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Fontes de Direito

Amélia celebrou com Belmiro um contrato de compra e venda de um automóvel. Chegado o


momento do pagamento, este disse “que Deus lhe pague, que eu agora não tenho dinheiro”,
entendendo ficar assim de contas saldadas, uma vez que ouviu falar num acórdão que decidiu
um caso nesse sentido. Quid Juris?
Fontes mediatas – São aquelas que só são rec

onhecidas como fontes de Direito na medida em que a lei lhe confere esse valor. (Ex: jurisprudência).
Apenas são fonte de direito os acórdãos com força obrigatória geral. A ordem jurídica portuguesa admite
como fonte do direito os acórdãos do Tribunal Constitucional que declarem a inconstitucionalidade ou
ilegalidade de normas, pois a declaração de inconstitucionalidade ou de ilegalidade vincula a todos para o
futuro, art. 281.º, n.ºs 1 e 3, da CRP. A jurisprudência como fonte de direito refere-se a um valor negativo,
pois impede, através de um juízo de inconstitucionalidade ou ilegalidade, que desta fonte possa ser
retirada uma regra jurídica. Belmiro tem de pagar pq jurisprudência não conta como fonte de direito.

Em Portugal reconhece-se que é ao organizador do espetáculo que cabe autorizar a sua


gravação e radiotransmissão. Todos os intervenientes no mundo do show business português
aceitam, pacificamente, esta regra. Isto apesar de a lei nada dizer sobre o assunto. A empresa
Som no Coração, organizadora do Décimo Terceiro Concurso de Bandas de Garagem da
Faculdade de Direito da Universidade da Lousã autoriza a Rádio Lousã a transmitir todo o
espetáculo. José Silva, vocalista, guitarrista ritmo e mentor da Banda do Zé, a qual participa no
concurso, sente-se desconfortável com a situação. Pode José Silva impedir a transmissão?

Fonte mediata e interna – costume. Costume - O costume consiste na prática social reiterada com a
convicção da sua juridicidade. O que distingue o uso do costume é que o uso não tem convicção da
juridicidade. O Direito consuetudinário está, no CC, tratado no art. 348º. Para que o costume seja
relevante na sociedade, não é necessária a consagração legal do mesmo, dado que isso pressuporia
uma subordinação do costume à lei, o que não se verifica. O costume só deixa de vigorar quando
desaparece algum dos seus elementos ou quando se forma um costume contrário. Ao contrário da lei,
que pode ser eficaz ou ineficaz, o costume só pode ser eficaz, dado que se for ineficaz, deixa de ser
costume. José Silva não pode impedir a transmissão.

3. Durante o 13.º Concurso de Bandas de Garagem da Faculdade de Direito da Universidade da


Lousã, Milú – uma simpática cadela propriedade de Zé, que este leva para todos os concertos –
rói o baixo de João, baixista da Banda do Zé, danificando-o. No fim do concerto, farto das
atitudes de diva de Zé, João despede-se da Banda do Zé. Mal acorda na manhã seguinte, João
consulta Bonifácio, um advogado da terra: quer exigir a Zé uma indemnização pelos danos
causados pela sua cadela. O advogado fica confuso. Sabia que havia um costume segundo o
qual os donos dos animais podem ser responsabilizados pelos danos causados por estes.
Porém, ao folhear o Código Civil, depara-se com o artigo 502.º. Fica confuso, pois não sabe
afinal «qual das duas regras aplicar». Bonifácio tinha feito a cadeira de Introdução ao Estudo do
Direito há muito tempo e dizia com algum orgulho «não ter paciência para essas coisas
teóricas». No entanto, confrontado com a necessidade de sustentar a pretensão de João,
pergunta-lhe a si: «afinal, o que é que eu aplico?».

Resolveu-se perante o costume praeter legem – o costume complementa a lei, ou seja, vai para além
daquilo que esta dispõe. Há uma complementaridade do costume perante a lei fazendo dele uma nova
fonte de direito. A lei é mais restrita e o costume é mais amplo. O costume tem como vantagens o facto
de implicar uma maior adaptação à evolução social, mas tem como desvantagens a sua maior incerteza,
na medida em que, ao exprimir uma ordem espontânea da sociedade, acaba por ser de prova difícil. A lei
implica uma maior certeza e adequação, enquanto instrumento de regulação, no entanto, a sua rigidez,
por vezes, impede-a de acompanhar a evolução social.

4. É prática bancária comum que nos contratos celebrados entre os bancos e clientes
analfabetos a assinatura dos contratos seja substituída pela aposição da impressão digital
destes últimos. Ninguém considera válido um contrato celebrado com um analfabeto se dele não
constar a impressão digital deste, mas também ninguém contesta a validade de um contrato ao
qual seja aposta a impressão digital do cliente analfabeto em substituição da sua assinatura. O
artigo 4.º do Decreto-Lei n.º x/2009, de 4 de dezembro, determina que «1 – O contrato de
abertura de conta deve ser assinado pelo cliente ou por seu representante; 2 – O número
anterior aplica-se, sem exceção, às situações em que o cliente seja analfabeto, ou por qualquer
outra causa não tenha a possibilidade de assinar o contrato». Dia 15 de dezembro do mesmo
ano, a Senhora S vai ao Banco B, pretendendo celebrar um contrato de abertura de conta. M,
seu marido, tinha-lhe dito que, apesar de S não saber ler nem escrever, não haveria problema,
pois a assinatura do contrato poderia ser substituída pela sua impressão digital. O funcionário do
Banco B celebrou o contrato com a Senhora S. Afinal, há anos que trabalhava no sector bancário
e sempre tinha sido assim que se celebravam contratos de abertura de conta com clientes
analfabetos. Para além disso, não tinha memória de alguma vez ter sido posta em causa a
validade dos contratos assim celebrados. O contrato celebrado entre S e B é válido?

Do art 3º, nº 1 CC resulta que o costume é uma fonte mediata de direito porque os “usos que
não forem contrários aos princípios da boa fé são juridicamente atendíveis quando a
lei o determine”.

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