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Mensagem

Influenciado pelo Saudosismo de Nobre, que acreditava que D. Sebastião, o desejado, haveria
de voltar para salvar Portugal, ou por Junqueiro que na Pátria pressente o momento da salvação, ou por
Pascoaes que exclama: «É ele, o rei da Saudade, coroado de estrelas, que regressa!» («A Noite
Lusíada», Verbo Escuro), Fernando Pessoa, que se autodenominou «um nacionalista místico, um
sebastianista racional», compôs, numa embriaguês messiânica, o poema Mensagem, epopeia sui
generis (mescla de poesia épica e lírica), constituída por poemas compostos em épocas distintas. A
obra estrutura-se em três núcleos: Brasão, que inclui Os Campos, Os Castelos, As Quinas, A Coroa e O
Timbre; uma segunda parte, intitulada Mar Português, constituída por poemas vários; uma terceira
parte denominada O Encoberto, composta por Os Símbolos, Os Avisos e Os Templos.
A obra exalta o povo português, desejoso de Absoluto no desbravar de novas terras: «Porque é
do português, pai de amplos mares, / querer, poder só isto: / O inteiro mar, ou a orla vã desfeita - / o
todo, ou o seu nada.» (D. João). Com um sentido providencialista da História de Portugal (ideia de
predestinação nacional), incita ao ressurgimento nacional (o super-Portugal e o super-Camões que
Pessoa profetizava já em 1912): «O Portugal, hoje és nevoeiro... / E a hora!» (Nevoeiro).
Mas sente-se o desalento que se encontra em Pessoa ortónimo e Álvaro de Campos: «É a busca
de quem somos, na distância / de nós; e, em febre de ânsia, / a Deus as mãos alçamos. / Mas Deus não
dá licença que partamos.» (Noite): «Que nau, que armada, que frota / pode encontrar o caminho / à
praia onde o mar insiste, / se à vista o mar é sozinho?» (Calma). As próprias palavras denunciam uma
análise pessimista: ao mito chama-se mito, à lenda, lenda; D. Sebastião porque ambicionou «grandeza»
é «louco».
O sujeito com frequência se exprime, usando as figuras da História de Portugal como símbolos
de si próprio, interiorizando a matéria épica, consciente de que não é possível mais do que sonhar (o
Império que se canta é uma quimera): «Triste de quem vive em casa, / contente com o seu lar, / sem
que um sonho, no erguer da asa, / faça até mais rubra a brasa / da lareira a abandonar!» (O Quinto
Império).

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