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FILOSOFIA

Ensino Fundamental

9º Ano
Textos & Planos de Aulas

9º Ano

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SUMÁRIO

1. Mas afinal, para que serve a filosofia?


2. Surgimento da Filosofia
3. História da filosofia: Antiga, medieval, moderna e contemporânea
4. Filosofia antiga: Panorama dos pré-socráticos ao helenismo
5. Pré-socráticos: Origens da filosofia e os primeiros filósofos gregos
6. Sócrates
7. Sócrates e o Direito de Pensar
8. Sócrates: O método socrático e o "parto" das ideias
9. Conhece-te a ti mesmo: Sócrates e a nossa relação com o mundo
10. Platão
11. Ideias de Platão: As coisas mudam, mas seus modelos são eternos
12. Aristóteles
13. Filosofia medieval: Filósofos cristãos conciliaram fé e razão
14. Escolástica: A filosofia durante a Idade Média
15. Filosofia moderna: A razão: do Renascimento ao Iluminismo
15. Filosofia Contemporânea: Fenomenologia, existencialismo
16. Tipos de Conhecimento
17. Conhecimento Científico e Cotidiano
18. Conhecimento Tácito
19. Ética
20, Fanatismo
21. Indústria cultural e cultura de massa
22. Democracia e os direitos do povo
A Filosofia no Ensino Fundamental tem por objetivo estimular os alunos a:

- Participar em grupos.
- Dialogar.
- Entender a responsabilidade de pertencer a um grupo.
- Aumentar a autoestima.
- Aprender a ser tolerante com as ideias dos outros.
- Desenvolver a paciência e a compreensão com aqueles menos favorecidos.
- Alargar a visão do mundo e a capacidade de questionar e de investigar o mundo.
- Refletir sobre valores morais e éticos.
- Despertar para a apreciação da arte e da beleza da vida.

Os educadores devem vivenciar com os alunos as atitudes de companheirismo e


colaboração, hábito de leitura, diminuição de preconceitos, amor a si mesmo e aos
outros, capacidade de diálogo e comunicação etc.

Lembremos que a filosofia educa o intelecto e a emoção. Não pode reduzir-se a


fórmulas feitas. As aulas de filosofia não são somente para lembrar que Platão
nasceu em Atenas em 427 a.C. e morreu em 347, nem que foi discípulo de Sócrates.
Além destes dados que ajudam a entender como surge e se desenvolve a filosofia
ocidental, os alunos precisam ser estimulados a observar, a questionar, a repensar o
mundo. Filosofia é observar uma flor, observar uma pedra, observar uma estrela no
céu e perguntar-se: Quem sou eu? De onde surgiu este universo? Filosofar é, então,
uma atitude espontânea.

Isabel F. Furini é educadora e escritora.


Textos
Mas afinal, para que serve a filosofia?
Para nada.
Eis a resposta mais plausível.
A Filosofia “não serve” para nada por que não é serva, é absoluta.
Assim como o olho é fundamento da visão, a Filosofia é o fundamento de todo interrogar. Mais
que isso: é a essência de todo fundamento.

O erro inicia-se em querer avaliar a Filosofia de fora, num campo estranho à própria Filosofia. É
como querer julgar o supremo tribunal que é a fonte de todo julgar.

Em nossa cultura contemporânea, costumamos considerar que alguma coisa só tem o direito
de existir se tiver finalidade prática, utilidade imediata. Aristóteles, há 2.400 anos, ao contrário
desse pensamento reducionista, primava o conhecimento pelo conhecimento. Ele
hierarquizava os saberes, colocando no topo as ciências teoréticas, que cuidavam do estudo
das causas primeiras, da essência de tudo o que há. Depois as ciências comportamentais
(política e ética). Por fim, as ciências produtivas, mecânicas (as úteis nos dias de hoje). O
fundamental para ele era cultivar a essência do homem. E isso só seria possível pela Filosofia.

Para o idealista alemão Schelling (1775 -1854), falar da utilidade da filosofia é contrário a
dignidade dessa ciência. Aquele que se prende a esse tipo de questão certamente não está à
altura de possuir a idéia de Filosofia. A Filosofia se desobriga por si mesma de toda relação com
a utilidade. Ela só existe em função de si mesma. Existir em função de outra coisa seria de
imediato destruir sua própria essência. A Filosofia é sempre o fim, nunca pode ser reduzia à
categoria de um simples meio.

Agora, se criticar o caminho trilhado pelas idéias dominantes e poderes estabelecidos for útil.
Se abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil.
Se buscar compreender a significação do mundo for útil.
Se conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil.
Se dar a cada um de nós os meios para sermos conscientes de nossas ações numa prática que
deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então a Filosofia é o mais útil de todos os
saberes de que os seres humanos são capazes.

Matheus Arcaro
Blog: oqueinspira? - http://oqueinspira.blogspot.com
Surgimento da Filosofia
Por Miriam Ilza Santana

No período em que se estudavam os mitos, suas origens, desenvolvimento e significado


existiam várias formas de tornar compreensíveis o surgimento de todas as coisas.

Houve um momento em que tais explicações deixaram de ser suficientes para levar as pessoas,
seja por meio da razão ou de provas incontestáveis, a acreditarem em tais explicações.

Surgiu então a filosofia, uma forma de conhecimento capaz de explicar as diversas mudanças e
maravilhas que ocorriam na natureza, pois a mitologia – ciência que estudava os mitos – já não
conseguia mais dar conta de explicar fatos que nem mesmo ela, com toda sua sabedoria,
conseguia compreender.

Apesar das contradições da mitologia, a filosofia nasceu fortalecida por fatos históricos que
aconteceram e contribuíram para esclarecer as diversas modificações ocorridas.

Os fatos históricos acima citados e que fortaleceram o avanço da filosofia foram:

* Viagens marítimas – navegando por territórios antes desconhecidos os gregos perceberam


que as criaturas imaginárias criadas pela mitologia grega não eram reais e que também não
existiam deuses em outras regiões, como sugeria a mitologia e sim seres humanos. Também
concluíram que os mares não eram moradia de monstros e outros seres. Com as viagens o
mundo perdeu seu caráter mítico ou lendário, os exploradores descobriram um mundo repleto
de belezas e conhecimentos, seu surgimento foi sendo esclarecido pouco a pouco, mistério este
que a mitologia já não conseguia explicar.

* Invenção do calendário – Os gregos aprenderam que era possível contar o tempo das
estações do ano, definindo quando e de que forma aconteciam as mudanças do clima e do dia,
notando que o tempo passava por transformações espontaneamente e não por intervenções
divinas.

* Invenção da moeda – Os gregos aprenderam a a arte de negociar, não mais se efetuava a


venda de uma mercadoria aceitando como pagamento a troca por mercadoria semelhante, o
pagamento tornou-se monetário, ou seja, a moeda substituiu o poder de troca.

* Surgimento da vida urbana – O desenvolvimento da cidade trouxe aos gregos uma situação
financeira mais igualitária, o prestígio social que antes era benefício de apenas algumas famílias
diminuiu, assim como o prestígio que detinham. As artes ganharam patrocinadores,
estimulando assim o surgimento de novos artistas. Invenção da escrita alfabética – O uso do
alfabeto fez com que os gregos se expressassem de forma mais clara, colaborando para que
suas idéias fossem melhor compreendidas e difundidas pelo mundo afora, levando a sabedoria
as pessoas.

* Invenção da política – Surgiram novas fontes de informação, a lei passou a abranger muitas
outras coisas e chegou até as pessoas, criou-se uma área pública voltada para discuros e
debates, local no qual os gregos debatiam e propagavam suas idéias a respeito da política.
A filosofia chegou timidamente, tentando mostrar a humanidade que o mundo não era
perigoso e cheio de monstros como a mitologia pregava e aos poucos vêm conquistando seu
espaço, avançando cada vez mais nas profundezas do saber.

Os principais seres mitológicos da Grécia Antiga foram:

- Heróis : criaturas mortais, filhos de deuses com seres humanos. Exemplo : Hércules e Aquiles.
- Ninfas : seres femininos que residiam nos campos e bosques, irradiando alegria e felicidade
por onde passavam.
- Sátiros : vulto com corpo de homem, chifres e patas de bode.
- Centauros : corpo constituído por metade homem metade cavalo.
- Sereias : mulheres com metade do corpo em formato de peixe, seduziam os marinheiros com
seus cantos fascinantes.
- Górgonas : espécie feminina, com formato de monstros e cabelos de serpentes. Exemplo:
Medusa
- Quimeras : combinação de leão com cabra, lançavam fogo pelas ventas.

Os principais deuses foram:

* Zeus – divindade de todos os deuses, senhoril do Céu.


* Afrodite – diva do amor, sexo e beleza.
* Poseidon – divo dos mares
* Hades – deus dos mortos, dos cemitérios e do subterrâneo.
* Hera – deidade dos casamentos e da maternidade.
* Apolo – divindade da luz e das obras de artes.
* Artemis – diva da caça.
* Ares – divindade da guerra..
* Atena – deidade da saber e da paz. Benfeitora da cidade de Atenas
* Hermes – divo que representava o comércio e as comunicações
* Hefestos – deus do fogo e do trabalho.

Fontes
http://www.suapesquisa.com/mitologiagrega/
http://www.geocities.com/mundodafilosofia/origem.htm

http://www.infoescola.com/filosofia/surgimento-da-filosofia/
História da filosofia: Antiga, medieval,
moderna e contemporânea
De um modo geral, os estudos filosóficos têm como espinha dorsal o estudo da história da filosofia. Para
se estabelecer uma sequência histórica da filosofia podem-se usar diferentes critérios.
Normalmente, a periodização é feita a partir de uma correlação com os períodos históricos, políticos e
culturais. Desse modo, fala-se em:
1) filosofia antiga;
2) filosofia medieval;
3) filosofia moderna;
4) filosofia contemporânea.
O filósofo Mario Ariel González Porta, professor de filosofia na graduação e pós-graduação da PUC/SP,
num pequeno grande livro, questiona essa periodização, na medida em que sua base não é de natureza
filosófica. Para ele, o desenvolvimento filosófico tem de ser compreendido a partir de critérios que
preencham as seguintes condições:
"1) que sejam, em primeiro lugar, intra-sistemáticos e propriamente filosóficos e, além disso,
2) que sejam evolutivos ou dinâmicos, isto é, que permitam compreender não apenas a diferença
essencial entre o pensamento de diferentes períodos, mas também o princípio interno de passagem de
um a outro."
A periodização proposta por González Porta permite efetivamente que o iniciante nos estudos
filosóficos encontre o fio de Ariadne que o conduza com segurança no labirinto temporal em que pode
se transformar a história da filosofia. Por isso, vale a pena conhecê-lo:

Período filosófico Correspondência ao Grandes nomes Disciplina-chave Conceito-chave


período histórico
1. Período Época antiga, Platão,Aristóteles, Metafísica Ser
metafísico medieval e início da São Tomás de (ontologia)
moderna Aquino ( Descartes
2. Período Época moderna Descartes, Kant Epistemologia, Teoria Verdade,
epistemológico transcendental objetividade,
(ou validez
transcendental)
3. Período Época Husserl, Dilthey, Teoria da Significado,
semântico- contemporânea Heidegger, Frege, significação, Semântica:
hermenêutico Wittgenstein Fenomenologia, análise lógica
Hermenêutica, da linguagem
Semântica (análise
lógica da linguagem)

O livro em que se encontra o esquema de Mario Ariel González Porta chama-se "A Filosofia a
partir de seus problemas" e integra a coleção "Leituras Filosóficas", das Edições Loyola. Não se
trata de uma leitura meramente introdutória, pois pressupõe que o leitor já tenha uma
familiaridade mínima com a filosofia. A estes, com certeza, a obra de González Porta pode ser
muito útil e esclarecedora.

Bibliografia
 Dicionário de Filosofia, Nicola Abagnano (Editora Martins Fontes)
Filosofia antiga: Panorama dos pré-
socráticos ao helenismo
Heidi Strecker

A filosofia é um saber específico e tem uma história que já dura mais de 2.500 anos. A filosofia
nasceu na Grécia antiga - costumamos dizer - com os primeiros filósofos, chamados pré-
socráticos. Mas a filosofia não é compreendida hoje apenas como um saber específico, mas
também como uma atitude em relação ao conhecimento, o que faz com que seus temas, seus
conceitos e suas descobertas sejam constantemente retomados.

A história da filosofia coloca em perspectiva o conhecimento filosófico e apresenta textos e


autores que fundamentam nosso conhecimento até hoje.

A história da filosofia na Antiguidade pode ser dividida em três grandes períodos: o período
pré-socrático, a Grécia clássica e a época helenística.

Pré-socráticos
Os filósofos que viveram antes da época de Sócrates, como Parmênides e Heráclito,
investigaram a origem das coisas e as transformações da natureza. De seus textos só restaram
fragmentos. O conhecimento especulativo no período pré-socrático não se distinguia dos
outros conhecimentos, como a astronomia, a matemática ou a física.

Tales de Mileto foi o primeiro pensador que podemos chamar de filósofo. Como outros pré-
socráticos, Tales dedicou-se a caracterizar o princípio ou a matéria de que é feito o mundo.
Sustentou que este princípio era a água.

A Grécia clássica
No período clássico, a filosofia vinculou-se a um momento histórico privilegiado - o da Grécia
clássica. Nesse período, que compreende os séculos 5 a.C. e 4 a.C., a civilização grega conheceu
seu apogeu, com o esplendor da cidade de Atenas. Essa cidade-estado dominou a Grécia com
seu poderio militar e econômico.

Adotando a democracia como sistema político, Atenas assistiu a um florescimento admirável


das ciências e das artes. Foi esse período histórico que deu origem ao pensamento dos três
maiores filósofos da Antiguidade: Sócrates, Platão e Aristóteles.

Sócrates não deixou uma obra escrita, mas conhecemos seu pensamento através das obras de
seu discípulo Platão. Este não escreveu uma obra sistemática, organizada de forma lógica e
abstrata, mas sim um rico conjunto de textos em forma de diálogo, em que diferentes temas
são discutidos. Os diálogos de Platão estão organizados em torno da figura central de seu
mestre - Sócrates.

Platão e Aristóteles
O conhecimento é resultado do convívio entre homens que discutem de forma livre e cordial.
No livro "A República", por exemplo, temos um grupo de amigos que incluem o filósofo
Sócrates, dois irmãos de Platão - Glauco e Adimanto - e vários outros personagens, que serão
provocados pelo mestre. O diálogo vai tratar de assuntos relacionados à organização da
sociedade e à natureza da política. A palavra política vem do grego polis, que significa cidade ou
Estado.

Aristóteles - ao contrário de Platão - criou uma obra sistemática e ordenada. A filosofia


aristotélica cobre diversos campos do conhecimento, como a lógica, a retórica, a poética, a
metafísica e as diversas ciências. No livro "A Política", Aristóteles entende a ciência política
como desdobramento de uma ética, cuja principal formulação encontra-se no livro "Ética a
Nicômaco".

Helenismo
O período helenístico corresponde ao final do século 3 a.C. (período que se sucede à morte de
Alexandre Magno, em 323 a.C.) e se estende, segundo alguns historiadores, até o século 6 d.C.
As preocupações filosóficas fundamentais voltam-se para as questões morais, para a definição
dos ideais de felicidade e virtude e para o saber prático.

Heidi Strecker, Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação é filósofa e educadora.
Filosofia antiga: Quadro relaciona os
principais filósofos da Antigüidade
Pré-socráticos
Nascimento e morte Filósofo Obra
c. 624-556 a.C. Tales de Mileto Existem apenas fragmentos de sua obra.
c. 610-547 a.C. Anaximandro de Mileto Fragmentos
c. 585-528 a.C. Anaxímenes de Mileto Fragmentos
c. 580-497 a.C. Pitágoras Fragmentos
c. 570-460 a.C. Xenófanes de Colofão Fragmentos
c. 540-470 a.C. Heráclito de Éfeso Fragmentos
c. 515-440 a.C. Parmênides de Eléia Fragmentos
c. 500-428 a.C. Anaxágoras Fragmentos
c. 490-430 a.C. Zenão de Eléia Fragmentos
c. 485-415 Protágoras Fragmentos

Filosofia clássica
Nascimento e morte Filósofo Obra
469-399 a.C. Sócrates Não escreveu. Conhecemos suas idéias por meio de Platão.
427-347 a. C. Platão O Banquete; A república, Protágoras, Fédon
384-322 a. C. Aristóteles A Política, Organon, Ética a Nicômano, Retórica

Filosofia helenística
Nascimento e morte Filósofo Obra
341-270 a.C. Epicuro Cartas, Aforismos
334-262 a. C. Zenão de Cício República
320-230 a.C. Tímon de Flio Sátiras, Sobre as Sensações
106-43 a.C. Cícero Da República, Sobre a Velhice, Sobre o Destino
99-55 a.C. Lucrécio Da Natureza
4 a.C.-65 d.C Sêneca Diálogos, Espístolas Morais, Questões Naturais
55-135 Epícteto Discursos, Manual
121-180 Marco Aurélio Meditações
205-270 Plotino Enéadas
Pré-socráticos: Origens da filosofia e os
primeiros filósofos gregos
Antonio Carlos Olivier

No livro "Paixão pelo Saber - Uma breve História da Filosofia, os filósofos norte-americanos
Robert C. Solomon e Kathleen M. Higgins, ambos professores de filosofia na Universidade do
Texas, apresentam de modo bastante sintético alguns pontos básicos sobre as origens da
filosofia. Vale a pena conhecer o que os dois escreveram:

Se voltamos os olhos para o passado e contemplamos a totalidade da existência


humana, o surgimento da filosofia e de filósofos parece um fenômeno realmente
bastante estranho, uma secreção etérea que não pode ser explicada em termos de
fisiologia ou de necessidade física. Talvez essa atividade notoriamente “inútil” fosse um
subproduto de nossos cérebros avantajados, o resultado de pensamentos que
ultrapassam as rotinas cotidianas e olham para além de si. A filosofia representou, sem
dúvida, uma complicação a mais em nosso uso crescente da linguagem, à medida que
um vocabulário rico de conceitos abstratos e subjetivos substituiu nossos grunhidos e
rosnados utilitários e expressivos. Mas ideias filosóficas, de alguma forma – ideias sobre
a natureza, suas forças e questões, sobre a morada da alma na vida após a morte, por
exemplo –, são praticamente universais e podemos encontrar sua origens há dezenas de
milhares de anos, na pré-história. Os homens de Neandertal tinham rituais de
sepultamento e práticas que sugerem uma crença na continuidade da vida após a morte.
Ideias sobre a existência e espíritos, deuses e deusas, e seres ativos e forças além do
alcance da percepção humana direta têm também uma longa história. A curiosidade
acerca da natureza, não apenas como necessidade prática mas como deslumbramento
genuíno, remonta provavelmente a Cro-Magnon. Várias concepções de identidade
coletiva e justiça – não só costumes e hábitos de vida em comum, mas mitos e
racionalizações do território, do poder e da comunidade – antecedem sem dúvida a
“civilização” por muitos séculos.
Em algum momento entre os séculos 6 e 7 antes da era cristã, no entanto, ideias
filosóficas plenamente articuladas e sistemas de pensamento começaram a aparecer em
vários lugares esparsos do globo. Em torno do Mediterrâneo e no Oriente Médio, na
Índia e na China, surgiram filósofos, grandes filósofos cujas ideias iriam estabelecer os
termos da filosofia em suas várias tradições por milênios no futuro. No Oriente Médio, os
antigos hebreus desenvolveram sua concepção de um Deus uno e de si mesmos como o
“povo escolhido”. Na Grécia, filósofos elaboraram as primeiras teorias científicas da
natureza. Na China, os taoístas desenvolveram uma visão muito diferente da natureza,
enquanto Confúcio criava uma poderosa concepção da sociedade e do indivíduo virtuoso
que rege o pensamento chinês até hoje. Na India antiga, os primeiros teóricos hindus (os
vedistas) comentavam a origem da natureza e do mundo, tal como descrita nos Vedas, e
especulavam sobre ela, criando um rico panteão de deuses, deusas e ideias grandiosas.

Além de referir-se a épocas, Solomon e Higgins deixam claro que tipo de questões e ideias
formam o que chamamos de pensamento filosófico. De acordo com alguns estudiosos, a
filosofia inclui todo tipo de especulação sobre a vida e a morte que o ser humano tenha
levantado, incluindo aí as reflexões de caráter religioso.
Para outros filósofos, porém, o pensamento filosófico surge na Grécia, por volta do século VI
a.C., quando surgem as primeiras tentativas de explicação natural (e não sobrenatural) para os
fenômenos da natureza. De fato, isso foi uma coisa nova e um dos momentos essenciais ao
desenvolvimento humano, que deram um enorme impulso ao nosso conhecimento.

Os primeiros filósofos gregos


Os primeiros filósofos gregos tentaram entender o mundo com o uso da razão, sem recorrer à
religião, à revelação, à autoridade ou à tradição. Além disso, também eram professores que
ensinavam seus discípulos a usar a razão e a pensar por si mesmos. Eles os encorajavam a
discutir, argumentar, debater e propor ideias próprias.

Tendo vivido entre o século 6 a.C e princípios do século 5 a.C., esses filósofos mais antigos, dos
quais poucos conhecimentos foram conservados através dos tempos, são também chamados
de pré-socráticos, por que antecederam Sócrates, o primeiro filósofo cujo método de pensar,
bastante sistemático, foi efetivamente preservado para a posteridade.
Não se pode, porém, deixar de examinar, ainda que brevemente, o pensamento dos pré-
socráticos. Ainda que só nos restem fragmentos de suas ideias, elas são surpreendentes. E não
só por constituírem uma grande novidade para a época em que elas foram formuladas, mas
também porque muitas delas ou conservam grande atualidade ou encontraram ressonância em
filósofos de milênios posteriores, inclusive nossos contemporâneos.

Tales e Anaximandro
Para começar, pode-se mencionar Tales, da cidade de Mileto, na Ásia Menor (atual Turquia). As
datas de seu nascimento e morte são ignoradas, mas sabe-se que ele atuou na década de 580
a.C. Tales de Mileto se perguntou: "De que é feito o mundo?". Chegou à conclusão de que ele
era feito de um único elemento: a água. Afinal, todas as coisas precisam de água para viver, é a
chuva que faz as plantas brotarem da terra e toda porção de terra termina na água.

Hoje sabemos que a resposta de Tales estava incorreta, mas não de todo. Na verdade, a física
moderna chegou a uma conclusão semelhante à do antigo filósofo ao mostrar que todas as
coisas materiais são redutíveis à energia.
Um discípulo de Tales, nascido na mesma cidade, Anaximandro (610 a.C.-546 a.C) desenvolveu
outro raciocínio. Se a Terra fosse sustentada pela água, esta, por sua vez, deveria ser
sustentada por outra coisa e assim sucessivamente, até o infinito. Disso, Anaximandro concluiu
que a Terra não era sustentada por nada, mas um objeto sólido que flutuava no espaço e se
mantinha em sua posição graças a sua equidistância em relação a tudo mais.

Heráclito e Pitágoras
Na mesma época, outro filósofo de outra cidade grega, Heráclito de Éfeso, desenvolveu dois
raciocínios extremamente originais. Primeiro, a da unidade entre os opostos. Heráclito
percebeu que o caminho para subir uma montanha é o mesmo para descer. Ou seja, trata-se de
um mesmo caminho, embora ela conduza a direções opostas. A partir daí, o filósofo concluiu
que a realidade surge justamente da contradição.

Por isso, a realidade é instável e está em constante movimento. "Tudo flui", dizia Heráclito.
Com isso, queria dizer que nada é permanente. Ele comparava as coisas a uma chama que
parece um objeto, mas é muito mais um processo. Para ele, portanto, a mudança é a lei da vida
e do universo.
Pouco antes de Heráclito, outro filósofo também se destacava na cidade grega de Samos:
Pitágoras. Supõe-se que ele tenha inventado o termo "filosofia", pois se definia como um amigo
(filo) do saber (sofia). Com certeza, sabe-se que ele relacionou a filosofia à matemática,
acreditando que a linguagem matemática poderia expressar com maior precisão as estruturas
do universo.
Você tem dúvidas de que ele estava certo? Claro que não. A relação matemática/filosofia
vingou, e chegou até física e aos filósofos contemporâneos como Bertrand Russell e Alfred
Whitehead. Antes de seguir adiante, não se pode esquecer que Pitágoras formulou o
famosíssimo teorema que leva seu nome: num triângulo retângulo, a hiponenusa ao quadrado
é igual à soma do quadrado dos catetos. Aliás, Pitágoras traçou também a relação, até então
inexistente no mundo grego, entre geometria e aritmética.

Xenófanes e Parmênides
Na última metade do século 6 a.C., pontificou outro grande filósofo: Xenófanes de Colofão.
Para ele, o conhecimento é uma criação humana. Nós jamais conhecemos a verdade, mas
vamos nos aproximando dela, à medida que aprendemos mais e vamos mudando nossas ideias,
à luz do que aprendemos.

Nesse sentido, conhecer é fazer conjeturas que devem ser substituídas, quando se revelarem
ultrapssadas. Essa ideia foi a chave que permitiu ao filósofo contemporâneo Karl Popper
estabelecer os limites da ciência.
Na primeira metade do século 5 a.C., Parmênides, um discípulo de Xenófanes, desenvolveu
uma reflexão contrária à de Heráclito. Parmênides considerou que é uma contradição afirmar
que "nada existe". Para ele, tudo sempre existiu. O mundo, portanto, não tem princípio, nem
foi criado: ele é eterno e imperecível. "Tudo é um", dizia Parmênides, e o que parece mudança
ocorre, na verdade, no interior de um sistema fechado e imutável.

Empédocles e Demócrito
Sem discordar de Parmênides, Empédocles sustentava que tudo era composto de quatro
elementos essenciais e perenes: terra, água, ar e fogo. Essa ideia influenciou o pensamento
ocidental até o renascimento e a ideia dos quatro elementos é bastante conhecida ainda hoje,
mesmo por quem não conhece história da filosofia.

Para terminar esse breve panorama do pensamento pré-socrático, é importante mencionar os


filósofos Leucipo e Demócrito, chamados de "atomistas". Foram eles que teorizaram que se
fôssemos reduzindo, por meio de cortes, qualquer coisa, chegaríamos a um momento em que a
coisa estaria tão diminuta que não poderia ser cortada. Ou seja, chegaríamos ao átomo ("a" =
prefixo de negação; "tomo" = cortar).
Segundo ambos, tudo que existe são átomos e espaço. As coisas são diferentes entre si por que
são diferentes combinações de átomos no espaço. Mesmo que hoje saibamos que o átomo
pode ser subdividido em partículas menores do que ele mesmo, não há como negar o avanço
da concepção de Leucipo e Demócrito, não é mesmo?
Enfim, os pré-socráticos refletiram sobre a natureza do mundo procurando explicá-lo a partir
de sua própria natureza e, se muito do que pensarem pode ser considerado um absurdo hoje
em dia, seu pensamento inegavelmente foi o ponto de partida para o entendimento racional do
mundo.

Sugestão de leituras
"O mundo de Sofia - romance da história da filosofia", de Jostein Gaarder (Companhia
das Letras) é uma história da filosofia escrita especialmente para adolescentes. Quem
quiser se aprofundar pelo tema, lendo um livro breve e muito atualizado, pode ler
"Paixão pelo Saber - uma Breve História da Filosofia", de Robert C. Solomon e Kathleen
M. Higgins (Civilização Brasileira), cujo trecho incial foi citado aqui.
Sócrates
Por Ana Lucia Santana

Sócrates foi o pioneiro do que atualmente se define como Filosofia Ocidental. Nascido em Atenas, por
volta de 470 ou 469 a.C., seguiu os passos do pai, o escultor Sofrônico, ao estudar seu ofício, mas logo
depois se devotou completamente ao caminho filosófico, sem dele esperar nenhum retorno financeiro,
apesar da precariedade de sua posição social. Seu trabalho seria marcado profundamente pelos textos
de Anaxágoras, outro célebre filósofo grego.

No início, Sócrates caminhou pelas mesmas veredas dos sofistas, mas ao retomar seus
princípios ele os universalizou, empreendendo a jornada típica do pensamento grego.
Suas pesquisas iniciais giraram em torno do núcleo da alma humana. Até hoje este
filósofo é sinônimo de integridade moral e sabedoria, pois sempre agiu com ética,
responsabilidade, e tornou-se padrão de perfeita cidadania.

Ele desprezava a política e não se adaptava à vida pública, embora tenha exercido
algumas funções no quadro político, inclusive como soldado. Seu método filosófico
ideal era o diálogo, através do qual ele se comunicava da melhor forma possível com seus
contemporâneos, no esforço de transmitir seus conhecimentos para os cidadãos gregos. Além de legar
ao mundo sua sabedoria sem par, ele também formou dois discípulos fundamentais para a perpetuação
e desenvolvimento de seus ensinamentos – Platão e Xenofontes -, embora não tenha deixado por
escrito o fruto de suas pregações.

Casado com Xantipa, nunca priorizou sua família, sempre entregue ao exercício dos dons de que era
dotado. Sua essência crítica e justa o levava a crer que tinha uma importante missão, a de multiplicar
seres igualmente dotados de sabedoria, probidade, moderação. Este caminho o levaria a se chocar com
a cúpula dos governantes, na qual conquistaria inimigos e insatisfação. A contundência de sua fala, o
rigor de sua personalidade, seu viés crítico e mordaz, suas idéias muitas vezes opostas à estrutura social
vigente e o método educativo de que se valia, geraram-lhe antagonistas no seio da estrutura política
que então dominava a Grécia.

O comportamento de Sócrates desencadeou em sua prisão, acusado por Mileto, Anito e Licon, de
perverter a juventude e renegar os deuses cultuados pelos gregos, trocando-os por outros. Recebendo a
oportunidade de advogar a seu favor, diante do tribunal e dos homens, ele se recusou, pois não
pretendia renunciar ao que acreditava e ao que pregava a seus conterrâneos. Ele preferia ser
condenado pela justiça terrena e preservar, diante da imortalidade, a verdade de sua alma. Assim,
optou pela morte, decretada por seus juízes, através do voto da maioria.

Mesmo diante da chance de fugir, arquitetada por seu seguidor Criton, com a complacência da justiça
grega, ele recuou, pois não desejava ferir as leis de seu país. Ao esperar a execução de sua sentença,
prorrogada por um mês – graças a uma lei que não permitia o cumprimento desta pena enquanto um
navio empreendesse uma jornada até Delos, oferecida em cumprimento de um voto -, preparou-se
psicologicamente para esta viagem além-túmulo, em conversas espiritualizadas com seus amigos.

Após ter bebido calmamente seu cálice de cicuta, veneno mortal, ele teria dito “devemos um galo a
Esculápio”, pois acreditava que o suposto deus da Medicina o tinha libertado da enfermidade conhecida
como ‘vida’, liberando-o para a morte. Desta forma ele partiu em 399 a.C., aos 71 anos.
Sócrates e o Direito de Pensar
Por Geraldo Magela Machado

Sócrates (469-399 a.C.), filho de um escultor e de uma parteira, herdou as artes do pai e da
mãe, tornado-se um escultor de almas e parteiro de idéias. Seu processo de pensamento
filosófico consistia em fazer com que seus interlocutores buscassem, através do raciocínio e da
aceitação de sua ignorância diante do assunto, suas próprias
verdades, sem considerar os costumes e dogmas impostos.

A esse processo deu o nome de Maiêutica (do grego – arte de


trazer à luz), fazendo com que as pessoas com quem tinha
contato, elaborassem suas próprias idéias e conceitos,
trazendo-lhes, segundo Sócrates, a liberdade e a noção do que
é realmente necessário à vida do homem, a sabedoria.

Diferentemente dos Sofistas, que utilizavam a retórica


como arte de influenciar e, assim, tirar proveito para si, Sócrates usava seu conhecimento e
reflexão para elevar a alma humana (a essência do ser) ao nível das coisas supremas. Para ele, o
ideal de busca do homem deveria ser o bem, o justo, o amor e o belo e via na ética e na moral,
as bases para se alcançar essa elevação.

A famosa frase “conhece-te a ti mesmo”, demonstra a clara opção de Sócrates pelo ser humano
e suas peculiaridades. Para ele, as pessoas deveriam ter liberdade total de pensamentos e
idéias, e a justiça deveria estar presente em todos os atos humanos.

Considerando a justiça e a moral como que direcionando os atos humanos, pode-se inferir que,
caso aja assim, o homem não terá o livre arbítrio, pois suas decisões seriam comandadas por
essas duas regras. Nessa concepção de comportamento, todo ato que fugisse à justiça ou à
moral, seriam condenáveis.

A profunda concepção de liberdade e pensamento fazia com que Sócrates questionasse tudo,
das leis humanas aos deuses, dos dogmas aos costumes e isso lhe trouxe a reputação de
corruptor da juventude ateniense, pelo fato de fazer com que os jovens refletissem mais sobre
a vida e os valores tidos como certos.

Tal comportamento era inaceitável para a aristocracia da época e Sócrates foi julgado e
condenado pelo tribunal ateniense. Mesmo diante do tribunal e da certeza de sua condenação,
Sócrates manteve a postura de quem não teme nada, consciente de sua própria consciência, de
que nada fez que merecesse a condenação.

No relato de seu maior discípulo e biógrafo, Platão, Sócrates assim de defende:

“Ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber.
Parece que sou um pouco mais sábio que ele exatamente por não supor que saiba o que não
sei”.
Essa declaração demonstra claramente a idéia de Sócrates de que, todo homem deve estar
ciente de sua ignorância, para se manter de mente aberta a novos conhecimentos. Se
acreditarmos que sabemos tudo, não aceitaremos opiniões e idéias novas e, portanto,
ficaremos estagnados em nosso pseudoconhecimento.

A força dos discursos de Sócrates e sua presença imponente são tão nítidas que as palavras
ficaram marcadas em seus discípulos. Com ele aprenderam o valor da filosofia, da amizade, do
caráter e da verdade e a valorizar a essência das coisas, deixando de lado as banalidades como
poder, reputação e riqueza, desenvolvendo uma postura de reflexão e liberdade de
pensamentos, que busca o bem e dá acesso a felicidade e a sabedoria.

http://www.infoescola.com/filosofos
Sócrates: O método socrático e o "parto"
das ideias
Antonio Carlos Olivieri

Foi no momento de esplendor de Atenas e da democracia ateniense que Sócrates (470-399 a.C)
floresceu, expressão que tradicionalmente designa o período de atuação dos filósofos, em
especial da Antiguidade.

Sócrates estudou as doutrinas de seus antecessores (os chamados pré-socráticos) e concluiu


que elas eram um emaranhado de teorias conflitantes, além de inexistir um modo
efetivamente satisfatório de se decidir por uma delas.

Além disso, Sócrates também questionou o interesse do conhecimento desenvolvido pelos que
vieram antes dele, o qual se voltava para a natureza o mundo e do universo. Sócrates se
perguntava em que isso afeta o nosso comportamento. Para ele, mais importante era saber o
que é bom, o que é certo, o que é justo, ou seja, estabelecer um conhecimento que ajudasse a
pautar uma conduta correta para o ser humano.

Método socrático
Porém, o filósofo acreditava que ninguém tinha as respostas definitivas para essas perguntas.
Desse modo, perambulava por Atenas, fazendo as questões que considerava básicas sobre
moralidade e política. As pessoas se reuniam a sua volta e Sócrates lançava uma questão.

A cada resposta, fazia novas perguntas, levando a pessoa a aprimorar sua resposta inicial ou
descartá-la. Desse modo, basicamente ele estimulava a discussão e se definia como um
"parteiro de ideias". Vale lembrar que a crença em ideias abstratas, como bondade, beleza,
justiça, etc., seria desenvolvida posteriormente por seu discípulo Platão.

De qualquer modo, a postura de Sócrates exerceu uma influência subversiva sobre os


atenienses, pois ele os ensinava a questionar tudo e, além disso, muitas vezes expunha a
ignorância de indivíduos com poder e autoridade.

Envenenamento
Tornou-se assim uma pessoa mal-vista. O dramaturgo Aristófanes faz uma caricatura dele na
peça "As Nuvens", onde um pai manda o filho estudar com Sócrates para aprender uma
maneira de não pagar as contas e de convencer os credores de que eles não devem ser pagos.

O governo de Atenas, contudo, não reagiu com o mesmo bom humor às práticas socráticas. Ao
contrário, prendeu-o por corrupção da juventude e por questionar os deuses da cidade.
Condenou-o a morrer por envenenamento, bebendo cicuta. Entretanto, deu-lhe oportunidade
de defender-se e negar seus ensinamentos.
Apesar de dizer que não tinha ensinamentos positivos a oferecer, mas apenas perguntas a
fazer, a linha de questionamento de Sócrates revela as crenças subjacentes a muito do que ele
diz. Duas delas merecem ser destacadas.

Uma delas é que o ser humano deve preservar sua integridade acima de tudo. Para Sócrates, a
verdadeira catástrofe consiste na corrupção da alma. Por isso, ele dizia que é melhor sofrer
uma injustiça do que cometê-la.

O conhecimento é a virtude
A outra é a de que ninguém comete conscientemente um erro: se sabe que vai fazer algo
errado, você simplesmente não o faz. Nesse sentido, o mal é consequência da ignorância e a
busca do conhecimento coincide com a busca da virtude.

Foi devido a essa crença na integridade que Sócrates preferiu envenenar-se a contradizer-se ou
a negar suas ideias. Morrendo, ele cumpria o seu dever para consigo mesmo. É interessante
notar que essas ideias de Sócrates encontram eco nas palavras de Jesus Cristo: "De que vale a
um homem ganhar o mundo todo se perder sua alma?". Ou ainda no dramaturgo Shakespeare:
"Acima de tudo, sê verdadeiro contigo mesmo".

Para finalizar, é importante lembrar que Sócrates era contra a arte de escrever, que ele julgava
prejudicar a memória. Assim, não deixou nenhuma obra. Tudo que sabemos dele vem
basicamente da obra de seu discípulo Platão que, em seus "Diálogos", apresenta Sócrates como
personagem principal.

Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação é escritor, jornalista e diretor da
Página 3 Pedagogia & Comunicação.
Conhece-te a ti mesmo: Sócrates e a
nossa relação com o mundo
Josué Cândido da Silva

A figura de Sócrates é como um divisor de águas na Filosofia Antiga, tanto que os filósofos
anteriores a ele são tradicionalmente chamados de pré-socráticos.

De fato, com Sócrates há uma mudança significativa no rumo das discussões filosóficas sobre a
verdade e o conhecimento. Os primeiros filósofos estavam preocupados em encontrar o
fundamento (arké) de todas as coisas. Sócrates, por sua vez, está mais interessado em nossa
relação com os outros e com o mundo.

Curiosamente, Sócrates nada escreveu - e tudo o que sabemos dele é graças a seus discípulos,
particularmente Platão. Sócrates teria tomado a inscrição da entrada do templo de Delfos como
inspiração para construir sua filosofia: Conhece-te a ti mesmo.

Para compreendermos o sentido dessa frase, segundo o filósofo francês Michel Foucault (1926
- 1984), devemos inscrevê-la em uma estratégia mais geral do cuidado de si.

Ou seja, o que Sócrates pregava era que nós devemos nos ocupar menos com as coisas
(riqueza, fama, poder) e passarmos a nos ocupar com nós mesmos. Poderia objetar-se: com
que propósito deveria ocupar-me comigo mesmo? Porque é o caminho que me permite ter
acesso à verdade. Mas que tipo de verdade? Obviamente não é uma verdade qualquer, tal
como a fórmula química da água, mas a verdade que é capaz de transformá-lo no seu próprio
ser de sujeito.

É esse ato de conhecimento, capaz de promover nossa autotranscendência, de que fala


Sócrates. Conhecer a mim mesmo para saber como modificar minha relação para comigo, com
os outros e com o mundo.

Como ter acesso à verdade?


Tal modificação para ter acesso à verdade, contudo, não é um ato puramente intelectual. Ela
exige, por vezes, determinadas renúncias e purificações, das quais Sócrates é um exemplo.

Sócrates dizia ter recebido de Deus a missão de exortar os atenienses, fossem eles velhos ou
jovens, a deixarem de cuidar das coisas, passando a cuidar de si mesmos. Tal atitude o fez
dedicar-se inteiramente à filosofia e à prática dialógica (uma forma especial de diálogo,
denominada maiêutica) por meio da qual ele fazia com que seu interlocutor percebesse as
inconsistências de seu discurso e se autocorrigisse.

A atitude de Sócrates questionava os valores da sociedade ateniense, razão pela qual seus
inimigos o levaram ao tribunal, onde foi julgado e condenado à morte. Sua morte, porém, não
impediu que a questão do cuidado de si se tornasse um tema central na filosofia durante mais
de mil anos - e chegasse a influenciar alguns filósofos modernos e contemporâneos.

A questão central do cuidado de si é que jamais se tem acesso à verdade sem uma experiência
de purificação, de meditação, de exame de consciência - enfim, através de determinados
exercícios espirituais capazes de transfigurar nosso próprio ser.

Dito de outro modo, o estado de iluminação, de descoberta da verdade, não é produto do


estudo, mas de uma prática acompanhada de reflexão constante sobre minhas ações, atitudes -
e de como posso modificá-las para me tornar uma pessoa melhor. É como se a vida fosse uma
obra de arte em que nós vamos nos moldando, nos aperfeiçoando no decorrer da existência.

A difícil busca da verdade


Atualmente, estamos distantes dessa perspectiva socrática do cuidado de si. A ciência moderna
está preocupada com a produção e acumulação de conhecimentos.

Mas quando nos perguntamos: para quê acumulamos e produzimos conhecimento? A resposta
é simplesmente: para aumentar infinitamente nosso conhecimento. Entramos, assim, numa
corrida sem fim, em que nunca nos questionamos se isso realmente está trazendo os benefícios
prometidos.

Claro que a tecnologia traz inegáveis benefícios, mas não parece que as pessoas, atualmente,
estejam mais felizes. Pode-se alegar, no entanto, que não é papel do conhecimento e da ciência
promover a felicidade humana - e que, talvez, conhecimento e ciência tenham a única função
de contribuir para a concentração de poder e dinheiro nas mãos de alguns uns poucos.

Sócrates, porém, via a busca da verdade como um caminho de ascese, pois, quando cuidamos
de nós mesmos, modificamos nossa relação com os outros e com o mundo.

Mergulhados em preocupações com a aparência e o consumo, pensamos estar cuidando de nós


mesmos, quando na verdade estamos nos perdendo em meio às coisas. É preciso conhecer a si
mesmo para não perder-se. Claro que você não vai encontrar toda verdade em si mesmo, mas,
pelo menos, a única verdade capaz de salvá-lo.
Josué Cândido da Silva, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é professor de
filosofia da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus (BA).

Bibliografia

 Michel Foucault. A hermenêutica do sujeito, Editora Martins Fontes, São Paulo, 2004.
Platão
Por Ana Lucia Santana

Platão foi um dos principais filósofos gregos da Antiguidade. Ele


nasceu em Atenas, por volta de 427/28, foi seguidor de Sócrates e
mestre de Aristóteles. O nome pelo qual ficou conhecido era
possivelmente um apelido, aparentemente ele se chamava
Arístocles.

Este filósofo se encontrava no limiar de uma época, entre os


valores antigos e um novo mundo que emergia, o que lhe
propiciou uma riqueza de idéias sem igual. Ele tinha o poder de
abordar os temas mais diversos, mais com a força da paixão e da
criatividade artística do que com a lucidez da razão. Sua obra é um dos maiores legados da
Humanidade, abrangendo debates sobre ética, política, metafísica e teoria do conhecimento.

Ao contrário de Sócrates, que vinha de uma origem humilde, Platão era integrante de uma
família rica, de antiga e nobre linhagem. Ele conheceu seu ilustre mestre aos vinte anos.
Sócrates era bem mais velho, pelo menos quarenta anos separavam ambos, mas eles puderam
desfrutar de oito anos de aprendizado conjunto. Platão teve acesso também, por meio de seu
professor, aos ideais pré-socráticos. Com a morte de seu preceptor, o filósofo isolou-se, com
outros adeptos das idéias socráticas, em Mégara, ao lado de Euclides.

Depois de viajar pela Magna Grécia e pela Sicília, Platão regressou a Atenas e fundou a
Academia, que em breve se tornou conhecida e freqüentada por um grande número de jovens
que vinha à procura de uma educação melhor. Até intelectuais consagrados acorriam a esta
instituição para debater suas idéias. Depois de várias tentativas de difundir seus conceitos
políticos em Siracusa, na Sicília, Platão se instala definitivamente em sua terra natal, na
liderança da Academia, até sua morte, em 347 a.C.

Dos filósofos da Antiguidade, Platão é o primeiro de quem se conhece a obra integral. Mas
muitos de seus diálogos não são autênticos, embora supostamente assinados por ele. Seu estilo
literário é o diálogo, uma espécie de ponte entre a oralidade fragmentária de Sócrates e a
estética didática de Aristóteles. Nos escritos de Platão mesclam-se elementos mito-poéticos
com fatores essencialmente racionais. Este filósofo não se guia pelo rigor científico, nem por
uma metodologia formal.

Em Platão a filosofia ganha contornos e objetivos morais, apresentando assim soluções para os
dilemas existenciais. Esta práxis, porém, assume no intelecto a forma especulativa, ou seja,
para se atingir a meta principal do pensamento filosófico, é preciso obter o aprendizado
científico. O âmbito da filosofia, para Platão, se amplia, se estende a tudo que existe. Segundo o
filósofo, o homem vivencia duas espécies de realidade – a inteligível e a sensível. A primeira se
refere à vida concreta, duradoura, não submetida a mudanças. A outra está ligada ao universo
das percepções, de tudo que toca os sentidos, um real que sofre mutações e que reproduz
neste plano efêmero as realidades permanentes da esfera inteligível. Este conceito é concebido
como Teoria das Idéias ou Teoria das Formas.
Segundo Platão, o espírito humano se encontra temporariamente aprisionado no corpo
material, no que ele considera a ‘caverna’ onde o ser se isola da verdadeira realidade, vivendo
nas sombras, à espera de um dia entrar em contato concreto com a luz externa. Assim, a
matéria é adversária da alma, os sentidos se contrapõem à mente, a paixão se opõe à razão.
Para ele, tudo nasce, se desenvolve e morre. O Homem deve, porém, transcender este estado,
tornar-se livre do corpo e então ser capaz de admirar a esfera inteligível, seu objetivo maior. O
ser é irresistivelmente atraído de volta para este universo original através do que Platão chama
de amor nostálgico, o famoso eros platônico.

Platão desenvolveu conceitos os mais diversos, transitando da metafísica para a política, destas
para a teoria do conhecimento, abrangendo as principais esferas dos interesses humanos. Sua
obra é estudada hoje em profundidade, apresentado uma atualidade inimaginável, quando se
tem em vista que ela foi produzida há milênios, antes da vinda de Cristo. Seu pensamento
influencia ainda em nossos dias teorias políticas, psicológicas – como a junguiana -, filosóficas,
espirituais, sociológicas, entre outros segmentos do conhecimento humano.

http://www.infoescola.com/filosofos/platao/
Ideias de Platão: As coisas mudam, mas
seus modelos são eternos
Josué Cândido da Silva

Platão (428-347 a.C.) foi discípulo de Sócrates, por quem sempre nutriu profunda admiração,
transformando-o no personagem principal de seus diálogos. Após a morte do mestre, fundou
sua própria escola de filosofia, chamada de Academia, em homenagem ao deus Academus. Sua
obra está intimamente ligada aos problemas filosóficos de sua época.

Platão viveu durante a florescente democracia ateniense - e na democracia era importante


saber argumentar e convencer os cidadãos a votarem nesta ou naquela proposta. Muitos
jovens, que pretendiam ter destaque na vida pública, procuravam professores que lhes
ensinassem a arte de falar bem e de maneira convincente. Esses professores de oratória e
retórica eram os sofistas, título que, originalmente, significa "sábio".

Relativismo
Os sofistas mais famosos foram Protágoras (480-411 a.C.) e Górgias (485-380 a.C.). Para eles
não existem verdades imutáveis, válidas para todo o sempre. Muito do que acreditávamos ser
certo no passado, hoje sabemos que é falso, e nada garante que no futuro não venha a
acontecer o mesmo. O melhor que podemos almejar é construir um consenso provisório sobre
o que é certo para maioria, aqui e agora.

"O homem é a medida de todas as coisas", dizia Protágoras, cabe a nós decidir sobre o que é
certo ou errado, respeitando os diferentes pontos de vista, pois ninguém pode se julgar dono
da verdade. Ora, o melhor modo de fazer isso é a democracia, em que prevalece o livre debate
de ideias.

A posição dos sofistas é chamada de relativismo, por considerar que não existem verdades
absolutas, mas apenas verdades relativas que mudam com o passar do tempo e de uma cultura
para outra. Daí a necessidade de sempre refazermos o consenso democrático sobre os
problemas que nos afetam e reformar as leis de nossa sociedade.

Modelos ideais imutáveis


Platão achava isso absurdo. É certo que a realidade está sempre mudando, que as coisas
nascem e morrem, mas é igualmente certo que existem coisas que não morrem e tampouco
mudam. Do contrário, teríamos apenas opiniões (doxa) sobre as coisas, mas nunca um
conhecimento (episteme) sobre elas.

O que não muda são as ideias das quais as coisas são meras cópias. As coisas podem mudar de
forma e tamanho, mas a soma dos ângulos internos de um triângulo será sempre 180 graus,
assim como 2 + 2 será sempre igual a 4. O que conhecemos da realidade não é o que pode ser
percebido através dos sentidos, mas os modelos ideais imutáveis que estão para além das
aparências.

Imagine um edifício, um carro, uma máquina. O que eram antes de existir? Apenas uma ideia
na mente do projetista ou inventor. Quando colocada em prática, aparecem as imperfeições
que fazem parte da realidade, não da ideia. Da mesma forma, as coisas que existem em nosso
mundo são cópias das ideias que lhes deram origem. As cópias estragadas são substituídas por
novas, mas a forma permanece sempre a mesma.

Quando olhamos para João ou Paula, vemos um ser humano, mas não existe mais humanidade
em João do que em Paula, ou melhor, a humanidade não é algo que está neles, mas são como
biscoitos retirados de uma mesma forma (ô). Por isso, é inútil buscar alguma verdade no
mundo sensível, imperfeito e corruptível, enquanto podemos intuí-la diretamente do mundo
das ideias, que permanece imutável e completamente separado do nosso mundo de
aparências.

Alma imortal
Mas, se o mundo das ideias é separado do nosso mundo, como Platão sabe que ele existe?
Segundo o filósofo, não só ele, mas todos nós sabemos que o mundo das ideias existe porque já
estivemos lá.

Para Platão, temos em nós duas partes: um corpo corruptível e uma alma imortal. Nossa alma
imortal tem sua origem no mundo das ideias, onde contemplou as ideias de tudo o que existe.
Assim, quando olhamos para as coisas neste mundo, nos lembramos do que contemplamos no
mundo das formas ideais, e dizemos que algo é bom ou justo apesar de nunca encontrarmos
algo verdadeiramente bom ou justo em parte alguma.

Quando participamos de um diálogo filosófico, mesmo que seja um diálogo da alma consigo
mesma, nos afastamos das opiniões sobre as coisas para contemplar diretamente as ideias. E
ao recordar tudo o que vimos no mundo das ideias, onde tudo era eternamente Bom, Belo e
Verdadeiro, nossa alma aspira a libertar-se do corpo corruptível, no qual está aprisionada, e
voltar para o mundo das ideias.

Enquanto isso não acontece, a alma busca afastar-se de tudo que é ligado ao corpo, dedicando-
se à contemplação e à filosofia. Existem almas, porém, que se agarram ao corpo e seus
apetites, e tomam o efêmero por duradouro, o relativo pelo verdadeiro.

Infelizmente, são poucos os que escolhem o caminho da verdade e da filosofia. Estes são, até
mesmo, vistos como loucos pela maioria que vaga entre opiniões incertas. Por tentar retirá-los
do mundo de sombras e ilusões em que se encontram (leia "O mito da caverna e a visão além
das aparências"), alguns filósofos são perseguidos e até condenados a morte, como aconteceu
com Sócrates.

O filósofo, entretanto, não pode fechar os olhos para verdade - e a única coisa que pode aspirar
é que ela, por fim, prevaleça.

Josué Cândido da Silva, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é professor de
filosofia da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus (BA).
Aristóteles
Por Ana Lucia Santana

Aristóteles é considerado um dos principais filósofos da Antiguidade, ao lado de Sócrates e


Platão. Filho de Nicômaco, médico pessoal de Amintas, rei da Macedônia, nasceu na Estagira,
em Calcídica, situada no litoral norte do Mar Egeu, no ano de 384 a.C.
Com aproximadamente dezesseis ou dezessete anos, ele partiu para o
centro cultural da Grécia, Atenas, optando pela Academia fundada por
Platão.

Aí o filósofo permaneceu, ao longo de vinte anos, até a morte de seu


mestre. Neste período ele se dedicou também ao estudo da filosofia
pré-platônica, o que influenciaria profundamente sua futura visão
teórica. Ao ser rejeitado para substituir Platão na Academia, ele se muda para Assos, onde
institui um grupo filosófico, assessorado pelo governante local, Hérmias. Permanece nesta
localidade por três anos, casando-se com Pítias, sobrinha do tirano. Com o assassínio deste, ele
segue para a Ilha de Lesbos, na qual ele empreende grande parcela de suas célebres pesquisas
biológicas, tendência que alguns estudiosos atribuem à herança recebida de seu pai e do tio.

No ano de 343 a.C., Aristóteles é convidado pelo Rei Filipe II para exercer o cargo de preceptor
do Príncipe Alexandre, posto no qual ele permanece até 336 a.C., quando o nobre assume o
trono. Retornando a Atenas, treze anos depois de sua partida, ele inaugura sua própria escola,
próxima ao templo de Apolo Lício, sendo por isso conhecida como Liceu. Ela também era
apelidada de peripatética, dado ao hábito do filósofo de transmitir seus ensinamentos em uma
palestra ministrada durante tranqüilo passeio pelas veredas do Ginásio de Apolo.

Este estabelecimento de ensino seria a real sucessora da Academia platônica. Com a morte de
Alexandre, porém, Atenas se insurge e tem início uma revolta nacional, liderada por
Demóstenes. Ao se sentir perseguido pelos atenienses, que não o viam com bons olhos, e o
condenavam como ateu, ele se exilou por vontade própria em Eubéia. Um ano depois, em 322
a.C., Aristóteles, conhecido como o filósofo, pela vasta amplidão temática que dominava, deixa
o corpo, com pouco mais de 60 anos. Considerado o inventor do pensamento lógico, ele se
distinguia na ética, na política, na física, na metafísica, na lógica, na psicologia, na poesia, na
retórica, na zoologia, na biologia e na história natural.

Mais absorto em suas pesquisas, totalmente absorvido por suas idéias, Aristóteles foi um ser
devotado à cultura, às elaborações intelectuais, à meditação, tornando-se assim mais
distanciado da vida social. Ele percorreu todos os meandros da mente humana, dedicando-se
amplamente à prática literária, produzindo assim uma vasta obra, da qual restam apenas alguns
textos. A primeira compilação de seus escritos foi realizada por Andronico de Rodes, por volta
da metade do último século a.C., incluindo Escritos lógicos, Escritos sobre a física; Escritos
metafísicos; Escritos morais e políticos: a Ética a Nicômaco; Escritos retóricos e poéticos.

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Filosofia medieval: Filósofos cristãos
conciliaram fé e razão
Heidi Strecker

Com a dissolução do Império romano, as invasões bárbaras e o desaparecimento das instituições,


os centros de difusão cultural também se desagregaram. Os chamados "pais da igreja" foram os
primeiro filósofos a defender a fé cristã nos primeiros séculos, até aproximadamente o século 8.

Os padres da igreja foram os filósofos que, nesse período, tentaram conciliar a herança clássica
greco-romana, com o pensamento cristão. Essa corrente filosófica é conhecida como patrística. A
filosofia patrística começa com as epístolas de São Paulo e o evangelho de São João. Essa doutrina
tinha também um propósito evangelizador: converter os pagãos à nova religião cristã.

Surgiram ideias e conceitos novos, como os de criação do mundo, pecado original, trindade de
Deus, juízo final e ressurreição dos mortos. As questões teológicas, relativas às relações entre fé e
razão, ocuparam as reflexões dos principais pensadores da filosofia cristã.

Santo Agostinho e a interioridade


Santo Agostinho (354-430) foi o primeiro grande filósofo cristão. Uma de suas principais
formulações foi a ideia de interioridade, isto é, de uma dimensão humana dotada de consciência
moral e livre arbítrio.

As ideias filosóficas tornam-se verdades reveladas (reveladas por Deus, através da Bíblia e dos
santos) e inquestionáveis. Tornaram-se dogmas. A partir da formulação das ideias da filosofia cristã,
abre-se a perspectiva de uma distinção entre verdades reveladas e verdades humanas. Surge a
distinção entre a fé e a razão.

O conhecimento recebido de Deus torna-se superior ao conhecimento racional. Em decorrência


desta própria dicotomia, surge a discussão em torno da possibilidade de conciliação entre fé e
razão.

Escolástica e Tomas de Aquino


A partir do século 12, a filosofia medieval é conhecida como escolástica. Surgem as universidades e
os centros de ensino e o conhecimento é guardado e transmitido de forma sistemática. Platão e
Aristóteles, os grandes pensadores da Antiguidade, também foram as principais influências da
filosofia escolástica. Nesse período, a filosofia cristã alcançou um notável desenvolvimento. Criou-
se uma teologia, preocupada em provar a existência de Deus e da alma.

O método da escolástica é o método da disputa. A disputa consiste na apresentação de uma tese,


que pode ser defendida ou refutada por argumentos. Trata-se de um pensamento subordinado a
um princípio de autoridade (os argumentos podem ser tirados dos antigos, como Platão e
Aristóteles, dos padres da igreja ou dos homens da igreja, como os papas e os santos).

O filósofo mais importante desse período é São Tomás de Aquino, que produziu uma obra
monumental, a "Suma Teológica", elaborando os princípios da teologia cristã.

Heidi Strecker, Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação é filósofa e educadora.
Filosofia medieval: Quadro com os
principais filósofos da Idade Média

Nascimento e
Filósofo Obra
morte
354-430 Santo Agostinho As Confissões, A Cidade de Deus
830-880 Escoto Erígena Da Predestinação, Da Divisão da Natureza
1033-1109 Santo Anselmo Monológico, A Verdade
1079-1142 Abelardo Introdução à Teologia, Ética
1193-1280 Santo Alberto Magno Suma de Teologia
1225-1274 Tomás de Aquino Suma Contra os Gentios, Suma Teológica
Sobre o Desprendimento, Livro da Divina
1260-1327 Mestre Eckhart
Consolação
1266-1308 Duns Escoto Do Princípio Primeiro, Questões Metafísicas
Guilherme de Comentários sobre as Sentenças, Lógica dos
1300-1350
Ockham Termos
1401-1464 Nicolau de Cusa A Douta Ignorância, O Deus Escondido
Escolástica: A filosofia durante a Idade
Média
Renan Santos
É comum se ouvir falar em trevas e barbárie quando alguém se refere à Idade Média, por vezes
com uma expressão de escárnio e desprezo. Ao contrário do que diz este preconceito herdado
dos iluministas, tanto a filosofia quanto a ciência moderna devem muito à Idade Média e à sua
monumental Escolástica.

A pré-Escolástica
Ao final do século 5, o que restava dos escombros do Império Romano era uma multidão
dispersa de povos bárbaros e alguns fragmentos da cultura clássica, que só não desapareceram
devido aos esforços dos monges copistas e dos grandes pensadores
crihttps://publicador.uolinc.com/media.jsp?contentUri=/br/com/uol/educacao/card/disciplinas
/filosofia/escolastica-a-filosofia-durante-a-idade-media.xmlstãos em Alexandria, Grécia e
Roma.

Os primeiros e conturbados séculos da Idade Média europeia seriam dominados pelo


pensamento de santo Agostinho, antigo responsável por solidificar a fé cristã sobre uma série
de elementos platônicos. Veremos a sua influência em autores como Boécio, Dionísio
Areopagita e Escoto Erígena, bem como na tradição das artes liberais que fundamentaram o
ensino medieval.

O princípio
É difícil delimitar a origem da Escolástica porque jamais ela se estabeleceu como uma doutrina
filosófica restrita. Diferente do que se pensa, havia no ambiente católico uma divergência
muito viva em questões teológicas. Foi esse espírito do debate que acabou dando origem à
corrente de atividades intelectuais, artísticas e filosóficas a que se convencionou chamar de
Escolástica (do latim schola).

É o século 12 que vê essa valorização do saber refletida na criação das universidades e na


ascensão da classe letrada. O monge agostiniano santo Anselmo desponta como o primeiro
escolástico, seguido por Pedro Abelardo, Pedro Lombardo e Hugo de São Vítor.

O auge
Eis que na segunda metade do século 12 chegam às universidades as traduções hispânicas de
versões árabes das obras de Aristóteles. É o grande choque cultural que muda o rumo do
Ocidente e que catapulta a Escolástica para a sua "era de ouro" no século 13, quando Agostinho
deixa de ser o eixo do pensamento cristão, e a filosofia natural aristotélica se agiganta diante da
teologia.

Os mestres universitários adquirem fama e importância, os livros se multiplicam, e o modelo de


ciência antiga começa a ruir. Robert Grosseteste e seu discípulo Roger Bacon trabalham a ideia
de pesquisa científica, idealizando experimentos. As universidades de Paris, Oxford e Colônia
testemunham os grandes debates e o surgimento de obras gigantescas. É o século de são
Tomás de Aquino, Alberto Magno, são Boaventura e Duns Scotus.
A disputa escolástica
Possivelmente a maior contribuição da Escolástica à filosofia tenha sido o seu notável rigor
metodológico e dialético. Os estudantes das principais universidades precisavam passar por
exames que envolviam a disputa oral de argumentos, sempre regida pelo uso da lógica formal e
intermediada por um mestre.

Pedro Abelardo se inspirou nesse método dialético e o aprofundou em sua obra Sic et Non, que
virou referência para a resolução de problemas a partir da sucessão de afirmações e negações
sobre um mesmo tópico. Para isso, era imprescindível uma definição satisfatória dos termos,
que evitasse ambiguidades.

Tiveram muito sucesso nesse sentido os escolásticos, chegando a criar palavras totalmente
novas a partir das raízes do grego e do latim, o que acabou resultando no latim escolástico. A
própria evolução das ciências se deve em grande parte ao desenvolvimento desse rigor
terminológico.

A relação entre filosofia e teologia


Entre os renascentistas e iluministas, criou-se a ideia de que a Escolástica havia se submetido a
Aristóteles como um servo feudal se curva ao seu mestre, o que os estudos do século 20
desmentiram profundamente.

A verdade é que, com a chegada da imensa obra de Aristóteles, foram surgindo naturalmente
dois partidos nas universidades: os tradicionais, agostinianos e platônicos, que não admitiam a
ideia de ciências autônomas em relação à teologia, e os "modernos" aristotelistas, fascinados a
tal ponto com a investigação da filosofia natural que buscaram tornar as ciências
independentes da teologia.

Essa discussão levou a grandes contendas acerca da relação entre fé e razão, cuja ruptura
definitiva ficaria a cargo do franciscano inglês Guilherme de Ockham no século 14, abrindo de
vez as portas para a ciência moderna.

A querela dos universais


Na esteira das traduções que abalaram o Ocidente, encontrou-se a Isagoga, obra do filósofo
antigo Porfírio, onde ele expunha o problema dos universais em Aristóteles. Iniciava-se assim
um dos mais longos debates da história da filosofia.

Quando olhamos para duas maçãs, vemos algo de comum entre elas? Ou elas são
completamente diferentes? Há uma substância "maçã" separada delas, ou ela está em cada
uma das maçãs? Ou a substância "maçã" não existe de forma alguma? Perguntas desse tipo é
que dirigiram o debate dos universais.

Os ultrarrealistas, de índole platônica, como santo Anselmo, Odo de Tournai e Bernard de


Chartres, diriam que há uma substância, um universal "maçã" separado de todas as maçãs e
que lhes serve de modelo. Os realistas moderados, mais aristotélicos, como Pedro Abelardo,
João de Salisbury e Tomás de Aquino, afirmariam que o universal "maçã" existe somente nas
maçãs e nunca fora delas. Já os nominalistas, como Roscelin e Guilherme de Ockham, negariam
que houvesse qualquer universal; "maçã" seria um puro nome. Esta discussão ecoaria no
confronto entre empiristas e racionalistas modernos.

A decadência
Chegam os séculos 14 e 15 e o movimento escolástico começa a conhecer sua derrocada,
eivando-se de formalismos dialéticos e discussões cada vez mais estéreis. Ainda assim, conta
este período com grandes figuras, como o já citado Guilherme de Ockham, Nicolas
d'Autrecourt, Jean Buridan e Nicolau de Cusa. De todo modo, às portas da Renascença, a
Escolástica já se encontrava moribunda.

A Escolástica tardia
Nos anos da Contra-Reforma, ainda a península ibérica testemunharia um último sopro do
espírito medieval, através de grandes pensadores católicos formados nas universidades de
Salamanca e Coimbra, como Francisco Suárez, Francisco de Vitória, Domingo de Soto e Tomás
de Mercado.

É neste ambiente da "Escolástica tardia" que se produzem importantes concepções do


jusnaturalismo e da ideia de direito internacional, além dos tratados de matéria econômica que
viriam a influenciar a escola marginal e o liberalismo austríaco nos séc. 19 e 20.

A Neoescolástica
Com o declínio dos impérios português e espanhol, a filosofia medieval cristã praticamente
desapareceu, enquanto o cartesianismo, o positivismo e o agnosticismo kantiano atingiam o
seu auge.

Finalmente, no século 19 é que se verá uma tentativa de resgatar o legado escolástico (e


principalmente tomista), através da chamada Neoescolástica (ou Neotomismo). Tal movimento
ganhou relativa força no século vinte, principalmente no meio católico. Josef Pieper, Jacques
Martitain e Garrigou-Lagrange foram alguns dos seus nomes mais destacados.
Renan Santos, Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação é publicitário, estudioso de
filosofia e mantém o blog Lectiones philosophica.
Filosofia moderna: A razão: do
Renascimento ao Iluminismo
Heidi Strecker

No período do Renascimento (séculos 15 e 16), o mundo assistiu a profundas transformações


no campo da política, da economia, das artes e das ciências. O Renascimento retomou valores
da cultura clássica (representada pelos autores gregos e latinos), como a autonomia de
pensamento e o uso individual da razão, em oposição aos valores medievais, como o domínio
da fé e a autoridade da Igreja.

No campo político, o principal autor do Renascimento foi Maquiavel, autor de "O Príncipe".
Maquiavel elaborou uma teoria política fundamentada na prática e na experiência concreta.
Durante o período medieval, o poder político era concebido como presente divino e os teólogos
elaboraram suas teorias políticas baseados nas escrituras sagradas e no direito romano.

Uma outra obra representativa desse momento filosófico é o "Elogio da Loucura", de Erasmo
de Roterdã. Ao elaborar uma obra ao mesmo tempo literária e filosófica, Erasmo usa a palavra
para afirmar valores humanos e denunciar a hipocrisia, ridicularizando papas, filósofos ou
príncipes. As mudanças dessa época de crise prepararam o caminho para o despontar do
racionalismo clássico.

Racionalismo clássico

O século 17 foi um dos períodos mais fecundos para a história da filosofia. Marcado pelo
absolutismo monárquico (concentração de todos os poderes nas mãos do rei) e pela Contra-
Reforma (reafirmação da doutrina católica em oposição ao crescimento do protestantismo),
essa época acolheu as grandes criações do espírito científico, como as teorias de Galileu Galilei
e o experimentalismo de Francis Bacon.

Recusando a autoridade dos filósofos que o antecederam, René Descartes foi o maior expoente
do chamado "racionalismo clássico" - uma época que deu ao mundo filósofos tão brilhantes
como Blaise Pascal, Thomas Hobbes, Baruch Espinoza, John Locke e Isaac Newton.

Embora sempre tenha sido objeto da reflexão dos filósofos, o problema do conhecimento
tornou-se mais agudo a partir do século 17. Com os filósofos modernos (em oposição aos
filósofos medievais e os da Antiguidade), a teoria do conhecimento tornou-se uma disciplina
filosófica independente. O pensamento passou a voltar-se para si mesmo. O pensamento
(sujeito do conhecimento) passou a ser também o seu objeto. Em outras palavras: o homem
começou a pensar nas suas próprias maneiras de pensar e entender o mundo.

Racionalismo e empirismo

Os filósofos formularam basicamente duas respostas diferentes para a questão do


conhecimento - o racionalismo e o empirismo.

Para os racionalistas, como René Descartes, o conhecimento verdadeiro é puramente


intelectual. A experiência sensível precisa ser separada do conhecimento verdadeiro. A fonte
do conhecimento é a razão.

Para os empiristas, como John Locke e David Hume, o conhecimento se realiza por graus
contínuos, desde a sensação até atingir as ideias. A fonte do conhecimento é a experiência
sensível.

O iluminismo

No século 18, a razão é vista também como guia para a discussão do problema moral (o
problema da ação humana) e o filósofo é entendido como aquele que faz uso público da razão,
ao usar sua liberdade de pensar diante de um público letrado.

Immanuel Kant foi um filósofo de grande reputação, um dos maiores pensadores da filosofia do
Iluminismo (movimento cultural do século 17 e 18, caracterizado pela valorização da razão
como instrumento para alcançar o conhecimento).

Como autêntico representante da filosofia do século 18, era defensor incondicional do papel da
razão no progresso do homem. Ao buscar fundamentar na razão os princípios gerais da ação
humana, Kant elaborou as bases de toda a ética que viria a seguir. A formulação do famoso
"imperativo categórico" guiou seu pensamento no campo da moral e dos costumes. Kant criou
duas obras magistrais, a "Crítica da Razão Pura"(1781) e "Crítica da Razão Prática" (1788).

O Iluminismo foi também a filosofia que norteou a Revolução Francesa, e teve em filósofos
como Voltaire, Jean-Jacques Rousseau e Denis Diderot seus grandes expoentes.

Heidi Strecker, Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação é filósofa e educadora.
Filosofia moderna : Conheça os maiores
filósofos dos séculos 16 a 18

Renascimento
Nascimento e morte Filósofo Obra
1469-1527 Maquiavel O Príncipe
1469-1536. Erasmo de Rotterdam Elogio da Loucura
1478-1535 Thomas More A Utopia
1533-1592 Michel de Montaigne Ensaios
1548-1600 Giordano Bruno Do Infinito, do Universo e dos Mundos

Racionalismo clássico
Nascimento e morte Filósofo Obra
1561-1626 Francis Bacon Novum Organum (Novo Instrumento)
1588-1679 Thomas Hobbes O Leviatã
1596-1650 René Descartes Discurso sobre o Método, Meditações
1623-1677 Baruch Spinoza Ética
1623-1704 Blaise Pascal Pensamentos
1632-1704 John Locke Ensaio sobre o Entendimento Humano
1642-1727 Isaac Newton Princípios Matemáticos de Filosofia Natural
1646-1716 Friedrich Leibniz Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano
1685-1753 George Berkeley Tratado sobre o Conhecimento Humano

Iluminismo
Nascimento e
Filósofo Obra
morte
1694-1778 Voltaire Tratado sobre a Tolerância, Dicionário Filosófico
1711-1776 David Hume Investigação sobre o Entendimento Humano
Jean-Jacques
1712-1778 O Contrato Social, Discurso sobre a Desigualdade
Rousseau
Crítica da Razão Pura, Crítica da Razão Prática, A Religião nos
1724-1784 Immanuel Kant
Limites da Simples Razão
1713-1784 Denis Diderot Pensamentos Filosóficos, A Religiosa, O Sonho de D'Alembert
Investigação sobre a Riqueza das Nações, A Teoria dos
1723-1790 Adam Smith
Sentimentos Morais
Filosofia Contemporânea:
Fenomenologia, existencialismo
Heidi Strecker

O mundo em que vivemos, das telecomunicações, da internet, dos programas espaciais, da


física quântica, ou da medicina de alta tecnologia parece não ter lugar para a filosofia. Onde
está a filosofia? O filósofo Bertrand Russel pensou nessa questão:

A filosofia, como todos os outros estudos, visa em primeiro lugar ao conhecimento. O


conhecimento a que ela aspira é o tipo de conhecimento que dá unidade e sistematiza o corpo
das ciências, e que resulta de um exame crítico dos fundamentos de nossas convicções,
preconceitos e crenças.

Bertrand Russell, Os problemas da filosofia

Isso mesmo. Essa é uma das definições de filosofia: ela é uma disciplina que estuda os
fundamentos de nossas convicções. No entanto, enquanto as ciências estabelecem um corpo
sólido de conhecimentos e verdades a partir do qual passam a se desenvolver, a filosofia não
alcança os mesmos resultados. Ela não dá respostas definitivas a nenhuma questão. E agora? O
próprio Bertrand Russel matou a charada:

Isto se deve em parte ao fato de que, assim que o conhecimento definitivo a respeito de
qualquer assunto torna-se possível, esse assunto deixa de ser chamado de filosofia, e torna-se
uma ciência independente. O estudo total dos céus, que agora pertence à astronomia, foi um
dia incluído na filosofia; a grande obra de Newton chamava-se ‘princípios matemáticos de
filosofia natural’. Do mesmo modo, o estudo da mente humana, que fazia parte da filosofia,
agora foi separado da filosofia e tornou-se a ciência da psicologia. Assim, em grande medida, a
incerteza da filosofia é mais aparente que real: as questões que são capazes de ter respostas
definitivas são abrigadas nas ciências, enquanto aquelas para as quais, até o presente, não
podem ser dadas respostas definitivas, continuam a formar o resíduo que é chamado de
filosofia.

Estamos mergulhados num mundo que não cessa de colocar novas questões para a filosofia.
Por isso mesmo, não é fácil reconhecer o que é a filosofia contemporânea. Estamos perto
demais. Percebemos a filosofia do passado com mais clareza e mais coesão do que percebemos
a filosofia que se faz hoje.

Mas vamos lá! Chamamos de filosofia contemporânea aquela que teve início no século 19,
atravessou o século 20 e chegou até os dias de hoje.

A filosofia contemporânea fundamenta-se em alguns conceitos que foram elaborados no século


19. Um desses conceitos é o conceito de história, que foi formulado pelo filósofo G.W.F. Hegel.
A filosofia de Hegel relaciona-se com as ideias de totalidade e de processo. Passamos a
entender o homem como um ser histórico, assim como a sociedade.
Uma das consequências dessa percepção é a ideia de progresso. O filósofo Auguste Comte foi
um dos principais teóricos a pensar essa questão. Tanto a razão quanto o saber científico
caminham na direção do desenvolvimento do homem (o lema da bandeira brasileira, ordem e
progresso, é inspirado nas ideias de Comte).
As utopias políticas elaboradas no século 19, como o anarquismo, o socialismo e o comunismo,
também devem muito à ideia de desenvolvimento e progresso, como caminho para uma
sociedade justa e feliz.

Progresso descontínuo
A ideia de que a história fosse um movimento contínuo e progressivo em direção ao
aperfeiçoamento sofreu duras restrições durante o século 20.
No século 20, porém, formou-se a noção de que o progresso é descontínuo, isto é, não se faz
por etapas sucessivas. Desse modo, a história universal não é um conjunto de várias civilizações
em etapas diferentes de desenvolvimento. Cada sociedade tem sua própria história. Cada
cultura tem seus próprios valores.
Essa visão de mundo possibilitou o desenvolvimento de várias ciências como a etnologia, a
antropologia e as ciências sociais.

Ciência e técnica
A confiança no saber científico foi outra das atitudes filosóficas que se desenvolveram no
século 19. Essa atitude implica que a natureza pode ser controlada pela ciência e pela técnica.
Mas não apenas isso, o desenvolvimento da ciência e da técnica passa a ser capaz de levar ao
progresso vários aspectos da vida humana. Surgiram disciplinas como a psicologia, a sociologia
e a pedagogia.

No século 20, a filosofia passou a colocar em cheque o alcance desses conhecimentos. Essas
ciências podem não conseguir abranger a totalidade dos fenômenos que estudam. E também
muitas vezes não conseguem fundamentar e validar suas próprias descobertas.

O triunfo da razão
A ideia de que a razão, ciência e o conhecimento são capazes de dar conta de todos os aspectos
da vida humana também foi pensada criticamente por dois grandes filósofos: Karl Marx e
Sigmund Freud.

No campo político, Marx tornou relativa a ideia de uma razão livre e autônoma ao formular a
noção de ideologia - o poder social e invisível que nos faz pensar como pensamos e agir como
agimos.
No campo da psique, Freud abalou o edifício das ciências psicológicas ao descobrir a noção de
inconsciente - como poder que atua sem o controle da consciência.

Teoria crítica
A ideia de progresso humano como percurso racional sofreu um duro golpe com a ascensão dos
regimes totalitários, como o nazismo, o fascismo e o stalinismo. O desencanto tomou o lugar da
confiança que existia anteriormente na ideia de uma razão triunfante.

Para fazer face a essa realidade, um grupo de intelectuais alemães elaborou uma teoria que
ficou conhecida como teoria crítica. Um dos principais filósofos desse grupo é Max Horkheimer.
Ele pensou que as transformações na sociedade, na política e na cultura só podem se processar
se tiverem como fim a emancipação do homem e não o domínio técnico e científico sobre a
natureza e a sociedade.
Esse pensamento distingue a razão instrumental da razão crítica. O que seria a razão
instrumental? Aquela que transforma as ciências e as técnicas num meio de intimidação do
homem, e não de libertação. E a razão crítica? É a que estuda os limites e os riscos da aplicação
da razão instrumental.

Existencialismo
O filósofo Jean-Paul Sartre também pensou as questões do homem frente à liberdade e ao seu
compromisso com a história. Utilizando também as contribuições do marxismo e da psicanálise,
o filósofo elaborou um pensamento sistemático que põe em relevo a noção de existência em
lugar da essência.

Fenomenologia
O estudo da linguagem científica, dos fundamentos e dos métodos das ciências tornou-se um
foco de atenção importante para a filosofia contemporânea. O filósofo Edmund Husserl propôs
à filosofia a tarefa de estudar as possibilidades e os limites do próprio conhecimento. Husserl
desenvolveu uma teoria chamada fenomenologia.

Filosofia analítica
As formas e os modos de funcionamento da linguagem foram estudados pelo filósofo Ludwig
Wittgenstein. A filosofia analítica é uma disciplina que se vale da análise lógica como método e
entende a linguagem como objeto da filosofia. Bertrand Russel e Quine também estudaram os
problemas lógicos das ciências, a partir da linguagem científica.

Embora tenha se desdobrado em disciplinas especializadas, a filosofia ainda é - como sempre foi
- uma atitude filosófica.
Assim que começamos a filosofar achamos que mesmo as coisas mais cotidianas levam a
problemas para os quais só podem ser dadas respostas muito incompletas. A filosofia, embora
incapaz de nos dizer com certeza quais são as respostas verdadeiras às dúvidas que ela suscita,
está apta a sugerir muitas possibilidades que ampliam nossos pensamentos e os libertam da
tirania do hábito. Assim, embora diminuindo nosso sentimento de certeza a respeito do que as
coisas são, ela aumenta enormemente nosso conhecimento em direção ao que as coisas podem
ser.

Heidi Strecker, Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação é filósofa e educadora.
Filosofia contemporânea: Principais
filósofos contemporâneos
Século 19
Nascimento e
Filósofo Obra
morte
Fenomenologia do Espírito, Ciência da Lógica, Lições sobre a
1770-1831 G.W.F. Hegel
Filosofia da História
Arthur
1788-1860 O Mundo como Vontade e Representação
Schopenhauer
1798-1857 Auguste Comte Curso de Filosofia Positiva
1813-1855 Sören Kierkegaard Temor e Tremor, Diário do Sedutor, Conceito de Angústia
1818-1883 Karl Marx A Sagrada Família, A Ideologia Alemã, O Capital (com F. Engels)
Charles Sanders
1839-1914 Semiótica e Filosofia
Peirce
Princípios de Psicologia, O Pragmatismo, As Variedades da
1842-1910 William James
Experiência Religiosa
1844-1900 Friedrich Nietzsche Assim Falava Zaratustra, A Gaia Ciência, Ecce Homo

Século 20
Nascimento e
Filósofo Obra
morte
A Interpretação dos Sonhos, Totem e Tabu, Além do Princípio do
1856-1939 Sigmund Freud
Prazer
1859-1938 Edmund Husserl Investigações Lógicas, Lógica Formal e Lógica Transcendental
Matéria e Memória, Os Dados Imediatos da Consciência, As Duas
1859-1941 Henri Bergson
Fontes da Moral e da Religião
Princípios da Matemática (com Alfred Whitehead), Os Problemas da
1872-1970 Bertrand Russell
Filosofia, História da Filosofia Ocidental
1875-1961 Carl G. Jung A Dinâmica do Inconsciente, Estudos sobre Psicologia Analítica
Ludwig
1889-1951 Tractatus Logico-philosoficus, Investigações Filosóficas
Wittgenstein
1889-1976 Martin Heidegger Que É uma Coisa?, O Ser e O Tempo, Que É Filosofia?
Teoria Tradicional e Teoria Crítica, Dialética do Iluminismo (com
1895-1973 Max Horkheimer
T.W. Adorno)
1896-1980 Jean Piaget A Epistemologia Genética, A Linguagem e o Pensamento na Criança
1905-1980 Jean-Paul Sartre O Ser e o Nada, Crítica da Razão Dialética
Maurice Merleau
1908-1961 Fenomenologia da Percepção, As Aventuras da Dialética
Ponty
Claude Lévi-
1908-2009 As Estruturas Elementares do Parentesco, Tristes Trópicos
Strauss
Tipos de Conhecimento

Por Roberta Laisa Dantas de Sousa

O conhecimento está diretamente ligado ao homem, à sua realidade. O conhecimento


pretende idealizar o bem estar do ser humano, logo o conhecimento advém das relações do
homem com o meio. O indivíduo procura entender o meio partindo dos pressupostos de
interação do homem com os objetivos. É uma forma de explicar os fenômenos das relações,
seja, entre sujeito/objeto, homem/razão, homem/desejo ou homem/realidade. A forma de
explicar e entender o conhecimento passa por várias vertentes como: conhecimento empírico
(vulgar ou senso comum), conhecimento filosófico, conhecimento teológico e conhecimento
científico.

O conhecimento empírico surge da relação do ser com o mundo. Todo ser humano apodera-se
gradativamente deste conhecimento, ao passo que lida com sua realidade diária. Não há uma
preocupação direta com o ato reflexivo, ocorre espontaneamente. É um conhecimento do tipo
abrangente dentro da realidade humana. Não está calcada em investigações.

O conhecimento filosófico surge da relação do homem com seu dia-a-dia, porém preocupa-se
com respostas e especulações destas relações. Não é um conhecimento estático, ao contrário
sempre está em transformação. Considera seus estudos de modo reflexivo e crítico. É um
estudo racional, porém não há uma preocupação de verificação.
O conhecimento teológico preocupa-se com verdades absolutas, verdades que só a fé pode
explicar. O sagrado é explicado por si só. Não há importância a verificação. Acredita-se que o
conhecimento é explicado pela religião. Tudo parte do religioso, os valores religiosos são
incontestáveis.

O conhecimento científico precisa ser provado. O conhecimento surge da dúvida e comprovado


concretamente, gerando leis válidas. É passível de verificação e investigação, então acaba
encontrando respostas aos fenômenos que norteiam o ser humano. Usa os métodos para
encontrar respostas através de leis comprobatórias, as quais regem a relação do sujeito com a
realidade.

http://www.infoescola.com/filosofia/tipos-de-conhecimento/
Conhecimento Científico e Cotidiano
Por Ricardo Normando Ferreira de Paula

Nós seres humanos, fazemos parte de uma espécie que, até o momento, revela-se bem
sucedida em termos de sobrevivência biológica. Basicamente somos os únicos seres vivos que
povoam todas as regiões da superfície da terrestre, onde o fator fundamental dessa grande
adaptabilidade é a sua capacidade psíquica. Com essa ferramenta, consegue-se modificar
decisivamente o ambiente a favor da sobrevivência e para uma qualidade de vida que
proporcione ao homem uma “estadia” maior no planeta.

E todo o processo de adaptabilidade se dá através da construção do conhecimento que o


homem vai adquirindo ao longo da sua existência e sendo transmitido ao longo das gerações.
Dentre as várias formas de expressar o conhecimento humano, podemos destacar aqui duas:

 O conhecimento cotidiano é aquele gerado a partir da observação de fatores naturais


para depois tornar- se (ou não) cientifico. Não tem por base a experimentação, mas em
fatos vivenciados por alguém que pode (ou não) possuir a pretensão de tornar aquele
conhecimento científico. O conhecimento cotidiano convive com outras fontes de
conhecimento tornando-se contraditório em certas ocasiões. É necessário um contexto
para que seja produzido.
 O conhecimento cientifico apesar de ter base experimental não é inquestionável
podendo ele a qualquer momento ser contestado e perder a sua suposta veracidade,
quando algum argumento contraditório conseguir sobrepor – se ao primeiro e assim
sendo, não pode-se conviver com contradições. Este tipo de conhecimento pode ser
completamente independente de um contexto predeterminado utilizando-se
afirmações generalizadas podendo ser aplicado à diferentes situações e épocas. E ainda,
pode ser verdade irrefutável em uma época e absurdamente errado em outra.

Para a socialização dos vários conhecimentos adquiridos pela humanidade, é utilizada a


terminologia, isto é um código que os detentores do conhecimento utilizam a fim de tornar o
conhecimento socializado e, desta forma, apesar de serem formas completamente distintas de
conhecimento (no tocante às suas características) um fomenta o outro, e é justamente através
da vivência que surge a dúvida que leva o indivíduo à experimentação para então o
conhecimento tornar-se ou não científico.

Exemplificando o que acabou de ser mencionado, podemos citar e caracterizar o


exossomatismo, já que o mesmo consiste em uma forma de adaptação inconsciente ou
consciente do ser humano às condições ambientais. Em termos mais específicos, é o processo
pelo qual os indivíduos (ou as espécies) passam a desenvolver para viver em determinado
ambiente gerando, assim, uma adaptação evolutiva que culminará com um quadro de seleção
natural.

A relação do fato anteriormente citado com os conhecimentos mencionados pode ser feita da
seguinte forma:

O aquecimento global parece ser hoje o ápice de uma problemática que vem se arrastando há
muitos anos pela intervenção do homem nos processos e recursos naturais do planeta.
Segundo o quarto relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas – maio
de 2007), a responsabilidade humana pela mudança climática atual é de mais de 90%. Essas
intervenções implicam, diretamente, na subida do nível do mar pelo derretimento das geleiras
ao longo do atual século (com grave ameaça às cidades litorâneas), intensificação dos ciclones,
escassez de água potável e de alimentos e, no caso da Amazônia, o aumento de temperatura
fará com que a exuberante floresta se transforme em uma savana.

No entanto, o Conhecimento Científico aqui expresso foi conseqüência de uma série de


observações do meio ambiente (o que gera o Conhecimento Cotidiano) a partir de pessoas
ligadas (ou não) a organismos de pesquisa. Após as observações mostrarem que a natureza se
comportava de maneira diferente de alguns anos anteriores, as experimentações começaram a
ser feitas, culminado com o conhecimento científico. E o que é mais contundente aqui é que
esse conhecimento ainda está sendo produzido com base em novos conhecimentos cotidianos.
O relatório do IPCC que foi mencionado é o quarto. Traz no seu texto argumentações e
problemáticas diferentes dos três primeiros. É uma amostra direta da transformação de
conhecimento cotidiano em conhecimento científico.

Numa perspectiva de Ensino Médio escolar, o relatório em um de seus capítulos trata da


radiação ultravioleta que nos atinge. Diferentemente de alguns anos anteriores, a perspectiva
de casos de câncer de pele nas populações (principalmente nas regiões tropicais) aumenta
consideravelmente. Tratar o causa e as conseqüências dessa incidência nos seres humanos
tomando por base o princípio de ação de uma onda eletromagnética e suas faixas de atuação,
pode vir a ser um bom aliado na conscientização do aluno acerca do comportamento
ondulatório partindo do conhecimento cotidiano e culminado com o conhecimento científico.

http://www.infoescola.com/filosofia/conhecimento-cientifico-e-cotidiano/
Conhecimento Tácito
Por Geraldo Magela Machado

A palavra “tácito” é originada do latim tacitus = não expresso em palavras. É a forma do


conhecimento inerente a cada pessoa em particular, não sendo fácil sua transmissão através da
fala ou escrita, mas sua existência é facilmente percebida na prática cotidiana. O conhecimento
tácito pode ser entendido como aquilo que uma pessoa é capaz de realizar com eficácia e que é
adquirido com as experiências de vida dessa pessoa.

Por estar vinculado diretamente às pessoas, o conhecimento tácito é de difícil disseminação e


de grande valor para as empresas modernas, que tem no capital humano, representado pela
capacidade criativa dos funcionários, seu maior patrimônio.

Tal conhecimento é estudado, dentro das empresas, por profissionais da área de Ciências
Humanas, como Filosofia, Psicologia, Sociologia e Gestão de Negócios. A finalidade é tentar
transformar o conhecimento tácito e conhecimento explícito, público, para que todos tenham
acesso a ele. Mas a questão principal, como já foi dito, é a dificuldade de expressão desse
conhecimento em textos ou falas.

A melhor maneira de transmitir um conhecimento tácito é através da convivência direta com


outras pessoas, grupos, na execução de tarefas ou projetos que exijam os conhecimentos que
não conseguimos explicitar, como por exemplo, andar de bicicleta, que é uma atividade
simples, porém, de difícil ensinamento, uma vez que a habilidade é uma característica pessoal.

É uma forma de conhecimento subjetivo, não mensurável, de difícil captura e transmissão e,


por isso mesmo, muito valioso.

Um exemplo de conhecimento tácito ocorre quando alguém, muito experiente em cozinha, nos
passa uma receita. Anotamos todos os ingredientes, a sequência de elaboração, o tempo e
tudo mais que é necessário para o preparo da receita, porém, ao final, parece que falta alguma
coisa, um toque especial e esse toque é exatamente o conhecimento tácito que o cozinheiro
tem e que nem sempre consegue passar para outras pessoas.

Essa dificuldade em transmitir o conhecimento tácito é inerente a todos, pois quando


explicamos algo, geralmente temos a certeza de estarmos sendo claros, porém, como cada
pessoa tem suas próprias vivências e, portanto, seus próprios conhecimentos tácitos, muitas
vezes essa transmissão não ocorre a contento.

O que está dentro de nós, nos pertence e o conhecemos porque é nosso. Repassá-lo a outras
pessoas nem sempre é uma tarefa fácil e, muitas vezes, é até impossível se levarmos em
consideração as experiências, crenças desejos e vontade dos outros.

Leia mais:
 Tipos de Conhecimento
http://www.infoescola.com/psicologia/conhecimento-tacito/
Ética
Por Ana Lucia Santana

A Ética é uma virtude que está sempre presente no comportamento humano, portanto é um
fator essencial na tessitura da vida social. Ela leva o Homem a questionar constantemente suas
ações e as atitudes alheias, tentando definir se elas são boas ou más, corretas ou incorretas.
Enquanto disciplina, esta ciência se preocupa com a análise das idéias que envolvem a
produção do Bem e do Mal, ou seja, ela se dedica aos seus aspectos teóricos. Por outro lado, a
moral está intrínseca na decisão de como agir frente a uma determinada situação, no foro
íntimo de cada um, na forma como as pessoas, individualmente, reagem diante de um impasse.

Assim, enquanto as inquietações com a esfera conceitual dos valores que regem o
comportamento humano estão localizadas no âmbito da Ética, as questões práticas deste
campo pertencem à esfera da Moral, que governa a alma de cada indivíduo. Assim, ao longo da
História, diversos pensadores tentaram compreender o que é o Bem, para melhor aplicar esta
idéia n o cotidiano, nos momentos em que se tem de escolher entre a sua prática e a do Mal.
Mas nunca se chegou a um consenso sobre esta indagação.

Outra forma de se distinguir Ética e Moral é perceber que a primeira constitui um preceito, é
definitiva, comum a todos, é uma norma de conduta e pertence ao campo teórico; a outra é
composta de ângulos analisáveis dos comportamentos individuais, é temporária, específica de
cada cultura, a lei em ação, e é inerente ao campo da práxis.

Além do mais, a Ética já encontra a vivência moral vigente na sociedade, portanto não é ela
quem estabelece os valores morais; ela apenas busca compreender seu núcleo conceitual,
como ela surge, em que estado as atitudes morais são perpetradas, do ponto de vista pessoal e
das circunstâncias objetivas, os princípios de onde partem os julgamentos de natureza moral,
entre outros fatores teóricos.

A ação humana é sempre fruto de uma escolha entre o correto e o incorreto, entre o que é
bom e o que tangencia o mal. Mas saber o que pertence a uma margem e o que se encontra já
no outro lado da fronteira depende do ponto de vista cultural que predomina em alguns povos
e em certos momentos históricos. O Homem procura se basear, normalmente, em parâmetros
socialmente aceitos, que lhe permitam conviver com as outras pessoas. Para tanto ele busca se
guiar pelos conceitos que norteiam a prática dos valores positivos, das qualidades humanas.

Os primeiros passos das análises éticas foram provavelmente empreendidos pelos filósofos da
Grécia Antiga. Atualmente seus estudos transcendem o campo filosófico e se estendem ao
domínio de sociólogos, psicólogos, biólogos, e muitos outros estudiosos. Esta disciplina
também procura definir como é atribuída ao Homem a obrigação de se comportar moralmente.
Ou seja, os pesquisadores se esforçam para entender de que forma o indivíduo optou entre as
várias possibilidades à sua disposição; esta compreensão do livre-arbítrio humano pertence ao
campo da Ética.

É importante não restringir esta ciência a uma definição meramente prescritiva, pois ela é antes
de tudo uma ferramenta conceitual elaborada justamente para tornar inteligível o que se passa
nos bastidores das escolhas humanas. Ela não é, portanto, uma receita preparada para se saber
qual a resposta mais apropriada a cada contexto, embora torne mais claro esse processo
decisório e, neste sentido, talvez possa ajudar o Homem a realizar melhor suas escolhas.

Fontes
HTTP://WWW.MUNDODOSFILOSOFOS.COM.BR/VANDERLEI18.HTM
HTTP://TPD2000.VILABOL.UOL.COM.BR/ETICA1.HTM

http://www.infoescola.com/filosofia/etica/
Fanatismo
Por Ana Lucia Santana

Embora as pessoas associem geralmente o fanatismo a causas políticas ou religiosas, este


comportamento é muito mais amplo do que se imagina. Originário do francês fanatique ou do
latim fanaticus – ‘o que pertence a um templo’ -, ele se refere a toda atitude exagerada, radical,
compulsiva.

De acordo com o Dicionário Aurélio, o fanático é o ser que segue de forma cega uma doutrina
ou um partido, mas outros dicionários apresentam significados mais extensos, como o “culto
excessivo de alguém ou de alguma coisa; zelo religioso excessivo; paixão política; intolerância;
sectarismo; exaltação exagerada; faccionismo; dedicação excessiva.” Estas conotações derivam
de um ritual primitivo, durante o qual os sacerdotes que cultuavam certas divindades, como
Cibele e Belona, entravam em êxtase e, neste estado, se cortavam, deixando fluir o sangue dos
seus corpos.

Assim sendo, o fanatismo envolve não só disputas maiores e globais, que envolvem o próprio
destino do Planeta, mas também atos cotidianos, como o amor obsessivo por alguém, a
devoção a um time de futebol, o apego excessivo a um objeto, entre outros. Estas paixões
podem levar a pessoa a cometer ações insensatas, muitas vezes criminosas. Elas são
normalmente marginalizadas, pois se comportam de maneira distinta dos que são mais
moderados em suas atitudes, embora qualquer um esteja sujeito a desenvolver sentimentos
desta natureza.

Os fanáticos são geralmente prisioneiros de suas obsessões, sejam elas um Deus, um líder
político, uma causa utópica ou uma fé inquestionável. Estas visões de mundo são quase sempre
de natureza irracional, e as pessoas que alimentam crenças deste teor acham realmente que
estão imbuídas de uma missão messiânica, que devem salvar as pessoas do Mal ou da
desordem mundial.

Algumas modalidades de fanatismo transcendem a individualidade e se expressam


coletivamente, tais como em grupos de oração, nas práticas voluntárias de penúria e fome, nas
romarias, no exercício do jejum, em suplícios que podem acarretar o próprio suicídio, individual
ou coletivo. Este comportamento está psicologicamente associado a uma atitude de escape da
realidade. Nem todo fanático, porém, aparenta ser o que é, pois as características acima
descritas referem-se a momentos de radicalidade e extremismo.

Na verdade, mesmo alguns homens-bombas, que se suicidam por uma causa política ou
religiosa, no dia-a-dia são normalmente pessoas comuns. Nos atos terroristas, aliás,
encontramos elementos de devoção fanática aliados a uma inteligência acima da média, neste
caso utilizada para o mal, embora estes militantes pretendam estar lutando contra as trevas,
salvando o mundo.

http://www.infoescola.com
Indústria cultural e cultura de massa
Marilena Chauí

A partir da segunda revolução industrial no século XIX e prosseguindo no que se denomina


agora sociedade pós-industrial ou pós-moderna (iniciada nos anos 70 do século passado), as
artes foram submetidas a uma nova servidão: as regras do mercado capitalista e a ideologia da
indústria cultural, baseada na idéia e na prática do consumo de “produtos culturais” fabricados
em série. As obras de arte são mercadorias, como tudo o que existe no capitalismo.

Perdida a aura, a arte não se democratizou, massificou-se para consumo rápido no mercado da
moda e nos meios de comunicação de massa, transformando-se em propaganda e publicidade,
sinal de status social, prestígio político e controle cultural.

Sob os efeitos da massificação da indústria e consumo culturais, as artes correm o risco de


perder três de suas principais características:

1. de expressivas, tornarem-se reprodutivas e repetitivas;

2. de trabalho da criação, tornarem-se eventos para consumo;

3. de experimentação do novo, tornarem-se consagração do consagrado pela moda e pelo


consumo.

A arte possui intrinsecamente valor de exposição ou exponibilidade, isto é, existe para ser
contemplada e fruída. É essencialmente espetáculo, palavra que vem do latim e significa: dado
à visibilidade. No entanto, sob o controle econômico e ideológico das empresas de produção
artística, a arte se transformou em seu oposto: é um evento para tornar invisível a realidade e o
próprio trabalho criador das obras. É algo para ser consumido e não para ser conhecido, fruído
e superado por novas obras.

As obras de arte e de pensamento poderiam democratizar-se com os novos meios de


comunicação, pois todos poderiam, em princípio, ter acesso a elas, conhecê-las, incorporá-las
em suas vidas, criticá-las, e os artistas e pensadores poderiam superá-las em outras, novas.

A democratização da cultura tem como precondição a idéia de que os bens culturais (no
sentido restrito de obras de arte e de pensamento e não no sentido antropológico amplo, que
apresentamos no estudo sobre a idéia de Cultura) são direito de todos e não privilégio de
alguns. Democracia cultural significa direito de acesso e de fruição das obras culturais, direito à
informação e à formação culturais, direito à produção cultural.

Ora, a indústria cultural acarreta o resultado oposto, ao massificar a Cultura. Por quê?

Em primeiro lugar, porque separa os bens culturais pelo seu suposto valor de mercado: há
obras “caras” e “raras”, destinadas aos privilegiados que podem pagar por elas, formando uma
elite cultural; e há obras “baratas” e “comuns”, destinadas à massa. Assim, em vez de garantir o
mesmo direito de todos à totalidade da produção cultural, a indústria cultural introduz a divisão
social entre elite “culta” e massa “inculta”. O que é a massa? É um agregado sem forma, sem
rosto, sem identidade e sem pleno direito à Cultura.
Em segundo lugar, porque cria a ilusão de que todos têm acesso aos mesmos bens culturais,
cada um escolhendo livremente o que deseja, como o consumidor num supermercado. No
entanto, basta darmos atenção aos horários dos programas de rádio e televisão ou ao que é
vendido nas bancas de jornais e revistas para vermos que, através dos preços, as empresas de
divulgação cultural já selecionaram de antemão o que cada grupo social pode e deve ouvir, ver
ou ler.

No caso dos jornais e revistas, por exemplo, a qualidade do papel, a qualidade gráfica de letras
e imagens, o tipo de manchete e de matéria publicada definem o consumidor e determinam o
conteúdo daquilo a que terá acesso e tipo de informação que poderá receber. Se compararmos,
numa manhã, cinco ou seis jornais, perceberemos que o mesmo mundo – este no qual todos
vivemos – transforma-se em cinco ou seis mundos diferentes ou mesmo opostos, pois um
mesmo acontecimento recebe cinco ou seis tratamentos diversos, em função do leitor que a
empresa jornalística pretende atingir.

Em terceiro lugar, porque inventa uma figura chamada “espectador médio”, “ouvinte médio” e
“leitor médio”, aos quais são atribuídas certas capacidades mentais “médias”, certos
conhecimentos “médios” e certos gostos “médios”, oferecendo-lhes produtos culturais
“médios”. Que significa isso?

A indústria cultural vende Cultura. Para vendê-la, deve seduzir e agradar o consumidor. Para
seduzi-lo e agradá-lo, não pode chocá-lo, provocá-lo, fazê-lo pensar, fazê-lo ter informações
novas que o perturbem, mas deve devolver-lhe, com nova aparência, o que ele já sabe, já viu, já
fez. A “média” é o senso comum cristalizado que a indústria cultural devolve com cara de coisa
nova.

Em quarto lugar, porque define a Cultura como lazer e entretenimento, diversão e distração, de
modo que tudo o que nas obras de arte e de pensamento significa trabalho da sensibilidade, da
imaginação, da inteligência, da reflexão e da crítica não tem interesse, não “vende”. Massificar
é, assim, banalizar a expressão artística e intelectual. Em lugar de difundir e divulgar a Cultura,
despertando interesse por ela, a indústria cultural realiza a vulgarização das artes e dos
conhecimentos.

Os meios de comunicação

Dos meios de comunicação, sem dúvida, o rádio e a televisão manifestam mais do que todos os
outros esses traços da indústria cultural.

Começam introduzindo duas divisões: a dos públicos (as chamadas “classes” A, B, C e D) e a dos
horários (a programação se organiza em horários específicos que combinam a “classe”, a
ocupação – donas-de-casa, trabalhadores manuais, profissionais liberais, executivos -, a idade –
crianças, adolescentes, adultos – e o sexo).

Essa divisão é feita para atender às exigências dos patrocinadores, que financiam os programas
em vista dos consumidores potenciais de seus produtos e, portanto, criam a especificação do
conteúdo e do horário de cada programa. Em outras palavras, o conteúdo, a forma e o horário
do programa já trazem em seu próprio interior a marca do patrocinador.

Muitas vezes, o patrocinador financia um programa que nada tem a ver, diretamente, com o
conteúdo e a forma veiculados. Ele o faz porque, nesse caso, não está vendendo um produto,
mas a imagem de sua empresa. É assim, por exemplo, que uma empresa de cosméticos pode,
em lugar de patrocinar um programa feminino, patrocinar concertos de música clássica; uma
revendedora de motocicletas, em lugar de patrocinar um programa para adolescentes, pode
patrocinar um programa sobre ecologia.

A figura do patrocinador determina o conteúdo e a forma de outros programas, ainda que não
patrocinados por ele. Por exemplo, um banco de um governo estadual pode patrocinar um
programa de auditório, pois isto é conveniente para atrair clientes, mas pode, indiretamente,
influenciar o conteúdo veiculado pelos noticiários. Por quê?

Porque a quantidade de dinheiro paga pelo banco à rádio ou à televisão para o programa de
auditório é muito elevada e interessa aos proprietários daquela rádio ou televisão. Se o
noticiário apresentar notícias desfavoráveis ao governo do Estado ao qual pertence o banco,
este pode suspender o patrocínio do programa de auditório. Para não perder o cliente, a
emissora de rádio ou de televisão não veicula notícias desfavoráveis àquele governo e, pior,
veicula apenas as que lhe são favoráveis. Dessa maneira, o direito à informação desaparece e
os ouvintes ou telespectadores são desinformados ou ficam mal informados.

A desinformação, aliás, é o principal resultado da maioria dos noticiários de rádio e televisão.


Com efeito, como são apresentadas as notícias? De modo geral, são apresentadas de maneira a
impedir que o ouvinte e o espectador possam localizá-la no espaço e no tempo.

Falta de localização espacial: o espaço real é o aparelho de rádio e a tela da televisão, que tem
a peculiaridade de retirar as diferenças e distâncias geográficas, de tal modo que algo
acontecido na China, na Índia, nos Estados Unidos ou em Campina Grande pareça igualmente
próximo e igualmente distante.

Falta de localização temporal: os acontecimentos são relatados como se não tivessem causas
passadas nem efeitos futuros; surgem como pontos puramente atuais ou presentes, sem
continuidade no tempo, sem origem e sem conseqüências; existem enquanto forem objetos de
transmissão e deixam de existir se não forem transmitidos.

Paradoxalmente, rádio e televisão podem oferecer-nos o mundo inteiro num instante, mas o
fazem de tal maneira que o mundo real desaparece, restando apenas retalhos fragmentados de
uma realidade desprovida de raiz no espaço e no tempo. Nada sabemos, depois de termos tido
a ilusão de que fomos informados sobre tudo.

Também é interessante a inversão entre realidade e ficção produzida pela mídia. Acabamos de
mencionar o modo como o noticiário nos apresenta um mundo irreal, sem História, sem causas
nem conseqüências, descontínuo e fragmentado. Em contrapartida, as novelas criam o
sentimento de realidade. Elas o fazem usando três procedimentos principais:

1. o tempo dos acontecimentos novelísticos é lento para dar a ilusão de que, a cada capítulo,
passou-se apenas um dia de nossa vida, ou passaram-se algumas horas, tais como realmente
passariam se fôssemos nós a viver os acontecimentos narrados;

2. os personagens, seus hábitos, sua linguagem, suas casas, suas roupas, seus objetos são
apresentados com o máximo de realismo possível, de modo a impedir que tenhamos distância
diante deles (ao contrário do cinema e do teatro, que suscitam em nós o sentimento de
proximidade justamente porque nos fazem experimentar o da distância);

3. como conseqüência, a novela nos aparece como relato do real, enquanto o noticiário nos
aparece como irreal. Basta ver, por exemplo, a reação de cidades inteiras quando uma
personagem da novela morre (as pessoas choram, querem ir ao enterro, ficam de luto) e a falta
de reação das pessoas diante de chacinas reais, apresentadas nos noticiários.

Vale a pena, também, mencionar dois outros efeitos que a mídia produz em nossas mentes: a
dispersão da atenção e a infantilização.

Para atender aos interesses econômicos dos patrocinadores, a mídia divide a programação em
blocos que duram de sete a dez minutos, cada bloco sendo interrompido pelos comerciais. Essa
divisão do tempo nos leva a concentrar a atenção durante os sete ou dez minutos de programa
e a desconcentrá-la durante as pausas para a publicidade.

Pouco a pouco, isso se torna um hábito. Artistas de teatro afirmam que, durante um
espetáculo, sentem o público ficar desatento a cada sete minutos. Professores observam que
seus alunos perdem a atenção a cada dez minutos e só voltam a se concentrar após uma pausa
que dão a si mesmos, como se dividissem a aula em “programa” e “comercial”.

Ora, um dos resultados dessa mudança mental transparece quando criança e jovem tentam ler
um livro: não conseguem ler mais do que sete a dez minutos de cada vez, não conseguem
suportar a ausência de imagens e ilustrações no texto, não suportam a idéia de precisar ler “um
livro inteiro”. A atenção e a concentração, a capacidade de abstração intelectual e de exercício
do pensamento foram destruídas. Como esperar que possam desejar e interessar-se pelas
obras de arte e de pensamento?

Por ser um ramo da indústria cultural e, portanto, por ser fundamentalmente uma vendedora
de Cultura que precisa agradar o consumidor, a mídia infantiliza. Como isso acontece? Uma
pessoa (criança ou não) é infantil quando não consegue suportar a distância temporal entre seu
desejo e a satisfação dele. A criança é infantil justamente porque para ela o intervalo entre o
desejo e a satisfação é intolerável (por isso a criança pequenina chora tanto).

Ora, o que faz a mídia? Promete e oferece gratificação instantânea. Como o consegue? Criando
em nós os desejos e oferecendo produtos (publicidade e programação) para satisfazê-los. O
ouvinte que gira o dial do aparelho de rádio continuamente e o telespectador que muda
continuamente de canal o fazem porque sabem que, em algum lugar, seu desejo será
imediatamente satisfeito.

Além disso, como a programação se dirige ao que já sabemos e já gostamos, e como toma a
cultura sob a forma de lazer e entretenimento, a mídia satisfaz imediatamente nossos desejos
porque não exige de nós atenção, pensamento, reflexão, crítica, perturbação de nossa
sensibilidade e de nossa fantasia. Em suma, não nos pede o que as obras de arte e de
pensamento nos pedem: trabalho sensorial e mental para compreendê-las, amá-las, criticá-las,
superá-las. A Cultura nos satisfaz, se tivermos paciência para compreendê-la e decifrá-la. Exige
maturidade. A mídia nos satisfaz porque nada nos pede, senão que permaneçamos sempre
infantis.

Um último traço da indústria cultural que merece nossa atenção é seu autoritarismo, sob a
aparência de democracia. Um dos melhores exemplos encontra-se nos programas de
aconselhamento. Um especialista – é sempre um especialista – nos ensina a viver, um outro nos
ensina a criar os filhos, outro nos ensina a fazer sexo, e assim vão se sucedendo especialistas
que nos ensinam a ter um corpo juvenil e saudável, boas maneiras, jardinagem, meditação
espiritual, enfim, não há um único aspecto de nossa existência que deixe de ser ensinado por
um especialista competente.

Em princípio, seria absurdo e injusto considerar tais ensinamentos como autoritários. Pelo
contrário, deveríamos considerá-los uma forma de democratizar e sociabilizar conhecimentos.
Onde se encontra o lado autoritário desse tipo de programação (no rádio e na televisão) e de
publicação (no caso de jornais, revistas e livros)? No fato de que funcionam como intimidação
social.

De fato, como a mídia nos infantiliza, diminui nossa atenção e capacidade de pensamento,
inverte realidade e ficção e promete, por meio da publicidade, colocar a felicidade
imediatamente ao alcance de nossas mãos, transforma-nos num público dócil e passivo. Uma
vez que nos tornamos dóceis e passivos, os programas de aconselhamento, longe de divulgar
informações (como parece ser a intenção generosa dos especialistas) torna-se um processo de
inculcação de valores, hábitos, comportamentos e idéias, pois não estamos preparados para
pensar, avaliar e julgar o que vemos, ouvimos e lemos. Por isso, ficamos intimidados, isto é,
passamos a considerar que nada sabemos, que somos incompetentes para viver e agir se não
seguirmos a autoridade competente do especialista.

Dessa maneira, um conjunto de programas e publicações que poderiam ter verdadeiro


significado cultural tornam-se o contrário da Cultura e de sua democratização, pois se dirigem a
um público transformado em massa inculta, desinformada e passiva.

Cinema e televisão

Como a televisão, o cinema é uma indústria. Como ela, depende de investimentos, mercados,
propaganda. Como ela, preocupa-se com o lucro, a moda, o consumo.

No entanto, independentemente da boa ou má qualidade dos filmes, o cinema difere da


televisão em um aspecto fundamental.

A televisão é um meio técnico de comunicação à distância, que empresta do jornalismo a idéia


de reportagem e notícia, da literatura, a idéia do folhetim novelesco, do teatro, a idéia de
relação com um público presente, e do cinema, os procedimentos com imagens. Do ponto de
vista do receptor, o aparelho televisor é um eletrodoméstico, como o liquidificador ou a
geladeira.

O cinema é a forma contemporânea da arte: a da imagem sonora em movimento. Nele, a


câmera capta uma sociedade complexa, múltipla e diferenciada, combinando de maneira
totalmente nova, música, dança, literatura, escultura, pintura, arquitetura, história e, pelos
efeitos especiais, criando realidades novas, insólitas, numa imaginação plástica infinita que só
tem correspondência nos sonhos.

Como o livro, o cinema tem o poder extraordinário, próprio da obra de arte, de tornar presente
o ausente, próximo o distante, distante o próximo, entrecruzando realidade e irrealidade,
verdade e fantasia, reflexão e devaneio.
Nele, a criatividade do diretor e a expressividade dramática ou cômica do intérprete pode
manifestar-se e oferecer-se plenamente ao público, sem distinção étnica, sexual, religiosa ou
social. Apesar dos pesares, Benjamin tinha razão ao considerar o cinema a arte democrática do
nosso tempo.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, Ática, 2000, p.422-428.


Democracia e os direitos do povo
Artigo sobre democracia no Brasil

A indiferença dos indivíduos e grupos sociais uns em relação aos outros, bem como a
legitimação do Estado enquanto domínio independente situado acima dos cidadãos e da
sociedade são consequências de um processo e da conjuntura política, social e econômica. No
Brasil, a instituição política tem um vínculo direto com o Estado e a forma do regime: a
democracia.

Com raízes na antiguidade clássica, democracia significa governo do povo ou governo da


maioria. Ser um país democrático significa viver de acordo com uma comunidade de valores
virtuosos e justos que se afirmam no bem-estar e em prol do coletivo, em que todos possam ter
direito à cidadania. Será que no Brasil os indivíduos têm seus direitos assegurados? O que
devemos fazer para amenizar as desigualdades sociais no nosso país? Como agirmos perante o
sistema político?

O voto e a cidadania
Todo cidadão tem como arma de defesa e de direito o voto, um mecanismo que lhe garante o
exercício pleno da cidadania. Encontramos nessa arena de conflitos, de um lado, o Estado com
todo poder e, do outro lado, a sociedade que, mesmo com o direito de manifestar seu voto, se
encontra num estado de subordinação imposto pela máquina governativa e seus aparatos.
Nesse sentido, o Estado surge como instituição de providência, cuja função é resolver os
problemas gerados na sociedade, uniformizar os padrões de comportamento. Com isso, os
cidadãos tornam-se indivíduos apáticos e massa de manobra para os grupos políticos que
disputam o controle do poder.
Por outro lado, a vida institucional sempre deve ser fruto da vida social, na qual homens e
mulheres possam escolher seus representantes políticos e desenvolver o pluralismo político.
Assim, o voto é um meio legal para se poder tomar alguma atitude de manifestação. Pois uma
pessoa democrática é aquela que exerce sua cidadania, tanto através do voto, quanto pela
reivindicação ativa, assídua e consciente. O povo tem que intervir nas decisões políticas
(públicas), tem que saber escolher seus representantes.

Direito de participar
A Constituição Brasileira de 1988 assegura que no sistema democrático brasileiro, tanto os
políticos quanto o povo têm os mesmos direitos na sociedade. As decisões públicas cabem aos
políticos e ao povo, ambos devem agir de modo que a sociedade cresça. Tal fim garantirá
autonomia, cidadania e dignidade ao povo. Assim, o problema central é o da recuperação do
controle por parte do cidadão, na sua comunidade, sobre as formas do seu desenvolvimento,
sobre a criação das dinâmicas concretas que garantem uma vida mais digna e justa.
Quando as decisões são tomadas muito longe do cidadão, correspondem muito pouco às suas
necessidades. No caso dos países subdesenvolvidos, a questão se reveste de particular
importância na medida em que o reforço do poder local permite, ainda que não assegure, criar
equilíbrios democráticos frente ao poder centralizado nas mãos das elites. Assim, o cidadão
deve pensar na possibilidade e no direito que tem de intervir sobre a cidade em que vive, de
participar na criação de uma qualidade de vida melhor para si, para sua família e para as
gerações futuras.
O que está acontecendo com os recursos aplicados é que, quanto mais centralizada a decisão,
mais técnicos existem, e menor é o controle por par te da população. Dessa forma, os projetos
votados pelos políticos exigem um esforço de organização e controle que é viável apenas com a
participação da comunidade. Defender os interesses do município é promover o
desenvolvimento equilibrado, com uma situação econômica variada e uma situação social justa.

Organizar a participação é essencial para a democratização das decisões, para que possam
corresponder às necessidades da população. O sistema educacional deveria implantar um
componente curricular específico sobre o desenvolvimento do município, para que os futuros
cidadãos tivessem uma nova visão do que vem a ser a participação popul ar. É preciso criar
instrumentos de participação através de representantes de bairros, organizações de
trabalhadores, organizações de professores e alunos.

Mário Balbino Cavalcante Especialista em História do Brasil pela Faculdade Nossa Senhora de
Lourdes (FNSL), Passa e Fica, RN. balbinohistoria@bol.com.br

Artigo da edição nº 417, jornal Mundo Jovem, junho de 2011, página 22.

Atividade
 Com inspiração na frase de Mandela, que tal debater em grupo:
O que você pensa sobre o que disse o líder africano? Podemos pensar em uma
participação política no Brasil que olhe para a maioria menos favorecida?

"Democracia com fome, sem educação e saude para a maioria, é uma concha vazia."
(Nelson Mandela)

Questões para debate


 1 - Que espaços de participação democrática nós dispomos no Brasil?
2 - Nosso maior problema são oportunidades de participação ou a vontade de
participar? Por quê?
3 - Como podemos exercitar a democracia dentro da nossa escola?
Planos de aula
A busca da verdade e o ceticismo
Josué Cândido da Silva

Objetivos
 Discutir os conceitos de certeza, verdade e dúvida.
 Trabalhar as habilidades de raciocínio, interpretação de texto, investigação e formação
de conceitos.

Exercício
Os filósofos céticos afirmavam que não podemos ter certeza absoluta sobre coisa alguma. Será
que eles estavam certos? Das afirmações abaixo, quais você poderia afirmar que correspondem
a uma verdade absoluta?

a) A reta é o caminho mais curto entre dois pontos.


b) O todo é sempre maior que as partes.
c) Um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar.
d) A estrela mais próxima da Terra é Alfa Centauri.
e) Toda figura de quatro lados iguais é um quadrado.
f) Existe vida inteligente em outros planetas.
Depois que os alunos responderem, podemos problematizar as soluções apresentadas e
verificar se estão realmente certos sobre o que afirmaram. Possíveis problemas:
a) Em uma viagem de São Paulo a Tóquio, o caminho mais curto é uma reta?
b) Se repartirmos os números inteiros em pares e ímpares, os dois conjuntos resultantes terão
a mesma quantidade que o conjunto de origem.
c) Falso.
d) É o Sol.
e) E o losango?
f) Não está provado.
Convide os alunos a elaborar afirmações que podem ser consideradas uma verdade absoluta.
Depois discuta com eles quais os critérios para se estabelecer uma verdade absoluta.

Discussão
Após a leitura do texto A dúvida e a busca da verdade, forme um grande círculo com os alunos
e dialogue com eles sobre as seguintes questões:
1) Será que tudo o que acreditamos não passa de um amontoado de crenças? Qual sua opinião
a respeito?
2) Pelo que você entendeu do texto, cético é uma pessoa que duvida de tudo?
3) É possível duvidar de tudo? Você poderia duvidar de que você existe de fato?
4) Você considera que só existem verdades provisórias, ou poderíamos dizer que algumas
verdades são absolutas?
5) Você acha que é inútil discutir com as outras pessoas, para ver quem está certo, porque
todos estão certos, cada um à sua própria maneira?
6) É possível que exista mais de uma verdade sobre um mesmo tema? Você pode dar um
exemplo?
7) Se uma pessoa diz que está em dúvida sobre algo, isso significa que ela não poderá tomar
qualquer decisão sobre aquele assunto?
8) Uma pessoa pode duvidar de suas dúvidas?
Outros temas
Apresente a letra da música Metamorfose ambulante, de Raul Seixas, ou coloque-a para tocar
enquanto eles acompanham a letra. A seguir, peça para que eles produzam um pequeno texto
interpretativo, opinando sobre a seguinte questão: Raul Seixas está defendendo o ceticismo?

Os alunos terão que optar entre "sim", "não", "em termos" e fundamentar sua escolha
argumentativamente. Você poderá usar o texto como instrumento de avaliação, para checar se
os alunos realmente apreenderam o conceito de ceticismo.

Outra possibilidade seria reunir os alunos segundo o tipo de resposta que deram para a questão
proposta e cada grupo eleger qual considera a melhor. A letra da música e as melhores
respostas poderiam ser afixadas no mural ou figurar no site da escola, como um convite para
que outros também manifestem suas opiniões.

Josué Cândido da Silva


é professor de filosofia da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus (BA).
Platão: as ideias são eternas
Josué Cândido da Silva

Observação
Antes de iniciar as atividades aqui propostas, seria bom realizar uma aula expositiva sobre a
democracia grega, o papel dos sofistas e a posição dos filósofos em relação a essa forma de
governo. Também pode enriquecer a aula uma apresentação da vida de Platão.

Objetivos
 Discutir os conceitos de verdade, conhecimento e democracia.
 Formação de conceito: idéia.

Atividade
Peça que os alunos leiam o texto: Teoria do conhecimento - Platão. Cada aluno pode ler um
parágrafo, por exemplo, e escolher outro aluno para continuar a leitura. A seguir, peça que
destaquem o que consideraram mais interessante no texto. Anote no quadro os temas e peça
aos alunos que selecionem alguns para discussão. Abaixo, seguem alguns temas possíveis, mas
não é necessário que sejam discutidos na ordem sugerida.

Plano de discussão: verdade e democracia


Os sofistas achavam que não existem verdades absolutas e que tudo deve ser sujeito ao debate
democrático, vencendo a opinião mais convincente. O nosso modelo de democracia é bastante
diferente do modelo de democracia direta dos gregos, mas em ambos os casos existem alguns
temas considerados fora de questão. No nosso caso, por exemplo, a volta da escravidão ou o
direito de formação de partidos de orientação nazista.
a) Em sua opinião, existem limites para o que pode ser discutido e decidido democraticamente?
b) Que limites seriam esses?
c) Se todos tivessem um bom nível de educação isso tornaria suas decisões melhores?
d) Se todos tivessem a mesma condição social, isso tornaria a sociedade mais democrática?
e) Em sua opinião, o que é mais prejudicial à vida democrática:
- o monopólio dos meios de comunicação (TV, rádio, jornais e revistas) na mão de poucos
grupos empresariais;
- a falta de interesse das pessoas em acompanharem a vida política do país e os mandatos de
seus representantes.
- a falta de vivência democrática por meio da participação em associações, grêmios, sindicatos
e partidos políticos.
f) Se algo fosse considerado uma verdade científica, mesmo assim as pessoas poderiam decidir
contrariamente a essa verdade?
g) O que é preferível: uma decisão certa tomada por um tirano ou uma decisão errada
deliberada democraticamente?

Plano de discussão: Democracia ou tecnocracia?


a) Você acha que só os economistas devem decidir os rumos da economia? Questões como a
taxa de juros, por exemplo, deveriam ser alvo de uma deliberação democrática?
b) Você acha que os alunos também deveriam participar na direção da escola, os operários na
direção das fábricas, e assim por diante?
c) Leia a opinião de Platão sobre esse tema e depois discuta com os colegas da classe:
"Enquanto não forem, ou os filósofos reis nas cidades, ou os que agora se chamam reis e
soberanos filósofos genuínos e capazes, e se dê esta coalescência do poder político com a
filosofia, enquanto as numerosas naturezas que atualmente seguem um destes caminhos com
exclusão do outro não forem impedidas forçosamente de o fazer, não haverá tréguas dos
males, meu caro Gláucon, para as cidades, nem sequer julgo eu, para o gênero humano, nem
antes disso será jamais possível e verá a luz do sol a cidade que há pouco descrevemos."
(PLATÃO. A República. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987, p. 252).

Plano de discussão: é possível destruir uma idéia?


Platão afirma que as idéias são eternas e imutáveis. Logo, não é possível que uma idéia seja
criada ou destruída. Será que Platão está certo? Para sabermos isso vamos realizar um teste:
escreva no seu caderno como destruir uma idéia; a seguir, apresente sua solução para os
colegas, para ver se ela resiste aos argumentos contrários. Depois, discuta com a classe as
seguintes questões:
a) Se não houvesse mais ninguém no mundo, ainda assim as idéias continuariam existindo?
b) Se 2 + 2 é sempre 4, isso significa que os números são eternos?
c) Várias tribos de índios não sabem contar até 10. Isso significa que os números foram
inventados e, portanto, que os números não são eternos?
d) É possível pensar sem ter idéias?
e) Se a galinha morre, a idéia de galinha também morre?
f) As pessoas podem mudar de idéia ou apenas de opinião?
g) É possível que existam idéias falsas (como, por exemplo, a idéia falsa de uma cor ou de uma
figura) ou apenas erros humanos ao associar uma idéia com uma coisa?
h) É possível ter uma idéia que ninguém antes tenha pensado, ou apenas repetimos sempre as
mesmas idéias com pequenas diferenças?

Josué Cândido da Silva


é professor de filosofia da Universidade Estadual de Santa Cruz, em Ilhéus (BA).
Aristóteles - aprender com as coisas
Josué Cândido da Silva

Ponto de partida
Antes de iniciar as atividades aqui propostas, seria bom realizar uma aula expositiva sobre a vida e
obra de Aristóteles.

Objetivos
 Discutir os conceitos de essência, acidente e causalidade.
 Desenvolver as habilidades de argumentação.

Atividade
1. Questionário
Peça que os alunos leiam o texto Teoria do conhecimento - Aristóteles e respondam
(individualmente ou em duplas) às seguintes questões:
a) Qual a diferença entre Platão e Aristóteles, quanto à origem das idéias?
b) Qual a diferença entre essência e acidentes?
c) Como Aristóteles explica a mudança?
d) Por que Aristóteles afirma que conhecer é conhecer as causas?

2. Plano de discussão: causalidade


Disponha os alunos em círculo, de modo que todos possam se ver. A seguir, dirija as questões
abaixo aos alunos, pedindo-lhes que dêem razões para o que dizem - e aos colegas, que
apresentem pontos de vistas diferentes sobre a mesma questão (se concordam, discordam, se
podem dar um exemplo ou contra-exemplos, se consideram que o argumento do colega não é
muito consistente, etc.):
a) Tudo tem uma causa?
b) É possível que algo ocorra sem ter uma causa? (Você pode dar um exemplo?)
c) Se algo acontece por acaso, isso significa que não tem uma causa?
d) Conhecendo os efeitos de uma coisa é possível conhecer sua causa?
e) Conhecendo a causa é possível conhecer quais efeitos provavelmente a sucederão?
f) Há uma causa primeira para tudo o que existe?

3. Exercício: acadêmicos X alunos do Liceu


Divida a classe em dois grupos iguais. Um deles será o grupo dos discípulos de Platão, ou seja, os
alunos da Academia, o outro será o dos alunos do Liceu de Aristóteles. Cada grupo terá quinze
minutos para revisar os principais aspectos da doutrina de cada um dos filósofos. Em seguida, o
professor dividirá o quadro com um placar onde serão marcados os pontos de cada grupo. A regra é
que cada grupo deverá apresentar uma definição do conceito sorteado de acordo com a filosofia do
seu mestre. Cada grupo terá três minutos para discutir internamente sobre a resposta. O professor
avalia se o grupo acertou; em caso afirmativo, a equipe marca um ponto. A seguir sugerimos uma
pequena lista de conceitos para serem definidos pelos grupos:
i. Idéia
ii. Verdade
iii. Conhecer
iv. Realidade
v. Essência
Discutindo democracia
Heidi Strecker

Objetivos
1) Elaborar e realizar uma pesquisa sobre a importância da democracia junto à comunidade;
2) Compreender e discutir aspectos relevantes da democracia;
3) Trocar idéias sobre a democracia e suas características, sobretudo no Brasil;
4) Vivenciar a diversidade na valorização de diferentes aspectos da democracia dentro de um
grupo social.

Ponto de partida
Leitura do texto da "Constituição Brasileira", referente à forma de governo, e dos textos
"Democracia (1)" e "Democracia (2)" do site Lição de Casa.

Estratégias
1) Em grupos de dois ou três alunos, realizar uma pesquisa, baseando-se em obras de
referência e em textos encontrados na internet, a respeito das principais características do
regime democrático. Discutir e chegar a uma lista de dez itens. Exemplo de itens que podem ser
arrolados:
 Eleições livres
 Voto universal (para todos)
 Oposição com papel importante e poder efetivo
 Liberdade de imprensa
 Direitos das minorias respeitados
 Liberdade de expressão
 Liberdade religiosa
 Alternância de poder (mudam os partidos políticos que estão no governo)
 Governo submetido à lei (Constituição)
 Organização da sociedade civil (sindicatos, ongs, associações, grupos de pressão)
2) Elaborar um questionário e confeccionar um formulário para a aplicação da pesquisa.
Exemplo de formulação da pergunta:
Das características abaixo, quais são as três mais importantes, na sua opinião, para um regime
democrático?
3) Por meio de uma discussão com todo o grupo e o professor, definir o número de pessoas que
serão entrevistadas, qual o local, dia e horário das entrevistas. Definir também quais alunos
irão aplicar a pesquisa. (O ideal é que cada grupo recolha o mesmo número de entrevistas.);
4) Aplicação da pesquisa, seja nas ruas, seja na comunidade escolar;
5) Tabulação dos dados;
6) Análise de dados e divulgação dos resultados.

Comentários
O objetivo principal desta atividade é permitir que o adolescente vivencie as noções de
democracia como estão disseminadas em seu grupo social. A última parte da atividade pode ser
um debate realizado com toda a classe, com a discussão de hipóteses para os resultados, se
eram esperados ou não, etc. É importante que as expectativas dos alunos sejam
compartilhadas com os pais, professores e outros membros da comunidade.
Heidi Strecker é filósofa e educadora.
Teoria do conhecimento
Josué Cândido da Silva

Objetivos
 Trabalhar as habilidades de interpretação de texto e síntese de idéias.
 Trabalhar as habilidades de raciocínio e formação de conceitos.

Exercício: Interpretação de texto
Peça aos alunos que leiam o texto A dialética dos contrários.
Depois disso, eles deverão grifar a frase que sintetiza as idéias de cada parágrafo. A seguir, peça
que realizem um resumo do texto a partir das idéias principais por eles selecionadas.

Exercício: Aprofundando os conceitos


Heráclito é o primeiro filósofo a propor que a luta no interior das próprias coisas é a causa da
constante mudança da realidade. Essa forma de conceber a realidade é chamada de dialética e
foi adotada por filósofos como Hegel e Marx.
No texto abaixo há uma explicação do que é contradição. Peça aos alunos que leiam o texto e
procurem definir qual a diferença que a autora estabelece entre contradição e oposição. Depois
peça que elaborem três exemplos de oposição e três de contradição. Verifique se os exemplos
realmente correspondem aos conceitos.

Em geral confundimos contradição com oposição, mas ambos são conceitos muito diferentes. Na
oposição existem dois termos, cada qual dotado de suas próprias características e de sua própria
existência, e que se opõem quando, por algum motivo, se encontram. Isso significa que, na oposição,
podemos tomar os dois termos separadamente, entender cada um deles, entender por que se oporão se
se encontrarem e, sobretudo, podemos perceber que eles existem e se conservam, quer haja ou não
haja a oposição. Assim, por exemplo, poderíamos imaginar que os termos "senhor" e "escravo" são
opostos, mas isto não nos impede de tomar cada um desses conceitos separadamente, verificar suas
características e compreender por que se opõem. A contradição, porém, não é isto. Na contradição só
existe a relação, isto é, não podemos tomar os termos antagônicos fora dessa relação. São criados por
essa relação e transformados nela e por ela. Além disso, a contradição opera com uma forma muito
determinada de negação, a negação interna. Ou seja, se dissermos "o caderno não é o livro", essa
negação é externa, pois, além de não definir qualquer um deles pode aparecer em outras negações,
visto que podemos dizer: "o caderno não é o livro, não é a pedra, não é a casa, não é o homem, etc.,
etc.". A negação é interna quando o que é negado é a própria realidade de um dos termos, por exemplo,
quando dizemos: "A é não-A". Só há contradição quando a negação é interna e quando ela for a relação
que define uma realidade que é em si mesma dividida num pólo positivo e num pólo negativo, pólo este
que é o negativo daquele positivo e de nenhum outro. Por exemplo, quando dizemos "a canoa é a não-
árvore", definimos a canoa por sua negação interna, ela é a árvore negada, suprimida como árvore pelo
trabalho do canoeiro. O trabalho do canoeiro consiste em negar a árvore como uma coisa natural,
transformando-a em coisa humana ou cultural, isto é, na canoa. Numa relação de contradição, portanto,
os termos que se negam um ao outro só existem nessa negação. Assim o escravo é o não-senhor e o
senhor é o não-escravo e só haverá escravo onde houver senhor e só haverá senhor onde houver
escravo.

(CHAUI, Marilena. "O que é Ideologia". São Paulo: Brasiliense, 34a edição, 1991, pp. 36-37)

Josué Cândido da Silva


é professor de filosofia da Universidade Estadual de Santa Cruz em Ilhéus (BA).
Relações entre conhecimento e ética
Josué Cândido da Silva

Objetivos
 Trabalhar as habilidades de leitura e interpretação de texto.
 Discutir as relações entre conhecimento e ética. Observação: Antes de iniciar os
trabalhos, talvez fosse útil falar sobre a vida e o pensamento de Sócrates e Foucault,
dois grandes filósofos que procuraram viver de modo coerente com aquilo que
defendiam.

Exercício 1
Peça aos alunos que leiam o texto Teoria do conhecimento - conhece-te a ti mesmo. Depois,
peça que discutam em duplas e anotem os resultados da discussão sobre as seguintes
questões:
a) Qual a relação entre o preceito socrático do "conhece-te a ti mesmo" e o cuidado de si?
b) Qual a relação entre conhecimento de si e verdade?
c) Como você interpreta a frase: "deixar de cuidar das coisas e passar a cuidar de si mesmos"?
d) Você acha que a ciência deveria se preocupar com algo além da simples produção e
acumulação de conhecimentos?
e) Você acha que é possível aplicar o preceito socrático do cuidado de si na atualidade?

Exercício 2
Peça aos alunos que leiam o seguinte texto de Michel Foucault e, a seguir, discutam as
questões colocadas abaixo:
Chamemos de "filosofia", se quisermos, esta forma de pensamento que se interroga, não
certamente sobre o que é verdadeiro e sobre o que é falso, mas sobre o que faz com que haja e
possa haver verdadeiro e falso, sobre o que nos torna possível ou não separar o verdadeiro do
falso. Chamemos "filosofia" a forma de pensamento que se interroga sobre o que permite ao
sujeito ter acesso à verdade, forma de pensamento que tenta determinar as condições e limites
do acesso do sujeito à verdade. Pois bem, se a isto chamarmos "filosofia", creio que
poderíamos chamar de "espiritualidade" o conjunto de buscas, práticas e experiências tais
como as purificações, as asceses, as renúncias, as conversões do olhar, as modificações de
existência, etc., que constituem, não para o conhecimento, mas para o sujeito, para o ser
mesmo do sujeito, o preço a pagar para ter acesso à verdade. [...] A espiritualidade postula que
o sujeito enquanto tal não tem direito, não possui capacidade de ter acesso à verdade. Postula
que a verdade jamais é dada ao sujeito por um simples ato de conhecimento [...]. Postula a
necessidade de que o sujeito se modifique, se transforme, se desloque, torne-se, em certa
medida e até certo ponto, outro que não ele mesmo, para ter direito ao acesso à verdade.
(FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes, 2004, pp.19-20)

Para aprofundar:
a) Qual a diferença que o autor estabelece entre filosofia e espiritualidade?
b) Qual a preocupação da filosofia em relação ao acesso à verdade? E a preocupação da
espiritualidade?
c) Você concorda com a posição de Foucault? Justifique.
d) Você acha que o acesso à verdade deveria ser algo capaz de modificar as pessoas?
Sobre o sentido da vida
Josué Cândido da Silva

Objetivos
1) Discutir o sentido da vida e introduzir alguns conceitos heideggerianos como angústia,
morte, ser próprio e ser impróprio;
2) Trabalhar as habilidades cognitivas de interpretação e formação de conceitos.

Atividades
1) O sentido da vida é um tema que cativa à atenção dos adolescentes por eles próprios
estarem na busca de referências que os ajudem em seu processo identitário. Para facilitar a
introdução do tema, sugerimos o trabalho com imagens ou músicas. Por exemplo, pode-se
distribuir a letra de músicas aos alunos para que encontrem nelas o sentido que o autor atribui
à existência.
A música Tocando em Frente,de Almir Sater e Renato Teixeira, pode servir de tema para discutir
o sentido da vida e esta análise pode ser confrontada com o sentido (ou falta de sentido)
contido na música Cotidiano de Chico Buarque.
Outra alternativa é escolher a definição de vida com a qual os alunos mais se identificam na
música O que é, o que é? , de Gonzaguinha. Todas as letras podem ser obtidas no site
Vagalume).
Em seguida, os alunos devem confrontar suas impressões pessoais com a dos colegas. O
professor pode registrar as diferentes definições no quadro. Caso a discussão seja muito
produtiva, o professor pode prolongá-la através de um plano de discussão com questões
dirigidas à classe, tais como: a) Você acha que existe algum propósito na vida?
b) Viver faz realmente algum sentido?
c) O sentido de nossa vida é diferente do de outros seres vivos? Por quê?
d) Você acha que todas as pessoas se preocupam com o sentido de suas vidas? Você se
preocupa?
e Você acha que existiriam boas razões para se buscar um sentido para vida? Quais?

2) Depois das etapas de motivação e discussão com os alunos, pode-se passar para a leitura do
texto Filosofia da Existência, do Educação. Peça aos alunos para grifarem quais os conceitos
mais importantes que aparecem no texto. Feito isso, deverão procurar no próprio texto
definições para os conceitos. Esse trabalho pode ser feito em duplas e empregado para verificar
a habilidade de formação de conceitos. A seguir, a sugestão é perguntar aos alunos como
interpretaram o texto. Nesse momento, o professor pode retomar algumas idéias para ajudá-
los na compreensão dos aspectos principais.

3) Como fechamento, pode-se confrontar as idéias do texto com as definições que foram
registradas no quadro. O professor deve questionar sobre o que o texto os fez pensar ou se eles
mudaram a opinião que tinham sobre o sentido da vida antes e depois da discussão do tema
em classe.

Josué Cândido da Silva


é professor de filosofia da Universidade Estadual de Santa Cruz em Ilhéus (BA).

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