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O livro de
Afrodite
autoestima, relacionamentos e
prazer pela vida
um guia arquetípico
para o reencontro com
a divindade interior
Inspira - revistainspira.com 1
AMANDA MESCHIATTI
HERYCK SANGALLI
O livro de
Afrodite
Copyright © 2021 Livros da Inspira.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou
usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive
fotocópias, gravações ou sistemas de armazenamento em banco de dados, sem
permissão por escrito, exceto no caso de trechos curtos citados em resenhas crí-
ticas ou artigos de revistas.
ISBN 978-65-00-17649-0
Quem é Afrodite?
No princípio era o amor ............................................................. 21
Por que Afrodite precisa ser integrada ..................................... 23
Teste: Como vai a sua Afrodite ................................................. 29
As faces de Afrodite ................................................................... 35
Meditação .................................................................................... 40
As crenças de Afrodite ............................................................... 41
Nasce uma Deusa ....................................................................... 45
As fases de Afrodite .................................................................... 49
Os temas de Afrodite
O enigma do amor ...................................................................... 55
O desejo ....................................................................................... 83
As duas Afrodites: Pandêmia e Urânia ..................................... 95
Sexualidade .................................................................................. 99
Prazer ......................................................................................... 115
Culpa e julgamento ................................................................... 133
Cobiça, Inveja e Ciúme ............................................................ 143
O corpo ...................................................................................... 149
Relacionamentos ....................................................................... 167
Afeto: aquilo que te afeta ......................................................... 193
A beleza ...................................................................................... 205
Reencantamento com o mundo .............................................. 215
Autoestima ................................................................................ 223
Criatividade: a ação da imaginação ......................................... 245
Riso: o caminho mais leve ........................................................ 257
Afrodite e a riqueza ................................................................... 263
Afrodite e os sonhos ................................................................ 269
A deusa alquímica ..................................................................... 275
Guia prático
Mapa alquímico de Afrodite: para transformar e conceber
qualquer coisa na vida .............................................................. 285
A Jornada de Psiquê: uma conduta evolutiva de integração das
polaridades psíquicas ................................................................ 293
“Eros e Psiquê”: o conto .......................................................... 304
Manual de ativação da Afrodite interior ................................. 341
Imaginação ativa ........................................................................ 350
Conexão direta .......................................................................... 356
@movimentoinspira
@revistainspira
O Livro de Afrodite faz parte da série Oráculo Inverso:
as respostas estão em você.
A deusa mora
em mim.
Eu sou uma
parte da deusa.
Eu sou a deusa.
O caminho da deusa
O Livro de Afrodite é uma alquimia. Ele é um livro, e é também um
caderno. Ou, você pode pensar também, que ele é um livro escrito a
várias mãos. De um lado, nós trazemos a pesquisa histórica e o em-
basamento psicanalítico e filosófico. De outro, você faz a sua parte
enchendo essas páginas com as suas próprias palavras, orientada(o) por
233 perguntas, provocações e exercícios de escrita terapêutica.
Na parte do livro escrita por nós, sugerimos que você leia sem
freios. Conhecimento é pra já! E aqui fomos fundo nele. Então pode
confiar em todas as informações e referências que você encontrar aqui.
Na parte do livro em que a autora ou o autor é você, vá no seu rit-
mo! Em alguns momentos, você vai querer descansar dessa autobusca
e é natural se afastar um pouco dessa interiorização. Outras vezes, você
vai se entusiasmar tanto com os mistérios que for descobrindo sobre
si, sobre as conexões do passado que se repetem no presente e sobre
os links entre um acontecimento e outro, que vai querer fazer mais de
um exercício por dia. É natural, e é maravilhoso também!
10 O Livro de Afrodite
Preciso ler o que escrevi?
É natural que os textos e as perguntas deste livro te coloquem em
estado pensativo. Um exercício pode te acompanhar durante toda uma
semana e trazer novos insights e reflexões. Portanto, no final de cada se-
mana, reescreva aquilo que você pensou em reescrever. De tempos em
tempos, refaça os exercícios e se pergunte: “O que mudou?”. Essa parte é
superimportante. É autoconhecimento puro. Você vai lapidando a pedra
bruta, e o que ficar realmente é seu. Mas isso só é possível quando você se
entrega o máximo possível e sem julgamento. Você está disposta(o) a isso?
Se você for terapeuta, também pode incrementar o seu método de
trabalho com os insights que tiver a partir do Livro de Afrodite.
Este livro pode ser relido em diversas fases da vida. Em cada momen-
to, vai ser uma descoberta diferente. Você vai perceber que informações,
que antes tinham passado batidas, agora parece que foram escritas espe-
cialmente para essa fase pela qual você está passando.
Se você está lendo este livro pela segunda, terceira ou quarta vez na sua
vida (e ele já está todo preenchido, grifado e rabiscado); se você adquiriu
a versão digital ou se, simplesmente, você quer mais páginas para liberar
o conteúdo inconsciente que há em você, acompanhe com um caderno
ao lado, reservado exclusivamente para anotar as suas respostas, insights
e reflexões.
Escrita terapêutica não é um ato de criar um sarcófago de palavras, a
serem enterradas. Está mais para um altar, em que frequentemente volta-
mos para olhar o que nos é mais sagrado (nós mesmos em essência, com
nossas emoções e sentimentos), recapitularmos o que ocorreu entre uma
prece e outra, e atualizarmos com novos direcionamentos.
Por isso, separe um caderno para as respostas. E em cada resposta
dada, deixe o dobro em branco e siga para a próxima questão somente
depois dessa lacuna. Por exemplo, se sua resposta deu uma página, deixe
mais duas em branco. Ao longo da semana, sempre que a questão voltar
à sua cabeça, releia a resposta e acrescente mais ideias. Depois de um
mês ou a qualquer tempo, faça o mesmo. Se pergunte “o que mudou?”,
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“Ainda me sinto assim frente a isso?”, “O que fiz ou deixei de fazer para
melhorar?”.
O texto não está morto. O texto é vivo tal qual você é, tal qual sua
Afrodite se transforma dentro de você.
12 O Livro de Afrodite
Eu sou a Deusa.
É urgente para o seu Self que você se lembre de que há alguma coisa
de especial em você, porque realmente há. Não é arrogância ou prepotên-
cia. Mas esse “quê” de especial te acompanha desde que você foi criada.
Só você tem a sua história e só você pode afetar o mundo da forma que
você é capaz.
Talvez, até agora você não tenha conseguido nomear o que é esse
“algo especial”, e nem precisava. Mas recordar é da ordem do dia. Esse
relembrar da força interior, do seu poder pessoal, é o que fará toda a di-
ferença no processo de assumir essa parte Afrodite do seu inconsciente.
É o que lhe dará o fôlego e a confiança necessários para assumir o seu
aspecto divino.
Vamos fazer um teste agora!
Repita: “A Deusa mora em mim”.
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Quais sensações essa frase despertou em você?
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Por que a escrita
terapêutica?
Sim. Você vai escrever esse livro junto com a gente! Até porque essa é
a sua Afrodite, e isso é algo pessoal e intransferível.
As características de determinado arquétipo se manifestam e se adap-
tam de formas singulares na vivência especial de cada um, e é inclusive
necessário que isso aconteça: dar a sua assinatura ao complexo que te guia.
Mas isso é assunto para as próximas páginas...
Você vai escrever este livro porque escrever é uma forma de acessar
a si mesma(o) e fazer as vozes interiores serem ouvidas. Escrever é orga-
nizar o seu próprio mito. É também uma forma de entender e criar a sua
história.
E essa é uma das propostas d’O Livro de Afrodite. Conhecimento que
não se esgota nos pontos finais de cada parágrafo, mas que ressoa na sua
consciência e que promove um aspecto terapêutico também.
Por isso que a gente optou por esse método que funciona em duas
etapas.
Na primeira: informação, simbolismo e reflexão.
Na segunda: provocação, escrita terapêutica e convite à ação.
A escrita terapêutica é uma forma de catarse, autoanálise e autoco-
nhecimento que promove benefícios cientificamente comprovados para a
saúde mental e também para a saúde física e social.
Entre alguns dos seus pontos positivos estão a superação de traumas, o
controle emocional, a gestão da reatividade, a melhora no sistema imuno-
lógico, o apaziguamento da compulsão alimentar – e, com isso, o controle
do peso –, a melhora nos relacionamentos interpessoais, a evolução da
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criatividade e mais eficiência no trabalho e na vida.
Como essa mágica acontece? À medida que preenchemos as linhas
com os nossos pensamentos e emoções, trabalhamos com as duas áreas
do nosso cérebro em conjunto: a racional e a emocional. Assim, podemos
canalizar e analisar as nossas emoções, e solucionar questões, de forma
criativa, para os nossos problemas cotidianos.
O renomado jornalista científico Daniel Goleman escreveu sobre essas
duas áreas do cérebro como uma delicada sinfonia em que, para a execu-
ção perfeita da música, um lado deve cooperar mutuamente com o outro,
eles são interdependentes. Assim, o autor afirma que: “(...) quando são
as emoções que dominam, o intelecto não pode nos conduzir a lugar ne-
nhum”, nosso racional fica inoperante. E o oposto também é verdadeiro.
Segundo ele, “o intelecto não pode dar o melhor de si sem a inteligência
emocional”.
Nesse sentido, vemos a escrita terapêutica como o maestro capaz de
equilibrar o nosso lado mais racional e também a inteligência emocional.
Ela extrai o melhor dos dois mundos.
Essa é a visão da neurociência, mas há também a da Psicanálise. Her-
deiro do pensamento de Freud, o psicanalista francês Jacques Lacan decla-
rou que “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”, e é através
dela – seja falando, lendo e, também, escrevendo – que conseguiremos
chegar aos conteúdos e imagens que povoam a nossa psicologia mais pro-
funda.
A escrita terapêutica é uma técnica bastante acessível. Você só precisa
de papel, caneta, vontade de escrever e solitude para se concentrar nesse
processo de interiorização.
O poeta cubano José Martí tem uma frase famosa: “Há uma coisa que
um homem deve fazer na sua vida: plantar uma árvore, ter um filho e
escrever um livro”.
Brincadeiras à parte, no que diz respeito ao livro você já pode dar um
check na sua lista e começar a sua jornada! Você está prestes a escrever o
seu Livro de Afrodite!
16 O Livro de Afrodite
O que é arquétipo
e como ele pode
me ajudar?
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na astrologia, que ensina pelo amadurecimento; o arcano nove do tarot, o
Eremita, que se isola na natureza e alcança conhecimento... Quantas vezes
você já se deparou com um velho sábio? Ele parece que está em toda a
parte!
O velho sábio ou senex (como também é chamado), filósofo bondoso
que acalma e instrui com suas histórias, detentor daquela sabedoria que só
se consegue por meio do tempo, não é uma invenção de Hollywood. São
inúmeros os contos que se referem a essa figura ancestral. O velho sábio
é um dos muitos padrões lógicos atemporais identificados ao longo da
história das culturas.
E por que essa figura se repetia em tradições distintas e foi tão forte a
ponto de sua imagem chegar até nós? Por que povos separados no tempo
e no espaço se referiam com a mesma reverência ao velho sábio? Trata-se
da observação da natureza das coisas, a natureza da qual fazemos parte. O
velho sábio incorpora características que fazem parte da natureza, assim
como nós.
O mitólogo Joseph Campbell, depois de estudar uma infinidade de
tradições antigas, afirmou que, na maior parte das mitologias, as deidades
– por exemplo – são personificações de energias da natureza, e que essas
energias estão também dentro de nós, uma vez que também somos forma-
dos por partículas da natureza.
O velho sábio, então, é a fórmula consciente de um padrão da natu-
reza. A constatação de que a experiência do tempo traz a capacidade de
adquirir sabedoria e dominar o modus operandi da vida.
Esse sereno portador do conhecimento do tempo e das coisas, o ve-
lho sábio, portanto, personifica uma energia, uma força natural que vive
no inconsciente. O psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung enxergava isso
como um modo herdado de funcionamento psíquico, um conteúdo que
seria eternamente comum ao espírito humano e que renasceria de novo
em cada novo ser humano: um arquétipo.
Os arquétipos, na Psicologia Analítica, são conteúdos do inconsciente
coletivo que assumem matizes diversas na vivência singular de cada pes-
18 O Livro de Afrodite
soa. Eles podem aparecer em fantasias, sonhos, rompantes criativos, ideias
delirantes, ilusões, complexos psicológicos...
O arquétipo do velho sábio é apenas uma das muitas potencialidades
que a natureza oferece a você. Talvez, você o desperte raramente, quando
dá um conselho legal a um amigo. Ou, quem sabe, você viva isso intensa-
mente no papel que representa dentro da sua família, por exemplo.
Determinadas fases da vida fazem com que diferentes energias dentro
de você assumam o controle dos seus modos de ser e de se expressar
no mundo. Várias dessas energias podem estar ativas ao mesmo tempo
também. Sabe quando, no trabalho, você ativa o velho sábio, dando con-
selhos aos colegas recém-contratados e explicando o entendimento dos
processos; e, em casa, em seus relacionamentos familiares, manifesta o
puer aeternus – a eterna criança que quer colo e nenhuma responsabilidade?
Pode acontecer também!
Mas muito antes da descoberta do inconsciente, de Freud analisar as
tendências à repetição e à construção de padrões e de Jung identificar e
nomear esses arquétipos, os antigos gregos (e vários outros povos) orga-
nizavam essas energias que estão em nossa psique e explicavam esses pa-
drões que assumem a direção da nossa vida. Eles os chamavam de deuses
e deusas.
Esses povos antigos trouxeram à superfície o simbolismo do incons-
ciente, daquela força que eles observavam dominar suas vidas interiores, e
as traduziram em fórmulas conscientes transmitidas pela tradição por seus
aedos contadores de histórias.
A saga de cada deus ou deusa ajuda a orientar a trajetória dos heróis,
heroínas, deuses e deusas que vivem no inconsciente de cada um.
Não estamos falando de algo religioso. Entender os arquétipos não é
negar a sua fé e passar a cultuar os deuses dos gregos. É, sim, absorver
o simbólico, pois o símbolo é a linguagem com a qual o inconsciente se
comunica e com a qual vamos nos comunicar com ele. Para nós, esses
deuses e deusas objetos de veneração serão vistos como a personificação
de uma energia que habita o indivíduo, e que deve ser sacralizada como tal.
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Para Joseph Campbell, esses mitos são “a sabedoria da espécie”, com
a qual “o homem conseguiu resistir e atravessar os milênios”. Como isso
funciona? O estudioso Mark Schorer escreveu uma definição bem didática
do que esses mitos são capazes de fazer na nossa vida. Ele escreveu: “Um
mito é uma imagem grande e controladora que dá significado filosófico
aos fatos da vida cotidiana, isto é, que tem valor organizador para a expe-
riência”. Sem ele, vivemos no caos de nossas próprias imagens, desejos e
conteúdos interiores. Os mitos fornecem um centro de apoio para enten-
dermos a nós mesmos a partir da sabedoria dos que vieram antes.
Os antigos deixaram em sua mitologia um catálogo detalhado de tipos
psíquicos e de padrões psicológicos que se recombinam e se repetem em
cada ser humano a seu modo. Eles nunca se esgotam e há sempre um mito
por ser descoberto e desvendado na natureza humana. Conhecer esse sis-
tema simbólico é uma forma de entender a si mesmo, se aceitar como
indivíduo e transcender, porque é só quando nos aceitamos que podemos
ser melhores ainda.
Mas, para isso, esse conhecimento deve ser resgatado das poeiras do
tempo, que o soterraram. É preciso escavar, tirar a poeira, traduzir a lin-
guagem dos símbolos e ter o êxtase de se reconhecer no mito. Só assim
essas forças da psique poderão ser reconhecidas e integradas em nossas
vidas com mais consciência e melhor proveito. Assim, encontraremos o
sagrado dentro de nós.
Você não precisa ser nenhuma intelectual para ser tocada por esse con-
teúdo. Confie!
Afrodite vai te pegar pela mão com amor e te iniciar nessa jornada!
20 O Livro de Afrodite
No princípio era o
amor...
E o amor estava com a Deusa, e o amor era a Deusa.
Muito se falou e ainda se fala sobre o amor. Fala-se tanto que, às vezes,
a impressão é que de tanto falar sobre ele, seu significado se perde no ar. O
sentido de amor foi esvaziado, e colocaram outra coisa em seu lugar. Ele
se reduziu à companhia, estar junto, trocar carícias, ter um par para exibir
por aí ou – e este último em nada tem a ver com o verdadeiro amor – te
fazer fugir ainda mais de você.
É senso comum que demonstrar amor é piegas, ridículo, sinônimo de
fraqueza ou de ingenuidade. Muito se discute sobre o amor, pouco se ama.
Talvez, o amor tenha virado uma coisa que pouca gente sabe o que é. Algo
que se perdeu na tradução.
O amor é muito mais do que ganhar flores e coraçõezinhos de choco-
late no Dia dos Namorados.
O amor criou tudo. Ele é a força suprema criadora do universo. Ele
é da dança de atração dos átomos. Ele é a Lei da Gravitação, que sujeita
todas partículas e matérias a um encontro, um em direção ao outro, e que
assim mantém cada coisa em seu lugar.
Ele é a profunda atração entre as moléculas, que se comprimiram mais
e mais, até explodirem num ato de paixão criativa – que alguns chamam
Big Bang – dando origem à toda a vida na Terra.
Ele é a união entre duas energias antagônicas que gerou você!
Ele é a cola capaz de agrupar pessoas em torno de uma ideia, família,
nação...
Inspira - revistainspira.com 21
Ele é o que fundou a civilização, essa ideia de um conjunto de pessoas
se organizarem de forma voluntária para a sustentabilidade do todo.
Não foi o fogo, nem a roda e, sim, um osso quebrado e cicatrizado.
Essa é a evidência científica que comprova que o que nos tirou da barbárie
e instaurou a civilização foi o amor. A antropóloga Margaret Mead defen-
deu isso por toda a sua carreira. Para ela, o fato de ter sido encontrado um
fêmur cicatrizado em uma cultura antiga é o primeiro sinal de civilidade.
Em sua linha de raciocínio, aquele ser humano que quebrasse a perna
em meio à natureza selvagem morreria: não poderia se salvar dos perigos,
beber água nos rios, caçar sua própria comida. Seria um peso para o grupo
e seria deixado para a morte, para se tornar presa dos predadores.
Mas há um osso cicatrizado. As evidências estão ali. Alguém dedicou
tempo e cuidado ao ferido até que ele estivesse recuperado. Essa pessoa
provavelmente abdicou de condições mais confortáveis que teria se esti-
vesse acompanhando o grupo, sem ficar para trás carregando o que pode-
ria ser entendido como um fardo. Isso é amor!
O amor é o oposto do “cada um por si”. Mas essa não deve ser uma
ideia muito legal dentro de uma sociedade cujos discursos são estrutura-
dos para a individualização, desintegração e, paradoxalmente, para o en-
fraquecimento da mente individual e coletiva.
Quando não temos certeza de que somos amados e o amor passa a ser
um conceito recalcado e pouco compreendido, transferimos uma espécie
empobrecida de amor para as coisas, para os objetos, para próteses que
farão nos sentirmos melhores – pois se não há amor, somos incapazes de
amar até a nós mesmos – e, dessa forma, as coisas (e não os seres) passam
a ter valor.
Nesse sentido, mesmo aquilo que é gente, e não coisa, passa a ser coi-
sificado para atender a esse buraco que criamos e que talvez ainda não
compreendemos muito bem que é: a falta de Afrodite.
22 O Livro de Afrodite
Por que Afrodite
precisa ser integrada?
E se eu te contar que houve uma época em que o grande regente espi-
ritual do mundo era intuído como uma mulher? E se Deus vivesse em um
corpo feminino? Que impactos essa simples mudança de princípio – do
masculino para o feminino – afetariam a maneira como vivemos? Será que
as mulheres viveriam com medo? Será que o amor seria encarado como
tolice? Os homens teriam que passar por tantas mutilações no Ser? Seria
pecado estar junto de quem se ama? Como usaríamos os recursos natu-
rais? Que status teria a arte e a beleza? Será que teríamos mais ou menos
guerras? O que significaria ser uma pessoa de sucesso nessa realidade dis-
tópica? Que valores seriam considerados virtudes?
Parece estranho, mas poderia ser assim. Tudo poderia ser diferente do
mundo como conhecemos hoje. Um dos primeiros temas artísticos de que
temos notícia na história da humanidade é uma representação da Deusa
nua – plena em seu corpo criador de vida, nutrição e reprodução – em
forma de estatueta, que foi batizada pelos arqueólogos como a Vênus
do Paleolítico. Ela data de aproximadamente 25.000 a.C. A partir disso,
o mitólogo Joseph Campbell ousou dizer que “A mulher é, portanto, o
primeiro ser adorado do mundo humano”.
Essa não é uma estátua isolada. Do oeste da França até o lago Baikal,
nas fronteiras da China, foram encontradas estatuetas no mesmo padrão.
A arqueóloga Marija Gimbutas dedicou grande parte da sua vida reu-
nindo, classificando e fazendo a descrição interpretativa de milhares de
artefatos colhidos no que sobrou das vilas neolíticas. Objetos simbólicos
que datavam de cerca de 7.000 a 3.500 a.C. Sua conclusão foi a de que
esses sinais apontavam para uma religião que venerava o universo como
Inspira - revistainspira.com 23
sendo o corpo vivo da Deusa Mãe Criadora, toda a criação era sua prole
e, portanto, descendente de sua divindade. A mulher encarnava o mesmo
mistério da natureza que fazia nascer, nutria e transformava.
De acordo com Marija, essa era uma sociedade matrilinear, pacífica,
que acolhia os homossexuais e tendia a um balanço econômico com base
na agricultura. Joseph Campbell traz a informação de que os únicos uten-
sílios de cobre encontrados nesse contexto eram ferramentas de arar o
solo, nenhuma arma. Não existem provas para que a gente pense que tudo
era um paraíso, e nem queremos te induzir a imaginar isso, mas o princípio
feminino estava bem integrado.
A partir de 3.500 a.C, os povos nômades indo-europeus e semitas te-
riam começado a chegar em massa nessas regiões da Deusa, alterando
todo o sistema e superpondo suas crenças de orientação patriarcal. Para
eles, Deus era um homem, divino pelas características guerreiras de caça,
dominação e competição; as mesmas características vitais para a sobrevi-
vência desses povos, que vivam do que encontravam no caminho.
A Deusa, una, todo-poderosa, detentora da vida e da morte, do amor e
da guerra, do prazer e do desprazer foi fragmentada em pedaços de si, em
deusas menores. É como no simbolismo do tarô: o esplendor da Impera-
triz se divide entre as rainhas dos arcanos menores.
Para cada fragmentação, um casamento com um deus dos povos do-
minadores, e um papel mais secundário. Algumas deusas, como é o caso
de Afrodite no panteão grego, eram tidas em um nível ainda mais inferior:
“selvagem”, “lasciva”, “perigosa”. As características dessa Deusa ainda
chocam em pleno século XXI: “Essa não é para casar”.
E já sabemos como isso continuou na história da mulher! Como ex-
plica Simone de Beauvoir em sua extensa pesquisa reunida sob o título O
Segundo Sexo, a mulher foi encarada como o Outro dentro da construção
do social, cuja referência, centro e base era sempre o Homem. O Outro é
a alteridade, aquilo que não é igual ao Nós. Que tipo de autoimagem uma
mulher, por mais empoderada que seja, podia construir de si dentro desse
modelo cultural? Que tipo de relação com o feminino (fora e dentro de si)
24 O Livro de Afrodite
um homem adotaria: repúdio, medo, impotência?
Com a aparição e a consolidação do cristianismo no Ocidente, entre
os séculos IV e XVIII, as coisas mudam de novo. Afrodite foi uma das
deidades antigas mais reprimidas pela nova cultura. Ela é ainda mais re-
baixada. Tudo que ela representava foi banido, repreendido, varrido por
debaixo dos panos. O prazer, a sexualidade, o que é belo, a espontaneidade
das emoções, o encantamento pelo mundo, as sensações, a imaginação e
o próprio feminino foram juntos com Afrodite. Todos foram excluídos
da hierarquia de valor e tratados como temas sujos e proibidos durante os
últimos séculos da história do Ocidente.
Há uma frase do escritor Stewart Farrar que afirma: “os deuses da an-
tiga religião sempre se tornam os diabos da nova”. Afrodite, a deusa grega
da sensualidade, beleza, inspiradora do amor e da união, não combinava
com as pretensões da moralidade cristã e foi transformada em um aspecto
demoníaco, algo a ser reprimido e até mesmo perseguido e queimado nas
fogueiras da Inquisição.
Os pecados capitais são a encarnação do sentir, o campo de Afrodite;
e Lúcifer, o diabo cristão, pega de empréstimo o codinome da deusa: “a
estrela da manhã”.
Mas como explica a Psicanálise: tudo o que é reprimido retorna, e re-
torna com muita força.
Freud escreveu certa vez que “Os instintos não se deixam reprimir; e
seria pueril imaginar que, no caso de serem reprimidos, só por isso dei-
xassem de existir. A única coisa que se pode conseguir é fazê-los retroce-
der do plano consciente para o do inconsciente, mas em tal caso eles se
acumulam perigosamente deformados, no fundo do espírito, e com sua
constante fermentação dão origem a inquietações nervosas, perturbações
e doenças”.
Essa tentativa de repressão colocou Afrodite na sombra, na camada
sufocada. E a conta não sai barata!
De onde você acha que vêm a liquidez dos afetos, a hiperexcitação
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por objetos, o desejo desviado do amor para o trabalho e a competição, o
enaltecimento do utilitarismo, do grotesco, o desencantamento pelo mun-
do, a falta de empatia pelo que é vivo e, claramente, o desamor? Tudo o
que é reprimido nesse sentido volta, como a pornografia no lugar do sexo,
suplantando o prazer das coisas como realmente são.
O corpo e as emoções são as únicas coisas que possibilitam consumo
infinito, declarou a socióloga Eva Illouz: “A partir dos anos 70, o capita-
lismo entendeu que o mercado de bens materiais é limitado por definição
– não se pode comprar cinco geladeiras ao mesmo tempo”. Mas enquan-
to há vida, haverá corpo e emoção para serem “melhorados”. O desejo
foi instalado e hoje Afrodite se tornou ela própria um produto. “Essa
crescente sexualização se produz em um contexto em que o indivíduo se
torna mercadoria. Hoje nos consumimos uns aos outros e mostramos o
espetáculo de nossos próprios corpos aos outros”, completa a estudiosa.
Por onde anda Afrodite?
“Aquilo que alguma vez ganhou vida sabe se manter de forma tenaz.
Às vezes, poderíamos questionar se os dragões dos tempos primevos re-
almente foram extintos”, escreveu Freud. Em outras palavras, todas as
acepções ou superstições humanas aparentemente superadas vivem para
sempre nas camadas mais profundas dos povos civilizados.
Mais que uma deusa ou um mito, Afrodite é, como afirmou Jung, um
arquétipo, algo inerente à psique humana – seja qual for a sua identidade
de gênero.
Afrodite foi relegada a uma camada profunda do inconsciente. Ela está
soterrada embaixo de escombros, ruínas, muita sujeira e peso criado pela
cultura. Ela deve ser resgatada em cada um de nós. É esse resgate que
dará a possibilidade da reparação de todas essas temáticas necessárias ao
desenvolvimento pessoal e coletivo.
Precisamos de Afrodite caso queiramos nos redescobrir humanos.
26 O Livro de Afrodite
“Me cobrir de
humanidade me
fascina e me
aproxima do céu”.
Zélia Duncan e Moska
Inspira - revistainspira.com 27
TESTE
Inspira - revistainspira.com 29
Se me acho bonita, me sinto bem para enfrentar o mundo.
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
Cuidar da minha aparência é uma das minhas prioridades diárias: atividade física,
banhos longos, cuidado com os cabelos, skin care e escolha do vestuário são presenças
fixas na minha rotina.
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
Gosto de ser acariciada por quem eu amo. Para mim, isso é uma forma de conexão.
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
Meu corpo é um território que eu gosto de desbravar por meio dos sentidos (me tocar,
me perfumar, me ver refletida no espelho, me escutar e saborear gostos que me causem
prazer).
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
A paixão é a chama que deve ficar sempre acesa para que o relacionamento dure.
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
30 O Livro de Afrodite
Me excito facilmente e frequentemente durante meu dia.
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
Quero uma casa confortável e bem decorada seguindo o meu gosto, com tudo aquilo que
eu acho mais bonito.
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
Minha vida social é bastante movimentada. Gosto de ter contato com pessoas!
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
Inspira - revistainspira.com 31
Eu era uma criança bastante desinibida, que adorava ser o centro das atenções.
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
Música, arte, cinema e teatro, moda e beleza estão entre os meus principais passatempos.
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
Gosto de apreciar a beleza em seus detalhes (ex.: numa paisagem, num quadro, numa
pessoa...).
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
Quando perco a atração por alguma coisa, não consigo continuar naquela situação.
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
Me considero uma pessoa “fogo de palha”. Me empolgo no início, mas isso não dura
muito.
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
32 O Livro de Afrodite
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
É uma decepção quando não curtem minhas fotos nas redes sociais.
Nada a ver comigo. Me identifico um pouco. Muito eu!
RESULTADOS
Mais “nada a ver comigo”
Afrodite em queda
Parece que a sua Afrodite interna está respirando por aparelhos. Tal-
vez, você tenha até sintomas físicos disso como TPMs de muito mal-hu-
mor, cólicas e dores de cabeça. Os antigos gregos eram sábios em dizer
que se deve reverenciar a todos os deuses. Caso contrário, você verá a
fúria deles em sua vida. Mas este é o livro que vai te ajudar com isso! Em
um nível simbólico, a fúria do arquétipo de Afrodite é vista quando essa
força do enamoramento pela vida, do amor e da vitalidade está debilitada
ou tratada como algo sujo, sombrio, dentro de você. Talvez você tenha
dificuldade em se relacionar com as pessoas e em encontrar o seu próprio
valor e a beleza na vida. A fúria de Afrodite também pode ser notada nos
excessos e em vícios de todos os tipos, em dependência emocional e baixa
autoestima.
Inspira - revistainspira.com 33
um pouco mais. Mais encantamento com o que há de belo na vida, mais
imaginação, mais sensorialidade, mais amor (por si e nas relações). Dar
mais espaço para a sua Afrodite interior é redescobrir o seu poder e mag-
netismo pessoais, relembrar que você é mais interessante do que imagina
e que o amor pode tudo.
34 O Livro de Afrodite
As faces de Afrodite
Personalidades fictícias e históricas que constelavam o arquétipo de Afrodite.
Cleópatra
A Rainha do Nilo é sempre lembrada por sua “vaidade” e “promiscuida-
de”. A história relegou à Cleópatra uma péssima reputação, mas não era
nada disso. A regente do Egito falava uma dúzia de idiomas, era extre-
mamente inteligente e curiosa com tudo. Entre seus interesses estavam a
beleza (ela foi autora de um famoso livro sobre o tema e tinha uma rotina
de beleza repleta de cosméticos e cuidados), a matemática, a filosofia, a
astronomia, as artes da guerra e a política. Ela agia de forma diplomática,
falando sempre na língua de seus interlocutores e usando a simpatia como
sua principal arma. Segundo a escritora Stacy Schiff, a rainha tinha a capa-
cidade de tornar os ambientes agradáveis com a sua conversa. Assim se-
duziu dois dos maiores chefes romanos de seu tempo: Júlio César e Marco
Antônio. Cleópatra era fruto de uma sociedade em que a mulher gozava
de liberdades e não via sua feminilidade como um tabu.
Inspira - revistainspira.com 35
Giacomo Casanova
Foi um escritor e aventureiro italiano. Prova de que Afrodite não é ma-
nifestada somente em mulheres – inclusive, por muito tempo os homens
se empossaram dos temas de Afrodite. O campo que Casanova gostava
de explorar era o terreno dos prazeres: a volúpia, a comida, a beleza e o
dinheiro eram as joias que buscava na sua jornada. Tudo era experiência!
Viveu como se o que apimentasse a sua existência fosse a variabilidade e
a troca, voltado a um Carpe Diem do prazer, o que o fez também um tra-
paceiro, falseteando a voz conforme a música que os poderosos queriam
ouvir.
Madame Bovary
Quando Gustave Flaubert lançou esse romance em 1856, recebeu uma
série de acusações da crítica puritana e foi inclusive levado aos tribunais
por atentado ao pudor. “Como poderia uma mulher decidir sua própria
vida?”, argumentavam os advogados de acusação. Emma Bovary é uma
mulher movida por fantasias sobre o amor. Para ela, o amor seria aquilo
que imaginava nos romances-folhetins que lia. Isto é, um portal para uma
vida de encantamento e felicidade perpétua. Quando se casa, a vida mor-
na que leva lhe causa uma enorme frustração. Emma vive entre o mundo
real e o de suas idealizações. A filha que tem com o marido é, inclusive,
relegada ao abandono materno. A partir de então: tédio, consumismo, es-
capismo e adultério, os sintomas de uma Afrodite em desequilíbrio.
36 O Livro de Afrodite
Elizabeth Taylor
A atriz que deu vida à Cleópatra na era de ouro de Hollywood subiu ao
altar oito vezes. Um de seus maridos chegava a ser 20 anos mais velho que
ela, e um de seus namorados, 30 anos mais jovem. Antes de completar
18 anos, um magnata do ramo cinematográfico ofereceu uma quantia em
dinheiro para que Elizabeth se casasse com ele, ela negou. Ao que parece,
mesmo conturbados, seus relacionamentos eram fruto de seu próprio de-
sejo. Já foi chamada de “destruidora de lares” por se relacionar com um
homem casado e chocou a sociedade americana quando revelou que tinha
um relacionamento aberto com seu quinto marido. Cada um tinha diver-
sos amantes e viviam rodeados de diamantes, pinturas e beleza.
Carmen
A cigana espanhola da ópera de Georges Bizet foi uma personagem iné-
dita em sua época. Carmen é uma mulher que tem a liberdade como guia.
Ela escolhe o seu próprio destino e não parece sentir culpa por ter um
comportamento considerado “amoral” ou volúvel quanto aos parceiros
com que se relaciona. “O amor é a cria do boêmio. Ele nunca jamais
conheceu qualquer lei”, canta a cigana na habanera, que continua com um
alerta: “Se eu te amo, tome cuidado”. Carmen seduz os homens com sua
sensualidade e, por não poder ser quem ela é, tem um triste fim. O filósofo
Friedrich Nietzsche chegou a assistir a essa ópera 20 vezes: “Finalmente,
o amor, amor traduzido novamente em natureza. Não o amor de uma
‘virgem suprema’! Mas amor como uma fatalidade, cinismo, inocência,
crueldade e precisamente como uma peça da natureza!”, descreveu ele em
uma carta.
Tristão
O protagonista do conto medieval Tristão e Isolda corajosamente escolhe o
amor em vez do casamento, a instituição social que, na época em que se
passa a história, transformava as alianças políticas e financeiras em uniões
familiares. Tristão se descobre enamorado da prometida do tio e mesmo
com o destino de morte e angústia que o aguarda como punição, ele aceita
o amor.
Inspira - revistainspira.com 37
Maria Antonieta
A rainha guilhotinada da França era dada à noite parisiense, onde nos
bailes de máscaras podia se libertar da figura de rainha e viver os prazeres
do flerte e da interação com as pessoas. “Para a jovem Maria Antonieta
nada além de seu próprio prazer é importante nesse mundo”, escreveu
Stefan Zweig. Ela gostava também do teatro, chegando a atuar em algu-
mas peças da corte. Para essas peças, só convidava as pessoas de quem ela
gostava, excluindo boa parte da nobreza e alimentando a perseguição que
muitos tinham com ela. Cercada por pressões políticas e pelas cobranças
da parte da mãe, que a cobrava um filho e mais influência na governança
da França, Maria Antonieta usava a moda como uma ferramenta política,
para se aproximar dos camponeses, como por exemplo quando trocou os
espartilhos por calças e roupas mais leves; ou mesmo para se impor dian-
te de uma nobreza que não a levava a sério. Ela inventava tendências de
comportamento e contornava a tradição e a opressão que lhe cabia com
a sua criatividade.
Helena de Troia
A rainha espartana é, na Ilíada, o elo que liga os eventos da Guerra de
Troia. Considerada a mulher mais bela do mundo, Helena se torna propina
nas mãos da Deusa da Beleza. Afrodite oferece o amor de Helena a Páris,
de Troia, para que ganhe um concurso. Helena, porém, já é casada com
Menelau, e o resultado disso é uma guerra de dez anos. Desde antes de se
casar, no entanto, seu pai vivia preocupado com a fúria que a escolha de
um cônjuge para Helena geraria nos demais pretendentes. Todos os ho-
mens queriam tê-la como troféu e se aproveitar de sua carne. Mas, dentro
de seus limites, Helena conduzia suas próprias escolhas. A personagem
fala dos desafios de encontrar prazer e fidelidade a si mesma em uma so-
ciedade que a objetifica, e da necessidade de criar seus próprios caminhos.
Claude Monet
Apesar de Afrodite ser a deusa de todos os artistas, as pinturas de Monet
traduzem o arrebatamento pelo simples, por aquilo que nossos olhos já
38 O Livro de Afrodite
estão acostumados a ver. Sua musa inspiradora era a natureza, um passeio
pelo campo, a luz do sol incidindo no lago de sua fazenda em Giverny,
lugar no qual ele criou seu éden pessoal, jardins paradisíacos e um ambien-
te digno de um mundo mágico: mas era apenas a boa e velha natureza.
Monet se demorava nas paisagens que o cercavam e conseguia encontrar
e sentir a beleza em todo lugar, integrada a sua vida. Como ele mesmo
afirmou: “Todos os dias eu descubro mais e mais coisas bonitas. É o sufi-
ciente para enlouquecer”.
Madonna
Quando ninguém parecia ter coragem de fazer, a cantora foi lá e falou
de masturbação feminina, virgindade, sexo antes do casamento, homos-
sexualidade e a própria vivência erótica das mulheres. Madonna foi alvo
de muitas críticas, teve trabalhos censurados, o Papa protestando contra
ela, a polícia tentando invadir seu show e uma greve de trabalhadores que
pediam como exigência que ela não se apresentasse em Roma. Madonna
trouxe a discussão sobre a igualdade feminina para o assunto do dia e isso
gerou consequências culturais que podemos ver em todo lugar.
Inspira - revistainspira.com 39
bRINDE exclusivo
Meditação
A Meditação de Ativação de Afrodite e a Meditação do Amor-Próprio estão
dentro do pacote que você baixou. Elas são pontes para você se conectar
com sua Afrodite interior.
O amor-próprio é um dos mais importantes ensinamentos que a Deu-
sa Afrodite nos deixa: ao aprendermos a nos amar, com todas as virtudes
que orbitam o amor-próprio, também amamos o outro, pois a aura do
amor envolve tudo o que está ao redor. Esse é o poder transformador e
transmutador para a criação de um mundo com mais amor e beleza.
Indicamos que faça as meditações antes ou logo após interagir com O
Livro de Afrodite – ou sempre que se lembrar.
As meditações contêm poderosas afirmações para despertar a sua
Afrodite interior. Essas afirmações devem ser repetidas mentalmente com
atenção, intenção e convicção.
A prática meditativa proporciona benefícios físicos e emocionais, com-
provados por pesquisas científicas: redução do estresse, controle da an-
siedade, ajuda na qualidade do sono, favorece o autoconhecimento. Esses
são alguns dos seus pontos positivos.
A meditação é, sobretudo, uma prática de autocuidado: uma das joias
de Afrodite.
As crenças de
Afrodite
Crenças são padrões de pensamento que se transformam em experi-
ências ao longo das nossas vidas. Elas podem ser aprendidas dentro de
casa, com a visão de mundo da nossa família; podem ser observadas do
comportamento alheio ou criadas a partir de experiências anteriores im-
pactantes.
Seja qual for sua origem, boa ou ruim, esse padrão de pensamento
tende a virar padrão de repetição, pois buscamos inconscientemente ma-
neiras de testar que estávamos certos sempre que possível. O ego quer se
proteger e a regulagem automática do desprazer nos induz a sofrer com
o que é familiar!
Silvia, por exemplo, é uma conhecida de longa data. Ela, certa vez, se
abriu e contou a triste sina da sua vida amorosa. Sua mãe era uma mulher
bastante insatisfeita com seu casamento. Ela visivelmente não gostava de
estar casada com o marido e sentia que essa união era uma prisão, que a
deixava sem liberdade ao lhe colocar uma pilha de responsabilidades nas
costas. A questão é que ela condensava essa amargura em uma frase que
repetia constantemente para Silvia e suas irmãs: “Homem nenhum pres-
ta”.
Tomando as dores da mãe, com quem passava mais tempo, Silvia nun-
ca desenvolveu uma relação amigável com seu pai. Sempre se questionava
sobre o caráter dele. Demorou demais para chegar em casa? “Homem
nenhum presta”. Encontrou uma conhecida na rua? “Homem nenhum
presta”. Atendeu o telefone e falou baixinho? “Homem nenhum presta”.
Mais tarde, quando Silvia começou a namorar, ficou com isso na ca-
beça de que nenhum de seus parceiros prestava, e que era só questão de
tempo até eles revelarem essa face para ela.
Inspira - revistainspira.com 41
Com isso, ela vivia sempre com um pé atrás em seus relacionamentos.
Não se permitia amar de verdade, não demonstrava carinho e não se abria
para uma troca profunda. Ela não queria ser a tonta aos olhos da sua mãe.
Enquanto a crença que Silvia aprendeu na infância estava inquestiona-
da, intacta, ela podia arranjar o namorado mais gentil, carinhoso e apaixo-
nado... O relacionamento de alguma forma azedava, e isso só confirmava
para Silvia o que ela já sabia: “Homem nenhum presta”. Nenhum deles
queria um relacionamento sério ou a amava de verdade, todos só a supor-
tavam pelo tempo que podiam, querendo algo em troca.
Ao mesmo tempo, esses términos traziam uma espécie de alívio a ela,
por não ter se envolvido tanto com esse tipo de cafajeste. No final, ela
confirmava que estava certa!
Por fim, depois de muitos namoros fracassados e se sentindo mal-ama-
da, Silvia começou a se sentir mal com ela mesma. “Minha melhor amiga
tem um relacionamento que já dura anos. Penso que talvez ele a esteja
enrolando e que é questão de tempo para que ela descubra alguma traição.
Mas vejo os dois juntos e não deixo de sentir uma pontada de inveja. Por
que só eu não consigo um cara legal?”, indagava ela.
Esse é um exemplo bem simples, que envolve Silvia e sua crença de
que ninguém nunca vai ser bom o suficiente para ela, o que de fato acon-
tecia, já que ela não mantinha nenhum relacionamento por mais de um
ano. Silvia transformava sua crença em atitudes, à medida em que reagia ao
namorado já supondo sua “imprestabilidade”. O resultado da sua indução
não poderia ser outro: crença confirmada.
As vivências e a subjetividade de cada pessoa vão desenvolver crenças
específicas. Essas crenças podem ser limitantes ou estimulantes. Elas po-
dem nos podar ou nos fazem florescer.
Para o filósofo grego Platão, por trás de nossa realidade material e
sensível há uma realidade abstrata, o Mundo das Ideias, que cria mode-
los perfeitos de todas as coisas que existem. Essas ideias perfeitas seriam
replicadas na realidade, onde estariam sujeitas ao erro. Podemos enxergar
aí um conceito similar ao que estamos comentando aqui: as ideias criam
42 O Livro de Afrodite
padrões que se manifestam na realidade.
A verdade é que a maioria das coisas que acontecem na sua vida, prin-
cipalmente aquelas que se apresentam como um padrão – repetindo-se
sem parar –, tem uma crença por trás que a sustenta.
Uma forma de observar isso acontecendo na prática é analisar a sua
realidade atual e se fazer a pergunta: No fundo de mim e sendo bem sincera, qual
é a crença que eu tenho que ressoa com essa situação que estou vivendo, seja ela positiva
ou negativa? Se você precisa de um empurrãozinho para sair do superficial
e chegar a conclusões mais profundas sobre isso, um psicanalista pode te
ajudar!
Veja só algumas das crenças que observamos na personalidade da mu-
lher que tem Afrodite como um arquétipo dominante ou oprimido. Mar-
que um X ao lado das afirmações que são verdadeiras para você.
Inspira - revistainspira.com 43
Estou satisfeita com a pessoa Eu não consigo me satisfazer!
que sou!
Quem me ama deve fazer de
Fale bem ou fale mal, fale de tudo por amor!
mim.
Se eles realmente me amassem,
Não deixe para amanhã o que eles iriam _________________
você pode fazer hoje. (complete com o que você acha).
Quem não é visto, não é lem- Sozinha não dá.
brado.
Adoro novidades e enjoo fácil
Todos devem gostar de mim. do que é rotina!
Se eu seguir meus próprios Figurinha repetida não com-
interesses, os meus relacionamen- pleta álbum.
tos irão sofrer.
Águas passadas não movem
Se eu deixar que as pessoas, moinhos.
realmente, me conheçam, elas não
Não se pode ter tudo: ou se é
vão gostar de mim.
inteligente ou bonita.
Eu preciso fazer os outros
Os homens têm medo das
felizes para não ser rejeitada.
mulheres bem resolvidas.
Eu preciso provar meu valor.
Sexo é sujo/pecado/besteira.
Amar é sofrer.
O que eu sinto é soberano.
Não existe rosa sem espinho.
As coisas prazerosas escondem
perigos e machucam.
Não existe ninguém merece-
dor do amor que eu tenho para
dar.
Eu devo me sacrificar por
amor.
Meu cupido é ruim de mira/
Só tenho dedo podre.
44 O Livro de Afrodite
Nasce uma Deusa
Adulta, bela, impenetrável e, ao mesmo tempo, fecunda. Assim a Deu-
sa da Beleza teria saído do mar logo após ser gerada. É isso que conta a
versão mais famosa do nascimento de Afrodite, pelo poeta Hesíodo.
Aqui, a Deusa da Sensualidade criou-se do encontro dos testículos co-
bertos de sêmen de Urano com as águas do mar. Ela nasce de um ato de
violência, castração e de um projeto de traição de filho (Cronos, o senhor
do tempo) e mãe (Gaia, a materialidade) contra o espírito incoercível e
criador – e ao mesmo tempo destruidor – do pai, Urano, “o céu estrela-
do”, que insatisfeito com suas criações, empurrava-as de volta ao ventre.
O caráter doloroso da criação de Afrodite é sutilmente captado pelo
pintor florentino Sandro Botticelli na bem-afamada obra O Nascimento de
Vênus. Nela, a Deusa do Amor surge de dentro de uma concha.
Como lembra o texto do autor e psicanalista Rubem Alves, cujo título
condensa perfeitamente a situação do nascimento da deusa, Ostra feliz não
faz pérola.
Assim como as ostras produzem preciosas pérolas a partir de invasores
(grãos de areia, detritos, parasitas) que ameaçam a sua integridade, o mito
conta que a beleza nasce da força de sublimar as adversidades, dar um sen-
tido às inquietações e tirar proveito dos acontecimentos, usando-os como
trampolim para a autoexpressão e a transformação rumo à totalidade.
“Pessoas felizes não sentem a necessidade de criar. O ato criador, seja
na ciência ou na arte, surge sempre de uma dor. Não é preciso que seja
uma dor doída... Por vezes a dor aparece como aquela coceira que tem o
nome de curiosidade”, resume Rubem Alves. E isso é a cara de Afrodite!
A professora e pesquisadora da literatura grega Giuliana Ragusa afirma
que essa castração de Urano consequentemente desbloqueia o ventre de
Gaia, permitindo que novas gerações fossem criadas e trazendo consequ-
ências decisivas para o cosmos.
Inspira - revistainspira.com 45
É do falo caído de Urano que surge a dualidade e a complementarieda-
de dos opostos. É da assunção do Tempo (Cronos) que nasce a dualidade,
nascimento e morte. Do sangue de Urano, surgem as Eríneas, os Gigantes
e as Ninfas Freixos: forças de conflito. De seu esperma, o oposto comple-
mentar, a força da união e do amor concretizada em Afrodite.
Depois de ferido por Cronos, esse potencial criativo e rebelde contido
em Urano some, não ficando claro para onde ele vai. Segundo a autora
Liz Greene, podemos entender que ele entra para o inconsciente, para as
camadas mais profundas, e já não é mais acessível aos seres humanos, a
não ser por meio de seus filhos (Prometeu é o mais famoso deles) ou das
deidades que surgem a partir de sua ferida, como Afrodite. Uma vez que
acessando o mundo da beleza e da harmonia dessa deusa conseguimos
chegar ao espírito do inefável.
Para o estudioso de mitologia Junito Brandão, a ascensão e nascimento
a partir das águas conota a evidente relação de Afrodite com o poder fer-
tilizante das águas divinizado em Astarté, a deusa fenícia da fecundidade,
uma ancestral da Deusa e uma das antigas deusas portadoras do simbo-
lismo feminino da Grande Mãe, que foi perdendo força ao passo que o
patriarcado avançava e foi sendo cada vez mais mutilada em seus poderes
para caber em sociedades que oprimiam a mulher, como foi – a título de
exemplo – a Europa Medieval.
A verdade é que Afrodite é como um estranho no ninho no panteão
grego. Suas origens são obscuras e associadas por muitos estudiosos aos
cultos originados da Ásia. Para alguns deles, trata-se de uma divindade
oriental absorvida e adaptada ao sistema grego a quem eles tinham o má-
ximo respeito por conservar seu lado selvagem, “bárbaro” e perigoso.
Imagine como era vista a pulsão passional em uma sociedade que ficou
conhecida por sua filosofia e pelo zelo à razão? A experiência dolorosa do
amor, o coração partido e a rejeição eram muitas vezes incompreendidas.
Tendo sido colocadas pelos poetas da época até mesmo como “doença” e
“insanidade”, escreveu Carson.
Ainda assim, os gregos tinham uma sabedoria que os de nosso tempo
46 O Livro de Afrodite
não tivemos. Eles reservavam para ela um altar cativo, pois sabiam que
quando maltratada e ignorada é que seu ataque poderia ser ainda mais
nocivo, deixando a vida sem graça, insossa e incompleta.
Da perspectiva mítica grega, caso não queira ver sua fúria lançada em
sua vida, deve-se reverenciar a todos os deuses, procurando integrá-los em
cada parte da sua vida.
DENTRO DA CONCHA
Qual é a areinha na concha que tem te perturbado e in-
quietado e que te trouxe a essa jornada? Quais foram (ou
são) as grandes adversidades ou inquietações mais sim-
ples que atravessaram o seu caminho? Que parte elas têm
na construção da pessoa que você é hoje?
Inspira - revistainspira.com 47
AS DORES DO PARTO
Como você lidou a vida inteira com essa Afrodite que vive
em você? Essa parte amorosa, amável, buscadora de pra-
zer, dona de si e cheia de vida? Para você ela se parece
mais com uma “doença” e uma “insanidade”? Você a dei-
xava emergir das águas ou a afogava de volta nas profun-
dezas do inconsciente?
48 O Livro de Afrodite
As fases de Afrodite
Infância
Assim como Atena, Afrodite já nasceu adulta. Saiu do mar caminhan-
do graciosamente e com a leveza que só carrega quem é dona da própria
vida. Dessa mesma forma, a criança que constela o arquétipo da Deusa é
daquele tipo que adora vestir as roupas dos pais e está sempre atraída por
referências mais adultas na construção de sua persona e comportamento.
Ela é a primeira a fazer perguntas constrangedoras para os adultos como:
da onde vem os bebês ou por que ela ainda não usa sutiã igual ao da ma-
Inspira - revistainspira.com 49
mãe?
Por isso, é preciso sempre trazer essa pequena Deusa do Amor de volta
à infância, para que ela não limite essa fase da vida se tornando uma adulta
precoce.
Essa sua curiosidade nata e a falta de inibição em ser autêntica fazem
com que sua presença não passe despercebida. Jean Shinoda Bolen es-
creveu que a pequena Afrodite é sempre a criança “engraçadinha”, que
encanta as pessoas por onde passa, de maneira espontânea ou intencional.
Muitas vezes, ela adora estar sob o olhar dos outros!
Com essa personalidade tão marcante, não é muito incomum que a pe-
quena Afrodite tenha passado a infância buscando se tornar a nova estrela
infantil, o bebê da propaganda de shampoo ou participando do concurso
de Miss da sua cidade – sobretudo motivada pelos familiares, que diziam
que ela tinha tudo para estar na televisão ou, hoje em dia, sendo uma fa-
mosa influenciadora digital.
Alguns pais enfatizam demais essa docilidade na criança, cobrando
dela ainda mais simpatia e amabilidade, como se seu amor dependesse
disso. Por esse motivo, crianças Afrodite tendem a desenvolver a Síndro-
me da Boazinha, uma verdadeira compulsão em querer agradar sempre,
que gera dificuldade em se impor na vida, bloqueio em acessar seu ímpeto
necessário à autodefesa e ao amadurecimento, grandes frustrações e so-
frimentos ao tentar sempre ser perfeita aos olhos dos outros, e não plena
em si mesma.
Nessa fase, é preciso estimular a autenticidade da criança sempre que
possível, reforçar que ela pode ser ela mesma ainda que ninguém aplauda,
ria ou a chame de “fofinha”. Caso contrário, essa Afrodite mirim pode as-
sumir um aspecto negativo, que inclusive pode silenciar a própria potência
do arquétipo de Afrodite em si. Isso pode levá-la a depender sempre da
validação externa para se sentir bem com seus atos, seu corpo, seus ques-
tionamentos e suas formas de se expressar no mundo.
Outra frase bastante comum na rotina das crianças Afrodite é, quando
menina: “Espere ela crescer que vai dar trabalho com os namoradinhos”.
50 O Livro de Afrodite
Ou ainda, quando estamos falando do arquétipo de Afrodite atuando em
um menino: “Esse vai arrasar muitos corações!”. É como se assuntos que
deveriam ser postergados para uma fase mais à frente no desenvolvimen-
to da criança, tais como namoricos e a própria sexualidade/sensualidade
implícitos aí, fossem adiantados e trazidos como pauta do dia na vivência
infantil dos que vivem sob a influência dessa Deusa.
Quando acontece de Afrodite criar morada em um menino, especial-
mente, essa criança pode ser também bastante incompreendida pelos pais
no que se refere a sua espontaneidade nas emoções e seu gosto pela lite-
ratura, cinema, desenhos ou qualquer tipo de arte. Com a cabeça cheia
de preconceitos e apoiadas em discursos machistas de que “homem não
chora” e de que “desenhar é coisa de maricas”, por exemplo, essa criança
pode acabar sufocando seus talentos e formas de expressão que além de
serem parte de sua essência, são essenciais como mecanismos de regula-
ção psíquica.
Adolescência
Na puberdade, a jovem Afrodite passa a ter impulsos sexuais fortes
e constantes, e se não encontrar um grupo de amigas que falem sobre o
assunto com normalidade, se sentirá uma estranha no ninho.
É comum que essas garotas Afrodite iniciem suas vidas sexuais mais
cedo que as demais, quando não controlam seus instintos com a força de
alguma outra deusa como Atena ou Ártemis atuando em suas psiques.
Em lares onde as informações sobre sexo ficam encobertas em uma
névoa de pecado e vulgaridade ou onde esse assunto é evitado por algum
tipo de constrangimento, essas garotas podem meter os pés pelas mãos e
acabarem em uma gravidez indesejada ou infectadas com doenças sexual-
mente transmissíveis.
Outra consequência dessa falta de diálogo sobre o assunto, é a má
reputação, o afastamento das colegas mais “santinhas” e a aproximação
de meninos que só a veem como alguém para sexo, alguém “sem valor”.
Inspira - revistainspira.com 51
Nessa fase, se ver através do olhar dos outros com imagens tão carregadas
de preconceito e crítica pode formar na adolescente Afrodite uma imagem
ruim dela mesma, como alguém que não presta, não vale a pena, que não
serve para nada além de sexo, que é suja, que nunca encontrará amor ou
de que nunca será alguém na vida.
Algumas meninas nessa fase recalcam sua latência sexual e a destina
ao mundo da imaginação onde criam fantasias românticas e sexuais com
famosos.
Além da desinformação, alguns pais podem mandar mensagens confli-
tuosas para essa Afrodite iniciada. Por vezes mostrando uma face liberal,
com discursos de empoderamento e feminismo, outras vezes a punindo
ou a julgando por seus avanços no campo afetivo-sexual. De acordo com
a psicoterapeuta e escritora Jean Shinoda Bolen, essa atitude permite a
esses pais que possam ao mesmo tempo serem “voyeurs” – e assim revi-
verem a juventude e a excitação sexual de maneira vicária, por meio das
experiências da filha – e defensores da moral e dos bons costumes.
Dessa maneira alguns pais se tornam como que carcereiros do prazer
controlando as roupas da filha, a cor do seu batom ou do esmalte nas
unhas, o comprimento do vestido, os lugares aonde ela vai e com quem,
as impedindo de marcarem encontros e expondo essas meninas a ver-
dadeiros interrogatórios a todo instante. Os discursos são impregnados
de impressões negativas sobre relacionamentos, sexo, amor e homens e
acusações que fazem a garota Afrodite se sentir culpada de sequer ter tido
desejos sexuais.
Sob essa mentalidade, a menina aprende que sua Afrodite tem que
ser mantida presa. Poucas são as que conseguem manter a deusa viva e
pulsante (ainda que com responsabilidade) durante essa fase. Na maioria
das mulheres, independente da classe social, há sempre um nível de desco-
nhecimento acerca do próprio corpo, desinformação sobre como manejar
seu próprio prazer e fertilidade e padrões negativos com relação ao amor
e aos relacionamentos.
As mulheres carregam as marcas do cárcere para a vida adulta, onde
52 O Livro de Afrodite
terão que fazer um trabalho de resgate da Deusa. E essas marcas vão da
supressão de seu Ser à sintomas psicossomáticos de muitas naturezas.
Adulta
A cultura pop criou uma imagem de Afrodite completamente moldada
a partir do olhar masculino e de suas relações feridas com o feminino. Mas
Afrodite não é a femme fatale destruidora de lares que nos fizeram engolir. E
ela também não é o sinônimo de seios volumosos, decotes profundos, ca-
belos louros ou seja qual for o padrão de beleza da época. Nem tampouco
é a mulher que usa seu corpo como moeda de troca.
A mulher Afrodite reconhece a beleza nas coisas e em si e está con-
fortável consigo mesma ainda que esteja sem maquiagem e com um jeans
velho. Isso não impede que ela se divirta escolhendo seu próprio estilo de
se vestir ou de liberar a artista plástica que tem nela ao se maquiar. Muito
menos que ela encontre satisfação nas rotinas de cuidado com a pele e faça
delas um verdadeiro ritual de culto a si mesma. Não é narcisismo, nem
vaidade, é autoestima saudável e autogenerosidade.
Dificilmente segue conselhos dos outros, ela faz a sua própria lei. Ela
vê a vida com leveza e assim se movimenta, atraindo a atenção curiosa de
todos que querem se alinhar a essa energia tão rara de prazer por viver.
É esse o motivo de seu grande magnetismo pessoal. Por onde ela passa,
as pessoas se encantam com ela, com seu jeito e com a sensação que ela
transmite. Até os animais se derretem com a sua sensibilidade e ficam
pedindo por carinho.
Não é sobre beleza, nem sobre unha, cabelo, maquiagem, roupas de
grife e depilação em dia. É sobre ter aquele “mel”, como as plantas aromá-
ticas que atraem as abelhas, uma energia atrativa, um certo carisma. Você
deve conhecer alguma colega que não tem vaidade nenhuma e que vive
cercada de pretendes, ao passo que outras se arrumam todas e vão para a
pista e não conseguem nada.
Esse é o retrato de uma mulher com a Afrodite bem equilibrada e do-
Inspira - revistainspira.com 53
minante em sua psique.
Ela dá valor aos aspectos mais sociais da vida, adora festejar, celebrar a
vida, consumir tudo que é trabalho artístico e, às vezes, quando seus talen-
tos não foram por demais sufocados, se arrisca ela mesma em ser a artista.
Sua bússola é aquilo que a fascina, que faz seu coração vibrar descom-
passado. Ela não faz nada de que não goste, e quando faz pode saber que
está a contragosto, esperando a primeira oportunidade de dar no pé dessa
situação.
Maturidade
Em seu livro sobre os arquétipos das deusas na maturidade, Jean Shi-
noda Bolen descreve sobre Afrodite: “Quando a mulher envelhece, ela
pode se tornar invisível como objeto sexual, mas o arquétipo ainda pode
estar lá, independentemente. Sexualidade e sensualidade são inerentes a
uma mulher de Afrodite, quer os homens respondam ou não”.
Nessa idade, inclusive, muitas mulheres que passaram a vida sob a re-
gência de outros arquétipos podem, ao fim de casamentos muito rígidos e
castradores, redescobrir o seu lado mais sexual e se permitir novos amores
e aventuras de reencontro consigo mesmas.
Com sorte, a mulher Afrodite terá desenvolvido mais sabedoria com
os anos passados para não dar ouvidos a crenças maldosas sobre o corpo
maduro. Ou, do contrário, gastará o dinheiro da sua aposentadoria e suas
reservas financeiras tentando recuperar o rostinho, a pele e o corpo que
teve outrora; sem se lembrar de que a sensualidade não depende de corpos
padronizados, ela é uma forma de comportamento, de sentir e de agir no
mundo.
Com o passar dos anos, a senhora Afrodite deve estimular ainda mais
seu sentido de prazer pela vida e, quem sabe, descobrir novas formas de
prazer. Boa comida, bom sexo, boas experiências onde se pode enxergar
beleza e encantar-se com o mundo são como sustentações para que ela
continue encontrando seu sentido de viver e afaste as depressões e soma-
tizações decorrentes de discursos limitados sobre a velhice.
54 O Livro de Afrodite
O enigma do amor
Inspira - revistainspira.com 55
que me pergunte, não sei”.
Tentar explicar o que é o amor é tão complexo que borbulha a mente
e a tinta da caneta até para os mais letrados, como poetas, escritores, no-
velistas – é por isso que essa temática que arrebata corações continua a
ser explorada. “O amor foge de todas as explicações possíveis”, poetizou
Carlos Drummond de Andrade.
Antes de ser enunciado, o amor estava presente como ato. É como di-
zem com o exemplo de que a Humanidade começou quando um ancestral
distante cuidou do ferimento do seu próximo. Ali estava a identificação e
o zelo, a cola afetiva que nos fez desenvolver como sociedade. Foi quando
passamos a refinar os nossos sentimentos e emoções para além da imi-
nência do risco à vida de um ambiente temeroso. Esse vínculo deixou de
ser apenas de proteção até a independência, para ser replicado em seres já
autossuficientes.
Podemos ter o vislumbre de como se originou o amor, se o olhar for
lançado para um bebê. Como Freud notou, a criança passa da animalidade
quase instintiva para a nossa sociabilidade pulsional, ao repetir, de forma
abreviada, a história etnográfica durante o seu desenvolvimento anímico.
A Psicanálise estrutura que o contato inicial com o amor é na primeira
infância, durante a relação entre o bebê e a mãe – ou alguém que tenha
esse papel maternal. A identificação do filho com a mãe é a primeira expe-
riência de laço amoroso. Para o bebê, não existe a separação entre os dois
seres. Após o crescimento da criança, há uma ruptura entre filho e mãe. É
devido à essa lacuna criada nos primórdios da vida, que sentimos a neces-
sidade de nos unirmos com o exterior: uma pessoa, um grupo, um ideal.
É essa lacuna que dita as vontades imperceptíveis, mas demonstráveis,
que moldam as ligações interpessoais, pois na vida madura, a busca é por
outras pessoas para ocuparem o lugar desse vazio deixado pelo objeto de
amor primal, que é o da mãe e voltado à mãe. É por isso que repetimos
inconscientemente, ao longo da vida, a forma que aprendemos a amar na
infância, ao tentarmos encaixar e modelar o outro para que ele caiba nesse
espaço vazio pré-moldado.
56 O Livro de Afrodite
“Em última análi-
se, precisamos amar
para não adoecer”.
Sigmund Freud
Ao longo dos milênios, a explicação da união por meio do amor ga-
nhou inúmeras perspectivas. O filósofo Platão, em O Banquete, nos apre-
senta uma ampla variedade de significados do que é o amor e por que
um corpo busca se unir ao outro. Comecemos pela busca da conexão
amorosa. No diálogo platônico, é narrado pelo comediante Aristófanes o
Mito do Andrógino. A Terra era habitada por três gêneros: o masculino, o
feminino, e um terceiro, andrógino – esse último, era a união entre os dois
gêneros: tinha uma forma esférica (a forma da perfeição para os gregos),
com duas cabeças, quatro braços e quatro pernas.
Os andróginos, por serem dessa forma perfeita, quiseram tomar o tro-
no dos deuses do Olimpo. Como castigo, Zeus dividiu os andróginos ao
meio com um raio e os espalhou na Terra. A partir de então, as metades
tentam se encontrar. E também se abrem as possibilidades de união: mas-
culino e feminino; masculino e masculino; e, feminino e feminino. A von-
tade que causa a busca desse retorno à natureza originária é encarnada na
figura de Eros, que Platão define como a personificação do amor.
Em O Banquete, o conceito do que seria Eros é ampliado por outras vo-
zes. Fédro argumenta que Eros é o deus mais antigo e o mais importante.
Para ele, quem ama se diviniza por meio do sacrífico. Pausânias afirma que
há dois Eros, divididos entre o bem e o mal: o amor da alma, que perma-
nece, e o amor do corpo, que perece. Já o médico Erixímaco defende o
amor saudável e harmonioso, capaz de equilibrar os contrários. Ágaton,
poeta trágico, enaltece as qualidades de Eros, que tem características telú-
ricas, carnais, mais do que divinais, no ato de amar. Sócrates discursa que
Eros é um gênio (daimon) mediador entre as almas, nem belo nem bom,
Inspira - revistainspira.com 57
filho do Recurso e da Pobreza; é por Eros que buscamos a imortalidade:
pelo ato de procriar ou pela ascensão por meio do saber. Sócrates ainda
argumenta que o desejo de saber está em nós, por sermos metade igno-
rância e metade sabedoria. Eros é, então, o amor pela beleza – sobretudo,
pela beleza do conhecimento.
Na obra de Platão, Eros não é filho de Afrodite, e sim seu acompa-
nhante, por ela ser bela e ele um amante da beleza.
Tão plural quanto o amor atribuído a Eros é o amor de Afrodite, que
não está limitado apenas ao amor romântico ou ao amor sexual. A analista
americana Jean Shinoda Bolen amplia a visão do amor de Afrodite: “O
amor platônico, a conexão da alma, a amizade profunda, a comunicação e
a compreensão empática são todas expressões de amor. Onde quer que o
crescimento seja gerado, uma visão mantida, um potencial desenvolvido,
uma centelha de criatividade encorajada – como pode acontecer com a
consultoria, o aconselhamento, a paternidade, a direção, o ensino, a pu-
blicação e fazer psicoterapia e análise – então Afrodite lá está, afetando
ambas as pessoas envolvidas”.
Mas quem inventou o amor como o conhecemos hoje?
Para saber isso, temos que direcionar nossa perspectiva para o passado.
Mais especificamente para a Idade Média, na França. Nesse período, artis-
tas entoavam cantigas acompanhados de instrumentos musicais: eram os
trovadores. Foram eles que germinaram e espalharam uma nova palavra
na Europa, a atualizar outros dois significados mais usuais: essa palavra era
“amor”. Anterior a isso, só existia a luxúria, destinada ao amor carnal entre
os corpos, e ágape, o amor coletivo, como contou o mitólogo Joseph Cam-
pbell. Com o amor espalhado pelos trovadores, o sentimento de destinar
o bem e o carinho a uma pessoa específica foi pessoalizado, atualizado e
nomeado, podendo, assim, ser percebido e entendido.
Com essa palavra chegando em novas bocas, também se notou os de-
talhes. Por exemplo, que “amor” é o contrário de “Roma”. Além da brin-
cadeira morfológica, o que se queria dizer é que o amor – constituído pela
individualidade da escolha, já que ninguém escolhe por você a quem amar
58 O Livro de Afrodite
– é diferente de Roma, que simbolizava a institucionalização dos contratos
pela Igreja, um desses contratos era o casamento. O amor de Roma é mais
próximo à deusa Hera, pelo casamento e vínculos institucionalizados, do
que à Afrodite, que é o amor ligado à individualidade de escolha.
Mais de dois milênios após Platão, o amor passou da beleza pelo co-
nhecimento aos contratos conjugais firmados não pelo afeto, e sim pelos
interesses entre as duas famílias, durante o Medievo até a Era Vitoriana.
Hoje, aparentemente, não é assim. O amor se manifesta de uma for-
ma volátil, como a água, a escorrer entre as mãos dadas. Segue o ritmo
fugaz e impermanente, como as modas. Tal qual um objeto em oferta, as
pessoas se exibem nas vitrines digitais dos sites de relacionamento. Com
a rapidez de um clique, a tentativa de achar a metade perdida é colocada
em busca. A separação entre as partes também é feita na mesma rapidez
de um clique.
O amor pelas coisas reflete no amor pelas pessoas, e pessoas acabam se
confundindo com coisas. É o consumismo afetivo, que faz as pessoas se
colocarem como mercadoria atrás de outras mercadorias com obsolescên-
cia programada. O sociólogo Zygmunt Bauman, que cunhou a liquidez do
amor hodierno, diz que as pessoas aceitam ser “consumidas” e descarta-
das como um produto devido à carência e ao medo da solidão.
Entramos na esteira do consumo como produtos na segunda metade
do século XX. Como a socióloga dos afetos Eva Illouz notou, o mercado
de consumo de bens é limitado: não há como e nem por que comprar
cinco geladeiras ao mesmo tempo. O que sobra, então, como produto de
infinito consumo são os corpos e as emoções. “Essa crescente sexualiza-
ção se produz em um contexto em que o indivíduo se torna mercadoria.
Hoje nos consumimos uns aos outros e mostramos o espetáculo de nos-
sos próprios corpos aos outros”, comenta Illouz.
O utilitarismo do amor parece um retorno ao amor vitoriano, baseado
nos interesses instantâneos que o outro pode promover, mas agora com
contratos voláteis, com base no checklist das compatibilidades e das qua-
lidades de alguém. A compatibilidade vira a busca pelo igual, quase uma
Inspira - revistainspira.com 59
cópia. É aí que se torna difícil amar o que é diferente de nós.
O amor de Afrodite é a atração pelo o que é diferente: Hefesto, Her-
mes, Ares trazem características distintas à Deusa, para compor e somar
na união. Os dois lados crescem e se desenvolvem nessa conexão de dife-
rentes. Já o amor de Narciso, que só ama o que é espelho, busca um igual:
alguém que reafirme suas características, ao não contrapor, ou mesmo,
aquele que é capaz de se anular para refletir sua imagem.
Como amar é um ato de troca – consiste em receber, mas, sobretudo,
em dar amor –, o narcisista, que é egoísta, só tem interesse em si mesmo e
não sente prazer no ato de amar, somente no ato de ser amado. “Não pode
ele ver senão a si mesmo; julga tudo e todos pela utilidade que lhe possam
ter; é basicamente incapaz de amar”, escreve o psicanalista Erich Fromm.
Com esses tipos de relacionamentos imaturos destituídos da percep-
ção do outro como um ser completo (e igualmente complexo), o respeito
é a primeira virtude a se esvair, e com ele vão juntos outros pilares do
relacionamento, como o cuidado e a responsabilidade afetiva.
A falta de responsabilidade afetiva dentro de um relacionamento cul-
mina, muitas vezes, com uma mensagem de texto para explicar o térmi-
no. Nos últimos anos, outra forma de término de relacionamento ganha
popularidade: o ghosting. Derivado da palavra inglesa ghost (fantasma), a
pessoa some do mapa, sem dar explicações, para deixar subentendido o
fim da relação.
Outra característica que aponta a falta de responsabilidade afetiva
dentro do relacionamento é a prática de jogos afetivos, com intuito de
criar ciúmes no parceiro. Às vezes entendidos como “apimentadores” dos
relacionamentos, esses jogos são expostos no tabuleiro dos afetos com
fichas de desequilíbrio e insegurança – quando, para algumas das mãos,
essa regra não faz parte de um acordo (mesmo que velado), o outro passa
a ser adversário. Assim, fica difícil virar o jogo, ou transformar a relação
em algo bom, pois não há como saber onde apostar as fichas das virtudes.
William Shakespeare colocou em cena o jogo afetivo na peça Antônio
e Cleópatra. A rainha do Egito ordena a Alexas, um de seus servos, ir atrás
60 O Livro de Afrodite
de Antônio, e orienta: “Vê onde está, com quem e o que faz: não te man-
dei. Se o encontras triste, diz-lhe que danço; e, se alegre, diz-lhe que, num
repente, adoeci”.
Devemos entender que se o diagnóstico do amor atual feito pelas óti-
cas dos sociólogos não é tão bom, o prognóstico, o desenvolvimento futu-
ro, é por nossa conta: se vamos replicar o que está sendo feito, sem pensar
se isso nos causa prazer, ou se vamos ser a parcela que refloresta o campo
do amor com uma flora de fecundas plantas.
Se por um lado amamos, por outro lado – também dentro das nossas
latências pulsionais – destruímos. Violência, assassinatos e guerras tam-
bém são produtos da natureza humana. Em 1932, Albert Einstein pergun-
tou para Freud “Por que a guerra?”. Como antídoto à aniquilação generali-
zada, Freud disse que a criação de vínculos amorosos é o equilíbrio a esse
potencial destruidor que também reside em nós.
E por que amar dói?
Imagine uma engrenagem feita de carne e nervos. É muito além da for-
ça maquínica de uma peça; ela é carregada de uma complexa subjetividade.
Seu ritmo e seus polos de contato são variáveis e mutáveis. O desafio:
encontrar uma outra engrenagem de carne, nervos e subjetividade, com
dentes diferentes e num outro ritmo, e se conectarem. Toda essa metáfora
é a dor do amor, que é causada pelo contato com o diferente e com uma
Inspira - revistainspira.com 61
dose de necessidade do domínio da forma e do ritmo da outra engrena-
gem. É uma vesícula viva, como Freud metaforizou sobre o Eu corporal
detentor da libido.
A engenhosa arte da união consiste na busca da harmonia e do equilí-
brio entre essas engrenagens distintas e quase-autômatos frente ao outro.
Mas dentro desse “quase” existe um universo amplo em constante des-
truição e reconstrução. Por isso, a união necessita de manutenção constan-
te: reajustar o olhar, ceder, reaprender sobre si e sobre o outro.
Mas se a dor é a única tônica do relacionamento, um alerta deve ser
ligado: pode ser que a recíproca de dar e de receber o amor não está sendo
cumprida por uma das partes. Então, deve-se olhar para os pilares básicos
de uma relação amorosa digna: cuidado, responsabilidade afetiva, respeito
e conhecimento do outro, como explicaremos a diante. Se algum desses
pilares estiver fragilizado ou faltando, se pergunte se há amor na relação.
A busca por compatibilidade é uma das questões fundamentais no iní-
cio de uma relação amorosa. Algo óbvio, muitas vezes negligenciado ou
maquiado. Assim, antes de tudo, saiba como você se constitui e quais são
os seus interesses. Se você é sólido e se mistura com alguém líquido, quem
se desfaz é você. No mínimo, então, busque um estado de equilíbrio – algo
acordado entre as partes. Caso contrário, você é liquefeito na fluidez dos
afetos. Portanto, não se desfaça para dançar a música de outra pessoa. No
final deste capítulo, trazemos a história de Lady Ragnell e Sir Gawain, que
fala sobre isso.
Em tempos como os atuais, de hiperconexão e, paradoxalmente, de
crescente solidão, fica a pergunta: como entender sobre o amor sem ter a
quem amar?
O filósofo suíço Alain de Botain se fez esse mesmo questionamento.
Para Botain, a solidão estimula enxergarmos a importância do amor em
nossas vidas. Sendo o amor uma habilidade, mais do que um sentimento,
faz com que possamos buscar no outro o que há de amável, pois é uma
prática, um ato.
Para quem está só, o amor pode se manifestar para além da forma
62 O Livro de Afrodite
do objeto: para um animal de estimação ou para um trabalho ou hobby.
O amor não precisa estar, necessariamente, direcionado a uma pessoa. E
para amar não precisa estar próximo: o amor quebra fronteiras, as que te
separam de quem está distante fisicamente. É possível direcionar toda sua
vontade de bem e de beleza para o exterior, próximo ou distante, e cons-
tituído de todas as formas. Não existe uma fórmula do que ou de quem
amar, nem tanto de como amar. Somos livres para criar e crescer junto
com essa arte em ação.
Se não existe fórmula certa para amar, cada um ama o que quer e como
quer; existem, sim, virtudes que devem estar presentes no amor. Essa uni-
versalidade depura os nossos atos de amar. Como já mencionamos, o psi-
canalista Erich Fromm elenca quatro elementos básicos do amor: cuidado,
responsabilidade, respeito e conhecimento.
O cuidado é a preocupação verdadeira pela vida e pelo crescimento
daquilo que amamos. Significa também um trabalho, uma aplicação de real
energia psíquica para que o objeto desse amor resista e cresça.
O próximo elemento básico do amor em ação é a responsabilidade.
Você já ouviu falar em responsabilidade afetiva? É sobre isso. Significa
o ato voluntário de estar atento e disposto a agir diante das necessidades
psíquicas de outro ser humano. É se tornar responsável por aquilo que
cativou, ser prudente e sincero com relação a isso.
Sem dúvida, a responsabilidade poderia virar dominação e posse, a não
ser que tenha outra virtude presente: respeito. O respeito é a capacidade
de olhar para uma pessoa e vê-la como aquilo que ela é, e não como aquilo
que pode vir a ser ao atender as suas necessidades e idealizações. Respeitar
é descobrir que ninguém é igual a ninguém, e que esse limite não deve ser
ultrapassado. Porque amar é respeitar a individualidade do outro, e não
gerar um duplo seu.
Há também o conhecimento. Amar exige conhecimento – do outro e
sobre si também. Ao mesmo tempo em que o próprio amor é uma via de
conhecimento: aprendemos a amar, amando. Sobre isso, Fromm escreve:
“preciso conhecer-me, e à outra pessoa, objetivamente, a fim de poder ver
Inspira - revistainspira.com 63
sua realidade, ou melhor, de superar as ilusões, o retrato irracionalmente
desfigurado que tenho dela”.
Devemos lembrar que a vontade de amar é a vontade de união; é a
união de todas as características. Principalmente para a união romântica
duradoura, é necessária essa percepção de força catalisadora e multiplica-
dora. As características iguais ou similares ficam acentuadas para os dois.
Já as características opostas, nos melhores casos, tendem a seguir o cami-
nho do meio, da atenuação entre as diferenças. É por isso que devemos
prestar atenção com quem vamos nos unir. Essa conta matemática de adi-
ção e de subtração é, também, feita com as nossas características latentes.
64 O Livro de Afrodite
se a temática do amor não estivesse presente nos romances escritos, o
amor nunca seria conhecido por nós. Já que para conhecermos o amor,
necessitamos de sua manifestação aparente: além da ação, também na fala.
Por isso, o “eu te amo” deve ser enunciado. É justamente pelo esva-
ziamento de sentido, que deve ser preenchido e retomado com o sentido
genuíno – ao ser enunciado a quem realmente é amado. Caso contrário,
essa frase amorosa só é dita em ocasiões inapropriadas, como um sinô-
nimo de “gostar muito”. Ou, às vezes, é dita tarde demais. Ou mesmo,
não enunciada, como se houvesse um sentido subentendido de amor pela
pessoa amada: “ela sabe que eu a amo; não preciso dizer”. Amar é ação,
mas é também discurso, pois criamos essa necessidade na nossa linguagem
e na nossa psique.
Nos primórdios, amar era um ato antes de ser verbo. Hoje, o amor
é prosa com resquícios de poesia. É esse potencial poético, de real en-
cantamento, que temos de resgatar. E resgatamos esse potencial somente
amando: um gerúndio que reforça uma ação em continuidade.
Ou, numa outra visão, amar é verbo intransitivo, sem a necessidade
de complementos para ter o seu sentido, como notou o poeta Mário de
Andrade.
Afinal, enunciar o amor é, sobretudo, uma autoexpressão. Essa auto-
expressão enunciativa dos sentimentos é feita por e para você (e também
para outros). Mas sem deixar que essa pérola-discursiva seja classificada
como plástico de bijuterias bregas. O amor é brega só para quem não está
amando.
Em outras palavras, dizer “eu te amo” deve ser uma demonstração
sincera da importância de algo ou de alguém na própria vida. O esforço é
para que não exista um interdito enunciativo do amor, como uma volun-
tária alexitimia – nome que os psiquiatras dão à incapacidade de verbalizar
os sentimentos. E para quem ouve, o ser amado, que não seja uma afasia
conveniente, ao entender as palavras amorosas só de quem convém.
Amar também é um processo de reciclagem. O pensador francês Ed-
gar Morin nota que tudo o que está na natureza respeita a lei da desinte-
Inspira - revistainspira.com 65
gração, até mesmo os laços afetivos. É por isso que temos a necessidade
de incluirmos a ação de reciclagem dentro dos nossos vínculos amorosos.
Um relacionamento sadio e duradouro, mesmo que não se perceba, passa
por esse processo de reciclagem, porque tudo acompanha as nossas mu-
danças. “O amor implica a regeneração permanente do amor nascente”,
escreveu Morin.
O psicanalista Erich Fromm acredita que, assim como viver, amar é
uma arte. E, como uma arte, é necessário aprender a teoria e a prática.
Se a prática achamos que a conhecemos bem, a teoria deve começar a ser
entendida a partir da teoria da natureza humana. Deve-se compreender as
contrariedades: como toda natureza, existem as belas plantas e as plantas
venenosas; os aromas e os espinhos humanos. Entender isso, facilita a
prática do amor como arte.
“Os limites da nossa linguagem são os limites do nosso mundo”, es-
creveu o filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein. Essa é a importância de
ampliarmos o nosso vocabulário. Nesse caso, o vocabulário dos nomes
do amor.
Será que o significado de amor muda conforme à língua? Será que
existe apenas um significado do ato de amar?
Essas perguntas foram levantadas por Tim Lomas, linguista e Profes-
sor de Psicologia Positiva na Universidade do Leste de Londres. Durante
uma pesquisa, Lomas reuniu mais de 600 palavras, em vários idiomas, que
se referem ao amor. Assim, ficou claro que cada povo tem sua forma de
conceber o que é o amor e seus “sabores” – Lomas utilizou “sabores” por
entender que cada situação pode reunir múltiplos significados, ao mesmo
tempo, do que é o amor, assim como vários sabores reunidos num prato,
ao bel prazer de cada degustador.
Para ampliar e caracterizar toda a complexidade que envolve a palavra
amor, Lomas pinçou 14 acepções fundamentais, divididas em quatro ca-
tegorias diferentes.
66 O Livro de Afrodite
A primeira categoria é do amor im- mas a partir da dependência e inti-
pessoal, pelas coisas, ações ou lugares. midade com o ser amado;
Eros – é o amor estético, a partir Epithymía – é o amor que acen-
da apreciação de objetos ou con- de com os desejos sexuais e as
ceitos; paixões românticas, cíclico e pas-
sageiro;
Meraki – significa “sabor”, é o
amor por ações, vivências e expe- Paixnidi – amor romântico por
riências; nossos afetos, a ternura que temos
por algo, como a um filhote;
Chórus – o amor territorial, que
sentimos por determinados luga- Pragma – que significa “coisa”,
res, como o nosso lar ou a nossa traz o sentido do amor que é dura-
pátria. douro e prático, por meio do com-
promisso;
Anánkē – é o amor à primeira vis-
A segunda categoria de amor é o não-
ta, que, já no contato inicial, cria
-romântico.
uma necessidade de conexão;
Storge – o amor gerado pelo ato
de cuidar e de proteger, o elo em
destaque nas famílias; A quarta e última categoria do amor são
os transcendentais, que passa do sujeito
Philia – designa o amor que for-
para o coletivo.
ma os laços afetivos com os ami-
gos, é desapaixonado; Agápe – relacionado à caridade e
à compaixão, é o amor altruísta,
Philautia – é o amor-próprio, por
que quer fazer o bem ao próximo;
nós mesmos, que edifica a nossa
autoestima e autocuidado; Koinonía – o amor gerado por
pertencer a um grupo, que resulta
numa capacidade de sacrifício pes-
A terceira categoria é para o amor ro- soal em vista do coletivo;
mântico.
Sévomai – é o amor a uma divin-
Mania – é o lado “azedo” do dade ou ao mistério do Universo.
amor, que é gerado pelos proble-
Inspira - revistainspira.com 67
VOCÊ E O AMOR
Para cada uma das palavras abaixo, escreva as primeiras
associações que lhe vierem à mente:
Amor:
Romance:
Alma-gêmea:
Amar:
68 O Livro de Afrodite
O que você realmente acha sobre o amor?
Inspira - revistainspira.com 69
COMO É SENTIR?
Se você tem um relacionamento com alguém, responda
aqui. Se você não tem, apenas pense numa pessoa que
você ama muito (pode ser também alguém da família ou
amigos).
Liste 5 coisas que você ama amar na pessoa que está com
você. O que você vê nela com amor diz muito sobre você
mesma.
70 O Livro de Afrodite
OS QUATRO ELEMENTOS
O psicanalista Erich Fromm afrma que são quatro os
elementos básicos de qualquer forma de amor: cuidado,
responsabilidade, respeito e conhecimento. Como andam
esses assuntos no seu relacionamento atual?
Cuidado
Quando você está num relacionamento, prefere ser cuida-
do ou busca cuidar?
Inspira - revistainspira.com 71
Responsabilidade
Você é prudente com os sentimentos que despertou
voluntariamente nos outros? Esse é um lado sombra de
Afrodite: a sedução pela sedução, os jogos amorosos, o
ferte pelo puro prazer de testar seu poder em se fazer
desejada. Você já passou a impressão de estar encantada
por alguém quando, na verdade, não estava? Que par-
te de você te motivou a fazer isso? Certamente há uma
deusa ferida aí precisando se ver no encantamento do
olhar do outro. Você não precisa disso, você se basta. A
Deusa do Amor é você mesma!
Inspira - revistainspira.com 73
O casamento de Sir Gawain e Lady Ragnell
74 O Livro de Afrodite
coração de honra!
No dia seguinte, Artur viajou ao encontro de Sir Gromer, afinal, o pra-
zo tinha se esgotado. O rei ainda tentou dar outras respostas, mas nenhu-
ma era a correta. Quando Sir Gromer estava erguendo sua espada para o
golpe fatal, ele deu a resposta de Lady Ragnell: “O que uma mulher deseja
acima de tudo é o poder da soberania – o direito de exercer sua própria
vontade”. O senhor Gromer ficou revoltado e saiu maldizendo a irmã. Ela
havia dado a resposta a Artur e o livrado da morte.
No mesmo dia, Gawain e Ragnell se casaram diante de uma corte cho-
cada pela feiura da noiva. Assim que entraram no quarto de núpcias, Lady
Ragnell pediu um beijo, sendo imediatamente atendida pelo marido. No
mesmo instante, a figura monstruosa se transformou em uma linda mu-
lher, de traços serenos e sorridentes. Vendo o espanto de Sir Gawain, ela
explicou que seu meio-irmão – Sir Gromer –, descontente por Ragnell
não se permitir ser por ele subjugada, encomendou um feitiço que a apri-
sionaria a um corpo monstruoso até que o maior cavaleiro da Bretanha a
escolhesse para esposa por livre vontade.
Mas, agora, Gawain tinha que fazer uma escolha, continuou ela: “Serei
monstro de dia e bela à noite, para o seu deleite? Ou serei bela de dia, para
seu prestígio na corte, e monstruosa à noite?”.
Gawain pensou por um momento, ajoelhou-se diante da esposa tocan-
do sua mão e disse que essa era uma escolha que ele não poderia fazer,
pois era uma escolha apenas dela. O que quer que ela escolhesse, ele a
apoiaria de bom grado.
E, nesse momento, a bela senhora Ragnell explodiu de alegria, pois a
resposta de Gawain era a resposta certa para quebrar o feitiço por comple-
to, e ela poder ser sua versão real por tempo integral!
O casamento de Sir Gawain e Lady Ragnell é sagrado. Ambos fizeram
a escolha consciente e voluntária de estarem juntos e, por isso, entendem
que devem respeitar a essência de cada um. O respeito é o que convida a
beleza a permanecer entre os dois por tempo integral. Sir Gawain entende
que Lady Ragnell é um ser humano completo, dotado de suas próprias
Inspira - revistainspira.com 75
vontades e modos de existir no mundo. Lady Ragnell, por sua vez, entende
que Sir Gawain também é dono de suas próprias escolhas. E, se ambos
entendem isso, eles entenderam tudo!
Conhecimento
Como lembra o alquimista Paracelso, amar pressupõe co-
nhecer a pessoa a quem destinamos amor. Pense em al-
guém que você ama muito: namorado(a), marido, esposa,
mãe ou pai, amiga(o). Agora tente responder às seguintes
questões sobre eles. Não se culpe se você não souber res-
ponder. Aliás, fca o convite que para que você use essas
perguntas como uma forma de se conectar ainda mais a
essa pessoa. Pergunte a ela!
76 O Livro de Afrodite
Qual é o assunto favorito dela?
Qual foi o momento mais difícil da vida dela até hoje?
O que faz esta pessoa chorar?
E o que a faz morrer de rir?
Como ela reage a um insulto?
Como ela reage a um elogio?
Quem são as pessoas que ela mais admira e por quê?
Se você pudesse escolher qualquer presente do mundo, qual
essa pessoa adoraria ganhar?
Inspira - revistainspira.com 77
SER AMADA
Você se sente amada? Você se sente amada como pensa
que deveria ser amada? De que modos você gostaria de
ser amada?
como eu amo?
A maioria de nós pensa no amor sob a perspectiva do ser
amado – esse é o grande desejo do humano – e não do
lugar de quem ama. Já parou para pensar em como você
ama? Qual é o seu jeito de amar? O que você faz à pessoa
que ama? Como trata a pessoa que está amando? Como
demonstra isso a ela? Quando você ama, o que você exige
de você?
78 O Livro de Afrodite
E de um modo mais geral, fora das relações romântico-afe-
tivas, como você expressa amor na sua vida?
Imagine que está dizendo “eu te amo” para uma dessas pes-
soas. Imagine tudo: o cenário, como estão vestidos, a hora do
dia em que isso acontece e simplesmente diga “eu te amo”.
Quais sensações você sente a partir dessa imaginação?
Inspira - revistainspira.com 79
QUEM AMAMOS?
Quem é a pessoa com quem você sempre pode contar? Es-
creva o nome dela e relembre 3 motivos pelos quais ela é
tão especial. Não deixe essa pessoa se afastar.
80 O Livro de Afrodite
É AMOR OU UTILIDADE?
Você é amada ou você é útil? Você se doa e depois se
esquece de você? E o contrário? Você está amando ou
utilizando as pessoas para se sentir bem? Será que você
tem o costume de coisifcar as pessoas, enxergá-las como
objetos para se chegar a determinado fm? Faça uma lista
das pessoas com quem você mais interage e escreva as
possíveis utilidades que elas têm pra você. Afrodite lem-
bra que o amor não tem nada a ver com status, muito
menos com ter um relacionamento só para ser aceito so-
cialmente ou porque isso é o “normal” a ser feito. Depois,
faça a pergunta: eu ainda amaria esta pessoa se ela não
me fosse útil de alguma forma? Como você poderia olhar
para essas pessoas com mais amorosidade?
Inspira - revistainspira.com 81
AMAR É SE CONHECER
Escreva uma lista com 15 coisas, pessoas, experiências e
sensações que você ama. E depois observe quanto de você
existe naquilo que ama.
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82 O Livro de Afrodite
O desejo
Certa vez, no Olimpo, desprestigiada e desconsiderada a ponto de não
ter sido convidada para o casamento do rei Peleu com a ninfa Tétis, a deu-
sa Éris, da discórdia, resolveu colocar em ação a sua vingança. Ela entrou
de penetra na cerimônia e lançou pelo salão, entre as convidadas reunidas,
uma maçã de ouro onde estava gravado “para a mais bela”.
Essa maçã logo foi encontrada pelas deusas Hera, Atena e Afrodite,
que, vaidosas cada uma a sua maneira, reivindicaram o título para si. Zeus
foi solicitado para decidir sobre a questão, mas se esquivou da responsabi-
lidade, endereçando o veredito a Páris, um mortal que, segundo ele, sabia
apreciar a beleza feminina.
As deusas concordaram e foram ao encontro de seu juiz. Hera tentou
suborná-lo, oferecendo-lhe reinos na Ásia. Atena fez o mesmo; em troca
da maçã, lhe tornaria invencível em todas as batalhas. Afrodite, por sua
vez, lhe prometeu a mulher mais bela do mundo se a maçã dourada fosse
sua e Páris aceitou a oferta da Deusa do Amor.
Acontece que a mulher mais linda do mundo era Helena, que já estava
casada com o rei Menelau. Fazendo com que Helena se apaixonasse por
Páris, Afrodite com certeza sabia que estava mexendo em um vespeiro. O
desejo da Deusa se impôs acima de qualquer outra coisa desencadeando
a Guerra de Troia, o combate mitológico mais importante da literatura
grega antiga.
Com essa história, fica claro que o arquétipo de Afrodite, quando cons-
telado em nossa mente, não mede esforços para conseguir o que deseja, o
que é verdadeiro para ela e o que ela pensa merecer. O desejo dessa Deusa
é tão forte que, por querer ser eleita a mais bela e receber a maçã de ouro,
não se importa em fazer uma guerra acontecer.
Inclusive, guerras acontecem quando você mobiliza decisões a partir
Inspira - revistainspira.com 83
do seu próprio desejo. Isso é natural. Assim como Afrodite tem como
amante Ares, o deus da guerra, o desejo anda acompanhado da destruição
e do risco. A destruição da expectativa de outras pessoas, a desintegração
de um modelo de vida antigo para abrir espaço ao novo ou a destruição de
antigos ideais do eu aos quais fomos instruídos a ter simpatia. A questão
é que poucos sabem lidar com isso.
A união desse casal sagrado se tornou tão repulsiva para o padrão de
sociedade em que vivemos, que o analista junguiano Gustavo Barcellos
sugere que esse entrelaçamento talvez seja o mais reprimido em nossa
milenar cultura judaico-cristã. E por quê?
Porque, sem eles, nossa libido/energia psíquica pode ser domesticada,
freada e direcionada em nome de qualquer desejo que for ditado para nós
de cima para baixo. Só assim topamos submeter o nosso desejo pessoal,
e nossa capacidade de nos arriscarmos por eles, ao projeto que o coletivo
tem para nós.
Alguns de nós estamos tão acostumados a sermos bloqueados, detidos
e a ter pedidos negados, que o “querer não é poder” é um pensamento
que ecoa em nossas mentes como um mantra ligado no automático. Com
o tempo, vamos nos esquecendo de querer. Ou querendo os quereres dos
outros, quereres emprestados. Muitos nem mesmo questionam se real-
mente querem o que desejam.
Sem percebermos, acabamos transformando o outro num norte, que
nos diz e nos mostra o que devemos desejar: o que os outros fazem (con-
formismo) ou o que os outros querem que façamos (totalitarismo), como
nos lembrou o neuropsiquiatra Viktor Frankl.
Para o escritor português Alexandre Herculano, “querer é quase sem-
pre poder: o que é excessivamente raro é o querer”.
Já Freud tem outra perspectiva sobre isso. Para ele o querer, o desejo,
é o que move toda a atividade psíquica do humano. Isto é, o desejo tem a
função de nos mover pela vida. O desejo é uma força.
Em sua interpretação, o desejo está sempre presente, embora nem
84 O Livro de Afrodite
“Muitos não querem saber qual é o seu desejo,
porque poderia parecer impossível ou pertur-
bador. Mas mesmo assim o desejo é o caminho da
vida. Se você desconhece o seu desejo, então
você não segue a si mesmo mas vai em direção
a caminhos estranhos que os outros indicaram
para você.
Inspira - revistainspira.com 85
sempre se apresente em palavras ou seja acessível à nossa consciência. Ele
inclusive se camufla para não ser descoberto por nossa mente consciente,
porque talvez não teríamos a estrutura de sustentá-lo, até porque alguns
desses desejos não se identificam com quem somos em nossa superfície.
Por isso, a percepção de Freud é de que a realização desse desejo aparece
de forma distorcida no conteúdo dos sonhos.
Cabe lembrar que o desejo nos move a partir de duas naturezas que se
manifestam como impulsos. E aqui de novo aparece o casal real: uma des-
sas pulsões é voltada para o prazer (Afrodite), que se manifesta, por exem-
plo, na atração sexual e na autossatisfação, na criatividade, na arte e no
trabalho. A outra, relacionada à destruição (Ares), pode ser observada na
autossabotagem e na inveja, por exemplo. Freud as nomeou como Pulsão
de Vida (ou Pulsão de Eros) e Pulsão de Morte (ou Pulsão de Thanatos).
O desejo nasce na infância, onde tudo é informação sensível passível
de proporcionar prazer, físico ou que se sente no físico. Uma dessas ex-
periências marca mais do que as outras, e vivemos atrás dessa sensação de
novo. É ela que muitas vezes direciona nossas fantasias, nossos pensamen-
tos, nossas vontades e compulsões involuntários. É dela que surge aquela
vontade que nos atravessa sem deixar rastros de onde surgiu!
Tendo origem na infância, o desejo se projeta no futuro... sempre no
futuro. Uma vez que ele não tem objeto na realidade, é uma representação
que faz parte do passado da experiência de uma pessoa, esse desejo pri-
mal nunca poderá ser satisfeito. Portanto, é natural do desejo ser sempre
desejo.
O desejo sempre vai nos lembrar de que tem algo faltando, mas quando
a gente entende isso, podemos nos apropriar dessa falta e operar verdadei-
ras maravilhas buscando estar face a face com ele novamente. Lembre-se
que: o vazio é um terreno fértil de possibilidades. É encarando essa falta
de mente aberta que nos tornamos donos do desejo, e não escravos dele.
E com isso aprendemos que podemos querer e que o nosso desejo é
tudo o que temos. É o que temos de mais nosso.
De qualquer forma, o fato é que o desejo é o seu centro, o mais real de
86 O Livro de Afrodite
você mesmo. Aquilo que não conseguimos apagar e que volta de forma
codificada em atos falhos, lapsos, sonhos e repetições até que tenhamos a
coragem de olhá-lo nos olhos, assumi-lo e criar um projeto de vida que o
sustente por meio da ativação da vontade, o que é a nossa proposta com
a escrita terapêutica. A sua vontade é capaz de se adaptar sobre qualquer
determinismo da vida. É como aquela frase de Sartre que diz: “Não somos
aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”.
Isto é, a solução é viver em nossas vidas o casamento mítico de Afro-
dite e Ares. Enquanto se luta (Ares) contra o desejo (Afrodite), a ligação
divina não acontece. Mas quando se luta pelo desejo, aí sim temos um
movimento do sagrado acontecendo dentro de você.
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Inspira - revistainspira.com 87
Conseguiu preencher tudo? Será que você tem medo de desejar?
“Você quer o
que deseja?”.
Jacques Lacan
88 O Livro de Afrodite
A PESSOA QUE EU QUERO SER
O que a “(seu nome aqui) que eu quero ser” pensaria das
situações abaixo:
Ter um flho:
Inspira - revistainspira.com 89
SUSTENTANDO O DESEJO
O que você faz para conseguir o que você deseja? Até
onde você seria capaz de ir? Você ousa esticar as mangas
e correr atrás dos seus desejos mais profundos e íntimos?
Você assume responsabilidades pelas suas escolhas?
Cada escolha, uma responsabilidade. Você está disposta a
assumir o estrago? A dizer os “nãos” e “sims” necessários?
Você banca o que deseja? Refita sobre isso com base nos
seus desejos anteriores.
90 O Livro de Afrodite
Se o relacionamento mítico de Afrodite e Ares se encaixa tanto nesse
tema, é porque sua relação foi movida desde o início por desejo.
Afrodite era casada com Hefestos, deus da forja e da criatividade. Ele
era manco, disforme e irmão de Ares. Com ele, a Deusa aceitou se casar
por gentileza, carinho. Mas com o tempo, acabou correspondendo ao de-
sejo crescente pelo vigor do jovem guerreiro Ares, e acabou traindo seu
marido.
Nem mesmo a humilhação de ser exposta como adúltera diante de
todo o Olimpo a fez desistir desse desejo. A Deusa cultivou uma relação
duradoura com o deus da guerra, com quem teve muitos filhos, e é nessa
chave mitológica que podemos captar muitos insights sobre como pode-
mos descobrir e nos relacionar melhor com o desejo.
Afrodite, a deusa do desejo, é a mãe de Fóbos (Medo) e de Deimos
(Terror). Isso quer dizer que aquilo que é um desejo profundo da nossa
alma pode vir – e quase sempre vem - acompanhado de medo. É como
aquela frase de Buda: “A causa de todo sofrimento humano está no desejo
e no apego”.
Inspira - revistainspira.com 91
jo. Se você teme alguma coisa, ela está de alguma forma
ocupando um lugar muito erotizado para você. Será que
por trás desse medo se esconde um pouco de prazer? Ex.:
tenho medo de não ser aceita > desejo fazer parte de algo
importante, desejo me sentir acolhida e protegida; tenho
medo de dirigir > desejo me conduzir pela vida da melhor
forma.
1.
2.
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6.
7.
“Você é o único
representante do
seu sonho na face
da terra”.
Emicida
92 O Livro de Afrodite
“Magia é a arte de
transformar a
consciência por meio
da vontade”.
Dion Fortune
FAZER NASCER A HARMONIA
Descreva aqui as áreas da sua vida que estão em dese-
quilíbrio.
94 O Livro de Afrodite
As duas Afrodites:
Pandêmia e Urânia
Afrodite foi dividida em dois epítetos pelos gregos: Afrodite Pandê-
mia e Afrodite Urânia. De naturezas opostas, mas paradoxalmente com-
plementares, as Afrodites representam os polos que constituem a vida:
o humano está na interseção, ora sendo encantado por uma, ora sendo
inspirado por outra.
Na obra O Banquete, Platão observa que existem dois Amores, portan-
to, são duas Deusas. A mais velha, não tem mãe e é filha de Urano (deus
do Céu): é nomeada como Urânia, a Celestial. Já a mais nova, é filha de
Zeus e de Dione: é chamada de Pandêmia, a Popular.
A Pandêmia encanta as pessoas para os amores comuns, vulgares: car-
nal, dos sentidos e dos prazeres, e material, por isso perecível e limitado.
A Urânia, mais enaltecida pelos filósofos, inspira as pessoas ao amor pelo
encontro ao sopro divino da alma: espiritual, por isso perene e ilimitado, é
o sublime e também o sublimado.
O filósofo neoplatônico Plotino resgatou o conceito das duas Afro-
dites a partir de sua equivalente romana, Vênus, e as atualizou. No pen-
samento de Plotino, devemos buscar o Uno – uma entidade suprema,
transcendente e inominável, de onde nasce todo o ser e a beleza, e que é a
origem de tudo e a finalidade dos seres. A contemplação ativa do belo é o
caminho que faz os seres humanos irem em direção ao conhecimento do
Uno. É onde reside a alma humana, com sua essência divina.
É dessa contemplação ativa, que eleva a alma e o intelecto para ver
Inspira - revistainspira.com 95
por meio do Uno, a manifestação da Vênus Urânia – o amor verdadeiro
e espiritual, perene e multiplicador: o ser em contato com a abundância
do universo.
Em contrapartida, se a ação é voltada para a busca sensível do mundo
material e dos prazeres, é a Vênus Pandêmia que está manifestada – o
amor é grosseiro e comum, é perecível e limitado: o ser é restringido pela
limitação, pois a matéria tem limites e se volta apenas para o próprio ser e
não para o Todo.
Buscamos no amor o que nos falta, mas também podemos conquistar
aquilo que buscamos – é fruto da união entre a Carência e a Abundância.
Perceber, então, o que nos falta e toda a possibilidade de conquista é o que
devemos fazer em equilíbrio.
Se enxergamos apenas através do véu da Pandêmia, nos direcionamos
para as necessidades fugazes. Apesar de serem necessárias, nossa satisfa-
ção genuína não reside lá. Por exemplo, o carro dos sonhos que te eleva à
categoria de rica comprado hoje – ou qualquer objeto seriado pela data de
fabricação –, daqui a 10 anos será um carro de 10 anos atrás, deteriorado
pelo tempo e fora de moda.
Já se a visão for através da aura da Urânia, o tempo passa e nunca se
esgota o que é amado. É quando acoplamos as qualidades à existência, a
partir do mundo das ideias. Em vez de buscarmos o enfeite por objetos
que se desintegram para refletir uma ideia, como um carro que passa a
ideia de riqueza e de beleza, devemos emanar a ideia de riqueza e de beleza
a partir de nós mesmos.
Em outras palavras: em vez de você gritar e tentar mostrar ao mundo
que é rica/bela, se sinta rica/bela, que assim perceberá que não precisa gri-
tar nada a ninguém. A satisfação é providente da ideia, que é permanente,
e não da coisa, que é efêmera.
96 O Livro de Afrodite
o melhor das duas vênus
O que lhe falta hoje?
Inspira - revistainspira.com 97
O lado luz da Vênus Pandêmia
Os desejos da Vênus Pandêmia não são necessariamen-
te fúteis. Eles podem ser uma ferramenta de autocuida-
do. Tudo depende da dose. Escreva abaixo 7 delícias da
vida civilizada que você ama! Exemplo: edredons fofnhos
e cheirosos para dormir, pedir uma comida pelo celular...
98 O Livro de Afrodite
Sexualidade
Inspira - revistainspira.com 99
Quando Glauco atrelou suas éguas à carruagem para competir nos
jogos locais, os animais dispararam com velocidade, arrastando o rei de
Éfira emaranhado às rédeas por toda a extensão do estádio. E para finali-
zar: devoraram-no vivo.
Em síntese, o mito nos conta que a libido/energia vital que não cana-
lizamos para o prazer, pode virar outra coisa. Uma coisa que nos devora
de dentro para fora. Quem não conhece alguém que se priva de prazeres e
vive uma vida amargurada ou cheia de tensão e de raiva? Ou, ao contrário,
aquela pessoa que vive sem consciência de seus apetites e acaba sendo ar-
rastada por eles vida afora, sem organizá-los de uma maneira sustentável,
sem “tomá-los pelas rédeas”?
O psicanalista francês Jean Laplanche defendeu que todo impulso, seja
ele de prazer ou de destruição (falamos mais sobre isso no capítulo sobre O
Desejo), é concebido de um único lugar comum: o sexual. Em sua teoria,
haveria apenas uma energia, a libido, que movimentaria o aparelho psíqui-
co. Se não fosse endereçada para o prazer (Pulsão de Vida), essa energia
seria, então, desviada para a destruição, o que Freud chamou de Pulsão de
Morte.
A Psicanálise, com isso, reforça o mesmo que aprendemos com o mito:
é preciso se permitir desfrutar daquilo que nos dá prazer. Uma primeira
leitura disso é achar que a gente precisa de mais sexo. Mas não estamos
falando disso, visto que em algumas pessoas a prática sexual é intensa e,
mesmo assim, é observado esse desvio para a (auto)destruição. Às vezes,
o próprio sexo ininterrupto é um sintoma da desconexão com o prazer.
Quando o assunto é prazer, qualidade vai ser sempre superior à quan-
tidade. E a qualidade é um conceito subjetivo, definido apenas por você
no momento em que você se conhece e se respeita. Mas uma coisa é certa:
se não se desfruta do momento que envolve a experiência sexual estando
absolutamente presente, a energia do gozo ainda fica retida e se desvia
para o outro caminho, o da Pulsão de Morte.
Mais do que buscar prazer, é essencial estar presente, se conectar com
o parceiro ou a parceira, evitar idealizações irreais que só frustram, se per-
Sexo:
Prazer:
Intimidade:
Tesão:
Gozar:
Fetiche:
Antes:
Depois:
OS INCONVENIENTES DO PRESENTEÍSMO
Viver no presente é bom demais. Mas, às vezes, pode
beirar à impulsividade e ao imediatismo, aquele não
pensar nas consequências. Você se descreveria como
uma pessoa inconsequente? Lembre-se de uma vez
que você agiu assim e dos desdobramentos que isso
teve na sua vida e na sua saúde mental. Valeu a pena?
“Perfeição demais me
agita os instintos.
Quem se diz muito perfeito,
Na certa encontrou um
jeito insosso Pra não ser de
carne e osso”.
Zélia Duncan e Moska
136 O Livro de Afrodite
PASSO A PASSO DO (AUTO) PERDÃO
Do que você sente culpa? Em que momento você abando-
nou a si mesma ou a outra pessoa?
O seu corpo é a
materialização do
sagrado que é você
existir.
Nossos sentidos atestam que estamos vivos, nos trazem para o mo-
mento presente e nos levam a perceber que existe um outro, com o qual
podemos nos comunicar e cujo toque, olhar e qualquer outra interação
sensorial podem nos lembrar de que realmente existimos.
Talvez essa seja uma sensação familiar para você! Sabe quando a gente
se sente triste, está passando por um dia difícil e recebe um abraço? A
partir daquele momento parece que todas as emoções são reorganizadas e
você se sente um pouco melhor para lidar seja lá com o que for.
O toque, apenas a título de exemplo, é o ato pelo qual se manifesta
o tato, que por sua vez é o primeiro sentido que desenvolvemos a partir
do nascimento. Inúmeras pesquisas trazem esse sentido como importante
para o sistema imunológico e para a saúde cardíaca e cognitiva. O Insti-
tuto de Pesquisa do Toque, da Universidade de Miami, comparou dois
grupos de bebês prematuros hospitalizados. O primeiro era tocado apenas
em situações inevitáveis, como durante a alimentação e a troca de fraldas,
ESCANEAMENTO CORPORAL
Deite-se em um lugar calmo, inspire e expire lentamen-
te e, a partir daí, preste atenção nas diferentes partes do
corpo sentindo como está cada uma delas. Comece pelo
topo da cabeça e vá descendo, sem se esquecer dos bra-
ços. Dor, desconforto, tensão, vibração, relaxamento, o que
você sente? Perceba o que você não estava percebendo
e, conforme expira, imagine que está mandando embora
tudo o que é desconfortável.
Envelhecer é a
manifestação
estética da
magnitude do tempo.
Relacionamentos
Afrodite é uma das deusas que mais teve casos amorosos de todo o
panteão grego. Hefestos, Ares, Hermes, Dionísio, Poseidon, Adônis, An-
quises... Acima dela em número de contatinhos, apenas Zeus.
O que essas relações sexuais e românticas significam na mitologia?
Elas são símbolo de uma força inédita que vai surgir dessa combinação
entre deusas e deuses ou entre deuses e mortais.
Se Afrodite é interpretada como promíscua, é exatamente pelo mesmo
motivo que pode ser lida simbolicamente como uma das divindades mais
poderosas. Ela vê o amor como uma forma de conhecer e de ser conhe-
cida, e dessa comunhão ela cria o novo em esferas físicas, psicológicas,
emocionais e espirituais.
Isso lembra muito a fala de Diotima de Mantineia, mulher sábia que
aparece dialogando com Sócrates acerca do amor n’O Banquete, de Platão.
Diotima afirma que a principal função do amor é ensinar virtude às almas
dos homens, e a mais alta de todas as virtudes é o saber.
Em relações íntimas – sejam elas românticas, familiares, fraternas ou
sororas –, temos a oportunidade de conhecer o mundo do outro, mas
também de conhecermos a nós mesmos.
Relacionar-se é o segundo parto. Está associado ao processo de indi-
Afrodite e Hefestos:
No dia em que Afrodite foi levada ao Olimpo, Hefestos – o filho man-
co e renegado de Zeus – tramava uma vingança contra sua mãe biológica,
Hera, prendendo-a a um trono que havia fabricado especialmente para ela.
Zeus pediu que ele a libertasse, ao que o deus da forja respondeu que só
faria isso se pudesse desposar Afrodite. Vendo o sofrimento no olhar de
Hefestos e cheia de compaixão, Afrodite aceitou o pedido sem titubear.
Essa é uma das versões do encontro entre Hefestos e Afrodite. Nela,
Afrodite e Ares:
A relação entre Afrodite e Ares surge da carência da Deusa, constan-
temente abandonada por Hefestos. Seu marido tentava provar seu mereci-
mento produzindo as mais belas e úteis invenções que já existiram ou que
um dia ainda vão existir. Assim, ele se afastava cada dia mais da Deusa.
Carente e se sentindo sem amor, Afrodite cede aos encantos de Ares,
o deus da guerra, e se apaixonam. Seus encontros são tão regulares, que
eles são popularmente reconhecidos como um casal, muito mais do que
Afrodite e Hefestos, seu cônjuge. Com Ares, Afrodite tem três filhos.
Essa combinação, no entanto, é explosiva, podendo ser comparada
àquelas relações ping-pong, marcadas por idas e vindas, muitas brigas e
muito sexo, explosões emocionais, joguinhos amorosos e triângulos, acor-
Afrodite e Adônis:
Um dia, a mulher do rei Cíniras, do Chipre, cometeu a bobagem de
dizer em voz alta que sua filha, Esmirna, chegava a ser mais bonita do que
Afrodite. Isso bastou para despertar a vingança da Deusa. Afrodite fez
Esmirna apaixonar-se pelo próprio pai. Descontrolada de amor, Esmirna
embebedou o pai e deitou-se com ele por muitas noites.
Quando o rei Cíniras descobriu que Esmirna estava grávida e que ele
seria o avô e também o pai da criança, teve um ataque de ira e a perseguiu
Agora, volte o seu olhar para você. Pense: por que você se
relaciona com pessoas assim? Com essas características
e comportamentos semelhantes? Será que você não é um
pouco assim também? Ou será que você está querendo que
a pessoa se encaixe em um ideal que você tem para si mes-
ma? Preste em atenção em você! No amor, há uma entrega,
uma união, mas o outro não é uma extensão sua.
“Somos feitos de
carne, mas temos de
viver como se
fôssemos de ferro”.
Sigmund Freud
Nos esquecemos que as emoções não são uma doença ou um estado
inferior do ser, elas representam funções dentro do nosso existir. Segundo
Darwin, o objetivo fundamental das emoções é o de iniciar um movimen-
to que leve o organismo de volta à segurança e ao equilíbrio físico.
Sabe aquela invejinha que você sente da sua amiga, por ela estar se
dando bem na vida e você estar na mesma? Do ponto de vista dos gregos,
isso é uma força que põe em movimento. Essa inveja te obriga a olhar para
si mesma e ver seus próprios desejos. Essa é a sua função!
E aquela raiva que você sente quando é vítima de alguma injustiça?
“Fazemo-nos semelhantes ao
que contemplamos”.
Aforismo grego
1.
2.
3.
4.
5.
TUDO NA VIDA É
MISTÉRIO.
Portanto, além de entendermos o fluxo da vida, devemos viver no ago-
ra. Este, que é o único momento que possuímos, é o ideal tempo para o
reencantamento com o mundo. A própria sensação que nos faz sentir que
vivemos em um mundo belo e prazeroso, portanto encantado, só pode ser
manifestada no agora.
ESTEJA AQUI
Exercício da Presença
Só escreva o seu nome e observe. Só esteja aqui neste mo-
mento. É isso: apenas seja!
1.
2.
3.
4.
5.
E na sua vida? Lembre-se de uma coisa que você adora
racionalizar e tente visualizar como seria apenas vivê-la?
Imagine! Depois volte aqui e conte como você se sentiu nes-
sa visualização, sem procurar explicações ou argumentos
que autorizem os seus desejos.
A Deusa Afrodite era magnética: por onde passava, além de fazer bro-
tar lindas flores, atraía os olhares de todos – dos deuses e dos mortais. As
cenas de filmes hollywoodianos, em que a protagonista anda em câmera
lenta, e parece que o mundo para ao seu redor, representam imagetica-
mente esse poder atrativo da Deusa.
Como aliado de seu magnetismo, Afrodite tinha o Cinturão de Encan-
tamentos. Constituído do ouro mais precioso, armazenava todas as suas
joias de qualidades mágicas: o sorriso sedutor, a fala encantadora, o sus-
piro persuasivo e a expressividade do olhar. Assim, ninguém resistia aos
seus poderes encantadores.
A partir daí, podemos ver que a beleza exaltada na Deusa da Beleza
é muito mais subjetiva e abstrata do que os padrões que se refletem no
corpo, e que variam de acordo com o tempo, o espaço e a cultura de cada
grupo humano; os quais confundimos com o próprio significado do que
é beleza.
Afrodite sempre conseguia tudo o que queria. E como ela fazia isso?
“Quando eu me aceito, eu me
liberto do peso de precisar
que você me aceite”.
Steve Maraboli
Quando falamos em amor-próprio, não estamos aqui nos referindo ex-
clusivamente à porção narcísica embrionária. E sim a virtudes e qualidades
voltadas ao bem-estar que devem estar ativas na pessoa para que ela possa
desenvolver suas potencialidades, com dignidade e respeito a si. O amor-
-próprio é uma relação de autocuidado. Essa é a primeira joia que orbita
quem cria para si o Cinturão de Encantamento de Afrodite.
O amor-próprio está ligado também aos nossos limites, às barreiras
intransponíveis para se ter dignidade. Jung escreveu que o humano se
revolta contra a ausência de limites, pois se sente perdido, cambaleando
no ilimitado. Colocar limites é um ato de amor! Principalmente por si. É
contrário ao caos e à desunião. Amar-se também é se proteger, evitar de-
terminadas pessoas e situações. É criar um distanciamento saudável para
ambos.
É tudo questão de perspectiva e de compatibilidade. Não é uma recusa
ao conflito, que é necessário para o crescimento, e sim uma consciência
contrária à violação de limites: quando o espaço é desrespeitado, mesmo
“AJUSTO-ME A MIM,
NÃO AO MUNDO”.
Anaïs Nin
Diferente de outras deusas que se relacionam, Afrodite se recusa a se
entregar ao controle de alguém. Ela se dá por inteiro, mas quando se dá,
é porque se tem. Ela é a única autoridade que segue. Essa verdade inscrita
no mito nos leva a pensar que para ser amor, deve haver autonomia, o
contrário disso é controle. Amar não é derreter-se inteiramente no outro, é
manter-se inteiro para que o outro possa ter com quem se relacionar, para
que o outro possa atravessar a ponte e acessar um mundo novo.
O autoconhecimento é uma poderosa fonte de direção e de segurança,
que possibilita à Afrodite guiar sua carruagem dourada puxada por cisnes
na direção correta: a que deseja ir e a que pode ir.
Pode ser que essa determinação cause espanto a quem está próximo.
Temos um exemplo clássico na literatura: Madame Bovary, uma persona-
gem que toma suas próprias decisões sozinha. Se isso hoje é um desafio,
imagine para o século XIX, época em que a obra foi publicada. O autor
Gustave Flaubert chegou a receber processos da parte dos leitores, por
esses não aceitarem a atitude tida como “libertina” de Madame Bovary.
Sua simples fidelidade a si mesma já bastava para que fosse considerada
promiscuidade. “Como poderia uma mulher decidir sua própria vida?”,
argumentavam os advogados de acusação.
É por isso que é preciso recuperar esse aspecto silenciado pelo com-
portamento de rebanho e também pela própria configuração social e his-
tórica do feminino: o aspecto de fazer o que se quer fazer, o que se decide
fazer, por conta própria, sem precisar ser autorizado por terceiros ou por
uma ordem social. Os encontros só são bons quando encontramos dentro
aquilo que procuramos fora.
Relembre a última vez que você fez algo sozinha, sem com-
panhias, tipo ir ao cinema ou comer. Como você se sentiu?
Refita um pouco sobre isso e deixe a escrita acompanhar
os seus pensamentos.
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5.
Qual foi a última vez que você fez uma coisa pela primeira
vez? Como você se sentiu? A experimentação é da ordem
de Afrodite.
O que você faz que silencia a sua voz interior? Exemplo: di-
zer sim quando quer dizer não, tentar agradar todo mundo
e esquecer de si mesma, não se perguntar sobre seus ver-
dadeiros desejos: “O que eu quero fazer?”, não respeitar os
seus limites e deixar que todo mundo o ultrapasse, guiar-se
pela bússola de outras pessoas (Ex.: “Porque Fulana disse
que isso é coisa de gente desocupada”, “Sicrano disse que
isso é a coisa errada a se fazer”), pensar que seus desejos
são loucurinhas (acredite! Muita gente pensa isso e nin-
guém quer ser louco. Resultado: milhões de ideias geniais,
que nunca existirão na prática).
“Muito obrigada por ter feito isso. Foi muito importante pra
mim”:
Mas por algum motivo, parece que estamos imaginando menos. Como
se todas as imagens possíveis já estivessem dadas, como se nada de novo
pudesse ser criado, como se o mundo já estivesse saturado de artistas e de
inventores e como se o ato de imaginar não fosse útil para nada. Imaginar
seria coisa de crianças e de drogados. Você já deve ter ouvido isso. Acaso
essas pessoas não consomem filmes, seriados, novela, música ou literatu-
ra? De onde eles acham que surgiu tudo isso? Da mente de um computa-
dor ou caiu de uma árvore?
“É impossível enfrentar a
realidade o tempo todo sem
nenhum mecanismo de fuga”.
Sigmund Freud
Se, nos dias de hoje, a capacidade imaginativa se esvai nas telas digitais
e é jogada para fora da ribalta pelo pensamento utilitarista, nos dias de
ontem a imaginação era o que constituía o mundo. Há mais de quatro
mil anos, a filosofia de Hermes Trismegisto ensinava, dentro das sete leis
herméticas, o mentalismo: “O Todo é mental. O universo é mental”. Tudo
Qual foi a última vez que você deu boas gargalhadas? Foi
sobre o quê? Como seu corpo reagiu na hora? E qual foi a
sensação depois? O que motivou essas gargalhadas pode
dizer algo sobre você mesma, que talvez você nem tenha
percebido ainda!
Pela lista anterior, deu para ter uma média do seu tipo de
humor. Compare uma coisa com a outra e escreva o que
elas têm em comum. O que te faz rir diz tanto sobre você!
A FERIDA DA HEROÍNA
“Eu gosto que as coisas venham de maneira fácil para mim”.
Que emoções essa frase te provoca?
A essa altura você já deve ter compreendido que se você quiser lidar
melhor com questões como riqueza e abundância, você deve voltar ao
capítulo sobre o prazer e a sexualidade.
E se você ainda duvida dessa relação, basta pôr à prova o oposto.
Quando os prazeres estão desequilibrados e se transformam em vícios
torna-se praticamente insustentável fazer planos com o dinheiro que en-
tra, porque ele vai embora de maneira rápida e sem muito sentido, não é
verdade? O prazer vivido de maneira saudável, isto é, orientado a partir
da própria essência e consciência, é fonte de prosperidade.
Assim como os corpos se unem em prazer para criar uma nova vida,
todas as tarefas de multiplicação e geração devem seguir o mesmo cami-
nho. A riqueza acontece quando a mente está mais desligada e é a intuição
que age, no mesmo instinto dos corpos que se amam sem seguir nenhum
script. Não existe prazer sob (tentativa de) controle, e nem sob uma men-
te controladora.
Personagens:
Qual é a primeira coisa que vêm à sua cabeça relacionada a esse elemento de destaque?
O que você acha que essa reunião de elementos comunica sobre você e para você, e sobre
esse momento da sua vida?
Mapa Alquímico
de Afrodite
Para transformar e conceber qualquer coisa na sua vida
GUARDIÃO
DA META
Minha meta é:
ações:
quando:
recompensas:
A Jornada de Psiquê
uma conduta evolutiva de integração das
polaridades psíquicas
Eros e Psiquê é um conto muito antigo de Apuleio,
escritor e flósofo romano. Quando analisado simboli-
camente e à luz da psicologia profunda, trata da eterna
busca da alma (Psiquê) por amor (Eros/Cupido) e do
amor por alma, como escreve Barcellos. E denota que
o amor – como bem vimos no capítulo sobre a Deusa
Alquímica – tem o potencial de acender em nós a cen-
telha divina.
Mas você precisa viver um grande amor para inte-
grar isso em você? Não é bem assim. O conto fala por
meio de símbolos e cabe a nós interpretá-los.
O que acontece é uma união, que no plano físico fala
de um casal que quer fcar junto, e no plano mental
trata do mesmo encontro, mas funciona de outra for-
ma. Nesse estágio, entenda que o casal – na sua psi-
que – são duas partes de você mesma que ainda não
se conhecem, ou que até se conhecem, mas ainda não
entenderam que tem tudo a ver juntas.
Quando unidas, essas duas partes de você são capa-
zes de manifestar vida, assim como um casal no plano
físico gera uma criança. Esse é o casamento sagrado
(hieros gamos) que todos precisamos fazer acontecer
em nós. É ele que nos faz nascer de novo em um novo
patamar. E é disso que se trata as tarefas de Psiquê.
Cada um dos desafos, dados pela Deusa do Amor,
são uma tomada de consciência e, à medida que se
vence um após o outro, se está mais perto de fazer
com que esse casal que vive no nosso inconsciente es-
tabeleça um compromisso sério. A partir do momento
que eles se juntam em um amor amadurecido, você
TRABALHO DE FORMIGUINHA
E, com isso, a gente quer dizer: comece com os re-
cursos que tiver. Dê o primeiro passo.
Faça uma lista aqui das três coisas mais importan-
tes que você precisa aprender, investir, desenvolver ou
simplesmente agir para sustentar o seu desejo.
Meus primeiros
passos no caminho
de ser eu mesma
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3.
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2.
3.
Circule a seguir uma forma de dizer “não” com jei-
tinho que combine com você. Acione ela no automáti-
co, mas com frmeza e convicção, da próxima vez que
você precisar dizer “não”. Faça isso e, depois, volte aqui
para escrever o que você sentiu e em que resultou essa
sua nova ação.
Não.
Não quero.
Não posso.
Não estou interessada nisso no momento. Obrigada!
1.
2.
3.
MANUAL DE ATIVAÇÃO
DA AFRODITE
INTERIOR
Tome sol
O Sol é uma energia de criação e nutrição, assim como a Deusa. Afrodite
é descrita muitas vezes como “a dourada”. Se expor a essa luz dourada do
Sol, com os cuidados necessários e no horário recomendado, é uma forma
Um banho de mar
Você já deve ter visto muitas pinturas e esculturas que representam a Deu-
sa emergindo das águas do mar em meio a conchas e espíritos da natureza.
Você deve se lembrar porque são obras que reverberam um impacto de
beleza, frescor, pureza e feminilidade. O nome desse estilo de representa-
ção de Afrodite é Vênus Anadiômene, aquela “que sai do mar”. Foi assim
que ela nasceu. Toda vez que você tomar um banho de mar, imagine a
Deusa nascendo revitalizada em você. Em Pafos, na Grécia Antiga, havia
uma cerimônia de banho anual que representava a renovação e a purifica-
ção de Afrodite.
Atitude contemplativa
A contemplação, que é o próprio ato de pensar e
observar detalhadamente alguma coisa, é uma forma de
nos percebermos como parte integrante
do Todo. E como podemos fazer
isso? Escolha um local silen-
cioso, preferencialmente
na natureza, e sente-se
confortavelmente. Inspire e expire, profunda e calmamente. Inicialmente,
concentre-se no ambiente ao seu redor: deixe foco de visão passear por
cada ponto, perceba os detalhes onde se fixar; também abra os seus ou-
vidos aos sons. Depois, volte a atenção para você nesse ambiente: quais
são as partes que tocam o chão, como o ar entra e sai das suas narinas, o
calor do sol ou o frio da noite: tudo passa por você. Essa mesma sequência
pode ser feita em outros ambientes, como, por exemplo, ao contemplar
uma pintura. Foque nos detalhes e depois se pergunte: o que tem de mim
no que vejo? E no que sinto?
Risoterapia
Você ri todos os dias? Comece o dia com uma gar-
galhada. Mesmo que seja forçada, depois você vai rir
disso e começar a rir de verdade. Depois, torne isso um
hábito: 30 minutos de risadas. Pode ser com um episó-
dio de série de comédia, vídeos engraçados na internet
ou uma saída com aquela pessoa que sempre te faz dar
boas gargalhadas. Afrodite era conhecida também pelo
epíteto philommeides, “aquela que ama o riso”. Quando es-
tamos amando, o mundo se torna um lugar de alegria – e
quando rimos, estamos nos reconectando a essa energia.
Sexo Sagrado
Quando você for transar com alguém, tente utilizar os ensinamentos da
sexualidade sagrada de Afrodite e Dionísio e mesclar nessa experiência
o consciente com o inconsciente, o cuidado e a entrega. Esteja presente,
respeite o seu parceiro(a) e libere os seus desejos.
Sagrado círculo
Crie um momento de encontro sagrado com pessoas que você gosta: fa-
miliares, amigas, amigos. Pode ser para tomar um chá da tarde e bater
papo, por exemplo. Você só deve começar a investir nesse quando tiver
passado do desafio a seguir...
Solitude
A solitude é a prima interessante da solidão. Sabendo conviver com uma,
você para de ter tanto medo da outra, e aí a sua vida muda. Segundo o
psicanalista Erich Fromm: “Paradoxalmente, a capacidade de ficar só é a
condição da capacidade de amar”. Quem aprende a encontrar prazer ao se
deparar sozinho consigo mesmo, não se une a outro ser como se pegasse
um colete salva-vidas, mas descobriu de verdade o que é amar. Tente ficar
só com você mesma. Não vale ler, fumar, ligar a televisão ou beber. Sem
escapismos. Apenas você com você. Esse exercício te perturba ou é mole-
za? Desenvolva essa capacidade!
Imaginação
Crie imagens dentro de si. Visualize algo que você quer que aconteça a
você, crie histórias na sua cabeça, filmes inteiros, casas, cidades, coisas
impossíveis... como no filme A Origem, mas acordada mesmo. Quer uma
ajuda? Faça o exercício de Alice no País das Maravilhas e imagine 6 coisas
impossíveis antes do café da manhã. Logo você vai perceber que a vida é
um ato imaginativo.
Fotografe-se mais!
Pode ser fazendo mais selfies, chamando uma pessoa com quem você se
sente à vontade para tirar fotos suas ou contratando um serviço profis-
sional mesmo, por que não? Às vezes, para algumas pessoas, ver a própria
imagem causa uma profunda estranheza, reflexo de um alheamento do
corpo físico e da associação de tudo o que está na superfície de si como
sendo superficial, fútil, frívolo. Mas a carne que habitamos não é um mero
supérfluo, uma extravagância da existência. Ela é a forma que nossa alma
escolheu para se manifestar. Entender isso ao ver sua essência ressonante
nas fotos vai te colocar em profundo apaixonamento com a sua aparência
e com você mesma!
Faça um autorretrato
Esse exercício se parece com o anterior, mas os objetivos são diferen-
tes. No anterior, você aprendeu a enxergar beleza na sua imagem, aquela
sensação gostosa de habitar o seu corpo. Neste, você vai se desenhar evi-
denciando a sua essência, como você se vê em profundidade, como quer
ser enxergado pela sociedade. Pode ser por meio da fotografia ou de um
desenho ou pintura. Dê a sua cara trazendo novos elementos
ao cenário, à sua forma de se vestir, às suas expressões e
gestos. Criatividade não tem limites. Você é uma obra de
arte ambulante, o que está expressando?
Afrodisíacos
Mel, maçã, romã, morangos, pêra e figo
são alimentos repletos de vitami-
nas e considerados frutos de
Afrodite, ora por serem esti-
mulantes sexuais ou da fertilidade, ora por terem um erotismo imanente
à sua forma. Eles são consagrados à Deusa desde a Antiguidade, quando
consideravam que alguns continham propriedades mágicas. Acrescentar
esses presentes da natureza à alimentação é relembrar do simbólico asso-
ciado à Deusa.
Movimente-se
O movimento é a integração entre o nosso corpo, a ciclicidade da vida e a
sensação de prazer. Existem muitas formas de integrar isso à sua vida coti-
diana: caminhada, corrida, dança, andar de bicicleta, nadar, jogar bola com
alguém, musculação, rebolar no bambolê ou praticar yoga são apenas algu-
mas delas. Qual é a sua? Escolha uma e pegue o ritmo. Fazer isso funciona
como uma verdadeira sopa de hormônios da felicidade e do bem-estar no
seu corpo, como a endorfina e a serotonina. Esses hormônios despertam
mais leveza, prazer e vitalidade. É como ingerir doses de Afrodite!
Referências de imagem