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RECUPERAÇÃO

DE ÁREAS
DEGRADADAS

Ronei Tiago
Stein
Revisão técnica:
Vanessa de Souza Machado
Bióloga
Mestre e Doutora em Ciências
Professora do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental

R294 Recuperação de áreas degradadas / Ronei Tiago Stein ... [et al.]
; [revisão técnica: Vanessa de Souza Machado]. – Porto
Alegre : SAGAH, 2017.
338 p. : il. ; 22,5 cm.


ISBN 978-85-9502-136-5


1. Gestão ambiental. I. Stein, Ronei Tiago.
CDU 504

Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094

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UNIDADE 2
Conceitos e processos
de formação dos solos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Identificar o conceito de solo.


 Reconhecer os principais fatores e processos relacionados à formação
dos solos.
 Distinguir os principais tipos de solos quanto à sua origem.

Introdução
Os solos são formados basicamente pelo intemperismo das rochas, sendo
que existem alguns fatores que interferem neste processo, como o clima,
o tempo, o relevo e a presença de organismos. Logo, existem diferentes
tipos de solos, sendo que no Brasil, são classificados segundo o Sistema
Brasileiro de Classificação dos Solos (SiBCS).
Para cada tipo de solo, existem diferenças na quantidade de minerais,
matéria orgânica, porosidade, entre outros, sendo estes fatores funda-
mentais no planejamento do seu uso adequado.
Neste texto, você verá o que é solo e como é sua formação, bem
como os processos de formação do solo e os diferentes tipos de solos,
conteúdo essencial para o correto planejamento e execução de Progra-
mas de Recuperação de Áreas Degradadas.

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50 Conceitos e processos de formação dos solos

Solos: conceitos
Existem diferentes definições de solos, sendo que, para a pedologia, o solo é
definido como a camada viva que recobre a superfície da terra, em evolução
permanente, por meio da alteração das rochas e de processos pedogenéticos
comandados por agentes físicos, biológicos e químicos.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
a Agricultura (FAO, do inglês Food and Agriculture Organization), o solo
é conceituado como a área delineável da superfície sólida do globo, cujas
características incluem todos os atributos da biosfera, verticalmente acima ou
abaixo dessa superfície, incluindo aquelas da atmosfera, solo e a geologia, a
hidrologia, a população vegetal e animal, o modelo de assentamento humano
e os resultados das atividade humanas do passado e do presente.
Conforme a ABNT NBR 6502:1995, o solo é definido como um material
proveniente da decomposição das rochas pela ação de agentes físicos ou
químicos. Já a FETAG (Federação dos Trabalhadores na Agricultura) define
o solo como um mineral não consolidado na superfície da terra que serve de
ambiente natural para o desenvolvimento das plantas, influenciado por fatores
genéticos e ambientais, como material de origem, topografia, clima e micror-
ganismos, que se encarregam de formar o solo no decorrer de certo tempo.
A unidade básica do solo é chamada de pedon (do grego, significa solo/
terra), a qual vai da superfície ao material de origem (rocha), de acordo com
Santos e Zaroni (c2016). A face do pedon é chamada de perfil de solo, que,
segundo Coelho et al. (2010?), contém camadas aproximadamente paralelas à
superfície do terreno, as quais são denominadas horizontes (Figura 1). O solo
é composto por diferentes horizontes (O, A, B e C), que podem variar quanto
à cor, à espessura, ao tipo de estrutura, à textura, entre outras características.

Os horizontes do solo podem apresentar cor e espessura bastante variadas, ou mesmo


estar ausentes em determinados solos.

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Figura 1. Exemplos do perfil do solo com seus diferentes horizontes.


Fonte: Designua/Shutterstock.com.

A descrição de cada camada é descrita de acordo com Coelho et al. (2010?):

 Horizonte O: é composto por matéria orgânica, devido à presença de


vegetação e animais.
 Horizonte A: é o horizonte mais superficial do solo, sendo que ge-
ralmente apresenta coloração mais escura devido à presença de maté-
ria orgânica bastante decomposta, ocasionando colorações pretas ou
amar ronzadas.
 Horizonte B: localizado abaixo do horizonte A, geralmente de coloração
amarelada ou avermelhada, cuja cor é mais influenciada pelas partí-
culas minerais do solo, uma vez que apresenta muito menos partículas
orgânicas em relação ao horizonte A. Geralmente, o horizonte B tem
maior quantidade de argila, bem como apresenta estrutura de tamanho
maior em relação aos horizontes A e C.

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 Horizonte C: aparece abaixo do horizonte B e está mais próximo da


rocha; por isso, geralmente apresenta fragmentos de rocha na sua massa.
Sua coloração é bastante variada.
 Horizonte R: é composto pela rocha-mãe ou também conhecido como
rocha matriz.

Coelho et al. (2010?) descrevem que, em média, o solo da Região Amazônica


apresenta horizonte A de aproximadamente 20 cm; horizonte B de dezenas de
metros de profundidade; e o horizonte C e a rocha matriz geralmente estão
a profundidades abaixo de 10 metros de profundidade, a partir da superfície
do solo.
Para cada tipo de solo, existem diferentes características, como a tonalidade,
porosidade, permeabilidade e textura. A seguir, apresenta-se a descrição de
cada uma dessas características, de acordo com Portal Brasil (2009).

 Tonalidade (cor, coloração): as diferenças de coloração dos solos


devem-se às diferentes origens e ao conteúdo de decomposição da
matéria orgânica (elementos vivos e não vivos compostos de carbono).
Para facilitar o entendimento, quanto maior a quantidade de matéria
orgânica presente em determinado solo, mais escuro este será. Logo,
é possível identificar a fertilidade do solo por meio da sua coloração, e
tons amarelados ou avermelhados (p. ex., a terra roxa) são indicativos
da presença de óxido de ferro, sendo muito indicado para a agricultura.

Um solo considerado excelente para o crescimento vegetal, de acordo com Rosa, Fraceto
e Moschini-Carlos (2012), caracteriza-se por apresentar: 50% de fase sólida (sendo
45% de origem mineral e 5% de orgânica); 25% de fase líquida; e 25% de fase gasosa.

 Porosidade (poros): é de grande importância, pois controla o teor de


umidade dos solos. A porosidade é representada pela relação entre
líquidos, gases, massa do solo e as dimensões que compõem o solo.
Dessa forma, a porosidade interfere na circulação da água no solo,
sendo que quanto maior a quantidade de poros, maior a penetração da
água – alcançando camadas mais profundas.

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 Permeabilidade: está diretamente relacionada à porosidade, pois diz


respeito à condição da água que circula pelo solo.
 Textura: refere-se ao tamanho e à proporção das partículas que com-
põem o solo. Na ordem do menor para o maior diâmetro de partículas,
o solo pode ser classificado em: argiloso, de silte (fragmentos de rocha
ou partículas surgidas da destruição de outras rochas), arenoso ou de
pedregulho (calcário).

A Figura 2 evidencia as diferentes características que compõem o solo.

Figura 2. Exemplo dos aspectos referentes às características de formação do solo.


Fonte: Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (2012, p. 68).

No solo, encontram-se microrganismos que variam de tamanho (entre 4 μm


a 100 μm), e estes animais são denominados biota de solo ou microfauna de
solo. Essa fauna é extremamente importante para o desenvolvimento do solo.
Se você quiser conhecer um pouco mais sobre esse aspecto, faça a leitura do
texto: Fauna de solo: aspectos gerais e metodológicos. Esse artigo é da Embrapa
Solos e esclarece muito sobre a importância dessa microfauna.

Fatores que interferem na formação dos solos


Em relação aos solos, Rosa, Fraceto e Moschini-Carlos (2012) ressaltam que
esses devem ser interpretados e estudados levando em consideração todos os
elementos presentes, pois todos atuam em conjunto nas diferentes funções
que o solo desempenha. Lima, Lima e Melo (2007) apresentam os principais

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fatores que interferem na formação dos solos, sendo estes: o clima, o material
de origem, os organismos, o relevo e o tempo. A seguir, a descrição de cada
um desses fatores.

 Clima: exerce influência sobre a formação dos solos (intemperismo),


principalmente devido às precipitações (chuvas) e à variação de tem-
peratura. Por exemplo, em regiões de clima quente e úmido, a ação
dos intemperismos é mais intensa e rápida, pois temperaturas mais
elevadas aceleram a velocidade das reações químicas (que provocam
a decomposição das rochas). Em relação à umidade, esta reage com os
minerais presentes nas rochas, produzindo ácidos, os quais provocam
a corrosão das rochas.
 Material de origem: a rocha que dá origem ao solo é chamada de rocha
matriz, ou seja, o material de origem é a matéria-prima a partir da qual
os solos se desenvolvem, podendo ser de natureza mineral (rochas ou
sedimentos) ou orgânica (resíduos vegetais). Dependendo do tipo de
material de origem, os solos podem ser arenosos, argilosos, férteis ou
pobres. Cabe ressaltar que uma mesma rocha pode originar solos muito
diferentes, pois depende da variação dos demais fatores de formação.
 Relevo: o formato desigual do relevo favorece a distribuição irregular
da água das chuvas, do calor e da luz. Dependendo do tipo de relevo
(plano, inclinado ou abaciado), a água da chuva pode entrar no solo
(infiltração), escoar pela superfície (ocasionando erosão) ou se acumular
(formando banhados).
 Presença de organismos: os organismos que vivem no solo (como
vegetais, minhocas, insetos, fungos, bactérias, entre outros) exercem
grande influência na formação dos solos, pois, além de seus corpos
serem fonte de matéria orgânica, atuam também na transformação dos
constituintes orgânicos e minerais. A vegetação exerce influência na
formação do solo pelo fornecimento de matéria orgânica, na proteção
contra a erosão pela ação das raízes fixadas no solo, assim como por meio
das folhas, que evitam o impacto direto da chuva. Ao se decompor, a
matéria orgânica libera ácidos que também participam na transformação
dos constituintes minerais do solo.
 Tempo: para a formação do solo, é necessário determinado tempo
para atuação dos processos que levam à sua formação. O tempo que
um solo leva para se formar depende do tipo de rocha, do clima e do
relevo. Solos desenvolvidos a partir de rochas mais fáceis de sofrer

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Conceitos e processos de formação dos solos 55

intempéries formam-se mais rapidamente, em comparação com aqueles


cujo material de origem é uma rocha de difícil alteração.

Pedogênese: processo de formação dos solos


O intemperismo, também conhecido como meteorização, é o nome atribu-
ído ao processo de transformação e desgaste das rochas e dos solos. Essa
transformação pode ocorrer por processos químicos (decomposição), físicos
(desagregação) e biológicos. Sua dinâmica acontece por meio da ação dos
chamados agentes exógenos ou externos de transformação de relevo, como a
água, o vento, a temperatura e os próprios seres vivos.
No entanto, é importante não confundir intemperismo com erosão. O
intemperismo é o processo de transformação físico-química das rochas. Já a
erosão se refere ao desgaste e à fragmentação das rochas produzidos por algum
agente externo, feitos principalmente pela água. Logo, os dois fenômenos
ocorrem concomitantemente e estão diretamente relacionados, contribuindo
para a transformação do relevo e das rochas e do meio ambiente como um todo.
Indiferentemente do tipo de rochas, estas sofrem desagregação e decom-
posição devido às intempéries, ou seja, às condições climáticas predominan-
tes em uma determinada região. Os fragmentos de rochas (sedimentos) são
transportados (principalmente pela água) e depositados em outros locais,
podendo, inclusive, se distanciarem da origem, podendo formar novas rochas
com o passar dos séculos.
O intemperismo é fundamental para a vida na terra, pois é a partir dele
que se forma o regolito, ou seja, a camada solta de material heterogêneo e
superficial que cobre uma rocha sólida. Essa camada solta inclui poeira, solo,
rocha quebrada e outros materiais, os quais irão constituir o solo (material
superficial em avançado estado de alteração e lixiviação) em conjunto com
a matéria orgânica, fundamental para a vida humana de todos os seres vivos
do planeta.

Diferentes tipos de intemperismo

Branco (2014) ressalta que a ação do intemperismo dá-se por meio de modi-
ficações nas propriedades físicas e químicas dos minerais e rochas (as rochas
têm maior interferência do intemperismo) e biológicas (com menor grau de
interferência).
O intemperismo físico consiste basicamente na desagregação da rocha, com
separação dos grãos minerais que a compõem e fragmentação da massa rochosa

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56 Conceitos e processos de formação dos solos

original. As variações de temperatura dilatam e contraem a rocha, gerando


fissuras que, com o tempo, vão se alargando. Os minerais, por sua vez, têm
diferentes coeficientes de dilatação e respondem de maneira diferente a essas
variações térmicas, contribuindo para o fissuramento. Essas mudanças são
particularmente acentuadas no ambiente desértico, onde os dias são quentes
e as noites são frias.
As variações na umidade também provocam o mesmo efeito. Caso a água
infiltrada em fraturas da rocha sofra congelamento, o intemperismo físico é
mais acentuado. Fato explicado devido ao congelamento da água aumentar
em 9% seu volume, exercendo grande pressão sobre as paredes da rocha.
Quando a água que se infiltra em fraturas e fissuras contém sais dissol-
vidos, como cloretos, sulfatos e carbonatos, esses precipitam e provocam um
aumento de volume. Consequentemente, ocorre a fragmentação, pois causa uma
grande pressão sobre a rocha. Esse tipo de fragmentação é um dos principais
problemas que afetam monumentos feitos com rocha. Indiferentemente da
causa da fragmentação, esta facilita a penetração da água e o consequente
intemperismo químico da rocha.
Em relação ao intemperismo químico, o principal agente é a água, que,
absorvendo o CO2 da atmosfera, adquire características ácidas. Ao entrar
em contato com a matéria orgânica do solo, a acidez aumenta, facilitando a
dissolução de carbonatos e outras substâncias. O intemperismo químico atua
por meio de reações de hidratação, dissolução, hidrólise, redução e oxidação.

 Hidratação: ocorre a partir da entrada de moléculas de água na estrutura


mineral, modificando-a e dando origem a um mineral diferente. Ocorre
também em ambientes mais úmidos.
 Dissolução: ocorre quando a água provoca a solubilização completa
de um mineral. Esse processo é mais comum em terrenos formados
por rochas calcárias, que são mais suscetíveis à dissolução completa.
 Hidrólise: quando as rochas constituídas basicamente por silicatos
entram em contato com a água, os silicatos sofrem hidrólise e, dessa
reação, resulta uma solução alcalina.
 Redução: é o processo inverso à oxidação. O processo resulta em rochas
e solos de coloração azulada, cinzenta ou esverdeada.
 Oxidação: sua ocorrência é mais comum em ambientes úmidos. Sua
manifestação ocorre quando há a coloração avermelhada e amarelada
sobre as rochas e os solos, gerada pela ação das intempéries.

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O intemperismo biológico ocorre por meio da ação de bactérias que de-


compõem material orgânico. Incluem-se, nesse processo, as raízes das árvores,
devido ao aumento da dilatação nas rochas (Figura 3).

Figura 3. Exemplo de intemperismo biológico, no qual as raízes das árvores ocasionam


a dilatação das rochas.
Fonte: Keattikorn/Shutterstock.com.

Tipos de solos
De acordo com Santos e Daibert (2014), os solos podem ser divididos em dois
grandes grupos:

 Os transportados, também conhecidos como sedimentares;


 Os não transportados, também conhecidos como residuais.

Os solos sedimentares ou transportados, segundo Santos e Daibert (2014),


sofrem o intemperismo em um determinado local e depois são transportados por
agentes geológicos (como mar, rio, vento, gelo, gravidade, entre outros), sendo
depositados em forma de sedimentos, em distâncias variadas. Na composição
desse tipo de solo, há grande quantidade de matéria orgânica, sendo que não
há uma ligação com a rocha original. Em geral, os solos sedimentares são
depositados com menor consolidação que os residuais, apresentando maior
heterogeneidade e profundidade variável, sendo menos resistentes e com maior

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permeabilidade. Como exemplos de solos transportados, pode-se citar: os


solos de aluvião, solos orgânicos, solos coluviais e solos eólicos.

 Solos de aluvião: depósitos de sedimentos clássicos (areia, cascalho e/


ou lama). São transportados e arrastados pela água. Sua constituição
depende da velocidade das águas no momento de deposição, sendo
encontrado material mais grosseiro próximo às cabeceiras, enquanto
o material mais fino (argila) é carregado a maiores distâncias. Esses
solos apresentam baixa resistência, elevada compressibilidade e são
suscetíveis à erosão.
 Solos orgânicos: mistura do material transportado, com quantidades
variáveis de matéria orgânica decomposta. Formados em áreas de topo-
grafia bem caracterizada (bacias e depressões continentais, nas baixadas
marginais dos rios e litorâneas). Normalmente, são identificados pela
cor escura, cheiro forte e granulometria fina. Esse tipo de solo tem alta
compressibilidade e baixíssima resistência. Provavelmente, esse é pior
tipo de solo para os propósitos do engenheiro geotécnico.
 Solos coluviais (ou depósito de tálus): o transporte se deve exclusiva-
mente à gravidade, e o solo formado tem grande heterogeneidade. São
de ocorrência localizada, geralmente ao pé de elevações e encostas,
provenientes de antigos escorregamentos. Apresentam boa resistência,
porém elevada permeabilidade. Colúvio é um material predominante-
mente fino, e tálus é predominantemente grosseiro.
 Solos eólicos: são formados pela ação dos ventos, e os grãos dos solos
têm forma arredondada. É o mais seletivo tipo de transporte de partículas
de solo. Não são muito comuns no Brasil, destacando-se somente os
depósitos ao longo do litoral.

Já o solo residual, de acordo com Santos e Daibert (2014), é resultado da


decomposição da rocha matriz, e ele não é transportado, havendo preserva-
ção da estrutura da rocha matriz da qual se originou. O solo residual é mais
homogêneo, mais resistente e mais impermeável. Para ocorrer a formação do
solo residual, é necessário que a velocidade de decomposição da rocha seja
maior do que a velocidade de remoção por agentes externos. Regiões tropicais
favorecem a degradação da rocha mais rapidamente. Diante desse contexto,
sua ocorrência é mais comum no Brasil. O solo residual pode apresentar
diferentes classificações:

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 Solo residual maduro: é um solo mais homogêneo e não apresenta


nenhuma relação com a rocha-mãe.
 Solo residual jovem: apresenta boa quantidade de material, e pode ser
classificado como pedregulho (o qual apresenta diâmetro maior que
4,8 mm). São bastante irregulares quanto à resistência, à coloração, à
permeabilidade e à compressibilidade (a intensidade do processo de
alteração não é igual em todos os pontos).
 Solo saprolítico: guarda características da rocha e apresenta basi-
camente os mesmos minerais, porém sua resistência já se encontra
bastante reduzida. Pode ser caracterizado como uma matriz de solo
que envolve grandes pedaços de rocha altamente alterada. Apresenta
pequena resistência ao manuseio.
 Solo de alteração de rocha: ainda preserva parte de sua estrutura e de
seus minerais, porém com dureza inferior à da rocha matriz, em geral
muito fraturada, permitindo grande fluxo de água nas descontinuidades.

Sistema Brasileiro de Classificação de Solos


(SiBCS)
Conforme já mencionado, os solos são formados devido à decomposição das
rochas. Como existem diferentes tipos de rochas (ígneas, magmáticas e sedi-
mentares) na crosta terrestre, logo, existem diferentes tipos de solos. Coelho et
al. (2010?) comentam que existem diferentes sistemas de classificação de solos
no mundo. Em território nacional, tem-se o Sistema Brasileiro de Classificação
de Solos (SiBCS), publicado pela Embrapa (EMPRESA BRASILEIRA DE
PESQUISA AGROPECUÁRIA, 1999), passando por algumas atualizações
posteriormente.

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60 Conceitos e processos de formação dos solos

A classificação de um solo é obtida a partir da avaliação dos dados morfológicos,


físicos, químicos e mineralógicos do perfil que o representam. Essa classificação inicia
com a descrição morfológica do perfil e coleta de material de campo, que devem ser
conduzidas conforme critérios estabelecidos em manuais, observando-se o máximo
de zelo, paciência e critério na descrição do perfil e da paisagem que ele ocupa no
ecossistema.
Para entender mais sobre os tipos de solos e sua classificação, leia o texto “Classificação
de solos” (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 1999).
Segundo o SiBCS, no Brasil, os solos são divididos em 13 ordens, sendo que Santos
e Daibert (2014) apresentam algumas definições importantes:
 Argissolos: ocupam o terço inferior das colinas e dos morros do cerrado. O acúmulo
de argila reduz muito a permeabilidade dos argissolos. Isso, somado ao fato de o
horizonte superficial muitas vezes ser arenoso, faz com que a grande limitação
agrícola dos argissolos seja o risco de erosão. Por esse motivo, os argissolos devem,
preferencialmente, ser utilizados com culturas perenes ou pastagens.
 Cambissolos: são pouco desenvolvidos, com pedogênese pouco avançada e
ausência ou quase ausência da estrutura da rocha.
 Chernossolos: são um dos solos mais ricos do Brasil, com presença de argilomi-
nerais e de um horizonte rico em matéria orgânica com alto conteúdo de cálcio e
magnésio, sendo encontrados em maior escala na Bahia.
 Espodossolos: apresentam uma coloração variando de cinza até preto, compostos
de alumínio com ou sem ferro em presença de húmus ácido.
 Gleissolos: desenvolvem-se em sedimentos recentes próximos a cursos d’água e
em materiais colúvio-aluviais sob condições de hidromorfia, podendo formar-se
também em áreas de relevo plano de terraços fluviais, lacustres ou marinhos e em
materiais em depressões. Ocorrem sob vegetação higrófila ou higrófila herbácea,
arbustiva ou arbórea.
 Latossolos: nesses solos, ocorre evolução muito avançada com expressiva
latolização (ferralitização ou laterização), intemperização intensa dos minerais
primários e secundários menos resistentes e concentração relativa de argilomi-
nerais resistentes e/ou óxidos e hidróxidos de ferro e alumínio, com inexpressiva
mobilização ou migração de argila, ferrólise, gleização ou plintitização.
 Luvissolos: em geral, são medianamente profundos a rasos (60 a 120 cm).
 Neossolos: grupamento de solos pouco evoluídos. Solos em via de formação, ou
pela reduzida atuação de processos pedogenéticos ou por características inerentes
ao material de origem.
 Nitossolos: são solos minerais, não hidromórficos, de cor vermelho-escura ten-
dendo a arroxeada. São derivados do intemperismo de rochas básicas e ultrabásicas,
ricas em minerais ferromagnesianos. Na sua maioria, são estróficos, com ocorrência
menos frequente de distróficos e raramente álicos. Compreendem solos de grande
importância agrícola.

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Conceitos e processos de formação dos solos 61

 Organossolos: grupamento de solos orgânicos, pouco evoluídos, de coloração


preta, cinzenta muito escura ou marrom e com elevados teores de carbono or-
gânico. São solos fortemente ácidos, com baixa saturação em bases. Predomínio
de constituintes orgânicos em relação a inorgânicos. Ocorrem em ambientes de
drenagem livre ou em condições de saturação com água, permanente ou periódica
(mal drenados a muito mal drenados, ou úmidos de altitude elevada).
 Planossolos: ocorrem preferencialmente em áreas de relevo plano ou suave on-
dulado, sob condições ambientais e do próprio solo que favorecem vigência
periódica anual de excesso de água, ainda que de curta duração, e até mesmo
sob condições de clima semiárido. Podem ocorrer ainda em baixadas, várzeas e
áreas de depressões.
 Plintossolos: solos minerais formados sob condições de restrição à percolação
de água, sujeitos ao efeito temporário de excesso de umidade, em geral imper-
feitamente ou mal drenados. Predominantemente, são solos fortemente ácidos,
com saturação de bases baixa. Ocorrem em várzeas, áreas com relevo plano ou
suavemente ondulado.
 Vertissolos: apresentam grande representatividade no ambiente semiárido do
Nordeste brasileiro. Por suas características intrínsecas, destacadamente a presença
de argilas expansivas, necessitam de um manejo especial. Por serem essencialmente
argilosos, esses solos ainda apresentam produtividades razoáveis com irrigação
superficial, exemplificada pela irrigação por sulcos.

Os solos mais comuns do Brasil são os latossolos e argissolos, que ocupam aproxima-
damente 60% das terras brasileiras (COELHO et al., 2010?).

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62 Conceitos e processos de formação dos solos

1. Analisando a figura em anexo, a mais resistente ela fica


qual representa os horizontes do quanto ao intemperismo.
solo, ou seja, as diferentes camadas e) Relevos extremamente
em que o solo é dividido, qual das inclinados apresentam maior
alternativas a seguir está correta em grau de intemperismo.
relação a camada A? 3. Em relação ao intemperismo
a) Camada mineral constituída químico das rochas, assinale
de quantidade reduzida de a alternativa correta:
matéria orgânica, acúmulo de a) A oxidação é mais comum
compostos de ferro e minerais em ambientes secos e frios.
resistentes, como o quartzo. b) A dissolução ocorre quando a
b) Camada mineral pouco ou água provoca a solubilização
parcialmente alterada. completa de um mineral.
c) É composto por matéria c) O principal componente do
orgânica, devido a presença intemperismo químico é o vento.
de vegetação e animais. d) As bactérias decompõem
d) Constituído, basicamente, de material orgânico sobre as rochas.
rocha alterada e húmus, sendo a e) As variações de temperatura
região onde se fixa a maior parte dilatam e contraem a rocha,
das raízes e vivem organismos gerando fissuras que, com o
decompositores e detritívoros. tempo, vão se alargando.
e) Rocha não alterada que 4. Como é denominado o processo
deu origem ao solo. de formação dos solos?
2. Sobre o intemperismo em rochas, a) Diagênese.
assinale a alternativa correta. b) Mineralogia.
a) Só ocorre intemperismo c) Intemperismo.
em rochas sedimentares. d) Metamorfismo.
b) As raízes das árvores e) Pedogênese.
contribuem para o aumento 5. Quando os solos se formam por
do intemperismo por causa rochas encontradas no mesmo local
da dilatação das rochas. de sua formação, dá-se o nome de?
c) O relevo é o principal a) Solos eluviais.
agente responsável pela b) Solos orgânicos.
formação dos solos. c) Solos aluviais.
d) Quanto mais tempo uma rocha d) Solos coluviais.
fica exposta às intempéries, e) Solos lacustres.

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Conceitos e processos de formação dos solos 63

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6502:1995. Rochas e Solos.


Rio de Janeiro: ABNT, 1995.
BRANCO, P. M. O intemperismo e a erosão. [S.l.]: CPRM, 2014. Disponível em: <http://www.
cprm.gov.br/publique/Redes-Institucionais/Rede-de-Bibliotecas---Rede-Ametista/
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COELHO, M. R. et al. Solos: tipos, suas funções no ambiente, como se formam e sua
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U1_C04_Recuperação de áreas degradadas.indd 63 15/09/2017 15:39:41


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