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Uma História Desperta

Onde tudo começou?


Essa é sempre a pergunta, não é? E especialmente quando você está falando com e sobre os
Despertos, não é uma pergunta que você possa responder com certeza. A verdade, supondo que
exista, continua se emaranhando em mitologias. Nós sabemos muito disso, no entanto:

Tudo começou com um estrondo.

De acordo com muitos mitos, um Som cósmico – uma frase, uma música, um raio – rompeu o
Vazio vazio, preenchendo-o com possibilidades. Um, ou Nada, tornou-se Tudo. Isso foi algum Big
Bang, um OM titânico, uma divindade se estilhaçando no infinito... e realmente, não são apenas
maneiras diferentes de olhar para a mesma coisa? Seja qual for a causa, o Vazio se rompeu e a
Criação se derramou.

Infinitos passaram. Estrelas brilharam. Bolas de pedra giratória esfriadas para se tornarem mundos.
Dizem que naqueles primeiros dias, mãos sagradas passavam sobre as águas e colocavam as coisas
no lugar. As guerras dos deuses ocorreram e sua carnificina moldou o universo. As divindades
lançaram seus servos em um Abismo, e essa Divindade se partiu ao meio – Luz e Trevas, as cascas
quebradas do que era e as esferas brilhantes do que é. Talvez fosse simplesmente um jogo
mitificado de forças naturais... ou talvez houvesse algo mais. A verdade, como tantas vezes
acontece, perdeu-se no tempo e no espaço.

A Era Desperta
Essas forças moldaram a Terra que conhecemos – uma joia da coroa do Céu, talvez, ou apenas uma
pedra giratória entre a multidão. Seja como for, esta sempre foi a nossa casa. Nos primeiros dias,
afirmam as lendas, os deuses atravessaram aquela casa, gigantes em nosso mundo. Eles o
moldaram, reivindicaram, escolheram seu povo e deram forma ao nosso mundo.

Algumas pessoas afirmam que os Puros, fragmentos vivos do Uno dividido, encarnaram-se em
carne humana; outros contos dizem que saímos da bestialidade para reivindicar este mundo ou que
nascemos como servos de alguma Grande Raça agora perdida no tempo. Há histórias que contam
como animais e humanos já foram uma família, um povo com muitas peles; outros mitos falam de
um único Deus que reivindicou um Jardim do qual caímos por desobediência a Ele. Dizem que nos
reunimos há muito tempo no Monte Meru, o centro do mundo, ou em torno de uma grande Torre
que tremeu e depois caiu em ruínas. Estas são as idades primordiais e edênicas, quando as origens
humanas surgem dos mitos. O que é certo é que tanto a magia quanto a humanidade começaram
neste vasto período de tempo.

Antes de sermos caçadores, nós humanos nos tornamos presas. Uma Grande Queda supostamente
nos derrubou do Éden e destruiu a harmonia celestial em nosso mundo. Monstros nos perseguiram
até nossas cavernas, abrindo caminho em nossas memórias mais profundas. Caídos de alguma graça
maior, nos tornamos brinquedos para demônios e infernais. Esta é a Era Predatória, quando
corremos pelas sombras como ratos assustados. Com o tempo, porém, fogo e pedra, magia e fé
expulsaram os monstros. Formamos tribos, credos, tecnologias, e eles nos separaram das feras.

Talvez reinos tenham surgido - impérios dos quais nos lembramos agora apenas como nomes
lendários como Atlantis, Mu, Hyperboria e Nod. Ou talvez apenas remexemos na terra por milênios,
agarrando-nos a ferramentas e saindo de nossas origens selvagens. Porém, houve cataclismos -
sabemos disso: incêndios, inundações, eras glaciais e estrelas cadentes. Esses reinos lendários (se é
que existiram) caíram em ruínas. Nesta Era do Cataclismo, a humanidade avançou, foi quebrada e
ressuscitou. Hubris, nosso orgulho fatal, pode ter sido o culpado por este Tempo Fragmentado. Se
isso for verdade, então esse mesmo orgulho nos trouxe de volta da ruína.

E a magia e a tecnologia lideraram o caminho.

A Era Lendária
Em uma longa Era Tribal, os remanescentes da humanidade começaram a lutar para ascender. Mais
uma vez, as tribos cresceram lentamente em vilas, povoados e cidades. Por tudo isso, os líderes
Despertos abriram o caminho, lutando contra monstros e compartilhando suas Artes. Metalurgia,
cerâmica, feitiçaria, linguagem, matemática e mitologia levaram a coisas maiores. Alguns magos,
porém, tornaram-se tiranos, escravizando seus rivais ou queimando assentamentos. No Alvorecer
dos Impérios, grandes cidades se tornaram centros de sabedoria, comércio e guerra. Índia, China,
Mesopotâmia e África viram os primeiros movimentos de nossas civilizações lembradas. Uma Era
Heroica surgiu deles - uma era lembrada em mitos e escrituras em que deuses, homens e monstros
lutaram neste mundo nascente.

A Era Clássica
Espadas e feitiços abriram caminho para a Era Clássica, quando foram lançadas as bases para nossa
era moderna: Israel. Tróia. Babilônia. Qin. Meroe. Os olmecas, persas, núbios, micênicos, arianos e
assim por diante. Vastos impérios forjaram civilizações maiores, trazendo comércio e guerra para
todos os lugares que tocavam. Extensas redes de viagens e conquistas cruzaram a África, Ásia e
Europa, trocando magias, bens, tecnologias e credos. Uma alquimia inebriante de conquistas gerou
seitas que existem até hoje. Escrituras foram escritas, textos estabelecidos. E embora as massas de
terra distantes que agora chamamos de Austrália e as Américas permaneçam isoladas dessa
interação por mais de dois mil anos, esses lugares começaram a ver suas próprias artes e culturas
crescerem.

A Taça e a Espátula

De acordo com a tradição hermética, podemos datar as fundações das Nove Tradições e da
Ordem Tecnocrática a uma reunião no antigo Egito. Dois governantes - Hatshepsut e Thothmes
III - supostamente reuniram uma grupo de sábios, clérigos, artesãos e videntes de todo o mundo
conhecido por volta de 1480 aC. Formando duas ordens desses indivíduos díspares - os
Castelões de Isis e o Escribas de Thot - os governantes unem brevemente as facções em guerra e
criam um terreno comum para futuras alianças.
Anos depois, essa reunião será chamada de mito, se for lembrada. Os herméticos, porém,
insistem que têm provas em seus arquivos... ou pelo menos, que tais provas existiam antes da
queda de Doissetep. Em qualquer caso, essas ordens, ou lojas, fornecem uma base para uma
maior compreensão da magia, fé e ciência. Deste ponto em diante, todas as três Artes crescerão,
avançarão e prosperarão... geralmente por meio de alianças e guerras entre si.
Por tudo isso, magos de todo o mundo se uniram em sociedades, ou então se dividiram em clãs
guerreiros. Tanatóicos, extáticos, akáshicos e magos da corte se enfrentaram ou se juntaram a
bruxas, xamãs, sábios, sacerdotes e videntes. Filósofos e artesãos cultivavam Artes e Ciências;
profetas lançaram palavras duras e milagres. As origens das seitas de magos modernas começaram
sua dança problemática umas com as outras, moldando rivalidades e alianças que continuam até
hoje. Magia, fé e ciência começaram a se distinguir umas das outras, levando a batalhas sobre a
fonte da verdade e da heresia. Em algumas ocasiões, esses rivais se encontraram respeitosamente;
em outras, transformaram cidades em areia e cinzas.

A linguagem escrita, originada nessa época, preservou nomes, eventos e impérios desse período:
Imhotep, Abraham, Suleiman, Huangdi e Lao Tsu, Djhowtey e Sesheta, Moses, Daedalus e muitos
mais. As linhas entre heróis, deuses, lendas e magos desta época permanecem embaçadas até hoje.
Grandes coisas aconteceram, algumas das quais nos lembramos, muitas das quais se perderam.
Naquela nebulosa história inicial, a verdade é, na melhor das hipóteses, discutível.

As Guerras do Himalaia
Um desses conflitos tem um significado especial: as Guerras do Himalaia. Por volta de 900 aC,
grupos de tanatoicos indianos e akáshicos asiáticos sofreram um profundo mal-entendido; esse mal-
entendido provocou uma guerra que durou séculos e deixou uma desconfiança permanente entre as
facções rivais. Como ambos os lados abraçaram a reencarnação, os magos mortos durante o conflito
continuaram renascendo para combatê-lo novamente. Nos anos posteriores, dir-se-á que esse
conflito foi intencional - um fogo pelo qual ambos os grupos precisaram passar para forjar suas
encarnações posteriores. Em ambos os casos, foi bastante miserável para todos os envolvidos. Os
Akashayana – originários de algum lugar no atual Tibete – moveram-se mais para o leste e oeste,
enquanto seus rivais cavaram mais no subcontinente indiano. Os piores elementos do conflito
místico oscilaram na Baixa Ásia e na Alta África por mais de 600 anos.

O Kitab al-Alacir

Enraizada nas descobertas desta época, uma variedade de observações gregas são finalmente
coletadas por estudiosos árabes no Kitab al-Alacir: “Livro do Éter”. Este texto paradoxal
abrange mitologia, quebra-cabeças, diálogos, filosofias e ruminações sobre verdades que
permanecem impossíveis de codificar. Ao invés de apresentar fatos como os mortais entendem
o termo, este venerável trabalho inspira o Despertar nas pessoas que conseguem entender suas
implicações escorregadias. Séculos depois de sua composição, o Kitab continua sendo um livro
essencial para – de todas as pessoas – os Cientistas Eteritas, que veem suas complexidades
metafísicas como o fundamento da compreensão.
Usando a analogia de Tróia como o cosmos e a Guerra de Tróia como uma metáfora para a
consciência humana, o Kitab postula que a compreensão envolve um conflito perpétuo entre o
que pode ser aceito e o que deve ser possível. Cada pessoa deve, portanto, tornar-se um “herói
de Tróia”, buscando a glória na luta pela verdade última. Porque apenas as almas mais corajosas
e dedicadas possuem a determinação de se tornar tais heróis, a maioria das pessoas permanecerá
meros soldados dentro ou fora dos muros desta Tróia metafísica.
Nesse conflito (e seus comentários labirínticos ao longo do Katib), cada leitor deve encontrar
suas próprias respostas. O cerne da obra, porém, parece ser este: tudo é REAL, mas nem tudo é
VERDADE. Quando pegamos o que é real e o tornamos verdade, criamos milagres da Arte e da
Ciência; quando criamos verdades para negar que algo seja real, criamos um desastre.
A guerra marcou todo esse período; Os celtas espalharam-se pela Europa; Gregos, persas, assírios,
núbios, chineses, coreanos, arianos, egípcios, hebreus e outras culturas construíram suas fundações
com o sangue e a ossos de seus inimigos. Grandes descobertas e artes também definiram esse
período, mas o mundo inteiro parecia estar em guerra. A grandeza de um grupo geralmente vinha de
esmagar outros grupos. Ao que parecia, há espaço apenas para uma verdade de cada vez.

Moldando A Realidade À Sua Vontade


Nesse período, os magos descobriram um estranho princípio: a realidade não é constante; seus
parâmetros mudam e mudam dependendo das crenças dominantes. Se você governa uma terra e
governa seu povo, então começa a governar sua realidade também. Certas formas de magia ou
tecnologia prosperaram em alguns lugares e falharam em outros. Essa descoberta levou os magos a
lutar por território – para iniciar um imperialismo metafísico que moldou o mundo que conhecemos
hoje.

Alguns magos se tornaram conquistadores ou monarcas; a maioria, no entanto, colocava seu poder
atrás do trono ou falava em nome de deuses que pareciam descontentes com este grupo ou aquele
império. Muitos deles simplesmente demarcaram seus próprios territórios e os defenderam de
magos rivais. A palavra “mago” surgiu nessa época, definindo uma ordem sacerdotal dedicada a
certos deuses persas... na verdade, um tipo seleto de mago. Ainda assim, essa conotação de
dedicação sagrada e mística acabará por definir as pessoas que dobram a Realidade com força de
vontade.

O artesanato – a arte da tecnologia iluminada – atingiu novos patamares na China e na Grécia.


Grandes filósofos, cientistas e artesãos redefiniram a possibilidade. Lado a lado com místicos, esses
homens e mulheres forjaram as maiores civilizações desde a mítica Era Hiperboriana. Máquinas
milagrosas e feitos titânicos de arquitetura dominaram o mundo clássico. Em contraste com as artes
sangrentas dos profetas, videntes e bruxas, essas conquistas faziam com que todas as outras artes
parecessem positivamente... bárbaras. Essa tensão – Mestres da Ordem civilizados versus Hordas
bárbaras do Caos – tornou-se um elemento definidor da cultura humana.

À sombra dessas conquistas, outras seitas minaram a civilização. Certos magos e cultos se
dedicaram à corrupção e ao orgulho, enquanto outros enlouqueceram e destruíram tudo o que
tocaram. Os nomes Desauridos e Nefandi ainda estavam distantes no futuro; seus efeitos, no
entanto, podem ser sentidos ao longo das costuras da Era Lendária e da Era Clássica.

Outras regiões também refinaram suas Artes Iluminadas. Em todos os continentes, as culturas
humanas prosperaram, cada uma com seus próprios tipos de místicos e artesãos. Embora China,
Pérsia, Grécia e logo Roma tenham definido a história desta era, você poderia encontrar magos em
qualquer lugar do mundo: metamorfos, curandeiros, bruxas, sacerdotes, filósofos, curandeiros,
artesãos e videntes. Certos magos trabalharam para melhorar o bem comum, mas outros
convocaram monstros e governaram através do medo. A humanidade se espalhou; a Película
engrossou entre os reinos humano e espiritual. A crença e a cultura moldaram a humanidade... e a
humanidade, por sua vez, remodelou nosso mundo. Novamente.

Surgem Facções de Magos Modernos


Vários grupos tomaram forma ao longo da Era Clássica.
Embora muitos deles não fossem conhecidos pelos seguintes nomes por algum tempo, eles acabarão
por definir as batalhas modernas pela realidade:

As Ordens Herméticas que surgiram no Egito, Grécia, Núbia e Roma.

Os Dalou-laoshi, artesãos-tecnólogos sagrados Chineses.

Os Pitagorigos, cujas aplicações de magia e tecnologia geraram seitas místicas e


tecnocráticas.

O Colegio Praecepti, suprema academia de Artesanato Iluminado.

A Akashayana, uma Irmandade Akáshica cujo Caminho místico envolvia harmonia e


violência.

Os Chakravanti, místicos Tanatoicos que se uniram para proteção dos guerreiros Akáshicos.

Os Ahl-i-Batin, que emergiu das Guerras do Himalaia como uma força de equilíbrio e
unidade.

Os Eleusinianos, cujos mistérios de êxtase, morte e renascimento influenciarão a iniciação e


a prática de milhares de seitas místicas e sociedades secretas, Despertas e outras.

Os Grandes Templos da Mãe, interligados em todo o mundo clássico sob muitos nomes.

Os Mitraicos, sacerdotes-guerreiros de um deus heróico.

Os Druidas, clérigos da natureza cujas confederações soltas guiaram as terras celtas.

Os Ngo-Ami, magos-artesãos núbios da África Superior.

Os Uzoma, oradores espirituais da África do Norte e Central, cujos caminhos são dispersos,
mas não esquecidos.

Os Wu Lung, feiticeiros da corte da China Imperial.

As Vozes Messiânicas, que surgiram na sequência do ministério de Jesus.


Os Taftáni, “tecelões” persas e árabes das artes sagradas, inspirados por Salomão, o Sábio.

Os sábios budistas que transformaram as crenças religiosas e seculares da Ásia.

... e os Profetas Abraâmicos, cujas palavras inflamadas inspiraram o Judaísmo, o


Cristianismo e o Islã.
Na vibrante interseção da Baixa Ásia, Alta África e Baixa Europa, esses grupos e outros criam
uma Era de Ouro de Impérios, Magia, Tecnologia e Fé.
Durou séculos... mas nada dura para sempre.

A Era da Alta Mítica


As rachaduras apareceram quando “bárbaros” oprimidos pelos impérios começaram a corroer os
impérios, infiltrando-se neles e gradualmente os destruindo. O nascimento do Cristo anunciou a
queda dos deuses mais antigos. As fés se chocaram à medida que as culturas tribais se
transformaram em hordas. A arrogância do Egito, Grécia, Cartago, Israel, Roma, Pérsia e outros
impérios levaram à sua expansão, colapso e entrega em outras mãos. Vândalos, visigodos e hunos
transformaram cidades em ruínas. O império da China oscilou entre guerras internas e invasões
externas, eventualmente se dividindo em três reinos em guerra. Por volta de 600 dC, os impérios
clássicos praticamente desapareceram ... e com eles, seu domínio sobre a realidade de massa. Nesta
onda e refluxo de impérios e seitas, grandes atos de magia, fé e ciência dominaram a era.

Dias posteriores chamarão a era após o colapso de Roma de Idade das Trevas, mas essa ideia
realmente não é verdadeira. Embora a maior parte da cultura greco-romana tenha caído entre as
rachaduras da história da Europa, a China permaneceu maltratada e dividida, mas ainda forte. A
Baixa Ásia desfrutou da Idade de Ouro da Índia. A Coreia e o Tibete emergiram como potências
vibrantes, com expansões semelhantes da cultura maia na América Inferior e de Axum na África
Superior. Uma Era Dourada de Magia Pagã dominou a Europa enquanto magos celtas, pictos,
germânicos, eslavos, escandinavos e greco-romanos exerciam suas artes. Os místicos cristãos
começaram a forjar um império transcultural em toda a Europa, e os mouros berberes africanos
conquistaram a Península Ibérica. Enquanto isso, os exércitos do Profeta espalharam o recém-
nascido credo do Islã pela África, Oriente Médio, partes da Ásia e segmentos da Europa. Os Ngo-
Ami e seu povo atravessaram a África para escapar dessa expansão muçulmana, fundando cidades e
seitas ao longo do caminho. Essa mistura de cultura e liberdade alimentou a Era de Ouro da Magia.

Sem a influência centralizada e as tecnologias de Roma e auxiliado pelo paradigma pagão, a maior
parte da Europa tornou-se “território aberto” para qualquer mago forte o suficiente para tomá-lo. Os
três reinos em guerra forneceram liberdade semelhante em toda a China, enquanto as culturas
indiana, norte-africana e árabe-persa (também castigadas por invasões) abraçaram a alta magia
como parte de suas realidades. A maior parte do mundo aceitou a magia como perfeitamente real,
então magos cujas práticas se encaixam nas culturas regionais (como quase todas elas fazem)
desfrutavam de grande poder. As extensas trocas culturais da Era Clássica combinadas com as
liberdades místicas desencadeadas pelas conquistas bárbaras refinaram as artes místicas a níveis
sem precedentes neste período. Com a nova Arte da alquimia – originada pelos magos gregos e
árabes – essas Artes permitiram uma gama gloriosa de buscas místicas. Quando os bruxos
modernos falam da “Era Mítica”, geralmente se referem a essa era.
Sangue, Paixão e os Elementos
Ao ouvir os magos da Tradição falarem sobre isso, você pensaria que a Idade Média européia foi
uma época de admiração e magnificência desenfreadas. Na verdade, a Era era desagradável, brutal e
cheia de dor. Os feudos oscilavam entre a guerra e a fome, com a crescente influência de uma igreja
cada vez mais corrupta oferecendo consolo na tempestade. Monstros preenchiam as horas noturnas
e a labuta enchia os dias. Florestas que haviam sido cortadas para acomodar estradas e cidades
romanas cresceram novamente, densas e perigosas. Estradas desmoronaram e ruínas caíram. Vários
reis e senhores da guerra tentaram preservar as leis e o governo romano, e os artesãos retiveram as
tecnologias da perdida Era Clássica. Os monges cristãos tornaram-se os guardiões da lei, da ciência
e da literatura, sendo suas bibliotecas os poucos lugares entre Córdoba e Bizâncio onde tal
conhecimento foi preservado. Os orgulhosos pagãos se aprofundaram nos velhos costumes do
sangue, da paixão e dos elementos, preenchendo a palavra “bruxa” com conotações de inveja,
horror e admiração.

Havia uma espécie de liberdade nesta época... a liberdade de ser assassinado, sugado até secar ou
arrastado em uma carroça de peste. Magos pagãos e suas contrapartes cristãs travaram batalhas
misteriosas por todo o continente; Os muçulmanos pressionaram os limites da cristandade,
desfrutando de uma prosperidade que poucos europeus poderiam imaginar. Houve lampejos de
esperança nesta era desolada, lugares onde as guerras, pragas e invasões nunca chegaram. E foi um
período vigoroso, cheio de questionamentos, experimentos e muita, muita magia. Ainda assim, foi
também uma era sombria para o europeu comum. Muitas pessoas abraçaram as artes místicas,
mesmo que apenas como alívio da pobreza esmagadora, fome, trabalho de campo e guerra.

A Teia da Fé
Para o Islã, esta foi uma Era de Ouro na qual ciência, fé e magia tornaram-se quase indistinguíveis.
O Mokteshaf Al-Hour – “Coletores de Luz” – sintetizou essa fusão, combinando o credo de Alá
com a sabedoria antiga para forjar novas tecnologias místicas.

Os Taftâni – até então um agrupamento solto de nômades – forjaram um único grupo sob esse nome
em 650; o Ahl-i-Batin criou uma Teia de Fé em 724; e em 756, uma aliança desses magos
finalmente encerrou uma era infernal do Rei Demônio que dominou o Oriente Médio por seis
séculos. Estudiosos muçulmanos e judeus coletaram os restos dispersos das realizações clássicas e
depois os expandiram. O cabalismo, uma elaborada tradição do misticismo judaico, surgiu dessa
confluência de ideias e prosperidade.

O Islã se expandiu por toda a Europa mediterrânea e a África superior, fundindo várias tradições
pagãs e clássicas da Núbia, Egito, Pérsia e Arábia sob a bandeira do Profeta. Reinos prosperaram no
interior africano, onde os Ngo-Ami perseguiram uma disciplina africana de Rituais de Alta Magia
que misturava elementos egípcios, gregos, muçulmanos, zoroastrianos e pagãos africanos. Outros
grupos também apareceram, mas os Ngo-Ami, Uzoma, Batini, Taftâni e Mokteshafi, juntamente
com os desalinhados sohanci (“magos”), dominaram a região durante a chamada “idade média”.

Na Europa, os berberes e árabes do norte da África governavam a maior parte da Península Ibérica
– a atual Espanha e Portugal – então conhecida como Al-Andalus, um pináculo da civilização
europeia medieval. Dividido, como a maior parte da Europa, em reinos muitas vezes rebeldes, Al-
Andalus tornou-se um centro de erudição, arte e magia, onde muitos dos segredos “perdidos” de
Roma, Grécia e Egito continuaram a florescer. Embora as gerações posteriores considerem esta era
como “a conquista moura”, Al-Andalus durou mais de 700 anos e alimentou as culturas
muçulmana, judaica e cristã em relativa paz e prosperidade... civilizações e inaugurar uma era de
conquista, escravidão e guerra em cinco continentes.

Ideais de Avalon

Mesmo entre os Despertos, detalhes autênticos sobre a Era Arturiana acabam obscurecidos pelo
tempo e pelo romantismo; impressões posteriores de Camelot, por exemplo, envolvem conceitos
e tecnologias que não existirão na história comum por mais de 500 anos. Ainda assim, o ideal de
Camelot e seus heróis brilha tanto para os místicos quanto para os tecnocratas.

Originalmente fundado por bretões romanizados, o reino que mais tarde será conhecido como
Camelot começa por volta de 600 EC. Misturando práticas místicas celtas e pictas com as artes
rituais de Roma, os fundadores de Camelot criam uma mistura sofisticada de artesanato
clássico, misticismo cristão e artes elementares pagãs. Forjando armaduras e armas avançadas,
esses visionários também fazem pactos com os habitantes feéricos da Grã-Bretanha e os
lobisomens conhecidos como Fianna. Ao apresentar uma fortaleza de tolerância e proteção
mútua, o reino prospera. A Dinastia Pendragon compartilha um casamento sagrado com o Clã
de Morrigan, uma linhagem de bruxas-sacerdotisas ligada inatamente à terra, mas a dinastia
mantém as Artes tecnológicas de Roma. Através da comunhão com as fadas, espíritos e deuses,
Camelot surge para atrair o melhor de todos os lados. No reinado do pai de Arthur, Uther, o
mago Merlin (também chamado de Merlinius) se oferece para ajudar a dinastia; quando Arthur
atinge a maioridade, os dois apresentam a face masculina do reino no auge: magia e majestade
trabalhando lado a lado. E por um tempo, eles funcionam bem.

É a vigorosa Gwenhwyfar (Guinevere) cuja influência destrói Camelot? Ou o traidor


cristianizado Lancelot? Ou a bruxa pagã Morganna? Existe um pacto mágico quebrado entre o
rei e a terra, ou eles caem em desgraça com os deuses por misturar religiões? Cada lenda conta
uma história diferente, e mais de uma dessas histórias pode ser verdadeira... ou até mesmo
nenhuma delas. Seja qual for o motivo, Camelot cai em uma batalha massiva que mata quase
todos os envolvidos. As forças inimigas queimam o reino e o castelo acaba caindo em ruínas. O
moribundo Arthur é levado para Avalon, onde supostamente aguarda a hora de maior
necessidade da Inglaterra. (Considerando que ele não surgiu durante a Segunda Guerra Mundial
ou a era Thatcher, esta última parte pode ser uma ilusão…)

Então, quem era Artur? Em última análise, ele é um símbolo. Embora os Verbena, Herméticos,
Coristas, Templários, Gabrielitas e até mesmo a Iteração X eventualmente o chamem de um
deles, o verdadeiro Arthur é um mito maior do que qualquer pessoa ou facção real. Nos ideais
de Camelot e Avalon, esse símbolo fala um evangelho eloqüente com o qual quase todos podem
se relacionar. Honra, coragem, sabedoria, liderança – poucos magos, mesmo entre os Nefandi,
não gostariam de ver essas virtudes no espelho. E assim, o mito de Avalon, além de sua
realidade histórica, tornou-se um paradigma vibrante para magos de todos os lugares.
Magos e Bruxas, Clérigos e Cavaleiros
Após séculos de escaramuças entre facções rivais, a Ordem de Hermes se reuniu na noite de inverno
de 767. Lady Trianoma, uma vidente gnóstica, previu o colapso iminente do caminho hermético,
então ela reuniu aliados para estabelecer uma aliança mística. Divididos em 12 Casas, esses magos
buscavam uma forma sinérgica de Ritual de Alta Mágika. A Ordem desfrutou talvez de seu maior
triunfo logo depois, derrotando um necromante turco e, dele, tomando a enorme fortaleza chamada
Doissetep.
Na mesma época, uma ordem de magos guerreiros cristãos jurou fidelidade ao imperador Carlos
Magno, ecoando uma lenda mais antiga do rei Arthur e seus cavaleiros de Camelot. Esses
cavaleiros palatinos basearam-se no conhecimento clássico, no cristianismo romanizado e na forma
nascente do que em breve será chamado de “cavalheirismo”. Reconhecendo uma ameaça potencial,
os místicos pagãos se uniram em confederações soltas, às vezes chamadas de Falantes de Espíritos,
Valdaermen e devotos da Antiga Fé.

E havia outros grupos também, cujas Artes e Ofícios logo destruiriam este mundo...

O Dragão Imperador
Na Ásia, uma China dividida passou a maior parte desse período em caos, dilacerada por guerras,
intrigas, dissidências e invasões periódicas de mongóis e turcos. Os Altos Artesãos de vários clãs
mantiveram-se ocupados inventando armas, fortificações e outras tecnologias de guerra. Como a
própria China, os Wu Lung se dividiram em várias facções – algumas aliadas aos akáshicos, outras
lutando contra eles. Os Akashayana, por sua vez, refinaram artes devastadoras de autodefesa, mas
começaram a se retirar para uma vida monástica mais pacífica. Apesar dos cismas internos entre
várias facções chinesas, tibetanas e indianas, os antigos “punhos guerreiros” lutaram pela unidade
sob o Caminho Akáshico... e, na maioria das vezes, eles a encontraram.

Auxiliado por um poderoso vidente guerreiro conhecido como Curly Beard, um cavaleiro de dragão
chamado Li Tsing e a concubina Akashayana guerreira Chang, um mago heróico chamado Li
Shihmin reuniu a China por volta de 618, tornando-se o Imperador Dragão T'ang Daizon. em 627.
Em poucos anos, ele esmagou os mongóis, seu filho conquistou a Coréia e esta Dinastia T'ang
absorveu os dois rivais em um crescente Império Chinês. O retorno da China à glória reenergizou
Wu Lung e Dalou-laoshi, nessa época conhecidos como os Dragões dos Cinco Metais (ou
Elementais). Os Akashayana, infelizmente, não tiveram tanta sorte. Carregados com gerações de
desagrado imperial (exacerbado pelo Wu Lung), eles sofreram ataques e perseguições ao longo da
época.

Por quase 300 anos, a China dominou a região como uma única força unificada. Como antes,
porém, intrigas, invasões e traições quebraram o Império. A essa altura, no entanto, o Wu Lung, os
Dragões de Metal e a Irmandade Akáshica haviam alcançado as formas que determinariam seus
futuros.

As futuras Américas viram várias seitas surgirem e prosperarem. Infelizmente, a tempestade que se
aproxima do leste distante apagará quase todos os vestígios de suas realizações.
A Cruzada dos Feiticeiros
As revoluções começam com homens e mulheres de visão. Wolfgang von Reismann foi um desses
homens. Irritado por magos guerreiros e tiranos feiticeiros, ele convocou a Reunião da Praça em
Frankfort durante o verão de 997. Esta assembléia de Altos Artesãos, comerciantes ricos, artesãos
inquietos, clérigos zelosos e guerreiros sagrados formaram uma aliança de Cavaleiros Gabrielitas,
Artesãos Iluminados, e a Cabala do Pensamento Puro... uma aliança que logo destruiria a Alta Idade
Mítica.

Enquanto isso, a Ordem Hermética se despedaçou. As Casas Tremere e Flambeau exterminaram a


druídica Casa Diedne entre 1003 e 1012. O Primus de Tremere secretamente se tornou um vampiro
e transformou sua Casa em um clã de monstruosidades mortas-vivas. Enquanto o Cristianismo
ganhava poder, os místicos pagãos abriram os Caminhos do Wyck e reuniram feras mágicas nos
Outros Mundos. As Cruzadas colocaram magos e mortais cristãos e muçulmanos uns contra os
outros por mais de 200 anos, levando a novas seitas que incluíam os poderosos Cavaleiros
Templários e a Casa Hermética Golo... os primeiros sinais dos futuros Filhos do Éter.

As alianças entre as seitas africanas e européias se romperam, e a Ordem Hermética continuou a


fazer o mesmo. A deserta Casa Golo ajudou a fundar a Guilda dos Filósofos Naturais, e a vampírica
Casa Tremere incitou uma guerra total em 1201. Grupos extáticos e tanatoicos formaram o Ananda
Diksham para proteger seus caminhos dos puristas muçulmanos quando o Islã começou a abrir
caminho para a Índia. Um visionário inglês, Stephen Trevanus, defendeu o pobre povo em nome de
sua majestade o rei Ricardo Coração de Leão; mitificado como “Robin Hood”, Trevanus
transformou sua recompensa do rei na Liga Hanseática: uma aliança de comerciantes, artesãos e
artesãos que ergueu os pilares de uma Ordem muito mais poderosa.

E então, os canhões rugiram.

1210 começou a queda da Alta Idade Mítica. A Convenção dos Artesões lançou as bases para uma
Ordem da Razão pendente e então, com novos canhões forjados e antigas traições, destruiu o Pacto
Hermético de Mistridge naquele outono. Invasores – trazendo seus próprios xamãs de guerra –
invadiram a Europa, a Ásia e o Oriente Médio. Duas décadas depois, a Igreja Católica declarou
oficialmente uma Inquisição para expurgar hereges, bruxas, judeus, muçulmanos e feiticeiros da
Europa. Uma Cisma da Misericórdia destruiu as Vozes Messiânicas, enquanto artesãos, alquimistas,
guildas mercantes e artesãos lutaram, deixaram de lado suas diferenças e, em 1250, formaram a
Aliança da Guilda Dourada. A Guerra da Ascensão havia começado.

Na Ásia, o imperador mongol Genghis Khan absorveu a China em seu império por volta de 1280,
adotando armamento tecnológico e governança. A Guerra Kamikaze entre a China e o Japão trouxe
novos aliados à Irmandade Akáshica: místicos xintoístas cujos caminhos xamânicos se misturavam
bem com os elementos taoístas do Caminho. Mesmo aqui, o confronto entre Ciência Iluminada e
Magia Desperta virou a maré... ou, neste caso, os ventos e o clima. Por volta de 1300, a escrita
estava claramente contra a parede.

O século seguinte viu essa tempestade se tornar uma onda. Seitas se uniram e se separaram. Os
Templários foram traídos e aparentemente destruídos por um rei francês chamado Phillip “o Belo”.
Um vidente Chakravanti convocou místicos de toda a Índia, Europa, Ásia e Oriente Médio.
Muçulmanos e artesãos europeus cortaram laços, embora o imperador Mansu Musa, do Império
Africano do Mali, tenha enviado emissários à Europa para que eles pudessem se juntar...

A Convenção da Torre Branca


Entre 1º e 25 de março de 1325, teve início a Ordem da Razão. Reunidos em uma torre que
pertenceu a um Mestre Hermético assassinado, delegados da Europa, China, Oriente Médio, Índia e
Mali forjaram a aliança que acabaria se tornando a União Tecnocrática. Sob um conselho do
Circulo Interno, oito convenções se formam: os Gabrielitas, a Alta Guilda, o Circulo Cosiano, os
Oradores do Vazio, os Mestres Celestiais, os Ofícios Maçônicos, os Artífices e os Solificati. Isso,
por sua vez, deu início a mais de um século de guerra, aberta e secreta. Os Solificati deixaram a
Ordem em 1335, para serem temporariamente destruídos e logo substituídos por executores
sombrios chamados de Ksirafai. Não muito tempo depois, o Expurgo do Fantasma Gritador colocou
os Wu Lung e Dalou-laoshi contra os Akashicos e seus aliados xamânicos; novas Tecnologias
Iluminadas conduziram a Irmandade a retiros remotos nas montanhas por toda a Mongólia, Tibete e
Japão. Os punhos em guerra sofreram pesadas baixas e perderam a maior parte da influência que já
tiveram. Enquanto isso, na África Central, a Guerra da Bruxa do Pó devastou grandes porções da
região; o Ngo-Ami, agora em declínio, reformou-se sob o nome de Ngoma e juntou-se a uma nova
seita, o Madzimbabwe, para derrotar os saqueadores chamados de Bruxos-do-Pó. Um século e meio
de pragas, expurgos, caça às bruxas, guerras entre lojas, assassinatos, intrigas e guerras totais
começaram a Era da Cruzada dos Feiticeiros.

Enquanto as aeronaves subiam aos céus, o inferno descia à Terra. Mais pragas, mais caça às bruxas,
mais e maiores guerras irromperam na Europa, Ásia e África. O Ano da Grande Doença quebrou a
aliança Ngoma/Madzimbábue em 1420. A Guilda dos Lobos Gabrielitas devastou assentamentos
germânicos romani e pagãos. Alquimistas, maçons e herméticos travaram sangrentas guerras de
lojas nas cidades-estado do norte da Itália, e Appa Bloodax fez pactos com demônios e criou sua
própria horda infernal... uma horda logo comandada por seu filho, Tezghul, o Insano. O General
Wyndgarde da Verdadeira Cruz iniciou um expurgo selvagem nas Ilhas Britânicas... um expurgo
interrompido por Nightshade, o único sobrevivente de um de seus massacres e um dos fundadores
da Tradição Verbena.

Essas Nove Tradições tiveram um começo lento, mas brilhante, nessa época, quando o Extático
Sh'zar do Oriente Médio, o Vidente, começou a coletar aliados místicos. Em 1440, Nightshade,
Sh'zar, o cantor messiânico Valoran e o mestre hermético Baldric La Salle se encontraram nas
ruínas de Mistridge para discutir uma nova aliança mística para combater a Ordem da Razão. Na
África, as visões de um fantasma branco titânico anunciaram anos de guerra e peste, enquanto na
Ásia recomeçaram as lutas entre Akashics e Hindus do Caminho da Mão Esquerda. Uma década de
caça varreu a Grã-Bretanha, estabelecendo os Verbenae como uma força aterrorizante. E em 1448,
os exércitos dedaleanos da Ordem da Razão sitiaram Doissetep, cuja manifestação terrena foi
demolida quando os magos mudaram a fortaleza para um distante Reino do Outro Mundo. No ano
seguinte, dragões e aeronaves se enfrentaram quando uma Segunda Convocação Mistridge foi
atacada por tropas Daedaleanas. Os vampiros se uniram e a horda invasora de Tezghuls. Os
Dedaleanos fizeram um Juramento de Fogo para exterminar a magia em todo o mundo.
Mas os místicos estavam fartos.

Demorou. Foi preciso diplomacia. Foram provações, visões, batalhas e jornadas pelo mundo
conhecido e pelos Caminhos de Wyck. Custou a participação dos Discrepantes: grupos místicos,
como os Ngoma e os Taftâni, que se recusaram a seguir os planos do Conselho. Mas entre 1457 e
1466, nasceu o Conselho das Nove Tradições Místicas: Ahl-i-Batin, Irmandade Akáshica,
Chakravanti, Choeur Céleste, Oradores dos Sonhos, Ordem de Hermes, Sahajiya, Solificati e
Verbena e permaneceram unidos... apenas por um curto período de tempo.

O Conselho Ascende... E Cai


Tudo começou tão bem...

A Marcha dos Nove viu uma Primeira Cabala de nove representantes escolhidos a dedo – um de
cada Tradição – partindo do reino natal do Conselho, o Horizonte, em uma missão de alianças e
guerra. Durante três anos, eles fizeram amigos e aniquilaram inimigos. O seu exemplo guiou outros
grupos tanto das Tradições como da Ordem. Mas na primavera de 1470, o representante Solificati –
Heylel Teomim – levou a Primeira Cabala a uma armadilha dos Dedaleanos. Depois de uma batalha
massiva, a Cabala foi destruída. A maioria dos membros foi morta; o resto foi capturado; o vidente
Akrites escapou e liderou uma missão de resgate; e Heylel, então chamado de Thoabath
(“Abominação”), o Grande Traidor, foi levado para o Horizonte, levado a julgamento, condenado a
Gilgul e destruído. No decorrer do julgamento, o Solificati Primus foi assassinado e esse grupo se
dispersou pela segunda vez.

Após esta derrota, as Tradições restantes se isolaram no Horizonte. Tezghul invadiu a Europa e a
Ásia, mas foi finalmente derrotado pela Ordem da Razão na Batalha de Harz. A triunfante Ordem
da Razão atacou o Horizonte na Guerra da Concórdia que durou todo o 1475. Por mais devastador
que esse ataque tenha sido, no entanto, o Conselho derrotou o cerco de Dedaleano. Pouco depois, o
assassinato de um Mestre Gabrielita desencadeou um esforço de retaliação que culminou com o
infame Tempo da Queimada: um período de perseguição quase constante em que magos, inocentes
e qualquer outro infeliz o suficiente para estar perto deles foi colocado em uma morte dolorosa e
hedionda. E assim, as Nove Tradições foram para a clandestinidade... e por cerca de 300 anos, elas
permaneceram lá, reconstruindo sua força enquanto a Ordem da Razão consolidava a realidade em
todo o mundo.

Uma Era de Conquista


Esse mesmo período trouxe uma espécie de Apocalipse para o mundo em geral. Na década de 1350,
uma confederação de bandidos saqueadores, os Turbantes Vermelhos, começou a minar a China
mongol. Em 1356, um ex-monge (que se diz ter sido um Mestre Akáshico) chamado Chu Yung-
Chung assumiu o comando dos Turbantes. Formando uma força militar disciplinada com poder
místico substancial, os Turbantes Vermelhos se espalharam por toda a região em uma rede de
sociedades secretas, geralmente mágicas. Conquistando as pessoas comuns por meio de seus modos
virtuosos, Chu Yung-Chung expandiu a influência dos turbantes na Coréia. Após angustiantes anos
de guerra, Chu Yung-Chang declarou-se Imperador Hung-Wu e, em 1368, iniciou a Dinastia Ming.
A China Ming tornou-se um viveiro de sociedades secretas - algumas instigadas por facções entre
os Akashayana, Wu Lung e os Dragões de Metal, outras independentes de todas elas. O
anteriormente benevolente Hung-Wu se transformou em um tirano paranóico. À medida que o
imperador expandia a influência chinesa para novas regiões, a China enriquecia em riqueza e
conhecimento, mesmo sendo abalada por revoltas e invasões. Os sucessores de Hung-Wu perderam
o controle do crescente número de sociedades secretas e, quando os exploradores europeus (muitos
deles Dedaleanos) espalharam sua influência na China durante os anos 1500, a Dinastia Ming
tremia em direção ao colapso.

No que logo seria chamado de América Central, o Império Asteca trouxe formas brutais de
esclarecimento para a parte superior do continente. Embora aquele Império apresentasse algumas
das realizações culturais mais avançadas do mundo mortal, seus deuses possuíam uma sede
implacável de sangue. Todos os impérios são brutais, mas os astecas refinaram uma forma horrível
de sacrifício religioso em massa... praticado principalmente em prisioneiros levados de outras
culturas mais fracas. Em algumas décadas, esse dever sagrado aniquilaria o Império Asteca.

Em meados de 1400, um par de monarcas-guerreiros ibéricos – o rei Fernando de Aragão e a rainha


Isabel de Castela – consolidaram o poder, obteveram ajuda da Igreja Católica e da Ordem da Razão,
derrubam os restantes reis muçulmanos de Al-Andalus e uniram uma nova nação: a Espanha.
Cheios de riqueza, poder e arrogância, os monarcas expurgaram judeus, muçulmanos, não católicos
e místicos rivais da Espanha. Isabella – em 1490 um dos membros mais poderosos da Cabala do
Pensamento Puro – instalou seu “confessor”, Tomás de Torquemada, como o flagelo pessoal do
Trono. A Ordem da Razão, cavalgando uma combinação de vitórias e principalmente livre da
interferência das Nove Tradições, iniciou um programa de exploração, realização e conquista da
Espanha e Portugal. Este programa, por sua vez, iniciou três das atrocidades mais sangrentas da
história da humanidade: a Conquista das Américas, a Inquisição Espanhola e o Comércio do
Triângulo. Com a rivalidade “útil” do vizinho Portugal, a Espanha expandiu a Guerra da Ascensão
para a África e as futuras Américas.

Canhões, Correntes e Capelas


Os séculos seguintes mostram uma soma fácil. Em todo o mundo, no entanto, foi uma era de
domínio tecnocrata. O Renascimento europeu, que começou no final dos anos 1300, levou todos os
vestígios da antiga era pagã para o deserto e as chamas. A ciência em todas as formas floresceu
desde os confins da Ásia até as costas da América. Essa, entretanto, não era a ciência secular dos
últimos anos, mas uma mistura furiosa de indagação e piedade na qual um cientista poderia ser
louvado de um homem a Deus um dia e enfiado em um manto de herege no dia seguinte. A Ordem
da Razão, privada de seus dois maiores inimigos, passou a devorar seus próprios filhos.

A Alta Guilda, enriquecida além dos sonhos mais loucos de uma era anterior, começou sua
transformação no Sindicato corrupto que se tornaria. Escravidão, conquista, ópio e ouro tornaram-se
fundamentos de seu poder... e de sua condenação final. Na era emergente de vastas nações, o ouro
superou todas as fronteiras e financiou todos os empreendimentos. Os Mestres Celestiais, os
Gabrielitas e os Exploradores que dominaram a Convenção dos Oradores do Vazio contaram com o
favor da Alta Guilda, então eles retribuíram despejando ouro na crescente rede de empresas
comerciais internacionais da Guilda. Os artesãos, que falavam pelo povo comum, foram
marginalizados “em nome do progresso”. Ameaças silenciosas, facas silenciosas e execuções
grotescas tornaram-se prática padrão dentro da Ordem da Razão. Máquinas que eram consideradas
crimes contra a realidade logo se tornaram ferramentas comuns de reis mortais. Em todo o mundo,
as culturas sucumbiram às armas, correntes e traições do domínio europeu.

Por um tempo, um rival tecnocrata expandiu sua influência por todo o mundo muçulmano. O
Mübarek Maharet Meclisi (ou Tribunal das Ciências Sagradas) consolidou elementos do Mokteshaf
Al-Hour e disciplinas mais recentes dos turcos otomanos. Batendo contra as fronteiras da Europa
cristã e da Pérsia muçulmana, os vigorosos turcos criaram tecnologias que até os dedaleanos
invejavam. Assim como a Europa conduziu um estado de guerra perpétuo entre seus vários
impérios, o Islã seguiu a divisão dos sunitas de tendência secular e dos xiitas religiosamente
ortodoxos em vários impérios: os otomanos, os iranianos (persas), os songhai e os mogóis, que se
expandiram para a Índia e a Ásia durante os anos 1500.

Durante séculos, as tecnocracias rivais trocaram rajadas de canhão, pragas, inovações de estratégia e
alianças ocasionais de comércio e tecnologias. Apenas as divisões da ortodoxia religiosa impediram
que esses grupos dominassem totalmente o globo... um fator que foi expurgado pela União
Tecnocrática alguns séculos depois.

A Ordem do “Novo Mundo”


Nas Américas, os invasores europeus demoliram as culturas asteca, maia e inca, queimando quase
tudo que pudesse queimar. Enviando cativos africanos para trabalhar em suas “possessões” sul-
americanas, Espanha e Portugal inspiraram uma raça semelhante das culturas da Europa Superior.
Dentro de décadas, Inglaterra, França, Holanda e os estados germânicos iniciariam seus próprios
programas coloniais na América do Norte. Uma combinação de doença, tecnologia e divisão
estratégica de inimigos ancestrais rasgou as culturas americanas, enfraquecendo ou destruindo
tribos e nações que evoluíram por milhares de anos. Isoladas das trocas interculturais entre Europa,
África e Ásia, as civilizações da Oceana e das Américas lutaram, mas acabaram entrando em
colapso diante da expansão européia e muçulmana-asiática.

A China, cujas explorações chegaram até a costa norte-americana, fechou-se em si mesma enquanto
o Japão entrava em uma nova e poderosa era unida, liderada em parte por místicos budistas e
xintoístas cujos credos espirituais não se opunham à tecnologia. A “ciência zen” refinou técnicas
devastadoras de tecnologia civil, mística e militar fora da influência da Ordem da Razão. Mais uma
vez, a florescente Tecnocracia encontrou um rival com criações invejáveis. Enriquecida pelos
recursos monumentais da conquista européia, a Ordem da Razão alcançou a China, o Japão, o Sião
e a Coréia além do horizonte oriental. Em meados de 1600, a Ordem da Razão se estendeu ao redor
do mundo.

A unidade, no entanto, ainda estava muito longe. Rivalidades nacionais entre as potências
europeias, mais os cismas sangrentos entre vários credos católicos e protestantes, mantiveram a
Europa em perpétuo estado de guerra. A batalha constante com artesãos muçulmanos e chineses
impulsionou inovações em todas as três facções tecnocráticas... e, ao longo do tempo, inspirou um
crescente senso de pensamento do “quadro geral”. “Não faria mais sentido,” a Alta Guilda
perguntou, “unir todos esses pensadores maravilhosos em uma União magnífica?” Por meio de
jogos de força, tentação, suborno e diplomacia, a Ordem Européia se moveu em direção à
consolidação, reforma e controle globais. Não é surpreendente, realmente, que uma União forjada a
partir de ouro roubado, escravidão, genocídio e conquista fosse tão facilmente corrompida...

O Tempo das Fogueiras


As seitas místicas sofreram uma longa e feia tribulação na qual palavras como “bruxa” ou “herege”
podiam mandar qualquer um para as chamas. Curando as feridas da Grande Traição e os cismas
resultantes, o Concílio se viu reduzido a oito Tradições, todas elas divididas por eventos seculares.
À medida que os europeus avançavam para as Américas, os nativos americanos pertencentes à
Tradição dos Oradores dos Sonhos exigiam a intervenção de seus colegas europeus... e muitas vezes
eram recusados. O crescente comércio de escravos dividiu os tradicionalistas africanos entre os
sacerdotes-magos africanos “civilizados” da África Superior e da Costa do Marfim e seus vizinhos
“tribais” das culturas que estavam sendo saqueadas.

Os magos europeus lutaram com divisões semelhantes, especialmente entre os coristas católicos e
os que consideravam o protestantismo uma fé mais verdadeira. As Casas de Hermes, ao contrário,
gozavam de enorme riqueza. A maioria dos governantes nesse período eram magos (como Isabella)
ou, como a rainha Elizabeth I, tinham magos em sua folha de pagamento. Uma Era de Sociedades
Secretas começou, propagando lojas, seitas, templos e ordens cheias de magos e seus acólitos
Adormecidos. Mas, apesar da influência dos Despertos (ou talvez por causa dela), as guerras entre
suas várias nações mantiveram esses magos duelando nos reinos Despertos e não Despertos.
Enquanto isso, os muçulmanos Batini e os cristãos de outras seitas se distanciavam cada vez mais.
As conquistas muçulmanas na Índia, Grécia e Europa Oriental também mantiveram altas as tensões
entre os Chakravanti e Batini, e a caça às bruxas em toda a Europa manteve os Verbenae em
constante estado de guerra com quase todos os outros.

Uma estranha divisão dividiu o Conselho: os magos mais tradicionais de culturas oprimidas
aproximaram-se uns dos outros, enquanto os chamados magos civilizados e clérigos olharam
coletivamente com desprezo para aqueles bárbaros. Uma confederação grosseira de Oradores dos
Sonhos (o hífen caiu em desuso durante os anos 1600), Verbenae e Chakravanti-Eutanatos alinhou-
se contra os Herméticos e Coristas, muitos dos quais prosperaram desde a Era da Conquista. Nessa
tensão, os Sahajiya - nessa época favorecendo o título de Videntes de Chronos ou simplesmente os
Videntes - freqüentemente atuavam como mediadores entre os outros dois grupos. O Akashayana e
o Batini afastaram-se ainda mais do conflito. Teoricamente, ambos favoreciam a Unidade, mas a
guerra entre a cristandade, o Islã e as terras divididas da Ásia fizeram com que isso parecesse um
ideal muito improvável. Em suma, o Conselho estava uma bagunça.

A presença de Herméticos proprietários de escravos quase destruiu o Conselho de Tradições, pois


embora a escravidão fizesse parte da experiência humana desde o início dos tempos, o Comércio do
Triângulo proporcionou uma forma industrializada de extinção cultural. As tensões étnicas, sempre
altas dentro das Tradições, atingiram um novo pico quando o conceito de “brancura” – um estado
de superioridade baseado na cor da pele – começou a se firmar. Como Herméticos e Coristas,
muitos dos quais abraçaram o conceito de superioridade pessoal e cultural, desfrutaram de fortuna
pessoal e política ao longo da era, o Verbena “mestiço” (cujo plural latino ae caiu em favor de um a
mais simples), o “desrespeitoso” Videntes e Tanatóicos, e especialmente os Oradores dos Sonhos
“racialmente inferiores”, Batini e Akáshicos, todos se afastaram ainda mais de seus primos
aristocráticos. Mais de um terço dos Oradores dos Sonhos deixou o Conselho durante este período,
marginalizando ainda mais a Tradição. Os xamãs restantes aproximaram-se dos extáticos e do povo
bruxo... mas não sem grandes dúvidas e suspeitas cada vez maiores.

De certa forma, essas divisões criaram uma era vibrante de magia do Outro Mundo. Cada facção
moldou os Reinos do Horizonte para seus próprios propósitos, e alguns desses Reinos ajudaram a
preservar suas culturas em extinção. O preço, no entanto, foi um período de estagnação e
divergência dentro do Conselho dos Oito.

E nesse vazio, uma era de Razão e Loucura cresceu...

Caos e Transgressão
A corrupção e a insanidade, como a escravidão, não são novidade.

Afinal, antes que a Luz e a Ordem existissem, havia um Vazio e um Caos infinitos. Os Nefandi –
que tiram seu nome coletivo da palavra latina nefas (“transgressão”) e da antiga seita da
Mesopotâmia chamada Nif’ ur ‘en Daah (“Comedores dos Mortos”) existiam há milênios na Era da
Conquista. Essa idade, no entanto, deu-lhes um profundo domínio do poder. O orgulho gera
arrogância; riqueza gera iniquidade. A insensibilidade resultante da escravização ou destruição de
pessoas de continentes inteiros forneceu um terreno fértil para a influência nefândica. No momento
em que as autoridades mortais detectaram os cultos e missas negras em seu meio, era tarde demais
para desenterrar suas presas.

A loucura também prosperou, nas frestas da civilização. Os Desauridos (chamados originalmente


de maraud, uma palavra francesa para um gato alto astral), que sempre estiveram presentes nos
limites da civilização, começaram a tornar sua presença mais conhecida. Uma vez solitários, esses
encantadores dementes agora agrupados em grupos de insanidade compartilhada. Na loucura da
época, essas entidades pareciam estranhamente apropriadas; que melhor mascote poderia haver,
afinal, para nações que queimaram pessoas vivas para entretenimento enquanto se proclamavam o
auge da civilização?

Nos mares e florestas do novo mundo, as nações européias e seus refugos lutavam por conquistas.
Piratas e corsários enchiam os oceanos; batedores e bandidos sondaram o deserto. Culturas nativas
cavaram e lutaram muito por suas terras em extinção; a corrida de armas, germes e aço, no entanto,
levou-os ainda mais à quase extinção. As florestas outrora consideradas sagradas pelos druidas
foram cortadas e transformadas em navios. Uma nova linhagem mágica, muitas vezes chamada de
Bata'a, surgiu da fusão de cativos africanos, mestres europeus e médicos nativos americanos.
Grupos mais antigos, como os Ngoma, pareciam desaparecer do mapa – às vezes assimilados, como
o Madzimbabwe, em outras seitas, outras vezes desaparecendo na corrida desenfreada em direção a
um mundo mais civilizado.

Feiticeiros, Funileiros e Hereges


Enquanto isso, os séculos de guerra e perseguição religiosa finalmente começaram a diminuir. Tal
carnificina era, claro, irracional aos olhos dos homens esclarecidos (e Iluminados). Ciência,
filosofia e artes tinham mais a oferecer (eles insistiam) do que queimas semanais na praça da
cidade. À medida que inovações como a imprensa se espalharam pela Europa e suas colônias, a
Ordem da Razão começou a se mover – e com ela, sua influência – do fervor sagrado para a lógica
mundana. A ardente Renascença tornou-se um Iluminismo... pelo menos no que diz respeito aos
homens brancos europeus.

À medida que as fogueiras das bruxas diminuíam em todo o continente, as sociedades secretas
floresceram: os Rosacruzes, os Maçons, a Sociedade Poro e muito, muito mais. A maioria delas
permaneceram em mãos não Despertas, mas algumas abrigaram magos Despertos e artesãos
Iluminados. À sombra do alvorecer da Era da Razão, floresceram as fascinações ocultas. Cada
tribunal, ao que parecia, tinha feiticeiros, funileiros e hereges de sobra.

Essas sociedades apresentavam um porto perfeito para os Artesanatos: seitas Discrepante que
resistiam à consolidação nas Tradições ou na Ordem da Razão. As listas de tais grupos variavam de
um punhado de membros (como as Irmãs de Hipólita, que preservaram os antigos caminhos da
Deusa) a centenas de membros espalhados por redes soltas (como os Filhos do Conhecimento, que
prosperaram em sua prosperidade secreta). Nos dias posteriores, o poderoso Wu Lung será
considerado tal grupo; nesta época, porém, eles ainda mantinham o favor imperial e um aparente
mandato dos Filhos do Céu. Seu poder, no entanto, estava diminuindo como resultado de seu
conflito interminável com os Dragões de Metal, que logo os substituiriam nos assentos do poder.

Em todo o mundo muçulmano, os otomanos e seu Tribunal de Ciências Sagradas ultrapassaram


seus rivais iranianos e mongóis. Como os impérios cristãos em expansão, os otomanos empregaram
uma mistura de tecnologia, religião, filosofia e força bruta para absorver ou conquistar todos em seu
caminho. Mesmo assim, as riquezas saqueadas das Américas (e os navios construídos nas florestas
americanas) deram uma vantagem às potências cristãs. À medida que os anos 1600 davam lugar aos
anos 1700, Inglaterra, França, Espanha, Portugal, Bélgica, Holanda e as potências emergentes da
Rússia e da Alemanha fincaram suas bandeiras em todo o mundo.

Houve oposição, claro. Os Zulu, os Cherokee, a Confederação Iroquesa (inspirada, em parte, pelo
Orador dos Sonhos da Primeira Cabala, Falcão ambulante) e o Império Hindu Maratha que
finalmente substituiu as dinastias Mughal indianas... impérios maiores cairam. A China declinou,
mas o Japão prosperou, tornando-se poderoso o suficiente para se desligar do “grande jogo” que
estava engolindo o resto do mundo. Com o tempo, essas culturas se tornarão forragem para histórias
de aventuras de meninos, nas quais homens brancos supostamente corajosos subjugam os chamados
estrangeiros bárbaros. Entre o início dos anos 1700 e o início dos anos 1900, porém, eles eram
forças poderosas que retardaram, se não pararam, a maré furiosa dos impérios.

Enquanto isso, a Guilda, os Artífices, os Cosianos e os Exploradores dominavam a Ordem da


Razão. Parecia que todos os lugares precisavam de ouro, espadas, navios, remédios e armas.
Métodos mais sutis exigiam palavras suaves e facas afiadas de Homens da Guilda e Ksirafai. Alta
aventura e traição definiram a era. Os Artesãos e a Cabala do Pensamento Puro tiveram sua
influência, mas esse poder começou a diminuir. Os Mestres Celestiais mostraram o quão vasto o
nosso mundo realmente é, e os ideais medievais por trás dos Gabrielitas e Artesãos começaram a
parecer um tanto estranhos... e finalmente obsoletos.
Talvez a Revolução Americana – uma demonstração segura do poder do Maçom apoiado pelo
fervor Gabrielita – fosse para enviar uma mensagem para a Ordem da Razão como um todo. Se
assim for, suas sequencias no Haiti e na França, alguns anos depois, forneceram à Ordem uma
desculpa para uma reforma drástica. Por volta de 1800, a Ordem havia instituído um cronograma de
progresso e inovação. O domínio do mundo parecia não apenas desejável, mas possível. Nomes
medievais deram lugar a títulos industriais: Artífices tornaram-se Mecânicos; a Alta Guilda tornou-
se uma série de Inspetores de Casas incorporadas; uma fraternidade eclética de inventores e teóricos
adotou o nome Voltarianos, e uma Torre de Marfim começou a se formar dentro da Ordem... com
resultados sinistros para várias facções Dedaleanas.

E por tudo isso, o Conselho se debateu, fazendo impressionantes Reinos do Horizonte, mas
perdendo terreno na Terra. Frustrado, Batini declarou o Conselho um obstáculo à unidade. Os
Oradores dos Sonhos desertaram para se juntar a grupos como a Sociedade Cherokee do Juramento,
o Zulu Mestres Leões e o crescente Bata'a. A Irmandade Akáshica, esgotada após séculos de
perseguição, parecia muito remota para questões práticas, e os Verbena germânicos deixaram o
Conselho para desfrutar do crescente poder de sua cultura natal. Os Videntes – agora muitas vezes
descartados como meros Cultistas do Êxtase – floresceram no submundo ocultista da Europa, mas
também se juntaram a seus irmãos hindus em grupos como a Grande Sociedade do Tigre, o Kalika
Rajas e o assustador Aghoris. Uma vez moderadores, esses cultistas alcançaram uma vantagem
militarista chocante... uma vantagem igualada por seus desgostosos aliados no Chakravanti, agora
favorecendo seu nome grego Euthanatos e uma abordagem sangrenta de magia desafiadora.
Herméticos confusos e Coristas aflitos descartavam seus companheiros Tradições como amadores
de sangue quente. O palco estava montado para a catástrofe.

O Triunfo do Vapor e do Metal


O expurgo começou com uma Revolução Industrial; ganhou velocidade com as revoltas na
América, no Haiti, na França e em outros lugares. Passou pelas conquistas de Napoleão – um
tecnocrata em método, mas não Iluminado, que refinou tecnologias de guerra e governo – e
ascendeu ao trono na forma da Rainha Vitória: outro tecnocrata cuja influência definiu uma era.

Tanto as Tradições quanto a Tecnocracia consideravam Vitória uma Mestra Dedaleana. As histórias
mortais a apresentavam como uma moralista melancólica com uma perspicácia civil devastadora.
Sob seu governo, a Inglaterra se tornou a nação mais poderosa da Terra – raramente rivalizada no
campo de batalha e impondo respeito em todas as esferas da realização humana. A Inglaterra de
Vitória abrangia o globo, alimentando fábricas, exércitos e corporações internacionais que todas as
outras nações imitavam. Este não era, é claro, o auge da civilização – era um reino imundo e
poluído de pobreza horrível e opressão fervilhante. A era de Vitória, porém, definiu uma nova
prosperidade: um triunfo do vapor e do aço.

Traição e Metal Polido


Três novas seitas tecnocráticas definiram essa era: de dentro do grupo Voltariano surgiu um híbrido
selvagem de mistérios herméticos, erudição muçulmana, engenhosidade européia e arrogância
desafiadora, chamados de Engenheiros Eletrodinos; uma associação silenciosa, mas visionária, de
descontentes matemáticos se deu origem aos Engenheiros Diferenciais; e um bando itinerante de
aristocratas turbulentos que se autodenominavam Chaves Mestras juntou-se à nascente facção da
Torre de Marfim. Entre os três, essas irmandades incorporavam o espírito da invenção selvagem,
previsão calculista e socos justos. Comparados a eles, os resmungões gabrielitas e os artesãos
indignados pareciam reminiscências embaraçosas de uma era menos iluminada.

Mesmo enquanto empurrava seus rivais místicos para a beira da insignificância, a Ordem da Razão
mostrava sua idade. Os Mestres reinantes tinham séculos de idade – aberrações em seu próprio
senso de propriedade lógica. Os fanáticos religiosos tornaram-se cansativos, e o sangue que eles
derramaram nos últimos seis ou sete séculos parecia, na melhor das hipóteses, contraproducente
para a causa da Razão. Dinheiro e comércio pareciam ser as verdadeiras medidas da realidade neste
mundo em expansão – mais verdadeiros que Deus, mais produtivos que dogmas, capazes de
construir impérios à imagem do Homem, construindo sobre os ossos de culturas supostamente mais
primitivas.

A Ordem da Razão foi feita com superstições pitorescas e tolices religiosas divisivas. Já estava farto
de impérios e tecnologias rivais. Os últimos séculos mostraram que a unidade pode ser imposta pela
força... e assim, nas sombras da influência de Vitória, a Ordem da Razão tornou-se a União
Tecnocrática.

Uma série de reuniões e alianças ligaram a Ordem Européia, os Dragões Chineses e as crescentes
seitas tecnocráticas nos recém-formados Estados Unidos. Os otomanos também foram convidados
para a mesa, mas um cisma entre tecnocratas muçulmanos seculares e artesãos muçulmanos
piedosos quebrou o Tribunal de Ciências Sagradas... o que, é claro, era exatamente o que os
Homens da Guilda europeus pretendiam. À medida que esse esforço se reunia, a Coalizão de
Inspetores de Casas liderava a revolução. Empunhando uma forma potente da Arte do Desejo, esses
homens do dinheiro fizeram acordos secretos para o futuro da Ordem: riqueza global, influência
global, poder global... e um fim para aqueles fanáticos religiosos irritantes que impediram o
progresso por tanto tempo.

Todos os registros das reuniões acabaram “perdidos” ou “revisados”. Todas as partes envolvidas
logo estavam mortas ou profundamente escondidas. Mas em uma série de golpes rápidos, os
artesãos, gabrielitas e outros “supersticionistas” foram depostos. Historiadores externos chamaram
isso de Expurgo Relâmpago: uma guerra rápida e brutal entre facções tecnocráticas. No início do
século 20, o Expurgo Relâmpago iluminou uma Nova Ordem Mundial. A ciência, e não a fé,
determinaria seu caminho a partir de então.

No lugar das antigas Convenções Dedaleanas, uma nova série de grupos assumiu o manto
Tecnocrata: Iteração X, um refinamento computadorizado dos Mecânicos; os Progenitores, que
fundiram as explorações Cosianas na vida biológica com o potencial para evolução avançada; os
Engenheiros do Vácuo, que transformaram os antigos Exploradores e Mestres Celestiais em uma
única entidade pioneira; a Nova Ordem Mundial que consolidou a aparente liderança sob Razão e
Controle; os Engenheiros Eletrodinos e Diferenciais; e o Sindicato – os síndicos (“aqueles que
representam”) desses novos interesses tecnocratas – que, por trás de uma tela de dinheiro e
indulgência, formaram a verdadeira liderança da nova Ordem. A Torre de Marfim substituiu o
sinistro e antiquado Ksirafai. Esse último grupo desapareceu, seu propósito aparente finalmente
cumprido.
Como tudo aconteceu tão rápido? Como os maçons e os gabrielitas foram virtualmente
exterminados? Quando a Cabala do Pensamento Puro – um grupo dedicado à ortodoxia religiosa –
expulsou Deus da Máquina? E como, as pessoas se perguntavam, um grupo de arrivistas ateus
europeus transformou mestres muçulmanos, taoístas e confucionistas em sua causa?

Tais transições radicais quase poderiam ser consideradas... mágicas.

Cruzada de Czar Vargo

Quase funcionou. Poderia ter funcionado. Se o idealista eterita chamado Czar Vargo não tivesse
ousado demais e ido longe demais em sua tentativa de impedir a Primeira Guerra Mundial, o
século 20 poderia ter sido um lugar muito diferente. Mas quando a armada de aeronaves de
Vargo escureceu os céus em todo o mundo em 1914, armada com dispositivos que teoricamente
poderiam desativar todas as armas modernas da Terra, ele ultrapassou o limiar da realidade... e
também desapareceu.
Depois de um grande clarão, toda a armada desapareceu. Cada homem, mulher e dispositivo foi
para outro lugar. O Czar Vargo, seus seguidores e quaisquer tecnologias que planejassem
empregar deixaram de existir. A maioria dos registros e memórias desse evento também
desapareceram; os poucos que ficaram para trás eram inconclusivos, contraditórios e muitas
vezes absurdos. É como se o dia inteiro tivesse se rebobinado, produzindo tênues fantasmas de
seus eventos, mas apagando as partes reais envolvidas.
A Sociedade do Éter sustenta que o Czar Vargo foi destruído pela Tecnocracia, com todos os
relatos de suas aventuras eliminados pela Nova Ordem Mundial. Tal evento, no entanto, parece
fora do alcance até mesmo da maior influência tecnocrática. É mais provável que a própria
Realidade tenha engolido o Czar Vargo. E se isso for verdade, então talvez todo o século que se
seguiu tenha sido a maior reação do Paradoxo na história.
Vale o velho ditado sobre boas intenções e o caminho para o inferno.

O Fim De Uma Era


À medida que os impérios industriais colocam as pessoas comuns entre as engrenagens, lampejos
de desafio acendem um novo fascínio pelas buscas ocultas. Ordens místicas de repente pareciam
estar em toda parte. Poderia ter sido a Ordem de Hermes jogando um longo jogo entre as várias
sociedades secretas? Eles certamente levarão o crédito por isso. Artistas em êxtase dançavam nas
bacanais boêmias do fin de siécle (“final do século”) da Europa, ou então lutavam nas fronteiras da
fronteira americana como Los Sabios Locos (“os loucos sábios”). A poluição repugnante e o
desespero esmagador dessa vitória industrial alimentaram o fervor tanatóico... especialmente depois
que a Grande Guerra e a Grande Epidemia de Gripe iniciaram o monumental número de mortes do
século nascente. Os Akashayanas encontraram um novo senso de propósito em uma Rebelião dos
Boxers que relembrou suas vitórias do Turbante Vermelho, e o Coro Celestial recrutou novos
devotos na América do Norte e do Sul. Os Verbena também prosperaram no renascimento do
ocultismo e nas rebeliões artísticas da época, já que o termo neopagão – originalmente um insulto –
tornou-se uma marca de honra. Consternados com a destruição das culturas africana e nativa
americana, os Oradores dos Sonhos adotaram um desafio silenciosamente evangélico; embora
muitas pessoas - seus aliados incluídos - tomassem essa pose como uma forma de serenidade "nobre
selvagem", ela mascarava uma Vontade poderosa e subversiva. Apenas os Batini pareciam perder as
esperanças; desgostoso com a estagnação divisiva do Conselho, essa Tradição saiu logo após a
virada do século. A essa altura, porém, outro grupo havia se juntado às fileiras.

Os Engenheiros Eletrodino desempenharam um papel vital no Expurgo Relâmpago, suas máquinas


esmagando a resistência dos Gabrielitas e as Artes dos Ofícios Maçônicos. Logo depois, porém, o
Círculo Interno Tecnocrata tentou controlar os orgulhosos inventores. Anunciando que o Éter – um
elemento fundamental para a Alta Ciência Eletrodina – na verdade não existia, o Circulo Interno
usou uma nova tecnologia de comunicação em massa para colocar os Eterites em seu lugar. Como
resultado, os Engenheiros deixaram a nova União Tecnocrática em 1904 e se juntaram às Tradições
sob seu antigo apelido, os Filhos do Éter. Dizer que isso não deu certo é um eufemismo.

Durante décadas, as potências industriais e seus tecnocratas associados testaram seus dispositivos
mais mortíferos em pessoas que chamavam de selvagens primitivos e meninos rebeldes do campo.
De vez em quando, um exército lançava alguma inovação nas tropas de um rival para ver o que
poderia fazer. Ninguém, no entanto, estava preparado para o que aconteceu quando duas
superpotências apoiadas pela União sacaram suas maiores armas. Tudo começou quando um Japão
recém-industrializado cruzou armas com a Rússia czarista no prelúdio russo-japonês para o próximo
show de terror. Alguns anos depois, o castelo de cartas de Vitória desabou durante a Primeira
Guerra Mundial. No momento em que terminou... e aquela pandemia de gripe acumulou outros 20
milhões de mortos... o verdadeiro alcance da atrocidade tecnocrática foi revelado.

A Cruzada dos Feiticeiros tinha sido selvagem. O Expurgo Relâmpago foi incrível. As várias pragas
e guerras e impérios em colapso e guerras civis trouxeram sua parcela de miséria. Ninguém, no
entanto, tinha visto nada parecido com o genocídio mecanizado em torno da Grande Guerra:
tanques, aviões, gás venenoso, metralhadoras, canhões que poderiam atingir uma cidade de um
condado inteiro de distância e uma geração de homens e mulheres cujas mentes e corpos haviam
sido despedaçados mesmo quando seus corpos ainda não haviam morrido. Parece que alguma magia
épica e terrível tomou conta da humanidade. E o pior ainda estava por vir...

A Ascensão do Cidadão Extraordinário

Magos de todas as facções que esperavam liderar uma humanidade semelhante a ovelhas em
direção ao seu pasto de escolha foram abalados pelo que a Nova Ordem Mundial chama de
ascensão do cidadão extraordinário: uma revolução em capacidade, convicção e crença entre as
massas.
Enquanto a apatia da moda da década de 1990 sugere uma estagnação do potencial humano, os
eventos literalmente explosivos na virada do novo milênio destacam a ideia oposta. Embora
certos elementos da sociedade consumista eliminem o Lanche Feliz e a cultura do lixo, a
combinação de agitação política, conhecimento tecnológico, romantismo místico e convicções
religiosas inflamam convulsões mundiais. Em todo o mundo, um número sem precedentes de
pessoas emprega tecnologia e ainda acredita em magia. Este aparente paradoxo (com p
minúsculo) mudou a maré da Guerra da Ascensão. Ao mesmo tempo em que os místicos de
longa data incorporam a tecnologia da computação em suas vidas e rituais, os tecnocratas
idealistas se veem desejando a realização espiritual. Os chamados Adormecidos, entretanto,
provaram ser agentes ativos de ambos os lados, usando tecnologia de venda livre para criar
visões mágicas. De meninos bruxos a românticos Noturnos, sagas apocalípticas e super-
heroísmo em CGI, o ensopado de cultura pop desta fusão do milênio representa um abraço de
todos os lados do conflito da Ascensão.
Resumindo, nenhum lado está ganhando, mas todos eles – incluindo os Desauridos – têm a
chance de capturar o Consenso mundial.
Os cidadãos extraordinários do novo milênio não são nem os camponeses trêmulos das lendas
medievais nem as massas conformadas dos ideais tecnocratas. Em vez disso, eles... ou, para ser
mais preciso, NÓS... abraçamos uma era vibrante em que tecnologia, fé e imaginação
coexistem. A sombra dessa era, porém, é o potencial para a loucura global e a aniquilação auto-
infligida.
E essa escolha, em última análise, não cabe a uma facção Desperta ou a outra, mas aos cidadãos
extraordinários do século XXI.

Ruído
Na esteira da guerra global e da praga, a chamada Geração Perdida mergulhou no renascimento do
ocultismo. Espiritismo, ordens secretas, movimentos artísticos radicais, recuperação pagã e ateísmo
militante, todos forneceram iniciados voluntários para cultos tanto Despertos quanto adormecidos.
A Tecnocracia se livrou da carnificina, muitas vezes perdendo o poder crescente dos Herméticos,
Coristas, Extáticos, Tanatoicos e até Akáshicos. Afinal, havia muitas distrações nesta era de
“ruído”, mais obviamente a Revolução Russa, o colapso da China Imperial, a rápida ascensão do
Japão Imperial e a reação anti-alemã na Europa... uma reação que inspirou os horrores que virão.

À medida que os experimentos tecnocratas na Itália, nos Estados Unidos e na Rússia se


consolidavam, um número crescente de Vazios aumentava as fileiras dos Despertos. Abandonando
todas as formas de sabedoria antiga, essas pessoas deslizaram entre as rachaduras das Tradições e
da Tecnocracia. Embora fossem vistos anos depois como crianças góticas entediadas, os Vazios
órfãos eram uma verdadeira tradição mística do século 20... um fato que o Conselho iria ignorar
com grande custo mais tarde. Desprezados por místicos elevados como “ralé auto-desperta”, os
Vazios se viram tratados como recrutas e bucha de canhão. O tratamento não foi apreciado por eles.

Ao longo dos loucos anos 20, magos de todas as facções construíram sua influência. Novas
tecnologias de mídia de massa ajudaram magos inteligentes a espalhar crenças e moldar realidades.
Os eteritas podem ter sido os estudantes mais astutos de filmes, revistas, jornais, gravações de som
e rádio, mas não eram os únicos. Mesmo a Grande Besta, Aleister Crowley, experimentou rituais
gravados, de alguma forma conseguindo ser considerado um membro de quase todos os grupos
místicos, embora nunca aparecendo definitivamente em uma única Tradição Desperta.

As feias conseqüências da guerra... e a ainda mais feia Grande Depressão global... dividiram tanto o
Conselho quanto a União. A desintegração do Império Otomano no pós-guerra e a fome tecnológica
de uma dúzia de potências imperiais – combinadas com convulsões sociais e a partilha da África e
da Ásia em “possessões” europeias – mantiveram as tensões crescentes nesta era volátil. A
tempestade de poeira americana foi um legado da guerra mágica? As muitas greves e tumultos
foram instigadas por facções Despertas? Quem estava realmente comandando as famílias do crime
organizado que varriam os EUA... e qual era a verdade por trás desses rumores sobre a KKK
caçando Oradores dos Sonhos e Bata'a?

Para onde foram os Feéricos? O mundo estava caminhando para uma terrível Idade do Ferro? À
medida que os anos 20 e 30 avançavam para outra Guerra Mundial, os mistérios estavam por toda
parte.

Uma coisa, em retrospectiva, é óbvia: os Caídos estão jogando xadrez com o nosso mundo.

A Cisma
Dos cinejornais, parecia maravilhoso: Alemanha, Itália e os recém-chegados no Japão pareciam
vitais e cheios de esperança. Suas máquinas estavam entre as melhores da Terra, seu pessoal bem
alimentado e disciplinado. Líderes eloquentes inspiraram grande devoção. Parecia um sonho
Tecnocrata tornado realidade – a face brilhante do Amanhã.

Todos nós sabemos o que aconteceu depois.

A Segunda Guerra Mundial dividiu as Tradições e a Tecnocracia; magos de ambos os lados se


juntaram ao Eixo ou aos Aliados. Embora alguns místicos corressem e se escondessem, a maioria
das pessoas entendia o quão alto eram os riscos. Quando as atrocidades vieram à tona e os
orgulhosos, supostamente Iluminados, líderes do Eixo foram revelados como monstros, a verdade
tornou-se óbvia: os Nefandi tinham ido atrás de todas as bolas de gude e poderiam muito bem ter
vencido.

Foi uma era de paradoxo – um Armagedom cósmico de proporções míticas. Mágika e máquinas
colidiram de um extremo a outro da Terra. Apenas a América do Sul foi verdadeiramente poupada.
Os místicos alemães da Sociedade deThule entraram em conflito com o Trio Terrifico de Doc Eon.
O Pilar Sangrento Japonês e a Brigada do Vento Ardente lutaram contra a seita Thanatóica/ Oradora
/ Extática chamada Tigres Fantasmas e os Punhos Sussurrante Akashicos. Os Engenheiros
Diferenciais – nessa época chamados de Adeptos da Virtualidade – romperam as fileiras
tecnocráticas e ajudaram o Alto Comando Britânico a decifrar os códigos místicos alemães. Um
tipo diferente de código veio dos Sussurrantes do Vento Americano, cujas ligações com os
Oradores do Sonho eram óbvias pelo nome. Talvez a divisão mais amarga tenha colocado a
Tradição Verbena contra si mesma; para uma Tradição cujos membros fundadores eram uma bruxa
britânica e um runista germânico, essa cisão continha a tragédia da ópera wagneriana.

Por um tempo, a liderança tecnocrática apoiou a máquina de guerra do Eixo. Como a extensão e a
natureza dos horrores se tornaram inevitáveis, no entanto, o Círculo Interno juntou-se aos
tecnocratas comuns que se voltaram contra o Eixo. A perspicácia técnica por trás das potências
aliadas, principalmente a Rússia e os EUA, mudou o equilíbrio de poder. As forças de Hitler
descobriram que seus dispositivos não funcionavam bem, sua orgulhosa máquina falhava, suas
inovações estagnavam ou explodiam em clarões brilhantes de Paradoxo. Em um movimento sem
precedentes, os tecnocratas de alto escalão se reuniram com os Mestres do Conselho no final de
1943; agora unidas, as duas facções esmagaram a Sociedade Thule, os Lobos da Meia-Noite (um
remanescente da Guilda dos Lobos Dedaleanos) e a Sociedade do Sol Sombrio – núcleos nefândicos
do poder nazista. Embora certos tecnocratas e magos da Tradição tenham resistido até o fim, esse
fim era quase certo.

Em retrospecto, as detonações em Hiroshima e Nagasaki podem ser vistas como reações titânicas
do Paradoxo. Mas talvez eles tenham sido os voleios iniciais de um final de jogo aterrorizante...
Para Sonhar com Coisas Impossíveis
Como a aliança entre a União Soviética e o oeste anglo-americano, a trégua entre tecnocratas e
tradições logo se tornou um impasse feroz. A Segunda Guerra Mundial deu a ambos os lados
muitos brinquedos novos e motivos para usá-los. As Tradições, energizadas pela primeira vez em
séculos, expandiram-se no vácuo do pós-guerra. A Tecnocracia aproveitou a Era Atômica como
uma chance de levar seus ideais para o mundo todo. A deserção dos Adeptos da Virtualidade em
1961 trouxe o Conselho de volta à sua contagem original de nove; os Adeptos também trouxeram
consigo uma bem-vinda explosão de inspiração futurista. Combinada com os Filhos do Éter, a nova
Tradição trouxe o Conselho firmemente para este século selvagem.

À medida que a contracultura explodiu na década de 1960, as Tradições conquistaram seu lugar na
cultura popular. Adormecidos cansados da guerra ansiavam por rebelião, espiritualidade e
admiração; as Tradições ficavam felizes em fornecer essas coisas. Pessoas e culturas há muito
oprimidas se livraram de suas correntes coloniais, trazendo as artes perdidas de volta ao cenário
global. E assim, apesar de um crescente Pogrom da União Tecnocrática, os magos místicos
construíram uma base de poder por meio da cultura pop, da pressão pelos direitos civis, da
tecnologia imaginativa e de vários movimentos espirituais e religiosos. Ao longo das próximas
décadas, as Tradições e a Tecnocracia se enfrentaram em lutas sangrentas pela supremacia – cada
lado impulsionado para cumprir a Ascensão, ambos orgulhosos demais para ver sua própria
condenação.

A loucura e o orgulho moldaram um Mundo de Trevas. Em vez de Ascender, o povo sofre. Apesar
das magníficas conquistas, o animal humano é uma fera enjaulada em guerra consigo mesma. Os
monstros que se movem durante a noite são meros reflexos do coração humano e, à medida que um
ajuste de contas se aproxima, os verdadeiros vencedores desta Guerra da Ascensão tornam-se claros
para todos, exceto para os magos que a combatem.

A década de 1990 prediz um Apocalipse – um ajuste de contas do pecado, destino e punição. As


forças se reúnem e convergem em confrontos monumentais. Fortalezas caem. Mestres perecem.

Fatos Futuros: A Retribuição e a Sexta Era

O final da década de 1990 foi desastroso para as Tradições. Na metatrama entre o Mago 2º e as
edições revisadas:
 Rivalidades herméticas destroem Doissetep, o Mestre Tanatoico Voormas se rebela e o
Guerreiro da Ascensão lidera um exército de jovens magos furiosos ano Horizonte e
essencialmente planifica o lugar durante a Guerra do Horizonte.
 Em uma Segunda Guerra de Massassa, a Ordem de Hermes entra em guerra com os
vampiros, com baixas em todos os lados.
 Durante A Semana dos Pesadelos no início de junho de 1999, algum tipo de monstro
divino surge em Bangladesh; a Tecnocracia destrói o subcontinente indiano e as bombas
espirituais (veja o Capítulo Quatro) desencadeiam a Tempestade dos Avatares e outros
desastres metafísicos.
 Não muito tempo depois, uma força tecnocrática apaga o que restou do Horizonte,
matando a maioria dos anciões sobreviventes e destruindo a casa do Conselho. O
Conselho Primi desaparece, deixando as Tradições sem líder. Essas catástrofes
combinadas deixaram as Nove Tradições cambaleando. A Tecnocracia intensifica seu
Pogrom e – com a abertura do novo milênio – a Guerra da Ascensão é declarada
encerrada. Os Ofícios Discrepantes são caçados e supostamente destruídos, seus poucos
sobreviventes fugindo para o que restou das Tradições. A Tecnocracia, também em
desordem quando os tecnocratas terrestres são privados de seus Construtos do Universo
Profundo pela Anomalia Dimensional da Tempestade dos Avatares, acaba presidindo uma
raça humana aparentemente apática.
 Após os cataclismos de 11 de setembro de 2001, a humanidade parece enlouquecer.
Fantásticos religiosos provocam guerras em todos os continentes. Os magos da Tradição
Desafiante logo descobrem o enigmático Concelho Rebelde, mas não conseguem decifrar
ou confiar em sua fonte. O Acerto de contas chega e uma Sexta Era final está em
andamento.
Dado esta metatrama que literalmente muda o jogo, um Narrador de Mago tem três opções:
 As coisas agora estão como estavam em Mago Revisado: A Tecnocracia comanda o
mundo. Os adormecidos só querem Big Mac's e programas de TV. Os Discrepantes se
foram e as Tradições continuam sendo uma força pequena e desafiadora. A Tempestade
dos Avatares ainda está em vigor, confinando a maior parte da atividade à Terra. A Sexta
Era continua a chover sangue e miséria, e a magia mística atrai o Paradoxo por padrão.
 A festa da vitória da Tecnocracia foi prematura: claro, a União levou a melhor, mas as
Tradições e Discrepantes sobreviveram a coisas piores. A arrogância leva a maioria dos
tecnocratas a considerar a luta mais ou menos encerrada... e a perder a liderança nefândica
que agora governa cada movimento seu. As massas surpreendem a todos com sua
combinação de autoindulgência, fanatismo e esperança de um amanhã melhor. As
Tradições se reúnem mais uma vez, e os Discrepantes se unem para retomar seu mundo.
Os tecnocratas leais que descobriram a corrupção do Círculo Interno organizam uma
guerra sombria dentro da União, possivelmente aliando-se à Tradição e às seitas
Discrepantes em um esforço para resgatar os ideais da ciência da infiltração Nefândica. No
momento, porém, os Caídos estão ganhando o que resta da Guerra da Ascensão. É como a
Segunda Guerra Mundial de novo, com apostas ainda mais altas.
 Nada disso aconteceu: como em meados da década de 1990, a Tecnocracia e as Tradições
são mais ou menos iguais, com os Nefandi em sua maioria banidos da Terra e os
Desauridos muito dispersos para oferecer muita ameaça. Os Discrepantes têm seu próprio
território, mas os cataclismos que levaram a Ascensão ao limite não ocorreram e
provavelmente nunca ocorrerão.
Mago 20 assume o segundo cenário. A escolha final, no entanto, é sua. Quem sabe? Talvez a
Sexta Era tenha ocorrido, o velho mundo tenha acabado e o mundo atual seja apenas uma
realidade alternativa de muitas. A realidade é uma coisa engraçada, especialmente no mundo de
Mago, e muitas vezes não é o que você espera...
Agentes tecnocratas detectam corrupção profunda em suas fileiras – um veneno Nefândico que
infecta o próprio Círculo Interno. À medida que as guerras destroem os Reinos do Horizonte, seus
ecos abalam as coisas na Terra. Fanáticos e loucos estupram o mundo com fogo. A magia está tão
perto quanto a conexão de Internet mais próxima, mas seus milagres parecem egoístas, pequenos e
mesquinhos. E assim, enquanto as Torres Gêmeas queimam e caem, uma brilhante Idade das Trevas
começa - um país das maravilhas de coisas impossíveis empenhadas na autodestruição.

Os magos, no entanto, sempre se especializaram em fazer o impossível. A ascensão, embora


atrasada, não pode ser negada. Horizontes podem queimar e Ofícios podem se despedaçar, mas a
verdadeira magia nunca morre. O novo milênio dá início a uma convulsão cultural. Tecnologia,
religião e fantasia mística remixam os elementos uns dos outros até que nenhum preconceito
permaneça intacto. Há esperança no vento e revolução no ar novamente.

Em uma era de revelações, a Guerra da Ascensão continua.

Fonte do Material:
MA20 – Traduzido, páginas 119 - 135

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