Você está na página 1de 45

PUC

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

A ARTE COMO INSTRUMENTO NA TERAPIA COGNITIVO-


COMPORTAMENTAL COM CRIANÇAS

LETÍCIA RABELLO SAMPAIO


1911807

ORIENTADOR(A): LUCIANA BROOKING


MONOGRAFIA II

RIO DE JANEIRO
2023.2

LETÍCIA RABELLO SAMPAIO

A ARTE COMO INSTRUMENTO NA TERAPIA COGNITIVO-


COMPORTAMENTAL COM CRIANÇAS

Monografia apresentada ao Departamento de Psicologia da


Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-
Rio) para a obtenção do Título de Bacharel em Psicologia.

Orientador(a): Luciana Brooking

RIO DE JANEIRO

2023.2
Aos meus anjos da guarda, Hamurabi Novaes e
Carlos Alberto.

O mundo é um lugar mais bonito porque vocês


existiram.
AGRADECIMENTOS

À minha querida professora, supervisora e orientadora Luciana Brooking, muito


obrigada por confiar em mim e me guiar não apenas neste trabalho, mas em momentos muito
importantes da minha graduação e do início da minha carreira, com toda sua sabedoria e
delicadeza. Você é uma inspiração para mim nessa linda profissão que escolhi.

Aos amigos e amigas maravilhosos que fiz até aqui, obrigada a todos por tornarem meus
dias mais leves e divertidos, por estarem comigo nos dias de sol e de chuva.

À toda minha família, obrigada por me cercarem de amor e apoio, por estarem sempre
me botando para cima e acreditando no meu sucesso. Sou muito sortuda e grata por fazer parte
dessa família.

Ao meu querido avô de coração, Mâncio, obrigada por ter me proporcionado um ensino
de qualidade e me presenteado todos esses anos com a oportunidade de estudar na PUC-Rio, a
qual valorizo muito e serei eternamente grata.

Ao meu avô Carlos e meu padrasto Hamurabi. Obrigada por sempre terem acreditado
no meu potencial e incentivado meus sonhos. Espero que estejam vendo tudo daí de cima, e que
eu esteja os dando muito orgulho.

Às mulheres incríveis da minha vida - minha mãe Janaina, minha irmã Nûria, minha
dinda Vanessa, minha avó Laura, minha dinha Tânia, e todas as minhas amigas maravilhosas -
obrigada por serem uma fonte de força, sabedoria, aprendizado, e muito amor. Vocês me
inspiram todos os dias.

À minha mãe, a mulher de quem recebi a vida. Obrigada por me cercar de amor,
diversão, música e livros desde sempre. Você é minha maior inspiração e minha melhor amiga.

E por fim, um agradecimento especial a todos aqueles que acreditam na importância e na magia
da arte.

Obrigada.
“Antes de uma criança começar a falar, ela
canta. Antes de escrever, ela desenha. No
momento em que consegue ficar de pé, ela
dança. Arte é fundamental para a expressão
humana.”

(Phylicia Rashad)
RESUMO

A arte pode ser um caminho para acessar conteúdos emocionais de relevância. Nesse sentido,
a Terapia Cognitivo-Comportamental pode se beneficiar desse material no seu trabalho com
crianças. Dessa forma, o presente estudo busca abordar a interseção entre a infância, a arte e a
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Para tal, foram realizadas buscas nas bases de
dados MEDLINE/PubMed, ResearchGate, SciELO, EBSCO e Google Acadêmico, a fim de
explorar o conceito de desenvolvimento humano na infância, destacando a relevância de
compreender os aspectos físicos, cognitivos e psicossociais do desenvolvimento infantil. Foram
encontradas informações com ênfase nas reações emocionais e o desenvolvimento da
capacidade de expressão da criança por meio da arte, fazendo uma análise do papel da arte na
TCC e destacando sua função como ferramenta alternativa de comunicação, capaz de
transcender as limitações verbais tradicionais. A adaptação das técnicas da TCC, incluindo
Planos de Ação, para incorporar expressões artísticas, reforça a versatilidade dessa abordagem
de psicoterapia. Assim, este estudo oferece uma visão abrangente sobre como a arte pode ser
eficaz na TCC com crianças, destacando a importância de reconhecer as etapas do
desenvolvimento humano e suas implicações no processo terapêutico. Ao adaptar as técnicas
terapêuticas de modo a considerar os estágios do desenvolvimento e promover a expressão
artística, a TCC se mostra uma abordagem flexível e eficaz com crianças, evidenciando o
potencial benéfico da arte no processo terapêutico infantil.

Palavras-chave: Desenvolvimento Infantil; Terapia Cognitivo-Comportamental; Arteterapia


ABSTRACT

Art can be a way to access relevant emotional content. In this sense, Cognitive-Behavioral
Therapy can benefit from this material in its work with children. Thus, the present study seeks
to address the intersection between childhood, art and Cognitive-Behavioral Therapy (CBT).
Searches were carried out in the MEDLINE/PubMed, ResearchGate, SciELO, EBSCO and
Google Scholar databases, in order to explore the concept of human development in childhood,
highlighting the relevance of understanding the physical, cognitive and psychosocial aspects of
child development. Information was found with an emphasis on emotional reactions and the
development of children's ability to express themselves through art, analyzing the role of art in
CBT and emphasizing its function as an alternative communication tool, capable of
transcending traditional verbal limitations. Adapting CBT techniques, including Action Plans,
to incorporate artistic expressions reinforces the versatility of this psychotherapy approach.
Thus, this study offers a comprehensive view of how art can be effective in CBT with children,
focusing on the importance of recognizing the stages of human development and their
implications in the therapeutic process. By adapting therapeutic techniques to consider the
stages of development and promoting artistic expression, CBT proves to be a flexible and
effective approach with children, accentuating the beneficial potential of art in the children's
therapeutic process.

Keywords: Child Development; Cognitive behavioral therapy; Art therapy


LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – FLUXOGRAMA DA SELEÇÃO DOS ESTUDOS .......................................... 13


LISTA DE TABELAS

QUADRO 1 – TÍTULO, AUTORES, ANO, OBJETIVO, TIPO DE MATERIAL, SÍNTESE


DOS PRINCIPAIS PONTOS ABORDADOS ......................................................................... 14
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 10

MÉTODO ................................................................................................................................. 12

CAPÍTULO 1: INFÂNCIA ...................................................................................................... 21

CAPÍTULO 2: ARTE ............................................................................................................... 31

CAPÍTULO 3: TERAPIA CONGNITIVO-COMPORTAMENTAL ...................................... 36

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 43


10

INTRODUÇÃO

A arte é de uma forma de expressão humana, e pode vir a ser utilizada como ferramenta
valiosa na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) infantil. No contexto terapêutico, a arte
tem como objetivo auxiliar as crianças a lidar com suas emoções e a desenvolver habilidades
de enfrentamento de situações causadoras de angústia e estresse. A arte pode ser aplicada como
forma de incentivar a comunicação, a criatividade e a expressão, sendo particularmente benéfica
para crianças que apresentam dificuldades na comunicação verbal.

Todavia, ainda existem perguntas sobre de que modo a arte pode ser usada com eficácia
na TCC com crianças. Questões como de que modo a arte pode auxiliar crianças a identificar e
expressar emoções específicas, quais tipos de atividades artísticas são eficazes para crianças em
diferentes contextos emocionais, comportamentais e socioeconômicos serão abordadas ao
longo do presente trabalho.

Em suma, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) busca compreender de que


modo os pensamentos afetam os sentimentos e, consequentemente, o comportamento humano.
De acordo com Bee e Boyd (2011), durante os primeiros anos de vida, por ainda estarem em
fase de desenvolvimento, as crianças costumam apresentar recursos limitados para a
identificação e expressão desses pensamentos e sentimentos. Portanto, pode-se inferir que a arte
pode ser utilizada como um recurso favorável dentro do contexto terapêutico, viabilizando o
reconhecimento e a expressão desses elementos na infância.

A arte como instrumento na TCC com crianças se trata de uma temática que ainda
apresenta muitas lacunas e, por esse motivo, se faz necessária uma investigação mais minuciosa
em cima do tema. Diante disso, este trabalho irá operar com base nas seguintes hipóteses:

• O uso da arte na Terapia Cognitivo-Comportamental com


crianças pode ajudar no desenvolvimento de habilidades emocionais e
comportamentais saudáveis.
• Diversas atividades artísticas podem ser adaptadas de modo a
ajudar no tratamento de questões emocionais e comportamentais no contexto da
infância.
11

Este estudo se justifica na necessidade da investigação do uso da arte na TCC com


crianças, com o intuito de preencher essas lacunas ainda presentes e servir de base para estudos
posteriores, proporcionando informações relevantes para profissionais da área de saúde mental
que trabalham com o público infantil sobre a eficácia da arte como instrumento terapêutico para
crianças.

Por fim, a presente monografia vai apresentar a seguinte estrutura: o capítulo 1, terá
como objetivo a apresentação de conceitos e aspectos relevantes do desenvolvimento infantil,
englobando as diferentes fases do desenvolvimento e suas características básicas, com foco na
Terceira Infância. Também serão abordadas adversidades que podem emergir ao longo do
desenvolvimento infantil. Enquanto isso, o capítulo 2 vai ter como tópico a expressão artística,
buscando compreender as diversas formas de arte e suas características principais, o papel da
arte no contexto terapêutico, assim como a relevância da arte no processo de desenvolvimento
infantil.

Por fim, o capítulo 3 vai tratar das características e conceitos fundamentais da Terapia
Cognitivo-Comportamental (TCC), com destaque para o emprego dessa abordagem terapêutica
com o público infantil. Além disso, os desafios mais comuns que podem surgir durante a
aplicação da TCC com crianças e algumas estratégias também serão abordados. Enfim, os
principais benefícios da TCC para crianças e o modo como a arte pode se tornar um recurso
favorável dentro do contexto terapêutico também serão discutidos.

Posto isto, os capítulos desta monografia são interligados, buscando permitir maior
compreensão acerca do tema apresentado. Foram levados em conta os principais elementos do
desenvolvimento infantil e da TCC. Por fim, o objetivo desta monografia é investigar o uso da
arte como ferramenta na TCC infantil, explorando a eficácia desta técnica para ajudar no
desenvolvimento de habilidades emocionais e comportamentais úteis para a infância.
12

MÉTODO

O presente estudo constitui-se em uma revisão da literatura existente, com o objetivo de


analisar as diversas formas que a arte pode ser utilizada na Terapia Cognitivo-Comportamental
(TCC) infantil e investigar de que modo essas atividades artísticas podem contribuir para o
contexto terapêutico e o tratamento de questões emocionais e comportamentais. Para tal, foram
utilizadas bases de dados acadêmicas conceituadas, como MEDLINE/PubMed, ResearchGate,
SciELO, EBSCO e Google Acadêmico. Essas bases de dados foram escolhidas com o intuito
de identificar estudos relevantes sobre o tema e visando obter uma vasta gama de dados,
englobando perspectivas e abordagens diversas.

Para as buscas realizadas dentro das bases de dados citadas acima, foram utilizados os
seguintes descritores: "Terapia Cognitivo-Comportamental", "Arteterapia", "Desenvolvimento
infantil" e "Crianças em idade escolar". Esses descritores foram pesquisados na plataforma
Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e escolhidos tendo em vista encontrar estudos que explorem
o uso da arte na Terapia Cognitivo-Comportamental infantil. Essa busca viabilizou a coleta de
informações essenciais para a análise e discussão do modo como as formas de expressão
artística podem ser utilizadas nessa abordagem psicoterapêutica, bem como para a compreensão
dos benefícios e possíveis resultados.

Inicialmente, foram encontrados 242 materiais relevantes. Desses, 189 foram excluídos
por não estarem de acordo com o tema, resultando em 53 materiais. Em seguida, foram
excluídos 21 materiais que não se referiam a crianças em idade escolar, restando 32 materiais
para leitura exploratória. Após a leitura exploratória, foram excluídos 15 materiais que
abordavam assuntos não relacionados ao tema em questão, resultando em 17 materiais, entre
livros e artigos, que atenderam aos critérios de inclusão da pesquisa.
13

Figura 1 - Fluxograma da seleção dos estudos.

Descritores: "Terapia Cognitivo-Comportamental", "Arteterapia",


"Desenvolvimento infantil" e "Crianças em idade escolar

Plataformas: BVS; MEDLINE/PubMed, ResearchGate, SciELO, EBSCO e


Google Acadêmico.

Excluídos por não


estarem de acordo com o Restantes (53)
tema (242)

Excluídos por não se


referirem à crianças Restantes (32)
em idade escolar
(21)

Excluídos pois
abordavam assuntos
Materiais restantes aptos
não relacionados ao para o estudo (17)
tema em questão
(15)

Fonte: Elaboração Própria

Foram selecionados 17 materiais, os quais serão descritos no Quadro 1 com informações


acerca do ano de publicação, título, autoria, objetivos, tipo de material e pontos principais
abordados. A análise dos dados obtidos se deu através da leitura minuciosa dos materiais
escolhidos, buscando adquirir conteúdos que se relacionem com a Terapia Cognitivo-
Comportamental, o desenvolvimento infantil e a arteterapia. Essa análise proporcionou uma
identificação das diferentes formas de expressão artística que podem ser benéficas no contexto
da TCC com crianças, assim como a compreensão dos possíveis resultados provenientes dessa
prática.
14

Quadro 1 - Título, autores, ano, objetivo, tipo de material, síntese dos principais pontos abordados.

TIPO DE
TÍTULO AUTORES ANO OBJETIVO SÍNTESE
MATERIAL

Proporcionar uma compreensão Formulação de casos,


Terapia abrangente e prática da Terapia identificação e modificação
Cognitivo- Cognitivo-Comportamental, de pensamentos
Comportamental: Judith S. Beck 2020 abordando desde seus Livro automáticos, uso de técnicas
Teoria e Prática fundamentos teóricos até a comportamentais, manejo de
aplicação efetiva de técnicas emoções e desenvolvimento
terapêuticas de planos de tratamento.

Explora de forma abrangente


o desenvolvimento humano,
desde a infância até a
Proporcionar uma compreensão
velhice. Teorias e pesquisas
Desenvolvimento abrangente acerca do
contemporâneas, com
Humano: desenvolvimento humano ao
Janet Belsky 2010 Livro enfoque em fatores como
Experienciando o longo do ciclo, destacando as
natureza e cultura, os marcos
ciclo da vida principais características de cada
do desenvolvimento,
fase da vida.
influências sociais e
individuais, e questões
contemporâneas.

Explora o desenvolvimento
infantil, abordando aspectos
Oferecer uma visão abrangente do físicos, cognitivos e sociais.
desenvolvimento infantil, Examina teorias do
abordando teorias, pesquisas e desenvolvimento, marcos
A criança em Helen Bee;
2011 marcos do crescimento, para Livro importantes em áreas como
desenvolvimento Denise Boyd
proporcionar uma compreensão linguagem, cognição e
aprofundada do processo de socialização, além de
desenvolvimento na infância. considerar a influência de
fatores ambientais e
culturais.
15

Analisar a contribuição e Explora a influência positiva


aplicação da Arteterapia na da arteterapia no
educação infantil, explorando desenvolvimento emocional,
artigos nacionais e internacionais cognitivo e na regulação
dos últimos 10 anos. Destacar a emocional das crianças,
Arteterapia importância da arte para o ressaltando a importância da
Alessandra Artigo
aplicada à 2020 desenvolvimento infantil e expressão artística na
Mendes Calixto Científico
educação infantil reconhecer a criatividade como construção da identidade,
característica essencial para a autonomia e habilidades
formação de cidadãos resilientes, cognitivas. Destaca a
inclusivos, livres e capazes de contribuição da arteterapia
promover mudanças significativas no contexto da educação
na vida individual e coletiva. infantil.

Examina como os diferentes


padrões de apego
Investigar a relação entre os influenciam o
padrões de apego e a competência desenvolvimento da
Patterns of emocional no início da infância competência emocional em
attachment and Livia Colle; intermediária, analisando como crianças, fornecendo insights
Artigo
emotional Marco Del 2011 esses padrões influenciam o sobre a interconexão entre
Científico
competence in Giudice reconhecimento emocional e o os vínculos emocionais
middle childhood conhecimento de estratégias de formados na primeira
regulação em crianças de sete infância e as habilidades
anos. emocionais na fase
subsequente do
desenvolvimento infantil.

Compartilhar a trajetória dos


autores no estudo da criatividade
Criatividade no no contexto educacional,
Oferece uma breve narrativa
Contexto Eunice M. L. abordando questões de pesquisa,
Artigo sobre a jornada da autora no
Educacional: Soriano de 2007 um modelo orientador em
Científico estudo da criatividade no
Três Décadas de Alencar programas de criatividade, e
ambiente educacional.
Pesquisa instrumentos construídos para
investigar variáveis relacionadas à
criatividade
16

Destaca a arte como


ferramenta capaz de
impactar positivamente o
Ressaltar o papel da arte como
indivíduo, explorando seu
A Psicologia da instrumento de trabalho para
potencial como instrumento
Arte e a Vera Lúcia psicólogos e apresentar uma
Artigo de trabalho para psicólogos.
Promoção do Trevisan de 2016 pesquisa-intervenção em uma
Científico Argumenta a favor do poder
Desenvolvimento Souza escola, para ilustrar o potencial
desta linguagem para evocar
e Aprendizagem positivo da arte na promoção da
emoções, contradições e
criatividade.
reflexão, contribuindo para o
avanço da consciência sobre
si e sobre o mundo.

O autor explora a
Enfatizar a centralidade da via importância fundamental das
emocional no processo de emoções na aprendizagem
É Através da Via aprendizagem infantil, infantil, destacando a via
Emocional Que a proporcionando uma emocional como um
Criança João dos Santos 2009 compreensão profunda de como Livro caminho crucial para a
Apreende o as emoções influenciam a compreensão do mundo
Mundo Exterior percepção e a compreensão da exterior. Explora como as
criança em relação ao mundo experiências emocionais
externo. moldam a percepção e o
entendimento da criança.

O estudo busca entender


Relatar e analisar um projeto de
Nós, a família, a como experiências artísticas
intervenção que explora o papel
comunidade e as podem facilitar a interação e
das experiências artísticas na
artes: interseções Joana dos Santos Artigo aprofundar as relações entre
2017 promoção de relações entre
criativas a partir Silva Machado Científico os participantes, além de
escola, família e comunidade em
do Jardim de examinar os reflexos desse
um contexto de jardim de
Infância envolvimento nas
infância.
aprendizagens das crianças.

Fornecer orientações práticas e Aborda a aplicação prática


A Prática Clínica
Robert D. estratégias eficazes para a da terapia cognitiva
da Terapia 2014 Livro
Friedberg; aplicação da terapia cognitiva em especificamente com
Cognitiva com
crianças e adolescentes, visando crianças e adolescentes. Os
17

Crianças e auxiliar profissionais a autores exploram estratégias


Adolescentes Jessica M. desenvolverem habilidades para a e técnicas eficazes para

McClure prática clínica com essa faixa trabalhar com esse público,
etária. considerando as nuances do
desenvolvimento cognitivo
nesses estágios.

Explorar a relevância e eficácia da


Destaca a arte como uma
arte como ferramenta terapêutica
ferramenta terapêutica
na Terapia Cognitivo-
valiosa, enfatizando sua
A Arte (Terapia) Comportamental (TCC),
capacidade de facilitar a
Como destacando sua capacidade única
expressão da subjetividade
Instrumento Na de promover a expressão, reflexão
humana e promover a
Terapia e desenvolvimento pessoal. Busca Artigo
Isabela Ferreira 2021 reflexão sobre o self e o
Cognitivo preencher a lacuna na pesquisa Científico
Rocha Nunes mundo. O artigo também
Comportamental: sobre o uso da arte na TCC,
menciona exemplos de uso
Uma Revisão ressaltando seu potencial como
terapêutico da arte no Brasil,
Sistemática recurso terapêutico valioso no
especialmente com pacientes
processo psicoterapêutico,
psiquiátricos
especialmente no contexto
institucionalizados.
brasileiro.

Aborda o suicídio como um


Realizar uma revisão sistemática
fenômeno complexo e um
integrativa da literatura,
desafio global de saúde
explorando o papel da Terapia
pública, destacando a
Cognitivo-Comportamental
Terapia importância de compreender
(TCC) no tratamento de pacientes
cognitivo Natália a ideação e intenção suicida.
com ideação ou tentativa de
comportamental Domingos de Artigo Enfatiza a Terapia
2022 suicídio. Busca identificar e
e suicídio: Oliveira; Ítalo Científico Cognitivo-Comportamental
analisar estudos que abordam a
revisão Souza Ferreira (TCC) como um modelo de
eficácia da TCC nesse contexto,
integrativa tratamento estruturado, de
destacando a brevidade da
curta duração, e explora a
intervenção (média de 12 sessões)
influência do pensamento
e reconhecendo o papel protetor
nas emoções e
da família/comunidade.
comportamentos.

Educar Com Graciela Explorar a interconexão entre Aborda o entrelaçamento


2011 Livro
Arteterapia - Ormezzano processos educativos formais, não entre processos educativos
18

Propostas e formais e informais, posicionando formais, não formais e


Desafios os processos terapêuticos como informais, destacando a
intrinsecamente ligados à visão do fazer educativo
educação informal. A proposta como integrado a outros
central é apresentar a Arteterapia processos sociais. A autora
inclusiva como uma abordagem destaca os processos
capaz de enfrentar os desafios terapêuticos como
atuais na área da educação, educativos informais e
oferecendo novas perspectivas e propõe a Arteterapia
soluções. inclusiva como uma resposta
aos desafios
contemporâneos no campo
educacional.

Explora diversas fases do


Fornecer uma visão abrangente e
desenvolvimento humano,
integrada do desenvolvimento
desde a infância até a vida
humano, abordando suas
adulta. Com uma abordagem
diferentes dimensões, como física,
Diane E. Papalia; multidisciplinar, o livro
Desenvolvimento cognitiva e social. Oferecer uma
Gabriela 2022 Livro examina aspectos físicos,
Humano compreensão profunda das
Martorell cognitivos e sociais do
transformações que ocorrem em
crescimento humano,
cada estágio da vida, contribuindo
proporcionando uma
para uma visão holística do
compreensão holística das
desenvolvimento humano.
mudanças ao longo da vida.

Explora diversas fases do


Fornecer uma visão abrangente e
desenvolvimento humano,
integrada do desenvolvimento
desde a infância até a vida
humano, abordando suas
adulta. Com uma abordagem
diferentes dimensões, como física,
Diane E. Papalia; multidisciplinar, o livro
Desenvolvimento cognitiva e social. Oferecer uma
Ruth Duskin 2013 Livro examina aspectos físicos,
Humano compreensão profunda das
Feldman cognitivos e sociais do
transformações que ocorrem em
crescimento humano,
cada estágio da vida, contribuindo
proporcionando uma
para uma visão holística do
compreensão holística das
desenvolvimento humano.
mudanças ao longo da vida.
19

Refletir sobre a arteterapia,


Aborda a arteterapia como
explorando sua evolução
uma abordagem terapêutica
histórica, fundamentos teóricos e
baseada na expressão
Arteterapia: a metodológicos, destacando a
arte como artística. Explora os
concepção estética do ser humano
instrumento no pressupostos essenciais que
trabalho do subjacente a essa prática
Psicólogo Alice Casanova Artigo orientam os psicólogos nessa
2014 terapêutica. Ressaltar a arte como
dos Reis Científico prática, bem como os
uma ferramenta valiosa para os
aspectos conceituais e
psicólogos em diversas situações,
metodológicos das
alinhada ao compromisso ético de
abordagens principais:
auxiliar os indivíduos na
psicanalítica, junguiana e
(re)construção de suas próprias
gestáltica.
histórias de vida.

Aborda as bases
psicopedagógicas da Música
Aprofundar as bases e das Artes Plásticas na
psicopedagógicas da Música e das Educação, destacando a
Artes Plásticas na Educação, integração dessas formas
ressaltando sua integração nas artísticas nas estruturas

Educação pela estruturas neuropsicológicas neuropsicológicas


Arte e Artes na Alberto B. Sousa cruciais para o desenvolvimento fundamentais para o
Educação
do pensamento lógico e da pensamento lógico e a
2003 Livro
criatividade. Destaca a Expressão criatividade. Enfatiza que a
Musical e Plástica como formas Expressão Musical e a
de manifestação pessoal e explora Expressão Plástica
o impacto da Educação Musical e proporcionam meios
Visual na motivação e catártico-expressivos para a
transformação expressiva e manifestação das energias
criativa do público. instintivas-emocionais,
centrando-se na pessoa que
realiza a ação.

Fonte: Elaboração Própria

Após a obtenção dos artigos pertinentes, foram realizadas etapas específicas para a
execução da revisão da literatura. A realização dessas etapas se deu com base nas diretrizes
estabelecidas por Whittemore e Knafl (2005), Souza et al. (2010) e Mendes et al. (2008) apud
20

Oliveira e Ferreira (2022), de modo a assegurar a precisão metodológica da presente


monografia.

A primeira etapa apoiou-se na identificação do tema a ser abordado e na escolha de uma


hipótese de pesquisa. A segunda etapa compreendeu a definição de critérios de inclusão e
exclusão de busca na literatura. Foram considerados estudos que abordavam o papel da arte na
infância e o contexto da TCC, com foco no desenvolvimento infantil e em crianças em idade
escolar.

Na terceira etapa, foram determinados os elementos a serem extraídos dos artigos


escolhidos, seguindo da realização de uma categorização destes. Foram ponderados aspectos
como as diferentes formas de arte que podem ser utilizadas na TCC infantil, as questões
emocionais e comportamentais abordadas e os possíveis resultados do uso da arte como
instrumento.

A quarta etapa consistiu na interpretação dos resultados e conclusões dos materiais,


através da realização de uma síntese dos artigos e capítulos dos livros. A partir disso, os
materiais foram analisados, de modo a identificar padrões e lacunas na literatura existente com
relação ao tema do uso da arte na TCC infantil.
21

1. INFÂNCIA

Ao falar da infância, é necessário explorar o conceito de desenvolvimento humano. De


acordo com Papalia e Martorell (2022), o estudo do desenvolvimento humano se trata de uma
ciência que aborda as transformações ao longo do ciclo de vida. Ao explorar os principais
aspectos do desenvolvimento infantil, este primeiro capítulo serve como uma base essencial
para a discussão sobre a integração da arte na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) com
crianças.

O estudo do desenvolvimento humano abrange três aspectos principais: o físico, o


cognitivo e o psicossocial. Conforme descrito por Papalia e Martorell (2022), a dimensão física
diz respeito ao crescimento do corpo e do cérebro e ao desenvolvimento de habilidades motoras,
enquanto a dimensão cognitiva se concentra no desenvolvimento das habilidades mentais, como
aprendizagem, memória, atenção, linguagem e criatividade. Já a dimensão psicossocial engloba
mudanças nas emoções, personalidade e interações sociais.

Podemos observar exemplos concretos desse desenvolvimento na Primeira Infância1,


quando o bebê passa a desenvolver a capacidade de utilizar símbolos e de resolução de
problemas, assim como a capacidade de compreensão da linguagem. Com relação ao
desenvolvimento físico, é durante a Segunda Infância que as habilidades motoras finas e a
preferência por uma mão dominante começam a se manifestar, além de a criança apresentar um
aumento na força física. O presente trabalho busca focar na Terceira Infância, que no quesito
cognitivo, é marcada pelo aprimoramento das habilidades de memória e linguagem, abrangendo
a faixa etária de 6 à 11 anos de idade (PAPALIA; MARTORELL, 2022).

Papalia e Martorell (2022) destacam a importância de reconhecer que esses aspectos se


relacionam entre si, influenciando uns aos outros. Compreendendo o modo como essas
interações ocorrem ao longo do ciclo da vida, entende-se plenamente como esses processos
impactam a capacidade da criança de se envolver em atividades artísticas e, consequentemente,
na TCC em si.

1
Embora os termos “Primeira Infância", "Segunda Infância" e "Terceira Infância" estejam atualmente em desuso
na literatura acadêmica, é importante observar que eles foram utilizados pelos autores das obras que serviram
como referência bibliográfica para o presente trabalho. Portanto, com o intuito de manter a consistência e o
contexto das fontes citadas, optou-se por utilizar esses termos nesta monografia.
22

Para além destes três aspectos do estudo do desenvolvimento humano, é preciso levar
em conta também as diferenças individuais e o contexto do desenvolvimento de cada indivíduo,
levando em consideração o modo como a hereditariedade e o ambiente em que o indivíduo está
inserido interagem entre si (PAPALIA; MARTORELL, 2022). Aspectos como família, nível
socioeconômico, cultura, raça/etnia e contexto histórico também irão influenciar no processo
do desenvolvimento, de acordo com Papalia e Martorell (2022).

Os estágios iniciais do desenvolvimento humano envolvem uma interação complexa


entre capacidades motoras, sensoriais e perceptuais. A sensação e percepção desempenham
papéis interligados na forma como compreendemos o mundo ao nosso redor. Segundo Bee e
Boyd (2011), a sensação é o processo de absorver e processar informações sensoriais em estado
bruto, à medida que estímulos externos chegam ao cérebro. Por sua vez, a percepção envolve a
atribuição de significado a essas informações sensoriais, usando os dados previamente
armazenados no cérebro.

Esse processo permite que o mundo seja interpretado e compreendido, desde a


percepção de cores e sons até a identificação de objetos e situações com base em experiências
e conhecimentos já vivenciados. Sendo assim, o desenvolvimento dessas habilidades vai
envolver os cinco sentidos: audição, olfato, paladar, tato e visão. Portanto, a combinação da
sensação e percepção é essencial para a compreensão do ambiente que nos cerca.

Os recém-nascidos já demonstram uma capacidade de sensação, ou seja, a capacidade


de absorver informações sensoriais básicas, mesmo antes do nascimento. Além disso, a
capacidade de percepção, que implica atribuir significado às informações sensoriais, evolui
rapidamente nos primeiros meses e anos de vida. No entanto, em contraste, as habilidades
motoras são inicialmente bastante limitadas, e se manifestam de forma gradual ao longo das
primeiras semanas (BEE; BOYD, 2011).

A compreensão profunda do desenvolvimento motor, sensorial e perceptual na infância,


conforme abordado nos parágrafos anteriores, é de suma importância para o tema central desta
monografia. Isso porque esses elementos formam a base do processo pelo qual as crianças
interagem com o mundo ao seu redor, absorvendo informações, atribuindo significado a elas e
desenvolvendo suas habilidades motoras.
23

Essas capacidades motoras, sensoriais e perceptuais têm uma importância fundamental


no processo de aprendizagem das crianças. De acordo com Bee e Boyd (2011) os bebês as
utilizam de forma ativa para exercer influência sobre as pessoas e objetos no seu entorno.
Assim, essas três habilidades desempenham um papel crucial no início da aprendizagem,
estabelecendo uma base sólida para o desenvolvimento cognitivo.

Além disso, Bee e Boyd (2011) destacam que o processo de aprendizagem está
enraizado na base neurológica presente no nascimento. Desde o início, os bebês começam a
organizar suas experiências, o que, por sua vez, os auxilia na diferenciação entre o familiar e o
desconhecido. Esse estágio inicial pode ser considerado como o ponto de partida do processo
de desenvolvimento cognitivo, enfatizando a relevância dessas primeiras experiências
sensoriais e motoras na formação da cognição infantil (BEE; BOYD, 2011).

No que diz respeito ao desenvolvimento cognitivo, pode-se afirmar que, durante a


Segunda Infância, uma expansão significativa no uso do pensamento simbólico é observável.
Papalia e Martorell (2022) mencionam a teoria cognitiva piagetiana, que explica a função
simbólica como sendo a habilidade de atribuir significado a representações mentais, como
palavras, números ou imagens. Esses símbolos auxiliam as crianças a recordar objetos ou
conceitos que não estão presentes fisicamente. A linguagem é um exemplo desse sistema
simbólico, pois utiliza palavras como símbolos para se comunicar.

A teoria de Piaget vai apresentar a seguinte estrutura: o termo "esquema" vai englobar
tanto ações físicas quanto ações mentais (BEE; BOYD, 2011). Durante o processo de
adaptação, que é a forma pela qual os esquemas se transformam, três subprocessos
desempenham papéis cruciais: a assimilação, a acomodação e a equilibração. A assimilação
implica na incorporação de novas informações aos esquemas preexistentes, embora seja
ligeiramente ajustada para se adequar aos esquemas antecedentes. Em contraste, a acomodação
envolve a modificação dos esquemas existentes à luz de novas experiências, ou até mesmo a
criação de novos esquemas quando os antigos não são mais capazes de lidar com as novas
informações. A equilibração, por fim, requer uma frequente reestruturação dos esquemas,
visando alcançar um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação.

Quanto à causalidade, Piaget afirmava que na Segunda Infância, as crianças não


apresentavam capacidade de raciocinar logicamente sobre causa e efeito. No entanto, Papalia e
Martorell (2022) apresentam estudos que contestam a teoria de Piaget. Belsky (2010) também
24

afirma que apesar de as teorias de Piaget serem respaldadas por descobertas da Neurociência,
em alguns aspectos fundamentais, a teoria de Piaget apresenta lacunas e equívocos.

Ao avançar para a Terceira Infância, fase que pretende ser o foco do presente trabalho,
é possível observar novas evoluções no contexto cognitivo. Durante a fase escolar, a criança
começa a estabelecer uma estrutura de regras que oferecem bases lógicas para seus esquemas
mentais, resultando no desenvolvimento de um conjunto abstrato e universal de estratégias para
analisar e interagir com o ambiente (BEE; BOYD, 2011). Conforme descrito por Papalia e
Martorell (2022), nesse estágio os pequenos são capazes de raciocinar logicamente, uma vez
que consideram múltiplos aspectos de uma dada situação. Porém, sua capacidade de
pensamento permanece ancorada a contextos reais, limitando-se ao “aqui e agora”. Com essa
maturidade cognitiva, as crianças desenvolvem um entendimento mais profundo em relação a
conceitos como espaço, causalidade, categorização, raciocínio indutivo e dedutivo, conservação
e números.

Bee e Boyd (2011) afirmam que, após desenvolver uma autoconsciência primária, a
criança em idade pré-escolar começa a explorar a construção de sua identidade, se auto
definindo a partir do conhecimento adquirido sobre suas próprias características. No sentido do
desenvolvimento psicossocial, a fase da segunda infância é marcada pelo destaque do conceito
de self, que se refere ao senso de identidade. Nesse período, a criança integra em sua
autoimagem a compreensão que tem da forma como é enxergada pelos outros. Além disso, é
importante mencionar que a autodefinição emerge como o modo que a criança descreve a si
mesma, enquanto a autoestima vai representar o julgamento que a criança faz a respeito de seu
valor em um sentido geral (PAPALIA; MARTORELL, 2022).

Ao ingressar na idade escolar, esse autoconceito inicial, mais concreto, começa a evoluir
para uma autodefinição mais abstrata, que envolve comparações e generalizações mais amplas
(BEE; BOYD, 2011). As autoras afirmam que no decorrer da Terceira Infância, o
desenvolvimento cognitivo possibilita que a criança construa conceitos mais elaborados acerca
de sua própria identidade, permitindo deste modo uma maior compreensão e autorregulação de
suas emoções. Além de ficarem mais conscientes em relação a si mesmos, também passam a
perceber melhor as emoções alheias. Papalia e Martorell (2022) destacam também a
importância de ter em mente o fato de que as experiências emocionais são moldadas e
influenciadas por valores culturais, assim como sua expressão.
25

Belsky (2010) define a regulação das emoções como a habilidade de controlar e


gerenciar nossos estados emocionais. Segundo a autora, crianças com inclinações para a
externalização apresentam uma personalidade que envolve agir de acordo com impulsos
imediatos, muitas vezes resultando em comportamentos destrutivos e agressivos. Por outro
lado, crianças com inclinações para a internalização demonstram uma personalidade
caracterizada por intenso medo, inibição social e, frequentemente, sintomas de depressão.

Ao longo da idade escolar, as crianças se empenham em aprender a adaptar suas


respostas emocionais às expectativas e normas que regem as interações sociais. Além disso, o
modo como os cuidadores abordam as emoções das crianças tem um papel crucial nesse
processo. Segundo Colle e Del Giudice (2011), crianças com padrões de apego seguro tendem
a apresentar maior domínio na identificação e na gestão de emoções, quando comparadas
àquelas com padrões de apego inseguro. Consequentemente, crianças que enfrentam
dificuldades na compreensão e no reconhecimento de emoções podem vivenciar desafios tanto
no quesito social quanto no comportamental. Isso enfatiza a importância de um ambiente afetivo
na formação dessas competências.

No tocante ao desenvolvimento físico, as crianças apresentam marcos importantes que


refletem no contexto da arte. Ao longo da Segunda Infância, como exemplo, as crianças passam
a desenvolver preferência pelo uso da mão direita ou da esquerda, além de aprimorarem a
capacidade de desenhar utilizando lápis de cor. Já avanços significativos nas habilidades
motoras grossas são notáveis a partir da idade escolar das crianças. Durante a Terceira Infância,
o desenvolvimento motor segue de forma contínua: habilidades envolvendo arremesso,
precisão, equilíbrio, força e velocidade podem ser observadas nas crianças entre os 6 e 11 anos
de idade (PAPALIA; MARTORELL, 2022).

Segundo Kellogg (1970 apud PAPALIA; FELDMAN, 2013), o desenvolvimento das


habilidades artísticas acontece em estágios. Tipicamente, a criança passa pelo estágio de forma
e pelo estágio de desenho entre os 3 e 4 anos de idade. Já entre os 4 e 5 anos de idade, a criança
passa pelo estágio pictórico inicial e tardio. Neste último, a criança já vai ter desenvolvido suas
habilidades motoras finas, ou seja, aquelas que permitem a coordenação olhos-mãos, como por
exemplo, desenhar imagens. Além disso, o estágio pictográfico vai ser caracterizado por uma
mudança essencial no intuito do desenho produzido pela criança. As autoras acrescentam que
esta alteração vai representar o desenvolvimento cognitivo da competência representacional.
26

O desenvolvimento do cérebro também faz parte do desenvolvimento físico da criança,


tendo em vista que este reflete em vários aspectos do desenvolvimento, dentre eles o
desenvolvimento das habilidades motoras supracitadas. Bee e Boyd (2011) afirmam que o
desenvolvimento do cérebro e do sistema nervoso é um processo complexo e crucial durante a
Primeira Infância. No nascimento, as partes mais desenvolvidas do sistema nervoso incluem o
mesencéfalo e a medula, que regulam funções vitais, como frequência cardíaca e respiração.

Em contrapartida, o córtex cerebral, que desempenha um papel fundamental na


percepção, pensamento e linguagem, é a parte menos desenvolvida do cérebro nesse estágio. O
córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento, avaliação e tomada de decisões, é a última
área a amadurecer (BEE; BOYD, 2011). Segundo Papalia e Martorell (2022), esse
desenvolvimento significativo das áreas frontais do cérebro, responsáveis pelo planejamento e
organização de ações, ocorre entre os 3 e 6 anos de vida.

Já a Terceira Infância, no que diz respeito ao desenvolvimento do cérebro, é


caracterizada por diversos avanços cognitivos, que podem ser explicados pelas modificações
que ocorrem na estrutura e no funcionamento cerebral neste período, de acordo com Papalia e
Martorell (2022). O avanço no processamento de informações e o aumento na capacidade de
filtrar estímulos distratores são alguns exemplos dessas mudanças citadas pelos autores, além
do desenvolvimento significativo na área encarregada do pensamento associativo, da linguagem
e das relações espaciais, fatores elementares para a expressão artística.

Como afirmado por Papalia e Martorell (2022), o cérebro humano é composto por
substância branca e substância cinzenta. Em diferentes momentos e regiões do cérebro, é
possível observar picos nas variações no volume de substância cinzenta. Dependendo da região
cerebral, esses picos podem influenciar em aspectos como habilidades motoras, capacidade
atencional e estados emocionais, compreensão espacial e linguagem. Em contrapartida, é
possível observar um aumento contínuo na substância branca do cérebro, o que pode contribuir
para avanços nas habilidades motoras finas. Essas alterações na substância branca revelam a
relação complexa entre o desenvolvimento do cérebro e os avanços motores e cognitivos na
Terceira Infância.

Outros aspectos importantes do desenvolvimento infantil são o processamento de


informação e o desenvolvimento da memória. Papalia e Martorell (2022) afirmam que, no
decorrer da Segunda Infância, é possível observar uma melhora na atenção da criança, além de
27

um aumento na velocidade com a qual processam informações. Nessa fase, também se inicia a
formação de memórias de longo prazo. De acordo com os autores supracitados, a memória é
descrita teoricamente como um sistema composto por três mecanismos, sendo eles codificação,
armazenamento e recuperação de informações.

O processo de codificação é responsável por preparar a informação para que ela seja
armazenada a longo prazo e posteriormente recuperada. Já o mecanismo de armazenamento vai
tratar de preservar a informação na memória para que seja utilizada futuramente. Por fim, a
recuperação é descrita como o mecanismo de acesso à informação, ou seja, o meio pelo qual a
memória é trazida à tona (PAPALIA; MARTORELL, 2022). Esses processos são essenciais
para a aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo.

Esses avanços observados, principalmente no tocante ao desenvolvimento da memória


de curto prazo, são fundamentais para o desenvolvimento da função executiva. A função
executiva permite que crianças planejem e executem atividades mentais voltadas para objetivos
específicos (PAPALIA; MARTORELL, 2022). Ademais, com base nas afirmações
referenciadas, pode-se afirmar que a memória influencia diretamente a capacidade das crianças
de se envolverem em atividades artísticas, como o desenho, por exemplo.

Diversos fatores influenciam a formação e a retenção de memórias, incluindo a


singularidade do evento, seu impacto emocional ou a participação ativa das crianças no evento
(PAPALIA; MARTORELL, 2022). A compreensão do processamento de informações e da
memória é essencial para a incorporação da arte na TCC, tendo em vista que esses aspectos
estão intimamente ligados à forma como os pequenos interpretam o mundo e suas experiências.

Por esse motivo, ao se tratar da fase infantil do desenvolvimento, torna-se importante


mencionar a memória episódica - aquela que remonta a acontecimentos específicos, associados
a um tempo e lugar particulares. Além disso, a memória autobiográfica é um tipo de memória
episódica, e também é fundamental ao se tratar de infância. Ela vai se referir a momentos
específicos da vida pessoal do indivíduo, e se desenvolve entre os 3 e 4 anos de idade
(PAPALIA; MARTORELL, 2022). Sendo assim, pode-se observar que a memória episódica e
a memória autobiográfica desempenham importante papel na construção da narrativa pessoal e
da identidade do indivíduo.
28

Os autores afirmam que, à medida que as crianças se desenvolvem, melhoram sua


capacidade de prestar atenção seletivamente aos estímulos, ignorando informações irrelevantes
e desviando sua atenção quando preciso. A retenção de informações na memória de curto prazo
se relaciona intrinsecamente à quantidade de atenção que é dedicada a um estímulo específico.
Ao longo dos anos escolares, por exemplo, é possível observar um avanço contínuo nas
habilidades de regulação e sustentação da atenção, no processamento e na retenção de
informações, assim como no planejamento e monitoramento dos comportamentos (PAPALIA;
MARTORELL, 2022).

Vale destacar, nesse sentido, a atenção seletiva, tendo em vista que crianças em fase
escolar demonstram uma capacidade de concentração superior em comparação a crianças
menores. Isto significa que as crianças na faixa dos 6 aos 11 anos são capazes de focar a atenção
na informação relevante, ao passo que filtram os elementos irrelevantes (PAPALIA;
MARTORELL, 2022). Logo, pode-se afirmar que o desenvolvimento da atenção seletiva
permite que o indivíduo direcione sua atenção e evite distrações, aprimorando sua capacidade
de concentração e foco. Além disso, observa-se também um aperfeiçoamento da memória de
trabalho na Terceira Infância, o que conforme Papalia e Martorell (2022), permite que as
crianças lidem com tarefas mais complexas.

É na infância também que a linguagem se desenvolve, permitindo que as crianças


expressem seu modo de ver o mundo. A linguagem nos habilita a adquirir certas compreensões
que são unicamente humanas (BELSKY, 2010). Bee e Boyd (2011) destacam que o processo
de desenvolvimento da linguagem se inicia bem antes do bebê proferir sua primeira palavra,
em uma fase denominada de pré-linguística. Nesse contexto, é importante destacar a diferença
entre linguagem expressiva e receptiva, onde a primeira envolve os sons, sinais ou símbolos
utilizados para comunicar significados, enquanto a segunda se relaciona com a compreensão da
linguagem falada.

Entre os 3 e 6 anos de idade, é possível notar um progresso significativo em termos de


habilidades linguísticas. Essa crescente expansão do vocabulário pode ser explicada pelo
processo de associação rápida, pelo qual a criança absorve o significado de uma nova palavra
após ouvi-la algumas vezes em conversas. Deste modo, a criança forma uma hipótese sobre o
significado da palavra com base no contexto em que foi usada (PAPALIA; MARTORELL,
2022). Compreender a linguagem precede a capacidade de falar, e uma vez que as crianças
29

assimilam as primeiras palavras, começam a estabelecer conexões entre elas e aquilo que
representam (BEE; BOYD, 2011).

Papalia e Martorell (2022) afirmam que, embora a linguagem infantil comece a se


assemelhar a dos adultos entre os 5 e 7 anos, ainda é preciso que dominem certas estruturas
linguísticas. Além disso, as crianças precisam desenvolver habilidades pragmáticas, necessárias
para que a linguagem seja usada tendo como propósito a comunicação. Para isso, é preciso
compreender o conceito de discurso social, que se trata justamente da fala dirigida a alguém.
Esse conceito se contrasta com o discurso particular, que se trata da fala que ocorre sem a
intenção de estabelecer uma comunicação com outro indivíduo.

Ao longo da Terceira Infância, as habilidades linguísticas continuam se aprimorando.


Crianças em idade escolar apresentam maior compreensão e conseguem interpretar a
comunicação verbal e escrita (PAPALIA; MARTORELL, 2022). Isso possibilita que se
expressem de maneira mais eficaz. As autoras acrescentam que a pragmática vai apresentar um
avanço em seu desenvolvimento nesse período, ou seja, a criança vai passar a compreender
melhor o contexto social da linguagem, adquirindo habilidades como conversação e narração.
Conforme aprimoram a capacidade de leitura e escrita, desenvolvem estratégias cada vez mais
sofisticadas para compreender a leitura, assim como para expressar ideias, pensamentos e
sentimentos através da escrita.

Papalia e Martorell (2022) reiteram também que na idade escolar, esses avanços não se
restringem apenas a questões de linguagem e alfabetização, mas se estendem também ao
desenvolvimento da criatividade, ou seja, a habilidade de enxergar o mundo sob novas
perspectivas. Deste modo, essas crianças passam a apresentar habilidades cognitivas e
comunicativas cada vez mais versáteis no modo como interagem com a linguagem e a expressão
criativa.

É importante ressaltar que o desenvolvimento da linguagem é inerentemente um


processo social. A interação social é essencial para o processo da alfabetização. Conforme as
crianças aprendem a reproduzir palavras escritas em fala, compreendem também que através
da escrita podem expressar suas ideias, pensamentos e sentimentos (PAPALIA;
MARTORELL, 2022). Ao pensar no desenvolvimento da escrita como forma de expressão
subjetiva, buscando estabelecer uma relação com a arte, é possível cogitar o uso e a elaboração
de poesias e contos na Terapia Cognitivo-Comportamental com crianças, por exemplo.
30

Por outro lado, é preciso destacar que atrasos no desenvolvimento da linguagem não
derivam necessariamente de uma carência de estímulo por parte dos cuidadores. Na realidade,
Papalia e Martorell (2022) asseguram que uma série de fatores pode estar associada a essa
questão. Problemas de audição, anomalias craniofaciais, histórico de nascimento prematuro,
condições familiares e fatores socioeconômicos podem ser causadores de impactos e atrasos no
desenvolvimento da linguagem.

Esses conceitos do desenvolvimento infantil são fundamentais para o estudo sobre o uso
da arte na Terapia Cognitivo-Comportamental com crianças. Os desenvolvimentos cognitivo e
psicossocial, por exemplo, são cruciais para a criança se expressar e compreender suas emoções
através da arte. Sendo assim, o presente estudo busca sustentar uma articulação constante entre
o desenvolvimento humano e o papel que a arte pode desempenhar na TCC voltada para o
público infantil.

A arte, como forma de expressão e comunicação, se insere nesse contexto como uma
ferramenta valiosa na TCC, pois permite que as crianças explorem suas sensações, percepções
e emoções de maneira criativa. Deste modo, a arte vai auxiliar na expressão de pensamentos e
sentimentos que podem ser difíceis de comunicar verbalmente. Ao se compreender
profundamente o desenvolvimento infantil nessas dimensões, pode-se começar a entender
também o papel transformador que a arte pode ter na abordagem cognitivo-comportamental
com crianças, que será melhor discutida nos próximos capítulos.
31

2. ARTE

A arteterapia, que faz uso de variadas formas de expressão artística para fins
terapêuticos, surge como uma valiosa ferramenta para a atuação do psicólogo em contextos
variados (REIS, 2014). Com abordagens que incluem vertentes psicanalíticas, junguianas e
gestálticas, a arteterapia busca promover a saúde e o bem-estar por meio de elaboração artística
(CARVALHO, 1995; REIS, 2014). O objetivo deste capítulo é destacar a relevância da arte no
contexto do processo de desenvolvimento infantil, considerando as variadas formas de arte e
suas características, de modo a implementar essa abordagem na vertente cognitivo-
comportamental.

Reis (2014) descreve que essa abordagem terapêutica faz uso de diversas formas de
expressão artística como meio de intervenção, visando promover a saúde e a melhoria da
qualidade de vida. Ela abarca um amplo espectro de manifestações criativas, que incluem artes
plásticas, sonoras, literárias, dramáticas e corporais. Técnicas como desenhos e pinturas,
modelagem, música, poesia, dramatização e dança podem ser usadas no contexto terapêutico.
Deste modo, essa abordagem oferece um espaço para que os indivíduos explorem suas
emoções, pensamentos e sentimentos, acarretando em uma maior compreensão de si mesmos.

Além disso, o autor também afirma que a arteterapia apresenta uma gama diversificada
de aplicações, incluindo sua utilização na avaliação, prevenção, tratamento e reabilitação no
contexto de saúde. Ainda, ela se estende à esfera educacional, servindo como uma ferramenta
pedagógica capaz de promover a expressão criativa e o desenvolvimento pessoal e interpessoal,
principalmente quando empregada em contextos de grupo.

A prática da arteterapia se revela como uma via de acesso à expressão e à subjetividade


humana, permitindo ao psicólogo e ao paciente explorar conteúdos emocionais por intermédio
da atividade artística. Segundo Reis (2014), o uso da arte como linguagem terapêutica
transcende a abordagem verbal tradicional, viabilizando uma comunicação mais direta do
âmbito emocional e, consequentemente, uma transformação subjetiva. Essa comunicação mais
direta se dá ao fato de que, através da mediação da arte, a expressão emocional não passa pelo
“filtro” da racionalização, como é o caso do discurso verbal. Além disso, o psicoterapeuta pode
abordar uma variedade de temas, desde traumas e conflitos emocionais até aspectos das relações
interpessoais e questões de identidade. Isso vai ampliar as possibilidades de expressão e
ressignificação do paciente (REIS, 2014).
32

A atividade artística, além de permitir que a subjetividade seja objetivada, atua como
um instrumento que auxilia na expressão, reflexão e transformação dos sujeitos, por meio do
contato com o processo criativo (REIS, 2014). Nesse contexto, a arte emerge como um espelho
que reflete as emoções, desejos e pensamentos do paciente, levando a um processo contínuo de
autodescoberta e (re)criação. O que se observa é que, ao se envolver na prática artística e
criativa, o indivíduo se reinventa no contexto de sua existência. O ser humano é considerado
um indivíduo com a capacidade de inovar e transformar-se continuamente, estando sempre em
evolução (REIS, 2014). A arte desempenha um papel fundamental nesse processo, uma vez que
permite às pessoas experimentar diversas formas de expressão e, como resultado, de existir em
sociedade.

Ao citar outros autores clássicos, Reis (2014) faz um contraponto entre as visões de
Sigmund Freud e Carl Jung sobre o aspecto terapêutico da experiência artística. Primeiro, o
autor descreve que Freud examinou algumas obras de arte, identificando nelas manifestações
do inconsciente, as quais interpretou como um meio de comunicação simbólico. Freud atribuiu
a essas manifestações uma função catártica, um meio de sublimação das pulsões, e via as
imagens criadas na arte como um acesso privilegiado ao inconsciente. Ele acreditava que o
produto dessa catarse escapava mais facilmente dos limites da censura do que o discurso falado.
No entanto, Freud não chegou a incorporar a arte como parte integrante do processo terapêutico
em sua prática psicanalítica, acrescenta o autor.

Por outro lado, Jung foi pioneiro ao utilizar a linguagem artística em associação ao
contexto da psicoterapia (REIS, 2014). o autor aponta que para ele, a criatividade era uma
função psíquica inata e estruturante, e ao transformar conteúdos inconscientes em imagens
simbólicas, era possível alcançar uma cura. Jung entendia as imagens desenvolvidas pelos
pacientes como uma forma de simbolizar o inconsciente individual e coletivo, e acreditava
profundamente que, por meio da arte, o ser humano desenvolve a capacidade para organizar
sua confusão interna.

Essa abordagem se tornou fundamental na prática de psicoterapia junguiana. Calixto


(2020) também relata que Jung fez uso do ato de desenhar como ferramenta para estipular um
diálogo verbal com o paciente, e acreditava na capacidade do ser humano de ordenar seu mundo
interior por meio da expressão artística. Ele reconheceu os efeitos benéficos das manifestações
artísticas na regulação das emoções e no desenvolvimento integral da criança como indivíduo,
como registrado em Jung (2009 apud CALIXTO, 2020).
33

Através da prática artística, o terapeuta pode estabelecer um vínculo ao se expressar,


proporcionando ao paciente a chance de envolver-se em autoconhecimento, resolver conflitos
pessoais e interpessoais, além de promover a formação integral de sua personalidade
(ANDRADE, 2000 apud REIS, 2014). Reis (2014) explica que, no contexto terapêutico, as
atividades artísticas não são realizadas com o objetivo de criar obras de arte com valor estético.
Para o profissional da Psicologia, o foco vai estar em tornar a atividade de expressão um
caminho para que os indivíduos possam comunicar e refletir sobre suas emoções e pensamentos.
Através da experiência expressiva, as pessoas podem ganhar consciência de seus sentimentos
e, no decorrer do processo, encontrar uma maneira autêntica e significativa de representar o que
estão experimentando.

Nunes et al. (2021) afirmam que a arte, como um meio terapêutico, revela-se um
instrumento benéfico, contribuindo para a manifestação da subjetividade humana. Ela viabiliza
a expressão de experiências pessoais, permitindo a emergência do universo interno do sujeito,
levando a uma reflexão sobre a própria identidade e sobre o mundo que nos cerca. Os autores
destacam ainda a carência de investigações sobre o uso da arte como uma ferramenta clínica
dentro do contexto da terapia cognitivo-comportamental, o que revela a urgência em expandir
as pesquisas sobre a efetividade da arte nessa abordagem terapêutica. Esse fato se trata de um
dos principais aspectos motivadores para a realização do presente trabalho, sobretudo levando
em conta a escassez de pesquisas sobre o assunto no tocante ao público infantil em especial.

Desde o início da história da humanidade, é evidente que o ser humano faz uso da arte
para se comunicar. O homem constantemente manifestou seu desejo de se comunicar, criar e
estabelecer vínculos com o mundo por meio de expressão artística. A arte, considerada como
uma forma de linguagem, é um resultado da interação entre o ser humano e o mundo que o
cerca. Nesse contexto, a arte desempenha um papel fundamental na interpretação e
representação da sociedade e do universo, permitindo que o indivíduo estabeleça uma conexão
tanto com si mesmo quanto com o mundo ao seu redor (NUNES ET AL., 2021).

Como Nunes et al. (2021) descrevem, a arte possibilita o acesso às emoções que muitas
vezes não são expressas verbalmente, agindo como uma poderosa aliada na comunicação
emocional. Além disso, a função terapêutica da arte se revela na expressão das experiências
individuais, atuando como intercessora no desenvolvimento do autoconhecimento e estimulado
a capacidade de reflexão do indivíduo.
34

A percepção da arte varia significativamente entre crianças e adultos. Enquanto os


adultos frequentemente a associam ao belo e à estética, para as crianças, a arte é uma ferramenta
de expressão (DOS SANTOS SILVA MACHADO, 2017). Os autores informam que na
infância, a arte exerce uma função crucial no desenvolvimento integral da criança,
influenciando tanto sua intelectualidade como seu domínio afetivo-emocional. Para os autores,
as várias formas de expressão utilizadas pelas crianças, como desenhos, jogos, danças e
músicas, revelam uma notável capacidade criativa e imaginativa além de, acima de tudo,
servirem como veículo para a expressão de sentimentos e percepções dos pequenos em relação
ao ambiente que os cerca.

Calixto (2020) também afirma que a arteterapia promove a manifestação de


pensamentos ou sentimentos frequentemente inexprimíveis através de uma única linguagem.
Quando impulsionado pela capacidade criativa da arte, o ser humano possui a habilidade de
manifestar seu universo emocional independente das limitações da esfera mental e racional (DE
SOUZA, 2016). Através da comunicação verbal, pinturas, danças, músicas ou quaisquer
atividades manuais que demandem o emprego de conexões, experiências e lembranças, o sujeito
manifesta sua singularidade emocional e interna. Dessa forma, a expressão artística representa
a identidade, a perspectiva interpretativa de experiências individuais e da vida de cada um
(ORMEZZANO, 2011).

Alencar (2007) explica que a arteterapia influencia de forma benéfica o gerenciamento


emocional, permitindo maior domínio em casos de emoções intensas e circunstâncias
conflituosas. Para as crianças, a arte representa um canal de expressão natural e espontâneo,
contribuindo para o aprimoramento das habilidades de comunicação tanto interpessoais quanto
intrapessoais. Crianças, diante de seus conflitos cotidianos, necessitam de suporte para lidar
com os aspectos emocionais e subjetivos decorrentes das transformações vivenciadas ao longo
do desenvolvimento infantil, conforme apresentado no primeiro capítulo do presente trabalho.

O lado sensível, criativo e singular pode ser explorado por meio da livre expressão
artística, promovendo um senso de identidade, autonomia, pertencimento e acolhimento do
próprio eu (CALIXTO, 2020). A autora argumenta que a arteterapia estimula e possibilita o
desenvolvimento de habilidades cognitivas, aumentando as oportunidades de interlocução e
externalização. Além disso, essa abordagem influencia o desenvolvimento infantil no que diz
respeito à criatividade e à expressão livre e associativa, permitindo que as ideias fluam em
direção à subjetividade e à análise da realidade.
35

De acordo com Calixto (2020), quando encorajada em sua inventividade e habilidade


de se expressar, a criança constrói resiliência emocional e desenvolve maior capacidade para
enfrentar desafios, aprimorando sua habilidade de comunicação e, até mesmo, passa a nutrir
aspectos sociais. A autora argumenta que a interação com os pares proporciona sensibilidade e
fortalece a essência, permitindo a descoberta de preferências, desejos e aspirações. A mesma
acrescenta também que a expressão artística, intrinsecamente ligada ao ser humano como uma
necessidade vital, desempenha um importante papel na infância, proporcionando maior
liberdade para que a capacidade criativa se desenvolva, enquanto se explora limites e potenciais
imaginativos.

É preciso reconhecer a importância da compreensão dos estágios do desenvolvimento


humano, que influenciam a capacidade da criança de se envolver em atividades artísticas e
terapêuticas. A discussão sobre o desenvolvimento cognitivo na Terceira Infância, marcada
pelo aprimoramento das habilidades de memória e linguagem, se relaciona ao modo que a
arteterapia permite às crianças explorarem suas emoções, pensamentos e sentimentos. A
abordagem em questão possibilita que as crianças expressem suas experiências pessoais e
manifestem pensamentos e sentimentos de maneira mais direta e simbólica do que através da
comunicação verbal tradicional.

A expressão artística vai servir como uma forma alternativa de comunicação,


permitindo que experiências pessoais sejam manifestadas de maneira mais palpável. Através da
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), as crianças aprendem a processar e compreender
suas experiências de maneira mais construtiva, promovendo um desenvolvimento emocional
mais saudável e adaptativo. Nesse contexto, a arte pode atuar como uma ponte entre a
capacidade crescente da expressão verbal e a necessidade de explorar dimensões emocionais
complexas.
36

3. TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

Entre as décadas de 1960 e 1970, Aaron Beck introduziu uma abordagem terapêutica
inicialmente denominada Terapia Cognitiva, que mais tarde passou a ser mais conhecida como
Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) (BECK, 2021). Ao desenvolver uma abordagem
breve, estruturada e orientada para o presente, Beck inovou a área das psicoterapias. Dentro das
diversas ramificações da TCC baseadas no modelo de Beck, a intervenção terapêutica é
fundamentada em uma formulação cognitiva, abordando crenças mal adaptativas, estratégias
comportamentais e fatores específicos de cada transtorno (BECK, 2021).

Segundo Friedberg e McClure (2019), a abordagem terapêutica cognitiva fundamenta-


se na teoria da aprendizagem social, que parte do princípio de que há uma interdependência
entre o ambiente, as características temperamentais e o comportamento situacional de um
indivíduo. Assim, o comportamento seria um fenômeno dinâmico em evolução contínua.
Institui-se uma relação recíproca, na qual o contexto exerce influência sobre o comportamento
enquanto o comportamento, por sua vez, molda o contexto. Essa dinâmica destaca o vínculo
constante entre os elementos ambientais, as características individuais e as respostas
comportamentais, o que leva a uma compreensão mais holística dos processos terapêuticos na
terapia cognitiva.

De acordo com Beck (2021), a TCC enfatiza que os pensamentos exercem influência
direta sobre as emoções e comportamentos e, por vezes, até sobre as respostas fisiológicas do
corpo humano. A autora aponta que a abordagem cognitiva sugere que, ao capacitar as pessoas
a avaliarem seus pensamentos de maneira realista e adaptativa, é possível observar uma redução
significativa nas emoções negativas e nos comportamentos mal adaptativos. Ainda acrescenta
que a premissa fundamental é de que não é a situação em si que desencadeia uma resposta
emocional, mas sim os pensamentos automáticos que perpassam a mente do sujeito diante de
uma determinada circunstância.

Os pensamentos automáticos, que consistem em ideias expressas por palavras ou


imagens que emergem involuntariamente na mente, são pensamentos rápidos e espontâneos,
desencadeados por situações específicas que exercem influência direta sobre as emoções e
comportamentos (BECK, 2021). A autora afirma que esses pensamentos, geralmente
distorcidos, contribuem para padrões negativos de funcionamento e se desenvolvem a partir das
crenças e interpretações pessoais sobre o mundo e sobre si, e são moldados a partir de
37

experiências passadas, valores pessoais e percepções individuais. Ao examinar a validade


desses pensamentos automáticos, torna-se possível encarar a experiência a partir de uma nova
perspectiva, o que, por sua vez, promove uma melhoria no estado emocional, resultando em
comportamentos mais funcionais. Beck (2021) informa que as cognições se manifestam em três
níveis distintos. O nível mais superficial compreende os pensamentos automáticos, que como
mencionado anteriormente, são reações mentais rápidas e involuntárias. Em nível
intermediário, encontram-se as crenças que sustentam esses pensamentos automáticos, servindo
como pressupostos subjacentes. O nível mais profundo abrange as crenças nucleares, que
incluem autopercepção, a visão dos outros e a perspectiva sobre o mundo.

A abordagem terapêutica envolve intervenção em todos os três níveis supracitados,


visando a modificação tanto dos pensamentos automáticos quanto das crenças disfuncionais, o
que resulta em uma reestruturação que permite uma autopercepção mais realista (BECK, 2021).
É importante enfatizar, de acordo com a autora, a orientação para a recuperação, destacando os
valores e aspirações do paciente, incentivando interpretações positivas das atividades diárias e
a experiência de emoções positivas não apenas durante as sessões terapêuticas, mas no dia a
dia. Paralelo a isso, a atenção deve estar voltada à detecção de alterações no humor, assim como
sensações corporais associadas a emoções negativas e comportamentos improdutivos,
acrescenta a autora.

A TCC reforça que a conceitualização dos desafios psicológicos humanos envolve cinco
elementos que interagem mutuamente (FRIEDBERG; MCCLURE, 2019). São eles: o ambiente
interpessoal/ambiental, a fisiologia, o funcionamento emocional, o comportamento e a
cognição. Esses componentes são dinâmicos e complexos, e passam por transformações
contínuas, de acordo com o autor. Os sintomas, tanto cognitivos quanto comportamentais,
emocionais e fisiológicos, manifestam-se dentro de um contexto interpessoal e ambiental, o
mesmo acrescenta. Assim, a abordagem engloba categoricamente as considerações
relacionadas ao contexto sistêmico, interpessoal e cultural, aspectos cruciais na psicoterapia
infantil. A interpretação de vivências pelas crianças desempenha um papel fundamental no
desenvolvimento do funcionamento emocional infantil.

Beck (2021) explica que a TCC parte de uma conceitualização cognitiva em constante
desenvolvimento, adaptando-se à singularidade de cada indivíduo. Essa abordagem terapêutica
destaca a importância de uma aliança terapêutica sólida, que promova a colaboração e
participação ativa do paciente. Também é crucial ressaltar que a TCC é culturalmente adaptada,
38

reconhecendo a importância de ajustar o tratamento conforme as especificidades de cada


paciente, de acordo com a autora. Além disso, o monitoramento contínuo do progresso do
paciente, a estruturação das sessões e o emprego da descoberta guiada são práticas integradas
na TCC, acrescenta a autora.

A Terapia Cognitivo-Comportamental também incorpora Planos de Ação, que


consistem em tarefas de casa direcionadas à aplicação prática no dia a dia dos aprendizados
terapêuticos. Aqui, destaca-se o uso de variadas técnicas de modificação do pensamento, humor
e comportamento. A adaptação dessas técnicas, com base na conceitualização cognitiva
individual, garante uma abordagem adaptada e eficaz para cada caso (BECK, 2021). À luz do
tema proposto pelo presente trabalho, pode-se pensar em como as diferentes formas de
expressão artística podem ser adaptadas como técnicas incorporadas à TCC.

Friedberg e McClure (2019) afirmam que o método colaborativo e a orientação


descoberta guiada são eficazes no contexto infantil. A organização das sessões também pode
ser adaptada para atender às necessidades das crianças. A atribuição de Planos de Ação assume
um papel de destaque, proporcionando às crianças a oportunidade de aplicar habilidades
adquiridas na terapia em situações da vida cotidiana, de acordo com os autores. É notável,
inclusive, que as crianças têm uma inclinação natural para a ação, e absorvem conhecimento de
forma mais eficaz através de atividades práticas. Por isso, ao elaborar tarefas de casa, técnicas
e intervenções, o terapeuta deve buscar atribuir significado à atividade proposta, tendo como
objetivo gerar uma maior motivação na criança para que o processo terapêutico tenha
continuidade, argumentam os autores.

É importante destacar que nem sempre as crianças iniciam o processo terapêutico por
vontade própria. Com frequência, as crianças são direcionadas à terapia devido a desafios que
geram complicações em algum sistema, como a família ou a escola. Essas questões podem
resultar em uma resistência por parte das crianças, levando-as a evitar ou temer o processo
terapêutico. Portanto, é necessário trabalhar com cautela, buscando envolver a criança no
processo de tratamento, de modo a aumentar a motivação e superar possíveis barreiras iniciais
(FRIEDBERG; MCCLURE, 2019). Assuntos delicados e desconfortáveis podem ser
explorados por meio de intervenções criativas e envolventes, proporcionando uma abordagem
mais eficaz ao lidar com aspectos sensíveis do desenvolvimento infantil (FRIEDBERG;
MCCLURE, 2019).
39

Observa-se que é de extrema importância para a TCC que se estabeleça uma sólida
relação de trabalho com os pacientes, adaptando o tratamento de forma individualizada,
buscando incorporar elementos culturais, históricos familiares e outras características
relevantes dos indivíduos. Deste modo, é possível compreender se a inserção da arte como
ferramenta terapêutica vai se tratar ou não de uma estratégia vantajosa de acordo com o perfil
de determinado caso. Como apresentado nos capítulos anteriores deste trabalho, no contexto do
desenvolvimento infantil, a arte desempenha um papel positivo e significativo, além de atuar
como via facilitadora da expressão de sentimentos e pensamentos, aspectos fundamentalmente
explorados pela Terapia Cognitivo-Comportamental.

Além disso, o funcionamento infantil está intrinsecamente ligado a sistemas, como o


ambiente familiar e escolar (FRIEDBERG; MCCLURE, 2019. Nesse contexto, os autores
argumentam que é imprescindível que os terapeutas analisem as complexas dinâmicas que
envolvem os desafios das crianças e desenvolvam estratégias terapêuticas adaptadas às suas
necessidades específicas. É essencial reconhecer que esses sistemas têm o poder tanto de
fortalecer quanto de enfraquecer as habilidades adaptativas das crianças, acrescentam os
autores. Por esse motivo, o contato com a família e com a equipe escolar são cruciais para o
uso de intervenções que levam em conta a influência desses sistemas na vida da criança
(FRIEDBERG; MCCLURE, 2019).

Friedberg e McClure (2019) destacam que as crianças apresentam distinções em relação


aos adultos em termos de aptidões, limitações, predileções e interesses pessoais. É necessário
analisar minuciosamente as faixas etárias das crianças, assim como suas habilidades
sociocognitivas, buscando ajustar as intervenções conforme a idade e as etapas do
desenvolvimento. Os autores afirmam que o terapeuta deve estar ciente com relação às variáveis
sociocognitivas, que englobam linguagem, capacidade de perspectiva, habilidade de raciocínio
e competências de regulação verbal. Essa compreensão é fundamental para orientar a
abordagem terapêutica de modo eficaz e apropriado às especificidades de cada criança.

Os autores supracitados explicam ainda que a competência linguística desempenha um


papel determinante no benefício que as crianças podem obter com o uso de intervenções verbais
diretas. Casos que envolvam crianças com pouca habilidade verbal, podem ser indicadas
estratégias como o uso de desenhos, fantoches, brinquedos, jogos, atividades manuais e outras
tarefas que demandam menor dependência da comunicação verbal direta. A narração e a leitura
40

de histórias com essas crianças, o uso de mídias como filmes, músicas e programas televisivos
podem ser caminhos para aprimorar a habilidade verbal. (FRIEDBERG; MCCLURE, 2019).

Recursos como jogos, livros de histórias, exercícios escritos, improvisação teatral e a


criação de máscaras e trabalhos manuais podem ser usados em aplicações criativas da TCC.
Essas ferramentas servem como estímulo para a identificação de pensamentos e sentimentos,
correção de padrões de pensamento mal adaptativos e aprimoramento das habilidades sociais
da criança (FRIEDBERG; MCCLURE, 2019). Os autores apontam que é possível, ainda,
integrar modelagem velada e resolução de problemas em atividades de base artística,
propiciando uma abordagem multifacetada que visa a promoção de uma maior compreensão
dos pensamentos e emoções, além de incentivar a resolução de problemas.

Como observado, as Terapias Cognitivo-Comportamentais reconhecem a importância


da adaptação das intervenções terapêuticas conforme o estágio de desenvolvimento da criança.
Na Terceira Infância, é essencial considerar a singularidade de cada indivíduo, levando em
conta suas habilidades cognitivas específicas. A arteterapia, nesse contexto, é uma abordagem
flexível, que permite que as crianças se envolvam em atividades correspondentes a sua fase de
desenvolvimento. Assim, a TCC promove uma abordagem individualizada, considerando não
somente as demandas emocionais das crianças, como também suas capacidades cognitivas, que
estão em constante evolução.
41

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo desta monografia, a interseção entre a infância, a arte e a Terapia Cognitivo-


Comportamental (TCC) foi explorada. A análise da articulação desses elementos resultou em
insights valiosos sobre formas como a expressão artística pode ser integrada de modo eficaz ao
contexto terapêutico com crianças. A conclusão atingida a partir da análise da literatura foi
discutida, acerca dos objetivos propostos para este trabalho.

Foram realizadas reflexões críticas sobre os estudos analisados, buscando destacar tanto
suas contribuições quanto as limitações encontradas. As considerações finais irão resumir os
pontos principais levantados ao longo da monografia, evidenciando também as possíveis
lacunas que devem ser exploradas em futuras pesquisas da área, reafirmando, assim, a
relevância da arte como instrumento na Terapia Cognitivo-Comportamental com crianças.

A exploração do desenvolvimento humano na infância estabelece uma base sólida para


compreender a interseção entre a arte e a TCC com crianças. O desenvolvimento das
habilidades artísticas apresenta estágios específicos que coincidem com a Terceira Infância.
Esses estágios não apenas indicam o progresso das habilidades motoras finas, mas revelam
também mudanças fundamentais na capacidade representacional da criança. A compreensão
desses estágios é de extrema importância, visto que a expressão artística se torna um caminho
alternativo de comunicação, permitindo que as crianças manifestem suas experiências de
maneira clara e explícita.

A arte, como ferramenta valiosa na TCC, oferece um meio criativo para as crianças
explorarem pensamentos, emoções e comportamentos. No contexto da infância, a arte surge
como uma linguagem singular, que permite que as crianças comuniquem suas experiências por
meios de expressão que muitas vezes ultrapassam as limitações da comunicação verbal. A TCC,
por sua vez, demonstra-se uma abordagem eficaz para lidar com os desafios emocionais e
comportamentais específicos do desenvolvimento infantil. Desse modo, a integração da arte na
TCC representa uma via complementar para que as crianças explorem e processem suas
vivências.

A expressão artística não só constrói resiliência emocional, como também fortalece


aspectos sociais e a capacidade de comunicação da criança. A interação com a arte na infância
não apenas alimenta a criatividade, mas também contribui para o desenvolvimento de
habilidades essenciais para a vida. A importância da relação terapêutica, a consideração dos
42

aspectos individuais de cada criança e a inclusão de elementos culturais e históricos são


aspectos fundamentais da TCC. A arte, ao ser inserida como ferramenta terapêutica, não apenas
atende às necessidades específicas de cada criança, como facilita a expressão de pensamentos
e sentimentos.

No entanto, é preciso reconhecer as lacunas que persistem com relação à área explorada
neste trabalho. Há uma ausência de estudos voltados para uma investigação minuciosa sobre
como tipos específicos de arte, como pinturas, músicas, poesias ou representações teatrais,
podem influenciar profundamente o processo terapêutico. Essas lacunas evidenciam a
necessidade de novos estudos voltados para essa temática, visando a construção de uma base
sólida para a aplicação prática da arte na TCC infantil.

Futuras pesquisas podem buscar examinar mais profundamente a eficácia das diferentes
formas de arte na TCC com crianças, assim como identificar estratégias específicas que possam
aprimorar essa integração, oferecendo diretrizes mais precisas para psicoterapeutas cognitivo-
comportamentais que buscam otimizar o uso de intervenções artísticas na promoção de saúde
mental infantil.

Ao incorporar a arteterapia com ênfase na Terceira Infância, a TCC oferece um cenário


abrangente para o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças. A TCC se destaca como
uma abordagem que promove a expressão saudável e a compreensão de emoções complexas ao
reconhecer as transformações que fazem parte dessa fase da vida, e ao proporcionar ferramentas
terapêuticas adequadas, contribuindo assim para o desenvolvimento integral das crianças.

Em conclusão, a presente monografia destacou a vantajosa eficácia do uso da arte como


ferramenta na Terapia Cognitivo-Comportamental com crianças, assim como a relevância de
futuras investigações sobre o assunto. Ao reconhecer e destacar esse efeito positivo da
integração entre infância, arte e TCC, este trabalho delineou caminhos para pesquisas futuras,
enfatizando a necessidade de aprimoramento constante nesta área fundamental da Psicologia.
43

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BECK, J. S. Terapia Cognitivo-Comportamental: Teoria e Prática. 3. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2020.

BELSKY, J. Desenvolvimento Humano: Experienciando o ciclo da vida. Porto Alegre:


Artmed, 2010.

BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

CALIXTO, A. M. Arteterapia aplicada à educação infantil. Santa Catarina, 2020.

COLLE, L.; DEL GIUDICE, M. Patterns of attachment and emotional competence in


middle childhood. Social Development, 2011.

DE ALENCAR, E. M. L. S. Criatividade no Contexto Educacional: Três Décadas de


Pesquisa. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 23, 2007.

DE SOUZA, V. L. T. A Psicologia da Arte e a Promoção do Desenvolvimento e


Aprendizagem. São Paulo: Martins Fontes, 2016.

DOS SANTOS, J. É Através da Via Emocional Que a Criança Apreende o Mundo


Exterior. Lisboa, Portugal: Assírio & Alvim, 2009.

DOS SANTOS SILVA MACHADO, J. Nós, a família, a comunidade e as artes:


interseções criativas a partir do Jardim de Infância. [s.l: s.n.], 2017.

FRIEDBERG, R. D.; MCCLURE, J. M. A Prática Clínica da Terapia Cognitiva com


Crianças e Adolescentes. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

NUNES, I. et al. A Arte (Terapia) Como Instrumento Na Terapia Cognitivo


Comportamental: Uma Revisão Sistemática. Psicologia & Conexões, 2021.

OLIVEIRA, N. D. de; FERREIRA, Í. S. Terapia cognitivo comportamental e suicídio:


revisão integrativa. Research, Society and Development, v. 11, 2022.

ORMEZZANO, G. Educar Com Arteterapia - Propostas e Desafios. Rio de Janeiro: Wak


Ed, 2011.

PAPALIA, D. E.; MARTORELL, G. Desenvolvimento Humano. 14. ed. Porto Alegre:


Artmed, 2022.

PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 12. ed.


Porto Alegre: Artmed, 2013.

REIS, A. C. DOS. Arteterapia: a arte como instrumento no trabalho do Psicólogo.


Psicologia, Ciência e Profissão, v. 34, 2014.
44

SOUSA, A. B. Educação Pela Arte e Artes na Educação. Lisboa, Portugal: Instituto Piaget,
2003.

Você também pode gostar