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DIMENSÃO ESTÉTICA

Antonio Castelnou
Introdução

 No processo projetual, cabe ao arquiteto a definição


de funções estéticas e simbólicas (venustas)
aos objetos, espaços e/ou obras arquitetônicas.

Como em toda forma de produção de arte,


tanto em nível de desenho (relação artista/produto)
quanto de uso (relação produto/espectador), ocorre
uma COMUNICAÇÃO ESTÉTICA, isto é, um
processo dinâmico de troca de mensagens
e estímulos subjetivos.
 COMUNICAÇÃO ESTÉTICA é o processo
através do qual o artista – seja arquiteto ou
não – emite mensagens perceptíveis
sensorialmente, a partir do objeto/produto,
em que o espectador/usuário é receptor
passivo e, ao mesmo tempo, ativo, pois emite
respostas, por meio de sua ação e/ou uso.
 A COMUNICAÇÃO acontece somente
quando deixa de ser uma simples relação
entre estímulo e resposta e passa a ser
uma troca de informações significativas.
 Observa-se que a comunicação não
inclui apenas as mensagens verbais,
pois o tom das palavras faladas,
os movimentos do corpo, a roupa que
se veste, os olhares trocados e até
mesmo o silêncio podem comunicar.

 Tanto a ARQUITETURA como a


CIDADE podem ser consideradas um
conjunto de emissores de mensagens.
 São estes os elementos básicos
do PROCESSO COMUNICATIVO:
✓ A realidade ou situação (contexto)
onde se realiza a comunicação;
✓ Os interlocutores que dela participam:
o emissor e o receptor das mensagens;
✓ Os conteúdos ou mensagens que
compartilham através de SIGNOS; e
✓ Os meios que usam para transmiti-los
e os filtros que possuem para
emitirem/decifrarem as informações.
 Toda forma de comunicação processa-se
através de SIGNOS, ou seja, por meio de
palavras (escritas ou faladas), gestos ou
imagens (desenhos, pinturas, volumes,
estátuas, fotografias, etc.). Conceito
(Significado)

 SIGNO é algo que representa alguma


coisa para alguém e, portanto, está no TRÍADE DE CHARLES
lugar desta coisa para ser compreendido S. PEIRCE (1839-1914)
ou interpretado por uma pessoa.
Objeto Signo
ruído
Esquema do
PROCESSO COMUNICATIVO
ruído

mensagens RECEPTOR
EMISSOR
Filtros sensoriais
Filtros operativos
Filtros culturais

ruído RESPOSTA
 No processo comunicativo, mesmo que as MENSAGENS (visuais,
verbais, táteis, etc.) alcancem o receptor sem serem prejudicadas
pelo meio (ruído), encontram dentre dele novos obstáculos. Isto
porque cada receptor possui filtros diferentes que agem de modo
diverso e reciprocamente, a saber:
❖ FILTROS SENSORIAIS: Consistem na habilidade dos sentidos físico-
biológicos (visão, audição, tato, etc.), isto é, na sua capacidade perceptiva;
❖ FILTROS OPERATIVOS: Consistem no grau de maturidade do receptor
e se relacionam a suas experiências e expectativas (idade, classe, etc.); e
❖ FILTROS CULTURAIS: Consistem no repertório cultural de cada um,
o que varia de acordo com a tradição, o aprendizado e as aspirações.
 Após a mensagem atravessar
o meio e os filtros do(s)
receptor(es), ela precisa provocar
uma RESPOSTA para que a
comunicação seja considerada
completa. Esta resposta
acontece em 02 (dois) níveis:
internamente, através do
PENSAMENTO; e externamente,
através da AÇÃO ou USO.
Semiologia
 SEMIOLOGIA – do grego: semeion
(sinal) + logos (estudo) – é a ciência
que estuda todos os fenômenos
culturais como se fossem formas de
comunicação (sistemas de signos),
inclusive a arquitetura, sendo também
chamada de SEMIÓTICA, esta
mais preocupada com os modos de
produção, funcionamento e
recepção de signos visuais. Isto não é um cachimbo (1926)
René Magritte (1898-1967)
Joseph Kosuth (1945-)
One and three chairs (1965)

 Basicamente, a SEMIÓTICA ocupa-se


do estudo do processo de significação
ou representação – seja na natureza
como na cultura – de um conceito ou
ideia.
 Mais abrangente que a
LINGUÍSTICA, que se restringe ao
estudo dos signos da linguagem
verbal, o estudo semiótico tem por
objeto qualquer sistema sígnico,
inclusive a arquitetura.
Estilo Gótico
(Sécs. XII-XIV)

 A possibilidade de comunicação
arquitetônica processa-se a partir
da constatação da existência de
um CÓDIGO (linguagem).

 Este código corresponde ao


conjunto das leis de articulação
dos elementos significantes
(signos) que são utilizados e de
cujo conhecimento depende a
compreensão das mensagens
que estão sendo transmitidas.
Janelas

Arcos

Telhas

 A LINGUAGEM ARQUITETÔNICA, assim como a falada e a escrita,


utiliza unidades significantes conhecidas – SIGNOS ou “palavras” –, as
quais são mais elásticas e poliformes que da linguagem verbal, baseando-
se no contexto e no repertório do espectador para ter sentido específico.
As “palavras” arquitetônicas
são, na sua maioria, SIGNOS
SIMBÓLICOS, isto é, dependem
de significados obtidos por sua
utilização convencional
(necessitam de aprendizado),
diferenciando-se dos SIGNOS
ICÔNICOS, que são aqueles
cujo significante (forma) tem
aspecto em comum com o
Estilo Barroco significado (conteúdo).
(Sécs. XVII-XVIII)
Escadas

 Os signos arquitetônicos,
possuem 02 (dois) níveis de
significado:
▪ DENOTATIVO (Denotata): que
corresponde ao significado exata e
convencionalmente expresso através
do signo (técnica, forma e função);

▪ CONOTATIVO (Conotata): que


se refere aos conteúdos simbólicos,
ideológicos e históricos embutidos
no signo (estilo e intenção artística).
 Os SIGNOS não denotam apenas
sua forma ou função, pois também
remetem a certas concepções culturais,
ou seja, conotam uma ideologia global
que presidiu à operação comunicativa.
 As conotações “simbólicas” dos objetos
e espaços arquitetônicos reais não são
menos importantes do que suas
denotações “funcionais”, uma vez que
traduzem ideias e conceitos estéticos.
Portas
Sintaxe e Semântica

 É importante não confundir os códigos


de construção do objeto artístico e/ou
arquitetônico (sintaxe) com os de leitura
da arte e/ou arquitetura (semântica).

 Os primeiros referem-se ao PROCESSO


COMPOSITIVO da obra, que geralmente se
baseia em outras áreas do conhecimento
(sistema geométrico, sistema construtivo,
etc.), enquanto os segundos estão ligados
à sua COMPREENSÃO SÍGNICA.
 A SINTAXE corresponde ao conjunto de
regras para combinar os diversos elementos
significantes (signos), independente dos
significados que lhes podem ser atribuídos.

 Trata-se de uma GRAMÁTICA,


a qual dirige a lógica de
articulação dos signos de
modo que estes denotem
formas e funções.
 A categorização sintática dos signos arquitetônicos baseia-se
nos ELEMENTOS-MATRIZES de um espaço, cada qual
portador de mensagens estéticas (significados denotativos
e conotativos), sendo classificados em:
✓ Signos de determinação planimétrica: são aqueles que dão o
limite horizontal inferior ao volume arquitetônico (pisos, varandas,
sacadas, terraços, pátios, mezaninos, etc.);
✓ Signos de contenção lateral: são aqueles auto-sustentadores,
fixos ou não – ou sustentados –, que conformam o espaço e o
delimitam verticalmente (paredes, painéis, divisórias, etc.);
✓ Signos autônomos de suporte: são aqueles responsáveis pela
estrutura da edificação, sendo horizontais, verticais, inclinados ou
curvos (vigas, pilares, colunas, lajes, cascas, arcadas, etc.);
✓ Signos de união: são os que correspondem à ligação entre
os signos de determinação planimétrica, sendo contínuos
ou não (degraus, rampas, corredores, galerias, etc.);
✓ Signos de comunicação: são aqueles que correspondem à
ligação entre os signos de contenção lateral (janelas, portas,
traves, vazados, muxarabis, pérgulas, etc.);
✓ Signos de cobertura: são os que fazem o fechamento
superior da estrutura, podendo se auto-sustentarem ou
serem sustentados (lajes, cascas, abóbadas, cúpulas, etc.);
✓ Signos de acentuação qualitativa: são elementos
independentes e que têm valor estético ou de referência
simbólica (cimalhas, frisos, molduras, cores, etc.).
Estilo Românico
(Sécs. X-XII)

 Quanto à SEMÂNTICA, esta refere-se


às leis de articulação dos signos a que
já é convencionalmente atribuído um
determinado significado conotativo.
 Trata-se do estudo e análise da
significação das formas e funções
sintaticamente expressas, o que feito
através da identificação de um ESTILO,
MODA ou POÉTICA VISUAL.
ESTILOS
Estilo, Poética e Moda
 ESTILO é o conjunto de elementos
Estilo sígnicos que expressam as perspectivas
Neoclássico
(Sécs. XVIII-XIX)
ideológicas de determinada época,
sendo a concretização estética do
temperamento, espírito ou cultura de
um povo em um dado momento histórico.
 Trata-se de um código coletivo, que é
síntese de todas as forças e fatores (elementos,
princípios e técnicas), os quais refletem o gosto
predominante, constituindo na unificação ou
integração de numerosas decisões estéticas.
 A definição de um ESTILO
VISUAL é uma tentativa da
crítica de se estabelecer Linguagem
minimalista
uma unidade aparente (Séc. XX-XXI)
onde esta não existe, ou
seja, busca-se mais uma
coerência artística das
obras envolvidas do que a
divergência entre elas.
Le Corbusier (1887-1965)
Mies van der Rohe (1886-1969)
Frank Lloyd Wright (1867-1959)

 POÉTICA VISUAL é a linguagem artística


compreendida como forma de expressão
individual e intransferível de um artista/
arquiteto, a qual deriva de diversas
condicionantes, como: a sua concepção de
mundo (ou ideologia); os agentes promotores
(ou sociedade); o desenvolvimento técnico (ou
material) e o seu senso estético (ou gosto).

Linguagem modernista
Movimento Moderno
(1915/45)
Oscar Niemeyer
(1907-2012)

Casa Niemeyer
(1951/53,
 A caracterização de um ESTILO Canoas RJ)
(artístico/arquitetônico) indica
Casa Cavanelas
a ocorrência, com certo grau de (1953/54,
probabilidade, de certas “chaves Petrópolis RJ)

estéticas” em várias poéticas visuais.

 Por sua vez, toda POÉTICA VISUAL


refere-se ao conjunto de regras que Strick
definem um específico padrão de House
(1963/64,
gosto que é convertido em padrão Sta. Mônica
de arte de determinado período. CA | EUA)
Catedral da Ressurreição
(1992/95, Évry | França)

Bechtler Museum of Modern Art


(2006/10, Charlotte NC | EUA) Museum of Modern Art
(1989/95, S. Francisco CA | EUA)
Mario Botta (1943-)
Uso de tijolos aparentes

 Por fim, considera-se como MODA o estilo que cada geração reconhece
como sendo seu, que é algo efêmero e passageiro; muitas vezes visto
como uma deturpação da poética de um artista/arquiteto, quando é
cristalizada e repetida como receita – ou pelo resgate e/ou distorção
(descontextualização) de um estilo nos dias de hoje.
CÓDIGO OU Coletivo
ESTILO LINGUAGEM Invariável
(IDIOMA | LÍNGUA) Definitivo

EXPRESSÃO Individual
POÉTICA PRÓPRIA Variável
(SOTAQUE) Evolutivo

EXPRESSÃO Circunstancial
MODA INFORMAL
(GÍRIA)
Repetitivo
Efêmero
Bibliografia

❑ APOSTILA – Capítulo 14.


❑ ARNHEIM, R. Arte e percepção visual. São Paulo: EdUSP, 1998.
❑ CHING, F. D. K. Dicionário visual de arquitetura. 2. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2010.
❑ DONDIS, A. Sintaxe da mensagem visual. 3. ed. São Paulo: Martins
Frontes, 2002.
❑ MELVIM, J. Ismos: para entender la arquitectura. Barcelona: Turner,
2016.
❑ MUNARI, B. Design e comunicação visual. 4. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
❑ STROETER, J. R. Arquitetura & teorias. São Paulo: Nobel, 1986.

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