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DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
RIO DE JANEIRO
2023.2
RIO DE JANEIRO
2023.2
Aos meus anjos da guarda, Hamurabi Novaes e
Carlos Alberto.
Aos amigos e amigas maravilhosos que fiz até aqui, obrigada a todos por tornarem meus
dias mais leves e divertidos, por estarem comigo nos dias de sol e de chuva.
À toda minha família, obrigada por me cercarem de amor e apoio, por estarem sempre
me botando para cima e acreditando no meu sucesso. Sou muito sortuda e grata por fazer parte
dessa família.
Ao meu querido avô de coração, Mâncio, obrigada por ter me proporcionado um ensino
de qualidade e me presenteado todos esses anos com a oportunidade de estudar na PUC-Rio, a
qual valorizo muito e serei eternamente grata.
Ao meu avô Carlos e meu padrasto Hamurabi. Obrigada por sempre terem acreditado
no meu potencial e incentivado meus sonhos. Espero que estejam vendo tudo daí de cima, e que
eu esteja os dando muito orgulho.
Às mulheres incríveis da minha vida - minha mãe Janaina, minha irmã Nûria, minha
dinda Vanessa, minha avó Laura, minha dinha Tânia, e todas as minhas amigas maravilhosas -
obrigada por serem uma fonte de força, sabedoria, aprendizado, e muito amor. Vocês me
inspiram todos os dias.
À minha mãe, a mulher de quem recebi a vida. Obrigada por me cercar de amor,
diversão, música e livros desde sempre. Você é minha maior inspiração e minha melhor amiga.
E por fim, um agradecimento especial a todos aqueles que acreditam na importância e na magia
da arte.
Obrigada.
“Antes de uma criança começar a falar, ela
canta. Antes de escrever, ela desenha. No
momento em que consegue ficar de pé, ela
dança. Arte é fundamental para a expressão
humana.”
(Phylicia Rashad)
RESUMO
A arte pode ser um caminho para acessar conteúdos emocionais de relevância. Nesse sentido,
a Terapia Cognitivo-Comportamental pode se beneficiar desse material no seu trabalho com
crianças. Dessa forma, o presente estudo busca abordar a interseção entre a infância, a arte e a
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Para tal, foram realizadas buscas nas bases de
dados MEDLINE/PubMed, ResearchGate, SciELO, EBSCO e Google Acadêmico, a fim de
explorar o conceito de desenvolvimento humano na infância, destacando a relevância de
compreender os aspectos físicos, cognitivos e psicossociais do desenvolvimento infantil. Foram
encontradas informações com ênfase nas reações emocionais e o desenvolvimento da
capacidade de expressão da criança por meio da arte, fazendo uma análise do papel da arte na
TCC e destacando sua função como ferramenta alternativa de comunicação, capaz de
transcender as limitações verbais tradicionais. A adaptação das técnicas da TCC, incluindo
Planos de Ação, para incorporar expressões artísticas, reforça a versatilidade dessa abordagem
de psicoterapia. Assim, este estudo oferece uma visão abrangente sobre como a arte pode ser
eficaz na TCC com crianças, destacando a importância de reconhecer as etapas do
desenvolvimento humano e suas implicações no processo terapêutico. Ao adaptar as técnicas
terapêuticas de modo a considerar os estágios do desenvolvimento e promover a expressão
artística, a TCC se mostra uma abordagem flexível e eficaz com crianças, evidenciando o
potencial benéfico da arte no processo terapêutico infantil.
Art can be a way to access relevant emotional content. In this sense, Cognitive-Behavioral
Therapy can benefit from this material in its work with children. Thus, the present study seeks
to address the intersection between childhood, art and Cognitive-Behavioral Therapy (CBT).
Searches were carried out in the MEDLINE/PubMed, ResearchGate, SciELO, EBSCO and
Google Scholar databases, in order to explore the concept of human development in childhood,
highlighting the relevance of understanding the physical, cognitive and psychosocial aspects of
child development. Information was found with an emphasis on emotional reactions and the
development of children's ability to express themselves through art, analyzing the role of art in
CBT and emphasizing its function as an alternative communication tool, capable of
transcending traditional verbal limitations. Adapting CBT techniques, including Action Plans,
to incorporate artistic expressions reinforces the versatility of this psychotherapy approach.
Thus, this study offers a comprehensive view of how art can be effective in CBT with children,
focusing on the importance of recognizing the stages of human development and their
implications in the therapeutic process. By adapting therapeutic techniques to consider the
stages of development and promoting artistic expression, CBT proves to be a flexible and
effective approach with children, accentuating the beneficial potential of art in the children's
therapeutic process.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 10
MÉTODO ................................................................................................................................. 12
INTRODUÇÃO
A arte é de uma forma de expressão humana, e pode vir a ser utilizada como ferramenta
valiosa na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) infantil. No contexto terapêutico, a arte
tem como objetivo auxiliar as crianças a lidar com suas emoções e a desenvolver habilidades
de enfrentamento de situações causadoras de angústia e estresse. A arte pode ser aplicada como
forma de incentivar a comunicação, a criatividade e a expressão, sendo particularmente benéfica
para crianças que apresentam dificuldades na comunicação verbal.
Todavia, ainda existem perguntas sobre de que modo a arte pode ser usada com eficácia
na TCC com crianças. Questões como de que modo a arte pode auxiliar crianças a identificar e
expressar emoções específicas, quais tipos de atividades artísticas são eficazes para crianças em
diferentes contextos emocionais, comportamentais e socioeconômicos serão abordadas ao
longo do presente trabalho.
A arte como instrumento na TCC com crianças se trata de uma temática que ainda
apresenta muitas lacunas e, por esse motivo, se faz necessária uma investigação mais minuciosa
em cima do tema. Diante disso, este trabalho irá operar com base nas seguintes hipóteses:
Por fim, a presente monografia vai apresentar a seguinte estrutura: o capítulo 1, terá
como objetivo a apresentação de conceitos e aspectos relevantes do desenvolvimento infantil,
englobando as diferentes fases do desenvolvimento e suas características básicas, com foco na
Terceira Infância. Também serão abordadas adversidades que podem emergir ao longo do
desenvolvimento infantil. Enquanto isso, o capítulo 2 vai ter como tópico a expressão artística,
buscando compreender as diversas formas de arte e suas características principais, o papel da
arte no contexto terapêutico, assim como a relevância da arte no processo de desenvolvimento
infantil.
Por fim, o capítulo 3 vai tratar das características e conceitos fundamentais da Terapia
Cognitivo-Comportamental (TCC), com destaque para o emprego dessa abordagem terapêutica
com o público infantil. Além disso, os desafios mais comuns que podem surgir durante a
aplicação da TCC com crianças e algumas estratégias também serão abordados. Enfim, os
principais benefícios da TCC para crianças e o modo como a arte pode se tornar um recurso
favorável dentro do contexto terapêutico também serão discutidos.
Posto isto, os capítulos desta monografia são interligados, buscando permitir maior
compreensão acerca do tema apresentado. Foram levados em conta os principais elementos do
desenvolvimento infantil e da TCC. Por fim, o objetivo desta monografia é investigar o uso da
arte como ferramenta na TCC infantil, explorando a eficácia desta técnica para ajudar no
desenvolvimento de habilidades emocionais e comportamentais úteis para a infância.
12
MÉTODO
Para as buscas realizadas dentro das bases de dados citadas acima, foram utilizados os
seguintes descritores: "Terapia Cognitivo-Comportamental", "Arteterapia", "Desenvolvimento
infantil" e "Crianças em idade escolar". Esses descritores foram pesquisados na plataforma
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e escolhidos tendo em vista encontrar estudos que explorem
o uso da arte na Terapia Cognitivo-Comportamental infantil. Essa busca viabilizou a coleta de
informações essenciais para a análise e discussão do modo como as formas de expressão
artística podem ser utilizadas nessa abordagem psicoterapêutica, bem como para a compreensão
dos benefícios e possíveis resultados.
Inicialmente, foram encontrados 242 materiais relevantes. Desses, 189 foram excluídos
por não estarem de acordo com o tema, resultando em 53 materiais. Em seguida, foram
excluídos 21 materiais que não se referiam a crianças em idade escolar, restando 32 materiais
para leitura exploratória. Após a leitura exploratória, foram excluídos 15 materiais que
abordavam assuntos não relacionados ao tema em questão, resultando em 17 materiais, entre
livros e artigos, que atenderam aos critérios de inclusão da pesquisa.
13
Excluídos pois
abordavam assuntos
Materiais restantes aptos
não relacionados ao para o estudo (17)
tema em questão
(15)
Quadro 1 - Título, autores, ano, objetivo, tipo de material, síntese dos principais pontos abordados.
TIPO DE
TÍTULO AUTORES ANO OBJETIVO SÍNTESE
MATERIAL
Explora o desenvolvimento
infantil, abordando aspectos
Oferecer uma visão abrangente do físicos, cognitivos e sociais.
desenvolvimento infantil, Examina teorias do
abordando teorias, pesquisas e desenvolvimento, marcos
A criança em Helen Bee;
2011 marcos do crescimento, para Livro importantes em áreas como
desenvolvimento Denise Boyd
proporcionar uma compreensão linguagem, cognição e
aprofundada do processo de socialização, além de
desenvolvimento na infância. considerar a influência de
fatores ambientais e
culturais.
15
O autor explora a
Enfatizar a centralidade da via importância fundamental das
emocional no processo de emoções na aprendizagem
É Através da Via aprendizagem infantil, infantil, destacando a via
Emocional Que a proporcionando uma emocional como um
Criança João dos Santos 2009 compreensão profunda de como Livro caminho crucial para a
Apreende o as emoções influenciam a compreensão do mundo
Mundo Exterior percepção e a compreensão da exterior. Explora como as
criança em relação ao mundo experiências emocionais
externo. moldam a percepção e o
entendimento da criança.
McClure prática clínica com essa faixa trabalhar com esse público,
etária. considerando as nuances do
desenvolvimento cognitivo
nesses estágios.
Aborda as bases
psicopedagógicas da Música
Aprofundar as bases e das Artes Plásticas na
psicopedagógicas da Música e das Educação, destacando a
Artes Plásticas na Educação, integração dessas formas
ressaltando sua integração nas artísticas nas estruturas
Após a obtenção dos artigos pertinentes, foram realizadas etapas específicas para a
execução da revisão da literatura. A realização dessas etapas se deu com base nas diretrizes
estabelecidas por Whittemore e Knafl (2005), Souza et al. (2010) e Mendes et al. (2008) apud
20
1. INFÂNCIA
1
Embora os termos “Primeira Infância", "Segunda Infância" e "Terceira Infância" estejam atualmente em desuso
na literatura acadêmica, é importante observar que eles foram utilizados pelos autores das obras que serviram
como referência bibliográfica para o presente trabalho. Portanto, com o intuito de manter a consistência e o
contexto das fontes citadas, optou-se por utilizar esses termos nesta monografia.
22
Para além destes três aspectos do estudo do desenvolvimento humano, é preciso levar
em conta também as diferenças individuais e o contexto do desenvolvimento de cada indivíduo,
levando em consideração o modo como a hereditariedade e o ambiente em que o indivíduo está
inserido interagem entre si (PAPALIA; MARTORELL, 2022). Aspectos como família, nível
socioeconômico, cultura, raça/etnia e contexto histórico também irão influenciar no processo
do desenvolvimento, de acordo com Papalia e Martorell (2022).
Além disso, Bee e Boyd (2011) destacam que o processo de aprendizagem está
enraizado na base neurológica presente no nascimento. Desde o início, os bebês começam a
organizar suas experiências, o que, por sua vez, os auxilia na diferenciação entre o familiar e o
desconhecido. Esse estágio inicial pode ser considerado como o ponto de partida do processo
de desenvolvimento cognitivo, enfatizando a relevância dessas primeiras experiências
sensoriais e motoras na formação da cognição infantil (BEE; BOYD, 2011).
A teoria de Piaget vai apresentar a seguinte estrutura: o termo "esquema" vai englobar
tanto ações físicas quanto ações mentais (BEE; BOYD, 2011). Durante o processo de
adaptação, que é a forma pela qual os esquemas se transformam, três subprocessos
desempenham papéis cruciais: a assimilação, a acomodação e a equilibração. A assimilação
implica na incorporação de novas informações aos esquemas preexistentes, embora seja
ligeiramente ajustada para se adequar aos esquemas antecedentes. Em contraste, a acomodação
envolve a modificação dos esquemas existentes à luz de novas experiências, ou até mesmo a
criação de novos esquemas quando os antigos não são mais capazes de lidar com as novas
informações. A equilibração, por fim, requer uma frequente reestruturação dos esquemas,
visando alcançar um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação.
afirma que apesar de as teorias de Piaget serem respaldadas por descobertas da Neurociência,
em alguns aspectos fundamentais, a teoria de Piaget apresenta lacunas e equívocos.
Ao avançar para a Terceira Infância, fase que pretende ser o foco do presente trabalho,
é possível observar novas evoluções no contexto cognitivo. Durante a fase escolar, a criança
começa a estabelecer uma estrutura de regras que oferecem bases lógicas para seus esquemas
mentais, resultando no desenvolvimento de um conjunto abstrato e universal de estratégias para
analisar e interagir com o ambiente (BEE; BOYD, 2011). Conforme descrito por Papalia e
Martorell (2022), nesse estágio os pequenos são capazes de raciocinar logicamente, uma vez
que consideram múltiplos aspectos de uma dada situação. Porém, sua capacidade de
pensamento permanece ancorada a contextos reais, limitando-se ao “aqui e agora”. Com essa
maturidade cognitiva, as crianças desenvolvem um entendimento mais profundo em relação a
conceitos como espaço, causalidade, categorização, raciocínio indutivo e dedutivo, conservação
e números.
Bee e Boyd (2011) afirmam que, após desenvolver uma autoconsciência primária, a
criança em idade pré-escolar começa a explorar a construção de sua identidade, se auto
definindo a partir do conhecimento adquirido sobre suas próprias características. No sentido do
desenvolvimento psicossocial, a fase da segunda infância é marcada pelo destaque do conceito
de self, que se refere ao senso de identidade. Nesse período, a criança integra em sua
autoimagem a compreensão que tem da forma como é enxergada pelos outros. Além disso, é
importante mencionar que a autodefinição emerge como o modo que a criança descreve a si
mesma, enquanto a autoestima vai representar o julgamento que a criança faz a respeito de seu
valor em um sentido geral (PAPALIA; MARTORELL, 2022).
Ao ingressar na idade escolar, esse autoconceito inicial, mais concreto, começa a evoluir
para uma autodefinição mais abstrata, que envolve comparações e generalizações mais amplas
(BEE; BOYD, 2011). As autoras afirmam que no decorrer da Terceira Infância, o
desenvolvimento cognitivo possibilita que a criança construa conceitos mais elaborados acerca
de sua própria identidade, permitindo deste modo uma maior compreensão e autorregulação de
suas emoções. Além de ficarem mais conscientes em relação a si mesmos, também passam a
perceber melhor as emoções alheias. Papalia e Martorell (2022) destacam também a
importância de ter em mente o fato de que as experiências emocionais são moldadas e
influenciadas por valores culturais, assim como sua expressão.
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Como afirmado por Papalia e Martorell (2022), o cérebro humano é composto por
substância branca e substância cinzenta. Em diferentes momentos e regiões do cérebro, é
possível observar picos nas variações no volume de substância cinzenta. Dependendo da região
cerebral, esses picos podem influenciar em aspectos como habilidades motoras, capacidade
atencional e estados emocionais, compreensão espacial e linguagem. Em contrapartida, é
possível observar um aumento contínuo na substância branca do cérebro, o que pode contribuir
para avanços nas habilidades motoras finas. Essas alterações na substância branca revelam a
relação complexa entre o desenvolvimento do cérebro e os avanços motores e cognitivos na
Terceira Infância.
um aumento na velocidade com a qual processam informações. Nessa fase, também se inicia a
formação de memórias de longo prazo. De acordo com os autores supracitados, a memória é
descrita teoricamente como um sistema composto por três mecanismos, sendo eles codificação,
armazenamento e recuperação de informações.
O processo de codificação é responsável por preparar a informação para que ela seja
armazenada a longo prazo e posteriormente recuperada. Já o mecanismo de armazenamento vai
tratar de preservar a informação na memória para que seja utilizada futuramente. Por fim, a
recuperação é descrita como o mecanismo de acesso à informação, ou seja, o meio pelo qual a
memória é trazida à tona (PAPALIA; MARTORELL, 2022). Esses processos são essenciais
para a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo.
Vale destacar, nesse sentido, a atenção seletiva, tendo em vista que crianças em fase
escolar demonstram uma capacidade de concentração superior em comparação a crianças
menores. Isto significa que as crianças na faixa dos 6 aos 11 anos são capazes de focar a atenção
na informação relevante, ao passo que filtram os elementos irrelevantes (PAPALIA;
MARTORELL, 2022). Logo, pode-se afirmar que o desenvolvimento da atenção seletiva
permite que o indivíduo direcione sua atenção e evite distrações, aprimorando sua capacidade
de concentração e foco. Além disso, observa-se também um aperfeiçoamento da memória de
trabalho na Terceira Infância, o que conforme Papalia e Martorell (2022), permite que as
crianças lidem com tarefas mais complexas.
assimilam as primeiras palavras, começam a estabelecer conexões entre elas e aquilo que
representam (BEE; BOYD, 2011).
Papalia e Martorell (2022) reiteram também que na idade escolar, esses avanços não se
restringem apenas a questões de linguagem e alfabetização, mas se estendem também ao
desenvolvimento da criatividade, ou seja, a habilidade de enxergar o mundo sob novas
perspectivas. Deste modo, essas crianças passam a apresentar habilidades cognitivas e
comunicativas cada vez mais versáteis no modo como interagem com a linguagem e a expressão
criativa.
Por outro lado, é preciso destacar que atrasos no desenvolvimento da linguagem não
derivam necessariamente de uma carência de estímulo por parte dos cuidadores. Na realidade,
Papalia e Martorell (2022) asseguram que uma série de fatores pode estar associada a essa
questão. Problemas de audição, anomalias craniofaciais, histórico de nascimento prematuro,
condições familiares e fatores socioeconômicos podem ser causadores de impactos e atrasos no
desenvolvimento da linguagem.
Esses conceitos do desenvolvimento infantil são fundamentais para o estudo sobre o uso
da arte na Terapia Cognitivo-Comportamental com crianças. Os desenvolvimentos cognitivo e
psicossocial, por exemplo, são cruciais para a criança se expressar e compreender suas emoções
através da arte. Sendo assim, o presente estudo busca sustentar uma articulação constante entre
o desenvolvimento humano e o papel que a arte pode desempenhar na TCC voltada para o
público infantil.
A arte, como forma de expressão e comunicação, se insere nesse contexto como uma
ferramenta valiosa na TCC, pois permite que as crianças explorem suas sensações, percepções
e emoções de maneira criativa. Deste modo, a arte vai auxiliar na expressão de pensamentos e
sentimentos que podem ser difíceis de comunicar verbalmente. Ao se compreender
profundamente o desenvolvimento infantil nessas dimensões, pode-se começar a entender
também o papel transformador que a arte pode ter na abordagem cognitivo-comportamental
com crianças, que será melhor discutida nos próximos capítulos.
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2. ARTE
A arteterapia, que faz uso de variadas formas de expressão artística para fins
terapêuticos, surge como uma valiosa ferramenta para a atuação do psicólogo em contextos
variados (REIS, 2014). Com abordagens que incluem vertentes psicanalíticas, junguianas e
gestálticas, a arteterapia busca promover a saúde e o bem-estar por meio de elaboração artística
(CARVALHO, 1995; REIS, 2014). O objetivo deste capítulo é destacar a relevância da arte no
contexto do processo de desenvolvimento infantil, considerando as variadas formas de arte e
suas características, de modo a implementar essa abordagem na vertente cognitivo-
comportamental.
Reis (2014) descreve que essa abordagem terapêutica faz uso de diversas formas de
expressão artística como meio de intervenção, visando promover a saúde e a melhoria da
qualidade de vida. Ela abarca um amplo espectro de manifestações criativas, que incluem artes
plásticas, sonoras, literárias, dramáticas e corporais. Técnicas como desenhos e pinturas,
modelagem, música, poesia, dramatização e dança podem ser usadas no contexto terapêutico.
Deste modo, essa abordagem oferece um espaço para que os indivíduos explorem suas
emoções, pensamentos e sentimentos, acarretando em uma maior compreensão de si mesmos.
Além disso, o autor também afirma que a arteterapia apresenta uma gama diversificada
de aplicações, incluindo sua utilização na avaliação, prevenção, tratamento e reabilitação no
contexto de saúde. Ainda, ela se estende à esfera educacional, servindo como uma ferramenta
pedagógica capaz de promover a expressão criativa e o desenvolvimento pessoal e interpessoal,
principalmente quando empregada em contextos de grupo.
A atividade artística, além de permitir que a subjetividade seja objetivada, atua como
um instrumento que auxilia na expressão, reflexão e transformação dos sujeitos, por meio do
contato com o processo criativo (REIS, 2014). Nesse contexto, a arte emerge como um espelho
que reflete as emoções, desejos e pensamentos do paciente, levando a um processo contínuo de
autodescoberta e (re)criação. O que se observa é que, ao se envolver na prática artística e
criativa, o indivíduo se reinventa no contexto de sua existência. O ser humano é considerado
um indivíduo com a capacidade de inovar e transformar-se continuamente, estando sempre em
evolução (REIS, 2014). A arte desempenha um papel fundamental nesse processo, uma vez que
permite às pessoas experimentar diversas formas de expressão e, como resultado, de existir em
sociedade.
Ao citar outros autores clássicos, Reis (2014) faz um contraponto entre as visões de
Sigmund Freud e Carl Jung sobre o aspecto terapêutico da experiência artística. Primeiro, o
autor descreve que Freud examinou algumas obras de arte, identificando nelas manifestações
do inconsciente, as quais interpretou como um meio de comunicação simbólico. Freud atribuiu
a essas manifestações uma função catártica, um meio de sublimação das pulsões, e via as
imagens criadas na arte como um acesso privilegiado ao inconsciente. Ele acreditava que o
produto dessa catarse escapava mais facilmente dos limites da censura do que o discurso falado.
No entanto, Freud não chegou a incorporar a arte como parte integrante do processo terapêutico
em sua prática psicanalítica, acrescenta o autor.
Por outro lado, Jung foi pioneiro ao utilizar a linguagem artística em associação ao
contexto da psicoterapia (REIS, 2014). o autor aponta que para ele, a criatividade era uma
função psíquica inata e estruturante, e ao transformar conteúdos inconscientes em imagens
simbólicas, era possível alcançar uma cura. Jung entendia as imagens desenvolvidas pelos
pacientes como uma forma de simbolizar o inconsciente individual e coletivo, e acreditava
profundamente que, por meio da arte, o ser humano desenvolve a capacidade para organizar
sua confusão interna.
Nunes et al. (2021) afirmam que a arte, como um meio terapêutico, revela-se um
instrumento benéfico, contribuindo para a manifestação da subjetividade humana. Ela viabiliza
a expressão de experiências pessoais, permitindo a emergência do universo interno do sujeito,
levando a uma reflexão sobre a própria identidade e sobre o mundo que nos cerca. Os autores
destacam ainda a carência de investigações sobre o uso da arte como uma ferramenta clínica
dentro do contexto da terapia cognitivo-comportamental, o que revela a urgência em expandir
as pesquisas sobre a efetividade da arte nessa abordagem terapêutica. Esse fato se trata de um
dos principais aspectos motivadores para a realização do presente trabalho, sobretudo levando
em conta a escassez de pesquisas sobre o assunto no tocante ao público infantil em especial.
Desde o início da história da humanidade, é evidente que o ser humano faz uso da arte
para se comunicar. O homem constantemente manifestou seu desejo de se comunicar, criar e
estabelecer vínculos com o mundo por meio de expressão artística. A arte, considerada como
uma forma de linguagem, é um resultado da interação entre o ser humano e o mundo que o
cerca. Nesse contexto, a arte desempenha um papel fundamental na interpretação e
representação da sociedade e do universo, permitindo que o indivíduo estabeleça uma conexão
tanto com si mesmo quanto com o mundo ao seu redor (NUNES ET AL., 2021).
Como Nunes et al. (2021) descrevem, a arte possibilita o acesso às emoções que muitas
vezes não são expressas verbalmente, agindo como uma poderosa aliada na comunicação
emocional. Além disso, a função terapêutica da arte se revela na expressão das experiências
individuais, atuando como intercessora no desenvolvimento do autoconhecimento e estimulado
a capacidade de reflexão do indivíduo.
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O lado sensível, criativo e singular pode ser explorado por meio da livre expressão
artística, promovendo um senso de identidade, autonomia, pertencimento e acolhimento do
próprio eu (CALIXTO, 2020). A autora argumenta que a arteterapia estimula e possibilita o
desenvolvimento de habilidades cognitivas, aumentando as oportunidades de interlocução e
externalização. Além disso, essa abordagem influencia o desenvolvimento infantil no que diz
respeito à criatividade e à expressão livre e associativa, permitindo que as ideias fluam em
direção à subjetividade e à análise da realidade.
35
3. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
Entre as décadas de 1960 e 1970, Aaron Beck introduziu uma abordagem terapêutica
inicialmente denominada Terapia Cognitiva, que mais tarde passou a ser mais conhecida como
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) (BECK, 2021). Ao desenvolver uma abordagem
breve, estruturada e orientada para o presente, Beck inovou a área das psicoterapias. Dentro das
diversas ramificações da TCC baseadas no modelo de Beck, a intervenção terapêutica é
fundamentada em uma formulação cognitiva, abordando crenças mal adaptativas, estratégias
comportamentais e fatores específicos de cada transtorno (BECK, 2021).
De acordo com Beck (2021), a TCC enfatiza que os pensamentos exercem influência
direta sobre as emoções e comportamentos e, por vezes, até sobre as respostas fisiológicas do
corpo humano. A autora aponta que a abordagem cognitiva sugere que, ao capacitar as pessoas
a avaliarem seus pensamentos de maneira realista e adaptativa, é possível observar uma redução
significativa nas emoções negativas e nos comportamentos mal adaptativos. Ainda acrescenta
que a premissa fundamental é de que não é a situação em si que desencadeia uma resposta
emocional, mas sim os pensamentos automáticos que perpassam a mente do sujeito diante de
uma determinada circunstância.
A TCC reforça que a conceitualização dos desafios psicológicos humanos envolve cinco
elementos que interagem mutuamente (FRIEDBERG; MCCLURE, 2019). São eles: o ambiente
interpessoal/ambiental, a fisiologia, o funcionamento emocional, o comportamento e a
cognição. Esses componentes são dinâmicos e complexos, e passam por transformações
contínuas, de acordo com o autor. Os sintomas, tanto cognitivos quanto comportamentais,
emocionais e fisiológicos, manifestam-se dentro de um contexto interpessoal e ambiental, o
mesmo acrescenta. Assim, a abordagem engloba categoricamente as considerações
relacionadas ao contexto sistêmico, interpessoal e cultural, aspectos cruciais na psicoterapia
infantil. A interpretação de vivências pelas crianças desempenha um papel fundamental no
desenvolvimento do funcionamento emocional infantil.
Beck (2021) explica que a TCC parte de uma conceitualização cognitiva em constante
desenvolvimento, adaptando-se à singularidade de cada indivíduo. Essa abordagem terapêutica
destaca a importância de uma aliança terapêutica sólida, que promova a colaboração e
participação ativa do paciente. Também é crucial ressaltar que a TCC é culturalmente adaptada,
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É importante destacar que nem sempre as crianças iniciam o processo terapêutico por
vontade própria. Com frequência, as crianças são direcionadas à terapia devido a desafios que
geram complicações em algum sistema, como a família ou a escola. Essas questões podem
resultar em uma resistência por parte das crianças, levando-as a evitar ou temer o processo
terapêutico. Portanto, é necessário trabalhar com cautela, buscando envolver a criança no
processo de tratamento, de modo a aumentar a motivação e superar possíveis barreiras iniciais
(FRIEDBERG; MCCLURE, 2019). Assuntos delicados e desconfortáveis podem ser
explorados por meio de intervenções criativas e envolventes, proporcionando uma abordagem
mais eficaz ao lidar com aspectos sensíveis do desenvolvimento infantil (FRIEDBERG;
MCCLURE, 2019).
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Observa-se que é de extrema importância para a TCC que se estabeleça uma sólida
relação de trabalho com os pacientes, adaptando o tratamento de forma individualizada,
buscando incorporar elementos culturais, históricos familiares e outras características
relevantes dos indivíduos. Deste modo, é possível compreender se a inserção da arte como
ferramenta terapêutica vai se tratar ou não de uma estratégia vantajosa de acordo com o perfil
de determinado caso. Como apresentado nos capítulos anteriores deste trabalho, no contexto do
desenvolvimento infantil, a arte desempenha um papel positivo e significativo, além de atuar
como via facilitadora da expressão de sentimentos e pensamentos, aspectos fundamentalmente
explorados pela Terapia Cognitivo-Comportamental.
de histórias com essas crianças, o uso de mídias como filmes, músicas e programas televisivos
podem ser caminhos para aprimorar a habilidade verbal. (FRIEDBERG; MCCLURE, 2019).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foram realizadas reflexões críticas sobre os estudos analisados, buscando destacar tanto
suas contribuições quanto as limitações encontradas. As considerações finais irão resumir os
pontos principais levantados ao longo da monografia, evidenciando também as possíveis
lacunas que devem ser exploradas em futuras pesquisas da área, reafirmando, assim, a
relevância da arte como instrumento na Terapia Cognitivo-Comportamental com crianças.
A arte, como ferramenta valiosa na TCC, oferece um meio criativo para as crianças
explorarem pensamentos, emoções e comportamentos. No contexto da infância, a arte surge
como uma linguagem singular, que permite que as crianças comuniquem suas experiências por
meios de expressão que muitas vezes ultrapassam as limitações da comunicação verbal. A TCC,
por sua vez, demonstra-se uma abordagem eficaz para lidar com os desafios emocionais e
comportamentais específicos do desenvolvimento infantil. Desse modo, a integração da arte na
TCC representa uma via complementar para que as crianças explorem e processem suas
vivências.
No entanto, é preciso reconhecer as lacunas que persistem com relação à área explorada
neste trabalho. Há uma ausência de estudos voltados para uma investigação minuciosa sobre
como tipos específicos de arte, como pinturas, músicas, poesias ou representações teatrais,
podem influenciar profundamente o processo terapêutico. Essas lacunas evidenciam a
necessidade de novos estudos voltados para essa temática, visando a construção de uma base
sólida para a aplicação prática da arte na TCC infantil.
Futuras pesquisas podem buscar examinar mais profundamente a eficácia das diferentes
formas de arte na TCC com crianças, assim como identificar estratégias específicas que possam
aprimorar essa integração, oferecendo diretrizes mais precisas para psicoterapeutas cognitivo-
comportamentais que buscam otimizar o uso de intervenções artísticas na promoção de saúde
mental infantil.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
SOUSA, A. B. Educação Pela Arte e Artes na Educação. Lisboa, Portugal: Instituto Piaget,
2003.