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O retrato da mulher depois do 25 de abril

Elevação da qualidade de vida e consagração do direito à igualdade – após a Revolução de Abril foram
tomadas numerosas medidas de carácter económico e social que representaram saltos gigantescos no
combate à miséria e pobreza, com tradução na significativa melhoria da qualidade de vida das mulheres das
classes laboriosas e populares. Ao mesmo tempo que foram produzidas profundas alterações na legislação
em diversos domínios, consagrando o direito à igualdade das mulheres no trabalho, na família, na
participação social, política, cultural e desportiva, e o direito de todos os portugueses à segurança social, à
saúde, ao ensino e à cultura.

Direito das mulheres ao trabalho com direitos – aquando da Revolução, as mulheres representavam 25%
dos trabalhadores. Apenas 19% trabalhavam fora de casa e ganhavam cerca de 40% menos que os homens.

Foram abolidas as situações herdadas do fascismo, em que se destacam as que proibiam o acesso das
mulheres a diversas carreiras, as que impediam as mulheres de trabalhar fora de casa ou exercer actividades
lucrativas sem o consentimento do marido, e as que limitavam o direito a casar às enfermeiras e hospedeiras
do ar.

Entre Maio e Dezembro de 1974 destaca-se a fixação do salário mínimo nacional, o aumento generalizado
de salários, a garantia de emprego, a consagração de férias, subsídio de férias e de Natal, a diminuição das
diferenças salariais, o acesso das mulheres às carreiras da magistratura judicial, do Ministério Público e da
carreira diplomática. Com o início da contratação colectiva foram dados passos importantes no tratamento
das matérias relacionadas com a protecção da mulher no trabalho, protecção na gravidez, na maternidade e
na aleitação dos filhos. Em Fevereiro de 1976, a ampliação do período de licença de maternidade para os 90
dias, 60 dos quais teriam de ser gozados após o parto, e abrangendo todas as trabalhadoras.

Igualdade na família – o regime fascista impôs como único modelo de família o que resultava de um
contrato de casamento. Face ao Código Civil a mulher podia ser repudiada pelo marido no caso de não ser
virgem na altura do casamento, a família era dominada pela figura do «chefe» com total poder marital e
parental, o marido tinha o direito de abrir a correspondência da mulher, e a lei permitia-lhe matar a mulher
em flagrante adultério, sofrendo apenas um desterro de alguns meses. O casamento católico era indissolúvel,
existiam filhos legítimos e ilegítimos, nascidos dentro e fora do casamento.

Com a Revolução de Abril alteram-se estas situações absurdas: alteração da Concordata para os casamentos
católicos obterem o divórcio civil, abolição do direito do marido abrir a correspondência da mulher,
revogação das disposições penais que atenuavam, ou despenalizavam, os crimes em virtude das vítimas
desses delitos serem as suas mulheres ou filhas, reforma do Código Civil com abolição das disposições
discriminatórias do direito de família, quanto à mulher e quanto aos filhos. Com estas alterações, acaba-se o
estatuto de dependência e a mulher passa ao estatuto de igualdade com o homem na família.

A Constituição da República Portuguesa – aprovada a 2 de Abril de 1976, consagrou a igualdade entre


mulheres e homens em todos os domínios da vida, explicitou os direitos das mulheres e, igualmente, as
responsabilidades do Estado na eliminação das discriminações e na promoção da igualdade em todas as
esferas da vida.

Fernanda Mateus

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