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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

CENTRO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

CURSO BACHAREL EM ENGENHARIA ELÉTRICA

KAMILA GOMES DE SOUSA

ESTUDO DOS DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO DE UMA USINA DE


MINIGERAÇÃO FOTOVOLTAICA

BOA VISTA, RR
2023
KAMILA GOMES DE SOUSA

ESTUDO DOS DISPOSITIVOS DE PROTEÇÃO DE UMA USINA DE


MINIGERAÇÃO FOTOVOLTAICA

Trabalho de pesquisa apresentado a fim de


se obter créditos semestrais para
aprovação na disciplina de Proteção de
Sistemas Elétricos.

Orientador.: Prof. Dr. Fernando Vladmir


Cerna Nahius

BOA VISTA, RR
2023
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 3
2. PROBLEMA..........................................................................................................................5
3. OBJETIVOS..........................................................................................................................6
3.1 OBJETIVO GERAL............................................................................................................. 6
4. JUSTIFICATIVA.................................................................................................................. 7
5. REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................................8
5.1 SISTEMA DE PROTEÇÃO................................................................................................. 8
5.1.1 Características de um sistemas de proteção eficiente................................................... 8
5.1.2 Funções de proteção.......................................................................................................10
5.2 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA...............................................................................................12
5.2.1 A Geração Distribuída no Contexto Atual.................................................................. 12
5.2.3 Tecnologias de GD utilizando fontes renováveis......................................................... 13
5.2.4 Impactos Causados pela Geração Distribuída nos Sistemas de Proteção.................14
5.2.4.1 Impacto da GD na Direcionalidade das Proteções...................................................... 14
5.2.4.2 Ilhamento e Proteção.................................................................................................... 15
5.3 ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA..............................................................................16
5.3.1 O sistema fotovoltaico: as legislações e incentivos pelo mundo................................. 17
5.3.1.1 Alemanha...................................................................................................................... 17
5.3.1.2 China............................................................................................................................. 18
5.3.1.3 Austrália........................................................................................................................19
5.3.1.4 Índia.............................................................................................................................. 20
5.3.1.5 EUA............................................................................................................................... 21
5.3.1.6 Brasil............................................................................................................................. 21
5.4 COMPARAÇÃO DOS REQUISITOS DE PROTEÇÃO DAS DISTRIBUIDORAS PARA
INSERÇÃO DE GD..................................................................................................................23
6. METODOLOGIA............................................................................................................... 27
7. ESTUDO DE CASO......................................................................................................................... 28
7.1 DADOS DA USINA FOTOVOLTAICA....................................................................................... 28
7.2 ESTUDO DOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO................................................................. 29
7.2.1 Disjuntor geral de baixa tensão.................................................................................................. 29
7.2.2 Relé de média tensão....................................................................................................................39
7.2.3 Chave fusível do inversor fotovoltaico....................................................................................... 43
7.2.4 Relé geral da cabine de entrada de energia............................................................................... 44
8. CONCLUSÃO................................................................................................................................... 47
REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 48
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1. INTRODUÇÃO

A energia passa por um sistema complexo de geração, transmissão e distribuição antes


de chegar aos consumidores. A hidrelétrica é a principal fonte de geração de energia elétrica
no Brasil, sendo transmitida em alta tensão até as subestações de distribuição. A partir das
linhas subterrâneas ou aéreas, a energia é distribuída aos consumidores por meio de
transformadores (ARAÚJO et al, 2005). Assim, é essencial que o sistema elétrico atenda aos
regulamentos governamentais para garantir o fornecimento adequado e de qualidade da
energia elétrica aos consumidores.

Como resultado, um sistema elétrico pode sofrer perturbações, defeitos e outras falhas
que podem levar a interrupções no fornecimento de energia e potencialmente danificar
componentes do sistema. De acordo com Araújo et al. (2005), um sistema de proteção é
fundamental para detectar condições anormais em tempo real e agir para prevenir problemas.

A operação eficaz do circuito de proteção é crucial para a confiabilidade do sistema de


energia. Contudo, o modelo de sistemas elétricos em configuração radial, que inclui esquemas
de proteção contra curto-circuito, está passando por mudanças significativas por causa da
crescente utilização de dispositivos de geração distribuída (GD), os quais estão sendo
integrados ao sistema elétrico (OLIVEIRA, 2019).

Assim, o sistema elétrico brasileiro vem se modificando, se tornando cada vez mais
independente do ciclo da água, através da geração distribuída. Isso se deu por meio dos
incentivos governamentais e regulamentações normativas nº 482 e 687, fazendo com que a
GD se mostrasse com potencial e uma nova possibilidade para o mercado de energia
(OLIVEIRA, 2019).

Além disso, a geração distribuída pode ser realizada através de fontes de energia
renováveis, fazendo com que o apelo social esteja atrelado à economicidade e à
sustentabilidade. Atualmente, segundo dados da ANEEL (Agência Nacional de Energia
Elétrica), 99,9% de todas as conexões de minigeração e microgeração distribuída são da fonte
solar fotovoltaica (ABSOLAR, 2023).

Neste contexto, a energia solar está presente, segundo Renewables Global Status
Report (2022), a energia solar corresponde a aproximadamente 56% de novos investimentos
em energias renováveis no mundo em 2021, onde a China lidera com 37% do total, seguido
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da Europa (22%), Ásia-Oceania (excluindo China e Índia; 16%), Estados Unidos (13%) e
outros regiões (4%) ou menos do total, nos investimentos em energia solar fotovoltaica. No
Brasil, a micro e minigeração distribuída, apresentou em 2021 aumento de 84% em relação a
2022, onde a energia solar participou de 88,3%, sendo a principal responsável pelo aumento
registrado, além disso, cerca de 2,5% da matriz elétrica do país em 2021 foi gerada por
energia solar (EPE, 2022).

Há um aumento significativo nos investimentos globais e nacionais no setor de energia


fotovoltaica, que é uma tecnologia amigável ao meio ambiente e à economia. Essa tecnologia
é promissora por sua capacidade de transformar diretamente a energia solar em eletricidade de
forma limpa, renovável, silenciosa e estática. Destaca-se também por meio da integração de
painéis solares às edificações e geração distribuída, reduzindo as perdas na transmissão e
distribuição e evitando a necessidade de grandes áreas para a geração de energia. Além disso,
essa integração aproxima os consumidores da geração de energia (RUTHER, 2004).

Apesar do Brasil ter um grande potencial de irradiação solar devido à sua localização
estratégica nos trópicos, o país ainda é pouco ativo na adoção da tecnologia de energia solar
em comparação com outras nações (AQUINO E SILVA, 2018). O alto custo para instalar
sistemas solares e a falta de políticas públicas e tarifas favoráveis são fatores que podem
explicar essa resistência.

Dessa maneira, é fundamental estudos dos componentes de proteção de uma usina


fotovoltaica para garantir a confiabilidade do sistema. Além disso, tais estudos colaboram
para um maior conhecimento acerca dos equipamentos que são utilizados, estes que são
extremamente importantes para atuar contra falhas dos sistema e garantir seu funcionamento
sem que haja acidentes ou falta de suprimento de energia elétrica.

Por fim, ao executar o estudo proposto em uma Usina de minigeração fotovoltaica


localizada no interior de São Paulo, acredita-se em incentivar o estudo de proteções relativas a
este tipo de tecnologia que vem crescendo no Brasil e no mundo e contribuindo para a
melhoria da questão energética do sistema elétrico brasileiro.
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2. PROBLEMA

A mudança de paradigma desafia os métodos tradicionais de resolução de falhas do


sistema, além disso, as concessionárias brasileiras seguem o Módulo 3 dos procedimentos de
distribuição de energia elétrica no sistema elétrico nacional (PRODIST), regulamentação essa
que diz respeito às proteções mínimas necessárias em sistemas com acessantes de GD,
portanto requer uma análise detalhada dos componentes de proteção que fazem parte do
sistema de minigeração fotovoltaica.
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3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Estudar os componentes de proteção de uma usina de minigeração fotovoltaica

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS


● definir as características de um sistema de proteção eficiente
● designar as funções de proteção
● comparar os requisitos de proteção das distribuidoras para inserção de Geração
distribuída
● apresentar os componentes de proteção da usina fotovoltaica
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4. JUSTIFICATIVA

Diante do crescimento dos investimentos e da aplicação da geração distribuída solar


fotovoltaica no Brasil e no mundo, é fundamental garantir a confiabilidade e o desempenho
desse sistema, que pode ser afetado por diversos fatores externos. Com isso, a realização do
estudo dos componentes de proteção de uma usina de minigeração fotovoltaica se faz
necessária, pois esses componentes são projetados para evitar danos ao sistema e aos
dispositivos conectados a ele.
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5. REFERENCIAL TEÓRICO

5.1 SISTEMA DE PROTEÇÃO

O sistema de proteção tem como função principal manter a desconexão do sistema


elétrico ou parte dele que está submetido a eventos anormais que saem dos padrões ou limites
existentes, além disso, fornece informações de identificação dos defeitos facilitando sua
recuperação (MAMEDE FILHO; MAMEDE, 2020). Assim, o sistema de proteção deve agir
de forma confiável e estável, sempre aja quando ocorrer uma anormalidade que possa
danificar o equipamento do sistema elétrico; seja sensível a esses eventos; agir de forma
rápida e seletiva, removendo a menor carga possível da rede e permitindo a máxima
continuidade; e por fim a economicidade.

5.1.1 Características de um sistemas de proteção eficiente

A proteção do sistema elétrico requer que as falhas sejam isoladas para evitar a
interrupção total do fornecimento de energia. Para garantir a eficácia da proteção, é
importante considerar certos parâmetros que determinam a qualidade do sistema. Algumas
características devem ser consideradas para garantir um desempenho adequado, tais como:
seletividade, zonas de atuação, velocidade, sensibilidade, confiabilidade e automação.

● Seletividade

Segundo Mamede Filho e Mamede (2013), define-se seletividade como a técnica


utilizada para garantir que o elemento de proteção mais próximo da falha isole a parte
defeituosa do sistema elétrico. É um projeto de estratégia geral de proteção onde os
dispositivos atuam somente quando mais próximos de uma falha para remover o componente
com defeito (ANDERSON, 1998).

● Zona de Atuação

A zona de proteção ou zona de atuação define-se, segundo Cotosck (2007), como


áreas sensíveis. Leme et al (2013) conceitua como a zona na qual o elemento de proteção é
responsável sendo capaz de definir se a falha está nos limites da zona protegida, atuando se o
componente identificar se a falha ocorreu dentro dessa zona.

● Velocidade
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A velocidade de atuação de um elemento de proteção deve ser a de menor valor


possível, desde que o tempo de operação esteja definido (MAMEDE FILHO E MAMEDE,
2013). Quando ocorre um curto-circuito a rapidez de ação tem como objetivo: diminuir a
extensão do efeito ocorrido, auxiliar a manutenção da estabilidade das máquinas operando em
paralelo, melhorar as condições para re-sincronização dos motores, assegurar a manutenção
de condições normais de operação nas partes sadias do sistema, diminuir o tempo total de
paralisação dos consumidores de energia e diminuir o tempo total de não liberação de
potência, durante a verificação de dano, etc (CAMINHA, 1977).

● Sensibilidade

A sensibilidade é a capacidade da proteção atuar nas condições anormais do sistema


para qual foi projetada (ARAÚJO ET AL, 2005). O elemento de proteção deve ser capaz de
reconhecer com precisão a faixa e os valores indicados para a sua operação e não operação
Numericamente o nível de sensibilidade do equipamento de proteção é dado pela Equação (1).
(MAMEDE FILHO E MAMEDE, 2013)

𝐼𝑐𝑐𝑚𝑖
𝑁𝑠 = 𝐼𝑎𝑐
(1)

𝐼𝑐𝑐𝑚𝑖 − 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑐𝑢𝑟𝑡𝑜 − 𝑐𝑖𝑟𝑐𝑢𝑖𝑡𝑜 𝑒𝑚 𝑠𝑒𝑢 𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜

𝐼𝑎𝑐 − 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑎𝑐𝑖𝑜𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜 𝑒𝑙𝑒𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑝𝑟𝑜𝑡𝑒çã𝑜

● Confiabilidade

Defini-se confiabilidade quando sob dados eventos, um sistema, um equipamento ou


um componente satisfaz a função prevista (CAMINHA, 1977). Ou seja, a probabilidade de
que o sistema deve atuar corretamente quando exigido, tendo dois aspectos: primeiro,
devendo operar quando ocorrer uma falha em sua zona de proteção e, segundo, não operar de
forma desnecessária em caso de falhas fora da sua zona de proteção ou quando não houver
defeitos (ANDERSON apud IEEE, 1998).

● Automação

A automação consiste na operação automática do elemento de proteção quando


acionado pelas grandezas elétricas que o sensibilizam e retornam sem auxílio humano
(MAMEDE FILHO E MAMEDE, 2013).
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Os fatores técnicos e econômicos em um sistema de proteção devem buscar o


equilíbrio, com objetivo de que não inviabilize a sua implantação. Com isso, os esquemas de
proteção devem ser compostos por equipamentos adequados. Contudo, não há um padrão que
defina quais os equipamentos a serem utilizados nas mais diversas condições e configurações
(OLIVEIRA, 2019). Os relés atendem a normas padronizadas, como a ANSI/CIEE C37-2
(IEEE, 2008).

Assim, a modificação dos sistemas elétricos através da inserção de geração distribuída


(GD) no sistema faz com que haja uma alteração na configuração de equipamentos, que
atendem tais normas. Nos sistemas de distribuição radial, por exemplo, que detém apenas uma
fonte e um sentido para o fluxo de potência, a inserção de unidades de GD altera essa
premissa causando efeito na operação adequada das proteções (OLIVEIRA, 2019). Então,
quanto maior for a utilização da GD maior será sua influência no sistema de distribuição.

5.1.2 Funções de proteção

Visando a uniformização das funções e padronização dos termos utilizados na


indústria elétrica, a American National Standards Institute (ANSI), definiu números aos
dispositivos de controle e proteção, dando origem à tabela ANSI. As funções de proteção
citadas neste trabalho estão muitas vezes associadas a essa numeração, visto que, a tabela
ANSI especifica os requisitos para a proteção de sistemas elétricos, garantindo que os
sistemas sejam projetados, instalados e operados de acordo com os mais altos padrões de
segurança e confiabilidade.
Além da númeração, as proteções também são identificadas com sufixos, que
complementam na definição de suas funções. Então, o quadro 1 ilustra as principais funções
de proteção e seus respectivos códigos numéricos ou alfanuméricos. O quadro 2 apresenta os
principais sufixos utilizados.
Quadro 1 - Tabela ANSI.

Funções (ANSI) Descrição

21 Relé de Distância

25 Relé de Verificação de Sincronismo ou Sincronização

27 Relé de Subtensão

50 Relé de SobreCorrente Instantâneo


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50BF Falha de Disjuntor (50/62BF)

50G SobreCorrente Instantânea de Terra

50N SobreCorrente Instantânea de Neutro

51/51N SobreCorrente Temporizado de Fase

51G SobreCorrente Temporizado de Terra

51N SobreCorrente Temporizado de Neutro

51Q Sobre Corr. Temp. de Sequência Negativa

51V Relé de Sobrecorrente com restrição de tensão

52 Disjuntor de Corrente Alternada

59Q Sobre Tensão de Sequência Negativa

59N SobreTensão de Neutro (64G)

67 Relé de sobrecorrente direcional de fase

67N Relé de sobrecorrente direcional de neutro

67G Relé de sobrecorrente direcional de terra

67Q Relé de sobrecorrente direcional de sequência negativa

68 Relé de bloqueio por oscilação de potência

81U/O Relé de sub e sobrefrequência

81 df/dt Relé de taxa de variação da frequência

87 Relé de Proteção Diferencial


Fonte: IEEE, 2008.

Quadro 2 - SUFIXOS ANSI


Sufixo Denominação

BF Break Failure

G Ground or Generator

L Line or Logic

N Neutral or Network

O Over
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U Under or Unit

T Transformer or
Thyratron
Fonte: Incoteq, 2020.
Outros conceitos que serão utilizados:
● Pick-up: ponto em que a tensão ou corrente injetada sensibilizam o relé de proteção,
levando ao início da operação em relés eletrônicos ou digitais e/ou o movimento do
disco de indução em relés eletromecânicos;
● Trip: ponto em que o relé de proteção fecha os contatos de saída. Isso ocorre quando o
valor da corrente ou tensão de pick-up permanece por um período de tempo maior ou
igual ao especificado pelo usuário ou ainda por um tempo definido através de uma
curva estabelecida pelo usuário.

5.2 GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

5.2.1 A Geração Distribuída no Contexto Atual

A geração distribuída (GD) ganhou importância global para atender às necessidades


de eletricidade nas últimas décadas, quando muitos países optaram por um sistema
competitivo no setor de energia e começaram a incentivar o desenvolvimento de tecnologia de
produção eficiente e confiável mesmo em baixa potência (OLIVEIRA, 2019).

Dados do relatório de 2019 da Agência Internacional de Energia (IEA) apontam a


China em 2018 como líder em capacidade cumulativa de sistemas fotovoltaicos com 176,1
GW, seguida pelos Estados Unidos, Japão e Alemanha com 62,2 GW, 56,0GW e 45,4GW,
respectivamente (IEA PVPS, 2019).

No Brasil, a partir da década de 90, ocorreram mudanças na estrutura do setor


elétrico que permitiu a competição no serviço de energia ocasionando a concorrência e
estimulando os potenciais elétricos com custos competitivos (INEE, s.d.).

A geração distribuída é uma das grandes vantagens da tecnologia fotovoltaica, entre


elas está a geração próxima ao ponto de consumo, que dispensa o uso de sistemas de
transmissão e distribuição (T&D) diminuindo os custos e perdas envolvidas (RÜTHER,
2004). Câmara (2011) adiciona às vantagens o menor espaço utilizado, já que o sistema está
interligado à edificação e a coincidência no consumo, principalmente em empreendimentos
comerciais, onde o maior consumo de energia ocorre no mesmo horário que a maior produção
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de energia pelo sistema fotovoltaico. Além disso, proporciona um melhor aproveitamento da


sazonalidade à qual alguns tipos de geração estão submetidos, fazendo com que haja uma
melhor complementação à geração hidráulica (LUIZ, 2012).

5.2.3 Tecnologias de GD utilizando fontes renováveis

Na matriz energética brasileira, as fontes renováveis de energia respondem por 44,7


% da geração de energia elétrica no ano de 2021 (EPE, 2022).
No dia 03 de Março de 2023 a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica
(ABSOLAR) divulgou que a fonte mais utilizada para micro e minigeração distribuída, pelos
consumidores brasileiros, é a solar fotovoltaica, com 1.734.337 sistemas solares fotovoltaicos
conectados à rede e 2.256.420 unidades consumidoras, recebendo créditos pelo sistema de
compensação de energia elétrica (ABSOLAR, 2023).
Devido ao impacto ambiental e social causado pelas fontes de energia tradicionais, o
governo e a sociedade continuam pensando em novas alternativas para geração de
eletricidade, além do tradicional aproveitamento hidrelétrico. Fontes de energia como eólica,
solar e biomassa são alternativas reais, por causarem impactos ambientais substancialmente
menores.
Além disso, nos últimos anos, a segurança e os problemas de política energética
ganharam destaque no campo das relações internacionais. Resultado da pandemia de
COVID-19, o problema energético global foi intensificado pela guerra entre Rússia e a
Ucrânia, juntamente com as sanções e embargos impostos à Rússia, grande produtora e
exportadora de quase todos os combustíveis fósseis no mercado global de energia, ocasionou
o interrompimento do comércio energético mundial e levou a um aumento significativo nos
preços da energia (JING, 2023).

Uma consequência possível dessa guerra, é uma aceleração ainda maior da transição
energética. Ursula Van der Leyden, presidente da Comissão Europeia, afirmou em redobrar a
aposta em energias renováveis, para solucionar o problema da dependência das importações
russas (TEIXEIRA JUNIOR, 2022). Assim, o debate sobre os impactos causados pela
dependência de combustíveis fósseis contribui para o interesse mundial por soluções
sustentáveis por meio da geração de energia oriunda de fontes limpas e renováveis.

Logo, a opção pela GD tornou-se muito interessante , em virtude da possibilidade de


utilização de fontes que ocasionam menores impactos. Além disso, o rápido desenvolvimento
14

de tecnologias, como a de geradores eólicos e fotovoltaicos, tem permitido à GD compensar


um maior custo de escala em relação às grandes geradoras.

As principais tecnologias de GD utilizando fontes renováveis são as pequenas


centrais hidrelétricas, térmicas alimentadas por biomassa, geradores eólicos e módulos
fotovoltaicos.

5.2.4 Impactos Causados pela Geração Distribuída nos Sistemas de Proteção

5.2.4.1 Impacto da GD na Direcionalidade das Proteções

Em sistemas de energia elétrica com configurações radiais, é comum o uso de relés


de sobrecorrente. No entanto, se houver alterações no sistema que introduzem uma nova fonte
de injeção de corrente, como a conexão de Geração Distribuída, é necessário empregar relés
de sobrecorrente direcionais (67/67N). Isso permitirá que, mesmo em casos em que a corrente
de curto-circuito circule em ambos os sentidos, os relés sejam acionados apenas no sentido
pré-determinado. Quando a corrente de curto-circuito tem sentido oposto ao da corrente de
carga, a direcionalidade possibilita o ajuste do relé com um valor de corrente menor do que o
verificado para corrente de carga. Com isso, é possível manter a seletividade entre os
circuitos, permitindo a retirada apenas do circuito com a falha (OLIVEIRA, 2019).

A proteção de sobrecorrente direcional funciona com base em amostras de corrente e


tensão. Ela é composta por duas unidades de proteção: uma unidade de sobrecorrente (50 ou
51) e uma unidade direcional (32). O conjunto das duas unidades é conhecido como função
67, conforme ilustrado na Figura 1. Se a unidade de sobrecorrente for temporizada (51), ela
será sensível somente à corrente e operará com base em uma curva de tempo inverso ou
tempo definido (OLIVEIRA, 2019).

A unidade direcional é sensível às grandezas de corrente e tensão, e utiliza a


comparação do ângulo de fase entre elas para determinar a direção do fluxo de corrente. A
função da unidade direcional é supervisionar a unidade de sobrecorrente. Quando a corrente
circula em uma direção de "desligamento", ou seja, da barra para a linha, e é superior ao nível
de corrente de operação, a unidade direcional autoriza a unidade de sobrecorrente a desligar.
Caso a corrente circule na direção contrária, da linha para a barra, a unidade direcional
impede o desligamento (OLIVEIRA, 2019).
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Figura 1 - Representação da proteção de sobrecorrente direcional de fase temporizada (67)


pela associação de uma unidade de sobrecorrente temporizada (51) e de uma unidade
direcional (32)

Fonte: Luiz, 2012

5.2.4.2 Ilhamento e Proteção

Ilhamento refere-se a uma situação em que uma parte da rede de distribuição, que
contém tanto carga quanto geração distribuída, permanece energizada mesmo após a
desconexão da distribuidora. Esta condição pode ser intencional, quando é planejada com
base em estudos para garantir a qualidade da energia fornecida aos consumidores pela geração
distribuída, ou não intencional, quando ocorre devido a falhas que levam à abertura dos
disjuntores da concessionária. Geralmente, evita-se o ilhamento, embora já existam esforços
para minimizar os riscos e maximizar os benefícios da alimentação planejada de cargas por
meio da geração distribuída, com o objetivo de aumentar a confiabilidade do sistema e reduzir
o tempo de interrupção (LUIZ, 2012).

Se a geração e a carga estiverem em equilíbrio, pode haver ilhamentos não


intencionais caso a proteção do acessante falhe em detectar faltas na concessionária ou se
houver uma desconexão acidental, ou seja, quando o dispositivo de proteção atua durante a
operação normal. Os ilhamentos não intencionais são problemáticos porque podem resultar
em inúmeras dificuldades no sistema. Por exemplo, a qualidade da energia pode não atender
aos padrões exigidos e estar fora do controle da distribuidora. Além disso, a redução dos
níveis de curto-circuito pode causar descoordenação das proteções da região ilhada e, durante
a manutenção, podem ocorrer riscos à vida devido à existência de regiões energizadas não
previstas (OLIVEIRA, 2019).
16

Ilhamentos não-intencionais podem trazer diversos problemas ao sistema elétrico,


como a interferência no restabelecimento da rede e possíveis danos aos equipamentos da
concessionária ou do acessante. Quando há um religamento fora de sincronismo, isso pode
resultar em novos desarmes ou danos aos equipamentos. Caso ocorra uma corrente transitória
superior ao nível de falta para o qual o sistema de proteção da distribuidora foi dimensionado,
pode ocorrer danos aos equipamentos da concessionária. No entanto, alguns estudos
demonstram que, quando a GD é pequena, o risco de elevados patamares de corrente
transitória é reduzido (ALMEIDA et al., 2010).

Devido aos possíveis danos que podem ocorrer, o assunto de ilhamento merece uma
atenção especial, e a norma ABNT NBR 16149:2013 recomenda que os esquemas de proteção
do acessante, incluindo os inversores fotovoltaicos, desconectem o sistema em até 2 segundos
em caso de ilhamento não-intencional (ABNT, 2013).

5.3 ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA

A energia solar fotovoltaica é definida por Reis (2017) como a energia gerada por
meio da conversão direta da luz solar em eletricidade. Em 1839, Edmond Becquerel observou
que um material semicondutor exposto à luz gerava uma diferença de potencial elétrico entre
seus extremos, o que indicou pela primeira vez a possibilidade de converter energia solar em
energia elétrica. Posteriormente, em 1876, estudos realizados em materiais semicondutores
levaram à construção do primeiro dispositivo fotovoltaico. Somente em 1956, com o avanço
da microeletrônica, a produção industrial de sistemas fotovoltaicos foi iniciada (CRESESB,
2006).

A tecnologia desenvolve-se a partir das buscas do setor de telecomunicações, como


fonte para sistemas instalados em localidades remotas. Seguido da indústria espacial que
percebeu o potencial da célula fotovoltaica para fornecer energia de forma adequada e
quantidade necessária para alimentar equipamentos de satélites por longos períodos
(CRESESB, 2014).

No início dos anos 70, a crise energética deu início ao interesse pela adaptação da
tecnologia ao meio terrestre pois devido ao alto custo das células fotovoltaicas sua aplicação
em larga escala se tornava inviável. Dessa maneira, a otimização da tecnologia se deu a partir
da ampliação do mercado e a alteração do perfil das empresas envolvidas no setor, reduzindo
17

os preços das células fotovoltaicas e aumentando sua eficiência, assim, possibilitando sua
utilização em larga escala (TEIXEIRA et al, 2018).

5.3.1 O sistema fotovoltaico: as legislações e incentivos pelo mundo


O crescimento mundial da implantação de sistemas fotovoltaicos é destacado por
cinco países que têm influenciado o mercado da geração solar fotovoltaica. Entre os países
mencionados, a Alemanha é reconhecida pelo seu pioneirismo na exploração da energia
fotovoltaica e por sua experiência e amadurecimento político. A China é destacada pelo seu
crescimento exponencial no mercado fotovoltaico e pelos altos investimentos tecnológicos na
fabricação e barateamento de componentes, tornando a geração fotovoltaica mais acessível. A
Austrália é reconhecida pela capacidade energética latente, sendo o país com maior irradiação
solar no planeta, além de lidar com políticas de incentivos internas. A Índia é mencionada
pelas semelhanças socioeconômicas e climáticas com o Brasil, bem como pelas políticas
públicas e investimentos na redução de emissão de CO2. Os EUA, por sua vez, são
reconhecidos como referência econômica mundial e por investimentos crescentes em energias
renováveis, estabelecendo diferentes alianças com diversos segmentos econômicos (VELOSO
et al, 2021). Por fim, será avaliado o Brasil, país que possui um grande potencial de irradiação
mas que ainda se mostra insuficiente na geração solar.

5.3.1.1 Alemanha
De acordo com o IEA (2016), a Alemanha ocupou o primeiro lugar no ranking de
capacidade instalada de geração fotovoltaica até 2014. No entanto, em 2015, a China a
ultrapassou. A Alemanha foi um dos primeiros países a investir e explorar a energia
fotovoltaica como uma alternativa à geração nuclear, incentivada por crescentes preocupações
ambientais e políticas favoráveis à produção de energias renováveis.

O MME (2009) indica que houve algumas iniciativas isoladas de promoção de fontes
de energia renovável nas décadas de 1970 e 1980, mas a partir de 1990 houve um notável
aumento no uso dessas fontes no país, especialmente através da energia eólica e,
posteriormente, das fontes solares.

Contudo, de acordo com NASCIMENTO (2017), foi somente em 1990 que a


legislação Electricity Feed-in Law foi implementada para estabelecer sistemas de preços para
remunerar a geração distribuída de fontes renováveis. Essa lei determinou a conexão
obrigatória dos geradores de fontes renováveis e o pagamento de uma tarifa premium por um
18

período de vinte anos. A população manifestou um grande apoio às políticas públicas


adotadas na época, enfraquecendo os esforços das empresas de energia contrárias às medidas.
Esse apoio foi fundamental para o sucesso das medidas.

Houve uma mudança na lei em 2004 que limitou os valores pagos pelas grandes
indústrias para a geração de energia a partir de fontes renováveis. Com essa mudança, a
indústria alemã manteve sua competitividade e evitou que grandes consumidores se
opusessem ao crescimento da geração de energia a partir de fontes renováveis.

Apesar de a Alemanha ter implementado políticas de incentivo que resultaram em


um aumento satisfatório na geração de energia solar fotovoltaica, os efeitos tarifários
decorrentes da remuneração atraente paga aos geradores por um período de vinte anos
levaram a uma revisão dos subsídios concedidos para novas unidades geradoras. Como
resultado, a expansão da energia solar no país diminuiu. De acordo com FRANÇA (2016), as
empresas geradoras tiveram que adotar um sistema de cálculo para equilibrar os custos de
reembolso entre diferentes níveis de operadores de rede, além de aumentar a eficiência e a
produção de maneira mais eficiente.

De acordo com FRANÇA (2016), a partir de 2016, o Fraunhofer Institute of Solar


Energy passou a avaliar o preço da eletricidade gerada por sistemas fotovoltaicos com
potência nominal inferior a 100 kW, que são elegíveis para receber uma remuneração
pré-determinada, enquanto sistemas com potência superior a 100 kW são remunerados pelo
preço de mercado. Apesar dessa mudança, os preços da energia solar são ainda competitivos
em relação ao mercado de energia.

5.3.1.2 China
Segundo LIU (2008), desde 1978, com a abertura do mercado chinês e a reforma
econômica, o país cresceu 9,5 % ao ano. O dinamismo da economia chinesa tem atraído cada
vez mais investidores nas últimas décadas, e segundo YUCING (2019), tornou-se uma das
maiores economias do mundo. Essa nova realidade na China gerou um aumento significativo
na demanda energética do país devido às grandes indústrias e ao aumento da população que
participa da produção e do consumo. Esse aumento significante tornou a China o maior
emissor de CO2 do planeta (YUCING, 2019).
Com preocupações ambientais constantes e produção de energia renovável, a China
tem investido na redução das emissões de CO2. Segundo o PORTAL SOLAR (2016), a
19

energia solar na China é hoje uma das maiores responsáveis ​pelo desenvolvimento de
tecnologias energéticas, sendo o país um dos principais geradores desta fonte de energia.
Desde 2015, a China tornou-se líder na geração de energia solar fotovoltaica. Cada
vez mais as empresas chinês de energia solar têm conquistado o mercado as marcas Suntech e
Yingli são menções no ramo e devido ao rápido crescimento, os custos da tecnologia
permanecer mais baratos, segundo o PORTAL SOLAR (2017).
A produção de painéis solares, inversores e outros componentes de geração de
energia para residências, empresas, indústrias e usinas de energia é produzida principalmente
na China. Além dos grandes investimentos do governo chinês na construção de usinas
geradoras, o deserto de Tengger abriga atualmente a maior usina fotovoltaica do mundo com
capacidade de aproximadamente 1.500 MW, além de mais de 400 usinas solares espalhadas
por todo o território, segundo o PORTAL SOLAR (2017).

5.3.1.3 Austrália

De acordo com FRANÇA (2016), a Austrália é conhecida por ter a maior exposição
à radiação solar por metro quadrado do mundo, o que é cerca de 10.000 vezes maior do que o
seu consumo anual de energia. Esse recurso solar abundante tem motivado um aumento no
investimento na geração de eletricidade solar no país.

Em 2001, a Austrália estabeleceu o seu primeiro programa de metas para energias


renováveis, que incentivava a comercialização da energia fotovoltaica por meio de
certificados de energia sustentável, classificados de acordo com a capacidade de geração, seja
ela pequena ou em larga escala, segundo FRANÇA (2016).

De acordo com FRANÇA (2016), a energia solar fotovoltaica gerada por pequenas
unidades consumidoras pode ser obtida por meio de dois mecanismos distintos. O primeiro é
a tarifa feed-in, que foi explicada anteriormente e varia conforme o estado e a capacidade de
geração. O segundo mecanismo é o sistema de certificados de energias renováveis, que
proporciona créditos para a energia renovável comercializada. Além disso, o governo
australiano criou um multiplicador para os certificados de geração em pequena escala, com o
objetivo de permitir que os consumidores recuperem seus custos iniciais na instalação dos
painéis solares. Esses benefícios complementares proporcionam aos consumidores
australianos duas maneiras de aproveitar a energia solar fotovoltaica gerada por eles mesmos.
20

Segundo FRANÇA (2016), graças aos incentivos oferecidos, os consumidores


australianos estão optando por instalar painéis solares com potência cada vez maior. Além
disso, a redução de custos, devido à crescente oferta de painéis chineses e à valorização do
dólar australiano, fez com que os investimentos na geração de energia fotovoltaica fossem
recuperados em menos de quatro anos, o que resultou em cerca de 15% das residências
utilizando essa fonte de energia em 2015. Como resultado dessas mudanças, a Austrália
experimentou um rápido crescimento na geração de energia solar fotovoltaica.

5.3.1.4 Índia

O país da Índia registra um crescimento sólido e atualmente possui cerca de 75% de sua
produção energética proveniente de combustíveis fósseis, de acordo com FRANÇA (2016). Para
atender às demandas ambientais cada vez maiores, o governo indiano introduziu regulamentações e
incentivos fiscais em 2003, por meio do Electricity Act 2003, com o objetivo de expandir a produção
de energia renovável. Empresas foram obrigadas a adquirir uma porcentagem fixa de energia
renovável. Entretanto, uma vez que as fontes renováveis não são distribuídas uniformemente por todo
o país, um mecanismo de negociação de Certificados de Energia Renovável foi criado, permitindo que
os geradores vendessem seus certificados para as distribuidoras, de acordo com a quantidade de
energia renovável que deveria constar em seu portfólio, atingindo, assim, suas metas.

Segundo FRANÇA (2016), os principais marcos legais na Índia são:


● Em 2003 com a criação da Lei de Eletricidade, onde tornou-se obrigatório que todos
os serviços públicos de distribuição de energia deveriam contar com uma porcentagem
fixa da sua demanda em energias renováveis.
● Em 2005, por meio da Política Nacional de Energia Elétrica, houve um aumento da
quota de fonte de energias alternativas na matriz energética.
● Em 2006, com a Política Tarifária, foi fixado um mínimo percentual para compra de
energias renováveis, havendo impacto econômico sobre as tarifas de mercado.
● Entre 2009 e 2010, por meio do Plano de Ação Nacional sobre a Mudança do Clima,
os percentuais mínimos de compra começariam com 5% e haveria aumentos anuais de
1% para a próxima década.
● Por fim, a Jawaharlal Nehru National Solar Mission (JNNSM) uma iniciativa do
governo, onde estabeleceu a meta de 20.000 MW de potência instalada de geração
solar até 2022.

Além dos avanços legais citados, a Índia estabeleceu tarifa prêmio para a
comercialização em energias renováveis. Incentivou a indústria de energia fotovoltaica por
21

meio de empréstimos e financiamentos de infraestrutura, assim como créditos fiscais à


produção, ao capital e ao investimento (VELOSO et al, 2021).

5.3.1.5 EUA
Em 2006, o Departamento de Energia dos Estados Unidos lançou a Iniciativa Solar
América (SAI), como parte de uma iniciativa do presidente, com o intuito de tornar a energia
solar mais competitiva até 2015, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e
aumentando a oferta de eletricidade. A SAI planejou alcançar suas metas por meio de alianças
estratégicas e parcerias com vários setores, incluindo a indústria, agências governamentais,
universidades, estados, empresas de serviços públicos, indústria da construção e organizações
sem fins lucrativos (VELOSO et al, 2021).
A Iniciativa Solar América (SAI) pode ser dividida em duas categorias principais:
parcerias tecnológicas que visam principalmente pesquisa e desenvolvimento, como a
produção de tecnologias de baixo custo, transformações de mercado, soluções técnicas,
regulatórias, institucionais e educativas para enfrentar as barreiras do mercado e acelerar a
demanda por novas tecnologias solares. Essa assistência técnica tem o objetivo de reduzir o
custo de instalação de painéis fotovoltaicos, através da implementação dessa política pública
(VELOSO et al, 2021).
Cada estado tem sua própria política de energias renováveis e oferece diversos
incentivos financeiros para promover a implantação de sistemas de energia solar distribuída,
como a compra de painéis fotovoltaicos por pessoas físicas ou jurídicas. Em 2016, de acordo
com FRANÇA (2016), o governo federal dos Estados Unidos ofereceu um desconto de 30%
no crédito de imposto de renda para a instalação de painéis fotovoltaicos. Vários estados
também oferecem incentivos, como tarifas prêmio, empréstimos com juros zero ou outros
descontos e subsídios.

5.3.1.6 Brasil
No Brasil, o início da inserção dos sistemas fotovoltaicos se deu a partir do final dos
anos 90 em concessionárias de energia elétrica, universidades e centros de pesquisa
(OLIVEIRA,2019).

Em 17 de Abril de 2012, ocorreu a regulamentação do sistemas fotovoltaicos


conectados à rede de distribuição, associados a unidades consumidoras (UC) por meio da
publicação da Resolução Normativa nº 482/2012, com o objetivo de diminuir as barreiras
regulatórias existentes para conexão da geração de pequeno porte disponível na rede de
22

distribuição, a partir de fontes de energia incentivadas (ANEEL, 2012). Foi estabelecido,


também, adequações necessárias no PRODIST, particularmente no Módulo 1 – Introdução - e
no Módulo 3 - Acesso ao Sistema de Distribuição (ANEEL, 2017).

A Resolução Normativa nº 481, emitida pela ANEEL em 17 de Abril de 2012,


determinou que os empreendimentos que utilizam fonte solar e têm potência injetada nos
sistemas de transmissão ou distribuição de até 30 MWp teriam direito a um desconto de 80%
nas tarifas de uso dos sistemas elétricos de transmissão e distribuição (TUST e TUSD),
durante os primeiros dez anos de operação da usina, se entrassem em operação comercial até
31 de Dezembro de 2017. Esse desconto seria aplicável tanto na produção quanto no consumo
de energia comercializada, após o décimo ano de operação, o desconto seria reduzido para
50%. Empreendimentos que entraram em operação comercial depois de 31 de Dezembro de
2017 teriam direito a um desconto de 50% nas referidas tarifas (OLIVEIRA, 2019).

A Resolução Normativa nº 687, publicada pela ANEEL em 24 de novembro de 2015,


realizou modificações na Resolução Normativa nº 482 e nos Módulos 1 e 3 dos
Procedimentos de Distribuição - PRODIST. Essa resolução tornou a geração própria de
energia elétrica mais atrativa para o público, ao estender o prazo de consumo dos créditos
para 60 meses e introduzir novos conceitos que ampliaram os tipos de unidades geradoras
(OLIVEIRA, 2019):

● Autoconsumo Remoto: possibilitou ao cliente produzir energia em um imóvel e


consumir os créditos em outro imóvel, desde que ambos estejam dentro da área de
atuação da mesma concessionária de energia elétrica;
● Geração Compartilhada: possibilitou a união de dois ou mais consumidores físicos ou
jurídicos por meio de consórcio ou cooperativa para compartilhar os créditos gerados
pela microgeração ou minigeração distribuída;
● Empreendimento de Múltiplas Unidades Consumidoras: possibilitou que um sistema
seja construído para atender a várias unidades consumidoras.

Alguns incentivos governamentais atuam impulsionando o crescimento do setor


fotovoltaico no país. Tem-se os seguintes incentivos (ENERGIA BRASIL, 2019):

● Convênio nº 101/97 – CONFAZ (Conselho Nacional de Política Fazendária)


● Convênio ICMS nº 16/2015 – CONFAZ
● PSL 167/2013 – PL 8322/2014
23

● Programa de Desenvolvimento de Geração Distribuída de Energia Elétrica (ProGD)


● Financiamento Caixa Econômica Federal
● Programa Nacional de Fortalecimento de Agricultura Família - PRONAF
● Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDS
Para a comercialização da energia elétrica gerada por painéis solares, o MME (2009)
ressalta dois mecanismos regulatórios básicos de incentivos: o sistema de preços e o sistema
de quotas. O sistema de preços consiste na definição de um valor pago ao dono do gerador de
energia solar fotovoltaica ao longo de um período geralmente igual ou superior a vinte anos.
No sistema mais utilizado, estabelece-se uma tarifa prêmio (feed-in tariff), no qual toda a
energia produzida e injetada na rede é remunerada pela tarifa prêmio. A feed-in tariff é
estabelecida de forma a garantir uma taxa interna de retorno (TIR) atrativa para os
investidores (NASCIMENTO, 2017).

Há um outro tipo de sistema similar ao sistema de preços chamado net-metering, em


que a energia gerada e injetada na rede, ao invés de ser remunerada por uma tarifa prêmio, é
usada para abater o consumo de energia elétrica da unidade. No sistema de quotas, de menor
utilização que o feed in tariff, são estabelecidas metas de potência e (ou) energia proveniente
de fontes específicas para as concessionárias, distribuidoras, grandes consumidores e outros
agentes do setor elétrico. Caso tais metas não sejam atingidas, são aplicadas penalidades
(multas etc.). Nesse sistema, é comum o pagamento pelo governo do equipamento e da
energia gerada, o que demanda grandes desembolsos governamentais (NASCIMENTO,
2017).

5.4 COMPARAÇÃO DOS REQUISITOS DE PROTEÇÃO DAS DISTRIBUIDORAS PARA


INSERÇÃO DE GD
O levantamento dos requisitos de proteção mostrado neste tópico foi definido a partir
de outro estudo realizado em 2012 por Cicéli Martins Luiz, diferentemente do trabalho já
feito, foi incluído a concessionária local, com o objetivo de disseminar as informações
relevantes sobre a GD não somente no país mas também no Estado, observando a
particularidade de cada concessionária. Além disso, no trabalho já feito as concessionárias
estudadas são de diversas regiões do país, exceto o norte, com isso neste trabalho foram
selecionadas uma concessionária de cada região pelo critério de número de consumidores
observadas no trabalho já existente. A tabela 3 apresenta as concessionárias definidas para tal
estudo.
Quadro 3 - Distribuidoras Pesquisadas
24

Empresa Nº de consumidores Região


(milhões)

Cemig 8,7 Centro-oeste

Celesc 3,3 Sul

CPFL 7,9 Sudeste

Coelba 6 Nordeste

Roraima Energia não informado Norte


Fonte: Autoria Própria, 2023.

5.4.1 Proteções exigidas pelas distribuidoras no ponto de conexão da GD

As normas só exigem proteção das instalações ou equipamentos de propriedade do


usuário se houver o risco de afetar a rede de distribuição. Essas proteções devem ser capazes
de desconectar o usuário em um tempo mais rápido do que a ativação das proteções da
distribuidora, assim, devem ser projetadas para desligar o disjuntor de entrada ou geradores do
usuário (LUIZ, 2012).
No quadro 4 temos as proteções exigidas pelas distribuidoras no ponto de conexão
da GD.

Quadro 4 - proteções exigidas pelas distribuidoras no ponto de conexão da GD

Distribuidoras Descrição - Função

Relé de Distância de Fase e Neutro - 21/21N

Relé de Verificação de Sincronismo ou Sincronização - 25

Relé de SubTensão - 27

Relé Direcional de Potência - 32

Relé de sequência negativa - 46


Cemig
Relé de sequência de fase de tensão - 47

Relé de SobreCorrente Instantâneo e Neutro - 50/50N

SobreCorrente Temporizado de Fase e Neutro - 51/51N

Relé de Sobrecorrente com restrição de tensão - 50V/51V


25

Relé de Sobretensão - 59

SobreTensão de Neutro - 59N

Relé de sobrecorrente direcional de fase e neutro - 67/67N

Relé de sub e sobrefrequência - 81 U/O

Relé de Distância de Fase e Neutro - 21/21N

Relé de Verificação de Sincronismo ou Sincronização - 25

Relé de SubTensão - 27

Relé Direcional de Potência - 32

Relé de sequência negativa - 46

Relé de sequência de fase de tensão - 47

Celesc Relé de SobreCorrente Instantâneo e Neutro - 50/50N

SobreCorrente Temporizado de Fase e Neutro - 51/51N

Relé de Sobretensão - 59

SobreTensão de Neutro - 59N

Relé de sobrecorrente direcional de fase e neutro - 67/67N

Relé Salto Vetor ou deslocamento - 78

Relé de sub e sobrefrequência - 81 U/O

Relé de Distância de Fase e Neutro - 21/21N

Relé de Verificação de Sincronismo ou Sincronização - 25

Relé de SubTensão - 27

Relé de sobrecorrente sensível de terra - 51GS


CPFL
SobreCorrente Temporizado de Fase e Neutro - 51/51N

SobreTensão de Neutro - 59N

Relé de sobrecorrente direcional de fase e neutro - 67/67N

Relé de sub e sobrefrequência - 81 U/O


26

Relé Direcional de Potência - 32

Relé de sequência de fase de tensão - 47

Relé de SobreCorrente Instantâneo e Neutro - 50/50N

Relé de Verificação de Sincronismo ou Sincronização - 25

Coelba Relé de SubTensão - 27

Relé de Sobrecorrente com restrição de tensão - 50V/51V

SobreTensão de Neutro - 59N

Relé de sobrecorrente direcional de fase e neutro - 67/67N

Relé de sub e sobrefrequência - 81 U/O

Relé de Sobrecorrente com restrição de tensão - 50V/51V

Relé de Sobretensão - 59

Relé de sequência negativa - 46

Relé de sequência de fase de tensão - 47


Roraima Energia
Relé de sobrecorrente direcional de fase e neutro - 67/67N

Relé de sub e sobrefrequência - 81 U/O

Relé de Verificação de Sincronismo ou Sincronização - 25

Relé de SubTensão - 27

A partir do quadro 4 é possível concluir que:


● As funções 25, 27, 67/67N, 81 U/O são exigidas por todas as concessionárias
pesquisadas. Assim, a função de prevenir ilhamentos é geralmente atribuída pela maioria das
distribuidoras às proteções contra sobrefrequência, subfrequência, sobretensão e subtensão.
● Se houvesse uma padronização dos requisitos de proteção exigidos por todas as
distribuidoras, seria mais fácil para os grupos de geração distribuída que atuam em todo o país
discutirem questões técnicas entre si. Além disso, essa uniformização permitiria que os
fabricantes desenvolvessem equipamentos com recursos especiais que atendam a esses
requisitos.
27

A concessionária local apresenta sua norma específica para a geração distribuída,


contudo a norma de acesso não contém um alto grau de detalhamento, a fim de evitar mal
entendidos.

6. METODOLOGIA
Depois de examinar os assuntos considerados importantes para aprimorar o presente
trabalho, conforme mostrado na revisão bibliográfica. Por meio dos manuais técnicos
fornecidos pelo fabricante abordar características de proteção dos componentes em estudo.
Este estudo será feito através dos equipamentos dos fabricantes ABB, THYTRONIC e
Siemens. A seguir tem-se os passos realizados para o estudo:

1. Identificação dos dispositivos de proteção: Inicia-se o processo identificando os


dispositivos de proteção presentes na usina de minigeração fotovoltaica. Essa etapa é
fundamental para compreender a estrutura de proteção do sistema.

2. Coleta dos manuais técnicos: Realiza-se uma pesquisa e coleta dos manuais técnicos
referentes aos dispositivos de proteção identificados. Esses manuais são geralmente
disponibilizados pelos fabricantes e contêm informações detalhadas sobre
características técnicas, modos de operação, instalação, manutenção e outras
especificações relevantes.

3. Análise dos requisitos de proteção: Com base nas informações obtidas nos manuais
técnicos, realiza-se uma análise detalhada dos requisitos de proteção de cada
dispositivo. Isso inclui a verificação de tensões nominais, correntes de operação,
capacidade de interrupção, sensibilidade a sobrecorrentes e sobretensões,
configurações de ajuste e outros parâmetros relevantes.

4. Verificação das normas e regulamentos: É importante garantir que os dispositivos de


proteção atendam às normas e regulamentos aplicáveis. São consideradas normas de
segurança elétrica, proteção contra surtos, compatibilidade eletromagnética e outras
exigências pertinentes. Essa etapa visa garantir a conformidade do sistema com as
diretrizes e normas estabelecidas.
28

7. ESTUDO DE CASO

7.1 DADOS DA USINA FOTOVOLTAICA

A Usina Fotovoltaica está situada em uma área rural de São Paulo e possui 9.330
painéis solares do tipo policristalino fabricados pela Canadian Solar, os quadros 5 e 6
apresentam de maneira detalhada os dados dos módulos fotovoltaicos e os arranjos por
inversor. Esses painéis solares são do modelo Maxpower CS6U-335P, com uma potência de
335 Watts-pico (Wp) cada. Além disso, a usina conta com 20 inversores solares fabricados
pela Sungrow, modelo SG125HV, com capacidade de 125 quilovolt-ampere (kVA) cada. No
total, a usina possui uma capacidade instalada de 3.125,55 quilowatts-pico (kWp) ou 2,5
megavolt-ampere (MVA). Para conectar a usina à rede elétrica fornecida pela concessionária,
que opera em 11,4 kilovolts (kV), foi utilizado um transformador com capacidade de 2,5
MVA, que reduz a tensão para o nível de operação dos inversores fotovoltaicos (600 Volts).
Os enrolamentos de conexão deste transformador de acoplamento serão configurados em
Estrela-Aterrado, em conformidade com as exigências da norma da concessionária
(OLIVEIRA, 2019).

Quadro 5 - Módulo Fotovoltaico da Usina Fotovoltaica.

Fonte: Oliveira, 2019

Quadro 6 - Configuração dos arranjos de módulos fotovoltaicos por inversor.


29

Fonte: Oliveira, 2019


O diagrama unifilar geral do sistema é mostrado na Figura 2, esse diagrama foi
criado utilizando o software Easypower e inclui todas as informações sobre os equipamentos
que serão estudados. O ponto de conexão do acessante está identificado como "PTO
ENTREGA" e é representado na Carga 5. O consumidor possui uma cabine de entrada de
energia com uma proteção geral e vários alimentadores internos na instalação. A usina
fotovoltaica será conectada em paralelo a esses alimentadores (OLIVEIRA, 2019).

Figura 2 - Diagrama unifilar geral do sistema da concessionária com a Usina fotovoltaica modelado
no software EasyPower.

Fonte: Oliveira, 2019

7.2 ESTUDO DOS EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO

7.2.1 Disjuntor geral de baixa tensão

Os disjuntores são equipamentos de proteção bastante conhecidos em sistemas


elétricos, tendo aplicações desde a baixa tensão, eles proporcionam o seccionamento
automático ou manual do sistema sob carga. Tem por funcionalidade proteger as instalações
elétricas em que atua, interrompendo a passagem de correntes indesejadas que podem
provocar danos físicos às instalações, como o aquecimento e/ou queima de equipamentos ali
presentes.
30

Os disjuntores podem ser aplicados de forma individual, fazendo a proteção de forma


eletromecânica, onde a atuação deste equipamento estará ligada ao campo eletromagnético
produzido pela passagem da corrente, ou então, poderá ser acionado por um relé, que pode
ser, por sua vez, microprocessado ou eletromecânico. Com isso, é possível obter a devida
limitação da corrente, seja de forma temporizada, ou seja, a interrupção estará vinculada ao
nível de corrente que circula e o tempo que ela se apresenta no circuito, ou pode ser com
atuação instantânea, onde o tempo não é um fator tão considerável e o valor da corrente é
mais relevante para a atuação.
Para a proteção geral de baixa tensão especificou-se o relé microprocessado ABB
Ekip Touch LSIG que será acoplado ao disjuntor ABB SACE EMAX 2 E4.2N, instalado no
painel de proteção da usina, conforme o quadro 7. Esse disjuntor apresenta sensor de corrente
igual a 3.200 A (In = 3.200 A). As proteções básicas desse relé são compostas pelas funções
LSIG do código ABB, que são equivalentes às funções de proteção 49/50/51/50N/51N da
norma ANSI, conforme apresentado no quadro 8.
Quadro 7 - modelo de disjuntor geral de baixa tensão.

Fonte: Oliveira, 2019.


No quadro 7 é possível observar que o modelo utilizado é o Emax E4.2N da ABB,
que possui relé microprocessado modelo Ekip Touch LSIG.
O relé microprocessado Ekip Touch possui três versões disponíveis, sendo esses Ekip
Touch LI, LSI, LSIG. Neste estudo, foi utilizado a versão LSIG, onde sua interface está
conforme a figura 3, permite-se que exiba sinais e medições das funções em andamento ou
eventos gravados, configure os parâmetros, as proteções presentes e outras funções da
unidade, defina parâmetros relacionados aos módulos de acessórios conectados e realize
testes.
Figura 3 - Interface do relé microprocessado LSIG da ABB.
31

Fonte: ABB.
Legenda:
1. Tela sensível ao toque colorida ampla de alta resolução
2. LED de ligado para indicar a operação correta (watchdog)
3. LED de pré-alarme
4. LED de alarme
5. Botão "Home" para retornar à página inicial
6. Botão para teste e indicar a causa do desligamento
7. Conector de teste e programação

O Ekip Touch permite que todas as funções de proteção sejam configuradas com
alguns passos simples diretamente na ampla tela sensível ao toque. Se o disjuntor for
desligado, ele deve ser rearmado manualmente ou eletricamente pelo operador (relé de
bloqueio - código ANSI 86). O modelo possui um menu de áreas, onde é possível acessar as
proteções existentes no equipamento conforme a figura 4. O menu proteção possui proteções
padrões enquanto o menu avançado apresenta proteções mais complexas.
Figura 4 - Menu área.

Fonte: ABB.
Legenda:
6. Medidas
7. Configurações
8. Teste
9. Sobre

Quadro 8 - Funções básicas do relé microprocessado modelo Ekip Touch.


32

Gráfico Nome Identificador código Descrição


ANSI

Sobrecarga L 49 Se a corrente de uma ou mais


fases exceder o limiar I1, a
proteção é acionada e, após
um tempo estabelecido pelo
valor lido e pelas
configurações de parâmetros,
transmite o comando de
DESLIGAMENTO

Sobrecorrente S 51 e Se a corrente de uma ou mais


com retardo de 50TD fases exceder o limiar I2, a
tempo proteção é acionada e, após
um tempo estabelecido pelo
valor lido e pelas
configurações de parâmetros,
transmite o comando de
DESLIGAMENTO.

Memória Thermal A função, que está disponível


térmica memory para as proteções L e S,
permite prevenir o
superaquecimento dos cabos
conectados ao disjuntor: no
caso de desligamentos em
intervalos curtos, a unidade
considera o tempo entre os
comandos e a magnitude das
falhas para reduzir o tempo de
abertura.

Sobrecorrente I 50 Se a corrente de uma ou mais


instantânea1 fases exceder o limiar I3, a
proteção é acionada e, após
um tempo fixo não
programável, transmite o
comando de
DESLIGAMENTO.

Falha à terra G 51N E O Ekip Touch calcula a soma


50NTD vetorial das correntes de fase
(L1, L2, L3, Ne) e obtém a
corrente interna de falta à terra
(Ig): se a corrente Ig exceder o
limiar I4, a proteção é

1
Fechamento em curto-circuito (MCR): a proteção utiliza o mesmo algoritmo da proteção l, limitando a operação
a uma janela de tempo configurável a partir do fechamento do disjuntor. A proteção pode ser desabilitada,
também como alternativa à proteção l. A função está ativa com uma fonte auxiliar.
33

acionada e, após um tempo


estabelecido pelo valor lido e
pelas configurações de
parâmetros, transmite o
comando de
DESLIGAMENTO.
Fonte: ABB.

● Proteção contra sobrecarga - L


Para ativar a proteção L é necessário que parâmetros sejam definidos para o
funcionamento correto do equipamento, assim o quadro 9 apresenta tais parâmetros:
Quadro 9 - parâmetros da função L

Parâmetros Descrição Padrão

Curva Estabelece a dinâmica da curva e o cálculo do tempo de disparo: t = k/I2


• t = k/I2 de acordo com a IEC 60947-2.
• IEC 60255-151 SI
• IEC 60255-151 VI
• IEC 60255-151 EI
• t = k / I4 de acordo com a 60255-151.

Limiar I1 Estabelece o valor que ativa a proteção e contribui para o cálculo 1 In


do tempo de disparo. O valor é fornecido tanto como valor
absoluto (A) quanto como valor relativo (In) e pode ser
configurado dentro da faixa: de 0,4 In a 1 In, em incrementos de
0,001 In.

Tempo t1 Contribui para o cálculo do tempo de disparo. 144 s


O valor é fornecido em segundos e pode ser configurado dentro da
faixa: de 3 s a 144 s, em incrementos de 1 s.

Memória Ativa/desativa a função de memória térmica. OFF


térmica

Pré-Alarme Avisa que a corrente medida está próxima ao limite de ativação da 90% I1
I1 proteção I1.
O valor é fornecido em porcentagem do limite I1 e pode ser
configurado dentro da faixa: de 50% I1 a 90% I1, em incrementos
de 1%.
NOTA: A condição de pré-alarme é desativada em dois casos:
• corrente menor que o limite de pré-alarme I1
• corrente maior que o limite I1.

O ajuste da unidade tempo longo de fase é baseado na corrente nominal dos


inversores fotovoltaicos, considerando uma sobrecarga admissível. Esse ajuste deve ser
superior à soma da corrente nominal dos inversores fotovoltaicos. Além disso, o ajuste da
34

unidade de tempo longo de fase deve ser inferior à corrente máxima ajustável no relé, que é
de 3.200 A.
● Proteção seletiva contra curto-circuito - S
Para ativar a proteção S é necessário que parâmetros sejam definidos para o
funcionamento correto do equipamento, assim o quadro 10 apresenta tais parâmetros:
Quadro 10 - parâmetros da função S.

Parâmetros Descrição Padrão

Habilitar Ativa/desativa a proteção e sua disponibilidade no menu de OFF


parâmetros.

Habilitar Trip Ativa/desativa a transmissão do comando de abertura. Se ON


desativado, o alarme e o tempo de proteção excedido são apenas
gerenciados com as informações.

Curva Estabelece a dinâmica da curva e o cálculo do limite ou tempo de t = k/I2


disparo:
• t = k: tempo de disparo fixo
• t = k/I2: tempo de disparo dinâmico com atraso inverso

Limiar I2 Estabelece o valor que ativa a proteção e contribui para o cálculo 2 In


do tempo de disparo. O valor é fornecido tanto como valor
absoluto (A) quanto como valor relativo (In) e pode ser
configurado dentro da faixa: de 0,6 In a 10 In, em incrementos de
0,1 In.

Tempo t2 Contribui para o cálculo do tempo de disparo. O valor é fornecido 0,1 s


em segundos e pode ser configurado dentro da faixa: de 0,05 s a
0,8 s, em incrementos de 0,01 s.

Memória Ativa/desativa a função de memória térmica. OFF


térmica

Zona de Ativa/desativa a função e disponibilidade do tempo de OFF


Seletividade seletividade no display.

Tempo de Este é o tempo de disparo da proteção com a função de 0,04 s


Seletividade seletividade de zona ativada e sem entrada de seletividade. O
valor é fornecido em segundos e pode ser configurado dentro da
faixa: 0,04 s a 0,2 s, em incrementos de 0,01 s.

Habilitar Ativa/desativa a função e disponibilidade dos parâmetros OFF


Inicialização associados no display.

Limiar de Limite de proteção válido durante o tempo de inicialização, nas 0,6 In


Inicialização condições em que a função é ativada. O valor é fornecido tanto
como valor absoluto (A) quanto como valor relativo (In) e pode
ser configurado dentro da faixa: de 0,6 In a 10 In, em incrementos
de 0,1 In.
35

Tempo de Este é o tempo pelo qual o limite de inicialização permanece 0,1 s


Inicialização ativado, calculado a partir do momento em que o limite de
ativação é excedido. O valor é fornecido em segundos e pode ser
configurado dentro da faixa de 0,1 s a 30 s, em incrementos de
0,01 s.

O ajuste da unidade de tempo curto de fase deve ser inferior à menor corrente de
curto-circuito simétrica para faltas entre fases na zona de proteção, que neste caso está
compreendida no alimentador QGBT e os inversores. Deste modo será possível garantir que a
proteção irá atuar diante de um curto-circuito a jusante do disjuntor geral de baixa tensão.
Além disso, é necessário garantir que o disjuntor geral de baixa tensão não
desconecte antes do disjuntor de média tensão para curtos-circuitos a montante do disjuntor
BT. A corrente de acionamento da unidade de tempo curto de fase deve ser superior à maior
corrente de curto - circuito para uma falta entre fases na média tensão.
● Proteção Instantânea contra curtos-circuitos - I
Para ativar a proteção I é necessário que parâmetros sejam definidos para o
funcionamento correto do equipamento, assim o quadro 11 apresenta tais parâmetros:
Quadro 11 - parâmetros da função I.

Parâmetros Descrição Padrão

Habilitar Ativa/desativa a proteção e sua disponibilidade no menu de ON


parâmetros.

Limiar I3 Estabelece o valor que ativa a proteção. O valor é fornecido tanto 5,5 In 4
como valor absoluto (A) quanto como valor relativo (In) e pode In
ser configurado dentro da faixa: de 1,5 In a 15 In, em incrementos
de 0,1 In.

Zona de Ativa/desativa a função. OFF


Seletividade NOTA: se pelo menos duas das seletividades S, S2, I, 2I e MCR
estiverem habilitadas, a entrada e saída são compartilhadas com a
função OR; é suficiente que pelo menos uma seletividade esteja
ativada para estimular as entradas e saídas.

Habilitar Ativa/desativa a função e disponibilidade dos parâmetros OFF


Inicialização associados no display.

Limiar da Limite de proteção válido durante o tempo de inicialização, nas 1,5 In


Inicialização condições em que a função está ativada. O valor é fornecido tanto
como valor absoluto (A) quanto como valor relativo (In) e pode
ser configurado dentro da faixa: de 1,5 In a 15 In, em incrementos
de 0,1 In.
36

Tempo de Este é o tempo pelo qual o limite de inicialização permanece 0,1 s


inicialização ativado, calculado a partir do momento em que o limite de
ativação é excedido. O valor é fornecido em segundos e pode ser
configurado dentro da faixa de 0,1 s a 30 s, em incrementos de
0,01 s.

Para garantir a seletividade com as proteções individuais dos inversores, a unidade


instantânea de fase não é ativada.
● Proteção contra falha à terra - G
Para ativar a proteção G é necessário que parâmetros sejam definidos para o
funcionamento correto do equipamento, assim o quadro 12 apresenta tais parâmetros:
Quadro 12 - parâmetros da função G.

Parâmetros Descrição Padrão

Habilitar Ativa/desativa a proteção e sua disponibilidade no menu de OFF


parâmetros.

Habilitar Trip Ativa/desativa a transmissão do comando de abertura. Se ON


desativado, o alarme e o tempo de proteção excedido são apenas
gerenciados com as informações.

Curva Estabelece a dinâmica da curva e o cálculo do limite ou tempo de t=k


disparo:
• t = k: tempo de disparo fixo
• t = k/I2: tempo de disparo dinâmico com atraso inverso

Limiar I4 Estabelece o valor que ativa a proteção e contribui para o cálculo 0,2 In
do tempo de disparo. O valor é fornecido tanto como valor
absoluto (A) quanto como valor relativo (In) e pode ser
configurado dentro da faixa: de 0,1 In a 1 In, em incrementos de
0,001 In.

Tempo t4 Contribui para o cálculo do tempo de disparo. O valor é fornecido 0,1 s


em segundos e pode ser configurado dentro da faixa: de 0,1 s a 1
s, em incrementos de 0,05 s.

Pré-Alarme I4 Avisa que a corrente medida está próxima ao limite de ativação 90% I4
da proteção I1.
O valor é fornecido em porcentagem do limite I4 e pode ser
configurado dentro da faixa: de 50% I4 a 90% I4, em incrementos
de 1%.
NOTA: A condição de pré-alarme é desativada em dois casos:
• corrente menor que o limite de pré-alarme I4
• corrente maior que o limite I4.

Zona de Ativa/desativa a função e disponibilidade do tempo de OFF


Seletividade seletividade no display.
37

Tempo de Este é o tempo de disparo da proteção com a função de 0,04 s


Seletividade seletividade de zona ativada e sem entrada de seletividade. O
valor é fornecido em segundos e pode ser configurado dentro da
faixa: 0,04 s a 0,2 s, em incrementos de 0,01 s.

Habilitar Ativa/desativa a função e disponibilidade dos parâmetros OFF


Inicialização associados no display.

Limiar de Limite de proteção válido durante o tempo de inicialização, nas 0,2 In


Inicialização condições em que a função é ativada. O valor é fornecido tanto
como valor absoluto (A) quanto como valor relativo (In) e pode
ser configurado dentro da faixa: de 0,2 In a 1 In, em incrementos
de 0,02 In.

Tempo de Este é o tempo pelo qual o limite de inicialização permanece 0,1 s


Inicialização ativado, calculado a partir do momento em que o limite de
ativação é excedido. O valor é fornecido em segundos e pode ser
configurado dentro da faixa de 0,1 s a 30 s, em incrementos de
0,01 s.

O transformador da instalação apresenta fechamento estrela aterrado-estrela aterrado,


nos lados de média e baixa tensão, respectivamente. Assim, essa função é sensibilizada para
faltas fase-terra tanto no sistema da concessionária, quanto na instalação do acessante.
Para um curto-circuito fase-terra franco a jusante do disjuntor geral da usina (Emax),
a corrente da fase em falta passante pelo mesmo é da ordem 13,4 kA. Já para um
curto-circuito fase-terra franco a montante desse disjuntor, a corrente da fase em falta passante
pelo mesmo é da ordem 3,2 kA.
Como os ajustes definidos para as proteções de fase deste disjuntor estão ajustadas
de modo a conseguir detectar caso ocorra uma falta monofásica em quaisquer pontos
compreendidos a jusante do disjuntor, esta função será desabilitada, garantindo assim que o
disjuntor não desconecte para curtos-circuitos monofásicos a montante do disjuntor geral de
baixa tensão.
Além disso, o modelo possui unidades de desligamento de proteção para distribuição
de energia, e estão conforme o quadro 13 a seguir.

Quadro 13 - proteções das unidades de desligamento de proteção para distribuição de energia

Gráfico Nome Identificador Função Descrição


38

Falha à terra no Gext 51G e com tempo de desligamento


toroide 50GTD independente da corrente (t =
k) ou com energia específica
de corte constante (t = k/l2).
Pré-alarme indica que o
limite de 90% foi alcançado,
permitindo que a falha seja
relatada aos sistemas de
supervisão sem interrupção
da continuidade. A proteção
utiliza o toróide externo
instalado, por exemplo, no
centro estrela do
transformador, e é uma
alternativa às funções G e
Rc. A função está ativa com
uma fonte auxiliar.

Proteção de neutro Disponível a 50%, 100%,


150% ou 200% das correntes
de fase, ou desativado, é
aplicado às proteções de
sobrecorrente L, S e I.

Função de Permite que as proteções S, I


inicialização e G operem com limiares de
desligamento mais elevados
durante a fase de partida,
evitando desligamentos
prematuros devido a
correntes de pico elevadas de
certas cargas (motores,
transformadores, lâmpadas).

Desequilíbrio de IU 46 com tempo de desligamento


corrente constante (t = k), protege
contra desequilíbrio entre as
correntes das fases
individuais protegidas pelo
disjuntor.

Seletividade de 68 Pode ser usado para


zona para proteção minimizar os tempos de
SeG desligamento do disjuntor
mais próximos da falha.

Limiares de Essa função permite a


corrente definição de quatro limiares
39

independentes para
possibilitar a implementação
de ações corretivas antes que
a proteção de sobrecarga L
acione o disjuntor.

Controlador de Função de controlador de


Potência potência (opcional) com o
módulo de medição Ekip.

7.2.2 Relé de média tensão

O setor de proteção desempenha um papel fundamental na garantia da segurança da


usina, especialmente na zona que abrange o ponto de conexão com a distribuidora até os
bornes primários dos transformadores de acoplamento (Figura 6). Os principais componentes
desse setor incluem o disjuntor de média tensão, o relé de proteção e os transformadores de
corrente e de potencial. O disjuntor tem a responsabilidade de interromper intencionalmente a
conexão entre a usina e o sistema de distribuição da concessionária, sendo capaz de
interromper correntes de carga e curto-circuito tanto na instalação interna da usina quanto na
rede da concessionária. Ele pode ser acionado manualmente ou automaticamente.

Figura 6 – Disposição dos setores de cabine de média tensão, com transformador alocado na cabine de medição e
separado da cabine de medição, próximo aos inversores.

Fonte: Canal Solar, 2023.


40

No entanto, o disjuntor não é capaz de interromper um curto-circuito ou uma


corrente de carga por si só. O funcionamento automático do disjuntor depende do relé, um
equipamento que concentra várias funcionalidades e emite comandos de abertura e
fechamento para o disjuntor. O acionamento do disjuntor, controlado pelo relé, depende da
sua programação ou, como é mais conhecido, da sua parametrização. O relé recebe os sinais
do sistema de média tensão através dos sensores conectados a ele, como os transformadores
de corrente e de potencial. Assim, é importante dimensionar esses sensores adequadamente,
levando em consideração as características nominais e os níveis de curto-circuito presentes no
sistema ao qual estão conectados.
Então, o relé de média tensão utilizado na usina de minigeração fotovoltaica está
conforme o quadro 14. O modelo utilizado é o NVA100X - G, do fabricante Thytronic.

Quadro 14 - relé de média tensão utilizado na minigeração fotovoltaica.

Fonte: Oliveira, 2019

O relé de média tensão NVA100X - G possui as funções de proteção essenciais para


a proteção de sistemas fotovoltaicos conectados à rede de média tensão, conforme o quadro
15.
Quadro 15 - relé de média tensão utilizado na minigeração fotovoltaica.

Código ANSI Função de proteção NVA100X-G

27 Subtensão X

50/51 Sobrecorrente de fase (RMS) X

50N/51N Sobrecorrente de neutro *

51V Sobrecorrente com restrição de tensão X

59 Sobretensão X

67N Sobrecorrente direcional de neutro X

81O Sobrefrequência X

81U Subfrequência X

BF Falha de disjuntor X

X = L, H, T - Todos do mesmo lado.


41

* = Alternativa
Fonte: Thytronic

● Proteção por Tensão


O relé de proteção de subtensão e sobretensão monitora os valores eficazes da tensão
no ponto de instalação promovendo a atuação do elemento de interrupção quando os valores
limites de tensão ajustados forem ultrapassados. O proprietário de central da geração
distribuída deve garantir a sua desconexão quando houver variações anormais de tensão na
rede de distribuição acessada. Estas funções de proteção deverão ser ajustadas seguindo as
orientações da distribuidora de modo a garantir a integridade e confiabilidade do sistema
elétrico do consumidor.
● Proteção por sobrecorrente
As funções 50/51 estão relacionadas a sobrecorrente instantânea e sobrecorrente
temporizada, respectivamente. No relé de proteção NVA100X-G os valores a serem
parametrizados devem ser referentes à corrente no secundário do transformador de corrente
(TC). Desta forma, para calcular a corrente de ajuste no relé é necessário dividir o valor de
corrente de acionamento (corrente no primário do TC) pela relação de transformação do
transformador de corrente (RTC).
● Proteção por sobrecorrente com restrição de tensão
A função de sobrecorrente com restrição/supervisão de tensão atuará para faltas entre
fases na rede de média tensão da concessionária. A implementação dessa função se faz
necessária, visto que, em alguns casos torna-se difícil compatibilizar as condições de geração
máxima e contribuições mínimas de curto-circuito. Assim, na ocorrência do curto-circuito na
região externa à usina, serão observados simultaneamente os fenômenos de sobrecorrente e
subtensão para a abertura do disjuntor da subestação de entrada de energia do Acessante,
permitindo a flexibilidade operativa da concessionária para o restabelecimento do
fornecimento de energia.
O relé de proteção da usina, modelo NVA100X-G, do fabricante Thytronic, permite a
implementação dessa função, em até dois grupos de ajuste, nas opções de restrição ou
controle de tensão. Será utilizada a opção por tensão controlada, onde a partir do momento
que ocorrer.
Quando ocorrer um curto-circuito entre fases no sistema elétrico da concessionária,
no ponto de instalação dos TPs de proteção será sentida uma subtensão. A função 51V será
ativada para tensões inferiores a 80% da tensão nominal.
42

Para o ajuste da corrente de acionamento da unidade de sobrecorrente de fase com


restrição de tensão deve-se levar em consideração os valores de corrente que passa nas fases
do disjuntor de média tensão na ocorrência de curto-circuito entre fases na rede elétrica da
distribuidora. Além disso é importante levar em conta a condição de não estar com todos os
inversores em funcionamento, o que poderia diminuir a corrente de curto-circuito que passa
pelo disjuntor, chegando a um valor menor que a corrente nominal máxima da usina
● Proteção por sobrecorrente direcional de neutro
A função 67N é função de sobrecorrente direcional de neutro, assim, entende-se por
sentido direto DISTRIBUIDORA → UFV. Portanto, o ajuste dessa função de proteção será
para curtos-circuitos envolvendo a terra no circuito a jusante do relé NVA100X-G e a
montante do disjuntor geral de baixa tensão. Para a definição do sentido de operação da
proteção, deve ser ajustado o ângulo de máximo torque de neutro ou ângulo característico de
neutro. Para a definição deste ângulo, deve ser observado os valores fasoriais de tensão e
corrente no relé de proteção durante os curtos-circuitos envolvendo a terra no circuito a
jusante do relé NVA100X-G e a montante do disjuntor geral de baixa tensão. A unidade de
neutro do relé de proteção realiza a soma vetorial das correntes e das tensões para a definição
da corrente e tensão de desequilíbrio. O melhor ajuste do ângulo característico é definido pela
diferença angular entre a tensão de sequência zero e a corrente de sequência zero, partindo da
tensão e seguindo em sentido antihorário até o vetor da corrente
● Proteção por Frequência
A função de sobre/subfrequência opera quando a frequência da rede elétrica desvia
do valor nominal, 60 Hz, e se mantém por um determinado tempo, aquém de certo valor pré-
estabelecido ou, instantaneamente, após ultrapassar uma faixa de frequência predeterminada
● Proteção por Falha de disjuntor
Esta função é utilizada para evitar que ocorrências de pequeno porte evoluam a
eventos de grandes proporções no sistema elétrico devido a não abertura do disjuntor após o
envio de uma ordem de trip, ou seja, o envio do comando de abertura do disjuntor.
A confiabilidade da proteção contra falha do disjuntor é aprimorada por meio do
controle de posição do disjuntor ou da medição da corrente de fase ou residual. O disparo
pode ocorrer também no estado incorreto dos contatos auxiliares (se a corrente for maior que
o limite ajustável) ou no disparo de proteções externas (frequência, tensão) sem corrente (com
informações de disjuntor fechado fornecidas pelo estado dos contatos auxiliares).
Se ambas as condições forem mantidas ao longo do tempo de operação definido tBF,
o elemento BF dispara um sinal de trip para o disjuntor imediatamente a jusante, neste caso o
43

disjuntor geral de baixa tensão, no tempo ajustado, em seguida o temporizador e a função são
restaurados.

7.2.3 Chave fusível do inversor fotovoltaico

A chave fusível do inversor fotovoltaico utilizado na usina de minigeração


fotovoltaica está conforme o quadro 16.

Quadro 16 - chave fusível utilizada na minigeração fotovoltaica.

Fonte: Oliveira, 2019.

O fusível tem como função proteger o inversor fotovoltaico, que executa tanto a
função normal de comando, quanto a de proteção perante um curto-circuito, pela queima do
fusível que, em condições normais, também faz a vez de contato móvel. Os fusíveis contém
um elemento condutor constituído de uma liga metálica especial, dimensionado para fundir,
sob o aquecimento resultante do efeito joule, quando submetidos a correntes maiores que um
valor especificado, que é a corrente nominal do fusível. Quanto maior a corrente circulante
diante da nominal, menor será o período de tempo para a fusão.
Este equipamento possui o Monitoramento Eletrônico de Fusível (EFM) é um
dispositivo de indicação de fusível queimado. A unidade EFM possui um relé livre de
potencial integrado (1NA, 1NF) para sinal/alarme remoto. Ele será rearmado
automaticamente após a substituição do fusível queimado e o LED verde acenderá
novamente.

7.2.4 Relé geral da cabine de entrada de energia

O equipamento utilizado é da fabricante Siemens, modelo 7SJ80 conforme o quadro


14.

Quadro 14 - proteção por corrente e tensão utilizado na minigeração fotovoltaica.


44

Fonte: Oliveira, 2019.

A estrutura de hardware do dispositivo está mostrada na figura 5, como é possível


observar as entradas de medições (MI) convertem as correntes e tensões vindas dos
transformadores de medição e as adaptam ao nível adequado para o processamento interno do
dispositivo. O dispositivo fornece 4 transformadores de corrente e - dependendo do modelo-
adicionalmente 3 transformadores de potencial. Três entradas de corrente servem para entrada
das correntes de fase, outra entrada de corrente (IN) pode ser usada para medição da corrente
de falta à terra IN (ponto estrela do transformador de corrente) ou para um transformador de
corrente à terra separado (para detecção de falta sensitiva à terra INs e determinação de
direcionalidade para faltas à terra) - dependendo do modelo.
Os transformadores de potencial opcionais podem também ser usados para entrada
de 3 tensões à terra ou 2 tensões fase-fase e a tensão residual (tensão delta aberto) ou
quaisquer outras tensões. É possível também, conectar duas tensões fase-fase em conexão V.
As grandezas de entrada analógica passam pelos amplificadores de entrada (IA). O
elemento amplificador de entrada IA fornece uma terminação de alta resistência para as
grandezas de entrada.Ele consiste de filtros que estão otimizados para processamento de valor
medido com respeito à largura de banda e velocidade de processamento. O grupo
transformador analógico -digital (AD) consiste de um conversor analógico-digital e
componentes de memória para a transmissão de dados para o microcomputador.

Figura 5 - Estrutura de hardware do relé de proteção digital multi função 7SJ80.


45

Fonte: Siemens.

Proteção de sobrecorrente não direcional (50, 50N, 51, 51N) é a função básica do
dispositivo. Existem três elementos de tempo definido e um de tempo inverso para as
correntes de fase e corrente à terra. Para os elementos de tempo inverso, várias características
de diferentes padrões são fornecidas. Alternativamente, uma curva definida pelo usuário pode
ser usada para detecção de falta sensitiva à terra. Outras funções de proteção incluídas são a
proteção de sequência negativa, proteção de sobrecarga, proteção de falha do disjuntor e
proteção de falta à terra. Dependendo da variante encomendada, outras funções de proteção
estão incluídas, tais como proteção de frequência, proteção de subtensão e de sobretensão e
proteção de falta à terra para faltas à terra de alta resistência (direcional ou não direcional).
A característica dos relés de sobrecorrente é representada pelas suas curvas tempo
versus corrente. Estas curvas variam em função do tipo do relé (disco de indução, estático,
digital). Atualmente nos relés digitais e a maior parte deles permite escolher a característica
tempo corrente apenas alterando-se os parâmetros no próprio relé.
Os termos característica inversa, normal inversa, muito inversa e extremamente
inversa existem desde a época dos relés de disco de indução. Dessa forma, até hoje se mantém
essa terminologia, sendo que as características mais utilizadas são: Normal Inverso (NI),
Muito Inverso (MI ou VI = Very Inverse), Extremamente Inverso (EI), Tempo Longo Inverso
(TLI ou LT I= Long Time Inverse) e Tempo Definido (TD ou DT = Definite Time).
Nos relés digitais as características tempo versus corrente são representados por
equações, e essas equações mudam de acordo com a norma. Na figura 6 temos a curva
definida MI da norma IEC, utilizada neste equipamento e sua respectiva equação. Essa curva
é adequada tanto para baixas como para altas correntes. Na figura 7, há uma comparação entre
as três principais curvas utilizadas para um mesmo dial de tempo.
46

Figura 6 - Curva IEC muito inversa

Fonte: Mardegan, 2010

DT - Dial de Tempo (Dial Time)


I - Múltiplo de pick-up, I = Icc/Iajuste
t - tempo de atuação do relé em segundos (tempo de trip).

Figura 7 - Comparação das características das curvas IEC normal inversa, muito inversa e extremamente inversa.

Fonte: Mardegan, 2010


47

8. CONCLUSÃO
O estudo dos dispositivos de proteção de uma usina de minigeração fotovoltaica é
essencial para acompanhar o crescente interesse e investimento na geração distribuída solar
fotovoltaica, tanto no Brasil quanto no mundo. Com a busca por fontes de energia mais limpas
e sustentáveis, a energia solar fotovoltaica tem se destacado como uma alternativa promissora.
O investimento nesse tipo de geração de energia renovável tem crescido
significativamente, impulsionado por políticas governamentais favoráveis, incentivos
financeiros e preocupações com a redução das emissões de gases de efeito estufa. O Brasil,
em particular, tem experimentado um aumento expressivo na implantação de usinas de
minigeração fotovoltaica, aproveitando seu enorme potencial solar.
No entanto, para garantir a segurança e o desempenho confiável dessas usinas, é
fundamental que sejam implementados dispositivos de proteção adequados. Esses dispositivos
desempenham um papel crucial na prevenção de danos causados por distúrbios elétricos,
como surtos de tensão, curtos-circuitos e sobrecargas. Além disso, eles contribuem para a
maximização da eficiência energética, ao garantir que a energia gerada seja entregue de forma
segura e estável à rede elétrica.
O estudo dos dispositivos de proteção também é importante para mitigar os riscos de
incêndios e choques elétricos, garantindo a segurança dos trabalhadores, dos usuários da
energia e do meio ambiente. Além disso, a correta implementação desses dispositivos facilita
a integração da geração distribuída solar fotovoltaica à infraestrutura elétrica existente,
minimizando os impactos negativos na qualidade da energia elétrica e na estabilidade do
sistema.
Com o crescimento contínuo dos investimentos e da aplicação da geração distribuída
solar fotovoltaica, é necessário manter o foco no aprimoramento e atualização dos
dispositivos de proteção. A pesquisa e o desenvolvimento de tecnologias inovadoras nessa
área são fundamentais para garantir a evolução da indústria solar e a ampliação de seu
potencial de geração de energia limpa e sustentável.
Em suma, o estudo dos dispositivos de proteção de uma usina de minigeração
fotovoltaica é um aspecto crucial para acompanhar o crescimento dos investimentos e da
aplicação da geração distribuída solar fotovoltaica. Ao garantir a segurança, o desempenho e a
integração eficiente dessas usinas à rede elétrica, contribuímos para a expansão de fontes de
energia renováveis, a redução das emissões de carbono.
48

REFERÊNCIAS

ABNT. NBR 16149:2013 Sistemas Fotovoltaicos (FV) - Características de interface de


conexão com a rede elétrica de distribuição. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
[S.l.], p. 16. 2013

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ANEEL, A. N. D. E. E.-. Resolução Normativa nº 482. [S.l.]: [s.n.]. 2012. p. 5

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