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Nº156 / DEZEMBRO 2023 (MENSAL)

EM FOCO
Experis
«Estamos a entrar numa
nova Human Age»

HR TALKS
Good Training
Desenvolver competências:
um tema de todos

HR INSIGHTS, EGON ZEHNDER

APROVEITAR O POTENCIAL
DOS GESTORES DE PESSOAS
NA ADOPÇÃO DA IA
ENTREVISTA GESTORA DE PESSOAS BARÓMETRO EM DIRECTO

JUAN OLIVERA INÊS CALHABÉU 50.ª EDIÇÃO JOE MULL


CEO Directora de Recursos Humanos Quais as prioridades para 2024, Fundador
Ericsson Portugal Cimpor para gestores de Pessoas e CEO BossBetter Leadership Academy
Editorial
Conselho Editorial
Ana Gama Marques · Ana Porfírio · Ana Rita Lopes · António Henriques
Carla Gouveia · Catarina Horta · Catarina Tendeiro · Clara Trindade · Diogo Alarcão
Elsa Carvalho · Felipa Oliveira Serrão · Fernando Neves de Almeida
Francisco Viana · Gonçalo Rebelo de Almeida · Inês Madeira · Isabel Barros
Isabel Borgas · Isabel Heitor · Joana Queiroz Ribeiro · João Zúquete da Silva
Marco Serrão · Margarida Cardoso · Maria João Martins · Nuno Ferreira Morgado
Nuno Ribeiro Ferreira · Nuno Troni · Paula Carneiro · Paulo Pisano
Pedro Fontes Falcão · Pedro Ramos · Pedro Raposo · Pedro Ribeiro
Pedro Rocha e Silva · Sara Silva · Susana Silva · Teresa Cópio
por: Teresa Nascimento · Tiago Brandão · Vanda Jesus · Vera Rodrigues
Director
Ricardo Florêncio Ricardo Florêncio · ricardo.florencio@hrportugal.pt
Directora de Redacção
Ana Leonor Martins · leonor.martins@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 454
ricardo.florencio@multipublicacoes.pt Redacção e Online
Tânia Reis · Margarida Lopes · Ana Alves (tradução e revisão)
André Manuel Mendes · Beatriz Caetano · Francisco Laranjeira
Pedro Gonçalves · Rita Paz · Sandra M. Pinto
Colaboradores
David Piedade · Paulo Mendonça · Sara Afonso
Nesta edição: Ana Porfírio · Elsa Carvalho · Maria João Gomes
Paulo Miguel Martins · Rita Oliveira Pelica · Rui Lança
Acordos Internacionais e Exclusivos
Human Resources UK · Management Today · MIT Sloan Management Review
Arte
Projecto Gráfico DesignGlow · Editor de Arte Joana Carvalho
Fotografia
NC Produções · Basic Method – Broadcast Services · Getty Images
Assinaturas

Uma verdadeira
assinaturas@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 400 · Fax. 210 123 444
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Tiragem média 14.000 exemplares · Periodicidade Mensal
Impressão e Acabamento Lidergraf – Sustainable Printing

encruzilhada...
Rua do Galhano, n.º 15 – 4480-089 Vila do Conde
Distribuição VASP – Distribuidora de Publicações Lda. MLP Media Logistics Park,
Quinta do Grajal – Venda Seca – 2739-511 Agualva Cacém
Estatuto Editorial
https://hrportugal.pt/estatuto-editorial/

uando tentamos elaborar quais serão as perspectivas e ten- Morada da Sede, Editor e Redacção
Rua Cidade de Rabat, n.º 41 B – 1500-159 Lisboa
dências que vão marcar os próximos tempos neste ecossis- Tel. 210 123 400 · Fax. 210 123 444 · geral@multipublicacoes.pt
tema da Gestão de Pessoas, apercebemo-nos de que a lista vai NIPC: 506 012 905 · CRCL: 11061
Conselho de Administração
crescendo, tornando-se cada vez mais extensa, tal a complexi- Ricardo Florêncio – CEO
dade crescente do contexto em que se integra. E quando se ten- Assistente de Direcção
Michelle Herculano · michelle.herculano@multipublicacoes.pt
ta definir o que cada um implica, percebe-se que os temas es- Tel. 210 123 400
tão tão interligados uns aos outros, e que, na verdade, se tor- Comercial e Publicidade
Tel. 210 123 413 · Fax. 210 123 444 · publicidade@multipublicacoes.pt
na quase impossível estabelecer algum tipo de ordem de prioridades. Margarida Sousa (Directora de Publicidade)
Pode-se assim afirmar que estamos mesmo perante uma encruzilhada. As margarida.sousa@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 413
Gestores de Conta
transformações que os modelos de trabalho trouxeram às organizações, a Tânia Rodrigues · tania.rodrigues@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 441
introdução de todo o tipo de inteligência artificial, o desenvolvimento tec- Paula Cristina Leitão · paula.leitao@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 424
Marketing e Comunicação
nológico, a necessária formação e adequação das pessoas a novas realidades, marketing@multipublicacoes.pt · Tel. 210 123 441
o modo como as lideranças lidam – ou não conseguem lidar – com todas estas Filipa Pereira (Marketing Manager) · filipa.pereira@multipublicacoes.pt
Tel. 210 123 412
mudanças são apenas algumas das “estradas” que estamos a percorrer. A Paula Rodrigues (Events Manager) · paula.rodrigues@multipublicacoes.pt
Tel. 210 123 441
questão da fiscalidade, os salários, a atracção dos talentos, a motivação ou Sónia Almeida (Marketing Assistant) · sonia.almeida@multipublicacoes.pt
o combate à desmotivação, a falta de mão-de-obra generalizada são outras. Tel. 210 123 418
Francisca Garcias (Marketing Assistant) · francisca.garcias@multipublicacoes.pt
Mais ainda: o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional, as diversas Tel. 210 123 432
questões da saúde-mental... São muitos os ângulos presentes no dia-a-dia das Financeira e Administrativa
Teresa Vultos · teresa.vultos@multipublicacoes.pt (Manager)
empresas, e que é preciso que não caiam em “ângulo morto”. Marisa Silvestre · marisa.silvestre@multipublicacoes.pt (Assistente)
A lista de temas é infindável. E tudo isto num clima de incerteza, em que Operações
José Sousa (Operations Manager) · (jose.sousa@multipublicacoes.pt)
as empresas perspectivam o seu futuro com alguma moderação e outras Tel. 210 123 464
mesmo apreensão, pois os resultados têm de continuar a aparecer, e a pro- Proprietários com mais de 5% do Capital Social
AMLC, SA · Gonçalo Dias · Manuel Lopes da Costa · Ricardo Florêncio
dutividade continua a assumir um papel deveras importante.
Sim, estamos perante uma encruzilhada, e todos temos de estar em-
penhados em trazer as melhores soluções.

4 Human Resources Portugal Dezembro 2023


DÁ ESPAÇO
À PARTILHA
Conselheira

PESSOAS EM
ESTADO LÍQUIDO

Os gestores de Pessoas têm o desafio de promover a transição do


“sólido” para o “líquido” nas suas políticas e práticas de gestão, porque
o líquido chega a lugares onde o sólido não chega, capacitando-nos
para a gestão da mudança e para a gestão do desconhecido.

e acredito que continuaremos a mudar cias que sejam adaptáveis, que possam
à medida que a nossa envolvente tam- ser facilmente transferíveis e aplicáveis
Ana Porfírio bém se altera. O mundo globalizado em a diferentes contextos.
Directora de Recursos plena interconexão, onde uma mudan- O “Liquid Learning”, outro concei-
Humanos da Jaba Recordati ça numa determinada geografia impacta to emergente e complementar às “Li-

O
rapidamente todo o globo, entrou em “to- quid Competences”, aponta para abor-
sociólogo Zygmunt Bauman lerância zero” para com pessoas e orga- dagens mais flexíveis e adaptáveis à
introduziu o conceito de “mo- nizações cristalizadas ou “sólidas”. A aprendizagem e formação, que deve ser
dernidade líquida” no final do metáfora do “Efeito Borboleta” nunca foi entendida como necessária ao longo de
século XX para descrever a tão real e de impacto tão rápido e trans- toda a vida de trabalho. Isto implica a
instabilidade e a incerteza patente numa versal como hoje. utilização de diferentes formas de trans-
sociedade caracterizada pela mudança Por todos estes motivos, as organiza- ferência de conhecimento, tecnologias,
constante e a forma como nos afecta a ções necessitam de arquitecturas e es- meios e metodologias, o que permitirá
todos enquanto seres sociais. truturas cada vez mais “líquidas”, assim uma aprendizagem mais personaliza-
Esta expressão, “líquida”, é utiliza- como uma força de trabalho também ela da e fluída.
da de forma metafórica para ilustrar a “líquida”, onde a capacidade de cada pes- Enquanto gestores de Pessoas, temos
mudança das instituições, estruturas so- soa e das organizações carece de adap- o desafio de promover esta transição do
ciais e outras, de um posicionamento es- tações rápidas às mudanças, sejam elas “sólido” para o “líquido” nas nossas prá-
tável ou “sólido” para um estado fluído, de contexto, tecnológicas, de mercado ou ticas de gestão, políticas, procedimen-
ou “líquido”, sujeito a mudanças rápi- novas capacidades. tos e planos, e aí permanecer, porque o
das e constantes. A emergência de “Liquid Competen- líquido chega a lugares onde o sólido não
No que à Gestão de Pessoas diz respei- ces” é fundamental, uma vez que estas per- chega, consegue influenciar e impactar
to, entendo que nos encontramos peran- mitem que as pessoas e organizações na- os outros, as equipas, a organização, o ne-
te a necessidade desta liquidificação. veguem e tenham sucesso nestes ambien- gócio, o mercado e até o contexto de for-
Quando pensamos nos efeitos dos tes dinâmicos e incertos. mas que o sólido não consegue. Acima
acontecimentos dos últimos anos e do Num mundo em rápida mudança, a de tudo, capacita-nos para a gestão da
presente na forma como consumimos, es- capacidade de aprender, desaprender e mudança e para a gestão do desconhe-
tamos em sociedade, trabalhamos e ge- reaprender torna-se crucial. Pessoas e cido que acredito ser cada vez mais o
rimos, verificamos enormes alterações, organizações necessitam de competên- nosso dia-a-dia.

6 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Conselheira

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL:
A REDEFINIÇÃO DO PAPEL
DO GESTOR DE PESSOAS
A inteligência artificial desempenha um papel cada vez mais crucial
nos processos empresariais, e também na Gestão das Pessoas.
A questão que se coloca é se a IA pode colocar em risco a relevância
dos gestores de Pessoas, ou se ela redefine o seu papel.

Nesta mudança, destaco a importân- contextos onde é necessário um toque


cia das chamadas human skills. As human humano, como conflitos interpessoais,
Elsa Carvalho skills, envolvendo relações interpessoais, bem-estar emocional e decisões éticas.
Head of Business empatia e liderança, são cada vez mais Se pensarmos na Filosofia de Epicuro
Development da WTW críticas e fundamentais na gestão. Deste e na procura da felicidade, onde equilí-
modo, é aqui que a verdadeira conexão brio, liberdade e tempo eram variáveis
«Não acrescentes dias à tua humana encontra o seu espaço. Assim, críticas, a verdadeira felicidade resulta da
vida, mas vida aos teus dias.» se os algoritmos são preditivos, a compo- qualidade de vida percepcionada. Deste
Epicuro (341–271 a.C.) nente relacional, o toque humano e as modo, poderá a IA ser uma aliada nas nos-
emoções geradas não parecem, para já, sas vidas para uma percepção de maior

A
ser totalmente programáveis. felicidade, ao permitir libertar tempo para
inteligência artificial (IA), No cenário actual, onde o digital e o actividades mais significativas?
longe de ser uma ameaça, físico não são só complementares, mas Nesta nossa caminhada, onde vamos
deverá ser vista como uma parecem caminhar numa intensa sim- reflectindo sobre o significado da vida, a
ferramenta valiosa pela sua biose, a gestão das pessoas tem espaço busca pela felicidade e a importância do
capacidade de automatizar tarefas roti- para evoluir para uma nova era de com- equilíbrio nas escolhas que fazemos, ter-
neiras e repetitivas, permitindo que os preensão emocional, relacionamento in- mino igualmente com Epicuro: «Não é
gestores direccionem a sua atenção para terpessoal e propósito partilhado. O ges- o homem que tem muito, mas o homem
actividades mais estratégicas e de maior tor de Pessoas é fundamental para lidar que aprecia o que tem, que é verdadei-
valor. Adicionalmente, oferece insights com questões complexas e delicadas em ramente rico.»
valiosos sobre o desempenho dos colabo-
radores, sobre as suas necessidades e pre-
ferências, possibilitando aos gestores to- A IA não substitui o papel humano na
marem decisões mais informadas, perso-
nalizadas e impactantes.
gestão das pessoas, mas vem redefini-lo,
Assim, a IA não substitui de todo o pa-
pel humano na gestão das pessoas, mas
permitindo uma maior concentração
vem redefini-lo, permitindo uma maior na gestão de emoções e propósito.
concentração na gestão de emoções e pro-
pósito do que em processos operacionais.

8 Human Resources Portugal Dezembro 2023


40
dos CEOs das
maiores instituições
%

são Alumni
Ninguém tem os números do ISEG Mestrados
Curioso, não é? 4 em 10 dos CEOs das maiores instituições financeiras em PT são
Alumni do ISEG. E isto para não falar num outro número, tão ou mais curioso, no qual
o ISEG também vai à frente, por assim dizer: ex-ministros das finanças. Um campeonato,
de resto, no qual já levamos dois... de avanço, digamos assim. Mas enfim, com uma
das maiores e mais diversificadas redes globais de antigos alunos em Portugal e no
mundo, estávamos à espera do quê?

iseg.ulisboa.pt
Conselho
Editorial

Ser bom tecnicamente é


diferente de ser bom chefe
Os resultados do 50.º Barómetro Human Resources, que apresentamos nesta edição,
revelaram um dado preocupante: 80% dos especialistas do painel afirmaram que
as lideranças em Portugal não estão preparadas para enfrentar os desafios que se
avizinham. O tema foi motivo de debate em mais um almoço do Conselho Editorial.
POR Ana Leonor Martins | FOTOS Nuno Carrancho

P
ara contextualizar, à pergunta “as lideranças estão ser bem-sucedido no trabalho é preciso ter um título de lide-
preparadas para enfrentar os desafios que se avizi- rança». E «andámos a promover profissionais que eram muito
nham?”, 40% responderam que “não, só uma mino- bons tecnicamente, mas sem avaliar as suas competências de
ria”, 38% disseram que “sim, mas a maioria vai pre- liderança, sendo que uma coisa não implica a outra». Depois de
cisar de actualizar as competências”, e 2% respon- se concluir que uma pessoa não tem perfil de liderança, «não há
deram que “não”. Reconhece-se que são percentagens preocu- muitos mecanismos para voltar atrás». Assim, defende-se criar
pantes, mas nada que espante os profissionais à volta da mesa – e novas formas de valorizar as pessoas e as suas carreiras, sem
será também importante fazer notar que o painel do Barómetro ser através da atribuição de uma função de chefia. «Não é fá-
Human Resources é maioritariamente constituído por grandes cil, porque, principalmente quem entra agora, quer uma pro-
empresas. E não espanta porque «as exigências estão a mudar cada gressão muito rápida.»
vez mais depressa», e «são precisas novas competências» e «no- O último almoço de 2023 do Conselho Editorial da Human
vas formas de gerir». Por outro lado, «nota-se alguma resistên- Resources realizou-se no Vila Galé Ópera, em Lisboa. Esti-
cia e falta de preparação para gerir as gerações mais novas, que veram presentes os conselheiros: Ana Gama Marques (Altice),
têm outra forma de estar no trabalho». Em outras lacunas, iden- Ana Porfírio (Jaba Recordati), Catarina Tendeiro (Hovione),
tifica-se a «dificuldade em dizer “não” e em dar “más notícias”». Nuno Troni (Randstad), Pedro Rocha e Silva (Neves de Al-
Não menos importante é o facto de ainda termos uma cul- meida HR Consulting), Sara Silva (L’Oréal), Susana Silva (El
tura muito focada no título, «continua a achar-se que para se Corte Inglés) e Vanda de Jesus (iCapital).

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LOCAL
Vila Galé Ópera
Lisboa

Pedro Rocha e Silva, Neves


de Almeida HR Consulting

Sara Silva, L’Oréal

Ana Gama Marques, Altice

Catarina Tendeiro, Hovione

Nuno Troni, Randstad

Ana Porfírio, Jaba Recordati Vanda de Jesus, iCapital

Susana Silva, El Corte Inglés

Human Resources Portugal 11


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Human Resources Portugal

Radar

ESTUDO mesmo o sector com a maior descida en-


tre trimestres.

HÁ TRÊS SECTORES QUE SE Com uma projecção de +34% encon-


tra-se o sector da Energia e Utilities que,

DESTACAM NAS INTENÇÕES apesar de se manifestar com um sentimen-


to optimista, apresenta uma descida con-
siderável de 12 pontos e nove percentuais
DE CONTRATAÇÃO EM 2024 face ao trimestre passado e ao período
homólogo de 2023, respectivamente
Igualmente com uma projecção de
+34%, o sector das Finanças e Imobiliá-
As intenções de contratação dos empregadores rio estabiliza em relação ao último trimes-
portugueses revelam-se positivas, com 42% das tre do ano 2023, com o aumento de ape-
empresas a antever aumentar as suas equipas no nas um ponto percentual. Segue-se o sec-
próximo trimestre, face a 14% que prevê reduzir e a 41% tor dos Cuidados de Saúde e Ciências da
Vida, com uma projecção de +29%, que
que planeia manter o número actual de colaboradores. revela um decréscimo de nove pontos per-
centuais face ao trimestre passado, mas

O
um aumento acentuado de 23 pontos
s dados são do Manpower- de +57%. Esta é a mais elevada no sector percentuais relativamente ao mesmo pe-
Group Employment Outlook português das TI em oito trimestres, re- ríodo do ano passado.
Survey e reflectem uma pro- montando ao primeiro trimestre de 2022 Os empregadores do sector da Indús-
jecção para a criação líquida (+67%). Globalmente, Portugal revela-se, tria Pesada e Materiais, revelam também
de emprego de +28% para o primeiro tri- assim, o terceiro país com a maior projec- intenções de contratação sólidas, com uma
mestre do próximo ano. Este valor, já ajus- ção neste sector, superando a média glo- projecção a situar-se nos +24%, uma des-
tado sazonalmente, traduz uma descida bal em 21 pontos percentuais. cida de 12 pontos percentuais face aos três
de sete pontos percentuais face ao trimes- O segundo sector mais optimista é o meses anteriores, mas um aumento 11 pon-
tre anterior, mas um aumento considerá- dos Serviços de Comunicação, com uma tos percentuais, na comparação com a
vel de 16 pontos percentuais quando com- projecção de +50%, que traduz uma subi- projecção do primeiro trimestre de 2023.
parado com o período homólogo de 2023. da considerável, de 12 pontos percentuais, Com a projecção menos optimista, o
Estes valores posicionam Portugal relativamente ao trimestre anterior, e de sector dos Bens e Serviços de Consumo
dois pontos percentuais acima da média 32 pontos percentuais, quando compa- fixa-se nos +14%, registando uma redução
global e cinco pontos percentuais acima rada com o período homólogo de 2023. de 12 pontos percentuais face ao quar-
da região EMEA (Europa, Médio Oriente O sector dos Transportes, Logística e to trimestre de 2023. Em contrapartida,
e África). Portugal é, no entanto, o 5.º Automóvel avança igualmente com pers- este valor revela um aumento acentua-
país a apresentar a maior redução tri- pectivas animadoras quanto à criação de do de 22 pontos percentuais relativamen-
mestral a nível global e o 2.º a nível da re- emprego, sinalizando uma projecção ro- te ao período homólogo de 2023, quando
gião EMEA. busta, de +36%. Este valor traduz, no en- o sentimento dos empregadores face à
tanto, uma redução de 13 pontos percen- evolução no consumo tinha atirado a pro-
POR SECTOR tuais face ao trimestre anterior, sendo jecção para valores negativos, com -8%.
Os empregadores dos nove sectores ana-
lisados em Portugal esperam aumentar
as suas equipas nos primeiros três meses
de 2024, mas apenas três apresentam in-
tenções de contratação mais optimis-
tas quando comparadas com as do tri-
mestre anterior.
É o sector das Tecnologias da Infor-
mação que apresenta as intenções de con-
tratação mais dinâmicas, com uma pro-
jecção para a criação líquida de emprego

12 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Radar

SALÁRIOS
OS PAÍSES EUROPEUS COM OS SALÁRIOS
MAIS ALTOS (E MAIS BAIXOS)
Suíça e Islândia são dois dos países com salários mais elevados na UE e na zona euro,
enquanto a Bulgária e a Roménia têm as remunerações mais baixas, noticia o Euronews.

Apesar de uma forte legislação laboral europeia, quando se No seu relatório, o Eurostat destaca que o custo horário
trata de salários e remunerações entre os Estados-Membros médio da mão-de-obra na UE foi de 30,5 euros. Os salários
da UE, ainda existem variações significativas. De acordo com médios anuais dos trabalhadores solteiros sem filhos ascen-
o Eurostat, em 2022, o salário médio anual variou entre 106 deram a 26 136 euros. Já os casais que trabalham e têm dois
800 euros na Suíça e 12 900 euros na Bulgária. filhos ganham em média 55 573 euros anuais. O gap salarial
Em 2022, os países que pagaram mais foram a Suíça (106 não ajustado entre homens e mulheres era de 12,7% em 2021,
800 euros), a Islândia (81 900 euros), o Luxemburgo (79 900 sendo a maior disparidade observada na Estónia, com 20,5%,
euros), a Noruega (74 500 euros) e a Bélgica (70 200 euros), e a menor no Luxemburgo, com -0,2%.
enquanto no lado oposto estão a Bulgária (12 900 euros), a Os sectores mais bem pagos são o financeiro, seguros, ener-
Roménia (14 500 euros), Croácia (17 800 euros), Hungria (18 gia, mineração, tecnologias da informação, retalho e educação.
200 euros) e Polónia (18 100 euros). Portugal está em 19.º lugar No outro extremo, os sectores com salários mais baixos ten-
da tabela com um salário médio anual de 26 mil euros. dem a ser os de apoio administrativo, hotelaria e construção.
NOTÍCIAS DIÁRIAS EM
www.hrportugal.pt

Radar

São Francisco (37.ª posição no ranking


global) ficou em primeiro lugar nos Esta-
dos Unidos devido às suas infra-estruturas
bem desenvolvidas, ao clima agradável e à
excelente qualidade do ar. Montevideu (89.ª
posição no ranking global) é a cidade com
melhor classificação na América Latina.
Dubai (79.ª posição no ranking global)
e Abu Dhabi (84.ª posição no ranking glo-
bal), nos Emirados Árabes Unidos, lide-
ram a classificação no Médio Oriente, am-
bos conhecidos pelas suas infra-estrutu-
ras modernas e comunidades de expatria-
dos diversificadas. Logo a seguir está Port
Louis (88.ª posição no ranking global),
com a melhor qualidade de vida em África.
Singapura está na primeira posição en-
tre as cidades asiáticas e na 29.ª no ranking
global, oferecendo um ambiente limpo e se-
guro, combinado com infra-estruturas alta-
RANKING mente eficientes. A cidade com melhor clas-
sificação no Pacífico é Auckland (terceira
LISBOA É A 39.ª CIDADE posição no ranking global), devido aos
cuidados de saúde e ao cenário cultural.
COM MELHOR QUALIDADE Entre as maiores áreas metropolitanas
do mundo, com uma população superior a
DE VIDA PARA EXPATRIADOS 10 milhões de habitantes, Paris (32.ª po-
sição no ranking global), Nova Iorque (40.ª
posição no ranking global) e Londres (45.ª
posição no ranking global) ocupam as
O ranking “Qualidade de vida” da Mercer revela que primeiras posições no top 20 das cida-
Viena se mantém na primeira posição, seguida de des em geral.
perto por Zurique, Auckland, Copenhaga e Genebra Embora sejam locais cobiçados e po-
a ocuparem o restante top 5. Lisboa e Porto surgem na pulares para os expatriados, as cidades
desta dimensão enfrentam frequentemen-
39.ª e 55.ª posição do ranking global, respectivamente.
te um conjunto de desafios em termos de in-
fra-estruturas e de qualidade de vida geral.

C
Em resposta ao interesse das empre-
onsiderando apenas as cida- O ranking, que avalia os aspectos práti- sas pela sustentabilidade, a Mercer clas-
des europeias, Lisboa é a 24.ª cos do quotidiano dos expatriados e das suas sificou nesta edição do Ranking de Quali-
cidade europeia com melhor famílias que trabalham fora do seu país dade de Vida as cidades mais amigas do
qualidade de vida enquanto o de origem, realça ainda mais a reputação da ambiente do mundo. Camberra, Oslo, Ade-
Porto ocupa a 33.ª posição. Suíça de proporcionar uma qualidade de laide, Helsínquia e Otava obtiveram clas-
De acordo com o ranking da Mercer, vida superior, com duas cidades no top 5. sificações elevadas devido a uma série de
para o posicionamento global de Lisboa e Vancouver (oitava posição no ranking esforços recentes em matéria de sustenta-
Porto contribui o facto de Portugal en- global) é a cidade com melhor classificação bilidade, incluindo medidas eficazes para
frentar uma crise habitacional, agravada na América do Norte este ano, proporcio- reduzir a poluição atmosférica e melhorar
pela escalada da inflação, que leva a uma nando aos seus residentes uma mistura a disponibilidade e a potabilidade da água.
oferta limitada de imóveis para arrenda- única de actividades de lazer ao ar livre e Na lista de cidades mais amigas do am-
mento, tendo-se tornado difícil encontrar vida cosmopolita, contribuindo para o seu biente, Lisboa e Porto surgem na 45.ª e 67.ª
alojamento a preços acessíveis. estilo de vida de alta qualidade posição, respectivamente.

14 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Radar

A JORNADA DO INTRAEMPREENDEDOR

XEQUE-MATE CORPORATIVO: O JOGO


DO INTRAEMPREENDEDORISMO
NO TABULEIRO EMPRESARIAL
No tabuleiro dinâmico do mundo empresarial, onde cada movimento conta, o
intraempreendedorismo surge como uma peça-chave para a(s) vitória(s) corporativa(s): fazer
“xeque-mate corporativo” significa cavalgar as ondas das oportunidades, numa dinâmica de
observação constante e de derrube de obstáculos. De xeque em xeque. POR Rita Oliveira Pelica

A
prendi, aos 12 anos, a jogar xa- qual Rei e Rainha descem do seu pedes- tagem; os intraempreendedores têm a
drez. Não porque fosse uma tal e entendem a necessidade de um es- coragem para desafiar o status quo, mo-
tradição de família, mas por- forço colectivo. vendo-se com audácia para explorar no-
que suscitou a minha curio- Tal como um tabuleiro apresenta qua- vas ideias e abordagens.
sidade. Corri para a Feira do Livro e com- tro lados, pode ser feito um paralelismo É preciso encorajar as lideranças a enca-
prei o “Xadrez sem Mestre”, ainda sem sa- entre as competências fundamentais do rar as organizações como tabuleiros vivos,
ber que a isto se chamaria, anos mais tarde, jogador de xadrez e do colaborador intra- nas quais cada movimento estratégico pro-
ser autodidacta. Hoje, entendo a impor- empreendedor em quatro passos: 1) Visão move uma cultura intraempreendedora.
tância de saber jogar o jogo corporativo estratégica: um hábil jogador de xadrez Não esperemos sentados pelos Cavalos de
e do quão importante é pensar de forma antecipa os movimentos dos adversários, Tróia. A liderança, qual mestre xadrezis-
estratégica e de ter capacidade de ante- planeando estrategicamente cada jogada; ta, deve saber “preparar o terreno” (o ta-
cipação de problemas. Ou de, pelo menos, colaboradores empreendedores têm uma buleiro) e orquestrar os movimentos estra-
os resolver quando estes surgirem. visão estratégica, antecipando desafios e tégicos para optimizar o potencial de cada
Há pouco tempo, voltei a jogar xadrez, identificando e explorando oportunidades peça. Com possibilidades de movimentação
desta vez influenciada pela Netflix e pelo para a empresa; 2) Capacidade de rápida diferentes, como na vida real, uns “mais a di-
“Gambito de Dama”. Há que saber fazer adaptação: no xadrez, a habilidade de adap- reito”, outros pelas “diagonais”, cada peça
certos sacrifícios, claro. Dei por mim a pen- tação às mudanças no tabuleiro é crucial ocupará a sua posição e terá o seu papel.
sar como o xadrez, enquanto jogo clássico para se superarem desafios inesperados; O jogo do xadrez e o intraempreende-
e intemporal, espelha a complexidade e a os colaboradores empreendedores adap- dorismo entrelaçam-se como aliados indis-
diversidade dos tempos modernos, que ac- tam-se rapidamente às mudanças no am- pensáveis. Ao adoptarem esta abordagem
tualmente se vive nas organizações. Cada biente empresarial, transformando os de- integrativa, as empresas tornam-se mestres
colaborador, é (ou, melhor dizendo, deve- safios em oportunidades: 3) Versatilidade na arte do crescimento sustentado, alicer-
ria ser) uma peça fundamental no tabu- e inovação: no xadrez, diferentes peças, tal çado na melhoria contínua, num registo
leiro, contribuindo com o seu chá – leia-se como os cavalos, destacam-se pela versa- de constante proactividade e ousadia.
conhecimento, habilidades e atitudes. tilidade de movimentos, explorando dife- Todos aos seus lugares e que comece
O jogo intraempreendedor deve fundir rentes trajectórias; os intraempreendedo- a partida! E se... se começasse a ensinar a
“o lado bom” da tradição com “o melhor res são pessoas versáteis, explorando no- jogar xadrez, nas organizações?
lado” da inovação. Identificando potenciais vas abordagens, nem sempre lineares, e
Cavalos de Tróia e definindo estratégias trajectórias inovadoras para resolver pro-
Rita Oliveira Pelica
que permitam a todos os ”peões” (cavalos, blemas; 4) Coragem e audácia: no xadrez, Chief Energy Officer ONYOU
bispos e torres incluídos) dar o seu con- um jogador corajoso arrisca, movendo as & Portugal Catalyst – The
tributo. Esta é uma visão colaborativa, na suas peças com audácia para ganhar van- League of Intrapreneurs

Human Resources Portugal 15


Radar

DICAS DIVERSIDADE
COMO INCLUIR
CINCO FORMAS DE PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA NA
MELHORAR O EMPLOYEE ORGANIZAÇÃO
EFICAZMENTE
ENGAGEMENT
Através da investigação, a Ac-
Segundo o último estudo da Gallup, 44% dos trabalhadores centure e a Disability:IN, organi-
zação que promove a igualdade,
de todo o mundo afirmam estar stressados. Ainda que o desenvolveram uma estrutura
pico tenha sido alcançado em 2021, os níveis de stress para ajudar os líderes empresa-
já vinham a aumentar há uma década. Assim, cresce a riais a tornarem-se mais inten-
cionais relativamente à inclusão
importância de melhorar o employee engagement. de pessoas com deficiência.

1. Acesso: As organizações de-

A
vem eliminar as barreiras e pro-
pesquisa mostra que os tra- porcionar igualdade de acesso às
balhadores empenhados têm oportunidades de emprego para
menos probabilidades de de- pessoas com deficiência, incluin-
do o recrutamento, a contratação
clarar sentir stress do que os e a progressão na carreira.
colegas menos empenhados, o que signi-
fica que as organizações devem concen- 2. Sensibilização: Os líderes de-
trar-se no engagement. vem aumentar a conscienciali-
zação sobre as deficiências para
que as organizações possam fo-
Fale com os gestores mentar uma cultura de empatia
Os gestores têm mais probabilidades de e respeito, desafiar os estereó-
se sentirem esgotados e desmotivados do tipos e promover também uma
que as suas equipas. Certifique-se de que Dê prioridade à promoção da missão mentalidade mais inclusiva entre
os colaboradores.
estão mentalmente bem para o novo ano: e do objectivo
R Melhore a comunicação da direcção; Os colaboradores remotos têm uma liga- 3. Defesa: As organizações de-
R Forme e desenvolva os gestores; ção cada vez menor à organização. Isto vem criar um ambiente em que
R Estabeleça um apoio de coaching para significa os gestores excepcionais devem as pessoas se sintam à vontade
para revelar as suas deficiências
evitar o burnout, como por exemplo uma comunicar claramente a missão e o objec-
e formar redes de colaborado-
conversa semanal; tivo da organização, associando-os ao tra- res, ajudando a amplificar as suas
R Crie uma comunidade de responsabi- balho diário de cada membro da equipa. vozes e a garantir que as suas
lidade partilhada. perspectivas são ouvidas.
Avalie o engagement
4. Acção: Ao integrar várias ini-
Prepare os gestores para terem conversas Isso indica aos colaboradores que se preo- ciativas de inclusão de pessoas
importantes com os colaboradores cupa com o seu feedback. Um inquérito so- com deficiência sob uma única
Eis as cinco principais características bre o engagement ajudará os colaborado- égide, as organizações podem
deste tipo de conversas: res a comunicar as suas necessidades e os garantir que trabalham em har-
monia para criar um local de tra-
R Reconhecimento ou apreciação; gestores a saber a que necessidades de-
balho mais acessível e equitativo.
R Colaboração e relacionamentos; vem dar prioridade.
R Objectivos e prioridades actuais 5. Responsabilidade: As orga-
no trabalho; Tome medidas com base nos resultados nizações devem ser capazes de
R Duração: entre 15 e 30 minutos, mas do inquérito
medir o seu progresso e partilhar
o que aprenderam para demons-
apenas se acontecer com frequência; É necessário agir com base nos resulta- trar o seu empenho e dedicação
R Pontos fortes do colaborador ou as dos obtidos, caso contrário poderá cau- à melhoria da inclusão de pes-
tarefas que faz bem. sar mais danos do que benefícios. soas com deficiência.

16 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Radar

LIÇÕES DA SÉTIMA ARTE


UM “TETRIS” DE IDEIAS
Na lista das nomeações aos Óscares aparecem,
por vezes, surpresas, e este filme poderá ser um
desses casos. Baseado numa história real, “Tetris”,
de Jon S. Baird e com Taron Egerton e Nikita Efremov
nos principais papéis, narra as múltiplas peripécias que
tornaram possível que o jogo Tetris seja, ainda hoje,
um dos mais jogados e mais lucrativos desta indústria.
POR Paulo Miguel Martins

Em 1988, Henk Ro- da União Soviética. Decide ir até lá para o apoio da família. Ela estimula-o a con-
gers, um neerlan- falar com ele e resolver tudo “cara a cara”, tinuar, apesar das falhas, motivando-o a
dês residente nos pois uma companhia britânica ligada ao tentar reforçar a vida familiar através do
Estados Unidos da magnata dos mass media Robert Maxwell projecto profissional, e é graças à sua mu-
América (EUA) e também estava interessada em ficar com lher que consegue no início um financia-
a trabalhar para o jogo em sua posse. mento importante; o segundo factor é o
uma empresa de A sua ida à Rússia em pleno período da saber fazer aliados onde menos seria de
jogos electrónicos, Guerra Fria vai ser um desafio, que con- esperar, tratando as pessoas com respei-
vai até Las Vegas segue vencer graças às conversas que in- to. Neste caso, uma funcionária do regi-
para uma feira na siste em manter. Quando fala com o cria- me soviético, maltratada e humilhada pe-
área de produtos para computadores, dor do jogo, dá-se conta de que ambos las chefias, não hesitará em apoiar Henk
software e electrónica. De repente, vê o partilham das mesmas ideias. Ganham a ao constatar que o que ele pretende é ho-
Tetris a funcionar, fica estupefacto e de- confiança um do outro, e só juntando os nesto e, além disso, sabe que ao ajudá-lo
pressa percebe o potencial daquele jogo, esforços ultrapassam os obstáculos cria- levará à queda dos seus superiores, afas-
por ser intuitivo, de fácil compreensão dos pela polícia secreta, o KGB, conseguin- tando esses corruptos do país.
e de simples execução. do a concordância do responsável da em- No final, ainda consegue que Alexei
O protagonista lança então um plano presa estatal. Pajitnov venha viver com a sua família
de acção que é uma autêntica lição para Além disso, Henk Rogers decide ir para os EUA. A partir daí, lançam-se em
quem se dedica aos negócios: identifica também ao Japão falar com o CEO da Nin- mais iniciativas.
os objectivos e desenha uma estratégia tendo. Explica claramente a sua visão. Se algo fica patente neste filme é o
por etapas para alcançar essas metas. É genuíno e franco. Ao saber que a em- valor das ideias. Por isso, num diálogo
Define como prioridade conseguir os di- presa se prepara para lançar uma novi- há uma frase que é essencial: as ideias
reitos desse jogo e depois desenvolvê- dade, o Game Boy, sugere que se colo- não têm fronteiras. Com efeito, contando
-lo, comercializá-lo e distribuí-lo em lar- que no aparelho o Tetris. Arrisca e a sua com as pessoas certas, adquirem asas
ga escala através de alguma empresa que proposta é aceite. O sucesso é imediato para voar.
acreditasse no produto de forma tão sin- e avassalador!
cera como ele. Para que todo este êxito seja possível,
Paralelamente, descobre que o autor o filme revela dois factores que podem Paulo Miguel Martins
Professor da AESE Business School
do Tetris é Alexei Pajitnov, um russo que parecer menores, mas que serão decisivos: e investigador nas áreas de Cinema,
trabalha em Moscovo para uma empresa o primeiro é o próprio Henk contar com História, Comunicação e Mass Media

Human Resources Portugal 17


Radar

o people analytics como core da função


e não uma área embrionária.

 Definir um modelo organizacional orien-


tado para a mudança, implementando
novos modelos que tornem as equipas de
RH mais ágeis e eficientes, diversificando
o seu âmbito de actuação, incorporando
novas áreas, como Sustentabilidade, Co-
municação Interna ou Transformação.

ANÁLISE  Garantir a diversidade de competên-


cias dos perfis de RH, via upskilling/re-

O FUTURO DA skilling ou incorporação de novos perfis,


com fortes valências em analytics, trans-

GESTÃO DE PESSOAS formação e digitalização. Paralelamen-


te, é também crucial a promoção da mobi-
lidade entre áreas de RH e negócios, para
uma compreensão mais abrangente e
Nos últimos anos, num mundo onde a transformação profunda dos desafios do negócio.
digital e a agilidade empresarial se tornaram um
imperativo nas organizações, o papel dos Recursos  Transformar o perfil do director de Re-
Humanos (RH) em Portugal evoluiu. Embora ainda não cursos Humanos, evoluindo de gestor de
Pessoas para líder de Transformação, com
totalmente consolidada, esta evolução já se faz sentir, pelo
elevada proximidade ao negócio, fortes
pendor mais estratégico e menos predominantemente competências estratégicas, gestão de sta-
transaccional destas equipas. POR Maria João Gomes keholders e elevada adaptabilidade.

D
É fundamental investir na prontidão
e acordo com o estudo desen- Com base no estudo, foram identifi- dos responsáveis de RH para enfrentar os
volvido recentemente pela cados os principais desafios que traçam desafios estratégicos, delineando um plano
Odgers Berndtson em Por- o caminho que as equipas de RH terão de desenvolvimento ajustado às necessida-
tugal, 61% dos responsáveis de percorrer, reflectidos em cinco gran- des empresariais. Este plano deverá englo-
destas equipas reportam hoje ao CEO des prioridades para o futuro: bar o reforço na gestão, a utilização de data
(Chief Executive Officer), sendo que, no driven insights, o envolvimento em iniciati-
passado, reportavam maioritariamente  Garantir uma agenda estratégica orien- vas estratégicas, o acompanhamento das
ao CFO (Chief Financial Officer). Boas tada para o negócio, onde o CHRO (Chief tendências do sector e a colaboração estreita
notícias para as organizações e as suas Human Resources Officer) assume a respon- com líderes de negócios para compartilhar
pessoas – esta mudança é a oportunida- sabilidade compartilhada pela gestão de responsabilidades na gestão de talentos.
de para colocar o talento na agenda es- talentos e pelo desenvolvimento de futuros Em suma, os executivos de Gestão de
tratégica das organizações. líderes, alinhando os indicadores-chave Pessoas devem ser líderes de negócio, ca-
No modelo de liderança da Odgers de desempenho (KPI) de RH com os objec- pazes de construir e contribuir para a dis-
Berndtson, são identificadas três res- tivos estratégicos. Esta mudança requer cussão estratégica da organização. É isso
ponsabilidades principais de um líder es- uma revisão crítica dos KPI para reflectir a que os CEO esperam de um líder de RH:
tratégico: antecipar o futuro, inspirar pes- verdadeira aliança entre os RH e o negócio. ter a mesma visão de negócio que o resto
soas e entregar resultados sustentados. da equipa executiva.
Segundo o estudo, muitos dos líderes de  Empoderar a área de Recursos Huma-
RH reconhecem que a maior parte do seu nos, através de uma visão clara para o
tempo ainda é dedicado à “entrega” de re- futuro, liderando fóruns de talentos es- Maria João Gomes
sultados de curto prazo e à resposta às tratégicos, e garantir a tomada de decisão Partner na Odgers
pressões do negócio. baseada em dados concretos, assumindo Berndtson Portugal

18 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Em trânsito

Egor anunciou Microsoft Católica Porto Business


novo CEO Portugal nomeia School tem novo dean
Alexandre
Antunes, que
nova Human João Pinto é pro-
fessor de Finanças
desempenhava o Resources lead na CPBS, membro
cargo de director da Comissão Exe-
Financeiro desde cutiva da Católica
2019, assume agora Porto e co-líder do
as funções de CEO INSURE.Hub. Dou-
do grupo português torado em Ciências
de Consultoria de Empresariais, com
Gestão de Recursos especialização em
Humanos, sucedendo a Paulo Magro da Finanças, atribuído pela Universidade do
Luz, que assume as funções de adminis- Porto, foi “visiting scholar” no Michael F.
trador na holding do Grupo, para as áreas Price College of Business – The University
do desenvolvimento e novos negócios. Li- of Oklahoma. Possui um “Certificate of
cenciado em Economia pela Universidade Management Excellence”, atribuído pela
Autónoma de Lisboa e com mestrado em Harvard Business School, tendo ainda fre-
Gestão da Nova SBE, faz parte do grupo quentado diversas formações executivas
desde 2004, tendo vindo a assumir diferen- nas áreas da liderança, inovação, estra-
tes funções de direcção em áreas, como a tégia e finanças sustentáveis. É consultor
financeira, gestão e negócio. Antes passou Maria Kol ficará respon- do Banco Europeu de Investimento e do
por empresas como a Servil, onde esteve sável pela gestão estratégica Banco Europeu para a Reconstrução e
durante 10 anos, e a Strauss, nas quais as- dos Recursos Humanos da Desenvolvimento nas áreas de inovação
sumiu funções de Finance, Administration subsidiária portuguesa, desde a
financeira, avaliação de projectos de
relação com os colaboradores,
and Human Resources director. investimento e finanças sustentáveis.
captação e retenção de talentos
à implementação de práticas e
iniciativas que promovam um
Howden Portugal anuncia L’Oréal nomeia
local de trabalho culturalmente
nova head of Human diversificado e inclusivo, repor- responsável de
Capital & Benefits tando a Silvina Uviz D’Agostino, Sustentabilidade e RSC
directora de Recursos Humanos
Ana Jaime vai da Península Ibérica. Licencia-
Ana Sofia
liderar a transposi- da em Ciências Psicológicas Amaral passa
ção de soluções já pelo ISPA (Instituto Universi- a exercer funções
desenvolvidas pela tário de Ciências Psicológicas, cumulativas ao car-
Howden, grupo de Sociais e da Vida), investiu em go que já exercia
corretagem de Se- formações, desde mestrado, enquanto Scientific
guro, Resseguro, pós-graduações e MBA, em and Regulatory
Consultoria de Desenvolvimento de Liderança, Affairs director e
Risco e de Benefí- Recursos Humanos e Gestão de como membro da
cios Sociais, para Empresas. Com mais de 10 anos Leadership Team
clientes noutras geografias, assim como o de experiência, a responsável em Portugal. Licenciada em Farmácia
desenvolvimento de soluções específicas chega à Microsoft Portugal após pela Universidade de Lisboa, iniciou a sua
aplicáveis. Licenciada em Biologia pela ter desempenhado a função de carreira em 1991 na L’Oréal Portugal como
Universidade de Lisboa, tem um mes- Human Resources Country lead responsável de controlo de qualidade e,
trado em Gestão de Recursos Humanos da Cisco e, anteriormente, de mais tarde, como Química Industrial na
pelo ISCTE. Com mais de 17 anos de directora de Recursos Humanos SINCORAL (fábrica portuguesa da L’Oréal).
da Autoridade da Concorrência. Entre 1998 e 2002, trabalhou como espe-
experiência, a responsável foi head of
Em 2023, foi reconhecida como a
Customer Success na Coverflex, e an- cialista técnica no INFARMED e voltou à
melhor Human Resources Lead
teriormente liderou a equipa de consul- L’Oréal Portugal em 2002, para a direc-
<45 em Portugal,pela Revista
toria de Health & Benefits na Mercer ção Científica e Técnico-Regulamentar.
Human Resources, na XII edição
Marsh Benefits. Tem ainda experiência Agora passa a actuar no delineamento
dos Prémios Human Resources.
nas áreas de Recursos Humanos, tendo de estratégias de sustentabilidade a
trabalhado nos CTT e Bose. partir do negócio principal da empresa.

20 Human Resources Portugal Dezembro 2023


«Cada pessoa
é diferente,
é preciso
ouvir, e ouvir
activamente.
Temos uma
cultura de
“speak up”,
mas também
é preciso
“listen up”.»
Entrevista
JUAN OLIVERA
CEO DA ERICSSON PORTUGAL

«A confiança é
chave no negócio.
E são as pessoas
que a criam»
Juan Olivera chegou à função de CEO – e a Portugal – há pouco mais de um
ano. Tem claros os desafios, bem definidos os objectivos e uma certeza: as
pessoas são a pedra basilar da estratégia da Ericsson. Marca presente no
mercado global há quase dois séculos, distingue-se pela inovação e confiança.
E ambas se devem às pessoas. POR Ana Leonor Martins | FOTOS Nuno Carrancho

D
efendendo que o tema das pessoas é um entre o que os profissionais mais valorizam actualmente numa
tema de negócio, Juan Olivera partilha uma empresa, e «a Ericsson tem isso», garante. Já em relação ao
“inquietação” que tem enquanto CEO: a que valoriza nas pessoas, salienta o que é «mais difícil de en-
prevalência do teletrabalho. Não que seja contrar e desenvolver»: o desejo de aprender, de ir mais longe.
contra – que, de todo, não é –, mas alerta para
as consequências de longo prazo, se não encontrarmos um Estava na Ericsson Iberia desde 2011. Como encarou o desafio
maior equilíbrio. A sua preocupação tem sobretudo a ver com a de vir liderar o negócio em Portugal?
cultura organizacional, o ADN que distingue a Ericsson e que Sim, estava em Espanha, como CFO [Chief Financial Officer].
vive das relações criadas ao longo de décadas. Faz notar que o Mas sempre estive muito próximo do negócio. Antes de entrar
conceito de jornada cultural da Ericsson tem cinco pilares di- na Ericsson, trabalhava em consultoria e depois continuei a
ferentes e, desses, quatro têm a ver com pessoas: tomar de- carreira na área Financeira, mas a parte do negócio sempre foi
cisões corajosas, baseadas em factos; criar um ambiente de diá- muito atractiva para mim. Surgiu esta oportunidade, e Portu-
logo; maior colaboração e cooperação; mostrar empatia e huma- gal é um país “amigável”. É perto, é semelhante, a comida é
nidade (o quinto é executar de forma célere). É precisamente a boa, o clima também, as pessoas... E a dinâmica do negócio
empatia, humanismo, ética e integridade que acredita estarem não é assim tão diferente. Por isso, pareceu-me uma excelente

Human Resources Portugal 23


Entrevista JUAN OLIVERA

oportunidade e mudei-me com a famí- mas do grupo. São elas que fazem toda quer negócio estão pessoas. Se não ti-
lia, há cerca de um ano. a diferença, porque, no final, quem está vermos as pessoas motivadas, e com as
na concepção das nossas soluções são competências certas, vamos ter proble-
Em termos de negócio, que realidade encon- as pessoas. Se estamos na vanguarda, é mas. Não há dúvidas em relação a isso.
trou? Pelo menos a escala será diferente... por causa das pessoas; se a Ericsson cria
A escala é diferente, mas já conhecia a confiança, é às suas pessoas que o deve. Enquanto CEO, o que mais o “preocupa”,
realidade portuguesa. E, do ponto de vis- No nosso negócio, confiança é um pi- no que respeita às pessoas?
ta do negócio, Portugal também desfruta lar-chave. Tipicamente, o nosso negócio Uma preocupação que tenho, e não é exclu-
de uma posição de liderança. No entanto, tem por base relações, e uma estratégia siva de Portugal, nem sequer só do nosso
por diferentes razões, a implementação do de longo-prazo. As nossas relações exis- sector, tem a ver com o teletrabalho. Te-
5G está talvez três trimestres atrasada em tem há anos, e isso acontece porque quem mos cerca de 95% dos colaboradores com
relação a Espanha, porque o leilão foi adia- “dá a cara” transmite essa confiança. acordo de teletrabalho, a maioria em re-
do. Por outro lado, o investimento também Mais de metade do meu tempo é passa- gime híbrido, mas alguns em full remote.
é ligeiramente diferente. Mas basicamen- do com temas de pessoas, a perceber como A minha maior preocupação tem a ver
te, a realidade é a mesma, temos opera- podemos melhorar a forma como estão a com a cultura organizacional. O ADN da
dores históricos fortes, competição... trabalhar, o seu bem-estar, mantê-las mo- Ericsson, a nossa cultura, é muito for-
tivadas. Isso ocupa-me bastante, porque te, e preocupa-me que se comece a perder
Quando o convite lhe foi feito, o que pe- o negócio nós podemos “ler”, mas fazer o isso. Corremos esse risco se as pessoas
diram que alcançasse? mesmo com as pessoas é mais difícil, exige deixarem de vir ao escritório.
Manter a posição de liderança que temos, tempo. Cada pessoa é diferente, é preciso
é isso que temos de fazer. A Ericsson co- ouvir, e ouvir activamente. Temos uma cul- As vossas pessoas podem escolher livre-
memorou este ano sete décadas em Por- tura de “speak up”, mas também é preciso mente o regime em que preferem traba-
tugal, e estamos a trabalhar não só para “listen up”. Se as pessoas falarem, mas não lhar e quantas vezes vêm ao escritório...?
2024, mas com uma visão de longo pra- estivermos a ouvir, não serve de nada. Mes- As pessoas podem escolher livremente
zo, de como nos podemos manter no País mo que não possamos fazer ou dar respos- quantos dias e em que dias vir. Ou não vir
mais 70 anos. É esse o caminho e a am- ta a tudo, ouvimos e damos feedback. Digo de todo. Temos flexibilidade total. Não
bição da Ericsson. A nossa maneira de sempre à minha equipa que tem de estar quero que me interpretem mal, não me
fazer negócio é pensar a longo prazo. muito próxima das pessoas, sempre. oponho a isso. Percebo perfeitamente que
a flexibilidade é muito importante, actual-
O que assumiu como prioridades, nessa al- Diria que os temas de pessoas são tam- mente. E que é o futuro, definitivamente.
tura, e quais foram os principais desafios? bém temas de negócio? Mas precisamos de encontrar um ponto
O grande desafio quando cheguei, com os Sim. Por exemplo, se as pessoas não esti- de equilíbrio. Não sei exactamente qual
investimentos no 5G a aumentar, era per- verem motivadas, isso torna-se um tema é... Dois ou três dias no escritório... não sei.
ceber como os rentabilizar. A tecnologia já de negócio. E por detrás de todo e qual- Acredito que há valor em ir ao escritó-
está disponível em Portugal há uns anos, rio. E não é algo que se vá perceber as con-
mas até agora não se tinha visto uma ver- sequências em seis meses ou seis anos,
dadeira transformação no negócio. Havia
alguns casos de utilização, quer B2B [bu-
«O conceito de mas a longo prazo a parte cultural fica
comprometida. Principalmente para os
siness to business], quer B2C [business jornada cultural que se juntaram à empresa mais recen-
to consumer], mas precisávamos de ver
isso acontecer de forma mais generaliza-
da Ericsson – temente, mas também para os que já cá
estão há muito tempo, porque o facto de
da. Depois do investimento que tem sido
feito pelos operadores, precisamos de ver
Ericsson on the nos encontramos, de estarmos juntos, nos
vermos, falarmos, irmos beber um café,
resultados, precisamos avançar. É nesse Move – tem cinco almoçar, cria valor.
sentido que estamos a trabalhar, para ren-
tabilizar o investimento.
pilares diferentes e, E trocar ideias...
desses, quatro têm Muita inovação acontece “cara à cara”.
É muito difícil conseguir criar inovação
a ver com pessoas.»
Qual a importância que as pessoas as-
sumem na estratégia do vosso negócio? a partir de uma reunião no Teams. E a
As pessoas são a pedra basilar da nossa inovação é fundamental para nós. Por
estratégia, não só da Ericsson Portugal, isso é que esta é uma das minhas grandes

24 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Entrevista

preocupações, como criar um modelo hí- E parece estar a agravar a saúde mental dos com o selo wellbeing, nos prémios
brido bem-sucedido. Ainda estamos numa das pessoas... Wellbeing 2023 da Workwell e AGIS, que
fase muito inicial deste modelo. Até à Exactamente. Se temos problemas, estando certifica a empresa pelas boas práticas em
pandemia, o trabalho remoto era uma ex- mais sozinhos, é mais difícil. Ter um moti- saúde e bem-estar. Temos promovido e in-
cepção, nunca tínhamos trabalhado as- vo para sair de casa é sempre positivo para vestido num programa de bem-estar que
sim. Depois, fomos obrigados a isso e ago- a saúde mental. Mudar de ambiente... De- tem diferentes pilares: físico, emocional
ra ainda nos estamos a adaptar. É cedo finitivamente, gostava de ver as pessoas a e mental, social e também financeiro. Te-
para perceber as consequências ou o que vir mais ao escritório. Estamos inclusive a mos webinares, formação, reforçámos a
vai acontecer a longo prazo. mudar-nos para um espaço novo. O princi- cobertura de saúde mental no seguro de
Sempre que há encontros presenciais pal objectivo é ir para um escritório onde saúde... Temos até um novo clube, de ca-
com a equipa, recebo muito feedback po- possamos colaborar melhor. minhada, que começou com caminhadas
sitivo. Não podemos perder esta aborda- Queremos implementar em Portu- culturais, de turismo, organizadas pela
gem humana, especialmente numa em- gal um programa global que temos – o Ericsson uma vez por mês, em que os co-
presa com uma cultura tão forte, como a “Workplace of the Future” –, que é pre- laboradores podem inscrever-se, e aos
Ericsson tem. cisamente sobre ter áreas de colabora- seus familiares e amigos também.
ção. Pelo menos metade do espaço tem de Temos ainda um programa, global,
Porque acha que as pessoas mostram re- ser para o trabalho conjunto. Queremos de apoio ao colaborador e seus familia-
sistência a voltar ao escritório e preferem implementar novas formas de trabalhar, res, 24 horas por dia, 365 dias por ano,
estar mais tempo em casa? para nos certificarmos de que quando as gratuito, que oferece uma variedade de
Claro que a flexibilidade é importante. E se pessoas vêm ao escritório, interagem. A serviços, como aconselhamento psico-
pensarmos numa cidade tão grande como intenção é tirar o melhor partido do tem- lógico e apoio nas áreas de saúde, famí-
Lisboa, em que as deslocações diárias são po das pessoas no escritório. lia, jurídico, financeiro, trabalho, vida...
sempre complexas e consomem muito É totalmente confidencial e está dispo-
tempo em trânsito, percebo que faça senti- A mudança está para breve? nível no idioma local.
do para as pessoas. O modelo cinco dias por Sim, devemos mudar-nos a meio do ano Tudo isto, para além de promover o
semana, das nove às cinco, é que já não faz que vem. bem-estar a diferentes níveis, também
sentido, de acordo em relação a isso. Esta- promove o sentimento de pertença à
mos numa nova Era, não vamos voltar para Quantas pessoas tem a Ericsson Portugal? empresa. Vêem-nos quase como família.
trás. Nem queremos. O que queremos é en- Directos, temos um bocadinho acima Criam-se verdadeiras amizades aqui.
contrar um modelo que funcione. Esse mo- de 200, mas depois a força de trabalho Há outro programa chamado Ericsson
delo é híbrido, tem de incluir impreterivel- externa são mais cerca de 100. on the Move. Trata-se do conceito de
mente tempo para as pessoas se encontra- jornada cultural da Ericsson e tem cinco
rem, reunirem... Acho que ainda estamos Quais os principais desafios na sua gestão pilares diferentes e, desses, quatro têm
a aprender como fazer isso. Mas não po- e que prioridades assumem, neste âmbito? a ver com pessoas: tomar decisões cora-
demos negligenciar as consequências de O tema da Saúde Mental é muito impor- josas, baseadas em factos; criar um am-
longo prazo do trabalho remoto. tante. E fomos recentemente distingui- biente de diálogo; maior colaboração e

Human Resources Portugal 25


Entrevista JUAN OLIVERA

cooperação – agir como One Ericsson; O que é que as pessoas mais valorizam,
mostrar empatia e humanidade; e o quin- hoje, numa empresa, para além do salá-
to é executar de forma célere. Mas os pri- rio e da flexibilidade?
meiros quatro são sobre pessoas. E for- Empatia, humanismo, ética, integridade...
mamos as pessoas para isso, falamos so- Acredito firmemente que é isso que as pes-
bre como podemos melhorar... Como já soas valorizam cada vez mais, uma empre-
disse, e repito, as pessoas são a pedra ba- sa que demonstra empatia se surgir algum
silar na nossa estratégia. problema pessoal, por exemplo, a dispo-
nibilidade para ouvir as pessoas, mostrar
Apesar de todo esse foco nas pessoas, compreensão em relação aos seus proble-
sentem que agora é mais difícil recrutar? mas… Cada pessoa é uma pessoa, e há uma
Temos uma boa capacidade de atracção, imensidão de situações, mas trabalhar
uma boa marca no mercado. Sempre que numa empresa que compreende a impor-
abrimos vagas, verifica-se uma muito boa tância disso, que é flexível, que se preocu-
aceitação, não temos dificuldade em en- pa verdadeiramente com as pessoas, faz
contrar candidatos. toda a diferença. E a Ericsson tem isso.

E manter as pessoas na empresa, é mais É isso que diferencia a marca de empre-


difícil agora? O turnover tem aumentado? gador da Ericsson?
Não, não é um tema para nós. A nossa taxa E o facto de ser uma empresa que existe
de rotatividade é muito baixa, é inferior há 150 anos, a nível mundial, que está há
a 5%. Quando as pessoas entram, o nor- 70 em Portugal e presente em diversos
mal é ficarem por um longo período. mercados... Isso não acontece por acaso,
significa que temos estado a fazer a coisa
As expectativas das pessoas nem sem- certa. E a marca foi sempre Ericsson. der. Mas encontrar pessoas flexíveis, de-
pre estão alinhadas com as exigências do sejosas para aprender, para se “chegar à
negócio. Como se consegue encontrar As pessoas valorizam estabilidade... frente”... É o que sempre digo à equipa, “te-
um equilíbrio? Sim, porque se trata das suas vidas. Esta- mos de pensar fora da caixa”. Não pode-
O segredo está na transparência. É bilidade é importante, e a Ericsson é uma mos pensar só dentro do nosso âmbito, é
muito importante ser claro sobre o que empresa que oferece segurança, que a importante perceber o que mais podemos
as pessoas podem esperar da empresa. transmite aos seus clientes e colabora- fazer. Isso é que faz toda a diferença. O
Sou sempre muito transparente com dores. Quando as pessoas vêem a mar- que podemos fazer mais. Acredito que
a equipa. E oiço. Temos de ouvir o que ca Ericsson, associam a confiança. Te- somos bons nisso.
nos estão a dizer, perceber quais são as mos esse reconhecimento no mercado.
preocupações. É fundamental que fique Isso não se ensina... Mas a formação tam-
claro, desde o início, com o que podem E a Ericsson, que competências privilegia bém é uma área em que apostam?
ou não contar. Dizer, “dada a estratégia nas pessoas quando está a contratar? Sim... Mas contratamos pessoas muito boas
da empresa, isto não vai acontecer”, ou Depende da posição, mas as soft skills são tecnicamente, bastante actualizadas…
“neste ponto podemos falar e tentar fundamentais, porque são mais difíceis de
chegar a um entendimento”, “em relação encontrar e de desenvolver. Ou se tem ou E encontram as competências técnicas
a isto, vamos lutar para que aconteça”, não se tem. Gosto de trabalhar com pes- de que precisam no mercado?
ou “com isto, podem contar”. As pessoas soas comprometidas com o que estão a fa- Em Portugal, há muito boas universida-
valorizam a transparência, ao invés de zer. Mesmo que não tenham todos os co- des, por isso encontram-se muito boas
lhe darem falsas esperanças. nhecimentos técnicos, esses podem apren- competências no mercado.

A Ericsson completou, este ano, 70 anos em


«As pessoas valorizam a transparência, Portugal. O que destacam neste percurso?
Olhando para trás, e nós fizemo-lo, junto
ao invés de lhe darem falsas esperanças.» com as nossas pessoas, num evento, per-
cebemos que nos marcos tecnológicos no
País, a Ericsson esteve sempre por detrás,

26 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Entrevista

tugal, acredito que damos um contribu- sos práticos. Como indústria, temos de
to importante para o Grupo. rentabilizar o investimento dos clientes.
Quem é O que torna Portugal um país atractivo O que é fundamental para o sucesso das
para o investimento estrangeiro? pessoas e das empresas?
O talento que existe aqui, as competên- No nosso negócio, trata-se de inovação.
Juan Olivera cias humanas, as boas universidades... Vendemos tecnologia e temos de inovar to-
Juan Olivera iniciou funções
Portugal tem uma educação de qualida- dos os dias. Sempre que, no passado, não
como CEO da Ericsson
Portugal a 1 de Novembro de, e isso é óptimo. inovámos o suficiente, tivemos dificulda-
de 2022. Estava ligado à des. E as pessoas são quem inova, por isso
Ericsson Iberia há mais de E o que é menos atractivo? precisamos das pessoas certas, com as com-
uma década, tendo integrado A regulamentação e a flexibilidade são petências certas, no sítio certo, para que a
a equipa espanhola em
chave para criar um bom ambiente para o inovação aconteça. Há áreas mais “nevrál-
2011, como Controller.
Quatro anos mais tarde, investimento... Por exemplo, outros países gicas”, mas todos têm de pensar “fora da cai-
foi promovido a head of estão a tirar partido dos fundos europeus, xa”. Há sempre coisas diferentes que se po-
Business Control South do Plano de Recuperação e Resiliência, dem fazer, a diferentes níveis. Claro que
Central Mediterranean, para o investimento no 5G. Alguns, têm um para um engenheiro de I&D [Investigação
desafio que teve em
vector específico para isso, e em Portugal e Desenvolvimento] será mais fácil do que
mãos até 2018, quando foi
nomeado head of Business esse apoio não existe. Gostaríamos que para quem trabalha na área administra-
Control Iberia, cargo que o governo português também investisse tiva, mas há sempre espaço para inovar.
desempenhou até à data. nesta área, em favor da digitalização fu-
tura do País, para benefício de todos. As lideranças terão aí também um papel
Mas, no geral, diria que Portugal é fundamental, tal como para a motivação
bastante atractivo. das pessoas...
nas tecnologias móveis, 2G, 3G, 4G e ago- Exactamente, trata-se de motivação. É
ra com o 5G; fomos sempre os líderes, a O que pretende alcançar enquanto CEO chave. Se conseguirmos identificar como
cada lançamento. E isso é sinal de inova- da Ericsson Portugal, pelo que gostava as pessoas podem crescer – aquelas que
ção, e sinal de que temos tido as pessoas de ser lembrado um dia que assuma ou- querem, porque nem todas ambicionam
certas. São todas as pessoas que trabalha- tro desafio? isso, mas a maioria quer aprender, cres-
ram e trabalham aqui que o tornaram pos- Quando um dia sair, gostaria de ser lem- cer, fazer coisas diferentes, “chegar-se à
sível. E todos os marcos que alcançámos brado como alguém que contribuiu para frente”, tornar-se melhores profissionais,
junto dos nossos clientes, o estarmos na o sucesso da Ericsson, mas também pela ganhar mais responsabilidades... E as li-
vanguarda da tecnologia e, claro, o estar- pessoa que sou, por ser boa pessoa. Gos- deranças precisam de encontrar formas de
mos neste país há 70 anos, fala por si. tava que dissessem: “era um ‘bom tipo’ e dar às pessoas o que elas querem. Não é
contribuiu para fortalecer a cultura e o fácil, mas temos de o fazer, identificar os
A Ericsson vai continuar a investir no nos- ADN da empresa, contribuiu para a sua top performers e comos lhes dar oportu-
so país? história de sucesso”. nidades de carreira.
Absolutamente, claro que sim. Quere-
mos continuar cá, pelo menos por mais O que perspectiva para 2024? E a si, o que o mantém motivado?
70 anos. A Ericsson é uma empresa que No relatório da Ericsson do terceiro trimes- Ver a posição da Ericsson em Portugal, o
pensa sempre a longo prazo. tre, foi anunciado que, globalmente, espera- contributo que estamos a dar ao Grupo.
-se que, no nosso negócio, o investimento Mas o que me mantém “desperto” é perce-
Qual a importância estratégica que Portu- dos clientes diminua em 2024, compara- ber o que podemos fazer no futuro. Não no
gal assume no grupo Ericsson? tivamente aos últimos dois ou três anos. próximo ano, mas a cinco/10 anos, qual o
A Ericsson opera em 180 países. Estamos Isso é também o que esperamos ver em legado que podemos trazer para o próximo
em países muito grandes e países muito pe- Portugal, e claro que nos vai impactar. Mas CEO neste país, ou para os próximos 20 anos.
quenos. Mas posso dizer que o que impor- são ciclos. Estamos a ver isto por causa da É isso que me mantém motivado, não só
ta não é só o tamanho do país ou volume situação macroeconómica e também por- olhar para as oportunidades agora, mas
de negócio, é também sobre o negócio que que os investimentos-chave já foram fei- também para as oportunidades futuras,
criamos e podemos replicar noutros paí- tos. Irão voltar a aumentar, a dada altura. para as que é preciso criar. O que podemos
ses. Tendo em conta a dimensão de Por- Para isso, é fundamental encontrar os ca- fazer. E garantir que a Ericsson o fará.

Human Resources Portugal 27


Tema de Capa

HR INSIGHTS, EGON ZEHNDER

APROVEITAR O POTENCIAL
DOS GESTORES DE PESSOAS
NA ADOPÇÃO DA IA
Os líderes de Recursos Humanos estão numa posição única para influenciar os esforços
de adopção da inteligência artificial em toda a empresa e criar um futuro mais resiliente.
POR Andrea Berlin e Lili Bernhardt, Egon Zehnder

28 Human Resources Portugal Dezembro 2023


A
inteligência artificial (IA) domina quase todas
as discussões da gestão executiva. À medida
que as empresas amadurecem o seu pensamen-
to e estratégia sobre o tema, há uma função
incrivelmente bem posicionada para liderar
esta transformação: os Recursos Humanos (RH). Porque,
para além das complexidades da integração das tecnologias
de IA, a promoção de uma cultura que abrace essa mudança
será igualmente importante para o seu sucesso. Embora o
desenvolvimento desta cultura seja um desafio para os líderes
de RH, se forem bem-sucedidos, haverá a oportunidade de
criar valor para colaboradores, clientes e accionistas.
Como a IA apresenta riscos e oportunidades, é provável
que os executivos sejam cautelosos. Mas podem subestimar
a urgência se os líderes de RH não explicarem como a IA
afectará todos os aspectos do negócio, incluindo o seu bem
mais precioso – as pessoas. Sabemos que a experiência dos
colaboradores continua a ficar para trás, com quase seis em
cada 10 a “desistir silenciosamente” e a desinteressarem-se
do seu trabalho, segundo o relatório The 2023 State of the
Global Workplace da Gallup; e as soluções de IA podem estar
a chegar no momento certo para resolver esta crise.
Temos mantido várias discussões com líderes de RH e
visionários de todos os sectores sobre o tema da IA e o seu
impacto na força de trabalho e, com base nisso, aprofundamos
neste artigo, três grandes áreas: (1) Conciliar a IA e a análise
humana; (2) Incluir os RH nas discussões estratégicas; e (3)
Considerar as implicações da adopção da IA para os colabo-
radores – e debater sobre como os líderes de RH e a gestão
sénior as podem abordar.

Muitos líderes de RH ainda não


estão totalmente integrados no
grupo de trabalho de IA da sua
organização, e isto tem de mudar.

1 Conciliar a IA e a análise humana

À medida que as empresas incorporam soluções de IA nos seus


processos, os líderes de RH exploram a forma de as aproveitar
para melhorar os processos da função – tanto interna como
externamente. A este respeito, os líderes de RH devem reflectir
sobre até que ponto o elemento “humano” deve ser ultrapassado
pela IA no que diz respeito à tomada de decisões.
Explorámos esta questão com David Stillwell, professor de
Ciências Sociais Computacionais na Cambridge Judge Business

Human Resources Portugal 29


Tema de Capa

School. Para ele, a maior armadilha da IA é a sua incapacidade para alguns indivíduos, resultando potencialmente na perda de
de fornecer uma explicação em muitos casos, enquanto os seres um potencial colaborador valioso.
humanos tendem a confiar num estilo de comunicação sensato É importante notar que isto não sugere que os seres humanos
entre si. Esta é uma consideração importante a fazer, principal- têm menos preconceitos do que os algoritmos de IA; em muitos
mente nos processos de recrutamento, que devem esforçar-se casos, os seres humanos têm de facto mais preconceitos – no
por ser inclusivos e humanizados. Por exemplo, quando se nega entanto, a investigação sugere que os seres humanos confiam
a alguém a oportunidade de uma entrevista, a compreensão na opinião de outros seres humanos, independentemente disso.
humana e a supervisão na justificação dessa decisão são essen-
ciais, uma vez que a responsabilidade recai sobre a pessoa (e a
organização) que conduz o processo. A nossa visão
Fazem-se várias perguntas importantes: os algoritmos de Em última análise, os líderes de RH devem exercer o seu
IA são tendenciosos a ponto de causar danos? Até que ponto discernimento sobre as ferramentas que utilizam, como as
são exactos, em comparação com os humanos? Em que pistas utilizam e como mantêm o elemento “humano” nos Recursos
específicas se baseiam? São questões cruciais que os líderes de Humanos no centro dos processos da função, ao mesmo tempo
RH devem ter em conta quando utilizam a tecnologia de IA, uma que exploram a IA para uma maior eficiência.
vez que a exclusão do elemento humano pode criar desconforto

indivíduos conselhos de carreira personalizados relativamente


Case Studies a vagas em aberto. A aplicação combinava os candidatos com
funções que se adequavam às suas personalidades, analisando
dados do Facebook. Isto provou ser uma forma criativa de obter
Incorporar a IA como parte dos processos de RH indivíduos possivelmente bem posicionados para uma posição.

Melhorar os fluxos de trabalho. Já existem vários bons exemplos em Outro exemplo, conforme relatado por um artigo da Fortune, é um
que os algoritmos de IA têm um impacto positivo no bem-estar dos jogo baseado em IA concebido para avaliar candidatos adoptado
colaboradores e simplificam os fluxos de trabalho internos de RH. pela Mastercard. O jogo faz avançar os candidatos para a ronda de
Veja-se, por exemplo, o ChatGPT – um famoso modelo de linguagem entrevistas seguinte com base na realização de tarefas específi-
de grande dimensão actualmente classificado como “IA fraca”, uma cas – entre outras avaliações – e não regista dados demográficos.
vez que depende da intervenção humana –, que combina contributos Num artigo, Michael Fraccaro, Chief People Officer da Mastercard,
humanos com lógica automatizada para responder a perguntas, afirma que este jogo ajuda a reduzir o risco de preconceitos incons-
mesmo que as respostas nem sempre sejam totalmente exactas. cientes na contratação. Além disso, a empresa usa um sistema de
Internamente, revela-se valioso para resumir grandes quantidades de agendamento automático para agilizar os processos de entrevista,
informações, compor respostas e redigir documentação. Os líderes criando um aumento de 87% na produtividade.
de RH podem aproveitá-la para resumir entrevistas e currículos, ou
para fazer brainstorming de perguntas para entrevistas. Um exemplo potencialmente mais incómodo de integração de IA
no recrutamento é a implementação de plataformas automatizadas
Bem-estar dos colaboradores. O ChatGPT e outras ferramentas de entrevistas em vídeo, tais como a Rotario, a HireVue ou a Modern
generativas de IA podem actuar como catalisadores para o coaching hire fizeram. Eis como funciona: os candidatos respondem a per-
personalizado, o desenvolvimento de carreira, as avaliações de guntas pré-estabelecidas enquanto se gravam a si próprios, o que
desempenho, o onboarding ou a definição de objectivos. Agilizar acaba por poupar tempo. Para as grandes empresas que contratam
o coaching personalizado e o desenvolvimento de carreira pode centenas de colaboradores e precisam de um processo de entre-
permitir que os colaboradores procurem proactivamente feed- vista rápido, isto pode acelerar o processo. Os candidatos também
back, sem esperarem pelo envolvimento humano. No contexto beneficiam, ao evitarem a necessidade de coordenar as datas das
do onboarding, os novos contratados podem beneficiar de expe- entrevistas e de se encontrarem com os directores. Por outro lado,
riências personalizadas, concentrando-se em tarefas pertinentes e as empresas podem ter de enfrentar o desafio de avaliar um vasto
acedendo a respostas instantâneas a perguntas. sem dependerem conjunto de vídeos pré-gravados. Para resolver este problema, os
do elemento humano. serviços de vídeo criaram algoritmos que analisam os sinais faciais
e linguísticos para determinar o desempenho. Contudo, apesar de
Processos de contratação. No que diz respeito à contratação, inovadora, esta abordagem suscita preocupações significativas que
existem exemplos interessantes de uma utilização criativa e eficaz se alinham com quatro aspectos fundamentais da utilização da IA
da IA. Por exemplo, a empresa multinacional alemã SAP adoptou debatidos por Stillwell: transparência, controlo, compreensão e
uma aplicação de aprendizagem automática que fornecia aos trabalho em conjunto com as pessoas (e não contra elas).

30 Human Resources Portugal Dezembro 2023


2 Incluir os RH nas discussões estratégicas
Existe uma simbiose entre
Ainda antes de as organizações começarem a experimentar os colaboradores e ferramentas de
benefícios da IA, a adopção pelos colaboradores representa um inteligência artificial; precisam
desafio complexo para os líderes de RH. O ritmo da inovação da um do outro para funcionar bem.
IA é frequentemente descrito como exponencial, e a incerteza e
a desconfiança sentidas pelos colaboradores também são prova-
velmente ampliadas. Surge a pergunta:
como é que os líderes de RH podem navegar
pelo paradoxo de adoptar rapidamente
a IA para se manterem competitivos e,
ao mesmo tempo, ter cuidado e aderir
às directrizes e políticas pertinentes?
Recomendamos que se envolvam em
conversas estratégicas contínuas com
os pares de direcção. Os líderes de RH
possuem uma perspectiva inestimável
na supervisão da dinâmica do local de
trabalho, da cultura e da estratégia de
talentos. Aqueles com quem falámos
acreditam que os ganhos de produtivida-
de da IA podem abranger todo o ciclo de
vida dos colaboradores, do alinhamento
de competências com o trabalho até às
experiências distintas de onboarding
e offboarding.
Além disso, os líderes de RH estão bem
cientes da necessidade de uma estratégia
de capacidade focada em IA na sua base,
além de promoverem discussões centradas
na segurança, equidade e dignidade para
os trabalhadores da linha de frente – um
grupo mais preocupado com as implica-
ções da IA e a estabilidade no emprego.
Parte da conversa pode também envolver
o recrutamento de um director de IA. Este executivo definiria o levou a uma sensação de falta de formação sobre a tecnologia,
lado tecnológico, estabelecendo ao mesmo tempo uma parceria o que é paralelo aos sentimentos de sobrecarga sentidos pelos
estratégica com o CHRO nos esforços culturais, e criaria várias seus colaboradores.
eficiências organizacionais. Um podcast apresentado por Josh Bersin, líder de Recursos
O verdadeiro desafio, porém, é desenvolver competência Humanos, sublinha a importância de ser intencional relativamente
organizacional em dados e IA, em vez de nomear um líder de à IA: que problema tenta resolver? A eficácia da introdução de
topo para controlar a transformação isoladamente. O risco é um sistema de IA está ligada à sua clara intenção e estratégia de
repetir o que testemunhámos com os Chief Digital Officers, que lançamento. Caso contrário, as organizações podem adquirir
por vezes se debateram com a mudança de toda a liderança da e distribuir ferramentas de IA e testemunhar uma utilização
empresa para se envolverem neste espaço. mínima devido à falta de compreensão, tempo ou ausência de
Apesar da utilização relativamente limitada de ferramentas um objectivo claro. Ao navegar no processo de lançamento da
de IA nos RH, para além do recrutamento e agendamento básicos, IA, os métodos tradicionais não são suficientes. Não podemos
a adopção e a experimentação de ferramentas registaram um simplesmente lançar e “ficar de braços cruzados”. Em vez disso,
rápido crescimento, o que faz com que os líderes de RH tenham os líderes de topo têm de considerar uma abordagem dinâmica
dificuldade em acompanhar as discussões em curso. Este facto que inclua um feedback constante dos utilizadores.

Human Resources Portugal 31


Tema de Capa

Os líderes de Recursos Humanos


Para além dos RH
devem identificar proactivamente
Como uma ferramenta de gestão de talentos quais as funções que podem
melhorou a eficiência empresarial
ser automatizadas e definir
Embora muitos líderes de RH possam sentir que estão a ficar
para trás na adopção, as empresas estão nos primeiros dias
estratégias para programas
de exploração de cenários de “criação versus compra”, com abrangentes de reskilling.
apenas alguns fornecedores prontos para a implementação.
Um exemplo que se destaca: o Standard Chartered Bank
implementou a Talent Marketplace da Gloat, uma platafor-
ma que destaca as competências dos colaboradores para
além das funções tradicionais, permitindo-lhes usar os seus
talentos noutros projectos, ou participar em oportunidades 3 Considerar as implicações da adopção
de desenvolvimento personalizadas. De acordo com o estudo da IA para os colaboradores
de caso do Standard Chartered, o banco ganhou 10 mil horas
de produtividade em toda a empresa e obteve resultados Perante o aumento contínuo das tecnologias de IA, os líde-
elevados no inquérito de satisfação dos colaboradores, res empresariais debatem-se com uma questão fundamental:
centrado nas oportunidades de carreira e desenvolvimento.
devemos acolher estes avanços com entusiasmo ou apreen-
As implicações destes ganhos de produtividade e da forma
como os funcionários trabalham ultrapassam largamente os são? O sentimento prevalecente aponta para uma época em-
domínios tradicionais dos RH e exigem um diálogo estreito polgante e cheia de potencial. No entanto, estas ferramentas
com a direcção e o conselho de administração, uma vez que exigem um planeamento e uma supervisão cuidadosos, como já
têm impacto em toda a empresa. Isto requer conversas es- foi referido.
tratégicas sobre a concepção da organização, as estratégias Os líderes de Recursos Humanos devem abordar a adop-
de talento e as decisões comerciais – de preferência com os ção da inteligência artificial e os ganhos de produtividade as-
directores-executivos.
sociados tendo em conta as suas implicações para os traba-
lhadores. Em vez de cederem à pressão dos accionistas para

Contudo, muitos líderes de RH ainda não estão totalmente in-


tegrados no grupo de trabalho de IA da sua organização, e isto
tem de mudar. Embora a necessidade de uma gestão de mudança
inicial e de competências tenha surgido durante as nossas con-
versas com líderes de RH sobre o tema da IA, estes primeiros
passos críticos podem enfrentar a falta de priorização de outros
pares da direcção que se apressam a demonstrar velocidade em
vez de excelência. Rajamma Krishnamurthy, líder de IA digital
da Microsoft, destaca o benefício obtido com o mapeamento
cuidadoso para criar, aprender e usar IA por função de colabora-
dor, um exercício que os líderes de RH podem ajudar a facilitar.

A nossa visão
É importante que os líderes se lembrem que a IA só pode
ajudar as empresas a pensar e a funcionar mais rapidamen-
te. Existe uma simbiose entre colaboradores e ferramentas
de IA; precisam um do outro para funcionar bem, exigindo
ambos contributos correctos, formação e reflexão cuidadosa.
Incluir os líderes de RH nestas discussões será fundamental
para gerar valor e fazer avançar os objectivos empresariais.

32 Human Resources Portugal Dezembro 2023


reduzirem os custos a curto prazo em favor dos ganhos de pro- tam o potencial de uma força de trabalho híbrida de inteligên-
dutividade, poderá ocorrer um crescimento contínuo. Poderiam cia artificial e humana estão preparadas para se destacarem
ser criados novos postos de trabalho, os trabalhadores poderiam na nova era.
ser mais qualificados e a satisfação dos colaboradores pode- A tomada de decisões também está a sofrer uma metamor-
ria aumentar. fose. As percepções baseadas em dados da IA podem orientar os
O reskilling e o upskilling da força de trabalho assumem líderes, permitindo escolhas mais informadas. Todavia, o toque
um papel central nesta era de transformação. Os líderes de RH humano continua a ser insubstituível, especialmente em dilemas
devem identificar proactivamente quais as funções que podem éticos. Aqui, as directrizes éticas da IA ganham importância.
ser automatizadas e definir estratégias para programas abran- As empresas devem estabelecer estruturas transparentes que
gentes de reskilling. Estas iniciativas podem permitir que os regem o uso da IA, garantindo que a tecnologia se alinha com
colaboradores transitem para posições de maior valor, onde os valores éticos e respeita a privacidade e a justiça.
as suas capacidades criativas e cognitivas prosperam. A gestão As medidas de trabalho flexíveis são redefinidas na era da
do desempenho também evolui, tornando-se um processo di- inteligência artificial. O teletrabalho passa a estar perfeitamente
nâmico em que as perspectivas geradas pela IA ajudam a de- integrado nos fluxos de trabalho aumentados pela inteligência
finir objectivos, a acompanhar o progresso e a oferecer vias de artificial, oferecendo aos trabalhadores uma nova autonomia e
desenvolvimento personalizadas. equilíbrio entre vida profissional e pessoal. A formação refor-
A adopção da aprendizagem contínua não só reforçará a mulada dos trabalhadores reflecte a urgência da literacia digital.
segurança no emprego, como também encorajará uma cultura O desenvolvimento de competências como a interpretação de
de inovação, em que os colaboradores se sentem motivados a dados, o pensamento crítico e a inteligência emocional abrem
interagir com os sistemas de IA como ferramentas para am- caminho a uma força de trabalho resiliente. É importante notar
pliarem os seus conhecimentos. aqui a Lei de AI da União Europeia, que lista o recrutamento
Além disso, à medida que os sistemas de inteligência artifi- como “alto risco” e, portanto, espera-se que algumas das aplica-
cial vão assumindo as tarefas de rotina, a atenção pode mudar ções de inteligência artificial acima mencionadas neste sector
para a promoção da criatividade, da colaboração e da inteligência se tornem altamente regulamentadas.
emocional entre colaboradores. Estas qualidades intrinseca-
mente humanas não podem ser replicadas por máquinas. As
empresas que conseguem reconhecer esta mudança e aprovei- A nossa visão
Uma liderança de alto nível nunca foi tão importante para
gerir estas complexidades. Os principais impulsionadores
do potencial de liderança permanecem críticos como um
indicador de sucesso futuro, incluindo curiosidade, percep-
ção, envolvimento e determinação. Como a inteligência ar-
tificial apresenta vários desafios relacionados com o bem-es-
tar dos colaboradores, também oferece uma oportunidade in-
crível de reformular a força de trabalho e ampliar o potenc-
ial humano.

Olhando para o futuro


Preparar o caminho para uma força de trabalho resiliente

Os líderes de Recursos Humanos têm uma oportunidade in-


crível à sua frente. À medida que a IA revoluciona o panorama
corporativo, podem promover uma transformação interna sem
perder de vista o componente humano. Não só a função está po-
sicionada de forma única para defender a cultura organizacional
e o bem-estar dos colaboradores durante essa jornada, como,
ao terem uma voz forte no processo, são alavancas críticas para
garantir que empresas de todos os sectores preparem o caminho
para uma força de trabalho mais resiliente enquanto ajudam as
empresas a crescer.

Human Resources Portugal 33


Tema de Capa

Tópicos Potenciais aplicações de IA

Conciliar a IA e
a análise humana R Selecção de currículos com base em IA
(lista restrita de currículos)

R Chatbots para dúvidas dos funcionários


À medida que as empresas incorporam soluções de IA nos R Folhas de pagamento automatizadas
seus processos, pode explorar a forma de tirar partido da IA
para melhorar os processos de RH. Reflicta sobre até que R Onboarding (e offboarding) com recurso à IA
ponto o elemento “humano” deve ser ultrapassado pela IA R Análise a lacunas de competências
quando se trata de tomar decisões sobre fluxos de trabalho,
bem-estar dos colaboradores e processos de contratação, R Avaliações de desempenho
entre outros. R Agendamento

Incluir os RH nas
discussões estratégicas R Desenvolvimento de competências orientadas para a IA

R Cultura de inovação

R Gestão da mudança (para adoptar a IA)


O ritmo da inovação da IA é frequentemente descrito como
exponencial, e a incerteza e a desconfiança sentidas pelos R Programas de reconhecimento dos colaboradores
funcionários também são provavelmente ampliadas. Para R Experiência de aprendizagem dos trabalhadores
navegar neste paradoxo de forma cautelosa, ao mesmo
tempo que se tem cuidado e se cumprem as directrizes, é R Bem-estar e saúde mental
necessário envolver-se em conversas estratégicas contínuas R Planeamento da força de trabalho e análise preditiva
com os colegas da direcção.

Implicações da adopção
da IA para os colaboradores R Reskilling e upskilling da força de trabalho

R Gestão do desempenho

R Tomada de decisões
Perante o aumento contínuo das tecnologias de IA, os líde-
res empresariais estão a debater-se com uma questão R Modalidades de trabalho flexíveis
fundamental: devemos acolher estes avanços com entusias- R Directrizes éticas da IA
mo ou apreensão? O sentimento prevalecente aponta para
uma época empolgante e cheia de potencial. No entanto, R Reformulação da formação dos trabalhadores
estas ferramentas exigem um planeamento e uma super-
visão cuidadosos.

Andrea Berlin Lili Bernhardt


Consultant (London) Researcher – Knowledge Centre (Budapest)

34 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Gestora de Pessoas

INÊS CALHABÉU
DIRECTORA DE RECURSOS HUMANOS DA CIMPOR

Concretizar os
valores da empresa
no dia-a-dia
O desafio é recente, e um dos focos pedido a Inês Calhabéu foi que contribuísse
para a desmaterialização dos valores do grupo no que respeita à gestão do seu capital
humano. Responsabilidade, respeito e compromisso são valores a concretizar no dia-
-a-dia da empresa, de uma forma natural. POR Ana Leonor Martins | FOTOS Nuno Carrancho

A
experiência anterior ro, antevê que o foco passará por «traba- bastante dinâmico e com o qual me iden-
de Inês Calhabéu era lhar as políticas de bem-estar no trabalho tifico nesta fase da minha carreira. To-
em consultoria. Mas e contribuir para a formação contínua de dos os dias são diferentes, e o facto de a
quis dedicar-se a um cada colaborador, apostando, em simul- Cimpor ter uma presença internacional
só projecto e identifi- tâneo, em ambientes de trabalho flexí- contribuiu significativamente para a mi-
cou-se com o sector industrial, por ser di- veis e inclusivos». nha decisão final.
nâmico e estar a passar por várias mudan-
ças. A Cimpor, ainda para mais tendo a ver- A Cimpor é um desafio recente. Vinha do Desde que iniciou o seu percurso profissio-
tente internacional, assentou que “nem mundo da consultoria especializada em nal – e sendo que sempre trabalhou na área
uma luva”. Assumiu assim a direcção de Gestão de Pessoas. O que a fez mudar de Recursos Humanos –, como tem visto a
Recursos Humanos da cimenteira do gru- para o lado do “cliente”, digamos assim? evolução dos desafios nos últimos 15 anos
po Oyak. Está consciente dos desafios, mas Foi uma passagem ponderada, com o no que respeita à Gestão de Pessoas? Quan-
acredita que empenho e compromisso são principal objectivo de ter um foco só num do começou a trabalhar, eram muito dife-
“meio caminho andado”. Entre as priorida- projecto desafiante e poder contribuir de rentes dos actuais?
des actuais do departamento que lidera forma integral para a gestão do capital São diferentes, essencialmente na fase
está trabalhar o employer branding e a humano, em todas as suas vertentes. inicial do recrutamento e selecção, nos
experiência do colaborador, estando em programas de integração e até mesmo na
curso vários investimentos para melhorar E porquê o sector industrial? preocupação atribuída à experiência do
a eficiência de processos individuais, ga- O sector industrial atravessa várias mu- colaborador durante o seu percurso profis-
rantindo uma maior proximidade da equi- danças do ponto de vista da automatiza- sional. Temáticas como o employer bran-
pa de Recursos Humanos. Quanto ao futu- ção e da sustentabilidade. É um sector ding, employee experience ou wellbeing

36 Human Resources Portugal Dezembro 2023


individuais, garantindo uma maior pro-
ximidade da equipa de Recursos Huma-
nos, de forma automatizada.

Quantas pessoas tem a Cimpor?


A Cimpor conta actualmente com 1159
colaboradores, 1056 em Portugal e 103
em Cabo Verde.

Quais são, para a Cimpor, os mais premen-


tes temas na sua gestão?
Temos, nos próximos anos, desafios im-
portantes que vão impactar a Gestão de
Pessoas, nomeadamente as questões rela-
cionadas com a sustentabilidade e as metas
atribuídas à descarbonização definida para
o sector. Para corresponder, será necessá-
rio recrutar profissionais altamente qua-
lificados, apostar em programas de for-
mação adequados e garantir a presença
num mercado de trabalho cada vez mais
competitivo e, sobretudo, internacional.
A retenção é algo que também esta-
mos focados em trabalhar, para não cor-
rermos o risco de perder as nossas pes-
soas mais especializadas.
não eram apontadas como temas críticos lores não têm aplicabilidade. Responsa-
na Gestão de Pessoas. Hoje, são temas fun- bilidade, respeito e compromisso são O que acha que justifica a cada vez maior
damentais na maioria dos debates da área. valores que queremos que sejam concre- dificuldade das empresas na fidelização
tizados no dia-a-dia da nossa empresa, de talento?
Assumiu a liderança de Recursos Huma- de uma forma natural. Teríamos de recuar alguns anos para per-
nos da Cimpor em Agosto passado. Quais ceber que a formação universitária exis-
têm sido os desafios iniciais? E como é que isso se consegue? Que prio- tente em Portugal mudou. Os licenciados
Os desafios são o que são, e existem para se- ridades de actuação definiu? que terminaram recentemente os seus
rem superados. Acredito que a excelência Actualmente, estamos focados em tra- cursos sabem que são detentores de um
das melhores práticas associadas à Gestão balhar o nosso employer branding e a ex- know-how técnico valorizado em várias
de Pessoas contribui em muito para ul- periência colaborador. Nesta fase, estão empresas e, como tal, beneficiam de um
trapassar os desafios, que existem em qual- em curso vários investimentos ao nível de mercado de trabalho dinâmico, como não
quer empresa. Para tal, é preciso muito aplicações informáticas muito mais ágeis existia há muitos anos. São mais as ofer-
empenho e compromisso. O nosso clien- e desenvolvidas com o objectivo princi- tas disponíveis do que candidatos em pro-
te principal é interno e os níveis de exi- pal de melhorar a eficiência de processos cura activa de emprego e, como tal, cabe
gência são elevados, como é de esperar.

Mas o que lhe foi pedido? «Não há falta de pessoas, nem as pessoas
Foi-me pedido para fazer parte de um
projecto internacional, contribuindo de
têm falta de competências. As empresas
forma positiva para a desmaterialização
dos valores do grupo no que respeita à
é que se habituaram a recrutar
gestão do nosso capital humano. De nada profissionais qualificados a custo baixo.»
serve ter um disclaimer com os valores
corporativos, quando na prática esses va-

Human Resources Portugal 37


Gestora de Pessoas INÊS CALHABÉU

às empresas definir a melhor estratégia Acredito que seja um sector ainda maio-
para captar e reter esses mesmos talentos. ritariamente masculino. Têm alguma co-
PERCURSO
Geracionalmente, também existem municação mais direccionada para o públi-
mudanças. São poucas as pessoas que de-
finem como expectativa principal perma- Inês Calhabéu co feminino ou não fazem essa distinção?
Não fazemos esta distinção. Inevitavel-
necer mais do que cinco anos num pro- mente, e dado o sector onde actuamos, o
Tendo assumido o cargo de
jecto. Vêm à procura de realização profis- head count de maior expressividade em
direcção de Recursos Humanos
sional, mas com um princípio e fim pre- na Cimpor, cimenteira do grupo questões de género é claramente o mas-
viamente definidos. O tempo de duração, Oyak, em Agosto deste ano, Inês culino. Não obstante, 30% do nosso pú-
ninguém consegue prever ao certo. Cabe Calhabéu conta já com 15 anos de blico feminino exerce cargos de gestão,
a cada empresa conseguir contribuir de experiência, tendo passado por um facto que nos orgulha.
diferentes áreas e por dois países
forma estruturada para a fidelização
distintos. Começou o seu percurso
desse talento. na Kelly Services, onde assumiu
Há falta de pessoas no mercado de traba-
o cargo de Human Resources lho, ou há falta de pessoas com as com-
Na Cimpor, também sentem isso, que é um Staffing consultant durante dois petências certas?
desafio cada vez maior manter o talento? anos. Posteriormente, mudou-se Discordo das duas. Nem há falta de pes-
para a Bélgica, onde permaneceu
Sim, claro. E isso torna-se evidente logo soas, nem as pessoas têm falta de com-
quatro anos, tendo exercido a
durante o processo de selecção. Passou a função de team leader e Human petências, até porque a aprendizagem
ser algo com que tivemos de aprender a Resources Business partner na hoje deve ser contínua e dinâmica.
saber lidar no dia-a-dia. Já ninguém vem Microsoft. Quando regressou As empresas habituaram-se a recru-
com o ADN de “ficar para sempre” ou de a Portugal, em 2015, ocupou o tar profissionais qualificados a custo bai-
cargo de Managing director na
“emprego para a vida”. xo, numa altura em que a taxa de desem-
Egor, durante sete anos, e foi
responsável por temas como prego atingiu 15%. Ora, existindo maior
Atrair talento é mais fácil? Não sendo even- a transformação de negócio, a disponibilidade de profissionais, isso dita
tualmente um sector sexy para trabalhar, gestão de operações e de talento. as regras de mercado para ofertas sala-
a Cimpor é uma empresa atractiva? Com uma licenciatura e uma pós- riais menos atractivas. Actualmente, com
-graduação em Gestão Estratégica
Sim, é. Como referi, o sector industrial está uma taxa média, em 2023, de 6,5%, as em-
de Recursos Humanos, tem ainda
em transformação e isso torna-o atractivo, uma formação internacional presas precisaram de se reinventar, ou dei-
mas acredito que não é para todos. Tem de em Administração de Recursos xariam de conseguir contratar pessoas.
se gostar do que se faz, experienciar o dia- Humanos, na Federgon.
-a-dia nas fábricas e também perceber o Em 2020, a Cimpor criou uma Academia.
enquadramento macro da empresa. Por O que motivou esta aposta?
exemplo, o facto de termos presença in- A academia Cimpor nasce de uma vonta-
ternacional é um factor de atractividade. fícios flexíveis e, acima de tudo, o work- de interna em querer apostar em talento
-life balance, que foi algo que a pandemia jovem, que possa mais tarde ser integrado
O teletrabalho, por exemplo, muito fala- colocou na ordem do dia. O equilíbrio ne- directamente nas nossas fábricas, fi-
do actualmente entre os “benefícios” que cessário entre a vida pessoal e profissio- cando a conhecer profundamente o nos-
os profissionais mais valorizam, não será nal nunca foi tão debatido como hoje. so negócio, através de um plano de for-
possível na maioria das vossas funções. mação intenso on the job. Foi algo de sen-
Que outros argumentos têm? Trabalham a vossa marca de empregador? timos necessidade, por forma a assegurar
Sim, há funções que claramente não são Quais as principais apostas neste âmbito? a continuidade de funções altamente exi-
passíveis de usufruir de teletrabalho. Acima de tudo, na actuação que é feita gentes, que são críticas nas nossas ope-
São funções operacionais, muitas delas por meio de parcerias com universidades, rações e cujo know-how demora anos
em laboração contínua, dado o sector associações diversas e rede de networking a adquirir.
em que actuamos. Mas proporcionamos internacional. Pretendemos continuar a
flexibilidade, dias de descanso... apostar no employer branding para que Que competências privilegiam quando es-
a marca Cimpor seja reconhecida como tão a recrutar? E quais são mais difíceis
O que sentem que os jovens mais valo- uma marca de referência nas diversas de encontrar?
rizam hoje? vertentes, incluindo a gestão feita ao ní- Em geral, diria que são todas aquelas que
Tudo o que está relacionado com melho- vel dos Recursos Humanos nas diversas qualquer empresa valoriza: colaboração,
res práticas retributivas, formação, bene- geografias onde estamos presentes. dedicação, proactividade e resiliência.

38 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Gestora de Pessoas

Nunca se deu tanta importância às com-


petências pessoais de cada um e às mais-
-valias que essas aportam às organiza-
ções. É nestas que se faz a distinção in-
dividual que existe quando o know-how
técnico é equiparável.

A possibilidade de requalificação e de-


senvolvimento de novas competências
é valorizado pelas vossas pessoas? Será
também uma “porta” para a progressão
de carreira...
Sim, claro. O nosso plano de formação
anual contempla não só o desenvolvi-
mento de competências técnicas, mas
também de competências pessoais, de
forma integral, como um todo. Todas as
necessidades de formação são relevadas
para serem contempladas no plano de-
finido para o efeito e, mediante análise
criteriosa, são incluídas no plano de for-
mação atribuído nesse ano.
Para cargos de gestão e programas de
liderança, contamos com parcerias com
entidades de renome como a AESE, a
Universidade Católica e a Universidade
Nova de Lisboa, pelo rigor atribuído nos
programas formativos.

A inteligência artificial (IA), nomeada-


mente a generativa, é algo que já estejam A transformação digital também obriga- ou insucesso das organizações, e não so-
a “explorar”, nomeadamente para a rea- rá a uma transformação cultural... Qual mente enquanto colaboradores, mas em
lização de algumas tarefas de menor va- das duas é mais desafiante? todo o percurso profissional. Se a expe-
lor acrescentado? As duas. Uma não vive sem a outra. riência vivida enquanto colaborador não
A IA é algo que vai surgir naturalmente tiver sido a melhor, esta imagem perpe-
no que respeita aos processos e métodos O que acredita que será essencial ao su- tua-se no tempo e em toda a rede de net-
de trabalho. Obviamente, o objectivo pas- cesso das organizações e dos profissionais? working, não sendo de todo benéfica para
sa por automatizar grande parte deste Sou suspeita para responder a essa per- atrair as melhores pessoas.
processo, contribuindo para a eficiência gunta... Numa visão de direcção de Re-
nos métodos de trabalho. A Gestão de cursos Humanos, claramente acredito Que tendências perspectiva para a Ges-
Pessoas não é excepção. que são as pessoas que ditam o sucesso tão de Pessoas?
Considero que os próximos cinco anos
vão ser desafiantes. Ultrapassada a ca-
«Nunca se deu tanta importância pacidade de reinvenção a que a maioria
às competências pessoais de cada das empresas foi sujeita, as novas gera-
ções pedem mais. Acredito que o foco
um e às mais-valias que essas passará por trabalhar as políticas de bem-
-estar no trabalho, contribuir para a for-
aportam às organizações.» mação contínua de cada colaborador,
apostando, em simultâneo, em ambien-
tes de trabalho flexíveis e inclusivos.

Human Resources Portugal 39


L Barómetro Human Resources

APOIO:

Quais as prioridades
para 2024, para gestores
de Pessoas e CEO
Sobre aqueles que serão os grandes desafios da Gestão de Pessoas para 2024, não há
grandes novidades, com a atracção e retenção de talento a voltar a destacar-se. No entanto,
não é essa a prioridade dos CEO. Mas é outro o dado que sobressai neste 50.º Barómetro
Human Resources, e cujo alerta já tinha sido dado em 2022: a maioria das lideranças em
Portugal não tem as competências necessárias para enfrentar os desafios que se avizinham.
Uma nota positiva: as perspectivas de contratação e de aumentos salariais são optimistas.
POR Ana Leonor Martins

40 Human Resources Portugal Dezembro 2023


OPINIÃO
A integração eficaz da IA implica um
verdadeiro equilíbrio entre a automação e
a valorização das competências humanas

Carla Marques
CEO da Intelcia

R «Neste 50.º Barómetro, quase a fechar 2023, a


questão da preparação das lideranças para os desa-
fios que se avizinham é mais uma vez colocada. Com
alguma preocupação, constatamos que 40% indicam
que não e apenas 38% referem que sim, embora a sua
maioria necessitará de actualizar as suas competên-
cias, o que pode reflectir uma preocupação comum
em relação à capacidade de adaptação e visão de
longo prazo dos líderes.
É crucial que os líderes invistam no desenvolvimen-
to contínuo das suas competências, se desafiem a ac-
tualizar o seu conhecimento e promovam uma cultura
de aprendizagem e desenvolvimento constante.
Sobre a questão dos grandes temas/desafios da Gestão de Pessoas em 2024, sem
surpresa, continuam a ser a atracção e retenção de talento (52%), o upskilling e reski-
lling (42%) e a inteligência artificial (27%).
Considero que o reskilling e upskilling continuam a ser um catalisador para a atrac-
ção e retenção de talento, um tema recorrente, abordado inúmeras vezes, mas muito
pouco explorado e capitalizado pela maioria das empresas. Por outro lado, a integra-
ção eficaz de inteligência artificial (IA) implica um verdadeiro equilíbrio entre a auto-
mação e a valorização das competências humanas, com a garantia de transparência e
ética. Um posicionamento e comunicação claros sobre o propósito e funcionamento
da IA é fundamental para mitigar resistências e potenciar a sua adopção e resultados.
A mesma questão foi colocada de forma global e na perspectiva do CEO, relativa
aos três temas mais urgentes/prioritários nas suas empresas. Curiosamente, a pro-
dutividade e atracção e retenção de talento estão no top 3 de ambos. No contexto
actual, estes dois temas emergem como prioridades estratégicas ligadas. As empre-
sas reconhecem que uma força de trabalho motivada e talentosa é um activo crucial
para impulsionar o sucesso organizacional, em que investir em programas de desen-
volvimento profissional, oferecer oportunidades de crescimento e criar um ambiente
de trabalho inclusivo e inspirador são abordagens eficazes para atrair e reter talentos
qualificados e, ao mesmo tempo, estimular a produtividade.»

C
omo habitualmente no fi- nham? A actual situação política do País níveis de emprego se vão manter em Por-
nal de cada ano, a Human vai impactar a actividade das empresas? tugal, enquanto os mesmos 40% pers-
Resources recorre aos espe- Foram estes temas que colocámos ao pectivam que vão descer (37% acham que
cialistas do Barómetro Hu- painel do Barómetro Human Resources será uma diminuição entre 0,1 e 3%, e
man Resources para ajudar nesta 50.ª edição, cujos resultados apre- 3% afirmam que será uma diminuição
a perspectivar o novo ano: como vai evo- sentamos de seguida. superior a 3%). Já 20% confiam que o em-
luir o emprego em Portugal em 2024? E os prego vai aumentar (15% dizem que au-
salários? Os grandes temas e desafios na Emprego a manter-se ou mentará entre 0,1 e 3%, para 5% será um
Gestão de Pessoas vão manter-se? Quais diminuir e salários a aumentar aumento entre 3 e 5%, e ninguém acredi-
as prioridades das empresas neste âmbi- Em relação à evolução do emprego no ta que irá aumentar mais do que 5%). São
to? Gestores de Pessoas e CEO estão ali- nosso país em 2024, a primeira con- perspectivas em linha com as do ano pas-
nhados? E as lideranças, estão preparadas clusão que se destaca é que os inquiridos sado, ainda que ligeiramente mais con-
para enfrentar os desafios que se avizi- estão divididos: 40% acreditam que os servadoras, pois, em 2023, havia mais es-

Human Resources Portugal 41


L Barómetro Human Resources

OPINIÃO
«São inúmeros os desafios para continuar a atrair e reter talento
em Portugal»

Ana Gama Marques


Directora de Pessoas e Organização da Altice

R «Os grandes temas na gestão de Pessoas, em 2024, serão uma continuidade dos temas de 2023 que vão ga-
nhando cada vez mais preponderância, como vemos no Barómetro: a atracção e retenção de talento com 52%,
seguida do upskilling e reskilling com 42% e da inteligência artificial com 27%.
A atracção e retenção dos colaboradores é um dos desafios que se intensificou em 2023 e que continuará em
2024, resultado dos desafios da globalização do mercado de trabalho e da procura que as camadas mais jovens
têm por experiências diferentes e desafios novos, e por garantirem que o que fazem tem um propósito e está
alinhado com a missão das organizações.
Ao nível da globalização, Portugal compete com os seus recém-licenciados ou trabalhadores no mercado
global, pois as nossas competências são reconhecidas internacionalmente. No entanto, apesar de oferecermos
desafios iguais aos que existem fora do nosso país e termos condições ímpares, a realidade é que Portugal tem
um nível salarial mais baixo do que alguns países da Europa e a carga fiscal do trabalhador não é a mais atractiva.
Se olharmos para o Barómetro, verificamos que, embora exista uma perspectiva de aumento dos salários
brutos em Portugal – 85% dos inquiridos responderam que os salários vão aumentar pelo menos 2%; todos os inquiridos consideram que
as empresas onde trabalham vão aumentar os salários brutos; e 40% identificam que os aumentos serão superiores a 4% - verificamos que,
ao nível dos salários reais, o aumento não é repercutido, existindo uma degradação do poder de compra.
Se aos factos acima identificados juntarmos a conjuntura política actual, que é referida por todos como tendo impacto na actividade das
empresas, verificamos que são inúmeros os desafios para continuar a retenção do talento e que o esforço tem de ser simultaneamente
interno e externo à empresa. Todos os stakeholders têm de perceber o seu papel e trabalhar conjuntamente para identificarem medidas
que permitam atrair e reter o talento português.
Ao nível da inteligência artificial (IA), embora seja o terceiro tema identificado, está muito relacionado com o upskilling e reskilling das pes-
soas. Inicialmente, uma das grandes questões era como é que as funções iriam ser efectuadas no futuro e que funções iriam desaparecer.
Hoje, um dos desafios de que falamos é como vamos formar as pessoas para as novas funções necessárias à alavancagem da IA, tais
como Data scientists, Gen AI prompters, Cloud engineers, Machine learning engineers. Tendo em conta que estas funções são novas,
existem poucas pessoas formadas com estas competências para uma necessidade emergente e grande destes recursos, pelo que, cer-
tamente, vamos ter um grande desafio na retenção do talento com estas competências.
Adicionalmente, para além das competências técnicas, temos de preparar as pessoas para os desafios do mundo em constante mu-
dança, trabalhando a adaptabilidade e resiliência, enquanto desenvolvemos a capacidade de trabalhar em equipa, a iniciativa e proactivi-
dade, a criatividade, a inovação e a liderança.
Embora o tema das lideranças tenha sido abordado em último, este reveste-se de especial importância, pois tal como vemos no baró-
metro à resposta se as lideranças estão preparadas para enfrentar os desafios que se avizinham, verificamos que 40% responderam que
apenas uma parte está preparada e que 38% responderam que sim, mas vão necessitar de actualizar competências.
É importante desenvolver e capacitar as lideranças em Portugal, desenhar programas que as permitam desenvolver, garantindo que
inspiram, definem e ajustam a estratégia das suas empresas/áreas/projectos aos desafios que surgem a cada momento. É importante
definir/desenhar um caminho, mas ir lendo a cada momento os inputs do exterior e ter a capacidade para o ir ajustando.
Cada vez mais, as pessoas que vão fazer a diferença nas organizações e nas lideranças são as pessoas que se conseguirem adaptar ao
mercado. Se repararmos, os grandes líderes dos “unicórnios” são pessoas com uma grande capacidade de resiliência.
O Barómetro também aborda as perspectivas de evolução do emprego em Portugal, quer do ponto de vista do mercado, quer das
empresas, em que todos os inquiridos dizem que são de estagnação, em linha com as perspectivas que também se projectam para a
economia. Estas perspectivas podem gerar/sugerir algum abrandamento na saída de recursos críticos, no entanto não devemos descurar
todas as políticas que temos em desenho e em implementação para a atracção e retenção do talento, pois, se não as trabalharmos de
forma contínua e holística, iremos continuar a perder os recursos mais importantes e dificultar a aceleração da economia.»

pecialistas (25%, mais cinco pontos per- mero de colaboradores na empresa de terior) a garantirem que o número de co-
centuais) a defender que o emprego ia au- cada um, os resultados são considera- laboradores na sua empresa vai aumentar
mentar e menos (33%, menos seis p.p.) a velmente diferentes e o cenário inverte- (35% dizem que entre 0,1% e 3%, 20%, en-
considerar que ia manter-se. -se, passando a ser o crescimento que cla- tre 3 e 5%, e 10% afirmam mesmo que pre-
Colocando o foco num nível mais ramente se destaca, com 65% dos especia- vêem um aumento de 10% nos efectivos,
micro, mudando para a evolução do nú- listas (mais 45 p.p do que na pergunta an- em 2024. Apenas 5% admitem que vai re-

42 Human Resources Portugal Dezembro 2023


L Barómetro Human Resources

1. Como perspectiva a evolução do 2. Qual a sua projecção para duzir o headcount (menos 35 p.p., com-
emprego em Portugal, em 2024? a evolução do número de parativamente à previsão para o cenário
colaboradores na sua empresa, no País). A diferença menor regista-se na
3%
em 2024? opção “vai manter-se”, com 30%. Esta
foi, de resto, uma tendência também re-
5%
5% gistada no ano passado, o que pode en-
10%
15%
contrar parte da explicação no facto de
os profissionais que integram o Baróme-
37% 30%
tro Human Resources serem de grandes
20%
e médias empresas.
Quando o tema é dinheiro, os resul-
tados são talvez mais surpreendentes.
Questionados sobre como perspectiva-
40%

35% vam a evolução dos salários brutos em


Portugal, em 2024, não há ninguém que
acredite que não vão aumentar. A larga
maioria – 63% – espera que aumentem
Vai aumentar mais de 5% Vai aumentar mais de 5%
entre 2 e 4%. Comparativamente ao ano
Vai aumentar entre 3% e 5% Vai aumentar entre 3% e 5% passado, traduz-se num aumento de 12
Vai aumentar de 0,1% e 3% Vai aumentar de 0,1% e 3% p.p. (51%). E dois em cada 10 inquiridos
Vai manter-se Vai manter-se
(22%) confiam inclusive que os aumen-
tos vão ser superiores a 4%. Só 5% con-
Vai diminuir de 0,1% e 3% Vai diminuir de 0,1% e 3%
sideram que serão inferiores a 1%, e 10%
Vai diminuir mais de 3% Vai diminuir mais de 3% prevêem um aumento entre 1 e 2%.
Não sabe/não responde Não sabe/não responde Mais uma vez pedindo aos inquiridos
para terem em conta a realidade da sua

OPINIÃO
Incerteza e esperança

Eduardo Caria
Director de Pessoas & Organização do Grupo Ageas Portugal

R «Não há dúvidas de que 2023 foi um ano desafiante, mas 2024 também não será fácil. A queda do Governo
acentuou a vulnerabilidade económica e social que se vive em Portugal, levando a uma maior preocupação por
parte das empresas: 33% acreditam que isso impactará de maneira significativa as suas actividades.
Contudo, os portugueses mostram-se igualmente divididos quanto ao próximo ano, como demonstra o re-
sultado do Barómetro:
 40% estimam que a evolução do trabalho se irá manter, mas 37% antecipam uma diminuição de até 3%;
 63% esperam um aumento positivo (até 4%) dos salários brutos em 2024, mas quando questionados sobre a
previsão dos salários reais, 27% acreditam numa diminuição;
 35% prevêem um aumento modesto no número de colaboradores/as de até 3%, indicando confiança em opor-
tunidades de crescimento, mas 20% acreditam numa expansão ainda mais significativa entre até 5%.
Esta dualidade mostra-nos uma mistura clara de incerteza, com uma certa esperança. Por um lado, temos a
actual situação política, mas por outro, existe uma grande confiança dos portugueses quanto à expansão dos
negócios em Portugal, com a maioria (55%) a prever que as suas empresas aumentem o número de colaboradores/as.
Enquanto responsável de Pessoas e Organização, considero que devemos continuar a apostar na atracção e retenção de talentos e no
upskilling e reskilling, sendo algumas das prioridades do Grupo Ageas Portugal em 2024.
Com a aceleração do impacto que as tecnologias digitais e a IA terão no mundo do trabalho, exige-se que as forças de trabalho actuais
adquiram novas competêcias e aprendam a adaptar-se de forma mais ágil. Posto isto, a capacidade de adaptação, a gestão eficaz de
talentos e uma resposta estratégica à instabilidade política serão cruciais para navegar com sucesso neste ambiente dinâmico.»

Human Resources Portugal 43


L Barómetro Human Resources

3. Como perspectiva a evolução


OPINIÃO dos salários brutos em Portugal,
em 2024 (na maioria das empresas)?
«Um bom líder nunca deve deixar de
fazer algo por medo de não conseguir»

Francisco Viana
Director central de Recursos Humanos
5%
da Caixa Geral de Depósitos
10%
R «Nos resultados do 50.º questionário deste Barómetro 22%
destaco o tema das lideranças. Apenas 5% concordam que
estão preparadas para enfrentar os desafios que se avizi-
nham e 15% também concordam, mas só as de topo. Sou
daqueles que acreditam que as lideranças têm de ser de-
senvolvidas. As empresas necessitam de boas lideranças
aos diversos níveis, para desenvolver o talento, mas essen-
cialmente para criar, inspirar, incentivar e motivar equipas, 63%
com o intuito de atingir resultados. Um bom líder deve ser
audaz, deve manter uma aprendizagem permanente ao
longo da vida, e deve ser capaz de criar impacto.
É responsabilidade de um líder desenvolver as competências certas, ser autor e
actor e não um mero observador. As lideranças que congregam à sua volta pessoas
com competências, comprometidas e que têm um caminho claro, conseguem fazer
equipas ganhadoras, que são núcleos determinantes do sucesso das organizações.
Diria que um bom líder nunca deve deixar de fazer algo por medo de não conse-
guir, sem antes reflectir muito sobre o que e quem poderá ajudá-lo a alcançar esse
feito. É preciso fazer acontecer e ter iniciativa. É essencial saber pedir e saber re- Vão aumentar mais de 4%
conhecer a importância da ajuda que recebe, mas também é importante saber a Vão aumentar entre 2% e 4%
quem pedir ajuda e, por isso, cuidar da rede de contactos ao longo dos anos. Saber
controlar os limites e estar fora da zona de conforto são desafios para qualquer líder Vão aumentar entre 1% e 2%
porque o seu exemplo marca.
Vão aumentar menos de 1%
Para enfrentarem os desafios que se avizinham, as organizações vão necessitar de
reskilling e upskilling de uma forma mais acelerada. Em Portugal, deve-se apostar Não vão aumentar
mais na formação. Se há dúvidas por onde começar, façam-no pelas lideranças.»
Não sabe/não responde

empresa, quando questionados sobre aumento salarial entre 1 e 4% (25%, que é


como vão evoluir os salários brutos, A maioria dos a maioria, entre 1 e 2%; e 20% entre 2 e
sobe consideravelmente a percenta- 4%). Por outro lado, tratando-se de salá-
gem dos especialistas que afirmam que os inquiridos (40%) rios reais, 27% acreditam que vão descer.
aumentos serão superiores a 4%, quan-
do 38% revelam que serão entre 2 e 4%.
acreditam que Ainda assim, são valores mais baixos do
que os registados em período homólogo
Já 20% reconhece que os aumentos se- o emprego em do ano passado (48%, mais 21 p.p.). Para
rão entre 1 e 2%, mas mais uma vez nin- 15%, os salários reais vão manter-se.
guém prevê que não haja aumentos. Portugal vai
Se voltarmos à análise macro do País,
mas concretizarmos a pergunta na evo-
manter-se ou Os grandes temas
na Gestão de Pessoas
lução dos salários reais (tendo em con- diminuir. Mas Em relação aos grandes temas/desa-
ta a inflação, que, de acordo com previ- fios da Gestão de Pessoas em 2024, tal
sões da OCDE para Portugal, se fixará 65% prevêem como em 2022, volta a surgir em pri-
em 3,3% para o próximo ano), os resul-
tados mudam significativamente. Nes-
aumentar equipas meiro lugar a atracção e retenção de
talento, com 52% (menos seis p.p. do
te cenário, já ninguém acredita que os na sua empresa. que no ano passado, sendo que em re-
salários subam acima dos 4%, e descem lação a 2021, quando reuniu 69% das
para 45% os inquiridos que antevêem um respostas, também já tinha perdido

44 Human Resources Portugal Dezembro 2023


L Barómetro Human Resources

4. Como vão evoluir os salários 5. Como perspectiva a evolução


brutos na sua empresa, em 2024? dos salários reais (tendo em conta
a inflação) em Portugal, em 2024?

3% 3%

2% 5%
20%
7%

20% 12%

OPINIÃO 40%
25%

Aí estão números 15%

que devem fazer 10%


parar e pensar 38%

Isabel Borgas Vão aumentar mais de 4%


Directora de Pessoas e Organização
da NOS Vão aumentar entre 2% e 4%

Vão aumentar entre 1% e 2%


R «Nestes resultados do 50.º questio-
nário do Barómetro, 52% dos respon- Vão aumentar menos de 1%
dentes identificam, para o ano de 2024,
a atracção e retenção de talento como Vão aumentar mais de 4% Mantêm-se
a principal prioridade para os gesto-
Vão aumentar entre 2% e 4% Vão diminuir menos de 1%
res de Pessoas e nas suas empresas.
Curiosamente, apenas 5% apontam os Vão aumentar entre 1% e 2% Vão diminuir entre 1% e 2%
temas de employer branding e cultura
Vão aumentar menos de 1% Vão diminuir entre 2% e 4%
corporativa como um tema/desafio!
Distantes parecem já ir os tempos Não vão aumentar Vão diminuir mais de 4%
em que o poder da notoriedade das
marcas/empresas e os seus logotipos Não sabe/não responde Não sabe/não responde
eram bandeira suficiente para posicio-
nar as organizações no top of mind do
dito talento, que tantas horas de dis-
cussão e energia nos tem consumido. relevância), e em segundo o upskilling ployer branding (5%) e a cultura corporati-
Andaremos nós tão emersos na ari- e reskilling, com 42% (ganhando rele- va (5%) surgem como os restantes temas
dez dos temas de produtividade, au-
mento incontornável da massa salarial,
vância comparativamente a 2022, com menos referidos, provavelmente não por
upskilling e reskilling e adaptação às mais três p.p.). Mas na terceira posição não serem considerados relevantes, mas
novas tecnologias, que temos vindo a há mudanças: este ano destaca-se a inte- por apresentarem menos desafios.
perder a capacidade de ver e acredi- ligência artificial, referida por 27% dos Há um dado curioso quando se pede
tar que as organizações precisam de
resgatar a sua alma, a sua identidade, inquiridos, destronando a saúde física e para, dos três temas identificados,
e que nos compete a nós, pessoas das mental dos colaboradores, que surge em identificar qual é prioritário/mais ur-
Pessoas, mantê-la viva? quarto, com 22% (menos seis p.p.). Poden- gente nas respectivas empresas. Se
Deveria ser prioridade canalizar a
do os inquiridos escolher até três opções, nos primeiro e segundo lugares não há
reflexão e a actuação para o essencial
na nossa existência. Relembrar e refor- há um empate a fechar o top 5: produtivi- diferenças, ainda que surjam com menos
çar o ADN, que diferencia cada uma dade e liderança de equipas (que surgia expressão – atracção e retenção de talen-
das nossas organizações e por isso em quarto, em 2022), ambos com 20%. to (40%) e upskilling e reskilling (25%),
mesmo as torna únicas.
Sai deste top as novas formas de organiza- no terceira posição surge a produtividade
Não podemos sucumbir à tentação
de nos tornarmos “apenas” gestores ção do trabalho (17%, menos quatro p.p.). (22%). E, antes da inteligência artificial
de Pessoas em tempos que, fervilhan- Dar ainda nota que há um tema que e saúde dos colaboradores (ambos com
do com mudanças e sendo difíceis, não foi referido por nenhum dos inquiri- 15%), destacam-se a liderança de equipas
exigem líderes de Pessoas!»
dos, a lei laboral (que, em 2022, tinha tido e o desenvolvimento e gestão de carrei-
7%). A comunicação interna (2%), o em- ras (ambos com 17%).

46 Human Resources Portugal Dezembro 2023


L Barómetro Human Resources

6. Quais serão os grandes temas/ 7. Dos três temas identificados na 8. Para o/a CEO da sua empresa,
desafios da Gestão de Pessoas, resposta acima, qual é prioritário/ o que acredita que será prioritário/
em 2024? mais urgente na sua empresa? mais urgente?

50%
40%

52%

35%
32%

42%
25%

25% 20%
17% 17%
22% 15% 15%
12%

7%
27% 17% 17% 5%
2%
22% 15% 15% 15%
20% 20%

12%
17%
10% 10%
15% 15% 15%

12% 12%
10% 7% 7%
Reduzir custos
5% 5% 5%
Diversificação de produtos/serviços
5% 5% 5%
2% 2%
2%
Expansão geográfica do negócio

Aumentar produtividade

Reestruturar processos
Atracção e retenção de talento Atracção e retenção de talento

Reestruturar equipas
Saúde – física e mental – dos colaboradores Saúde – física e mental – dos colaboradores

Melhorar as compensações e benefícios


Novas formas de organização do trabalho Novas formas de organização do trabalho

 esenvolvimento/actualização competências
D
Upskilling e reskilling Upskilling e reskilling das equipas

Reestruturar equipas Reestruturar equipas Saúde mental das equipas

Produtividade Produtividade Atracção e retenção de talento

Desenvolvimento e gestão de carreira Desenvolvimento e gestão de carreira Adopção da inteligência artificial

 quilíbrio entre a vida pessoal e profissional/


E  quilíbrio entre a vida pessoal e profissional/
E Sustentabilidade ambiental/ecológica
bem-estar dos colaboradores bem-estar dos colaboradores

Não sabe/não responde


Gestão multigeracional/da diversidade Gestão multigeracional/da diversidade

Liderança de equipas Liderança de equipas

Compensação e benefícios Compensação e benefícios


Mais curioso ainda é a percepção so-
Employer branding Employer branding bre o que será prioritário para o CEO da
empresa, e aqui a produtividade des-
Comunicação interna Comunicação interna
taque-se claramente, com 50%. Com os
Cultura corporativa Cultura corporativa inquiridos a continuar a poder escolher
Agilização de processos RH Agilização de processos RH
três opções, a atracção e retenção de ta-
lento passa para segundo lugar (35%) e
People analytics People analytics
reduzir custos é a terceira opção mais re-
Inteligência artificial Inteligência artificial ferida. Já entre os temas menos referi-
dos, os especialistas indicam a melhoria
das compensações e benefícios (5%) e,
Lei laboral Lei laboral

Não sabe/não responde Não sabe/não responde mais preocupante, a saúde mental das
equipas, que, recorde-se, é identificado

48 Human Resources Portugal Dezembro 2023


L Barómetro Human Resources

9. As lideranças estão preparadas 10. A actual situação política do País


para enfrentar os desafios que (”queda” do Governo) vai impactar
se avizinham? a actividade das empresas:

2%

5%
2%
5%
7%
15%

40% 18%
OPINIÃO
33%

Ensaio sobre
38% a liderança
35%
Marco Serrão
Director de Gestão de Pessoas e Cultura
da Galp
Sim, as de topo (directores de Recursos Humanos
e CEO) e as intermédias R «Confesso que este é um tema
que sempre me fascinou, tanto que
Sim, mas só as de topo (directores de Recursos acabei por dedicar a minha tese de
Humanos e CEO)
Sim, muito significativamente Mestrado na minha alma mater (Uni-
Sim, mas só as intermédias versidade de Lisboa) à avaliação para
Sim, significativamente
o desenvolvimento de competências
 im, mas a maioria vai precisar de actualizar
S
as suas competências Sim, ligeiramente de liderança e inovação.
Mas será que o desenvolvimento
Não, só uma minoria Sim, muito ligeiramente de liderança continua a ser uma área-
Não Não
-chave da gestão estratégica de Re-
cursos Humanos? Absolutamente. Ser
Não sabe/não responde Não sabe/não responde líder é um processo de aprendizagem
contínua, uma jornada sem um destino
específico, em que cada dia temos de
“work our craft”. O mundo em mudan-
pelo painel do Barómetro entre os cinco tionarmos o painel do Barómetro Human ça constante em que vivemos, alguns
chamam-lhe contexto VUCA (volatility,
mais relevantes para a Gestão de Pes- Resources sobre se as lideranças estão uncertainty, complexity, ambiguity),
soas, em 2024. preparadas para enfrentar os desafios cria uma necessidade de adaptação
que se avizinham, uns expressivos 80% e evolução permanente dos líderes e
As lideranças e o consideram que não: 40% dizem que só desafia as organizações a encontra-
actual cenário político rem os melhores mecanismos de de-
uma minoria, 38% defendem que sim, senvolvimento e suporte da liderança.
Verificámos que o tema da liderança de mas com a ressalva de que a maioria vai Mas nada é possível sem a motiva-
equipas só foi referido por 20% dos inqui- precisar de actualizar competências (ou ção de mudar e aprender dos próprios
ridos como um dos mais desafiantes para seja, com as competências que têm ac- líderes. Para estimular esta motivação,
é importante criar jornadas de aprendi-
o próximo ano, percentagem que desce tualmente, não estão preparadas) e 2% zagem alinhadas com os valores e pro-
para 17% quando se pergunta a prioridade afirmam peremptoriamente que não. pósito da organização e que tenham
nas respectivas empresas, mas ao ques- Este alerta já tinha sido dado no ano pas- em conta as necessidades específicas
de desenvolvimento de cada líder. Este
processo pode ser desafiante, mas a

Mais de metade dos especialistas confiam


customização da jornada é fundamen-
tal para o compromisso de aprendiza-

que os salários reais vão aumentar, mas


gem e aceleração da mesma.
Os líderes nunca estão 100% pre-

a maioria (25%) antevê um aumento


parados para os desafios que se avizi-
nham, ninguém está, mas com o mind-
set correcto e com jornadas de desen-
entre 1 e 2% (abaixo da inflação). volvimento customizadas às necessi-
dades de cada líder, tudo é possível!»

Human Resources Portugal 49


L Barómetro Human Resources

OPINIÃO
2024: um ano de alguma contenção, mas com optimismo

Nuno Gonçalo Simões


Director de Capital Humano da PwC

R «Os resultados do 50.º Barómetro, de maneira geral, parecem antecipar que o ano de 2024 poderá ser um ano
de alguma contenção, ainda que com optimismo para as organizações.
Que a actual situação política de Portugal irá impactar a actividade das empresas é a certeza de 91% dos parti-
cipantes. Com eleições programadas para Março, e com tudo o que isso implica, existirão certamente impactos/
atrasos em tomadas de decisão políticas com influência directa nas organizações do sector público e privado.
Ainda que, com esta conjuntura de maior incerteza, a perspectiva da maioria dos participantes seja de que a
evolução do emprego irá crescer (20%) ou pelo menos manter-se (40%), temos já um número considerável (40%)
que considera que essa evolução será negativa.
Detalhe positivo é que, quando a análise é feita numa perspectiva mais micro e interna das suas próprias
organizações, os valores referentes ao aumento do número de trabalhadores é de 65%, e somente 5% referem
uma possível diminuição.
O ano de 2024 será também de um novo salário mínimo em Portugal, e essa situação está reflectida nos 100%
de respostas a confirmarem que os salários irão subir nas suas organizações. Mais uma vez se nota maior conservadorismo das respostas
na abordagem macro (Portugal) comparativamente à micro (própria organização), existindo maior confiança de que o aumento salarial nas
organizações dos inquiridos será superior do que na generalidade do mercado laboral português.
Os aumentos salariais têm sempre um impacto significativo e directo nos custos laborais das empresas. Um salário mínimo mais ele-
vado pode resultar em pressões adicionais sobre as finanças das organizações, especialmente aquelas que dependem de mão-de-obra
intensiva. Por outro lado, um salário mínimo mais alto pode contribuir para a melhoria do poder de compra dos trabalhadores, promoven-
do maior equidade social.
O aumento em questão, para algumas empresas, pode significar a necessidade de reavaliar suas estruturas de custos, ajustar preços,
ou até mesmo buscar eficiências operacionais para acomodar o aumento nos custos de mão-de-obra. Possivelmente, é por essa razão
que a produtividade emerge como uma das prioridades na Gestão de Pessoas para 2024. A atracção e retenção de talentos, o upskilling,
o reskilling e a integração da inteligência artificial (IA) são outras das prioridades escolhidas pelos respondentes que convergem para
optimizar o desempenho organizacional e a produtividade.
As empresas competem não só por clientes, mas também por profissionais qualificados, e a sua retenção nas empresas é um factor
importante, pois diminui risco e custos directos e indirectos. O upskilling e o reskilling surgem como estratégias essenciais, exigindo in-
vestimentos para manter a força de trabalho alinhada com as evoluções tecnológicas e as exigências do mercado. A crescente integração
da IA intensifica este cenário.
Gerir equipas eficientemente requer a compreensão das dinâmicas entre colaboradores humanos e sistemas automatizados. Estraté-
gias de formação e adaptação tornam-se indispensáveis para garantir que os colaboradores estejam aptos a trabalhar em conjunto com
as soluções baseadas na tecnologia e IA, maximizando a eficiência operacional.
Deixo um último comentário para os resultados à questão relacionada com o nível de preparação das lideranças para os desafios que
se avizinham. 40% dos participantes mencionam que somente uma minoria está preparada e 38% mencionam que a maioria está, mas que
necessitam de actualizar as competências, ou seja, existe um trabalho grande a fazer por parte das equipas de Recursos Humanos nas or-
ganizações, sendo uma excelente oportunidade para reforçar o papel desta área junto das lideranças da empresa e, consequentemente,
na participação da definição estratégica das suas organizações.»

sado, com igual expressividade (79%), gunta relacionada com a actualidade nário político actual não irá impactar
mas nem assim o tema surge no top 3 das política de Portugal, sobre se a “queda” a sua actividade.
prioridades para 2024. do Governo e consecutiva convoca- Ao longo desta análise, partilhamos
Nesta temática, não faz grande dife- ção de eleições antecipadas vai im- também os comentários – na primeira
rença se se trata de liderança de topo ou in- pactar a actividade das empresas. pessoa – de 11 especialistas do painel do
termédias, com 15% a acreditarem que as Ainda que quase todos os especialistas Barómetro Human Resources, sobre os
lideranças de topo (directores de Recur- considerem que sim, a maioria (35%) resultados desta 50.ª edição. É compos-
sos Humanos e CEO) estão preparadas acredita que será um impacto ligeiro, to por mais de 250 profissionais, maio-
e só 5% a acreditarem que as lideranças de mas 33% antevêem um impacto signifi- ritariamente gestores de Pessoas (75%),
topo e as intermédias estão preparadas. cativo na actividade das empresas. De mas também presidentes (10%) e direc-
Para concluir esta 50.ª edição do Ba- notar que 7% não sabem (ou não respon- tores de Marca, Comunicação e/ou Mar-
rómetro Human Resources, uma per- dem), quanto só 2% confiam que o ce- keting (15%).

50 Human Resources Portugal Dezembro 2023


L Barómetro Human Resources

OPINIÃO
«As pessoas deverão sentir-se seguras para assumir riscos»

Andreia Rangel
Directora de People, Purpose & Culture da Deloitte

R «O cenário corporativo está cada vez mais acelerado. Qualquer empresa que pretenda executar com êxito a
sua estratégia tem de considerar que o mercado está em movimento, identificar tendências futuras e prever a
melhor forma de satisfazer os requisitos, que estão sempre em evolução.
Os últimos anos trouxeram desafios sem precedentes e um mundo mais propenso à polarização do que antes.
Mas, em vez de questões e problemas binários, surgiu um mundo mais multipolar, exigindo que operemos com
mais nuances e maior contexto.
Hoje, as empresas competem pelas melhores pessoas com diferentes competências, mas também pela capa-
cidade de abraçar rapidamente a transformação digital e a inclusão de inteligência artificial nos seus processos.
Por tudo isto, o papel da Gestão de Pessoas obriga a uma abordagem estratégica e visionária para alavancar
a corrida competitiva e aumento de produtividade.
Num mundo onde as pessoas valorizam propósito, progressão e desenvolvimento, as organizações precisam
de incorporar esses movimentos na experiência de trabalho e comunicar a visão inspiradora.
A rápida evolução tecnológica significa que as competências críticas estão a evoluir drasticamente. O upskilling (aperfeiçoamento
de capacidades existentes) e o reskilling (aquisição de novo conhecimento/competências) tornam-se dinâmicas imperativas para que a
organização se mantenha relevante e adaptável. Neste sentido, o talento tem de ser incentivado a reinventar-se, a manter viva a curio-
sidade em busca de conhecimento. As pessoas deverão sentir-se seguras para assumir riscos e procurar a aprendizagem constante. O
movimento será uma constante no futuro.
Finalmente, a inteligência artificial que, entre outras valências, será uma excelente ferramenta que facilitará a tomada de decisão.
Permitirá o desenvolvimento de análises preditivas que nos ajudarão a perceber e a agir rapidamente. Irá contribuir para melhorarmos
processos, mas também monitorizarmos o nível de engagement e satisfação dos colaboradores. O gestor de Pessoas terá de equilibrar e
considerar uma quantidade cada vez maior e mais complexa de informação com um largo espectro de inclusão e rigor ético.
Liderar com empatia será ainda mais necessário ao interligarmos a tecnologia com a humanização da experiência de trabalho. Ao fazê-
-lo com propósito, cultivamos um ambiente de aprendizagem alavancado numa aceleração tecnológica que nos conduzirá ao futuro, que
já é presente.»

OPINIÃO
«Os líderes têm sobre si a responsabilidade de
inspirarem e de serem o motor de crescimento»

Sara Silva
Directora de Relações Humanas na L’Oréal

R «Quando pensamos que já fizemos tudo pelas lideranças, que já lhes demos toda a formação e meios para
gerirem o negócio e as suas equipas, eis que somos confrontados com os resultados deste Barómetro. Para
42% das empresas que responderam, a grande maioria das lideranças não estão preparadas para enfrentar os
desafios que se avizinham. E para 38%, as lideranças estão preparadas, mas a maioria vai precisar de actualizar
as suas competências. Parece estranho? Quase os mesmos valores para sim e não? Para mim, estes valores
reflectem a ambiguidade nesta era em que vivemos e trabalhamos.
As lideranças são também, elas próprias, pessoas com dúvidas e incertezas neste mundo que tem muito pouco de previsível e certo. As
lideranças são muitas vezes os melhores experts técnicos nas suas funções, a quem é cada vez mais importante avaliar o seu coeficiente
de adaptabilidade ou rapidez e agilidade de aprendizagem antes de serem promovidos.
Sim, vivemos um tempo turbulento no País, na economia e na política, na sociedade e no ambiente. Nas empresas, os líderes têm sobre
si a responsabilidade de inspirarem e de serem o motor de crescimento, não só do negócio, mas também das pessoas que gerem. Alguma
vez estarão totalmente preparados?
Termino com uma palavra de admiração para os líderes que, com humildade e motivação, assumem a sua vulnerabilidade e procuram
continuar a aprender diariamente com as suas equipas. Enquanto profissional de RH, tenho a minha missão facilitada quando assim é.»

Human Resources Portugal 51


L Barómetro Human Resources

OPINIÃO
Construindo equipas para o futuro: os desafios
da atracção e retenção de talento
Paulo Silva
Director de Recursos Humanos da SIVA | PHS

R «O tema de atracção e retenção de talento esteve sempre no âmbito das preocupações das empresas, principal-
mente das que pretendem destacar-se nos respectivos mercados e querem assegurar a sustentabilidade futura dos
seus negócios. Com as rápidas mudanças a que temos assistido no mundo do trabalho, este desafio torna-se ainda
mais complexo agora e no futuro. Existe um conjunto de factores que tem ganho crescente relevância, obrigando as empresas a adaptar as suas
abordagens para conseguirem obter resultados positivos e consistentes. Um dos factores prende-se com as expectativas dos profissionais mais
jovens, como os millennials e a geração Z, os quais valorizam diferentes vertentes da vida profissional face às gerações anteriores. Procuram pro-
pósito, autonomia, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e uma cultura organizacional positiva que aposte na comunicação, na diversidade e
no desenvolvimento contínuo. A transformação digital é outro factor que está a mudar a forma como as pessoas trabalham e interagem com as
empresas. A possibilidade de trabalhar à distância traz inegáveis benefícios, mas, quando levada ao extremo, diminui significativamente a com-
ponente emotiva da relação com a cultura da empresa podendo, mais facilmente, perder-se o propósito do papel de cada um na organização e o
sentimento de pertença a um projecto. A retenção aqui torna-se mais difícil. Outra consequência da transformação digital é a necessidade de ac-
tualizar as competências dos colaboradores para que não fiquem excluídos desta onda de evolução tecnológica e, em consequência, baixem os
níveis de motivação e os índices de produtividade. A competição global pelos talentos, alavancada pela transformação digital, é outro factor que
obriga a uma abordagem à gestão do talento mais flexível e inovadora. Se juntarmos a isto a crescente escassez de profissionais qualificados, em
contraciclo com a crescente procura, o desafio de recrutar e reter talentos torna-se mais difícil para as empresas. É mais difícil reter talento face à
grande procura no mercado global. Esta nova conjuntura exige que as empresas se tornem atractivas não apenas no que respeita aos indicadores
financeiros e de negócio, mas também em relação à cultura, aos valores e às oportunidades de desenvolvimento profissional que oferecem. A
comunicação clara e consistente pela empresa do seu propósito e dos seus valores é fundamental para que os profissionais que procuram cultu-
ras organizacionais positivas, e atractivas, possam tomar a sua decisão de abraçar um desafio onde se sintam integrados e realizados. Já ninguém
tem interesse em concorrer a empresas obscuras que não comunicam de forma clara e transparente o seu projecto e aquilo que defendem. Os
factores acima elencados coexistem no tempo e reforçam-se mutuamente, formando uma “tempestade perfeita” que coloca grandes desafios
às empresas na “navegação” pelo mundo do talento. Nunca é demais destacar o papel das lideranças neste contexto repleto de complexidades.
Os líderes são uma peça-chave na criação de culturas positivas assentes em valores íntegros e com práticas de gestão que promovam a comu-
nicação aberta e o desenvolvimento das pessoas. Também por este motivo, a gestão de talentos deve ter um claro objectivo de identificação
e desenvolvimento de líderes internos, que no futuro garantam a sustentabilidade do negócio e o desenvolvimento da cultura organizacional.»

OPINIÃO
«A atracção e retenção de pessoas continuará a ser uma prioridade»

Verónica Soares Franco


Chief Human Resources officer e membro da comissão executiva do Pestana Hotel Group

R «A atracção e retenção de pessoas, identificado pelo Barómetro Human Resources como o grande tema da Gestão
de Pessoas para 2024, continuará a ser uma prioridade para o Pestana Hotel Group, bem como a consolidação de uma
estratégia de employer branding cada vez mais robusta. Destaco algumas iniciativas nas áreas do recrutamento, condi-
ções remuneratórias e benefícios, e formação e desenvolvimento. Ao nível do recrutamento, o grupo tem colaborado de
forma muito próxima com escolas e universidades em vários dos 16 países onde temos actividade, comunicando activa-
mente as oportunidades existentes em mais de 100 hotéis e outros negócios. Ao nível das condições remuneratórias e
benefícios, para além da política de Remuneração Mínima Pestana, que assegurou em 2023 um valor total mensal nunca
inferior a 1000 euros (incluindo subsídio de alimentação), o grupo também tem uma política de partilha de resultados a
todos os colaboradores e outros benefícios como o seguro de saúde, o apoio psicológico ou as condições privilegiadas
em unidades Pestana. Os colaboradores têm ainda a possibilidade de participar em acções de voluntariado organizadas
pela nossa área de sustentabilidade através do programa Planet Guest. Quanto à formação e desenvolvimento das nos-
sas pessoas, fundamentais para aumentar as qualificações e potenciar o crescimento na carreira dos nossos colaboradores, a nossa academia
interna, Pestana Academy, tem sido um pilar fundamental. Os resultados estão à vista, com evoluções na carreira e mobilidade geográfica bem
patentes nas nossas operações. Destacamos os nossos programas Pestana Mobility, que permite ao nosso talento ter experiências internacionais
noutras geografias onde o grupo está presente, por exemplo, em Nova Iorque, Londres ou Amsterdão, e o Pestana Growing Together, que tem
como objectivo preparar futuros responsáveis de departamentos/unidades do Grupo. A atracção e retenção das pessoas requer assim uma
abordagem transversal, com iniciativas em várias áreas e cada vez mais adaptadas às motivações de cada colaborador.»

52 Human Resources Portugal Dezembro 2023


L Barómetro Human Resources

BARÓMETRO Filipa Ferreira, Talkdesk


Filipa Moreno, LeasePlan
Nuno Fernandes, IESE
Nuno Ferreira Morgado, PLMJ
Filipa Figueira, Merck Nuno Gonçalo Simões, PwC
Painel Filipe Seixas, PHC Software
Francisca Matos, Five9
Nuno Moreira da Cruz, Católica Lisbon
Nuno Prata, SCML
Francisco Viana, CGD Nuno Ribeiro Ferreira, Floene
Frederico Rodrigues, Tecnovia Nuno Rodrigues, Roca
Afonso Carvalho, Grupo Serlima Gonçalo Rebelo de Almeida, Grupo Vila Galé Nuno Troni, Randstad Portugal
Alexandra Almeida Ferreira, PLMJ Helder Figueiredo, Trivalor Patrícia Calvário, Teleperformance
Alexandra Andrade, Adecco Henrique Pulido, Brisa Patrícia Cristovão, SAP
Alexandra Brandão, Santander Hugo Rosado, RTP Patrícia Durães, CTT
Alexandra Sequeira Carvalho, Netjets Ilda Ventura, Hovione Patrícia Pereira, Konica Minolta
Ana Basílio, Boehringer Ingelheim Inês Amaral, PHC Software Patrícia Valente, Farminvest
Ana Caiola, BP Inês Cândido, EDP Paula Arriscado, Toyota
Ana Cardeira, Quinta do Lago Inês Castro, Worten Paula Baptista, Hays
Ana Côrte-Real, Porto Business School Inês Madeira, Grupo FHC Paula Carneiro, EDP
Ana Gama Marques, Altice Inês Pimentel, Arrow Global Paula Castelão, The Navigator Company
Ana Gomes, Makro Inês Vacas, Rumos Paula Cordeiro, Blue & Green
Ana Herrero, Leroy Merlin Inês Zenha, PLMJ Paula Moreira, Banco BiG
Ana Maria Lopes, Carris Isabel Barros, Sonae MC Paula Ribeiro Albuquerque, Grupo Media Capital
Ana Oliveira, Grupo Vila Galé Isabel Borgas, NOS Paula Sequeiros, Novartis
Ana Petrucci, Intelcia Isabel Dinis, Esegur Paulo Barreto, Crédito Agrícola
Ana Porfírio, Jaba Recordati Isabel Ferreira, Medinfar Paulo Bastos, Simoldes
Ana Portela, Neves de Almeida Isabel Furtado, TMG Paulo Jorge, Nobre
Ana Ribeiro Soares, Jerónimo Martins Isabel Heitor, ANA – Aeroportos de Portugal Paulo Jorge Silva, SIVA
Ana Rita Lopes, Grupo Nabeiro – Delta Cafés Isabel Moço, Universidade Europeia Paulo Magro da Luz, Egor
Ana Rita Loução, Tranquilidade Isabel Moisés, Secil Paulo Pisano, Booking
Ana Salomé Martins, Symington Family Estates Jaime Morais Sarmento, Pine Cliffs Paulo Santos, Renova
Ana Santos, Grupo Visabeira Janine Alves, Sogrape Pedro Almeida e Silva, Eurobic
Ana Serafim, Grupo Vila Galé Joana Couto, PRIO Energy Pedro Brito, Nova SBE
Ana Sofia Soares, Mobileum Joana Ferreira, Onyria Resorts Pedro Fontes Falcão, Iscte Executive Education
Ana Sousa, Farfetch Joana Lança Coelho, Adecco Pedro Henriques, Siemens
Ana Veríssimo, Vodafone Joana Lino, Bosch Pedro Jorge Silva, Autoridade da Concorrência
Ana Vicente, Sonae Sierra Joana Marques, Sheraton Pedro Magarreiro, Galp
Anabela Carvalho, Luz Saúde Joana Queiroz Ribeiro, Fidelidade Pedro Ramos, APG
Anabela Silva, BP João Duque, ISEG Pedro Raposo, Banco de Portugal
Anabela Ventura, DBM Portugal João Guerreiro, Sovena Pedro Ribeiro, Super Bock Group
André Borralho, Grupo Constant João Zúquete da Silva, Altice Pedro Rocha e Silva, Neves de Almeida
André Ribeiro Pires, Multipessoal Jorge Figueiredo, Grupo Nabeiro – Delta Cafés Pedro Rocha Matos, Korn Ferry
Andreia Rangel, Deloitte Jorge Lopes, Rumos Pedro Rocha Pires, Fujitsu
Antónia Cadillon, Lactogal José Bancaleiro, Stanton Chase Ramon O’Callaghan, Porto Business School
António Henriques, CH Consulting José Luís de Carvalho, José de Mello Saúde Raquel Leitão, Tecnimede
Arménio Rego, Católica Porto Business School José Reis Rocha, KWD Automotive Raquel Neves, Altice
Aurélio Caldeira, Delphi José Veríssimo, ISEG Ricardo Martins, Cegoc
Beatriz Perez, Ferring Pharmaceuticals Luís Correia Nunes, CEPSA Ricardo Nunes, Bring Global
Carla Cristina Caracol, Rádio Renascença Luís Ferreira, Allianz Ricardo Parreira, PHC Software
Carla Gama, Allianz Luís Martins, Sogrape Ricardo Peres, A Bola
Carla Gouveia Luis Monteiro, Mota Engil Ricardo Santos, BA Glass
Carla Marques, Intelcia Luis Roberto, Rede do Empresário Rita Baptista, Bene Farmacêutica
Carla Pombeiro, Sumol+Compal Luís Sítima, Odgers Berndtson Rita Cadillon, Primavera BSS
Carla Rebelo, Adecco Group Luísa Pestana, Vodafone Rita Pereira, Frulact
Carla Silva, Gupo Dreammedia Madalena Caldeira, Abreu Advogados Rita Peçarra, Microsoft
Carlos Sezões, Darefy Madalena Rei de Sá, JP Sá Couto Rita Távora, IKEA
Carlos Figueiredo, STEF Portugal Mafalda Lobo Xavier, Sonae Rita Xavier, Mercer
Carolina Lopes, Lidergraf Manuel Oliveira, Sanitana Rodrigo Simões de Almeida, Mercer
Catarina Azevedo, KPMG Marco Costa, Exclaimer Rogério Canhoto, PHC
Catarina Conceição Silva, Capgemini Marco Serrão, Galp Rui Alves, BI4ALL
Catarina Cristão, Valorsul Margarida Calado, NTT Data Rui Andrade, Vieira de Almeida & Associados
Catarina Fernandes, Sonae MC Margarida Cardoso, Tabaqueira Rui Barroso, Kelly Services
Catarina Graça, Claranet Portugal Margarida Nápoles, NOS Rui Cabrita, EDP
Catarina Horta, Novo Banco Margarida Pêgo, Jerónimo Martins Rui Fiolhais, Wellow Group
Catarina Tendeiro, Hovione Margarida Pena, Cofidis Rui Maia, Xpand IT
Catarina Vieira, Barbot Maria Alexandra Martins, Câmara Municipal de Matosinhos Rui Mendes Costa, AdP – Águas de Portugal
Cátia Baptista, Feedzai Maria Alexandra Pires, Xerox Rui Paiva, We Do
Cátia Martins, L’Oréal Internacional Maria Antónia Cadilhe, Universidade do Porto Rui Sales Rodrigues, Accenture
Cátia Reis, Grupo Nabeiro – Delta Cafés Maria da Glória Leitão, Cuatrecasas Rui Teixeira, Manpower Group
Célia Carrasqueiro, Verallia Maria da Glória Ribeiro, AMROP Rui Valente, Garrigues
Clara Celestino, Nokia Maria de Fátima Gonçalves, Cork Supply Salomé Ferreira, Câmara Municipal do Porto
Clara Raposo, Banco de Portugal Maria do Rosário Rocio, Estradas de Portugal Sandra Brito Pereira, Montepio
Clara Trindade, L’Oréal Maria do Rosário Vilhena, Nestlé Sara da Fonseca, Santander
Cláudia Dias Gomes, Inoweiser Maria João Gouveia, BNP Paribas Sara Silva, L’Oréal
Cláudia G. Teixeira, Inetum Maria João Martins, My Change Serafim Gonçalves, LeYa
Cláudia Monteiro, RAR Maria José Graça, Wygroup Sílvia Simões, BIAL
Cláudio Valente, IKEA Maria Kol, Cisco Sofia Homem de Melo, Grupo Yours
Conceição Martins, Angelini Maria Lourenço, Bayer Sofia Mendoça, McDonald’s
Conceição Martins, Euronext Maria Roman, Lidl Portugal Sofia Miranda, Grupo Casais
Conceição Zagalo, Grace Maria Teresa Caiado, PwC Sónia Santos, Rovensa
Cristina Carvalho, BMW Mariana Canto e Castro, Randstad Portugal Sónia Vasconcelos, Novabase
Dalila Ribeiro Martins, TAP Air Portugal Mário Castro, Ford Susana Ferreira, Philips
Daniela Catarina Rodrigues Carreira, SCML Marisa Garrido, IAPMEI Susana Silva, El Corte Inglés
Délia Gonçalves, Generis Marisa Raposo, Rádio Comercial Susana Sousa, Roland Berger
Diogo Alarcão Marisia Giorgi, Pingo Doce Tânia Nunes, Vodafone
Edgar Santos, Renault Marlene Silva, Tranquilidade Tânia Rodrigues, GrandVison
Eduardo Caria, Ageas Marta Amador, Schréder Hyperion Teresa Cópio, Dom Pedro Hotels
Eduardo Correia, Credibom Marta Ferreira, Faurecia Teresa Freitas, EY
Eduardo Mendes, Brave Generation Academy Marta Maia, Jerónimo Martins Teresa Rodrigues, Tempus
Elisa Bernardo, Pfizer Marta Rocha, Sociedade Central de Cervejas e Bebidas Tiago Brandão, Super Bock Group
Elsa Carvalho, WTW Matilde Coruche, Norgine Valter Ferreira, Câmara Municipal de Lisboa
Elsa Cruz, Turismo de Portugal Maurício Marques, Natixis Vanda Brito, Kelly Services
Esmeralda Tavares, PTDF – Portugal Duty Free Miguel Pina e Cunha, Universidade Nova de Lisboa Vanda de Jesus, iCapital
Estela Rocha, The Navigator Company Miguel Salema Garção, Grupo Your Vanda Vieira, Ordem dos Psicólogos Portugueses
Eunice Antunes, Sanofi Miguel Sardo, Nobre Vanessa Lindeza, Viagens Abreu
Fernanda Barata de Carvalho Mónica Póvoas, Ageless Portugal Vasco Falcão, Konica Minolta
Fernanda Correia, Norauto Mónica Rosendo, Accenture Vera Batista, TAP Air Portugal
Filipa Carajabille, Boehringer Ingelheim Nádia Sousa, Real Hotels Group Vera Rodrigues, Sonae
Fernando Neves de Almeida, Boyden Nelson Brites, Gupo Nov Verónica Soares Franco, Pestana
Filipa Drumond, Cimpor Nelson Pires, Jaba Recordati
Filipa Esteves, Capgemini Nuno Cardoso Filipe, Banco BPI

Human Resources Portugal 53


Em Directo

JOE MULL
FUNDADOR DA BOSSBET TER LEADERSHIP ACADEMY

Employalty:
Como manter os
colaboradores
comprometidos
Para Joe Mull, escritor, fundador da BossBetter Leadership Academy e com uma longa
carreira em Recursos Humanos, atrair e manter os colaboradores numa organização
depende dos empregadores. No seu mais recente livro, “Employalty: How to Ignite
Commitment and Keep Top Talent in the New Age of Work”, partilha o segredo.
POR Tânia Reis

C
omo não havia nenhuma Que análise faz da actual realidade do fissionais adorem o que fazem e com
palavra que o transmitis- mundo do trabalho? quem o fazem. Claro que há diferenças
se, Joe Mull inventou-a. Sabemos muito sobre a natureza huma- culturais, mas, na maioria dos países,
Pode pensar-se que “Em- na, independentemente do local onde esta é a realidade.
ployalty” tem que ver com vivemos e trabalhamos, e o que esta nos
“employee loyalty”, mas o escritor reve- diz é que as pessoas tendem a fazer um Mas, muitas vezes, o que os colaborado-
la que é uma mistura das palavras “em- excelente trabalho quando acreditam res e as empresas consideram um “bom
ployer loyalty” e “humanity”. E, num mo- que têm um excelente emprego. Por isso, trabalho” são duas coisas completamen-
mento em que assistimos a um “recali- no mundo do trabalho, se queremos que te diferentes...
brar” da forma como as pessoas querem as pessoas entrem nas empresas, fiquem Com certeza. E aqui entram as influências
que o trabalho encaixe nas suas vidas, por muito tempo e que o seu compro- culturais. O que um trabalhador norte-
Joe Mull acredita que o presente e futu- metimento a nível emocional e psico- -americano considera um bom salário é
ro do mundo do trabalho vai depender lógico se reflicta no seu trabalho, temos diferente da opinião de um profissional
desse Employalty. de criar as condições para que os pro- português, por exemplo. No que diz res-

54 Human Resources Portugal Dezembro 2023


«Os grandes
desafios que
as empresas
enfrentam hoje
são compreender
que condições
podem atrair
os profissionais,
fidelizá-los e
fazê-los crescer.»

cebem salários significativamente su-


periores aos restantes trabalhadores,
e claro que, seja por formação, compe-
tências ou experiência, essa discrepân-
cia vai existir sempre, mas o fosso cres-
ceu tanto ao longo dos anos que os cola-
boradores abaixo estão a dizer que não
querem continuar assim, que precisam
de melhores salários e mais flexibilida-
peito às diferentes perspectivas do que rente”. E em organizações que, actual- de no trabalho.
é um bom trabalho, o que sabemos, pelo mente, se debatem com temas de atrac- A meu ver, estes são os grandes de-
menos nos Estados Unidos da América ção e fidelização de talentos, os empre- safios que as empresas enfrentam hoje,
(EUA) – e também noutros países de- gadores estão a ser obrigados a olhar e a compreender que condições podem
senvolvidos –, é que estamos a assistir a pensar no trabalho de forma diferente. atrair os profissionais, fidelizá-los e fa-
um “recalibrar” da forma como as pes- zê-los crescer.
soas querem que o trabalho encaixe nas Quais considera ser os principais desa-
suas vidas. fios que as empresas enfrentam hoje, no E o que mais preocupa os trabalhadores
Sabemos que os trabalhadores to- que diz respeito à Gestão de Pessoas? no actual mercado de trabalho?
mam mais decisões que dão prioridade Creio que é perceber como podem man- Está relacionado com o que mencionei
à qualidade de vida, querem passar mais ter-se produtivas e lucrativas, enquan- anteriormente. Vou conseguir susten-
tempo com as suas famílias, e não que- to têm de contratar mais pessoas para tar a minha família? Vou poder ter uma
rem um volume de trabalho que os faça trabalhar menos. Parece difícil de enten- vida além do trabalho? Mas, também, se
sentir-se constantemente sobrecarrega- der, mas, no fundo, é exactamente isso, vão ter um emprego que os satisfaça,
dos, esgotados e stressados. não maximizar o lucro às custas da em- que seja interessante e com significado?
Existem diversas percepções do que ployee experience. E num local que maximize os seus ta-
constitui um bom emprego, em parte, por- Sabemos que em organizações onde lentos, com um grupo de pessoas com
que muitos empregadores andaram de- os administradores estão dispostos a quem gostem de trabalhar e que os acei-
masiado tempo a sobrecarregar os co- partilhar a sua prosperidade com os co- te e reconheça?
laboradores. Os profissionais estão a di- laboradores, estes vão permanecer por
zer “estou cansado e quero que o trabalho mais tempo e trabalhar melhor. Em inú- Este ano lançou o livro “Employalty: How
ocupe a minha vida de uma forma dife- meros países, as lideranças de topo re- to Ignite Commitment and Keep Top Ta-

Human Resources Portugal 55


Em Directo JOE MULL

lent in the New Age of Work”. O que signi- flexibilidade. Se recebo um salário ade-
fica “Employalty”? quado, tenho um volume de trabalho ge-
É uma palavra inventada que pretende rível e alguma flexibilidade sobre quan-
transformar o complexo em algo simples. do, onde e como trabalho, esse emprego
E quando olhas para a palavra, achas encaixa na minha vida como uma peça
que tem que ver com “employee loyalty”, de um puzzle. E isso vai aumentar o meu
mas é uma mistura das palavras “em- comprometimento e lealdade para com
ployer loyalty” e “humanity”. a organização.
Employalty é um compromisso que Um trabalho com significado está re-
os empregadores assumem para uma lacionado com o que faço todos os dias e
employee experience mais humanizada, com quem o faço. E sabemos que o tra-
porque é isso que gera comprometimen- balho se torna significativo para as pes-
to no trabalho. Se tratamos os colabora- Quando um profissional tem o em- soas quando vivenciam três componen-
dores como uma mera “mercadoria” que prego ideal, faz um trabalho com signi- tes: propósito – acredito que o meu tra-
traz benefícios, e esquecemos que têm vi- ficado, para um grande chefe, vai juntar- balho faz a diferença?; força – vou de-
das, objectivos e necessidades fora da em- -se à organização, permanecer por mais senvolver um trabalho alinhado com os
presa, não estamos a criar um ambiente do tempo e esforçar-se ao máximo. meus talentos?; e sentimento de perten-
qual eles queiram fazer parte. Porém, se ça – sou um membro aceite e reconheci-
criarmos uma employee experience mais O torna um emprego ideal, um trabalho do da equipa e da empresa? Quando es-
humanizada, que não os trata como “mer- com significado e um chefe “bom”? tas três componentes não existem, o tra-
cadoria”, mas sim como seres humanos, O emprego ideal compreende três dimen- balho é menos recompensador e é mais
e decidimos minimizar os impactos ne- sões: remuneração, volume de trabalho e provável ir procurar noutro sítio.
gativos que o trabalho pode trazer às suas
vidas, então estamos a criar condições
atractivas para os profissionais.

Acha que esse é o segredo?


Acho que sim, em termos de filosofia
que devemos ter presente e praticar. Os
empregadores têm de decidir que con-
junto de problemas vão enfrentar. Posso
maximizar o lucro e minimizar a equi-
pa, mas vou ter problemas de turnover,
retenção, moral e esforço. Ou posso colo-
car essa humanidade ao serviço dos tra-
balhadores, pagar-lhes melhores salá-
rios, dar prioridade à qualidade de vida
– o que não é fácil de conseguir. Mas
neste cenário vou ter pessoas que vão que-
rer fazer parte da empresa, que vão falar
sobre ela, e não haverá problemas de re-
tenção e turnover.
Para escrever este livro, analisámos
mais de 200 estudos e artigos sobre os
motivos que levam as pessoas a ficar ou
sair das empresas, e descobrimos que é
muito mais fácil encontrar e manter tra-
balhadores comprometidos se três áreas
da employee experience estiverem asse-
guradas: emprego ideal, trabalho com
significado e um grande chefe.

56 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Em Directo

E, por fim, um grande chefe deve


acautelar três dimensões: confiança – «Quando um dores, sem diminuir necessariamente a
produtividade e a eficácia da organização.
enquanto líder, dou e recebo a confian-
ça dos meus colaboradores?; coaching
profissional tem o São várias as provas que mostram
que, se feita correctamente, a semana de
– ou seja, apoiar os trabalhadores a ana- emprego ideal, faz trabalho de quatro dias tem o potencial
lisar o que sabem, pensam e sentem para
determinar os seus próximos passos; e um trabalho com de ser uma ferramenta de atracção e re-
tenção de talento, enquanto permite
“advocacy” – estou a agir no melhor inte-
resse da pessoa? Preocupo-me com eles
significado, para que a empresa opere com elevados níveis
de desempenho.
como seres humanos? um grande chefe, O mito de que estamos a tentar en-
Esse diagrama, com três círculos –
emprego ideal, trabalho com significa- obteremos dele o caixar o mesmo número de horas de tra-
balho em menos dias não é necessaria-
do e grande chefe – e as três dimensões
de cada um – está ilustrado no livro.
máximo esforço e mente verdade, pois, na maioria dos ca-
sos, são cerca de 35-36 horas por semana
comprometimento.» e o salário permanece igual, um dos mo-
E explica como se coloca essa estratégia tivos pelo qual funciona. O que as orga-
em prática...? nizações fizeram foi descobrir como tra-
É como um manual interno que cada balhar de forma mais inteligente. Defi-
empregador, empresa e até profissional nem-se que reuniões e viagens são ab-
pode aplicar. Se conseguirmos criar es- comprometimento. Por isso, a primeira solutamente necessárias, onde se pode
tas experiências para os colaboradores, coisa que os empregadores devem fazer devolver tempo aos colaboradores e
obteremos deles o máximo esforço e é avaliar que partes já existem e quais como o desempenho é medido, para de-
estão em falta. Depois, é necessário re- pois permitir que as pessoas trabalhem
flectir e desenvolver essas experiências segundo essas métricas.
para os colaboradores. Nesse sentido, pode ser uma ferra-
Uma empresa pode chegar à conclu- menta poderosa porque abrange os facto-
são de que tem bons chefes e trabalho com res volume de trabalho e emprego ideal.
significado, mas não pratica bons salá- Sabemos que o burnout atingiu o seu
rios, e terá de resolver esse tema. Outra ponto mais alto, pelo menos nos EUA, an-
pode descobrir que é forte nas áreas do tes da pandemia aparecer, ou seja, a CO-
emprego ideal e boa remuneração, mas VID-19 simplesmente pegou numa força
é deficitária no factor do grande chefe, de trabalho já exausta e quebrou-a, por
por isso deve investir em formação em isso qualquer empresa que procure for-
liderança. Esse assessment, e depois mas de devolver tempo aos colaborado-
inovar nas áreas que apresentam falhas, res para melhorarem a sua qualidade de
é fundamental. vida deve considerar a semana de tra-
O emprego ideal, o trabalho com sig- balho de quatro dias.
nificado e o grande chefe permitem diag-
nosticar, tanto a nível individual como or- A pandemia mudou realmente o paradig-
ganizacional, como estamos enquanto ma do trabalho?
empresa e empregador. Algumas organizações aperceberam-se de
que não podiam continuar a impor aos tra-
A experiência da semana de trabalho de balhadores o mesmo nível de stress e ex-
quatro dias está a ser testada em algumas pectativa. Existe uma crença generaliza-
organizações. Acredita que poderá tor- da de que grande parte da instabilidade
nar-se a nova norma de trabalho? nos mercados de trabalho e dos desafios
A semana de trabalho de quatro dias tem que as empresas enfrentam para atrair e
sido testada e estudada em quase todos os fidelizar profissionais surgiram da pan-
países desenvolvidos, sim, e continua a demia, mas não é verdade.
mostrar potencial como forma de melho- Nos EUA, já são quatro décadas de
ria da qualidade de vida dos trabalha- trabalhadores mal pagos e sobrecarrega-

Human Resources Portugal 57


Em Directo JOE MULL

dos, a COVID-19 foi apenas mais um in- Esta geração passou a vida agarrada a um que temos de fazer. Se Portugal está a
grediente que entrou numa cultura de tra- telemóvel, o que mudou a natureza da sua perder talentos para empresas estrangei-
balho onde as pessoas já estavam há quase forma de comunicar, e isso não é culpa do ras, basicamente porque pagam mais,
13-14 anos a sair das empresas em busca de ensino. As empresas estão a dar-se conta as empresas portuguesas precisam de
empregos melhores, porque a economia de que precisam de aprimorar algumas perguntar-se de que forma podem co-
permitia que esse “upgrade” acontecesse. competências destes novos colaborado- brir essas propostas e melhorar a quali-
Acho que alguns empregadores ainda es- res como a gestão de conflitos, a cons- dade de vida dos profissionais. No fun-
tão presos aos mesmos padrões de tratar trução de ligações, entre outras. do, voltamos ao manual interno de que
os trabalhadores como “mercadoria”, falava antes. Todas as histórias que co-
tentando maximizar o lucro sobre a em- E a nível de saúde mental e work-life ba- nhecemos de alguém que decidiu deixar
ployee experience, e são estes que estão lance, as empresas estão a abordar estes uma empresa e aceitar um novo empre-
a lutar por manter e atrair profissionais. temas da maneira certa? go estão relacionadas com alguma combi-
Penso que algumas organizações estão nação daqueles factores. Duas empresas
E que poderão não conseguir sobreviver a começar a abordar melhor estas ques- na mesma rua podem ter razões comple-
no mercado no futuro próximo... tões. Vemos empresas a prestar atenção tamente diferentes para não conseguirem
Precisamente. Claro que há ciclos econó- a temas como segurança psicológica e a fidelizar profissionais. Por isso, o asses-
micos, mas este é um momento crucial criar ambientes para os colaboradores sment é tão importante.
de “adaptas-te ou morres” para muitas falarem abertamente, sem medo de re- No caso de Portugal, se retirarmos o
empresas, porque não há profissionais presálias, em que são encorajados a pro- tema impostos da equação – comum a
suficientes para preencher a quantidade curar ajuda sem que isso prejudique os todas as empresas –, é fundamental pen-
de empregos à velocidade a que surgem seus empregos, ou a garantir que os be- sar “o que posso fazer de diferente como
actualmente no mercado. E um empre- nefícios permitem mais acesso a recur- empregador que me destaque”. Talvez
gador que precise de trabalhadores vai sos de saúde. não seja possível aumentar os salários,
precisar de ir buscar a outras empresas, Ao mesmo tempo, parte do tema está mas há outras coisas, como benefícios, a
e se o profissional perceber que vai ter também relacionada com o factor do forma como os colaboradores são trata-
melhor qualidade de vida naquele em- volume de trabalho e com a expectati- dos, o poder de decisão na definição dos
prego, não hesitará em mudar. va do que um trabalhador pode realizar seus horários, ou a diferença que esse
num dia, semana ou mês, e reconhecer trabalho faz na comunidade para activar
Quais as competências que esses empre- que, por vezes, o caminho para uma me- o sentido de propósito nos colaborado-
gadores mais procuram? lhor saúde mental é realmente pagar me- res. Quando não é possível melhorar a
Hoje, estão muito voltadas para o pensa- lhores salários e pedir que trabalhem um remuneração, a única opção é acertar
mento crítico, a capacidade de trabalhar pouco menos. nos outros factores que os profissionais
de forma independente e autónoma, mas procuram e valorizam e que, no fundo,
também competências de comunica- Portugal enfrenta uma escassez de talentos, representam a base psicológica sobre a
ção. Passámos para um mundo de tra- em parte devido à falta de competências, qual o comprometimento é construído.
balho virtual em que não há tantas con- mas também aos baixos salários e à con-
versas no escritório e à hora de almoço, tratação por empresas estrangeiras. Como Por vezes, não se trata apenas de baixos
por isso, a capacidade de comunicar num podem as organizações tornar-se atractivas salários, mas sim de ambientes de traba-
ambiente virtual e de trabalhar de for- e reter os melhores colaboradores? lho tóxicos. Como lidar com maus chefes?
ma independente é mais importante do Por vezes, temos de admitir que o que Primeiro, deixe-me dizer que sei que a
que nunca. não queremos fazer é precisamente o palavra “chefe” nem sempre tem cono-

«Se Portugal perde talentos porque as


As instituições de ensino superior estão
a contribuir positivamente para preparar
os futuros trabalhadores?
Creio que o défice que vemos nos jovens
empresas estrangeiras pagam mais,
que ingressam o mercado de trabalho
não se deve inteiramente à falta de pre-
precisa de perguntar de que forma
paração das universidades. pode melhorar a vida dos profissionais.»
Em parte, é uma questão cultural,
mas a tecnologia também influencia.

58 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Em Directo

dade e melhore a sua qualidade de vida,


estão, na verdade, a criar uma vantagem
competitiva como empregadores e es-
tarão à frente dos seus concorrentes em
termos de curva de aprendizagem.
É uma questão complicada. Mas não
esqueçamos que tempos houve em que
se pensava que a electricidade ia acabar
com a Humanidade...

Como vai ser o futuro do trabalho?


O futuro do trabalho depende de os
empregadores criarem uma employee

tação positiva, mas uso-a por um simples


motivo: é a palavra que todos usamos
nas nossas conversas. Ninguém pergun-
ta a um amigo se gosta do seu “novo lí-
der”, ou comenta que está a ter problemas
com a “liderança”.
Na maioria das vezes, o conselho que
dou é: fala com alguém. No mundo perfei-
to, o colaborador poderia falar directa e
abertamente com o seu chefe e explicar
que algumas coisas não estão a funcionar
e devem mudar. Porém, isso nem sempre
é possível ou seguro, por isso, aconselho
a falarem com alguém, que pode ser um
mentor, alguém na rede profissional que E como encara a inteligência artificial (IA)? experience mais humanizada, porque
possa ajudar nesta situação. Como uma ameaça ou oportunidade? qualquer produto ou serviço que a sua
Há imensos estudos sobre o tema que Depende. A IA pode ser uma ameaça se empresa pretenda fornecer precisará
mostram que a maioria dos maus chefes for usada para substituir pessoas e redu- das “mãos e do coração” dos seus traba-
não tem noção de que são maus chefes, e zir as suas oportunidades de terem uma lhadores. E a única forma, agora e no
acreditando que estão a ser eficientes e a vida e sustentarem as suas famílias. Isso futuro, de activarmos “as mãos e os co-
liderar com ousadia e coragem, e faltan- vai acontecer em algumas funções e pro- rações” dos colaboradores da nossa or-
do-lhes empatia para ver que estão a criar fissões? Provavelmente. Mas, à medida que ganização é deixar claro que também
um ambiente tóxico para os outros. Só a tecnologia evolui, para as funções que temos “as suas mãos e os seus corações
que não cabe ao colaborador “consertar” vão desaparecendo haverá um igual nú- nas nossas mentes”.
um mau chefe, porque não tem poder ou mero de funções que serão criadas para Se queremos comprometimento da
influência para o fazer. É responsabilida- usar essa mesma tecnologia. parte das pessoas, temos de assumir o
de do dono ou presidente da empresa re- Por isso, também constitui uma opor- mesmo comprometimento com elas,
solver esses problemas de desempenho. tunidade. Acredito que as organizações criando um local de trabalho que as
Portanto, quem tem um chefe tóxico, fale que adoptam a tecnologia e incentivam os trate de forma humanizada e não lhes
com alguém que possa orientá-lo sobre as seus colaboradores a aprender a usá-la, imponha uma experiência de trabalho
suas opções para navegar nesse ambiente. de uma forma que aumente a produtivi- que prejudique a sua qualidade de vida.

Human Resources Portugal 59


Em Foco

EXPERIS
de as substituir. «Estamos agora a en-

«ESTAMOS A trar numa nova Human Age – uma épo-


ca em que as pessoas estão a utilizar a

ENTRAR NUMA tecnologia e as ferramentas digitais para


melhorarem as ligações humanas e se-
rem mais produtivas.»
NOVA HUMAN AGE» E o segredo passa por «aprender a tra-
balhar com ela, utilizando-a como uma fer-
ramenta para aumentar as nossas pró-
Mais do que uma ameaça, os avanços tecnológicos devem prias competências, enquanto automati-
zamos as tarefas rotineiras», competên-
ser encarados como oportunidades com elevado potencial,
cias essas que «as máquinas não têm, tal
tanto para os profissionais como para as organizações. como a estratégia, a inovação, a resolução
Nuno Ferro, Brand leader da Experis, analisa os resultados de problemas complexos. A tecnologia será
do mais recente Immersive Tech Report. POR Tânia Reis um factor capacitador de locais de traba-
lho focados no talento e na sua prosperida-

O
de, num contexto onde as soft skills se tor-
Immersive Tech Report, «As tecnologias imersivas e a inteli- narão ainda mais críticas», já que será
recentemente lançado gência artificial (IA) estão a alterar o mun- «esta vertente mais humana que parece
pela Experis – marca de do do trabalho e a abrir caminho para uma marcar o futuro do trabalho», acredita.
recrutamento especiali- nova era na gestão de talento», destaca o Competências como a curiosidade, a
zado do ManpowerGroup responsável. «A aceleração no desenvolvi- criatividade ou a empatia serão o grande
–, pretende mostrar «onde é que os em- mento das tecnologias de machine lear- diferenciador na criação de valor, mas tam-
pregadores e os trabalhadores vêem o ning (ML), realidade aumentada (AR), bém «pensamento crítico, resolução de
maior potencial para o progresso, como é blockchain e das ferramentas de IA con- problemas complexos e competências in-
que os trabalhadores se sentem em rela- versacional, como o ChatGPT, apresentam terpessoais», que terão menos probabi-
ção a estas novas tecnologias e onde acre- potencialidades em todo o ciclo de vida lidade de serem automatizados. «A lear-
ditam que estas podem aportar valor e, ain- dos Recursos Humanos que as empresas nability – a capacidade de aprender con-
da, quais as barreiras à sua adopção e que não podem deixar de agarrar.» tinuamente e desenvolver competências
riscos antecipam para o futuro», explica ao longo de toda a vida –, a comunicação,
o Brand leader Nuno Ferro. Para isso, foram Ligações humanas num a inteligência emocional, a curiosidade
entrevistados quase 39 mil empregado- mundo mais digital ou a empatia serão também cada vez
res em 41 países e realizados vários in- Para Nuno Ferro, ainda que prever o fu- mais valorizadas.»
quéritos com candidatos. Os resultados turo do mundo do trabalho seja algo com- Num futuro volátil, onde continuamen-
demonstram que ambos partilham en- plexo, é certo que a tecnologia vem au- te despertam novas tendências e neces-
tusiamo perante as novas tecnologias. mentar as capacidades humanas em vez sidades, o responsável da Experis acredi-

60 Human Resources Portugal Dezembro 2023


ta que soft skills como a resiliência e a
adaptabilidade «irão construir a empre- «No futuro, os quase metade (46%) disseram que iriam
sentir-se muito confortáveis».
gabilidade a longo prazo e suportar a mo-
tivação das pessoas pela aprendizagem
trabalhadores Recrutamento – riscos
e desenvolvimento». distinguir-se- e ameaças

Upskilling e reskilling -ão não pelo O estudo mostra ainda que as organiza-
ções reconhecem o potencial das novas
obrigatórios
Segundo o Immersive Tech Report, 74%
que sabem, tecnologias na mudança do panorama do
recrutamento, e 70% assumem que já a
dos profissionais inquiridos consideram mas pelo que usam. «Em primeiro lugar, permitem um
que a IA será a tecnologia que mais impac-
tará a sua carreira. Apesar de se prever um querem saber.» aumento da eficiência do recrutamento, na
medida em que, com a automatização das
impacto considerável da IA no mercado de etapas iniciais do processo, as organiza-
trabalho, o gestor crê que a maioria dos ções podem obter perfis de candidatos
empregos e sectores estão apenas parcial- ajustados, mais rapidamente e com mais
mente expostos à automação e deverão Segundo a Organização para a Coo- qualidade», refere o Brand leader. «Isto re-
ser complementados por esta, mais do peração e Desenvolvimento Económico duz o tempo e o esforço exigidos aos recru-
que completamente substituídos. E rei- (OCDE), 1,1 mil milhões de empregos são tadores para seleccionar perfis, permitin-
tera que o mais importante «é a forma susceptíveis de ser transformados de for- do-lhes concentrarem-se noutros aspectos
como iremos tirar proveito dos recursos ma radical pela tecnologia até 2030. «No importantes do processo de contratação.»
e tempo que libertamos ao transferir que respeita à realidade virtual (RV), os Do lado dos candidatos, «há uma me-
tarefas para a IA». impactos vão sentir-se sobretudo na for- lhoria da sua experiência, no sentido em
Num cenário em constante mudança ma como podemos trabalhar e interagir que os chatbots alimentados por IA po-
tecnológica, Nuno Ferro reconhece que com os nossos colegas», esclarece o res- dem fornecer-lhes feedback e informações
«pode ser difícil para os colaboradores ponsável, acrescentando que 65% dos en- instantâneas sobre o processo de candida-
manterem-se na dianteira da curva das trevistados no relatório concordam que o tura, reduzindo o tempo de espera por res-
competências», por isso «mais do que metaverso melhoraria as suas interacções postas», o que poderá levar a uma experiên-
apostar exclusivamente na atracção de com colegas noutros locais. «A realidade cia mais positiva do candidato e ajudar as
talento externo», aconselha as empresas aumentada (RA) permite fazer a ponte en- empresas a atrair o melhor talento.
a «procurarem formas criativas para pre- tre o mundo digital e o analógico e aproxi- Não obstante, «não podemos elimi-
encher posições e investir na construção mar quem está a trabalhar em modo pre- nar por completo a interacção humana,
de competências digitais, mediante o up- sencial e quem está em modo remoto.» sob o risco de desumanizar todo o proces-
skilling e reskilling dos seus trabalhado- Os impactos serão também ao nível da so de recrutamento», alerta. Os candida-
res». Só assim, defende, será possível ga- formação, já que, quando inquiridos sobre tos ainda exigem contacto humano, e «os
rantir a prosperidade das pessoas ao lon- o «quão confortáveis se sentiriam em ter recrutadores devem garantir que en-
go das suas carreiras. coaching ou formação entregues em RV, contram o equilíbrio certo entre a eco-

Human Resources Portugal 61


Em Foco

nomia de tempo e as interacções presen- Para Nuno Ferro, a chave para o suces-
ciais», durante todo o processo, «para so é a adopção da tecnologia de uma for-
encontrar as pessoas ideais para as res- ma que reforce os recrutadores, já que es-
pectivas posições». tes «não serão substituídos pela IA. No fu-
Por outro lado, à medida que as deci- turo, é provável que o seu papel seja mes-
sões de screening de candidatos e de ajuste mo reforçado, ao terem mais tempo para
face a um perfil de competências são pro- se concentrarem nos aspectos mais huma-
gressivamente automatizadas, «é essen- nos das suas tarefas. Na prática, isso sig-
cial assegurar o correcto funcionamento e nifica menos tempo com tarefas adminis-
modelo de aprendizagem do algoritmo, de trativas e repetitivas e mais tempo para
forma a garantir que não produz resulta- conhecerem potenciais candidatos e ga-
dos enviesados, como já aconteceu», faz rantirem que estes são os mais adequa-
notar Nuno Ferro. De realçar que a segun- dos para a função.»
da maior preocupação das empresas so-
bre este assunto é precisamente o envie- Os gestores de Pessoas
samento do algoritmo, pelo que «existe O desenvolvimento das novas tecnologias
um entusiasmo cauteloso sobre o poten- tem vindo a abrir caminho também para
Nuno Ferro
cial da IA nesta área». uma nova era de gestão de talento. «Da or- Brand leader da Experis
Devido às questões éticas relacionadas ganização de eventos de recrutamento vir-
com privacidade, protecção de dados, trans- tuais às reuniões imersivas com colegas
parência na decisão e preconceitos e dis- de outras partes do mundo ou à assistên- ferramentas como a IA poderão assumir
criminação, o responsável defende que é cia na revisão de candidaturas, a IA e a RV parte das tarefas dos analistas, podendo
«fundamental que os sistemas de IA se- estão a configurar um novo normal do recolher grandes volumes de dados e iden-
jam supervisionados por pessoas e não por mundo do trabalho», garante Nuno Ferro. tificar tendências nesses dados, aumentan-
automação, de forma a minimizarem-se ris- No entanto, também coloca desafios do assim a produtividade.» Ainda assim, o
cos e torná-los mais seguros, transparen- importantes, «nomeadamente o retorno Brand leader está convicto de «que todos os
tes, rastreáveis e não discriminatórios». sobre o investimento nestas tecnologias, processos cruciais de decisão nesta área se-
De acordo com o Immersive Tech Re- que depende da sua adopção». Os líderes rão deixados nas mãos dos profissionais».
port, existe um elevado nível de entusias- de talento têm de ser capazes de promover O mesmo se verifica nas áreas de Le-
mo pela tecnologia entre os colaboradores essa adopção, alinhando funções e pro- gal, «onde os assistentes jurídicos produ-
e potenciais candidatos, mas não como um cessos de trabalho, promovendo a expe- zem resumos e pareceres a partir da aná-
substituto para a interacção entre huma- rimentação e capacitando as pessoas. lise e síntese de grandes quantidades de
nos. «Enquanto apenas 38% dos entrevis- Nas restantes áreas, acredita que, de informação», da Comunicação e do Ma-
tados declararam sentir-se confortáveis uma forma geral, será «nas funções cujo rketing, ou qualquer outra que envolva a
em ter uma candidatura revista inteira- tipo de informação trabalhada possa ser criação de conteúdo. Contudo, Nuno Ferro
mente por tecnologia de IA, quase 60% reproduzida por processos digitais que se acredita que muito do trabalho não pode-
dos profissionais estariam abertos a ex- sentirá um impacto maior das novas tec- rá ser automatizável, «uma vez que exis-
periências de recrutamento com RV, tais nologias», como, por exemplo, na análise fi- te um factor de análise e julgamento hu-
como as feiras de emprego.» nanceira ou de mercados. «Nestas áreas, mano no qual as ferramentas de IA têm
ainda muitas debilidades».
Também as funções de Serviço ao
«Os trabalhadores são cada vez mais Cliente serão impactadas, já que a tecnolo-
gia de IA conversacional, como o Chat-
motivados pelo desenvolvimento GPT, pode ser utilizada para que os chat-

de competências e experiência, em bots respondam às principais questões


dos clientes. «Também aqui, os avanços
detrimento da conquista de cargos tecnológicos, mais do que substituir os
profissionais, permitir-lhes-ão automati-
na hierarquia corporativa.» zar as questões mais rotineiras e dedicar
mais tempo a questões complexas e de
maior valor para o cliente.»

62 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Em Foco

Para o profissional da Experis, nem Assim, e ainda que o esforço das orga-
a própria área tecnológica fica imune, nizações para acompanhar os avanços tec- TENDÊNCIAS
pois «as novas ferramentas permitem já nológicos seja essencial, o especialista real-
processar dados com relativa precisão ça que «é importante que, da parte dos co- O futuro do mundo
e produzir código mais rapidamente do laboradores, haja uma abertura para evo- do trabalho
que os seres humanos, impactando fun- luir e desenvolver novas competências»,
ções de programação de software, pro- principalmente num mercado em rápida Baseado nos resultados do Immersive
gramação web, engenharia de software mudança. «Em vez de encararem as no- Tech Report, da Experis, Nuno Ferro
identificou as seguintes tendências:
e análise de dados». Não obstante, ape- vas ferramentas tecnológicas como uma
R A tecnologia vai aumentar as
sar de oferecerem vantagens ao nível ameaça, as pessoas devem vê-las como
capacidades humanas em vez
da rapidez de programação, «estas tec- uma oportunidade para evoluírem profis- de as substituir.
nologias não são capazes de analisar e sionalmente e desenvolverem novas com- R Aproveitar as ferramentas digitais
perceber os problemas e as fontes de va- petências. A aptidão humana também tem para melhorar as ligações humanas.
lor para o cliente, ou quais as funcionali- a oportunidade de evoluir na era das má- R Os saltos tecnológicos trazem
dades a priorizar no desenvolvimento quinas inteligentes.» criação de emprego, gerando novas
funções ou transformando funções
do produto».
já existentes.
Mais empregos e
R Aprender a trabalhar em conjunto
O papel dos colaboradores novas profissões
com a tecnologia, utilizando-a como
Ainda de acordo com o relatório da Expe- Apesar dos receios de que a tecnologia uma ferramenta para aumentar
ris, apesar de a tecnologia estar a trans- venha a destruir emprego, «a realidade competências e automatizar
formar os tipos de competências de que os não corrobora esta narrativa» e, de fac- tarefas rotineiras.
colaboradores precisam, a força de traba- to, as empresas que investem em tecno- R Foco no desenvolvimento de
competências que as máquinas
lho actual está pouco preparada para esta logia acabam muitas vezes por empre- não têm, como estratégia, inovação,
mudança. Prova disso são os 63% dos in- gar mais pessoas, afirma Nuno Ferro. resolução de problemas complexos.
quiridos que revelaram não ter qualquer «Segundo o Immersive Tech Report, 58% R A tecnologia será um factor
experiência na utilização do metaverso em das empresas inquiridas antecipam que capacitador de competências
contexto profissional. «Face ao acelerado as tecnologias imersivas irão levá-las a como a curiosidade, a criatividade
ritmo da inovação tecnológica, pode ser contratar mais profissionais.» E reitera ou a empatia.
R As empresas vão ter de investir
difícil para os trabalhadores manterem-se que pode ter um «impacto significativo
na construção de competências
na vanguarda das competências», reco- na sociedade, contribuindo inclusiva- digitais, mediante o upskilling e
nhece Nuno Ferro. Por isso, a principal me- mente para criar empregos, aumentar reskilling dos trabalhadores.
dida que as organizações devem adoptar a produtividade e reforçar o crescimen- R A tecnologia vai potenciar maior
para garantir que os seus profissionais to económico». flexibilidade, autonomia e equilíbrio,
prosperam ao longo das suas carreiras – Aliás, «já vemos o surgimento de novas bem como locais de trabalho mais
humanos assentes na colaboração
alinhados com a própria evolução da em- funções, com perspectivas de ainda mais
e na confiança.
presa – «passa por construir um ecossis- desenvolvimento a médio prazo», como «os
tema que os apoie na constante evolução AI trainers, auditores de IA, especialistas
das suas competências», através de pro- de Integração da IA, criativos de Arte em
gramas de reskilling e upskilling. IA ou ainda gestores de Compliance na IA». Experis. «Os trabalhadores são cada vez
Num período em que a escassez de ta- Na área de RV e RA, começam a surgir «os mais motivados pelo desenvolvimento
lento se encontra em valores muito eleva- arquitectos de RV, os engenheiros de soft- de competências e experiência, em de-
dos, «a melhor maneira de conseguir acom- ware de RA/RV, ou ainda os gestores de trimento da conquista de cargos e posi-
panhar as transformações tecnológicas Eventos no Metaverso». ções na hierarquia corporativa», o que
que se tem sentido no mercado passa por Esta nova “era” para a qual caminha- implica fazer movimentos laterais, como
apostar precisamente nas pessoas». E este mos poderá contribuir para a tão dese- mudanças de departamento, projectos e
desafio «tem de ser trabalhado por todos, jada atracção e fidelização de profissio- funções. A seu ver, a adopção destas no-
numa missão conjunta de empresas, go- nais, que «vai muito além da remunera- vas tecnologias oferece aos candidatos a
vernos e dos próprios colaboradores. No ção». «A possibilidade de evoluir profissio- oportunidade de «uma jornada contínua
futuro, os trabalhadores distinguir-se-ão nalmente ao obter novas competências de desenvolvimento para aprender novas
não pelo que sabem, mas pelo que querem começa a ser, hoje, muito valorizada pe- competências e adquirir experiência em
saber», acredita. las pessoas», assegura o Brand leader da diversas áreas».

Human Resources Portugal 63


Especial Relocation

ENQUADRAMENTO

REALOCAR OS
COLABORADORES
PODE SER BENÉFICO
PARA AS EMPRESAS
Embora se discuta até que ponto o trabalho à distância irá
manter-se, a pandemia provou que o local onde as pessoas
trabalham não é determinante para que trabalhem bem.

A
s recentes transforma- siste a um aumento dos pedidos de em-
ções no mundo do traba- presas que procuram garantir que as
lho reforçar a importân- suas políticas não são demasiado pres-
cia da flexibilidade não critivas e são, de uma forma geral, ade-
só para as empresas, mas quadas ao objectivo.
também para os colaboradores. Caitlin Agora que existem menos funções
Pyett, directora de gestão de contas na verdadeiramente impossíveis de desem-
Ásia para a Crown World Mobility, acon- penhar fora das instalações da empresa,
selha empresas em questões de relocali- os empregadores precisam de ter boas ra-
zação e mobilidade dos colaboradores, e zões para recusar os pedidos de realoca-
participou na elaboração de um estudo ção dos seus colaboradores, acrescenta
que sugere que as empresas encaram a Caitlin Pyett. E as conclusões do relató-
realocação dos trabalhadores como uma rio “Mobility Matters” parecem mostrar
ferramenta fundamental para aumen- que os empregadores estão receptivos a
tar a produtividade, o envolvimento e esses pedidos. Não só 82% das empresas
a retenção. afirmam ter oferecido a realocação aos
«Parece haver uma expectativa, en- trabalhadores numa tentativa de os re-
tre os trabalhadores mais jovens, de que ter, como mais de metade anuncia acti-
terão mobilidade nas suas carreiras. Os vamente o potencial de realocação a co-
empregadores têm de ter isso em mente laboradores potenciais e actuais.
quando pensam em atrair e reter cola- Segundo Caitlin Pyett, a pesquisa –
boradores», afirma. Salientando que a baseada num inquérito a mais de 250 lí-
possibilidade de se mudar para o estran- deres de RH no Reino Unido e na Irlanda, profissionais ou a necessidade de cuidar
geiro é, em conjunto com as políticas de na Europa continental, nos EUA e em de familiares são mais comuns do que o
sustentabilidade e diversidade, equida- Singapura, bem como em provas empí- simples desejo de viajar associado aos
de e inclusão de um empregador, um fac- ricas – sugere que a maioria dos pedi- “nómadas digitais”. Por conseguinte, os
tor cada vez mais importante quando se dos de realocação não são um capricho. empregadores que, desde a pandemia,
consideram ofertas de emprego, Caitlin Questões como o desejo de acompanhar se habituaram a olhar para os trabalha-
Pyett refere que a sua organização as- um parceiro que se desloca por motivos dores como indivíduos e a prestar mais

64 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Parece haver uma
expectativa, entre
os trabalhadores
mais jovens,
de que terão
mobilidade nas
suas carreiras.

keting da Crown, afirma sobre esta ques-


tão que «as empresas devem estar prepa-
radas para enfrentar e ultrapassar os de-
safios em todas as fases de um projecto
de relocalização, do apoio à saúde men-
tal dos colaboradores durante o com-
promisso até à garantia de um regresso
sem problemas à normalidade quando o
compromisso se aproxima do fim. Adop-
tar uma abordagem centrada no ser hu-
mano – e estar atento às necessidades
únicas de cada trabalhador – é funda-
mental, e uma área a que os líderes de
RH terão de dar prioridade.»
Se as conclusões sobre o envolvimen-
to e a produtividade se confirmarem, en-
tão este parece ser um esforço que vale a
pena fazer. Com os custos de recrutamen-
to reconhecidamente elevados, tanto
financeiramente como pelo risco de não
conseguir encontrar as pessoas certas,
faz sentido investir correctamente nesta
área. Caitlin Pyett sugere que entre as
razões para o aumento da produtividade
está o facto de o funcionário sentir que
está no centro das atenções e que precisa
de provar o seu valor. Mas também pode
ser apenas porque – como nota – eles ex-
atenção ao seu bem-estar mental, são, lidade global. Quase metade assinalou- perimentam «um aumento de energia
muitas vezes, compreensivos. -a como o seu maior desafio de lideran- por estarem num local novo». Por outras
Por outro lado, a saúde mental dos ça, enquanto mais de metade afirmou o palavras, sentem que têm um novo em-
colaboradores durante compromissos maior desafio é a reintegração dos cola- prego sem terem de se arriscar a procu-
no estrangeiro é vista como um obstá- boradores nas suas equipas no regresso, rar outro empregador.
culo fundamental para os líderes de RH após o fim do compromisso. Nick Sutton,
que supervisionam programas de mobi- vice-presidente de vendas globais e mar- POR: Roger Trapp, Forbes

Human Resources Portugal 65


Especial Relocation

AUTODOC
disponível, clima, custo de vida, oportuni-

UM NOVO COMEÇO E dades gerais para as pessoas e a qualidade


de vida. «O principal objectivo foi oferecer

BONS MOTIVOS PARA a todos os colaboradores afectados pela


guerra na Ucrânia um local de trabalho
seguro, incluindo também as pessoas da
ESCOLHER PORTUGAL Moldávia e Rússia», explica Dmitry Za-
dorojnii, CEO da Autodoc & General Ma-
nager da ATD Portugal.
Como opções seguras para um pro-
O conflito armado na Ucrânia acelerou o processo cesso de realocação, o profissional refere
que foram ponderados vários países, mas
de realocação e a Autodoc deu início a uma nova
que a empresa acabou por optar pelo ter-
etapa em Portugal. Em entrevista à Human Resources ritório lusitano. Em Julho de 2022, foi
Portugal, o CEO da empresa em Portugal explica os inaugurada a ATD Portugal e os primeiros
detalhes desta mudança. colaboradores, contratados em Outubro
desse ano, começaram por trabalhar a par-
tir de casa ou em espaços de coworking. A

D
inauguração do novo escritório no Lagoas
epois do início do confli- mais de 1000 colaboradores, está locali- Park, em Oeiras, ocorreu em Maio de 2023.
to armado na Ucrânia, zado em Odessa.
em Fevereiro de 2022, a Face ao cenário de incerteza, o conselho A opção por Portugal
Autodoc viu-se obrigada de administração avaliou as condições de «Não poderíamos estar mais felizes com
a encontrar um novo local vários países com potencial para a realoca- a nossa decisão». Foi esta a forma encon-
adicional para a empresa. Na origem da ção dos colaboradores afectados pela guerra, trada pelo responsável da Autodoc para
decisão, esteve a necessidade de encontrar em diferentes localizações da empresa. Nes- descrever a escolha de Portugal como des-
um local seguro, dado que um dos maio- te processo, foram considerados critérios tino para realocar a empresa. Neste caso
res centros tecnológicos da empresa, com como a segurança, potencial de talento particular, o nosso país destacou-se pelo

66 Human Resources Portugal Dezembro 2023


elevado nível de talento e pela sua atrac- ções. No início do próximo ano, prevê-se que
tividade para os especialistas das Tecno- cheguem a Portugal mais 30 colaborado-
logias de Informação. Outros factores que res com as suas famílias e animais de estima-
também estiveram relacionados com a ção. Existem ainda outros processos de rea-
escolha foram «a mentalidade empreen- locação que dependem dos próprios cola-
dedora dos portugueses, a qualidade e o boradores, dos gestores, do acordo sobre
bem-estar do País». a oferta salarial e da evolução dos proces-
Em relação aos factores mais impor- sos junto das autoridades de imigração.
tantes a ter em conta, o CEO da empresa
diz que podem existir mudanças no res- Acompanhamento,
ponsável directo, no perfil ou cargo a de- apoios e desafios
sempenhar pelo colaborador ou até mes- Qualquer processo de realocação acarreta
mo nos salários. Na fase inicial, os «recém- desafios específicos para as empresas e
-chegados» devem estar cientes de que vão a Autodoc não foi uma excepção à regra.
lidar com imensa burocracia e vão ter de re- A guerra na Ucrânia acelerou considera-
correr a várias entidades para tratarem de velmente este processo e, segundo o pro-
papéis. Além disso, o director-geral tam- fissional, Portugal acabou por ser o desti- Dmitry Zadorojnii
CEO da Autodoc & General Manager
bém alerta para a barreira linguística, que no eleito. No entanto, por ser o país mais
da ATD Portugal
pode ser um entrave nos primeiros meses. ocidental da Europa, refere que «está mui-
O processo de realocação da empresa to longe dos locais de negócios no Leste Eu-
é gerido internamente e «todos os colabo- ropeu». Apesar da guerra e da insegurança, a empresa ajuda não só os colaboradores
radores que desejam ou precisam de ser realça que «os colaboradores muitas ve- com a documentação legal, como também
realocados podem entrar em contacto com zes têm dificuldade em abandonar a sua oferece um pacote de realocação que inclui
a chefia directa ou com o gestor de pro- casa». Portanto, também deixa claro que os custos dos voos para funcionários e até
jecto». De acordo com o executivo, é ofe- a empresa pretende garantir a seguran- três familiares, além dos custos de legali-
recido apoio e orientação jurídica e, assim ça dos colaboradores e ajudar no proces- zação e seguro de saúde. Adicionalmente,
que o processo esteja definido, são dis- so de transição. também são pagos os três primeiros me-
ponibilizados pacotes de realocação, tam- De modo geral, «pode ser um verda- ses de renda aos colaboradores e, quando ne-
bém extensíveis aos familiares directos. deiro desafio para as empresas ter uma cessário, são disponibilizados alojamentos
«Acreditamos que um processo organiza- visão geral e entender os requisitos de temporários. Além disso, todos os colabora-
do e o envolvimento da família tornam a cada tipo de visto. O processo de visto, por dores têm acesso à assistência de bem-estar
mudança para Portugal muito mais fácil, vezes, pode atrasar o processo de realoca- e saúde mental do Instituto Fürstenberg,
fazendo com que os colaboradores este- ção e causar frustração», sublinha. A tí- que se encontra disponível 24 horas por dia
jam perfeitamente preparados para uma tulo de exemplo, lembra que o gestor de e sete dias por semana. Uma medida que,
nova e desafiante experiência», explica. projecto de realocação da Autodoc está em na perspectiva de Dmitry Zadorojnii, se
Actualmente, mais de 20 pessoas, pro- Portugal e «tem sentido dificuldades para tornou relevante após a maioria dos cola-
venientes da Ucrânia, Moldávia e Rússia, conseguir marcações junto dos serviços boradores ter sido afectada pelo conflito
já concluíram a mudança para Portugal. competentes, sobretudo após a transfor- armado no território ucraniano. A saúde
Para a maioria, a principal razão para a des- mação dos serviços de migração». mental tornou-se, inevitavelmente, uma
localização é a guerra em curso na Ucrânia Em linha com a adaptação ao país e das prioridades da Autodoc, e abriu cami-
e o medo em relação ao futuro das suas na- com o lema «pessoas em primeiro lugar», nho para este projecto.
Já sobre a forma como é feito o aco-

Para a Autodoc, Portugal destaca-se lhimento em Portugal, o CEO da empresa


refere que «não existe um processo pa-
pelo elevado nível de talento e pela dronizado», uma vez que os colaborado-
res não vêm para trabalhar apenas na ca-
sua atractividade para os especialistas pital. Têm também a opção de trabalhar

das Tecnologias de Informação. remotamente noutras regiões portugue-


sas, como, por exemplo, a cidade do Porto.
De um modo geral, a integração no país e
na empresa compete ao gestor do projec-

Human Resources Portugal 67


Especial Relocation

Ao contrário da Ucrânia, onde a empre-


sa só tinha acesso ao mercado ucraniano,
em Portugal, tem acesso aos melhores
profissionais de toda a Europa e, portan-
to, ao mercado global. «Neste momento,
procuramos pessoas com diferentes ní-
veis de grau académico, incluindo car-
gos júnior e sénior. Para atrair os melhores
talentos locais e internacionais, oferece-
mos um pacote atractivo para os colabo-
radores», sublinha.
O director-geral deixa claro que, em
qualquer processo de realocação, os objec-
tivos da empresa são: a retenção de talentos
na empresa; a promoção e o desenvolvi-
mento das suas competências; e o aumen-
to da diversidade das equipas, assim como
a satisfação pessoal e profissional dos
to e à respectiva equipa, nomeadamente nhecimento. «Conseguimos reunir várias colaboradores. Para o CEO da empresa,
no que diz respeito ao fornecimento de competências essenciais no novo Tech estes são os principais factores que com-
orientações sobre a organização ou mé- Hub. Isto inclui IT, gestão de categorias, provam que um processo de realocação
todos de trabalho. operações de clientes, gestão de receitas, pode ser uma solução vantajosa, em vez
Após o acompanhamento durante o marcas próprias, negócios B2B, recursos de apenas contratar no país de destino.
processo de realocação, o profissional dei- humanos e funções corporativas. Na área Por um lado, esta estratégia ajuda os
xa a garantia de que os colaboradores con- de IT, procuramos especificamente talen- colaboradores mais talentosos a desen-
tinuarão a beneficiar do apoio da empre- tos tecnológicos nacionais e internacio- volver novas competências através de no-
sa. «Não deixaremos os nossos colabora- nais para Engenharia de Software, Ges- vas funções, responsabilidades e expe-
dores sozinhos com os seus problemas. tão e Análise de Dados, Gestão de Produ- riências. Por outro, realocar um colabo-
Vamos apoiá-los nas questões organiza- tos e DevOps.» rador com um alto desempenho acelera
cionais que inevitavelmente surgem quan- significativamente o processo de expan-
do se mudam para outro país. Os nossos são do negócio, o que pode ser crucial para
colaboradores sabem que as nossas portas Os processos a empresa. Paralelamente, realocar cola-
estão sempre abertas», esclarece.
Com mais de 5000 colaboradores e de realocação boradores de alto nível «pode ser menos
stressante» para os departamentos de Re-
mais de 60 nacionalidades, a Autodoc
sempre teve programas de deslocação
mais comuns cursos Humanos. Manter os colaborado-
res na empresa, quando estes se mudam,
para o estrangeiro. A título de exemplo, envolvem talentos pode reduzir significativamente a carga
no Tech Hub, em Lisboa, a empresa está
actualmente a instalar a sede das equipas e gestores que já de trabalho sobre o departamento.
Além da procura por uma melhor qua-
de desenvolvimento de software e outras
funções relacionadas com a tecnologia. O
trabalharam em lidade de vida no estrangeiro, o executi-
vo também tem consciência de que «exis-
principal produto digital é a Plataforma empresas líderes tem pessoas que gostam de novos desa-
Digital ATD, que visa capacitar toda a
indústria de reposição automóvel. na Europa e, fios, de novas culturas, línguas e aprendi-
zagens». Por último, este processo de rea-

Vantagens e categorias portanto, trazem locação também pode ajudar a melhorar a


diversidade no local de trabalho. «A diver-
de realocação experiência e sidade nas equipas de trabalho promove,
Os processos de realocação mais comuns
envolvem talentos e gestores que já tra- conhecimento. de um modo geral, melhores resultados
financeiros, já que as equipas são mais
balharam em empresas líderes na Euro- capazes de atender às necessidades dos
pa e, portanto, trazem experiência e co- clientes», conclui.

68 Human Resources Portugal Dezembro 2023


5
EDIÇÕES
ANOS
a acompanhar as tendências
do mundo da gestão
HR Talks

GOOD TRAINING

DESENVOLVER COMPETÊNCIAS:
UM TEMA DE TODOS
Num contexto em que a evolução da tecnologia é cada vez mais rápida, a mudança uma
constante e a capacidade de adaptação uma competência que se está a tornar imprescindível,
como é que empresas e profissionais encaram o tema da formação e do desenvolvimento
de competências? Nesta HR Talk, são especialistas da MC | Sonae , da CUF Academic Center
e da Randstad que respondem ao desafio. FOTOS Basic Method – Broadcast Services

O
sucesso de uma empresa que a evolução tecnológica passou a ser dos colaboradores. Contribuir para que
passa sobretudo por ter cada vez mais rápida, a capacidade de os colaboradores atinjam os seus objec-
as melhores pessoas. E adaptação passou a ser uma competência tivos profissionais tem igualmente efei-
numa altura de maior es- imprescindível para as empresas. tos na sua motivação e produtividade. E
cassez de talento, estar ao Não se pode, por isso, descurar a for- para corresponder às necessidades do
lado dos trabalhadores, perceber as suas mação e o desenvolvimento de competên- mercado, precisa de ter profissionais ca-
expectativas e motivações e assegurar o cias dentro das organizações. Mas levan- pacitados, sendo o upskilling e reskilling
seu crescimento profissional é também tam-se algumas questões, como perceber fundamentais. Por outro lado, os profissio-
uma forma de reter talento nas organiza- qual é o papel das empresas e das lideran- nais não se podem demitir da “responsa-
ções. Por outro lado, num contexto em ças no apoio ao crescimento profissional bilidade” de se manterem relevantes num

70 Human Resources Portugal Dezembro 2023


mercado de trabalho em constante evolu- Consciente de que estamos perante bém participam activamente na escolha
ção e de promoverem o seu próprio per- dois exemplos de empresas grandes – a da competências a desenvolver, por exem-
curso e desenvolvimento. MC e a CUF –, que não são o espelho do te- plo? Claúdia Romão partilha que na MC, há
Foram estes alguns dos temas propostos cido empresarial português, Filipa Peixo- uma interacção mútua. «Por um lado, são
para reflexão no 11.º episódio das HR Talks, to acredita que, ainda assim, e «no geral, a os próprios colaboradores que pensam no
iniciativa promovida em parceria pela Hu- aposta na formação por parte das empresas seu desenvolvimento e no seu crescimen-
man Resources e Randstad Portugal, que é genuína e cada vez mais pensada, não se li- to dentro da empresa. Por outro, são as che-
juntou Cláudia Romão, People lead da MC mitando a “cumprir obrigações legais”. As fias a identificar as necessidades de cresci-
| Sonae; Maria José Barros, directora da empresas que se preocupam com o futuro es- mento e desenvolvimento dos colaborado-
CUF Academic Center; e Filipa Peixoto, ex- tão atentas e procuram dar resposta às ne- res», conta a People lead. Na MC cada che-
pert manager da Randstad Portugal. cessidades dos colaboradores. Sentimos fia faz o acompanhamento dos colabora-
Questionada sobre se estes temas, da que as empresas estão a tentar perceber o dores identificando as necessidades de de-
formação, aprendizagem ao longo da vida, que está a faltar aos colaboradores, aqui- senvolvimento e também as expectativas.
reskilling e upskilling, são temas de Gestão lo que valorizam, e também de que com- Dessa simbiose é definido o plano de desen-
de Pessoas ou de negócio, Cláudia Romão petências precisam para o futuro», faz no- volvimento que poderá passar por forma-
salientou que «o desenvolvimento de pes- tar a responsável da Randstad. ção ou outras formas de aprendizagem.
soas fazem parte do ADN da MC. O próprio Adicionalmente, estão a trabalhar as com-
mercado já nos identifica como uma escola De quem é a responsabilidade? petências que consideram ser as de futuro
de liderança», acredita, sem dúvidas de que O interesse nesta matéria será de ambas as no programa “Eu Escolho Aprender”. Esta
a formação «tem, cada vez mais, de estar nas partes. Mas será que os colaboradores tam- iniciativa tem como objectivo corrigir as “la-
prioridades» e que é «um assunto da organi- cunas” dos colaboradores e desenvolver no-
zação. Não é um tema de People ou de negó- vas aptidões. «Permite trabalhar, por exem-
cio, é de toda a empresa. E se a área de Peo- plo, competências como empatia, literacia di-
ple promove o desenvolvimento de compe- gital, comunicação avançada, pensamento
tências, fá-lo tendo sempre em vista a estra- crítico e tomada de decisão, resiliência, bu-
tégia e as necessidades do próprio negócio.» siness analytics, programação e liderança»,
Maria José Barros concorda que é um identifica. Integrados neste projecto exis-
tema incontornável e de importância cres- tem também, num plano mais individual,
cente. Exemplo disso é o CUF Academic programas de mentoring e self-mentoring.
Center, que começou por estar ligado à di- Já na CUF, há três três grandes vectores
recção de Recursos Humanos da CUF, mas que estão na base do plano de formação e que
que depois se tornou uma unidade autóno- Maria José Barros identifica: «avaliação de
ma, ao serviço das suas unidades de saúde, e desempenho, estratégia da empresa para
não só. «A emancipação da Academia tor- o futuro e vontade do colaborador». E ex-
nou-se muito relevante para servir os cola- plica: «A avaliação de desempenho é essen-
boradores e, logo, o cuidado aos clientes, cial para perceber as áreas em que os cola-
mas estando também aberta ao exterior», boradores podem melhorar e quais as for-
esclarece. «Se fazemos bem, então também mações que melhor se adequam às lacunas
podemos ensinar bem. Temos um Centro evidenciadas.» A título de exemplo, revela
Treino Vida, onde prestamos formação de
suporte básico e avançado de vida, temos
também um Centro de Simulação, que tem «Na CUF, há três três grandes vectores
como base o conceito “simular para não er-
rar”... Temos, de facto, envolvido os nossos na base do plano de formação:
colaboradores para ajudar a desenvolver
outros profissionais. E a procura externa
avaliação de desempenho, estratégia
tem vindo a aumentar. A base de tudo é da empresa e vontade do colaborador.»
uma só», afirma a directora: «uma preo-
cupação muito grande com as pessoas», Maria José Barros, CUF Academic Center
sendo esta também uma forma de «cuidar
dos colaboradores».

Human Resources Portugal 71


HR Talks

«As empresas que se preocupam com


o futuro estão atentas e procuram
dar resposta às necessidades dos
colaboradores.» Filipa Peixoto, Randstad Portugal

res para formação. «Damos atenção às ne- dos seis meses.» No caso particular da MC,
cessidades específicas e individuais dos a People lead reconhece que a dimensão
nossos colaboradores. Esta atenção à for- pode ser uma vantagem porque oferece
mação e ao desenvolvimento de compe- mais oportunidades, quer de mobilidade
tências é essencial para a atracção e re- interna dentro da empresa, quer noutras,
tenção de talentos», afirma. dentro do universo Sonae.
Na área da saúde, Maria José Barros
Atracção e retenção de talento também tem plena confiança que «a Acade-
Sobre este tema da atracção e retenção mia dá maior robustez à CUF», sendo a in-
que foi dada uma formação às lideranças de talento, o Randstad Employer Brand Re- vestigação um pilar mais relevante. «Temos
sobre Saúde Mental, de modo a estarem search 2023 revela que a progressão de car- uma nova geração de profissionais de saúde,
mais capacitados para identificarem sinais reira está no top 5 dos critérios mais impor- para os quais a investigação tem imensa im-
de alerta. «Na primeira formação, fizemos tantes para os profissionais na escolha de portância. Com esta Academia, consegui-
uma imersão ao Manicómio [espaço de cria- um empregador. E Filipa Peixoto confirma mos dar apoio estatístico, temos uma biblio-
ção artística, que promove trabalhos de ar- que, mesmo que esse interesse não fique teca para a criação de artigos e ainda temos
tistas com experiência de doença mental e evidente durante a entrevista, se a pergun- uma ligação muito forte com as universida-
cujo principal objectivo é desmistificar o ta sobre a aposta no desenvolvimento e des, em particular com a Universidade Nova
estigma que lhe está associado]. Estivemos oportunidades de progressão de carreira de Lisboa. Torna-se assim uma proposta de
lá durante um dia a falar sobre os principais não for feita, os candidatos vão informar- valor mais atractiva e diferenciadora para
problemas, dificuldades sentidas, e tam- -se junto dos potenciais futuros colegas. alguns jovens médicos, enfermeiros e téc-
bém a sensibilizar para os sinais a que de- Para a expert manager da Randstad Por- nicos. Além disso, terminam a sua forma-
vem estar atentos. Também falámos so- tugal, há «uma partilha da responsabilida- ção com a elevada probabilidade de se tor-
bre como agir, dando ainda uma espécie de de no crescimento», no sentido em que «os narem profissionais da CUF.»
kit de sobrevivência», partilha. profissionais valorizam que as empresas
Outro exemplo que demonstra a impor- invistam no seu desenvolvimento, ao mes- Tecnologia: ameaça
tância do CUF Academic Center para o ne- mo tempo que também procuram adqui- ou oportunidade?
gócio, e de como acaba por haver uma liga- rir competências». E é preciso ter cons- Neste tema da formação e desenvolvimento
ção muito próxima entre a Academia, a di- ciência de que «os resultados não chegam de competências, não se pode esquecer o im-
recção de Recursos Humanos e a Comissão logo, tem de haver uma consolidação de pacto das novas tecnologias. Filipa Peixoto
Executiva para o desenvolvimento de novas aprendizagens, e isso só é possível com defende que «a inteligência artificial permi-
competências, é o das teleconsultas. «Com tempo e prática». tiu aos colaboradores ter mais tempo, recur-
a pandemia, passámos a ter teleconsultas, Ainda sobre a importância da formação sos e um conjunto de novas funções mais es-
e foi fundamental dar formação aos pro- para a atracção e retenção de talentos, Cláu- tratégicas. Quem tiver curiosidade, que é uma
fissionais sobre como agir e “ler” os pacien- dia Romão conta que «os candidatos não se característica fundamental, tem mesmo de
tes, através de um ecrã. Acabámos de fazer preocupam só com o presente, têm também a se actualizar, porque a inteligência artificial
um curso com médicos e enfermeiros, da preocupação de perceber quais serão os pró- vai impactar todas as pessoas e funções.»
área da oncologia, sobre como dar más no- ximos passos». Mas ressalva que também Já sobre se a tecnologia, nomeadamente
tícias», acrescenta. depende de que geração estamos a falar. «As a inteligência artificial generativa, pode ser
Mas a vontade do colaborador também gerações recentes são mais desafiantes, exi- uma resposta à escassez de talento no mer-
conta, garante Maria José Barros. E existe gem mais e, em alguns casos, já querem sa- cado, a expert manager da Randstad Por-
bolsas que são atribuídas aos colaborado- ber aquilo que podem aprender, logo passa- tugal prefere fazer notar que as empresas

72 Human Resources Portugal Dezembro 2023


precisam de ter consciência – e a maioria complemento para nos ajudar a tratar me-
tem-na – de que, apesar de parecer mais lhor», afirma.
rápido ir ao mercado e procurar talentos Os profissionais parecem concordar que
“fora de casa”, é muito mais proveitoso in- assim é. Segundo o Workmonitor Pulse Sur-
vestir na formação do talento interno, que vey, mais de metade dos colaboradores acre-
também precisa de mostrar essa abertura dita que a inteligência artificial vai melhorar
e disponibilidade», ressalva. as suas perspectivas de carreira. Filipa Peixo-
Cláudia Romão não tem dúvidas de que to tem a mesmo a visão e constata que, na es-
«as competências vão continuar a mudar» magadora maioria, os profissionais têm «uma
e, portanto, na MC, «já estão em curso pro- visão mais optimista» sobre a introdução das
gramas de reskilling e upskilling dos pro- novas tecnologias no mundo do trabalho. «Há
fissionais». Contudo, também defende que muito mais esperança do que receio. Todas
«a tecnologia não é um bicho papão», garan- as tecnologias aplicadas à formação têm be-
tindo que não estão a despedir pessoas por nefícios, a todos os níveis, como a partilha,
causa da inteligência artificial. «A tecnolo- a exploração e a conexão», exemplifica.
gia trouxe maior eficácia e, através de uma
ferramenta robótica, conseguiu reduzir-se E quais as competências
a repetição de tarefas. Para o colaborador, mais relevantes? Para Maria José Barros, as aptidões mais
fica a parte em que pode acrescentar mais Em jeito de conclusão, foi pedido às con- difíceis de encontrar nas áreas da saúde são
valor e também aquela que é mais praze- vidadas que identificassem quais as com- precisamente as competências comporta-
rosa e estimulante.» petências mais valorizadas pelas empre- mentais, como a resiliência, a coragem, a per-
No mesmo sentido, também Maria José sas e aquelas que têm maior dificuldade sistência ou a empatia. «A pandemia retirou-
Barros acredita que a tecnologia é uma fer- em encontrar. Cláudia Romão referiu as -nos um pouco da nossa empatia e compai-
ramenta auxiliar na área da prestação de aptidões ligadas à área digital, como pro- xão», lamenta. «São características que se
cuidados de saúde. Reconhece que, «tal gramação, e-commerce, gestão de projec- perderam um bocado e acho que têm de ser
como outras empresas, a CUF tem activida- tos ou consultoria. Além disso, a profissio- recuperadas.» Já Filipa Peixoto destacou «a
des que podem ser facilmente substituídas, nal da MC reconheceu que «o desenvolvi- visão estratégica, o pensamento crítico, a
como os contact centers», mas confia que mento interno também tem sido um de- capacidade de responsabilização, a relação
«nunca irá dispensar pessoas, porque preci- safio nas lojas». Para o futuro, aponta «a com o outro e a liderança» como competên-
sa delas, e que estas estejam cada vez mais resiliência, a curiosidade, a empatia e a ca- cias essenciais em qualquer empresa.
focadas a tratar dos doentes. A tecnologia pacidade de adaptação» como competên- Sobre se as empresas estão preparadas
não é uma alternativa às pessoas, é um cias fundamentais. para o futuro, a expert manager da Randstad
Portugal responde positivamente e confia
que «as organizações vão continuar o seu pro-
«A formação tem, cesso de aprendizagem». Maria José Barros
também está optimista para o futuro e de-
cada vez mais, de posita grandes esperanças na simbiose en-

ser prioridade. tre as gerações mais novas e os profissionais


mais experientes. Cláudia Romão, por sua vez,
Não é um tema deixa uma nota final e alerta para a impor-
tância da Saúde Mental. «As pessoas devem
de People ou de ter consciência dos seus próprios limites. E

negócio, é um
quando não é valorizada a saúde mental, há
um impacto negativo, quer na organização,
tema de toda a quer na vida pessoal dos colaboradores.»
A conversa foi moderada, como habitual-
empresa.» Cláudia mente, por Ana Leonor Martins, directora de
redacção da Human Resources Portugal.
Romão, MC | Sonae
Nota: Pode assistir à conversa na íntegra
(e a todas as HR Talks) no site da Human
Resources: hrportugal.sapo.pt

Human Resources Portugal 73


Especial Coaching

NOVA SBE

O COACHING
NO CONTEXTO
UNIVERSITÁRIO
No contexto da Nova
SBE, o coaching é
uma ferramenta usada
em determinados
programas executivos,
de inscrição aberta ou
customizados para uma
empresa específica.

A
Nova SBE considera o
coaching uma ferramen-
ta poderosa e capaz de
complementar os pro-
gramas de formação,
para proporcionar, aos líderes e outros
colaboradores, a oportunidade de evoluí-
rem ou redefinirem as suas carreiras. Des-
ta forma, através de uma jornada de auto-
conhecimento e desenvolvimento de com-
petências, as pessoas podem atingir o seu
potencial com mais facilidade. Além disso,
é promovida uma evolução no desempenho
e o alinhamento dos objectivos pessoais e
organizacionais. Carla Figueiredo, head
of Portfolio Management e Marina Ven-
tura, head of Academic Affairs & Degree
Programs na Nova SBE Executive Educa-
tion explicam à Human Resources Por-
tugal o papel do coaching na instituição.

De que forma o coaching pode ser uma fer-


ramenta útil em contexto universitário?
Marina Ventura (MV): O coaching, em con-
texto universitário, pode ser usado como
forma de prestar orientação persona-

74 Human Resources Portugal Dezembro 2023


de 100 participantes de outros progra-
mas candidataram-se como clientes da
turma de Coaching Executivo.

Como é que o coaching pode fazer a di-


ferença no desenvolvimento pessoal dos
colaboradores nas empresas?
MV: Sabemos que há cada vez mais uma
exigência para as empresas escolherem
abordagens adaptadas a cada colabora-
dor, que o levem a desenvolver o seu po-
tencial. A forma mais eficaz de ter esta
abordagem personalizada é através de
intervenções que se adaptem a diferen-
tes personalidades e etapas do desenvol-
Marina Ventura Carla Figueiredo vimento de carreira, procurando assim
Head of Academic Affairs & Degree Head of Portfolio Management
uma resposta que seja mais significativa
Programs da Nova SBE Executive Education da Nova SBE Executive Education
para os colaboradores. Existem outras
práticas interessantes para complemen-
lizada, tanto para participantes de For- venção deste tipo. Além das bases teóri- tarem programas de coaching e que con-
mação Executiva como para professo- cas subjacentes a esta prática, serão uti- tribuem para o desenvolvimento pes-
res, abordando desafios como stress aca- lizadas metodologias activas onde a prá- soal, como por exemplo o mentoring. Um
démico e escolhas de carreira. Através do tica e a reflexão coexistirão em laborató- não substitui o outro e ambas as inter-
coaching são oferecidas, por exemplo, es- rios experimentais. Neste espaço, os par- venções podem contribuir para o desen-
tratégias de gestão do stress para ajudar ticipantes são convidados a explorar e volvimento pessoal do colaborador.
os participantes a manterem um equilí- criar os seus próprios modelos e processos
brio saudável entre a vida profissional e de aplicação do coaching a realidades in- Que tipo de resultados os colaboradores
pessoal, assim como para lidar com as exi- dividuais, de equipa e organizacionais. de uma empresa podem esperar de um
gências do meio académico por parte dos processo interno que envolva coaching?
professores. Além disso, o coaching de- Quais as valências que este Certificado MV: Os colaboradores podem contar
sempenha um papel fundamental no de- dá aos seus titulares? com uma intervenção completamente
senvolvimento de carreira, ajudando Carla Figueiredo (CF): Este programa é customizada às suas necessidades de
participantes e professores a explorar conducente à obtenção de credenciação desenvolvimento. O processo é centrado
opções e planear objectivos futuros. individual pela ICF – International Coa- na pessoa e no suporte necessário para
ching Federation, uma vez que confere as que esta trabalhe as áreas que lhe fazem
A Nova SBE tem na sua oferta o Certifi- necessárias horas de mentoring e apoio mais sentido. Normalmente estes pro-
cado de Coaching Executivo. Em que é na gravação, solicitadas aquando do pe- cessos surgem quando as pessoas têm
que consiste e a que tipo de profissionais dido de credenciação. Adicionalmente, a uma promoção e precisam de desenvol-
se destina? Nova SBE Executive Education poderá ver competências que a nova função exi-
MV: Integrando teorias, modelos e práti- dar acesso a clientes reais para a prática ge. Nestes casos, as pessoas são convida-
cas de coaching de eficácia comprovada, de coaching, necessária para a conclusão das a empreender, numa jornada de au-
este programa alia competências à prá- da jornada de credenciação pela ICF. Na torreflexão e de tomada de consciência
tica de coaching. O programa destina-se primeira edição deste programa, mais sobre as suas valências, as crenças limita-
a formar coaches externos, coaches inter-
nos e outros profissionais que tenham in-
teresse pela área. Ao longo da formação «O coaching, em contexto universitário,
presencial, os participantes irão interagir
com profissionais com experiência com-
pode ser usado como forma de
provada e credenciada, enquanto apren- prestar orientação personalizada.»
dem, desenvolvem e praticam competên-
cias que devem ser aplicadas numa inter-

Human Resources Portugal 75


Especial Coaching

doras e identificação de estratégias para


ultrapassarem as suas dificuldades.
«Há cada vez mais novos conhecimentos. Normalmente, o
processo de coaching é sempre um pro-
uma exigência cesso muito individual e que provoca mu-
danças, umas mais radicais e outras, por
para as empresas
Que tipo de competências podem ser de-
senvolvidas através do coaching e por que vezes, mais incrementais. Mas as pes-
razão esta via é mais eficaz do que outras,
como a formação clássica?
escolherem soas podem sempre esperar por uma
mudança na sequência de um processo,
MV: O coaching surge como um óptimo
complemento à formação, uma vez que
abordagens porque são forçadas a encontrar tempo
para se confrontarem consigo mesmas.
esta última tem uma abordagem mais ge- adaptadas a cada
neralizada, quer de conceitos, quer de
práticas, e a primeira tem uma aborda-
colaborador.» Como é que o coaching se relaciona com
o bem-estar e o equilíbrio entre a vida
gem personalizada e adequada aos de- pessoal e profissional?
safios individuais. Quando a pessoa pre- MV: O coaching surge como opção em
cisa de mais tempo para a sua autorrefle- momentos em que se pretende uma
xão e para pensar nos seus desafios pes- Em que situações de desenvolvimento mudança positiva que integre diferentes
soais, o coaching é mais eficaz do que ou- pessoal faz sentido recorrer ao coaching? vectores da nossa vida. Neste contexto,
tras intervenções mais impessoais. No MV: Sempre que uma pessoa está perante é inevitável trabalhar-se a questão do
entanto, saliento que oferecer ambas as um novo contexto para qual não tem to- equilíbrio. Por vezes, as pessoas fazem
oportunidades é mais eficaz na promo- das as ferramentas e competências neces- mudanças nas escolhas que operam na
ção do desenvolvimento de competências. sárias para responder adequadamente, sua vida, outras vezes ganham consciên-
Com esta combinação garante-se que, quando não se sente capaz de responder cia daquilo que está ao seu alcance para
por um lado, a pessoa reflecte e se com- correctamente a uma situação que se conseguirem uma realidade mais satisfa-
preende melhor, mas por outro, na inte- prolonga no tempo, ou quando pretende tória. Contudo, o coaching trabalha esta
racção social que uma formação permite, redefinir prioridades na sua vida inte- questão apenas quando é pedido pelo
conhece outras realidades e usufrui das grando vários vectores como família, ami- coachee. Isto é, uma pessoa pode fazer
oportunidades de aprendizagem social. gos, hobbies, trabalho e aprendizagem de um processo sem nunca trabalhar ques-

76 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Especial Coaching

das para se conectar ao seu “eu” interior


de forma a descobrir o seu potencial?
MV: Todas as pessoas com mais ou me-
nos resistência, com mais ou menos pon-
tos cegos ou ocultos, estão preparadas
para se conectarem com o seu “eu” inte-
rior. O que assistimos é a pessoas mais re-
sistentes em abandonar os “eus” que fo-
ram construindo ao longo da vida e que,
por vezes, precisam de mais tempo ou de-
sistem da intervenção e voltam mais tar-
de quando se sentem preparadas para
fazer o luto dessas personagens. Todos
nós assumimos várias personagens e,
num processo de coaching, é esperado
chegarmos à génese dessas diferentes
personagens, conseguindo assim uma
mudança mais estável e adequada ao pa-
pel que a pessoa pretende assumir.

De que forma estas ferramentas podem


evoluir no futuro, num mundo com cada vez
mais estímulos e novas formas de trabalhar?
MV: As ferramentas de coaching podem
de uma série de características que nos evoluir com a integração de Inteligên-
diferenciam e não temos consciência das cia Artificial, que pode fornecer insights
que os outros veem em nós, mas são des- personalizados e sugestões de desen-
conhecidas para nós. Num processo de volvimento pessoal e profissional ou ser
coaching é mais fácil aceder às nossas usada para fornecer feedback em tempo
zonas cegas ou ocultas, como descritas no real, utilizando dados instantâneos para
framework janela de Johari, desenvolvi- ajustar estratégias de coaching confor-
da por Joseph e Harrington em 1995. A li- me necessário, através da realidade vir-
tões relacionadas com o equilíbrio. Ima- derança é praticada através da relação e tual que nos permite ter experiências imer-
ginem uma pessoa que quer trabalhar comunicação com o outro. E por esse mo- sivas e posterior discussão sobre as rea-
competências de comunicação. Neste tivo é tão importante o reconhecimento ções do coachee, desenvolvimento de fer-
caso, a intervenção vai focar-se em apoiar dos nossos pontos fortes e de como os po- ramentas mais adaptáveis, consideran-
na melhoria dessa competência e não demos potenciar para o exercício da li- do as preferências individuais, estilos de
no equilíbrio. Contudo, a minha práti- derança. Este reconhecimento dos pon- aprendizagem e metas específicas de
ca diz-me que é muito frequente acabar tos fortes, defendido pelas teorias da li- cada pessoa. Apesar de acreditar que as
por se trabalhar a questão do equilíbrio, derança positiva, não exclui os pontos de novas ferramentas podem ajudar a tornar
porque há cada vez mais uma consciên- melhoria, mas procura que estes sejam o processo de coaching mais automatiza-
cia colectiva de que temos de melhorar ultrapassados quando nos tornamos me- do e acessível, há uma parte humana que
essa nossa atitude. lhores naquilo que nos distingue enquan- continua a ser imprescindível para um pro-
to líderes. Deste modo, se alguém assu- cesso: a capacidade de empatia e de escu-
O coaching é uma boa técnica para for- me um papel de líder, o coaching é um ta activa. É muito importante o uso des-
mar novas lideranças? acelerador na incorporação das compe- tas competências para ajudar o outro a re-
MV: É útil no sentido em que permite que tências que facilitam o exercício des- flectir, porque há aspectos a que se acede
a pessoa encontre mais rapidamente os sa função. apenas no âmbito de uma relação empáti-
seus pontos fortes enquanto líder, bem ca em que o outro se sente ouvido activa-
como pontos cegos ou ocultos, face a uma Da experiência que têm com o coaching, mente, o que implica ajudá-lo a compre-
formação. Todos temos conhecimento sentem que as pessoas estão prepara- ender-se melhor através de perguntas.

Human Resources Portugal 77


Case Study

GRUPO AGEAS PORTUGAL

UMA ACADEMIA DE TALENTOS QUE


DÁ ASAS AOS “ARTISTAS DA CASA”
Independentemente do percurso profissional, todos temos outros talentos, que, em regra,
estão escondidos. No Grupo Ageas Portugal, todos os colaboradores são incentivados
a mostrar o seu “lado B”. A Academia de Talentos «aproxima, inspira, ajuda a crescer
e traz felicidade». POR Tânia Reis

U
ma gestão de employer garantiram a 40.ª posição, segundo lugar as mais diversas habilidades artísticas, e
branding focada na cria- se considerarmos a representatividade que, anualmente, surpreendem com ac-
ção do melhor ambien- do sector dos Seguros no ranking. tuações e performances todos os colabo-
te de trabalho possível, E se proteger a pessoas é o que move radores», explica Marta Teixeira, respon-
materializada nos no- este grupo segurador, os mais de 1300 sável do Programa A Team.
vos edifícios de Lisboa e do Porto, terá colaboradores são os primeiros da lista. Com esta iniciativa, o Grupo Ageas
tido a sua quota-parte de peso na recente Entre as várias iniciativas desenvolvidas Portugal pretende «promover e manter
subida de posição do Grupo Ageas Portu- está a Academia de Talentos. «Nascida ligações fortes entre pessoas que traba-
gal no ranking das empresas com melhor em 2017, é um projecto interno do Grupo lham na mesma empresa, assumindo
reputação. Na 4.ª edição do estudo da Ageas Portugal, que une pessoas das mais que, desta forma, também se pode con-
Merco Empresas e Líderes de Portugal, variadas idades e áreas da empresa, com tribuir para a saúde mental e felicidade

78 Human Resources Portugal Dezembro 2023


«Uma cultura organizacional com foco nam o teatro com o movimento corporal
e a dança», e ainda trabalham «a coloca-
nas pessoas e na sua felicidade é uma ção de voz e a presença em palco. E todas
estas aprendizagens e exercícios podem
abordagem que pode mesmo trazer ser utilizados em contexto profissional,
benefícios reais para a empresa.» contribuindo para o desenvolvimento
das suas competências.»
Nesse âmbito, o Grupo Ageas conta
igualmente com uma área dedicada ao
desenvolvimento e formação das suas
das pessoas da organização». Por isso, Marta Teixeira recorda que, em resposta pessoas, materializado em palestras in-
desafiam os colaboradores «a mostra- a este desafio, lançaram «um videoclipe ternas sobre os mais variados temas, ou
rem o seu lado B em áreas artísticas que na época natalícia, no qual participou projectos como o Programa INside, ini-
os apaixonam e, muitas vezes, dar palco também a comissão executiva», prática ciativa que «visa estimular o espírito em-
a sonhos que não se concretizaram nes- que têm criado ano após ano, inclusive preendedor dos colaboradores, ofere-
tas áreas». Com isso, «também se cria com a criação de um videoclipe de Boas cendo formação e apoio para a criação
maior proximidade, conexão, emoções, Festas, que partilham também externa- e desenvolvimento de novas ideias de
suporte mútuo e empatia, algo funda- mente com clientes, parceiros e público negócio que possam aprimorar a vida
mental na organização de forma global», em geral. dos clientes».
defende a responsável. Ademais, a integração do grupo de Ainda assim, Marta Teixeira defen-
«Acreditamos que uma cultura orga- talentos no programa A Team – programa de que «a Academia de Talentos assume
nizacional com foco nas pessoas e na sua de cultura organizacional que promove um papel crucial ao dar “asas aos talen-
felicidade é uma abordagem que pode uma série de iniciativas de cultura, lazer, tos” dos colaboradores, especialmente
mesmo trazer benefícios reais para a em- conhecimentos e desporto – «veio tra- aqueles que estão menos relacionados
presa e, claro, para as pessoas que dela zer uma maior atenção interna, com a com as funções que exercem no ambien-
fazem parte», acrescenta Marta Teixeira, abertura oficial de inscrições anuais para te de trabalho tradicional», o que lhes
salientando que a Academia da Talentos participação, e, mais recentemente, o lan- permite promover «o crescimento pes-
permite «também explorar a vertente do çamento da Academia para reforçar as soal e profissional, contribuindo para
desenvolvimento de competências, que competências individuais de cada pes- um ambiente de trabalho enriquecedor
contribui para um ambiente de trabalho soa que participa neste grupo», realça. e inspirador».
positivo, onde os colaboradores se sentem
valorizados, apoiados e incentivados a Desenvolver competências
crescer em várias dimensões da sua vida». úteis em contexto profissional
Ainda que exista já desde 2017, só ago- Hoje, com cerca de 44 pessoas de diferen-
ra estão a comunicar esta iniciativa inter- tes áreas, idades e níveis hierárquicos, a
na por uma simples razão: a «evolução sig- Academia de Talentos – que já realizou
nificativa da estrutura, dimensão e orga- seis espectáculos e três videoclipes com
nização do grupo de talentos. O próprio visibilidade externa – disponibiliza ini-
nível de conforto e confiança dos artistas ciativas em diversas áreas artísticas, tais
já atingiu um patamar que lhes dá a se- como dança, música e teatro, conta a res-
gurança necessária para esta exposição ponsável, fazendo notar que têm «a sor-
mais externa», partilha, acreditando que te de trabalhar com um parceiro», com
a «oportunidade para promover boas o qual têm vindo a «construir uma rela-
práticas e a importância de uma cultura ção de confiança muito grande». Juntos,
organizacional centrada nas pessoas» criaram alguns módulos que procuram o
pode ser o momento propício para ins- desenvolvimento de mecanismos que
pirar outras organizações. trabalhem a liderança nos participantes,
Todavia, estes seis anos de percurso nomeadamente através de «exercícios
não foram livres de “pedras no caminho”, que estimulam a confiança, a capacidade Marta Teixeira
nomeadamente manter a ligação entre os de comunicação e a gestão de pessoas», Responsável do Programa A Team
colaboradores em contexto de pandemia. passando também por «aulas que combi- da Grupo Ageas Portugal

Human Resources Portugal 79


Case Study

Ao encorajar a expressão dos mais di- para o engagement e a fidelização dos co- Com grande foco no “CARE” pelas
versos talentos, a Academia também in- laboradores, já que ao disponibilizarem pessoas e no seu bem-estar e felicidade,
centiva a criatividade e a inovação, compe- «um espaço onde as pessoas podem ex- entre as várias iniciativas desenvolvidas
tências essas que «podem ser estendidas pressar os seus talentos e interesses indi- pelo Grupo Ageas Portugal, Marta Tei-
para o ambiente de trabalho, impulsio- viduais, criam uma ligação pessoal e sig- xeira destaca o programa A Team, «que
nando soluções inovadoras e uma abor- nificativa entre equipas e organização». promove um conjunto de actividades de
dagem mais criativa às tarefas diárias». Ao reconhecer e valorizar a importân- desporto, lazer, cultura e conhecimentos
cia da saúde mental, «a Academia apoia para tornar os dias dos colaboradores
Aumentar o engagement também um ambiente de trabalho mais mais animados e mais felizes, promo-
e apostar no crescimento saudável, priorizando o bem-estar emo- vendo também o convívio e reforçando
A verdade é que este projecto «tem tra- cional dos colaboradores». A abordagem as relações emocionais entre todos». Em
zido benefícios notáveis, tanto para os co- inclusiva promove o sentimento de per- suma, assiste-se «à criação de uma ver-
laboradores, como para a organização». tença, onde os colaboradores se sentem dadeira “família e cultura Ageas”».
Para os colaboradores, porque «propor- valorizados e integrados numa comuni- Numa realidade de escassez de talen-
ciona desenvolvimento pessoal, contribui dade onde podem expressar-se sem bar- tos, a responsável confia que esta Aca-
para o bem-estar, fortalece relações e cria reiras e num espaço de total confiança. demia tem o potencial de promover o
laços que vão muito além das interacções Assim, «ao permitir que os colaboradores Grupo Ageas como empresa atractiva
profissionais, promove inclusão e apoio, explorem as suas paixões e expressem a para trabalhar. «Poder ser-se quem é,
e aumenta a felicidade no trabalho», sua criatividade, a Academia contribui assumir o que se faz por gosto – sendo
acredita a responsável. Para a organi- significativamente para a promoção da que a empresa não só está totalmente
zação, «fortalece a cultura centrada nas felicidade no ambiente de trabalho». receptiva a isso, como apoia as suas pes-
pessoas, impulsiona a inovação e a cria- soas neste desenvolvimento. Na prática,
tividade ao diversificar talentos, e aper- ajuda a reduzir a fronteira entre as esferas
feiçoa o espírito de equipa». «Ao encorajar a pessoal e profissional, e a empresa é um
O feedback positivo que têm recebi-
do por parte dos participantes constitui expressão dos mais local que permite realizar os sonhos.»
Para 2024, o Grupo Ageas Portugal
uma das razões para a continuidade do
projecto. «Felicidade, amor, família e
diversos talentos, pretende continuar a desenvolver as ini-
ciativas lançadas este ano, apostando
companheirismo são algumas das pa- a Academia no crescimento dos seus talentos. O ob-
lavras e sentimentos que descrevem o
que se sente por fazer parte deste grupo também incentiva jectivo é «continuar a receber novas pes-
soas que queiram fazer parte deste gru-
e por estar numa empresa que potencia
iniciativas tão impactantes ao nível pes-
a criatividade e po e partilhar o seu talento, e também
introduzir mais momentos de actuação
soal como esta.» a inovação.» na empresa, com a perspectiva de alar-
Marta Teixeira não tem dúvidas de gar estas performances a públicos ex-
que a Academia de Talentos contribui ternos», conclui.

80 Human Resources Portugal Dezembro 2023


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CH CONSULTING

REINVENÇÃO NO MERCADO
E NA GESTÃO DE PESSOAS
A CH Consulting comemora 25 anos de história. Ao longo deste tempo, tem vindo
a reinventar-se e a consolidar a sua experiência na consultoria de Gestão de Pessoas.

C
riada há mais de 25 anos, a palavra «reinvenção» para descrever os sultadoria começaram em 2003, há 20
CH Consulting deu os seus últimos 25 anos. anos. De lá para cá, temos estado em per-
primeiros passos na área da manente ebulição, sempre à procura de
contabilidade, mas rapida- A realidade da CH de hoje é a que sonhou novos desafios. Hoje, temos uma ambi-
mente solidificou a sua posi- há 25 anos? ção do tamanho mundo, com uma estra-
ção no sector da consultoria. Numa jorna- Não, de todo. Para ser honesto, já nem me tégia de crescimento internacional mui-
da que já ultrapassa as duas décadas, a lembro de qual era o sonho. Em 1998, to agressiva.
empresa conquistou notoriedade e procu- quando iniciámos a actividade, começá-
ra reinventar-se tanto no serviço presta- mos a prestar serviços de contabilidade, Se tivesse de eleger uma palavra marcante
do, como na gestão de pessoas. Em entrevis- uma área que abandonámos em 2010, para descrever esta trajectória qual seria?
ta à Human Resources Portugal, António promovendo uma spin-off de duas cola- Reinvenção, sem dúvida. A capacidade de
Henriques, CEO da consultora, utiliza a boradoras. Os primeiros passos na con- nos reinventarmos ao longo do tempo

82 Human Resources Portugal Dezembro 2023


tem sido o elemento que mais contribuiu mais o que é genuíno, ainda que simples,
para chegarmos onde estamos, com uma em detrimento de posicionamentos muito
empresa financeiramente sólida, uma elaborados, plásticos e sem identidade.
marca reconhecida pelo mercado, exce-
lentes profissionais e uma visão optimista Como é que se consegue criar e preservar
sobre o futuro. a cultura de uma organização?
Não há uma receita única, mas uma coi-
Considera-se o principal responsável pelo sa é certa: exige muito trabalho. O José Ma-
êxito alcançado? nuel Seruya, o nosso consultor associado,
Não, de forma alguma. A minha autoes- tem uma metáfora – que acho imensa piada
tima é forte, mas não vai tão longe. Nes- – onde faz a analogia com a religião e com
tes últimos 25 anos, passaram pela CH a leitura do “Pai Nosso”. Não é suficiente
centenas de colaboradores com muitas conhecer-se o conteúdo, é preciso repetir-
qualidades, humanas e técnicas, que aju- -se a mensagem regularmente. O papel da
daram a construir a nossa casa. Um dos comunicação interna é decisivo neste pro-
meus maiores méritos tem sido saber ro- cesso de aculturação colectiva. Claro que
dear-me das melhores pessoas. A minha há uma regra sagrada, tem de existir coe-
responsabilidade estará, porventura, no rência entre as políticas e a prática.
envolvimento pessoal em questões rela-
cionadas com a cultura organizacional. O que mais aprecia numa equipa?
Uma imagem de marca muito forte que o Pessoalmente, aprecio muito a inteligên-
mercado reconhece e que nos diferencia cia, o sentido crítico das pessoas e a boa-
quer na ambição quer na definição da -disposição. A diversidade de olhares
estratégia corporativa. enriquece muito a análise e a riqueza
das reflexões.
A retenção das pessoas é um tema que António Henriques
CEO da CH Consulting
o preocupa? A meritocracia integra o vosso plano de
A gestão de pessoas é um tema que me é gestão de pessoas?
muito querido. Estou envolvido activa- É uma disciplina muito presente na nos- A CH Consulting conquistou mais de 320
mente em todos os dossiers de recruta- sa cultura. Não só no plano do reconhe- prémios nos últimos anos. Que importân-
mento para posições-chave no Grupo, cimento onde elegemos todos os anos cia dão a estes reconhecimentos?
tendo alguns processos de Recursos Hu- os nossos “Monstros do Ano”, na nossa Os prémios têm uma história. Em 2010,
manos altamente personalizados, onde “Gala Monstruosa” – um evento que in- quando decidimos evoluir do segmento
investimos muito. No negócio da consul- tegra o jantar de Natal e onde juntamos das PME para as grandes empresas, vi-
toria, depois da confiança, as pessoas são todos os colaboradores –, como também mos nos prémios de excelência uma boa
o activo mais valioso. Porém, quando se ao nível da remuneração, com uma polí- estratégia para a afirmação da qualida-
somam 25 anos de trajectória, apendemos tica de prémios anuais e por projecto. Ao de e singularidade das nossas práticas
a perceber que a vida é feita de ciclos e nível da gestão de carreira, temos a expres- de gestão e um veículo de promoção da
que a mudança é um estado natural com são máxima que passa pela nomeação do marca. É um dos nossos cases, tendo
o qual temos de viver todos os dias. Quan- partner da CH Consulting. Este ano no- conquistado distinções e prémios em 18
do as pessoas seguem outros caminhos é meámos mais dois novos partners, o Car- áreas de prática diferentes, o que é um
porque acreditam que será melhor para los Adegas e a Maria Fernanda Carmo. motivo de grande orgulho. Três cente-
o seu futuro e isso deixa-nos felizes. nas depois, é natural, contudo, que seja
Quais as condições para se ser partner na CH? um tema visto internamente já com uma
O que é que mais aprecia na liderança de Promovemos muito a cultura do exemplo, certa normalidade.
uma organização? pelo que são, normalmente, os colabora-
A autenticidade e sofisticação. Não falo no dores com provas dadas na organização, Tendo sido eleitos várias vezes a melhor
sentido tecnológico do termo, mas antes alinhados com o ADN organizacional e empresa para trabalhar em Portugal, qual
no nível de integração e coerência das coi- muito comprometidos com o projecto e é a importância que atribuem à felicidade?
sas. Depois de 25 anos na actividade de com o negócio. Têm de ser exemplos de Continuamos a dar muita importância
consultoria de gestão, cada vez aprecio inspiração para os demais. ao bem-estar das pessoas, muito embora

Human Resources Portugal 83


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CH CONSULTING
Sete regras para o sucesso
Embora entenda que «o sucesso é cada vez mais uma condição efémera»,
António Henriques não fugiu à partilha daquelas que, na sua opinião, considera
serem as sete práticas de gestão de pessoas que mais contribuíram para a
afirmação da CH Consulting:
R Liderança: O estilo de liderança cultivado é determinante nos níveis de
alinhamento. Um dos “Princípios de Gestão”, que orienta os colaboradores
com funções de liderança no grupo, recomenda uma actuação que combine
três ingredientes fundamentais: humanismo, humildade e humor;
R ADN: A identidade cultural da marca é um dos seus factores de diferenciação
mais reconhecidos pelo mercado;
R Comunicação Interna: A comunicação interna permanente é um dos pontos
fortes da marca. A CH publica diariamente, desde 2011, um jornal diário onde
descreve tudo o que acontece no dia-a-dia do Grupo;
R Eventos Internos: São muitos os eventos internos, organizados ao longo do ano, lhar em casa!» O mais difícil sempre é
para a partilha de estratégia e rumo (Jornadas de ADN) e celebração (Summer alcançar o equilíbrio. Numa perspecti-
Party, Festa de Natal e Gala dos Monstros do Ano); va de crescimento, para as pessoas, não
R Flying Experiences: Quando o processo de recrutamento implica saltar de tenho dúvidas de que, a prazo, é prejudi-
paraquedas, estamos dispensados de descrever até que ponto vai a intensidade cial o conforto do lar.
e arrojo do ADN da consultora, que se descreve como «uma escola de forças
especiais no sector da consultadoria»;
Qual a vossa posição sobre a semana dos
R Excelência como Visão: A nossa visão é sermos reconhecidos como líderes quatro dias?
de excelência em tudo o que fazemos, destacando o nosso olhar 360º sobre
as organizações e o cuidado que damos a todos os detalhes; Na nossa actividade, é uma prática muito
R Celebração: A Celebração é um culto e um traço identitário enraizado, com
fácil, porque há uma lógica muito forte de
honras de marca própria de espumante (“CHeers”), elaborada para celebrar projecto. Noutros sectores a questão não
todas as grandes e pequenas vitórias. é tão pacífica. Uma coisa é certa, a esma-
gadora maioria do tecido empresarial por-
tuguês não está preparado do ponto de
vista de competitividade para suportar a
o happiness seja um conceito datado e já políticas diferentes nas várias áreas de medida do ponto de vista económico, se
menos valorizado. Como estamos sempre negócio, em função das especificidades o espírito for trabalhar 80% do tempo e
muito à frente, é natural que tenhamos e dos estilos de liderança. ganhar 100% do salário. Ainda que mal
menos curiosidade quando os temas fi- comparado, o caso da saúde em Portugal
cam mais maduros. Consideram o teletrabalho nocivo para é paradigmático. Reduzimos o horário de
as organizações? trabalho semanal em nome das melhores
O que mudou com a COVID-19 na sociedade? As generalizações são, como sabemos, condições de trabalho dos profissionais de
No essencial, o que mudou foram as pes- muito perigosas. Eu, pessoalmente, sou saúde, mas depois deixamos de cumprir
soas. Todos nós, de uma forma geral. Há fã e altamente produtivo a trabalhar em a missão principal, que é termos cuida-
uma alteração profunda nas prioridades casa. Em funções como programação, dos de saúde dignos para os cidadãos.
das pessoas e na sua relação de compro- esta é hoje uma realidade incontornável,
misso com as organizações e com o tra- com ganhos visíveis de produtividade. Qual a estratégia actual de internaciona-
balho, num sentido lato. Este é um ca- Mas essa não é uma regra transversal. lização da CH Consulting?
minho sem retorno, sendo que as orga- Por exemplo, na função pública é desas- Temos planos de crescimento para a área
nizações vão ter de se ajustar. troso, tendo-se deteriorado brutalmente internacional, onde actualmente temos
o serviço que é prestado aos cidadãos. O projectos em curso em 17 países e quatro
Qual é a vossa prática no que diz respeito conselho que dei a um dos meus filhos, continentes. A área de recursos humanos
ao teletrabalho? que recentemente se mudou para Lisboa, é uma das áreas onde temos conquista-
No essencial, acompanhamos as tendên- para estagiar numa multinacional foi: do mais contratos internacionais e onde
cias de mercado, muito embora tenhamos «Vai para a empresa, não fiques a traba- perspectivamos continuar a crescer.

84 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Especial Felicidade

MILESTONE

A FELICIDADE COMO ESTRATÉGIA


PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE
A Milestone segue uma estratégia centrada nas pessoas que privilegia a excelência
da experiência de colaborador, desde o momento da atracção.

P
ara promover uma cultu- ainda uma aposta no desenvolvimento No âmbito da dimensão física do bem-
ra de felicidade e bem-es- das competências das equipas, essencial -estar, a empresa coloca à disposição dos
tar, esta empresa desen- para a garantir uma elevada performan- colaboradores aulas de yoga, jogos de
volve um conjunto de prá- ce e capacidade de adaptação às constan- futebol e de padel, massagens no escritó-
ticas com a finalidade de tes mudanças. rio, uma app nutricional que acompanha
dar resposta aos novos desafios que se Para promover um ambiente de tra- e promove uma alimentação saudável, e
colocam na área do bem-estar físico, psi- balho mais feliz e saudável, a Milestone ainda um conjunto de workshops realiza-
cológico e social. Assim, a Milestone in- tem «uma abordagem holística que in- dos ao longo do ano.
veste em modelos de trabalho flexíveis corpora as dimensões do bem-estar físi- Por outro lado, no que diz respeito ao
para ir ao encontro das necessidades co, emocional, financeiro e social», expli- bem-estar emocional e mental, a empre-
dos colaboradores, sem descurar o foco ca Rita Carvalho Marques, Happiness ma- sa destaca sessões de mindfulness, um
na cultura de proximidade. Destaca-se nager & Global MKT da Milestone. programa de apoio psicológico com con-

86 Human Resources Portugal Dezembro 2023


sultas gratuitas, sessões individuais de coa-
ching e workshops com temáticas como o
A empresa desenvolve workshops
sono e gestão de tempo, desacelerar, téc-
nicas de respiração entre outros.
sobre literacia financeira e estabelece
Igualmente importante é a compo- parcerias com vantagens exclusivas
nente social do bem-estar e, neste âmbito,
a Milestone refere momentos como a fes-
para os colaboradores.
ta de aniversário da empresa (que serve
como kickoff anual); os eventos trimes-
trais; uma bolsa de mérito para os filhos
dos colaboradores; prémio de conclusão to de pertença, em 10%, e o absentismo A responsável acrescenta que «não
de ciclo de estudos; prémio por comple- reduziu. No último ano, a empresa pres- olhamos para a estratégia de well-being
tar uma década na empresa; Awareness tou 4300 horas de formação; de referir de forma isolada, mas sim interligada
Awards: reconhecimento para as pessoas ainda que existem 38% de mulheres na com toda a nossa estratégia de gestão de
mais envolvidas com a empresa; prémio empresa e 40% de mulheres em cargos de pessoas (desenvolvimento e formação,
Personalidades do Ano; Referral Program: liderança; e há colaboradores de cinco gestão de performance, reconhecimento,
reconhecimento pela referenciação de nacionalidades diferentes. benefícios e liderança). A nossa liderança
pessoas; e Milebaby: sessões fotográficas e as nossas equipas valorizam a cultura
para os pais recentes. BENEFÍCIOS E PROGRAMAS de feedback que promovemos na empre-
Já na dimensão financeira, a empresa Esta cultura de felicidade e bem-estar sa, sendo o mesmo recolhido através de
desenvolve workshops sobre literacia fi- tem, segundo a Milestone, benefícios diferentes mecanismos. Percebemos que
nanceira e estabelece parcerias com van- para empresa e para os colaboradores. a diversidade de práticas e benefícios é a
tagens exclusivas para os colaboradores Da parte da empresa Rita Carvalho Mar- chave para responder aos múltiplos per-
com bancos, ginásios, telecomunicações ques refere maior envolvimento, maior fis e interesses. Contudo, o ambiente de tra-
e clínicas, entre outras entidades. sentimento de pertença e motivação por balho, a proximidade, a transparência e o
Para Rita Carvalho Marques, «os ín- parte dos colaboradores, o que faz com respeito pela diversidade assumem gran-
dices elevados de bem-estar e felicidade que a produtividade e imagem da empre- de relevância para as nossas pessoas».
são, para a Milestone, um factor crítico sa saiam reforçadas. No que diz respeito A Milestone conta ainda com um con-
para a atracção e retenção de talento. ao colaborador, através das práticas im- junto de programas criados para dotar
Nesse sentido, nos últimos anos, temos plementadas, este «sente-se muito mais as pessoas de ferramentas que promovem
vindo a alocar uma percentagem do nos- feliz, seguro e reconhecido. Isso ajuda a a felicidade, a satisfação e o equilíbrio. As
so orçamento anual a práticas e políti- melhorar a sua relação com a empresa, iniciativas na área de happiness e bem-
cas de bem-estar». trazendo maior bem-estar e alegria». -estar dividem-se, assim, em cinco gran-
O sucesso destas práticas e iniciativas des temas: mecanismos de transmissão
é medido através de um conjunto variado da missão, valores e cultura da empresa;
de questionários que vão sendo implemen- reconhecimento; wellbeing; desenvolvi-
tados ao longo do ano, bem como da taxa de mento pessoal e profissional; benefícios
absentismo e abandono da empresa. Além e salário emocional. Em cada um destes
disso, a Milestone desenvolveu uma apli- grandes temas existe um conjunto de
cação analítica (HxM) que apoia a análise iniciativas que servem as necessidades
e antecipa a saída de um colaborador. levantadas pelos colaboradores e que
«Além de permitir melhorar fluxos são revistas anualmente.
de trabalho e automação de processos, No que diz respeito ao equilíbrio en-
a tecnologia permite-nos monitorizar tre a vida pessoal e profissional dos cola-
indicadores que nos ajudam a agir com boradores, a Milestone tem um modelo
maior precisão na definição e implemen- de flexibilidade sob o lema “Total liber-
tação de estratégias de bem-estar», expli- dade com total responsabilidade” que
ca Rita Carvalho Marques. E é com a aju-
da da tecnologia que a Milestone conclui Rita Carvalho Marques
que em 2022, o engagement dos colabo- Happiness manager & Global MKT
radores aumentou em 15%, o sentimen- da Milestone

Human Resources Portugal 87


Especial Felicidade

A Milestone conta pa de várias formas: Milebabys, Milesto-


ne Club, Refferal Program.
com um conjunto 6. Criação de jogos que promovam a so-
cialização, o sentimento de pertença e
de programas a alegria no trabalho: HappyVouchers
criados para e Mile Food Sharing, entre outros.
7. Flexibilidade laboral: total liberdade
dotar as pessoas com total responsabilidade. O mais im-
portante é que as pessoas possam con-
de ferramentas ciliar a sua vida pessoal com a profis-
que promovem sional, trazendo mais tranquilidade e
menos stress.
a felicidade, 8. Medir constantemente o grau de fe-
licidade das pessoas através de surveys
a satisfação e processos internos.
e o equilíbrio. 9. Desenvolver uma estratégia de sus-
tentabilidade e responsabilidade social
que passa pelo individuo, a sociedade e
o Planeta.
No próximo ano, a empresa pretende
apostar na continuidade desta estratégia.
se tornou ainda mais visível no pós-pan- Ainda no que diz respeito à retenção Com base nos resultados das avaliações
demia. De acordo com Rita Carvalho de talento, todas as práticas da Miles- feitas pelos colaboradores e os inputs
Marques, a decisão desta flexibilização tone têm como objectivo dotar os cola- dados, «vamos ajustar a nossa estratégia
teve como base a auscultação dos cola- boradores de ferramentas que permi- na criação de um conjunto de iniciativas
boradores. E, «com a transformação dos tam alinhar a sua vida pessoal com a que promovam o desenvolvimento indi-
modelos de trabalho, cada vez mais digi- vida profissional, focando as motiva- vidual e o alinhamento colectivo, não es-
tal, foi essencial a utilização de tecnolo- ções individuais, o nível de carreira e quecendo também a estratégia da empre-
gia que permita melhorar a experiência um permanente feedback. Para isso, sa. Todos os factores devem ser devida-
de colaborador e promover o bem-estar existem ferramentas de comunicação mente calibrados para que possam cami-
das pessoas». internas eficazes e simples, através de nhar lado a lado para um futuro promis-
meios digitais que promovem a proximi- sor e de sucesso».
DESAFIOS dade das pessoas: Actualmente com 13 anos de existên-
A Happiness manager da Milestone des- 1. Construção um espaço agradável e cia, o propósito da Milestone continua
taca como grande desafio, nos dias de harmonioso para se trabalhar. a ser a criação de um impacto positivo
hoje, a necessidade de atrair e reter ta- 2. Fomentar o feedback. Acções de men- nos clientes e um futuro melhor para as
lentos, uma dificuldade que considera toring, avaliação de desempenho e reu- suas pessoas através de agilidade, inova-
transversal no tecido empresarial por- niões de equipas, entre outros. ção e tecnologia. «Queremos ser reco-
tuguês. «Para atrairmos e retermos ta- 3. Desenvolvimento de iniciativas que nhecidos entre os melhores na classe pe-
lentos, temos de ter uma cultura muito promovam a inteligência emocional e o los clientes e parceiros, o que nos permite
forte. Procuramos todos os dias alinhar autoconhecimento através de workshops atrair os maiores talentos. É com esse
essa cultura com a estratégia da empre- de sensibilização com temas como ali- sentimento que todos os dias tentamos
sa. Um dos factores mais desafiantes é mentação saudável, postura, mindful- tornar a vida melhor a quem trabalha na
o stress, que é tratado de várias formas. ness, correr com sentido. Milestone. Por isso somos reconheci-
Existe uma preocupação muito grande re- 4. Realização de eventos internos de dos pelo mercado e internamente como:
lativamente à saúde mental e emocional equipa como sessões de brainstorming, 1.ª empresa mais feliz para trabalhar
das pessoas. Partilhamos variadas fer- eventos de apresentação de resultados, em Portugal 2023; Best Mental & Emo-
ramentas numa dinâmica de workshop eventos de socialização, acções de team- cional Strategy nos Wellbeing Awards
e, além disso, temos apoio psicológico e building, etc. 2023; Top 3 em People Choise nos Well-
sessões de coaching que estão à disposi- 5. Construção de um pacote de incenti- being Awards 2023; 5.ª Melhor empresa
ção dos nossos colaboradores». vos diferenciador para premiar a equi- para trabalhar.

88 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Evento

PWN LISBON DREAM DAY

A SUSTENTABILIDADE DAS
ORGANIZAÇÕES PASSA POR
UMA LIDERANÇA DIVERSA
O encontro anual da PWN Lisbon, dedicado à mudança, celebrou 12 anos de actividade
e reuniu profissionais e académicos que partilharam as suas experiências, promovendo
ao mesmo tempo uma reflexão sobre as desigualdades que persistem, mas com foco
também numa visão de futuro, assente na diversidade, com vista à construção de
organizações (e sociedades) mais sustentáveis. POR Tânia Reis

M
ais de 300 con-
vidados marca-
ram presença
no PWN Lisbon
Dream Day:
“Engaging All For a Change – A Life
Story”, que decorreu no passado dia
29 de Novembro, n’ O Clube, Monsanto
Secret Spot, e que teve a Human Resour-
ces Portugal como media partner. Ao
longo de uma manhã, os participantes
foram convocados a pensar no papel que
podem desempenhar na mudança, atra-
vés do seu percurso individual e colecti-
vo, que os tempos actuais exigem para
um futuro mais inclusivo e sustentável.
A abrir o encontro, Tiago Forjaz, fun-
dador e Managing partner da The Epic Ta-
lent Society, salientou a importância do
talento, da vocação e da diferença entre João Pedro Tavares, PWN Lisbon; e Mafalda Rebordão, Google Londres
ambos. «O talento nasce dentro de nós,
não está pronto, tem de se desenvolver. nager da Google Londres e cofundadora intergeracional – tema que não pode
A vocação é o caminho, e o talento são as do Ponto Zero, sobre “Desenhar o Futu- ser posto de lado – «traz benefícios na
ferramentas que usamos para fazer esse ro”, a jovem de 26 anos, e primeira por- construção de sociedades mais felizes»,
caminho», distinguiu. tuguesa a ser distinguida pelo Finan- defendeu.
cial Times, começou por fazer notar que A gestora chamou também a atenção
Abrir portas à «não podemos falar de futuro sem falar para a necessidade de pensarmos em so-
intergeracionalidade de liderança» e que «todos temos um luções, mais do que focarmo-nos nos pro-
Numa conversa “one to one”, entre João papel e uma responsabilidade no futuro», blemas, e a elementaridade da educa-
Pedro Tavares, da PWN Lisbon, e Mafal- devendo assumir o compromisso de abrir ção que parte dos pais. «A educação co-
da Rebordão, Strategic Partnerships ma- portas às várias gerações. Esta ligação meça em casa, e o papel dos pais é mostrar

90 Human Resources Portugal Dezembro 2023


que o mundo é um lugar seguro. Mes-
mo com dificuldades, eles vão estar lá
para apoiar.»
Aludindo ao tema salarial, Mafalda Re-
bordão defendeu ainda que, «se Portugal
não quer perder os jovens mais qualifi-
cados, é necessário colocar estes profis-
sionais perto dos centros de decisão».

A (des)igualdade em números
Seguidamente, Maria João Guedes, pro-
fessora associada do ISEG, traçou o “es- cotadas em bolsa no País (32,6%) está a sigualdade», exemplificando com envie-
tado da nação” da diversidade de géne- aproximar-se da média europeia (34%), samentos enraizados culturalmente na
ro nas organizações, com a apresentação sim, mas, quando analisadas as funções, sociedade, ao longo de todo o crescimen-
dos resultados de um survey piloto do pro- apenas 19,7% representam cargos exe- to do ser humano, dos contos infantis ao
jecto Portuguese Women’s Equality Ob- cutivos, enquanto 41,2% são não execu- ChatGPT. Assim, para avaliar o «pulso
servatory (POWER). A verdade é que, em tivos», ressalva. da igualdade de género no contexto em-
Portugal, «as mulheres continuam a ser Maria João Guedes destacou que é ne- presarial português com uma abordagem
sub-representadas e sub-remuneradas cessário identificar «de onde vem a de- cientificamente validada», a coordenado-
em vários níveis de hierarquia», enfren-
tando obstáculos à sua progressão, por
motivos racionais (mas também irracio-
«As mulheres continuam a ser sub-
nais) e socialmente construídos, como a -representadas e sub-remuneradas em
maternidade, ou a falta de interesse, de am-
bição ou de experiência, entre tantos ou- vários níveis de hierarquia, enfrentando
tros. E, ainda que a Lei das Quotas tenha
vindo acelerar o caminho para a parida-
obstáculos à sua progressão.»
de, houve um retrocesso em 2023. «A per- Maria João Guedes, ISEG
centagem de mulheres nos órgãos de
administração das maiores empresas

ra do projecto revela que o POWER levou


a cabo um survey piloto com 120 partici-
pantes (64 mulheres e 56 homens), com
uma média de idades de 25 anos, no qual
distribuíram dois CV exactamente iguais,
à excepção do nome, “Tiago” e “Susana”,
e foram posteriormente questionados
sobre vertentes como “competência”,
“entrevista”, “barreiras” e “aspirações”.
Os resultados mostram dados interes-
santes: as mulheres consideram o Tiago
mais competente e com mais probabilida-
de de ser líder, apesar de serem da opinião
de que ambos podem chegar a CEO, di-
rector/a financeiro ou CFO. Já os homens
acham que a Susana pode chegar a Profit
manager, uma profissão inventada para
efeito de análise. Enquanto as mulheres
acreditam que vão encontrar barreiras
Maria João Guedes, ISEG devido ao género, os homens não; e no que

Human Resources Portugal 91


Evento

a filhos diz respeito, as mulheres crêem


que a decisão de ter filhos vai atrasar a
carreira, mas o mesmo não se verifica do
lado dos homens. «A idade e a experiência
aumentam a percepção das barreiras na
conciliação trabalho e família», conclui
Maria João Guedes, reconhecendo que a
mentoria é uma «poderosa ferramenta
para as mulheres não partirem já derrota-
das» e que «têm de ser criadas as condi-
ções para terem os cargos a que aspiram».

Os desafios da liderança
O painel “Duas Rotas de Vida” juntou Cris-
tina Gamito, Financial Services and In-
surance Practice leader da Deloitte Por-
tugal, e Luís Osório, escritor e consultor,
numa conversa conduzida por Tiago For-
jaz e Rita Romão, da PWN Lisbon.
Para Cristina Gamito, «a paixão pelo
que fazemos, a persistência para sermos
fiéis aos nossos valores, a aprendizagem, o
trabalho, o amor e muita dedicação» são os torna humanos, cria conexões funda-
seus ingredientes para uma receita de su- mentais para irmos mais longe enquan-
cesso, salientando que uma grande equi- to equipa, e o exercício de liderança será
pa à volta também é fundamental. Não es- melhor com essa humanidade».
quecendo que «fazer perguntas é um dom Já Luís Osório sublinhou que «lide-
e uma arte que devemos dominar», acres- rar pressupõe ter respostas que nunca
centou que é «a vulnerabilidade que nos agradam a todos» e que «os momentos de

Frederico Fezas Vital, Católica-Lisbon

desequilíbrio fazem-nos crescer». «Mui-


tas pessoas acham que sabem o que é me-
lhor para nós, mas é sempre bom ser-
mos nós a saber para onde vamos», con-
cluiu o escritor.

A mudança é possível
O último painel foi dedicado ao tema
“Changing Lives Scope”. Frederico Fezas
Vital, director-executivo do Yunus Social
Innovation Center da Católica-Lisbon,
abordou o “impacto sistémico”. «Se uma
organização quer crescer, tem de haver
um trabalho conjunto dos vários depar-
tamentos sob um propósito comum»,
Tiago Forjaz e Rita Romão, PWN Lisbon; Cristina Gamito, Deloitte Portugal; e Luís Osório explicou. E considerando que todos são

92 Human Resources Portugal Dezembro 2023


Evento

Realçando que a igualdade de género


continua a não ser uma prioridade nos
boards das empresas, terminou a sua in-
tervenção com um apelo: «Dêem voz a
tantas mulheres que não têm a mesma
igualdade de oportunidades.»
A encerrar o encontro, Paula Perfeito,
presidente da PWN Lisbon, agradeceu
aos membros, parceiros e voluntários,
e referiu que 2023 foi o ano em que a or-
ganização registou o maior crescimento
de sempre, com mais de 1700 associados,
recordando que o seu propósito não é o
empoderamento feminino, mas sim a
preparação para a liderança. «Estamos
convictos de que, em 12 anos de activi-
dade, a PWN Lisbon tem vindo a con-
tribuir para a evolução da diversidade
em Portugal, e que este é o tempo de
uma maior ambição para este tema.»
Alexandra Machado, Girl Move Academy

agentes de mudança, o envolvimento


das lideranças é fulcral.
O director-executivo alertou ainda
que, para mudar os sistemas, há que ir à
raiz dos problemas. «Precisamos de uma
economia convergente, onde todos os
agentes, percebendo os problemas, rapi-
damente actuam para os resolver e têm
como matriz sistémica os ODS.» Para essa
mudança sistémica acontecer, o profis-
sional listou competências fundamentais
como «humildade, paciência, persistên-
cia, escuta activa, comunicação autênti-
ca, empatia, partilha e inspiração e ca-
pacidade de feedback».
Seguiu-se Alexandra Machado, fun-
dadora e CEO da Girl Move Academy, que
inspirou (e emocionou) a plateia ao parti- Paula Perfeito, PWN Lisbon
lhar a sua experiência com a criação des-
ta ONG, dedicada ao empoderamento de
raparigas e mulheres em Moçambique
«A PWN Lisbon tem vindo a
através de mentoria, numa realidade de contribuir para a evolução da
elevadas taxas de abandono escolar e
maternidade infantil, em que apenas 1 diversidade em Portugal, e este é
a 2% das raparigas se licencia.
Desta aprendizagem, a década mais
o tempo de sermos mais ambiciosos
difícil da sua vida, sublinhou que «a ques- em relação a este tema.» Paula Perfeito, PWN
tão não são as pedras, é a atitude que te-
mos quando as pedras nos aparecem».

Human Resources Portugal 93


Especial Employer Branding

sources Portugal, Joana Lino, directora


de Recursos Humanos da Bosch Home
Comfort em Portugal, explica como a em-
presa trabalha nestas premissas de forma
transversal a todas as suas localizações.

O que distingue a Bosch enquanto entida-


de empregadora?
Por um lado, a dimensão organizacional
e a robustez da marca Bosch são capazes
de atrair diversos candidatos; por outro,
o facto de apresentarmos políticas de mo-
bilidade interna e diversas possibilidades
de desenvolvimento de carreira em mul-
tiplas áreas, o que engloba desde a ino-
vação e desenvolvimento, de hardware e
software, produção, unidades centrais e
vendas, permite-nos dispor de um leque
alargado de funções atractivas. Tudo isto
é suportado por algo muito importante
que é a nossa cultura empresarial, que as-
senta em valores como a diversidade, a
responsabilidade social, a eficiência na
utilização racional de recursos e a pro-
tecção ambiental, e que orientam a forma
BOSCH como fazemos o nosso trabalho diário.
Paralelamente, a nossa orientação para
o futuro e foco na sustentabilidade fa-

CRESCER A NÍVEL zem com que sejamos uma empresa que


investe muito na inovação e tecnologia.

PROFISSIONAL, Como surgiu a campanha global “Work


#LikeABosch”?

SEM DESCURAR A Bosch está no caminho de se tornar


uma empresa líder em IoT, sendo pos-

A VIDA PESSOAL sível verificar nos últimos anos um in-


vestimento elevado em investigação e de-
senvolvimento, tanto de hardware como
de software, nas diferentes áreas de ne-
A Bosch aposta numa campanha global de employer gócio da Bosch. Neste sentido, precisamos
de talento e das competências neces-
branding intitulada “Work #LikeABosch”. sárias para fazer acontecer esta trans-
formação e por isso, sentimos a necessi-

E
dade de reformular o nosso EVP, a nos-
sta campanha engloba os con- é o seu Employer Value Proposition (EVP): sa promessa enquanto empregador, no
ceitos, grow, enjoy and inpi- crescer em inúmeras funções, posições e decorrer do ano 2021, procurando adap-
re“, que traduzem as práti- oportunidades; desfrutar dos benefícios tar-nos aos novos tempos e às expectati-
cas orientadoras da Bosch, da conciliação entre a vida pessoal e o tra- vas do público-alvo. A campanha Work
e cujos pilares reflectem e balho e fazer com que valha a pena; e ins- #LikeABosch representa a Bosch como
comunicam a cultura interna e o posicio- pirar a criação de um hoje e um amanhã um empregador atractivo, moderno e di-
namento da empresa, firmando aquele que melhores. Em conversa com a Human Re- versificado, e comunica a nossa visão

94 Human Resources Portugal Dezembro 2023


futura. Adicionalmente, esta campanha ponsabilidade social e especial interesse
procura também relembrar aos nossos pela sustentabilidade.
actuais colaboradores o que torna a
Bosch um empregador de excelência e No contexto de Employer Branding, que
para onde nos dirigimos. imagem pretendem que os colaboradores,
actuais e potenciais, tenham da Bosch?
Quais as principais premissas em que Para a Bosch, é uma prioridade garantir
assenta a visão do Work #LikeABosch? que as nossas pessoas têm as condições
A promessa que fazemos aos nossos co- para se desenvolverem e realizarem o me-
laboradores é sólida: crescemos juntos, lhor trabalho que lhes é possível, por isso,
desfrutamos do que fazemos e inspiramo- a nossa estratégia de Employer Branding
-nos uns aos outros. Reflectimos essas assenta na implementação de medidas e
ideias em três conceitos: Grow. Enjoy. políticas que promovem o bem-estar das
Inspire. Estas três dimensões foram es- nossas pessoas e equipas. Sabemos que
colhidas na medida em que encontramos hoje a atracção e retenção do talento vão
diferentes exemplos no nosso dia-a-dia: muito mais além da compensação, e que
quanto ao crescimento e desenvolvimen- embora continue a ser um aspecto rele- Joana Lino
Directora de Recursos Humanos
to (“Grow.”), dispomos de múltiplas ses- vante, deve sempre fazer parte de um
da Bosch Home Comfort em Portugal
sões de formação para o desenvolvimento conjunto de outras propostas de benefí-
de cada colaborador, promovendo a au- cios que incluem, por exemplo, mais opor-
toaprendizagem e a formação contínua, tunidades ao longo das várias etapas da sa estratégia fazem parte diversos progra-
facilitar mudanças de nível, área, negó- vida profissional, a flexibilidade em ter- mas específicos relacionados com o de-
cio ou localização e destacamentos in- mos de gestão de tempo, etc. É com isso senvolvimento de carreira, como por
ternacionais, trabalho com colegas de em mente que procuramos implemen- exemplo: o Boost, um programa de ace-
diferentes culturas e uma cultura acolhe- tar medidas que vão de encontro ao que leração de carreiras que ocorre anual-
dora e que promove o feedback. Se falar- as nossas pessoas ambicionam. mente e que procura jovens com elevado
mos de equilíbrio entre vida pessoal e potencial que queiram acelerar as suas
profissional (“Enjoy.”), orgulhamo-nos Um mercado de trabalho cada vez mais carreiras e que possam assumir no futu-
de ter diferentes modelos de trabalho global exige que uma organização seja ro posições de nível superior na Bosch
flexíveis, descontos em produtos e ser- criativa na sua capacidade de atrair e re- Portugal; o Jump In, um programa de es-
viços, incluindo produtos Bosch, se- ter os talentos. Que actividades promo- tágios a nível nacional que engloba está-
guro médico competitivo, actividades e vem nesse sentido? gios profissionais/extracurriculares, cur-
eventos que contribuem para o convívio O mais importante é mantermos uma co- riculares e de verão; o Bosch Connect Day,
e aprendizagem dos nossos colabora- municação constante e aberta com o ta- um dia em que é possível acompanhar
dores. Por fim, colaboração e lideran- lento, evidenciando claramente qual o o trabalho dos nossos engenheiros, tro-
ça (“Inspire.”) num ambiente inclusivo nosso proposito, bem como qual é a nos- ca de experiências com as equipas e co-
(diversidade, equidade e inclusão), de sa cultura e valores. nhecimento dos objectivos e desafios de
liderança positiva, onde focamos nos E para isso, desenvolvemos uma es- cada projecto; a iniciativa Road2Bosch,
pontos fortes da nossa força de traba- tratégia clara para proporcionar expe- em que a Bosch ruma às principais uni-
lho, colaboramos e partilhamos conhe- riências enriquecedoras tanto aos actuais versidades do país e dá a oportunidade
cimento internacionalmente, com res- colaboradores como aos candidatos. Des- aos estudantes que sonham com um fu-
turo no mundo da tecnologia de nos co-

A promessa que fazemos aos nossos nhecer. Além disso, ao longo do ano, rea-
lizamos campanhas mais específicas ten-
colaboradores é sólida: crescemos do em conta as nossas necessidades de
recrutamento, que incluem uma solução
juntos, desfrutamos do que fazemos conjunta entre actividades digitais, onli-

e inspiramo-nos uns aos outros. ne, mas também offline, e participamos


em eventos externos, tecnológicos e de
recrutamento, assim como em feiras
de emprego.

Human Resources Portugal 95


Fora de Casa

PERFORMANCE TEATRO

2:22 Uma História


de Fantasmas
© Pat Beaudry, Max Bocanegra, Randy Cremean & Vlad Lorenzo

Escrito por Danny Robins, autor e criador


do podcast “The Battersea Poltergeist”,
“2:22 Uma História de Fantasmas” é um
thriller com um enredo intrigante e cheio
de adrenalina, protagonizado por Ana Cloe,
Joana Seixas, João Jesus e Pedro Laginha,
com encenação de Michel Simeão.
Joana acredita que a sua nova casa
está assombrada, mas o marido Samuel
recusa-se a aceitar que os acontecimentos
estranhos que têm ocorrido ultimamente
estão relacionados com fenómenos
sobrenaturais. Quando recebem a amiga
Laura e o seu namorado Quim para jantar,
a trama aguça-se. Poderão os mortos
Cirque Du Soleil – OVO regressar ao mundo dos vivos? Crença e
cepticismo colidem quando percebem que
algo se passa. Para descobrirem a verdade,
O Cirque du Soleil regressa a Lisboa com o relançamento de um dos mais terão de ficar acordados até às 2:22.
emocionantes e coloridos espectáculos da companhia, com três novos actos e R Até 30 de Dezembro,
novas personagens. “Ovo” conta a história de um ecossistema cheio de vida e cor, no Teatro Villaret, Lisboa
onde insectos trabalham, comem, rastejam, brincam, lutam e até se apaixonam. A
vida flui com toda a intensidade neste universo animado, até que, um dia, um ovo
misterioso aparece. A surpresa e a curiosidade pelo objecto icónico tornam-se o
enredo perfeito para uma história única que, para além de retratar o ciclo da vida
na sua ordem mais natural, aborda o amor inocente entre uma sedutora joaninha
e o insecto desajeitado que nasce do ovo invulgar. “Ovo” é a natureza sem filtros.
Um retrato repleto de imaginação, luz, som e emoção, onde cada personagem
promete transformar a nossa maneira de olhar para a natureza.
R De 20 a 30 de Dezembro, na Altice Arena, Lisboa

TEATRO

Requiem por Isabel


O texto “Requiem por Isabel”, de Raquel Serejo Martins, vencedor da 5.ª edição do Prémio
Miguel Rovisco – Novos Textos Teatrais, é inspirador e oferece um olhar nostálgico e poético
sobre duas mulheres numa fase tardia da sua vida. Lucrécia foi a actriz mais famosa e
requisitada do seu tempo, mas este já não é o seu tempo. A debater-se com a decrepitude
física e financeira, foi obrigada a mudar-se para um apartamento nos subúrbios da cidade.
Isabel foi professora de Português; reformada e viúva, mora desde sempre nesse mesmo
prédio. Esta é a história de um dia na vida destas mulheres com passados diferentes e
aparentemente sem nada em comum, sujeitas a conviver no presente. Com encenação de
Tiago Torres da Silva, conta com interpretação de Lídia Franco, Rita Ribeiro e Baltasar Marçal.
R Em cena até 14 de Janeiro, no Teatro da Trindade Inatel, Lisboa

96 Human Resources Portugal Dezembro 2023


MAGIA

O “Impossível”, mesmo à frente dos nossos olhos


Luís de Matos regressa com novo elenco e novas ilusões no espectáculo “Impossível ao vivo”.
O mais premiado mágico português, distinguido três vezes pela Academia de Artes Mágicas
de Hollywood, volta a surpreender com uma viagem extraordinária pelo mundo da ilusão,
onde o impossível se converte em realidade e os limites da imaginação são desafiados
a cada instante. Acompanhado por Joana Almeida e pelos Momentum Crew, campeões
mundiais de breakdance, Luís de Matos terá ao seu lado quatro dos maiores mágicos
mundiais da actualidade. De França, a rainha do “quick change”, Léa Kyle; da Bélgica,
o actual campeão do mundo de Magia, Laurent Piron; da Venezuela, o talento de quem
tanto se fala, Winston Fuenmayor; e da Austrália, o mestre do teatro físico, Raymond Crowe.
R Até 7 de Janeiro no Teatro Tivoli BBVA, Lisboa; de 10 a 14 de Janeiro no Coliseu Porto Ageas,
Porto; e de 17 a 20 de Janeiro no Teatro das Figuras, Faro

REVISTA À PORTUGUESA MÚSICA

Paródia Nacional
Uma aventura divertida pelo universo da
televisão portuguesa, onde não faltam
a crítica e ironia, acompanhadas da
beleza e luxo, característicos da Revista à
Portuguesa. Além de uma homenagem à
caixinha mágica, “Paródia Nacional” é uma
caricatura dos canais portugueses e das
figuras mediáticas, não só da televisão,
mas também da política, do desporto e da
sociedade. Com texto de Flávio Gil, Miguel
Dias e Renato Pino; música de Miguel
Dias e Carlos Pires; e encenação a cargo
de Flávio Gil, a quem se juntaram Miguel
Dias e Paulo César, “Paródia Nacional”
reúne em palco Cidália Moreira, nome
incontornável da história do fado, e Marina
Albuquerque, actriz televisiva, à frente The Rocket Man Experience
de um talentoso grupo de actores,
cantores, bailarinos e acrobatas.
R Até 30 de Dezembro, no Teatro Portugal recebe pela primeira vez o espectáculo de tributo a Elton John,
Maria Vitória, Parque Mayer, Lisboa “The Rocket Man Experience”. Protagonizado pelo artista e empresário Tom
Cridland, este show, integralmente cantado e tocado ao vivo, promete uma
noite memorável no Salão Preto e Prata, no Casino Estoril, ao som dos melhores
hits da carreira de Elton John. Tom não só canta e toca como Elton, como o seu
estilo no palco reflecte o glamour do cantor, usando trajes personalizados e
sapatos feitos à medida para corresponder ao estilo único do lendário músico.
Filho de mãe portuguesa, Tom está especialmente entusiasmado com a
apresentação do seu primeiro espectáculo em Portugal. «Depois de tantos
shows e de uma tournée pelos Estados Unidos, estou ansioso por regressar a
um país a que chamo “casa”.»
R Dia 29 de Dezembro, no Casino Estoril

Human Resources Portugal 97


Opinião

A MAIOR FORÇA DO LOBO


ESTÁ NA ALCATEIA
As organizações competem pelas melhores pessoas e não tanto pelas melhores estratégias.

ção genuína. Estes factores constituem ment”, onde os atletas eram encorajados
a vantagem competitiva mais duradoura a dirigirem-se para a direcção certa. A ci-
Rui Lança de qualquer equipa, e estão dependentes mentar o compromisso para os próximos
Director Desportivo
no Sport Lisboa e Benfica da liderança, das equipas e das pessoas. passos. Explicar todos os dias onde os atle-
e docente universitário Se pensarmos nas organizações como tas estavam na linha do objectivo colec-
uma soma de diferentes equipas internas e tivo, de todos.»
«As coisas incríveis nunca são as equipas como uma soma de diferentes A liderança das equipas é avaliada
feitas por uma única pessoa, personalidades, podemos considerar cada por muitas formas, sabendo que algumas
mas sim, por uma equipa.» pessoa como uma parte do seu grupo. Que são omissas em critérios objectivos e afe-
Steve Jobs
pode realizar bem o seu trabalho indivi- ríveis. Mas a capacidade de conjugar as
dual, mas aquilo que procura e a sua re- peças individuais em prol de algo comum,

B
compensa têm uma probabilidade maior colectivo, uma força maior, a frase batida,
ill Gates afirmou que se re- de serem alcançados se houver sintonia mas sempre actual, de que o todo tem de
tirassem as 20 pessoas mais com os restantes membros da equipa. ser superior à soma de todas as partes,
inteligentes da Microsoft, a Colocar as pessoas a trabalhar para algo é sem dúvida um dos mais importantes
empresa tornar-se-ia banal. maior, para um propósito e um objectivo desafios de quem lidera.
E quando lhe perguntaram qual o maior colectivo, é um dos temas mais recorrentes A criação de uma inteligência colec-
factor diferenciador da empresa, a respos- quando falamos com líderes de equipas. É tiva nas organizações/equipas é um ter-
ta foram as pessoas, nunca o software; que uma das áreas onde as empresas se deba- mo que abrange um misto do conjunto
o segredo estava na contratação dos me- tem com a questão do 1+1 ser igual a 3 ou das competências dos elementos que
lhores, no desenvolvimento dos mesmos, mais, mas que, usualmente, aquilo que vi- compõem o todo e dos processos/dinâ-
na inclusão destas pessoas na cultura e no sualizamos é 1+1 ser 0 ou 1, porque as pes- micas criados para potenciar as mais-va-
propósito da empresa. No final da jorna- soas anulam-se, ou simplesmente não sa- lias dos recursos humanos na concreti-
da, as organizações competem pelas me- bem trabalhar em equipa. Como conse- zação dos objectivos propostos.
lhores pessoas e não tanto pelas melho- guir explicar e fazer compreender que o A criação da inteligência colectiva não
res estratégias. objectivo colectivo permitirá mais facil- é apenas uma tarefa de quem lidera a equi-
Vários estudos sobre organizações mente que os objectivos individuais se- pa, é também um processo organizacio-
bem-sucedidas demonstram que a sua jam alcançados? nal. A capacidade de construir, alimentar,
maior força não está nos seus produtos, Tive a sorte de entrevistar o treinador coordenar, ajustar e disciplinar as dinâmi-
serviços ou modelos de negócio. Isso pode, da NBA George Karl – quem viu a NBA nos cas colectivas é um processo constante,
com maior ou menor dificuldade, ser de- anos 90 e a série da Netflix “Last Dance” sem grandes momentos de pausa ou des-
senvolvido e copiado. O que não se conse- irá recordar-se – e ele partilhava comigo: canso. O termo “inteligência colectiva”
gue reproduzir com facilidade são os diá- «Quando páras de comunicar, por exem- remete-nos para o conjunto das compe-
logos entre as pessoas, as relações entre as plo, é um problema! Nos meus treinos, to- tências dos elementos que compõem o
mesmas, os mecanismos de compromis- dos os primeiros 10 minutos eram para rea- todo e dos processos/dinâmicas criados
so, as dinâmicas colectivas, o modo como lizar uma pequena conversa a que chama- para potenciar as mais-valias de todos na
o feedback é dado e recebido, a preocupa- va de “ego management attitude adjust- concretização dos objectivos colectivos.

98 Human Resources Portugal Dezembro 2023


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