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Decisões

Financeiras
Introdução & Capitalização Simples

Marco Aurélio Sanfins


Tuany Barcellos
Rafael Alves
Hedmilton Mourão
Sônia Fonseca

NÚCLEO DE ESTUDOS EMPRESARIAIS E SOCIAIS


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Introdução
O objetivo deste livro é apresentar de forma introdutória os principais elementos que
estarão presentes no processo em que a decisão financeira deva ser tomada, considerando
um contexto de certeza. Nele, serão evidenciados de que forma esses elementos
contribuem para a caracterização da decisão financeira em variáveis identificáveis,
permitindo àquele que tomará a decisões conhecer o problema.
Diante da variedade de abordagens e roteiros possíveis para o estudo e
desenvolvimento de competências em educação financeira, é necessário ter certo cuidado
no cumprimento da tarefa de preparar tecnicamente alguém para tomar decisões sobre
dinheiro. Há vários níveis a escolher. Desde modelos muito simples e critérios bem fáceis
de serem entendidos até o exame de procedimentos bastante complexos cujo estudo só se
justificaria em cursos de preparação de especialistas. Pesquisas mais recentes sobre
decisões financeiras, por exemplo, passaram a incluir até mesmo componentes
psicológicos nos modelos.
Os tópicos aqui apresentados serão desenvolvidos em uma abordagem
predominantemente quantitativa. Os dados que caracterizam cada situação terão seus
valores e escala temporal estabelecidos. A partir daí a tomada de decisão será alcançada
com a utilização de métodos da Matemática Financeira, com o uso de critérios de avaliação
muito bem definidos. Além de examinar bem os conceitos, critérios e modelos este livro
se propõe a possibilitar o entendimento e criar o hábito de uso do processo de tomada de
decisões financeiras. A utilização de grande quantidade de exemplos práticos é a forma de
atingir esse objetivo. Eles foram criados visando replicar situações reais de forma a
possibilitar exercícios intensos da aplicação dos métodos estudados para a tomada de
decisão sobre uma ou outra alternativa financeira.
É importante que o leitor se sinta preparado para aplicar os conceitos e resultados
que lhe serão apresentados: não bastará apenas entendê-los. Para acelerar a evolução de
sua habilidade em resolver problemas do tipo que pode ocorrer na vida real, são
disponibilizadas ao final de cada capítulo exercícios e seus respectivos gabaritos. A solução
correta da maioria dos exercícios em cada uma das seções é um importante indicativo de
que os conceitos estão consolidados, dando ao leitor segurança para iniciar o estudo dos
capítulos seguintes.
Em todo processo analítico é utilizado um roteiro básico que estabelece as grandes
etapas e a ordem em que necessitam ser cumpridas. Neste livro, na medida do possível, o
roteiro básico de análise será composto por, no mínimo, as seguintes etapas:
Configurar o problema e definir o objetivo/benefício a alcançar;
Identificar alternativas viáveis;
Especificar os dados relevantes e aferir seus valores;
Definir o critério (quantitativo) de avaliação a ser usado;

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Processar os dados apurados segundo regras do critério; e
Obter indicações do que deve ser preferido.

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1. Conceitos Iniciais
1.1 Dinheiro: o que é e para que serve
O dinheiro é o meio usado - em geral, na forma de moedas ou de cédulas - para troca
de bens, serviços, força de trabalho, divisas estrangeiras ou nas demais transações
financeiras. Como regra, é emitido e controlado pelo governo de cada país (ou de uma
região, como é o caso do euro).
A maior parte dos países possuem um padrão monetário específico - um dinheiro
reconhecido legalmente - possuindo monopólio sobre sua emissão. Em quase todos, há
equipes que permanentemente cuidam para que esse padrão monetário possa ser
facilmente usado pela sociedade, preservando as três características básicas que constituem
a razão econômica da existência do dinheiro:

• Intermediário das trocas: a moeda é uma mercadoria de aceitação geral,


sendo, portanto, a facilitadora das trocas da economia;
• Unidade de valor (conta): é preciso exprimir o valor de troca das
mercadorias em termos de uma unidade comum qual seja o padrão monetário.
É o que permite a existência dos sistemas de preços. Assim, tal função fornece
o padrão para que as demais mercadorias expressem seus valores;
• Reserva de valor: no momento em que o indivíduo recebe moeda, cabe a ele
a possibilidade de gasta-lo num futuro mais ou menos próximo.
Na sociedade ocidental moderna, o crescente número de pagamentos, recebimentos
e transferências de eletrônicas de valores tem colaborado para que o dinheiro tenha um
caráter simbólico, uma abstração. Mas mesmo sendo cada vez menos utilizado na forma
de cédulas e moedas físicas, ele preserva suas características básicas, anteriormente
identificadas.
O uso do dinheiro torna a vida moderna muito facilitada em nossa sociedade.
Trocamos, com grande simplicidade, bens e serviços que produzimos pelos bens e
serviços de que necessitamos. E a troca é viabilizada pelo uso de uma “moeda” que
permite traduzir, automaticamente, o valor do que fazemos em valores daquilo que
precisamos.
O advento da internet e o avanço da tecnologia possibilitaram a transformação de
diversos aspectos de nossa vida cotidiana, e a forma como lidamos com o dinheiro
também foi afetada por essas mudanças. Em 2008 surgiu a primeira moeda digital,
atualmente conhecida como Bitcoin, dando o ponta pé inicial neste novo mundo de
moedas digitais. As famosas moedas digitais ou criptomoedas são um meio de troca,
descentralizado, que faz uso da tecnologia de blockchain (livro razão, que não é alterado)

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e da criptografia para assegurar a validade das transações e a criação de novas unidades da
moeda. Ainda que as moedas digitais tenham sido desenvolvidas com o propósito de
cumprirem as funções clássicas de uma moeda, estas moedas ainda não podem ser
utilizadas para compra e venda de mercadorias e serviços no país.

1.2 O Valor do Dinheiro no Tempo


As funções do dinheiro permitem que se possa dissociar ganhos e gastos no tempo.
Quando se praticava o escambo, isto é, a troca direta de uma mercadoria por outra
mercadoria, ganhos e gastos eram intrinsecamente relacionados. Com o surgimento do
dinheiro é possível decidir entre gastar ou não todos os recursos que conseguimos em
determinado período tempo. Caso a decisão seja a de não gastar todo o dinheiro ganho, a
parte não gasta imediatamente se caracterizará como uma poupança, o que permitirá que
se tenha gastos maiores que os recebimentos em momentos futuros.
A decisão de poupar parte dos recursos ganhos em determinado período permite ao
poupador escolher em que outro período ele terá gastos maiores que seus ganhos. A
possibilidade de vir a gastar mais dinheiro do que o seu ganho pode ser interpretada como
um bem ou direito conquistado pelo poupador. Seu ato de poupar lhe proporcionou a
liberdade de tomar a decisão quanto ao momento de melhor gastar a quantia poupada. Na
condição de um bem ou direito, a liberdade de decidir o gasto dos valores poupados pode
ser “vendida” pelo poupador. O comprador desse direito é aquele que, sem possuir
poupança acumulada, pretende gastar hoje mais do que ganhou, com a perspectiva de vir
a dispender menos que seus ganhos em momentos futuros. Para abrir mão da liberdade
de escolher, é natural que o poupador requeira uma remuneração. Quem pretenda fazer
uso imediato de recursos superiores a seus ganhos, adquirindo o direito de somente
poupar em momentos futuros, precisa pagar por isso.
As negociações do direito de usar mais recursos do que os ganhos no presente e no
futuro são exatamente as transações entre os que poupam e os que tomam recursos
emprestados. A remuneração paga pelos tomadores de empréstimos aos poupadores
resulta da quantidade de dinheiro ofertada pelos poupadores e da quantidade demandada
pelos tomadores. Essa remuneração é o preço do dinheiro no tempo, ou juro.

1.3 Decisões Básicas Envolvendo Dinheiro


Os problemas típicos de decisão relacionados a dinheiro enfrentados por todos e que
irão influenciar nas quantidades poupadas e tomadas de recursos são ligados a:

• Decisão de Investimento – O que fazer com o dinheiro disponível que não


foi gasto? Quanto e com que finalidade ele deverá ser utilizado? Que cuidados

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são necessários para que os recursos poupados não sejam perdidos ou
desvalorizados?
• Decisão de Financiamento – O que fazer quando se precisa de mais
dinheiro do que se tem? Há quem se predisponha a nos emprestar? Se houver,
em que condições? Como prever quanto e como pagar o empréstimo e os
juros?
Para se tomar decisões buscando eficiência é necessário solucionar problemas através
da escolha de uma alternativa que satisfaça alguns parâmetros. O processo de identificação
da solução deve ser racional, no sentido de se apoiar em suposições claramente explicitadas
(ou tacitamente admitidas) acerca das alternativas viáveis e de compará-las observando
regras gerais de coerência. A escolha racional de uma solução traz implícita a ideia de que
os tomadores de decisão tentam maximizar benefícios, conjugados, se possível, com a
minimização de custos. Para tanto, se valem de critérios quantitativos para aferir a
qualidade dessas alternativas.
É natural que as decisões sejam influenciadas pelas condições e perspectivas
econômicas vigentes tanto no país como no mundo. Um particular ambiente macro-
econômico pode criar condições que favorecem determinadas alternativas de decisão em
detrimento de outras. Há vários indicadores da economia a observar, mas certamente os
seguintes constam da lista de todos os tomadores de decisão:
Taxa de Crescimento do Produto Interno Bruto (ou PIB) – é o indicador que informa
em quantos pontos percentuais a riqueza de um país (ou de uma região) variou durante
um particular período (em geral, ano civil).
Taxa de câmbio – dá uma informação relativa a moedas de outros países (usualmente
USD e €), indicando em que nível as trocas de moeda estão sendo processadas. É
fundamental para orientar decisões financeiras sobre negócios influenciados por variação
de moedas.
Taxa Básica de Juros da economia – no caso do Brasil, a Taxa SELIC.
Taxa de Inflação – indica como o poder aquisitivo do dinheiro está se comportando.
Quanto maior a inflação, maior a perda de poder aquisitivo da moeda. No Brasil, o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo IBGE, é o índice
utilizado pelo Banco Central para o acompanhamento dos objetivos estabelecidos no
sistema de metas de inflação, sendo considerado o índice oficial de inflação do país.

1.4 O Custo do Dinheiro no Tempo


Conforme explicado anteriormente, o juro representa um custo a ser pago pelo
agente econômico que deseja utilizar mais recursos do que dispõe no presente, isto é,
gastar mais do que sua renda permite. Podemos traçar um paralelo do juro com o valor
pago de aluguel por um imóvel: pagamos determinada quantia de moeda pelo uso daquele

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bem com certa periodicidade; ao final do contrato devolvemos o bem ao proprietário. Ao
uso do recurso cabe uma remuneração, que no caso da moeda é o juro.
Há uma segunda maneira de ver a questão, sob o ponto de vista de quem é
proprietário dos recursos, os poupadores. Assim como os demais agentes, os poupadores
necessitam de moeda para efetuar gastos no dia a dia, trocando a moeda que possuem por
mercadorias ou serviços. Certas transações envolvendo moeda são corriqueiras, como a
aquisição de gêneros alimentícios, o pagamento pelo uso de transporte urbano, cartões de
crédito, luz, água e etc. Em alguns casos pode haver proximidade entre a data de
recebimento da renda do agente com a data de vencimento de suas dívidas; em outros
casos pode haver descasamento desses prazos, fazendo com que o agente necessite reter
recursos para cumprir com as dívidas assumidas. Há ainda a possibilidade de surgirem
despesas emergenciais não previstas, como despesas médicas ou uma franquia de um
seguro de automóvel no caso de um acidente. Imprevistos podem ocorrer, implicando em
despesas não previstas.
Diante de um conjunto amplo de situações, os agentes econômicos tendem a preferir
manter seus recursos na forma mais líquida o possível, isto é, mantendo-os na forma de
moeda ou convertendo-os em ativos (investimentos) cuja venda possa ser efetuada de
forma rápida e sem implicar na perda de valor. Eles podem aceitar formas menos líquidas
de manutenção de seus recursos, mas exigirão um preço cada vez maior para compensar
a iliquidez.
Poupadores usualmente observam diversos parâmetros no momento de investirem
para que o retorno de seus recursos seja efetivamente realizado com a devida remuneração.
Alguns fatores reduzem a disposição dos poupadores em oferecer seus recursos aos
tomadores. Quanto menos agentes estiverem dispostos a oferecer seus recursos para a
realização de empréstimos, as taxas de juros tendem a se tornarem mais elevadas. Alguns
fatores são fundamentais para se definir o custo do dinheiro no tempo, sendo eles:
Prazos mais longo: se as oportunidades de investimento possuem prazo para
recebimento longo, os agentes tendem a exigir retornos mais elevados, elevando o juro;

Inflação mais alta: a inflação corroí o valor do dinheiro no tempo, levando os agentes a
exigirem compensações por essa perda;
Percepção de que o tomador possui risco de crédito maior: se há um risco de não
recebimento dos valores investidos, os emprestadores de recursos tendem a exigir taxas
cada vez maiores para compensá-los pela exposição ao risco;
Taxa básica de juros real da economia mais alta: sendo a taxa utilizada no retorno de
alguns dos títulos do governo, tende a se tornar o patamar a partir do qual as operações
com moeda são realizadas.
É importante ressaltar que no mundo real nem sempre é possível tomar decisão em
condições de certeza do comportamento de todos os fatores relevantes. Este livro no
entanto, se restringirá a processos decisórios que possam ser definidos por critérios

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quantitativos e apoiado em dados que caracterizam as diversas alternativas de solução, ou
seja, onde a decisão ocorre em condições de certeza de todos os fatores relevantes. O foco
da abordagem deste livro é a escolha dentre as alternativas financeiras considerando o
valor do dinheiro no tempo.
Um exemplo da decisão típica que será colocada em análise é a escolha dentre duas
aplicações de recursos:
Um investimento inicial de R$100.000,00 com o recebimento, ao fim de dois anos, de
R$250.000,00;
Um investimento inicial de R$200.000,00, com o recebimento, no fim de cinco anos, de
$400.000,00.
Para fazer uma comparação justa, é necessário igualar o tempo de vida, ou de
utilização dos investimentos iniciais, em ambas as alternativas. Para isso, serão utilizados
conceitos e modelos da Matemática Financeira.

1.5 O Diagrama do Fluxo de Caixa


Para comparar capitais referidos a épocas distintas, é preciso, antes de mais nada,
localizar tais épocas. É usual representar, em um gráfico típico, a passagem do tempo em
um eixo horizontal e assinalar, nesse eixo, os pontos que marcam os momentos aos quais
as quantias estão referidas.

Depois, é importante localizar os capitais envolvidos. Seria natural registrar,


próximos a esses pontos, os valores das quantias a eles referidas. Adicionalmente é adotada
uma convenção que permite saber se cada quantia está sendo recebida (dinheiro entrando)
ou se está sendo paga (dinheiro saindo). Faz-se uma seta (ou uma barra) para baixo quando
se representa uma saída de dinheiro e, inversamente, uma seta para cima quando há uma
entrada de dinheiro.

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Esse tipo de representação gráfica é chamado de fluxo de caixa gráfico ou DFC -
diagrama de fluxos de caixa e permite uma leitura simplificada das condições que ligam
dinheiro e tempo em uma particular alternativa.

Exemplos de diagramas de fluxos de caixa – ótica do dono do dinheiro

Exemplo 1: se Joaquim empresta R$ 1.000,00 a seu amigo Jorge, que promete


devolver esse valor em duas parcelas de R$ 500,00 que vencem 15 e 40 dias depois, o fluxo
de caixa de Joaquim é representado pelo seguinte DFC.

Exemplo 2: se o acerto feito fosse reprogramado para pagamento do total


emprestado em quatro parcelas iguais, de R$ 250,00, que vencem de 15 em 15 dias, o novo
fluxo de caixa seria representado da seguinte forma:

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Daqui por diante somente serão consideradas as alternativas tecnicamente viáveis
caracterizadas pelo respectivo fluxo de caixa gráfico. O DFC dará uma visão geral da
movimentação financeira de cada uma das alternativas, facilitando assim a comparação
entre elas.
Em geral, as setas (barras) não guardam proporção entre si pois a escala vertical não
é tão importante já que os valores numéricos de todos os fluxos são informados. Além
disso, é importante notar que o DFC pode ser desenhado do ponto de vista do credor
(dono do dinheiro) ou do ponto de vista do devedor (quem toma o dinheiro emprestado).

Exemplos de diagramas de fluxos de caixa – ótica do tomador do dinheiro

Exemplo 3: considere o DFC do exemplo 2 (depois da modificação que foi acordada


entre os amigos). O DFC desse empréstimo, depois de reprogramado, do ponto de vista
do Jorge, seria:

A caracterização realizada nos exemplos anteriores quanto a dono e tomador do


dinheiro realizadas nos exemplos 1, 2 e 3 não são particularmente necessárias, uma vez

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que essa condição é implícita no DFC. Pelo problema apresentado fica claro a ótica que
deverá ser abordada na solução se os sinais dos fluxos de caixa deverão ser positivos ou
negativos, representando, respectivamente, entradas ou saídas de dinheiro.

Exemplo 4: Ana Paula pretende aplicar ao final de cada mês a quantia de R$1.000,00.
Fará essas aplicações durante 4 meses. O banco no qual realizou a aplicação irá pagar ao
investidor, ao fim do quinto mês, R$ 4.800,00. Essa situação está representada no DFC a
seguir.

Exemplo 5: No primeiro dia do ano, Carlos procura um título público federal com
prazo de vencimento de cinco anos para alocar toda a sua poupança. No mercado há dois
títulos com esse prazo. O título 1 prevê apenas um pagamento ao final de cinco anos.
Caso adquira o título 2, Carlos receberá dez parcelas periódicas semestrais, sendo a
primeira um semestre após a aplicação e o valor aplicado ao final do décimo semestre. Os
DFCs que representam as alternativas são:
Título 1

Título 2

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O critério importante a ser observado nas representações realizadas através do DFC
é a clareza. Caso esse critério possa ser observado com uma representação mais
simplificada, não há qualquer problema em utilizá-la. Uma situação onde é usual a
simplificação é na representação de fluxos iguais que se repetem por longos períodos.
Nesses casos, é comum o uso de “...” para indicar a repetição continuada do dado
correspondente ao período à esquerda do “...” (Vide exemplo 6).
Outra situação de simplificação é na representação de fluxos cuja evolução apresenta
um determinado padrão, como uma progressão aritmética, por exemplo. Nesse caso, o
DFC pode ser melhor compreendido pela inclusão da regra de evolução dos fluxos (Vide
exemplo 7).
Seguem os exemplos dessas formas simplificadas de representação no diagrama que
é chamado de fluxo de caixa gráfico.

Exemplo 6: Recebimento de mensalidades iguais no valor de R$ 150,00 em


intervalos de 20 meses.

Exemplo 7: DFC com progressão aritimética nos valores previstos

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O DFC é um modelo cujo objetivo é facilitar a análise do comportamento do fluxo
de caixa. No exemplo a seguir é feita a representação da movimentação financeira de uma
família.

Exemplo 8: DFC mensal da família Castro


Natureza Descrição Valor (R$) Data
Receita Sálario 6.500,00 01/jan
Despesa Energia Elétrica -100,00 10/jan
Despesa Água -60,00 15/jan
Receita Aplicações Financeiras 500,00 15/jan
Despesa Internet -80,00 20/jan
Despesa Alimentação -780,00 25/jan
Despesa Aluguel -1.800,00 30/jan
Despesa Combustível -300,00 30/jan
Despesa Despesas Escolares -1.200,00 30/jan

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O fluxo de caixa pode ser facilmente gerado a partir das funções gráficas de planilhas
eletrônicas.

Exemplo 9: Representação do DFC no Excel


Fluxo de Caixa Fluxo de Caixa
Tempo Valores (R$)
0 -2000
500 500 500 500 500 500
1 500
2 500
3 500 0 1 2 3 4 5 6
4 500
5 500
6 500

-2000

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1.6 Comparação de Fluxos de Caixa
Uma vez que o dinheiro possui valor diferente no tempo, não é possível saber se um
fluxo é maior que o outro com base na comparação da soma de seus valores. Como já foi
visto, valores em momentos diferentes do tempo não podem ser tratado como uma
mesma “mercadoria”.
Para se comparar o valor de uma mercadoria com outra, antes é preciso que elas
estejam na mesma unidade. Um indivíduo vai ao mercado e adquire um quilograma de
banana e dois de maçã. Nas suas compras gasta um total de R$ 20,00, sendo R$ 5,00
referentes à banana e R$ 15,00 à maçã. Surge então a dúvida do quanto a maçã é mais cara
que a banana. Inicialmente lembra que o gasto em maçãs foi o triplo da despesa com
bananas. Mas logo percebe que a relação entre o preço das frutas não corresponde a essa
relação, visto que não estão na mesma unidade. Ao transformar o preço da maçã para a
mesma da unidade da banana, conclui que o preço dessa fruta é 50% maior do que o da
banana.
No caso do dinheiro, frequentemente é necessário realizar comparações entre
diversas séries de fluxos de caixa. Para isso, é preciso considerar um valor único que
represente toda a série de fluxos de caixa a ser comparada. O valor único é uma forma
conveniente de resumir o conjunto desses dados em um determinado instante escolhido.
O valor único nada mais é do que o somatório de todos os fluxos em um único instante.
Mas para fazer essa soma todos os fluxos precisam ser convertidos para o instante
escolhido, medidos assim “a valores” do instante escolhido. Dessa forma se garante que
os valores a serem somados estejam expressos na mesma unidade. Como foi visto, a
unidade relevante que diferencia a mercadoria dinheiro é o momento em que ele está
disponível.
As condições em que tomadores de recursos pegam dinheiro emprestado dos
poupadores fornecem importantes informações sobre o preço de equilíbrio de mercado
do dinheiro em diversos momentos. Suponhamos que em determinada data é possível
tomar empréstimos que podem ser pagos em uma única parcela ao final de um, dois ou
três meses de prazo. Caso o tomador escolha o empréstimo de um mês de prazo, para
cada R$ 100,00 deverá devolver R$ 105,00. No empréstimo com dois meses de prazo a

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quantia a devolver será de R$ 110,00. E, na hipótese de só devolver o dinheiro ao final de
três meses, o tomador terá de pagar R$ 120,00.
Considerando essas informações, pode-se dizer que R$ 105,00 no momento 1
equivale a R$ 110,00 no dinheiro do momento 2 e esses equivalem a R$ 120,00 no dinheiro
do momento 3 e todos equivalem a R$ 100, no dinheiro do momento 0. Com base nas
informações de equivalências do dinheiro observadas é possível expressar todos os valores
de diversos instantes em um único momento.
Tomemos o DFC do exemplo a seguir:

Exemplo 10: Entendendo o valor do dinheiro no tempo a partir da observação dos


preços no mercado de crédito.

Caso a decisão seja de expressar todos os valores no período 0, será necessário


converter os valores dos períodos 1, 2 e 3 para o período 0 e somar os valores ao do fluxo
do próprio período 0. Pelas equivalências coletadas no mercado de empréstimos o valor
de R$ 105,00 no momento 1 equivale a R$ 100,00 no momento 0, R$ 220,00 no momento
2 equivale a R$ 200,00 no momento 0 e R$ 360,00 no momento 3 equivale a R$ 300,00
no momento 0. Somando os três valores ao fluxo de saída (negativo) de R$ 400,00
referente ao fluxo do instante 0, obtém-se R$ 200,00, que é o fluxo único que expressa o
DCF do exemplo no momento 0.

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O DFC resultante é:

É importante perceber que de posse das equivalências é possível realizar a


equalização de valores para qualquer momento. O instante de referência é chamado de
data focal. Quando a data focal definida é uma data futura, chama-se o valor único que
representa o fluxo de caixa de valor futuro na data focal considerada. Quando a data focal
é estabelecida na data 0, o valor único é chamado de valor atual na data zero ou, mais
simplesmente, valor presente.
Caso se decida calcular o valor futuro do exemplo anterior para o instante 3, será
necessário converter os valores dos momentos 0, 1, 2 para o instante 3 e posteriormente
somar todos os resultados ao fluxo deste momento, conforme mostrado a seguir.

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A representação em um único fluxo no momento 3 é:

O resultado final da operação é chamado de montante, ou valor futuro e usualmente


é representado por M ou por VFn.

1.7 Capital, Juro e Taxa de Juros


Aplicação e empréstimo de dinheiro são situações frequentes no âmbito das decisões
financeiras. Nelas alguns fluxos possuem denominações específicas. Capital ou capital
inicial é a quantia que se aplica, no caso de se tratar de um investimento – ou que se toma
emprestado, no caso de se tratar de um empréstimo. Dependendo do contexto, o capital
também pode ser chamado de valor principal ou de valor presente. Em geral o fluxo
que representa o capital inicial é representado por C ou por PV.

Exemplo 11: Marcelo chegou à conclusão que poderá economizar algum dinheiro
indo de bicicleta para a universidade. Como ele não tem uma, pretende levantar os
recursos para a compra de uma através de uma linha de crédito oferecida pelo Banco
FUTURO para universitários. Pretende solicitar um empréstimo de R$ 1.000,00 ao Banco.
Se Marcelo conseguir esse empréstimo, terá de pagar juros sobre o capital C de R$ 1.000,00
que tomou emprestado.

Exemplo 12: Em 10 de dezembro de 2017 João recebeu seu 13º salário. Ele deseja
aplicar parte do valor recebido com o objetivo de ter disponíveis R$ 4.000,00 em
01/07/2018 quando entrará de férias e pretende viajar com a esposa. Tendo se informado
das taxas de juros ele escolhe um título público negociado no Tesouro Direto que lhe
proporcionará obter, após o pagamento de impostos, R$ 4.000,00 em 01/07/2018. Para
isso, ele precisa aplicar R$ 3.880,00 em 10/12/2017. O capital inicial calculado, PV, é,
portanto, R$ 3.880,00. Ele foi obtido trazendo-se o valor final almejado para o valor
presente equivalente, a partir das informações obtidas no Tesouro Direto das condições
praticadas em 10/12/2017 para o preço do dinheiro no tempo.
Na seção anterior, houve a suposição de que as condições vigentes do preço do
dinheiro no tempo implicavam que tomadores de empréstimos de R$ 100,00 deveriam
devolver R$ 105,00 após um mês. Os R$ 5,00 relativos à remuneração que o tomador

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pagará ao poupador são chamados de juro. Juro, portanto, é o rendimento, expresso em
reais, obtido – ou pago – por quem aplicou – ou tomou emprestado – certa quantia.
Quando o juro é dividido pelo valor do capital, é calculada uma taxa, chamada de taxa de
juros.
É importante observar que o juro de R$ 5,00 foi produzido no período de um mês.
Assim, a taxa de juros também deve estar expressa nessa unidade de tempo, ou período.
𝟓
taxa de juros = 𝐩𝐨𝐫 𝐮𝐦 𝐦ê𝐬
𝟏𝟎𝟎
Em geral e daqui por diante nesta apostila o valor calculado para o juro do período t será
representado por J e a taxa de juros por i. Ou,
𝑱
𝒊=
𝐂
A taxa de juros deve ser sempre referida a um período. No exemplo acima temos
que:

𝒊 = 𝟓% 𝐚𝐨 𝐦ê𝐬
E no caso das duas outras condições de empréstimo que supostamente estavam
sendo praticadas, qual era a taxa de juros? Lembramos que para o caso de empréstimos de
dois meses, a cada R$ 100,00 tomados, era necessário devolver R$ 110,00. No caso de
empréstimos pelo prazo de três meses, o valor a ser devolvido deveria ser de R$ 120,00
para cada R$ 100,00 tomados. Usando as definições e convenções sobre juros e taxa de
juros as condições para os empréstimos de dois e três meses de prazo podem ser expressas
conforme as indicações feitas a seguir.
Nos empréstimos de dois meses:
𝟏𝟎
taxa de juros = 𝐩𝐨𝐫 𝐝𝐨𝐢𝐬 𝐦𝐞𝐬𝐞𝐬
𝟏𝟎𝟎

𝒊 = 𝟏𝟎% 𝐚𝐨 𝐛𝐢𝐦𝐞𝐬𝐭𝐫𝐞

Nos empréstimos de três meses:


𝟐𝟎
taxa de juros = 𝐩𝐨𝐫 𝐭𝐫ê𝐬 𝐦𝐞𝐬𝐞𝐬
𝟏𝟎𝟎

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𝒊 = 𝟐𝟎% 𝐚𝐨 𝐭𝐫𝐢𝐦𝐞𝐬𝐭𝐫𝐞

A unidade de tempo à qual se refere a taxa de juros é essencial para a sua completa
definição. Taxas de juros sem a devida unidade de tempo é um erro grave, pois impede
que se proceda qualquer análise financeira com base nesse valor. Se, por exemplo, há
apenas a informação de que a taxa de juros é de 3%, como seguir com os cálculos e
comparações? Há muita diferença entre pagar/receber 3% por mês e pagar/receber 3%
por ano.
A informação de qual é o período de referência da taxa de juros é simplificada pelo
registro de duas letras colocadas logo após seu valor. Usualmente os períodos de tempo a
que se referem as taxas de juros são expressos de forma abreviada como indicado a seguir
para os períodos mais comumente referidos:

• a.d. ou ad = ao dia
• a.m. ou am = ao mês
• a.b. ou ab = ao bimestre
• a.t. ou at = ao trimestre
• a.q. ou aq = ao quadrimestre
• a.s. ou as = ao semestre
• a.a. ou aa = ao ano
Assim, podemos resumir as condições vigentes nas hipóteses que foram
estabelecidas para o mercado de empréstimo:

𝒊 = 𝟓% 𝐚. 𝐦
𝒊 = 𝟏𝟎% 𝐚. 𝐛
𝒊 = 𝟐𝟎% 𝐚. 𝐭
As taxas de juros podem ser expressas em termos percentuais ou na sua forma
unitária. Em decorrência da facilidade de raciocínio que proporciona, o formato
percentual é universalmente usado. Esse formato será encontrado em diversas publicações
sobre taxas de juros nos jornais, sites, contratos, livros, artigos etc. É tão frequentemente
usado que algumas calculadoras financeiras já fazem a necessária divisão do valor i da taxa
digitada por 100, trocando para a formato unitário, que será usado em todas as contas. No
entanto, é necessário sempre certificar-se do uso do formato unitário nos cálculos
matemáticos que envolvam taxas de juros. Como as fórmulas são construídas assumindo
o formato unitário, antes de começar as contas deve-se transformar as contas para esse
formato, a menos que se esteja utilizando uma calculadora que faz isso automaticamente.

29
A tabela a seguir resume as taxas que supomos, nos exemplos anteriores, estarem
sendo praticadas no mercado de empréstimo de dinheiro e seus significados:

Capital Inicial Juro Taxa de juros (%) Unidade de Tempo Taxa de Juros (Un)
100 5 5% ao mês 0,05
100 10 10% ao bimestre 0,10
100 20 20% ao trimestre 0,20

É importante observar que a troca de formato é uma transformação puramente de


representação que, portanto, não altera o valor numérico da taxa de juros.

1.8 Custo de Oportunidade, Taxa Básica de


Juros e Inflação
Custo de oportunidade é um conceito econômico. Na avaliação de projetos ou
investimentos consideramos que uma determinada escolha gera valor econômico se esta
maximiza a rentabilidade dos recursos disponíveis, isto é, ela é a opção que gera mais
riqueza. Esse conceito é importante por fornecer uma referência que permite descartar
algumas alternativas. Custo de oportunidade pode ser definido como o resultado
financeiro de uma situação real e disponível que é alternativa à hipótese que está sendo
analisada.
Tudo se inicia com a ideia realizar a análise econômica de um determinado plano ou
projeto. O processo de avaliação econômica contempla uma fase que consiste em
comparar o uso dos mesmos recursos do projeto em outras alternativas disponíveis no
mundo real. Essa fase visa entender se os mesmos recursos do projeto analisado poderiam
gerar melhor rentabilidade em usos alternativos, ou seja, em outras oportunidades.
O termo custo é utilizado apenas por convenção da metodologia. A partir do cálculo
do valor líquido do uso alternativo dos recursos, utiliza-se esse valor como um custo ao
projeto analisado. Daí a denominação custo de oportunidade. Projeções de que o resultado
líquido do projeto será inferior a seu custo de oportunidade são indicativas da sua
inviabilidade econômica.

Exemplo 13: Imagine, para considerar um exemplo bem simplificado, que existem
duas alternativas de aplicação:

• O banco A garante 15% a.a., por uma aplicação de um ano;


• O banco B oferece uma alternativa que rende, no mesmo prazo, 11%.

30
O custo de oportunidade da aplicação no banco A será de 11% a.a. e o custo de
oportunidade de aplicar no banco B será de 15% a.a. Na avaliação econômica dessas
hipóteses, o resultado da aplicação no banco A, reduzindo-se o custo de oportunidade, é
positivo. Já a avaliação da aplicação no banco B resulta em um valor econômico negativo,
quando considerado o custo de oportunidade.

Exemplo 14: Existem somente duas alternativas de investimentos que estão sendo
consideradas:

• Benefício proporcionado de R$500,00;


• Benefício proporcionado de R$560,00.
O custo de oportunidade de A é o valor proporcionado por B e, portanto, a escolha
da alternativa A gera um resultado de:
500 – 560 = - 60
logo, A é economicamente inviável
O custo de oportunidade de B é o valor proporcionado por A e, portanto, a escolha
da alternativa B gera um resultado de:
560 – 500 = + 60
Foi mencionado na definição de custo de oportunidade que a alternativa que terá a
função de indicar o custo de oportunidade deve ser real e disponível. Para isso é
importante que as alternativas escolhidas para cada projeto analisado tenham as seguintes
características:

• Sejam realistas;
• Sejam exequíveis na data da decisão;
• Tenham condições gerais compatíveis e comparáveis com o projeto analisado,
em particular no que se refere ao volume de capital do projeto analisado.
Havendo mais de uma alternativa de investimento, a escolha de uma delas implica,
na maioria dos casos, descartar as outras; nesse caso, o custo de oportunidade da
alternativa que for escolhida é o valor – ou a taxa – de remuneração melhor dentre as que
foram abandonadas.
Sempre que se configurar um resultado inferior ao custo de oportunidade, a
alternativa de investimento que o gerou é considerada economicamente inviável. Em
princípio, daqui por diante, vamos considerar nos exemplos apenas alternativas
economicamente viáveis.

31
Mesmos assim, sempre que existirem problemas de escolha entre várias alternativas
de ação, estará presente o conceito de custo de oportunidade. Ao analisar várias
alternativas de ação, a decisão será sempre apoiada no critério do benefício frente ao
sacrifício das alternativas.

1.8.1 A Taxa Básica de Juros


A taxa Selic é a taxa de referência de juros do nosso país, é a chamada taxa básica de
juros. O Banco Central atua diariamente no mercado de dinheiro de tal forma que as taxas
de juros praticadas por instituições financeiras em operações para tomar ou aplicar
dinheiro com títulos públicos por um dia estejam próximas a um determinado nível pré-
definido.
Do ponto de vista de um banco que tem recursos para emprestar, a taxa Selic é seu
custo de oportunidade. A concessão de empréstimos com taxas iguais ou menores que a
taxa Selic são, portanto, para eles, inviáveis economicamente.
Além disso, há títulos emitidos pelo Tesouro Nacional disponíveis ao público que
proporcionam rentabilidade igual à da taxa Selic diária. Mesmo valores muito pequenos
podem ser aplicados nesses títulos por meio do Tesouro Direto. Logo, a taxa Selic também
é o custo de oportunidade para a avaliação da alocação de recursos por agentes não
financeiros.
Percebe-se assim que a taxa básica de juros é um importante custo de oportunidade
da economia, pois é parâmetro fundamental na tomada de decisão de todos os agentes
econômicos do país. Daí resulta sua função macroeconômica.
Em resumo, como a taxa Selic é uma alternativa de alocação para todos os agentes
econômicos com recursos de curto prazo para emprestar, ela passa a ser o nível mínimo
do custo de dinheiro de curto prazo. Assim, somente operações e projetos com
rentabilidades projetadas acima do custo de oportunidade representado pela taxa Selic são
viáveis economicamente.

Exemplo 15: Considere que você disponha de uma quantia de R$ 5.000,00 e deseje
selecionar uma aplicação para esses recursos. Em conversa com o gerente de sua conta
bancária, você recebe uma oferta de um CDB de 30 dias, que renderá 0,5% a.m. Você
então busca identificar as alternativas a esse investimento, e descobre que a taxa Selic se
encontra em 0,57 %a.m. A diferença das taxas mostra que o CDB é economicamente
inviável, e com base nessa informação você decide investir em um título Tesouro-Selic no
Tesouro Direto.

32
Exemplo 16: Dois amigos decidem começar um pequeno negócio, juntando
recursos próprios. Depois de iniciado o empreendimento, convidam um terceiro amigo,
João, apresentando para ele o negócio e a perspectiva de rendimentos. Para participar da
iniciativa, João teria que aportar no empreendimento um total de R$ 25.000,00, e a
previsão de retorno é de 9% em um ano. Como alternativa, João identificou que existia
um título com rendimentos atrelados a Selic cujo retorno líquido seria 9%. Ao considerar
o custo de oportunidade, João agradeceu a oferta dos amigos, e decidiu pelo título atrelado
a Selic.

1.8.2 A Inflação
Inflação é a alta frequente e generalizada dos preços de bens e serviços da economia.
A inflação é um elemento de grande preocupação para os agentes que decidem poupar
parte de sua renda para consumir mais que seus ganhos no futuro. A preocupação ocorre
porque a subida dos preços pode impedir que se adquira no futuro, utilizando os recursos
poupados, os bens e serviços os quais se abriu mão do consumo no presente. Em
decorrência da inflação, poupar pode gerar perdas quando se utiliza como parâmetro o
total de bens e serviços que poderão ser adquiridos nos diversos momentos do tempo.
Pela própria definição, pode-se considerar a inflação como um custo de
oportunidade para os poupadores. Como a alternativa a poupar é gastar todos os recursos
no próprio período que foi recebido, em ambientes econômicos com altas generalizadas
de preços, será possível adquirir maior quantidade de bens e serviços caso se opte por
gastar imediatamente o dinheiro. Caso haja previsão de aumento de preços, o total de bens
e serviços que se pode adquirir no presente deve ser um custo de oportunidade que precisa
levado em consideração na decisão de poupar. O caso de deflações, ou queda
generalizadas de preços, seriam um custo de oportunidade positivo, pois possibilitariam
aos poupadores comprar mais bens no futuro que no presente. Como esse caso é uma
situação excepcional e macroeconomicamente indesejável, ele não será aqui considerado.
Voltando ao caso de economias com inflação, mesmo que em níveis baixos, e sendo
as taxas inflacionárias um custo de oportunidade para quem poupa, a decisão de poupar
requer que a taxa de juros seja superior à taxa de inflação. Somente assim a alternativa de
poupar terá um valor econômico positivo. Esse valor é a diferença entre a taxa de juros
proveniente da aplicação dos recursos poupados e o custo de oportunidade decorrente da
desvalorização do dinheiro no período da aplicação devido à taxa de inflação.
Pelas razões expostas, a diferença entre a taxa de juros e a taxa de inflação é um
importante indicador para as decisões financeiras e por isso recebe uma denominação
específica: taxa de juros real. Ela indica para aplicadores e tomadores de recursos,
respectivamente, a rentabilidade ou o esforço de pagamento representados por uma cesta
de bens e serviços envolvidos na operação financeira. Enquanto taxas de juros reais altas
estimulam o aumento de recursos poupados e a aplicação de recursos, reduz o interesse

33
por empréstimos devido à quantidade de bens e serviços que se terá de abrir mão no futuro
para pagar os empréstimos.

Exemplo 17: considere que num dado momento uma família tenha a sua disposição
R$ 100 e a possibilidade de comprar um determinado bem pelo valor de R$ 1,00.
Considere que a mesma família sabe que se postergar a compra para um período
subsequente, terá a sua disposição R$ 108 para gastar, mas terá que pagar R$ 1,20 pelo
mesmo bem, devido aos efeitos da inflação. A família está disposta a comprar toda a renda
em unidades do bem, e deseja saber se deve efetuar a compra hoje ou poupar os recursos
para comprar no segundo momento. Vamos aos cálculos:

• Comprando hoje: R$ 100,00 ÷ R$ 1,00 por unidade = 100 unidades


• Comprando depois: R$ 108,00 ÷ R$ 1,20 por unidade = 90 unidades
Observando o resultado, a compra no momento presente é a mais vantajosa.
8
Taxa de Juros = = 8% 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑢𝑚 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜
100
0,20
Inflação = = 20% 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑢𝑚 𝑝𝑒𝑟í𝑜𝑑𝑜
1

Juros real = Taxa de Juros – Inflação


Juros real = 8%-20% = -12%
Veja o mesmo resultado observado a taxa de juros:
Em termos de unidades, o custo de oportunidade é evidenciado pela quantidade de
bens que deixamos de comprar ou que compraremos a mais pela decisão de postergar a
compra. No exemplo, o custo de oportunidade são -10 unidades, evidenciado da
mesma forma pelos juros real negativo.

1.9 Período, Capitalização e Prazo


Capitalizar significa converter em capital. A capitalização se caracteriza pela
incorporação do juro ao capital. Período de capitalização é o intervalo de tempo –
supostos adjacentes e iguais entre si – em que pode ser dividido o prazo de uma operação
financeira e para o qual o juro é calculado. Uma vez calculado, o valor correspondente aos
juros pode ser pago, liquidando-se o compromisso, ou incorporado ao capital, para
liquidação em momento futuro. Prazo é a quantidade de períodos de capitalização da
operação. Usualmente o prazo é representado por n.

34
O período de capitalização é, em alguns casos, também chamado de período
financeiro. Essa é uma informação importante pois define para qual período o juro deverá
ser calculado com vistas à incorporação ao capital. Em muitas situações não se faz menção
clara ao período de capitalização de uma operação financeira. Isso ocorre em duas
situações: quando as regras da operação em questão são de amplo conhecimento das
partes; ou quando esteja implícito na negociação que o período financeiro coincide com a
periodicidade expressa na taxa de juros.
Um exemplo do primeiro caso são as operações overnight, ou por um dia. Nessas
operações negociam-se taxas expressas ao ano, mas está implícito na modalidade do
negócio o prazo de capitalização de um dia. No segundo caso, por exemplo, se nada
mais for dito, uma operação de empréstimo com cinco anos de prazo fechada a 35% a.a.,
contém implícita a informação que os juros de 35% serão calculados na periodicidade
anual sobre o capital. Terá, portanto 5 períodos de capitalização, ou n = 5.
Em situações como a do exemplo das operações overnight, quando a taxa de juros é
expressa em periodicidade diferente do período financeiro, é importante ressaltar que,
antes de se iniciar o cálculo do valor do juro sobre o capital, é necessário realizar a
conversão da taxa disponível para o período de capitalização definido. Ou seja, nos
cálculos dos juros é importante assegurar-se que a taxa de juros e o período de
capitalização inseridos nas fórmulas estão nas mesmas unidades de tempo. Essas
conversões serão demonstradas de forma detalhada mais à frente.
Suponhamos que no exemplo do empréstimo de cinco anos de prazo e 35% a.a. de
taxa de juros as partes tivessem pactuado capitalização mensal. Como o período financeiro
é diferente da periodicidade expressa na taxa de juros, é necessário encontrar a taxa
equivalente mensal da taxa de juros anual para só então iniciar os cálculos dos juros
mensais sobre o capital. Serão no total 60 períodos de capitalização, ou n = 60.
A taxa expressa em periodicidade diferente do prazo de capitalização é chamada de
taxa nominal e a taxa com a mesma periodicidade do prazo de capitalização é a taxa
efetiva.
Embora tenham sido utilizados exemplos que refletem situações reais onde os
períodos de capitalização estão implícitos na negociação das operações, isso não deve ser
interpretado como um desprezo à importância do parâmetro. Pelo contrário, um mal-
entendido entre as partes de uma operação sobre o período de capitalização pode gerar
grandes diferenças financeiras a ambos. Por isso, no caso de dúvidas não se deve hesitar
na confirmação do entendimento único entre as partes sobre o período financeiro e a
periodicidade em que a taxa de juros está sendo expressa. Tudo isso também deve estar
claro nos contratos formais ou nos manuais e regulamentos emitidos pelas autoridades
para regulamentar as operações.

1.9.1 Capitalização Discreta e Contínua


35
Na maior parte dos problemas financeiros cotidianos são utilizadas capitalizações
discretas – ou descontínuas – caracterizadas pela incorporação dos juros ao capital em
intervalos discretos do tempo: por exemplo dias, meses, anos etc. Assim ocorre pois é
conveniente para devedores e credores. O uso consagrou a regra de determinar os valores
dos juros em instantes equiespaçados – ou quase – no tempo.
É frequente, em nossa sociedade, fluxos financeiros periódicos com datas específicas
pré-determinadas: mensalidades, prestações, salários, crédito da remuneração da poupança
etc. No entanto, apesar de considerados “mensais”, devido ao fato de estarem previstos
para ocorrer sempre nos mesmos dias dos meses (por exemplo, dia 15 de cada mês), não
são datas equiespaçadas, pois os diferentes meses não têm o mesmo número de dias.
Mesmo assim, em muitas situações de capitalização discreta podem ser considerados, para
efeitos práticos, como se fossem equiespaçadas. O importante é que essa convenção seja
acordada entre as partes da operação financeira.
Quando a liquidação dos juros ocorre ao fim de cada período de capitalização, todas
as contas são muito simples. Apenas o capital inicial, VP = C0, rende juros e o valor do
juro é sempre igual, em qualquer período, como pode ser observado no exemplo a seguir.

Exemplo 18:

No entanto, quando a liquidação dos juros não ocorre no fim do período de


capitalização é necessário escolher o capital que será a base para pagamento de juros no
período subsequente: o capital original, ou o capital original mais os juros capitalizados no
período anterior. Essas opções definem, respectivamente, os regimes de capitalização a
juros simples e a juros compostos.
No caso do regime de capitalização a juros compostos, apesar de não ter havido o
pagamento dos juros, tudo se passa como se eles tivessem sido liquidados e uma nova
operação tenha sido contratada por um novo período de capitalização tendo como base o

36
capital e os juros do período anterior. Por essa razão é usual a referência aos juros
compostos como a de “juros sobre juros”. Como o capital inicial cresce a cada período de
capitalização, no regime de capitalização a juros compostos os juros serão também maiores
a cada período.
Na capitalização contínua se supõe que os juros são capitalizados e pagos em
intervalos infinitesimais de tempo. Após um período infinitesimal de capitalização, supõe-
se que o capital tem os juros incorporados e esse novo capital passa a ser a base para
receber os juros do próximo período. Ou seja, em regime semelhante ao dos juros
compostos da capitalização discreta, mas em períodos infinitesimais e contínuos.
A capitalização continua é um recurso utilizado na elaboração de modelagens
matemáticas, pois nela alguns problemas presentes na capitalização discreta, como a dos
intervalos iguais mencionada anteriormente, não ocorrem. Algumas pesquisas e avaliações
cujos modelos utilizam capitalização continua são orientadas para os seguintes problemas:

• Identificar viabilidade econômico-financeira de grandes projetos;


• Examinar políticas de investimento em situações em que pequenas e
numerosas aplicações de recursos possam ser vistas de modo agregado, como
um fluxo de investimento que rende “continuamente”;
• Avaliação da qualidade de processos industriais etc.
Aplicações utilizando capitalização contínua não serão abordadas neste livro.

37
38
2. Juros Simples
O funcionamento do regime de capitalização simples é o primeiro a ser abordado.
Na capitalização simples, em todos os períodos financeiros, a taxa de juros incide somente
sobre o capital inicial.

2.1 Cálculos Básicos


Usando a notação definida no capítulo anterior, as fórmulas matemáticas referentes
à capitalização simples serão deduzidas a partir de um valor do capital inicial, C, aplicado
durante n períodos à taxa i por período. De acordo com a definição do regime de
capitalização simples, a taxa de juros efetiva incidirá em todos os períodos apenas sobre o
capital. O valor do juro, J, será, portanto, correspondente a cada um dos períodos
financeiros e será igual para todos os períodos. O montante, VFn, será o resultado da soma
do juro correspondente ao período n ao capital inicial e ao somatório de juros capitalizados
nos períodos anteriores a n, conforme detalhado na tabela a seguir.

Capital que Juros do


Períodos rende juros Período Valor Futuro ao Fim dos Períodos Decorridos
decorridos
Cn Jn = i . Cn VF n
0 C
1 C J VF 1 = C + J = C + i . C
2 C J VF 2 = C + J + J = C + i . C + i . C
3 C J VF 3 = C + J + J + J = C + i . C + i . C + i . C
... ... ... ...
n C J VF n = VP . (1 + n . i ) = C . (1 + i . n)

Pela lei de formação observada na tabela, o cálculo do montante é o resultado da


soma do capital a n parcelas de valor J. Sendo J o produto de i por C. Em representação
matemática, temos que:

𝑽𝑭𝒏 = 𝑪 + 𝒏𝑱
Mas sabendo que J = iC, pode-se substituir o termo C pelo seu equivalente:
VFn = C + niC, o que pode ser simplificado para:

𝑽𝑭𝒏 = 𝑪 (𝟏 + 𝒊𝒏)

39
Exemplo 1: Observe a evolução do valor futuro de um capital inicial de R$100,00
aplicado por cinco períodos à taxa de 10% por período sob o regime de capitalização
simples:

Períodos Capital que Juros do


Valor Futuro ao Fim dos Períodos Decorridos
decorridos rende juros Período

n Cn Jn = i . Cn VF n
0 100
1 100 10 VF 1 = C + J = 100 + 10
2 100 10 VF 2 = C + J + J = 100 + 10 + 10
3 100 10 VF 3 = C + J + J + J = 100 + 10 + 10 + 10
4 100 10 VF 4 = C + J + J + J +J = 100 + 10 + 10 + 10+ 10
5 100 10 VF 5 = VP . (1 + 5 . i ) = 100 . (1 + 0,1 . 5) = 100+ 50

No exemplo anterior, entre os períodos 1 e 4, o cálculo do montante de cada período


foi feito considerando a adição dos juros do período ao valor inicial e às capitalizações
realizadas até o momento anterior. No período 5 foi utilizada a fórmula matemática geral
que decorreu da lei de formação observada no regime de capitalização simples onde o juro
é:

• Diretamente proporcional ao capital inicial, C, e


• Diretamente proporcional ao prazo de aplicação, n.
A representação gráfica do regime de capitalização simples se assemelha a uma escada
ascendente. Isso ocorre porque trata-se de um regime de capitalização discreta ou
descontínua.

Exemplo 2: Utilizando os dados do exemplo 1, temos a seguinte representação


gráfica:

Valor Futuro (VFn) Muda ao Fim de Cada Período

40
A fórmula geral que estabelece a relação entre as variáveis relevantes no regime de
juros simples, possibilita o cálculo não somente VFn, mas, por meio de transformações
algébricas, obtêm-se facilmente C, i e n, desde que os demais parâmetros sejam
conhecidos. A partir da fórmula VFn = (1 + in), seguem as transformações algébricas
para o cálculo de cada uma dessas variáveis e exemplos de problemas financeiros nos quais
há a necessidade de encontra-las.
a) Variável desconhecida C: por exemplo, pretendendo acumular um montante,
VFn, ao longo de n períodos de capitalização e sabendo a taxa de juros, qual o valor
do capital inicial necessário?

𝑽𝑭𝒏
𝑪 =
(𝟏 + 𝒊𝒏)
b) Variável desconhecida i: por exemplo, sabendo que ao final de n períodos
receberá um valor, VFn, e necessitando, no período 0, obter um empréstimo C qual
a taxa máxima de juros que permitirá pagar o empréstimo utilizando apenas o valor
a ser recebido?

𝑽𝑭𝒏 – 𝑪
𝒊 =
𝑪𝒏

41
c) Variável desconhecida n: por exemplo, pretendendo acumular um montante,
VFn, a partir de um capital inicial disponível e conhecendo a taxa de juros, qual é o
prazo da aplicação necessário para se atingir o objetivo:

(𝑽𝑭𝒏 – 𝑪)
𝒏 =
𝑪𝒊

Exemplo 3: Dois amigos combinam um mochilão pela Europa, e decidem juntar os


recursos para custear a viagem. Eles verificaram que os gastos estimados da viagem somam
R$ 35.000,00 reais, e se dispõem a juntar R$ 3.000,00 hoje, e acrescentar juntos 20% de
juros com capitalização simples sobre esse valor todos os meses, até atingir o total
combinado. Quanto tempo levarão para juntar o dinheiro?
Usando a fórmula (c), temos que:
(𝟑𝟓. 𝟎𝟎𝟎 – 𝟑. 𝟎𝟎𝟎)
𝒏 = = 𝟓𝟑, 𝟑𝟑 𝒎𝒆𝒔𝒆𝒔
𝟎, 𝟐𝟎 𝒙 𝟑. 𝟎𝟎𝟎
Ansiosos para iniciar a viagem o mais breve possível, eles decidem refazer os cálculos.
Caso eles desejassem fazer a viagem dentro de 20 meses, e considerando a mesma taxa de
juros, qual deveria ser o depósito inicial?
Usando a fórmula (a), temos que:
𝟑𝟓. 𝟎𝟎𝟎
𝑪 = = 𝟕. 𝟎𝟎𝟎 𝒓𝒆𝒂𝒊𝒔
(𝟏 + 𝟎, 𝟐𝒙𝟐𝟎)

2.2 Taxas proporcionais


No capítulo anterior foi mostrada a necessidade do uso de taxas de juros efetivas nos
cálculos financeiros. Quando somente a taxa nominal é conhecida, é preciso converte-la
em taxa efetiva previamente ao início dos cálculos. As características definidas para a
capitalização, a juros simples ou a juros compostos, geram formas diferentes de cálculo da
taxa efetiva a partir da taxa nominal. Vejamos agora como funciona a conversão no regime
de capitalização a juros simples.
Inicialmente deve-se lembrar que a transformação das taxas nominais em efetivas
tem como condicionante que a aplicação de ambas as taxas a um mesmo capital por um
mesmo intervalo de tempo resulte em um mesmo montante VFn. Esse é o conceito de
taxas equivalentes. Duas taxas são denominadas proporcionais quando existe entre elas a
mesma relação verificada para os períodos de tempo a que se referem. Na capitalização

42
simples, devido à incidência de juros apenas sobre o capital inicial, a taxa efetiva é
proporcional à taxa nominal, conforme demostrado a seguir.
Seja VFAn o montante que resulta da aplicação do capital C pela taxa nominal i1 por
n1 períodos, ambos expressos na mesma periodicidade. Seja VFBn o montante que resulta
da aplicação do capital C pela taxa nominal i2 por n2 períodos, ambos expressos na mesma
periodicidade. Dada a condição que o intervalo de capitalização t1, produto da
periodicidade pelo número de períodos, seja igual a t2, qual a taxa de juros i2 de tal forma
que VFAn = VFBn?
𝑉𝐹𝐴𝑛 = 𝐶 (1 + 𝑖1 𝑛1 )
𝑉𝐹𝐵𝑛 = 𝐶 (1 + 𝑖2 𝑛2 )
𝑉𝐹𝐴𝑛 = 𝑉𝐹𝐵𝑛
𝑡1 = 𝑡2
𝑡1 = 𝑛1 𝑝1
𝑡2 = 𝑛2 𝑝2
𝑛1 = 𝑛2 𝑝2 /𝑝1
Igualando VFAn e VFBn e substituindo a relação entre os prazos, temos que:
𝐶 (1 + 𝑖1 𝑛1 ) = 𝐶 (1 + 𝑖2 𝑛2 )
Assim,
𝒊𝟐 = 𝒊𝟏 𝒑𝟐 /𝒑𝟏

Exemplo 4: Um empréstimo com seis meses de prazo foi realizado com taxa de
juros de 12% a.a., no regime de capitalização simples. Qual é a taxa efetiva do empréstimo,
ou seja, a taxa a.s.?
Utilizando i2 = i1p2/p1, temos que:
i2= 12% a.a.
p1 = 2 (representando que em um ano há dois períodos de seis meses)
p2 = 1 (representando 1 ano, periodicidade da taxa nominal)
Assim,
i2 = 6% a.s.

43
12% ao ano é proporcional a 6% ao semestre na proporção inversa a das
periodicidades as quais as taxas são expressas.
Da mesma forma, 1% ao mês é proporcional a 12% ao ano. Para obter a taxa de
juros equivalente, no regime de capitalização simples, basta multiplicar a taxa a ser
transformada pela razão das periodicidades da taxa que se deseja obter pela taxa conhecida.

Exemplo 5: Vamos calcular a taxa trimestral equivalente a taxa de juros de 16% ao


ano.
i = 16% a.a
Ano = 4 trimestres
Taxa proporcional = 4% a.t
Assim, 16% a.a. e 4% a.t são taxas equivalentes.
Quando existe a necessidade de se trabalhar com taxas de juros expressas em dias a
partir de uma taxa nominal na periodicidade anual ou mensal é necessário realizar a
distinção entre o ano civil (365 dias) e o ano comercial (360 dias). Essa escolha está
relacionada aos conceitos de taxas exatas, que consideram dias, meses e anos conforme o
calendário ou taxas comerciais.
Para prazos fracionários, a taxa proporcional deve considerar a mesma regra de
formação indicada na fórmula i2 = i1p2/p1. Por exemplo, para calcular o juro referente a
15 dias quando a taxa de juros informada é 5% a.m.
No cálculo do juro comercial temos que o período de um mês é definido como 30
dias. Assim, p1 = 30 e p2 = 15:
𝑖2 = 0,05𝑥15/30 = 0,025 𝑎. 𝑞. ou 2,5 % 𝑎. 𝑞.

No cálculo do juro exato deve-se considerar o número de dias do mês considerado.


Assim, supondo que o cálculo é feito para um mês de agosto, p1 = 31 e p2 = 15:
𝑖2 = 0,05𝑥15/31 = 0,0242 𝑎. 𝑞 ou 2,42 % 𝑎. 𝑞

Exemplo 6: Pedro fez um investimento que promete remunerar seu capital a 15%
a.a, em regime de juros simples. Se ele pretende manter o seu capital de R$ 1.000,00
investido por 60 dias apenas, que montante receberá ao final desse prazo?
Temos:
i = 15% a.a.

44
n = 60 dias
C = 1.000,00
A taxa de juros para 60 dias, no caso do cálculo do juro comercial, será:
𝑖60𝑑 = (60 ÷ 360) 𝑥 0,15 = 0,025
O montante será: R$ 1.000 x 1,025 = 1.025
Para o caso do cálculo do juro exato,
𝑖60𝑑 = (60 ÷ 365) 𝑥 0,15 = 0,02466

O montante será: R$ 1.000 x 1,02466 = 1.024,66

2.3 Equivalência de Capitais a Juros Simples


Capitais com datas de vencimento distintas são equivalentes quando seus valores
expressos ao preço do dinheiro da data focal 0, tiverem mesmo valor. Sendo os juros a
variável que diferencia o preço do dinheiro no tempo, trazer os fluxos de um capital para
a data 0 é o mesmo que descontar os juros dos valores, trazendo-os, portanto, para valor
presente.
O desconto pode ser feito utilizando-se a taxa de juros, visto que ela decorre do valor
dos juros. Caso valores em datas diferentes ao serem trazidos para seus valores presentes
por uma mesma taxa de juros, i, resultem valores iguais, esses capitais são equivalentes.
Dito de outra forma, considerada uma taxa de juros, i, todos os valores futuros, VF1, VF2,
VF3, ... , VFn, que resultaram da aplicação dessa taxa ao capital inicial serão equivalentes a
esse capital inicial.

Exemplo 7: Considere dois compromissos:


a) R$ 2.200,00 vencendo daqui a um mês ou,
b) R$ 2.800,00 vencendo daqui a 4 meses.
Esses capitais são equivalentes a 10% a.m.?

45
𝑉𝐹𝑛
Utilizando a fórmula 𝐶 = calcula-se C, para os compromissos A e B
1 + 𝑖𝑛

2.200
𝐶𝐴 = = 2.000
1 + 0,1𝑥1
2.800
𝐶𝐵 = = 2.000
1 + 0,1𝑥4

Uma vez que CA = CB, os dois compromissos são equivalentes no regime de juros
simples.
Conhecer o conceito e a forma de calcular capitais equivalentes é particularmente
importante quando se necessita renegociar a forma de pagamento de uma determinada
dívida, ou mesmo saber se uma nova forma de pagamento equivale às condições originais
contratadas. No caso do regime de juros simples, essa avaliação é feita a partir da
comparação dos valores das formas de pagamento, a original e as propostas, calculadas
para a data focal 0.

Exemplo 8: Em 2015, Manuel fez um empréstimo de dinheiro a José que usou todo
esse capital para comprar uma carrocinha de pipoca. Com base no ganho que esperava
obter como pipoqueiro, José prometeu liquidar essa dívida em três pagamentos:
R$ 1.500,00 em seis meses; mais
R$ 3.000 em um ano; mais
R$ 2.000,00 em 18 meses.
Passados três meses, José conseguiu um ponto de venda muito bom, na porta de um
cinema, e isso fez com que seus ganhos aumentassem bastante. Ele quis então saber
quanto precisaria pagar para saldar essa dívida decorridos os três meses de empréstimo.
Supondo que Manuel e José tivessem pactuado a adoção do regime de capitalização
simples e taxa de juros de 1,5% a.m., qual seria o valor que liquidaria a dívida em três
meses?
Em primeiro lugar, é necessário calcular o valor do capital referente ao pagamento
originalmente pactuado. Posteriormente o valor presente deverá ser capitalizado por três
meses, n = 3. Ambos os cálculos devem utilizar taxa de juros i = 0,015 a.m.

46
𝑉𝐹𝑛
Utilizando 𝐶 = para cada um dos pagamentos pactuados, temos:
1 + 𝑖𝑛
1.500
R$ 1.500,00 em seis meses, 𝐶 = = 𝑅$ 1.376,15
1 + 0,015𝑥6
3.000
R$ 3.000 em um ano, 𝐶 = = 𝑅$ 2.542,37
1 + 0,015𝑥12
2.000
R$ 2.000,00 em 18 meses 𝐶 = = 𝑅$ 1.574,80
1 + 0,015𝑥18

Totalizando R$ 5.493,32 (na época 0).

Como José pretende liquidar esse empréstimo decorridos três meses, é preciso incluir
os juros desses 3 meses no pagamento único que fará:
Utilizando VFn = C (1 + in), temos que
VF3 = 5.493,32 (1 + 0,015 x 3) = 5.740,52, que é equivalente ao conjunto de 3
pagamentos originalmente combinado.

2.4 O Desconto Racional e o Desconto


Comercial
Descontar significa extrair os juros do valor futuro para obter um valor presente. Até
aqui, nos cálculos que envolveram descontos de valores futuros foi utilizado o modelo de
desconto racional. No desconto Racional ou “por dentro”, o valor presente é o somatório
da diferença de cada valor futuro reduzido da respectiva parcela correspondente aos juros:
VP = ∑ VFn – Jn). Esse tipo de desconto se ampara no raciocínio e respeita as regras
usadas no regime de capitalização simples para o cálculo de juros.
O mercado financeiro pratica também uma modalidade de desconto chamada de
desconto comercial ou “por fora”. Esse método é aplicado, usualmente, quando o
detentor de um título de crédito necessita transformá-lo em dinheiro antes da data do
vencimento. Um título de crédito é um documento que caracteriza o direito a receber uma
quantia no futuro. No comércio atacadista é usual a venda de mercadorias com prazos de
30, 60 ou 90 dias para o que o comprador realize o pagamento. Ao receber a mercadoria
o comprador emite uma Nota Promissória onde firma o compromisso de pagamento no
prazo acordado com o vendedor. Caso o vendedor necessite, é possível tomar recursos
emprestados em intermediários financeiros com base na Nota Promissória que possui. O
valor a ser emprestado será calculado por meio do desconto comercial, a partir do valor a
receber do título de crédito – valor nominal –, seu prazo e a taxa de juros do empréstimo.
No desconto comercial, uma taxa, chamada taxa pré ou taxa de desconto é aplicada
sobre o valor final ou nominal do título, no prazo que decorre desde a transação de

47
desconto até o vencimento do título. Os valores encontrados, referentes aos juros de cada
parcela de pagamento futuro são então reduzidos do valor presente, resultando na quantia
que será disponibilizada ao tomador do empréstimo. Esse método efetua cálculos com
valores referentes a vários períodos diferentes, desprezando o fato de que não se tratam
de dinheiros expressos em preços iguais.
Em resumo, enquanto o desconto racional utiliza o valor presente para o cálculo dos
juros, o desconto comercial toma o valor futuro como base de cálculo dos juros. Por isso,
a primeira forma é chamada de desconto “por dentro” enquanto a segunda é denominada
“por fora”.
Seja VF o Valor Final ou Nominal de um título que vai ser descontado em um banco
à taxa i, n períodos antes do seu vencimento. A partir da fórmula inicial de Juro Simples J
= VPin e colocando VF no lugar de VP, segundo a definição do Desconto Comercial ou
Bancário, DB, teremos que:
𝑫𝑩 = 𝑽𝑭𝒊𝒏

Exemplo 9: Um comerciante recebeu um cheque de R$ 40.000,00 para ser


descontado 90 dias após a data que realizou a venda. Faltando 45 dias para a data do
cheque pré-datado, o comerciante necessitou de recursos e fechou uma operação de
desconto comercial com seu banco pela taxa de 5% a.m. Qual é o valor do desconto
bancário e qual foi o valor em dinheiro, C, obtido pelo comerciante?
i = 5% a.m.;
n = 45 dias = 1,5 mês
𝐷𝐵 = 40.000 𝑥 0,05 𝑥 1,5 = 3.000,00
DB = R$ 3.000,00
𝐶 = 40.000 – 3.000 = 𝑅$ 37.000,00

Exemplo 10: Ao antecipar em 30 dias o recebimento de uma conta no valor de R$


15.000,00 uma pequena empresa foi descontada pelo seu banco em um terço desse valor
nominal. Qual foi, do ponto de vista da empresa, a taxa efetiva mensal desse desconto?
VF = 15.000
DB = 5.000
Logo, a taxa de desconto comercial negociada com o banco foi:

48
𝐷𝐵 = 𝑉𝐹𝑖𝑛
5.000 = 15.000 . 𝑖 . 1
5.000/15.000 = 0,3333 a.m. ou 33,33% a.m.
Na operação, a empresa abriu mão de receber R$ 15.000,00 após 30 dias para ter R$
10.000,00 imediatamente.
𝐶 = 15.000 – 5.000 = 10.000
A taxa efetiva mensal ou taxa de desconto racional mensal paga pela empresa foi:
𝑖 = (𝑉𝐹𝑛 – 𝐶)/𝐶𝑛
VF = 15.000,00
C = 10.000,00
15.000 – 10.000
𝑖 = 𝑥 1 = 0,5 𝑎. 𝑚. 𝑜𝑢 50% 𝑎. 𝑚.
10.000
Percebe-se assim que o desconto comercial e o desconto racional podem produzir
taxas substancialmente diferentes. No entanto, as taxas relevantes para a tomada de
decisão, uma vez que estão amparadas no conceito de custo de oportunidade, são as
baseadas no desconto racional.

Exercícios de Fixação

1) De acordo com o texto, são funções que caracterizam uma moeda:

a) Meio de troca, unidade de Conta e reserva contra inflação;


b) Liquidez, função de troca e padrão monetário;
c) Garantia, segurança e previsibilidade;
d) Meio de Troca, unidade de conta e reserva de valor.

2) Um empréstimo de R$ 1.000,00 gerou o pagamento de R$ 150,00 em um ano, apenas


em juros. Considerando uma taxa de inflação de 5% ao ano, a taxa de juros real da
operação foi de:

a) 15% a.a.
b) 20% a.a.

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c) 10% a.a.
d) Igual à taxa efetiva da operação

3) Uma empresa precisa escolher entre dois projetos de investimento, A e B. O projeto


A possui fluxo de caixa líquido de R$ 150.000,00 e o fluxo B R$ 165.000,00.
Desconsiderando outros aspectos, o custo de oportunidade de selecionar o projeto
A em detrimento de B é:

a) R$ 15.000,00
b) Igual a diferença entre os fluxos capitalizada por igual período ao dos projetos
c) R$ 150.000,00
d) - R$ 15.000,00

4) No regime de capitalização simples, considere um capital de R$ 3.500,00 aplicado


por dois períodos à taxa de 5% ao período. Qual é o valor futuro ao final da aplicação?

a) R$ 3.675,00
b) R$ 3.850,00
c) R$ 3.858,78
d) R$ 3.174,60

5) Um capital de R$ 5.000 reais, aplicado a juros simples com uma taxa de 5% ao mês,
resultou no montante de R$ 7.500 reais após certo tempo. Qual o tempo da
aplicação?

a) 8 meses.
b) 11 meses.
c) 12 meses.
d) 10 meses.

6) As taxas de juros 12% a.a., 10% a.b. e 3% a.t. equivalem a quais taxas de juros
mensais proporcionais?

a) 1% a.m., 5% a.m. e 12% a.a.


b) 2% a.m., 5% a.m. e 12% a.a.
c) 1% a.m., 5% a.m. e 1% a.m.
d) 3% a.m., 4% a.m. e 12% a.a.

50
7) A taxa de juros de 6% a.a equivale a qual taxa quadrimestral?

a) 2%
b) 1,5%
c) 2,5%
d) nenhuma das anteriores

8) Considere uma operação de capitalização simples, onde o capital inicial é de R$


2.500,00, o prazo é de 25 meses e o valor futuro é R$ 25.000,00. A taxa de juros real
proporcional ao trimestre da operação é de:

a) 108% a.t.
b) 36% a.m.
c) 36% a.t.
d) 105% a.t.

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