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Há perigo no discurso?

Aula inaugural em 1970 no


Collège de France
O discurso pode cumprir essa tarefa?
• “Ao invés de tomar a palavra, gostaria de ser
envolvido por ela e levado bem além de todo
começo possível. Gostaria de perceber que no
momento de falar uma voz sem nome me precedia
há muito tempo: bastaria, então, que eu
encadeasse, prosseguisse a frase, me alojasse,
HÁ UMA sem ser percebido, em seus interstícios, como se
ela me houvesse dado um sinal, mantendo-se, por
CONDIÇÃO um instante, suspensa” (p.5)

PARA PENSAR • “Gostaria de ter atrás de mim (tendo tomado a


ASSIM palavra há muito tempo, duplicando de antemão
tudo o que vou dizer) uma voz que dissesse: "É
preciso continuar, eu não posso continuar, é
preciso continuar, é preciso pronunciar palavras
enquanto as há, é preciso dizê-Ias até que elas me
encontrem...” (p.6)
Simplesmente dizer...

• O desejo diz: "Eu não queria ter de entrar nesta ordem arriscada do
discurso; não queria ter de me haver com o que tem de categórico e
decisivo; gostaria que fosse ao meu redor como uma transparência calma,
profunda, indefinidamente aberta, em que os outros respondessem à minha
expectativa, e de onde as verdades se elevassem, uma a uma; eu não teria
senão de me deixar levar, nela e por ela, como um destroço feliz“ (p.7)
Discurso e poder

• E a instituição responde: "Você não tem por que temer começar;


estamos todos aí para lhe mostrar que o discurso está na ordem
das leis; que há muito tempo se cuida de sua aparição; que lhe foi
preparado um lugar que o honra mas o desarma; e que, se lhe
ocorre ter algum poder, é de nós, só de nós, que ele lhe advém".
• Há uma realidade material no discurso, ele é materialidade, cria
instâncias de realidade e verdade.
• Mas, o que há, enfim, de tão perigoso no fato de as pessoas
falarem e de seus discursos proliferarem indefinidamente? Onde,
final, está o perigo?
Hipótese de trabalho de Foucault

• “suponho que em toda sociedade a produção do discurso é ao mesmo


tempo controlada, selecionada, organizada e redistribuída por certo
número de procedimentos que têm por função conjurar seus poderes e
perigos, dominar seus acontecimentos aleatórios, esquivar sua pesada e
temível materialidade” (p.9)
• Como isso ocorre? Quais são esses procedimentos?
- Exclusão, o mais familiar é o da interdição
Interdição: não é bom falar disso...

• “Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode
falar de tudo em qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não
pode falar de qualquer coisa. Tabu do objeto, ritual da circunstância,
direito privilegiado ou exclusivo .do sujeito que fala: temos aí o jogo
de três tipos de interdições que se cruzam, se reforçam ou se
compensam, formando uma grade complexa que não cessa de se
modificar” (p.9)
- regiões da sexualidade e da política (mas, há outros tabus)
- Por que não falar? Por que não falar? Qual é o problema em falar?
• Se sim, por que tanta interdição?
• “Talvez ele não seja apenas o lugar ou a forma
como o desejo se manifesta, mas o objeto de
desejo”.
• “o discurso não é simplesmente aquilo que
traduz as lutas ou os sistemas de dominação,
mas aquilo porque, pelo que se luta, o poder do
qual nos queremos apoderar” (p.10).

O discurso é pouca coisa?


Há outros procedimentos de exclusão: a
oposição (separação/rejeição)

• Razão/loucura
• Democrático/ditatorial

• E tantos outros...

• E há um terceiro procedimento de exclusão: o jogo da verdade e


da falsidade.
• Todos eles são apoiados em suporte institucional.
Exercem poder/pressão
sobre a sociedade

• A palavra proibida
• A segregação
• A vontade de verdade
Indicações de leituras:

• Para o próximo encontro:


• Foucault, História da loucura na Idade clássica, São Paulo:
Perspectiva, 1992. – capítulo 1.
• Artigo: Os alienistas
• https://revistacult.uol.com.br/home/os-alienistas/

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