiosa, mas, desta vez,
envolvendo o próprio bispo e os missionários.

4. Ralham as comadres, descobrem-se as verdades: do Episcopal Santuário de


Trindade aos pilares do “novo templo”
A Restauração, de um modo geral, constituiu-se num contexto de transição entre uma
Igreja romanizada e “afastada do povo” para outra que buscava “reafirmar sua presença na
sociedade” (Azzi, 1983). Assim sendo, as prioridades estabelecidas a partir da realidade “regional”
assumiram maior importância. Entre essas prioridades, destacaremos, doravante a preocupação do
Alto Clero em controlar os cofres da Romaria do Divino Pai Eterno, o que ocasionou conflitos com
os Redentoristas.
Tomamos como marco da Restauração em Goiás o episcopado de Dom Emanuel Gomes
de Oliveira (1874-1955) que, para não fugir à regra, era um “bispo d’além”, natural de Anchieta
(Espírito Santo).
Emanuel Gomes de Oliveira era filho do tenente coronel José Gomes de Oliveira, falecido
quando ele tinha sete anos, e de Maria Matos de Oliveira. De 1883 a 1887, custeado pelo tio, o
Cônego Quintiliano José do Amaral, cursou o Colégio Paulista de São Luiz de Itu, onde adquiriu o
básico de sua formação religiosa. Em 1888, seu tio, aconselhado por Dom Pedro Maria de Lacerda,
resolveu matriculá-lo no colégio Santa Rosa de Niterói, fundado por salesianos. Nesta instituição, o
jovem Emanuel completou o curso ginasial em 1890. Imediatamente, encaminhou-se ao Noviciado
de Lorena, igualmente de fundamentação salesiana. Em novembro de 1898, teve suas ordens
menores dadas por Dom Francisco Rego Maia, em Niterói. As ordens maiores, por outro lado,
foram-lhe conferidas em São Paulo, no ano de 1901, por Dom Antônio de Alvarenga.
Após ordenar-se ocupou cargos eclesiásticos e políticos antes de ser eleito Bispo de Goiás
pelo Papa Pio XI. Sua sagração como Bispo ocorreu aos 15 de abril de 1923, no Santuário de Nossa
Senhora Auxiliadora, em Niterói, sendo um dos bispos consagrantes Dom Helvécio Gomes de
Oliveira, seu irmão – que na mesma cerimônia recebia o pálio de Arcebispo de Mariana.
A entrada solene na sede diocesana ocorreu aos 5 de agosto daquele mesmo ano, numa
cerimônia em que “compareceram todas as autoridades, inclusive o presidente Cel. Miguel Rocha
de Lima e seu secretariado, encerrando-se tudo com um sonoro ‘Te-Deum’, como nos melhores
tempos da união Igreja-Estado” (Santos, 1984, p. 317).
Apesar dos esforços administrativos de Dom Prudêncio, Dom Emanuel encontrou a
diocese enterrada em pesadas dívidas, “até os prédios do seminário e do ‘palácio episcopal’
estavam hipotecados; os seminaristas tomavam refeições em casas particulares...” (Santos, 1984,
p. 318). Diante de tal penúria, tentou manter um bom relacionamento com os Caiados na qualidade
de oligarquia dominante. Vaz (1997) observa que, ao apoiar os Caiados, a Igreja conseguiu, sob o
báculo de Dom Emanuel, certa estabilidade, auferindo, paralelamente, auxílios financeiros para
empreendimentos como a reforma da Catedral. Contudo, não havia por parte do Governo nenhuma
pretensão de sustentar a Igreja, pois aquele, tanto quanto esta, era deficitário.
Não podendo contar com o auxílio do Governo para sanear financeiramente a diocese, o
bispo tratou de alienar bens patrimoniais e cuidar da “galinha dos ovos de ouro”: o cofre do
Santuário de Trindade, que há muito tempo, como temos visto, era motivo de disputas, tal como a
seguinte notícia evidencia:
Logo que chegaram em Campinas, os Padres Redemptoristas foram
encarregados da direcção e administração do Santuário da Trindade. Fazia
apenas dous annos que a administração do Santuário tinha passado para a
autoridade ecclesiastica e Monsenhor Souza que ali se achava em nome do
Bispo, soffria duras perseguições da parte dos que até então se consideravam
donos do cofre... (Santuário da Trindade, 3 dez. 1924, p. 1).

Observamos que, em 1894, Dom Eduardo, tencionando debelar as “sandices” no santuário


e dar um destino melhor às rendas da romria, firmou um contrato com missionários redentoristas da
Baviera não muito proveitoso para a Diocese, pois estes “tomariam conta” do seu cofre e teriam
como único ônus o pagamento de pensão de dois seminaristas com a renda da Festa. Com isso,
como alega Vaz (1997), criou-se uma vantajosa situação para os Redentoristas, o que despertou
inveja e desconfiança no clero secular, tanto quanto intrigou Dom Emanuel, até que o bispo decidiu
revisar o contrato8. As calorosas discussões entre Dom Emanuel e os missionários acerca da
revisão começaram, provavelmente, em fins de 19239, tendo sido necessária a mediação de Dom
Sebastião Leme, na qualidade de núncio apostólico, no “ajuste final”, ocorrido em dezembro de
1924. Em todo o decorrer dessas discussões, os Redentoristas sentiram que a sua permanência no
santuário estava ameaçada, conforme nos indica D. Eduardo num apêndice à sua autobiografia
datado de 24 de agosto de 1924:
Para visitar-me e ao mesmo tempo agradecer-me quanto fiz pelos padres
redentoristas, quando Bispo de Goiás, aqui esteve hoje o P. Lourenço, o qual
veio comigo da Europa, sendo apenas subdiacono, e que em Goiás recebeu de
mim as Ordens de Diacono e Presbitero. Ao desperdir-se pediu-me que eu
recomendasse a D. Emanuel, Bispo de Goiás, a fim de não levar avante o que
pretende quanto aos rendimentos de Barro Preto, porque si assim o fizer serão
os padres redentoristas obrigados a se retirarem com grande prejuizo das
almas (Silva, 1962, p. 88).

De acordo com carta do Padre Thiago Klinger a Dom Emanuel, a revisão contratual
proposta alteraria profundamente a rotina de trabalho dos Redentoristas, posto que, por exemplo,
eram requisitados três missionários e quatro padres para servirem como vigários na diocese, acerca
do que o Padre Thiago acautelava:
A congregação fará todo o possível para satisfazer os pedidos da diocese
em quanto for possível dentro dos limites da nossa constituição religiosa; mas
obrigar-nos por contrato a sempre pôr a disposição do bispo três missionários
e quatro outros padres para serem vigários e secretário do santuário é um
onus gravissimo para a comunidade (Kingler in Livro de Transcrição de
Documentos Especiais..., f. 2).

8
Em 1919, D. Prudêncio já tentara, sem êxito, realizar tal revisão.
9
Possivelmente os debates ocorreram após uma Visita Pastoral, na qual, segundo relatado no Livro de Tombo e
Inventário de Bens de Fábrica da Freguezia de N. Sra. da Conceição de Campinas (f. 44), o Bispo foi “alvo das mais
significativas provas de apreço e veneração por parte das auctoridades e do povo e das associações religiosas”.
O bispo “solicitava” ainda que quartos do prédio residencial dos Redentoristas fossem
cedidos para retiros espirituais e que dois aposentos estivessem à sua disposição. Sobre esta
“solicitação”, Padre Thiago ponderava:
Devo-lhes dizer penosamente que a nossa casa actual não dispõe de tantos
cômodos. Nós procuramos como ate agora fizemos receber tão alto hospede
sempre o melhor possível e o melhor estará sempre a disposição... (Kingler in
Livro de Transcrição de Documentos Especiais..., f. 2).

Mediante tais exigências, o Padre Thiago tentou intimidar Dom Emanuel. Argumentou
que, em sendo impostas aquelas condições, a missão não teria como continuar seus trabalhos na
diocese e, de modo categórico, precatou: “Antes de nós chegarmos, o bispo diocesano não recebia
nada e assim o sera de novo si leigos vem tomar conta do cofre. O que alguns inimigos da religião
e dos padres querem é o dinheiro do cofre...” (Klinger in Livro de Transcrição de Documentos
Especiais..., f. 1). Ainda nesta carta, o Padre Thiago ressaltava os melhoramentos paisagísticos do
Santuário “construído pelos missionários” (pintura, compra de relógio da torre, conservação do
largo, instalação de luz elétrica), bem como a maior organização da Festa a partir da administração
redentorista (Kingler in Livro de Transcrição de Documentos Especiais..., f. 1).
Dom Emanuel, por sua vez, utilizou-se da autoridade episcopal para revidar o Padre
Thiago, deixando evidente a insatisfação pessoal com o contrato vigente e, ao mesmo tempo, lhes
deu um ligeiro “passa-fora”:
Lamentando embora profundamente a retirada da Missão Redemptorista
daquele nosso muito amado campo de acção, como Bispo diocesano a quem
assiste o grave dever de consciência de conhecer e administrar os bens de uma
diocese (...), por esta nossa comunicação official vimos denunciar, como
denunciamos, o modus vivendi havido até a presente data entre membros da C.
do Sr. do R. alli existentes e a nossa Diocese de S. Anna de Goyaz, por julgal-o
lesivo aos interesses da mesma (Oliveira in Livro de Transcrição de
Documentos Especiais..., Carta datada de 28 de maio de 1924, f. 2.)

Nesta carta, paralelamente, o Bispo aproveitou para comunicar aos Redentoristas que
comporia uma comissão a fim de “fiscalizar o movimento religioso e financeiro do episcopal
santuário” (Ibidem), o que, certamente, causou descontentamento nos missionários.
Ainda no dia em que dava um “passa-fora” aos missionários, Dom Emanuel visitou Dom
Eduardo, em Uberaba, juntamente com Dom Henrique Gasparri (núncio apostólico). Segundo Dom
Eduardo, tal visita tinha o propósito de pedir-lhe “...esclarecimentos sobre a data e clausulas do
Contrato (...) com os padres redentoristas, por ocasião da entrega que lhes fiz do Santuario de
Barro Preto (...) e respectivos patrimonios, querendo o Sr. D. Emanuel modificá-lo a fim de ter a
Diocese mais recursos, provenientes dali para socorrer as despesas...” (Silva, 1962, p. 88)
D. Emanuel, além de redigir a referida carta que dava um “passa-fora” nos Redentoristas e
visitar D. Eduardo, no mesmo dia 28 de maio escreveu outra missiva endereçada à “nuciatura
apostólica”, na qual denunciava o modus vivendi dos Redentoristas (talvez aproveitando-se de
alguns dos “esclarecimentos” dados por D. Eduardo). Extraímos desta carta os trechos da
“denúncia” que consideramos mais importantes:
a Missão Redemptorista está na Diocese de Goyaz há cerca de 30 annos, com
uma única residencia e com o mesmo numero de religiosos, ao todo (seis) 6
membros...
encarregada da administração do patrimônio de varias parochias, durante
esse tempo alienaram grande parte de suas terras, ficando hoje os mesmos
patrimônios reduzidos e desvalorizados, tendo sido até vendido uma legoa
quadrada de terra, a razão de novecentos mil réis!...
a Missão Redemptorista incumbida da administração do Episcopal Santuario
de Trindade no logar denominado Barro Preto, ali está também, há quasi
trinta annos, de posse exclusiva do mesmo, e sem fiscalização alguma das
esmolas, donativos e promessas dos fieis, que em numero de milhares
annualmente levão ao mesmo santuario, o qual já em anno de 1896 acusava a
receita líquida de Rs 22.000$000.
As Egrejas levantadas sob a direcção da Missão Redemtorista na Diocese com
o auxílio do povo são todas de madeira e adobe, e uma dellas, a matriz de
Bella Vista (...) está em completa ruína...
(...)
Como obrigação única teria a Missão Redemptorista de pagar á diocese a
pensão de dois seminaristas e desde 1921 por combinação feita com o nosso
fallecido antecessor D. Prudêncio, se obrigaria annualmente, até dez contos de
réis!...(Oliveira in Livro de Transcrição de Documentos Especiais..., Carta de
D. Emanuel ao Núncio Apostólico datada de 28 de maio de 1924, f. 3-5).

Ao que tudo indica, D. Emanuel conseguiu ser convincente em sua denúncia do modus
vivendi dos Redentoristas já que, aos 15 de junho de 1924, a Nunciatura Apostólica dirigiu-lhe uma
carta dando aval à revisão contratual, ressaltando que os missionários eram apenas
“administradores” do Santuário, e não “seus donos”. Segundo a Nunciatura, a “revisão” seria
profícua não só para a Diocese de Goiás, mas também para os Redentoristas, pois o contrato
vigente não obedecia à lei canônica (Livro de Transcrição de Documentos Especiais..., Carta do
Núncio Apostólico datada de 15 de maio de 1924).
Os Redentoristas, ao tornarem-se cientes do aval da nunciatura para revisão contratual, e
percebendo o firme propósito D. Emanuel de levá-la adiante, sentiram tamanho descontentamento
que, segundo Jácob, “pensaram em deixar tudo para trás e ingressar a leva de missionários que
guardavam o Santuário de Aparecida”, ressalte-se também que, neste ano, durante a Festa,
espalhou-se uma boataria entre os trindadenses benquistando sua saída. Porém, após acalmarem-se
os ânimos, os Redentoristas “acataram as decisões do bispo e assinaram o contrato (...) e isto
azedou ainda mais as relações entre eles” (Jácob, 2000, p. 253), porquanto o bispo queria que os
missionários aceitassem seu “passa-fora”.
Finalmente, aos 24 de dezembro de 1924, firmou-se o novo contrato, cuja validade
estendia-se por 10 anos; embora permanecessem a animosidade, os rancores e as desconfianças de
ambas as partes. Afora isso, a validação deste contrato pelos superiores da Congregação
Redentorista só ocorreu aos 5 de maio de 1925, sendo antecedida por discussões e suspeitas (Livro
de Transcrição de Documentos Especiais..., passim). Os pontos nevrálgicos da pendenga entre a
diocese e os redentoristas foram “resolvidos” nos artigos 4 e 5 do referido contrato, que dispunham
sobre a comissão fiscalizadora, as despesas e os rendimentos do “episcopal santuário”, apresentando
as seguintes determinações:
IV – O ordinário, por si ou o sacerdote de sua inteira confiança, fiscalizará,
nas normas do direito canônico, todas as entradas do Sanctuário, esmolas em
dinheiro especial, exvotos, cera (...) que são propriedade do Sanctuário,
competindo ao Reitor ou Vigário, ter escripturação de todo o movimento,
espiritual e material. Nenhuma despesa extraordinaria superior a um conto de
reis poderá ser feita trimensalmente sem licença da Curia Diocesana.
V – Dos rendimentos do Sanctuário, a Diocese gratificará o trabalho dos R.R.
Padres (...) com a importância fixa de um conto de réis mensalmente.
Em compensação de desistência do primeiro contracto da parte da
Congregação e como remuneração (...) a Diocese dará também á congregação
do S. S. Redemptor vinte por cento de toda renda do Sanctuário (Contracto
entre a Mitra da Diocese de Sant’Anna de Goyaz e a C. S. Redemptores da
Provincia da Baviera in Livro de Transcrição de Documentos Especiais, f. 29).

Apesar das desavenças, logo após validação do contrato, o bispo visitou o Santuário
objetivando “lapar a bocca a muita gente” (Chronik von Campinas, 1937, f. 135 – relato de 1925).
Durante a visita, segundo versão dada por Redentoristas nas Chronik von Campinas, ambas as
partes evitaram “...tocar detalhadamente no assumpto que preoccupara tanto S. Excia como nós
nos meses passados. Entretanto o Sr. Bispo não deixou de fazer transparecer estar contente por
tudo haver sido concluido a contento” (1937, f. 135 – relato de 1925). Se D. Emanuel encontrava-
se “contente”, os Redentoristas, ao que nos parece, não compartilhavam de tal sentimento, pois os
comentários das sobre a Festa de 1925 nas Crônicas manifestam uma certa “satisfação” com o seu
fiasco em virtude da passagem da Coluna Prestes por Goiás, criticando-se diretamente os
trindadenses que os queriam longe dali e, indiretamente, as resoluções do Bispo:
Nessas circunstâncias realizou-se a festa de Trindade. Começara sob bons
auspícios. Um mez antes já havia muita gente e de logares mui distantes.
Poucos dias antes das novenas porem chegaram as notícias da invasão do
Estado e as ordens do recrutamento. Foi uma debandada medonha: os que lá
já se achavam voltaram para traz precipitadamente e os que estavam em
caminho desistiram de continuar. A festa foi celebrada mas com meia duzia de
pessoas – si comparar com os annos normaes. Basta dizer que depois das
novenas e missas nem siquer des pessoas (facto!) se encontrava no largo da
Egreja (...) A festa rendeu em tudo: 10:000!
Foi a nosso ver um justo castigo da Providência a esse povo de Trindade
que no anno passado, por occasião, tanto nos calumniara, perseguira e já
batera palmas a nossa sahida e consequente substituição por pessoas de sua
laia e escolha... Nós, propriamente não tivemos prejuízo, porque segundo o
nosso contracto, o bispo tem de entrar com a quantia estipulada quer lhe
renda o cofre ou não...(Chronik von Campinas, 1937, f. 150-1 – Relato da
Festa de 1925)

Esse mesmo tom de ironia em relação ao novo contrato, pelo qual deduzimos que os
Redentoristas não compartilhavam a mesma “alegria” do bispo, é encontrado no relato da Festa
seguinte, quando ainda eram sentidos os efeitos dos “incidentes políticos” do ano anterior:
...Parece que a festa não chegará mais a concurrencia de antes da revolução:
há vários indícios e motivos para se chegar a essa conclusão. E isso não será
um mal, mas um bem. A recepção dos sacramentos foi diminuta. O rendimento
do cofre deu bem para pagar o deficit do anno passado e cobrir as despezas e
a quota á nós devida pelo contracto, ficando ainda alguns contos para o Sr.
Bispo... (Chronik von Campinas, 1937, f. 208 – Relato da Festa de 1926)

Apesar de o contrato firmado em 1924 estipular que a sua validade seria por dez anos, a
revisão só realizou-se em 1939, desencadeando, novamente, um clima de discussões e negociações.
Neste contrato, D. Emanuel reduziu a porcentagem destinada aos redentoristas a 20% da renda
líquida do Santuário. Acordava-se neste contrato que correria “por conta da Congregação todo o
serviço religioso do Sanctuário durante o anno e especialmente na época das Romarias, tratando
também do policiamento a ser fornecido pela auctoridade civil”. Paralelamente, estabelecia-se que
caberia ao arcebispo “examinar as despesas decorrentes das clausulas anteriores, fazer
mensalmente o pagamento dos empregados do Sanctuario, bem como as despesas auctorizadas;
recolher ao Banco os saldos existentes, fazendo tudo constar no Livro das Actas, lavradas pelo
Secretário e assignadas por este, pelo Reitor e pelo dito Delegado” (Contracto firmado entre a
Archidiocese de Goyaz e a Congregação do SS. Redemptor apud Santos, 1984, vol. II, p. 62-3).
Dispondo a diocese, e posteriormente a arquidiocese10, de mais recursos, D. Emanuel pode
levar adiante o “projeto restaurador” de reafirmar a presença da Igreja na sociedade. Prova disso
foram os inúmeros templos e escolas construídas em seu episcopado. A magnitude que alcançava a
romaria fê-lo também propor a construção do novo Santuário Episcopal, cuja pedra fundamental foi
lançada e benzida durante a Festa do Divino Pai Eterno de 1943, quando se comemorava “o
centenário da romaria”.
Os conflitos estabelecidos entre D. Emanuel e os Redentoristas, que acabaram redundando
num desprezo do Arcebispo por eles somente superado pouco antes de sua morte (Jacób, 2000), não
abalou a fé dos romareiros, tampouco a composição profano-religiosa da romaria. Esta, pelo
contrário, conforme as notícias e os relatos da época acusam, apesar de percalços episódicos,
continuou ano a ano atraindo um contingente maior de fiéis, “bilhardeiros” e “negociantes” ao
Episcopal Santuário de Trindade, gente de toda parte disposta “ver novidades”, “cambiar o corpo
e bagulhos”, “furtar e fazer arruaça” e a sacrificar-se para “falar com Deus”:
... Havia romeiros de 60, 80 100 e mais legoas de distância. Como a
localidade é pequena para abrigar tão grande multidão levantam-se todas,
barracas e cabanas em todos os quintaes e circunvisinhanças de Trindade.
Este anno para mais de 20 mil pessoas estiveram presentes...
A assistência aos actos religiosos não podia ser maior. A egreja de Trindade,
apezar de enorme, não podia abrigar nem a terça parte dos romeiros...
Não podemos porem passar em silencio um mal infelizmente muito em voga e
para o qual pedimos attenção das autoridades competentes. Em S. Paulo,Rio,
Minas e outros estados são tomadas medidas as mais energicas contra o jogo e
a prostituição públicos, mal hediondo que procura se introduzir em
semelhantes festas. É preciso que se acabe de uma vez para sempre com essa
praga durante esses dias de festa... (Santuário de Trindade, 12 jul. 1924, p. 2)
... Durante a procissão no dia 2 de julho, Domingo, foi prescutida a visita
indesejavel em nossa casa dum larapio que felizmente não conseguiu realisar
os seus intentos...
Certo negociante havia trazido de São Paulo muitas lingüiças, salames, etc. O
povo desconfiado não comprou as lingüiças, embora o negociante comesse as
tais lingüiças á vista de todos para animar a freguezia. Goiano não come o que
não conhece (Chronik von Campinas, 1937, f. 292 - Relato da Festa de 1933).
Novidade constituiu o cinema publico de propaganda pela Casa Bayer. Um
automovel proprio, provido do alto falante e de todo necessario possibilita
essa propaganda “norte americana” que fez “furore” perante os sertanejos
muitos dos quaes terão visto semelhante “trem” pela primeira vez na vida
(Chronik von Campinas, 1937, f. 359 - Relato da Festa de 1936).
A festa da Trindade reuniu este ano um número extraordinario de romeiros. Os
cálculos dos romeiros variam muito conforme a competência de quem calcula.
Houve quem calculasse a multidão em 70.000, outros em 40 ou 40.000
pessoas. Fato é que mais gente do que nos anos anteriores passam por
Trindade nessa festa. A renda do Santuário nunca foi atingida em outros anos
(Cronica da Casa de Campinas, VI livro – s. p. num., Relato da Festa de 194?).

5. Considerações Finais:
Nestas poucas linhas, observou-se que a composição de uma Festa implica na conquista de
um espaço, o que, não raro, envolve conflitos entre seus agentes. Ressaltou-se como uma
manifestação religiosa familiar e doméstica, realizada diante de um oratório, foi adquirindo,
paulatinamente, uma feição regional (tendo, hoje em dia, um caráter nacional). Com isso, exigiu-se
a produção de espaços próprios, em cujo processo a “religião popular” e a “oficial” (e mesmo no

10
Aos 18 de novembro de 1932, a Santa Sé elevou a diocese de Goiás à dignidade de Arquidiocese, elegendo D.
cerne de cada uma dessas instâncias) ora embateram-se, ora aliaram-se; ora subverteram a “ordem”,
ora confirmaram-na; ora ocuparam-se com “o plano divino”, ora brigaram pelo “vil metal”. A
existências dessas ações antitéticas gerou modos próprios de se falar com Deus, enquanto outros
foram caindo no olvido; algumas práticas ritualísticas foram valorizadas enquanto outras,
condenadas. Nisso, o homo religiosus que quer falar com Deus, como disse o poeta Gilberto Gil,
continuou tendo que “comer do pão que o diabo amassou” e a “caminhar pela estrada que ao findar
vai dar em nada, nada, nada, do que pensava encontrar”!

6. Referências bibliográficas e documentais:


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