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QUARTA FERIDA NARCÍSICA e a PROPRIOCEPÇÃO

Marco Antonio Coelho De Moraes

Para esta proposta de ferida narcísica, evidencio que, a despeito de tudo que falo, a
respeito de nos considerarmos Homo sapiens, ou, mesmo nos auto intitularmos seres
pensantes, de nos citarmos como racionais, na verdade a nossa parte animal é a que
predomina.
Iludimo-nos, via religiosidade e/ou mito, que o ser humano transcendeu a sua parte
animal que desejo aqui ligada à Natureza (Phýsis em si), portanto o ápice dessa natureza
que destruímos. Esse da destruição da Natureza talvez seja a proposta de suicídio do ser
humano ao longo de milhões de anos.
Da mesma maneira que qualquer estímulo leva milésimos ou mesmo milionésimos de
segundo para atingir o cérebro e ter uma resposta, em todos os campos e temas, é
provável que, em função disso, vivemos o tempo todo em termos de respostas aos
estímulos internos e externos.
Eis a quarta ferida narcísica: mente, memória, pensamento, nada disso existe. É um
nominalismo para organizar em alguma caixinha esta leva de conhecimentos. Existe, sim,
uma resposta a estímulos externos e internos, como disse, e, de tão rápida resposta dá a
impressão - impressão biológica - impressão sensível, impressão corporal, impressão
somática, impressão da carne de que pensamos. Usamos esse termo. Pensar.
É necessário levar em consideração de que quando dizemos pensar já é um ato reflexivo
fundado nas articulações de palavras desde as cavernas. Denominação de que fazemos
uma coisa da qual não temos a mínima ideia do que se trata: - o Cogito Ergo Sum do
Descartes, é a frase que dá origem ao erro que nos faz dizer que somos indivíduos.
Freud já disse que somos divididos. A percepção de nós mesmos entra para a
“compreensão” através daquilo que já chamamos de resposta aos estímulos – exteriores
interiores – que forma uma rede de alta complexidade que é o ser humano, que continua
animal. A cibernética nos faz absorver de que somos mesmos computadores altamente
complexos, ligados na tomada do alimento, mas, que toda a nossa reflexão não passa de
estímulo que bate e volta, como no espelho; essa reflexão que pode ser múltipla,
complexa, mostra variados caminhos a seguir.
Somos o produto de processos biológicos, repetidos, adequados, adaptados – Garcia
Rosza - ao longo de milhões de anos, concluindo que os processos também são novos
estímulos, causados por nós mesmos.
Somos reflexo. Somos um extraordinário cão de Pavlov transformado em máquina com
múltiplas opções de caminhos. Basta estimular. Imediatamente refletimos.
Dando continuidade à proposta.
A quarta ferida narcísica passa, obrigatoriamente, pela própriocepção.
Própriocepção (percepção de si mesmo) do organismo, do corpo, de modo geral de toda
massa somática.. Porque é através do corpo que todos nós teremos a captação das
sensações e dos estímulos. Estésis. Qualquer tipo de conhecimento que venha para
nossa formação clara se dá por aí.
A partir do momento em que fomos um dia, zigoto, certamente, essa propriocepção já
vem trazendo toda a quantidade de informações necessárias e suficientes para a
manutenção e preservação daquele pequeno corpo. Para que o organismo cresça e se
transforme num organismo que responderá aos estímulos, de acordo com as
determinações de seu código genético. Isso é feito muito facilmente observando a obra de
Moore sobre embriologia. É Temos uma competência contínua de inter-relações que são
criadas quando o organismo habita o bioma. Tais inter-relações entre se vão
transformando em entrelaçamentos neurológicos no futuro do corpo, na fase madura
desse organismo, mas, a propriocepção já permite estimular o organismo a se equilibrar
no espaço e a entender as correlações, a responder de maneira adequada, aos
estímulos.
Podemos perceber que quando este padrão não é tão adequado assim, nós temos tanto
distúrbios de percepção quanto distúrbios de entendimento. Podemos dizer, também, que
a propriocepção é a base de tudo o que chamaremos no futuro de ‘pensamento’ ou
‘mente’, ou ainda ‘memória’, e, de tão rápida serão as correlações, de tão rápidas as
interconexões, com a rede neural trabalhando infinitamente rápida, nós podemos
perceber que quando ‘pensamos’, na verdade, trata-se apenas de respostas a algum
estímulo.
A rede de associação que temos é uma rede monumental que nos traz a complexidade
adequada e, da qual somos, realmente, donos.
Só dizemos que somos homo sapiens por que damos a nós mesmos tal rótulo. É um
rótulo autointitulado; por esse rótulo, autointitulado sempre nos colocamos na melhor
posição possível da atividade humana. Da mesma forma que dizemos que somos feitos à
imagem e semelhança de Deus.
A propriocepção, é a o modo como recebemos todos os sentidos de captação de
sensações, de emoções, de estímulos que temos recebido desde que nascemos, desde
que fomos concebidos; é a base fundamental para se definir os caminhos da quarta ferida
narcísica, que é a de sabermos que nós não pensamos, apenas reagimos aos estímulos
que nos vêm de fora e de dentro, sendo tais estímulos sempre repetidos e parecidos no
em suas repetições. Sempre teremos as mesmas respostas para aquele estímulo;
quando algo varia no tempo e no espaço, quando a informação que recebemos é um
pouquinho diferente da outra informação anterior, a resposta é um pouquinho diferente,
também, daí todas as variações. Pode-se abrir caminho através das neuroses, através de
qualquer outro tipo de psicose que venha atingir o ser humano. Mas essa Psicose não é
necessariamente um transtorno que acontece no ambiente normal. É apenas o estado em
que em se encontra aquele organismo neural naquele momento de recepções e reflexões
transtornadas em relação ao meio que vive o corpo. Naquela resposta, com aquele
estímulo, aquele ser é do jeito que é. Nada do que acontece o é para destruí-lo, mas, há a
possibilidade de a resposta que deveria ser dada não foi compreendida pelo organismo.
Portanto, perturbação.

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