Você está na página 1de 11

05/04/2022

Retorno a Atividade Física no


Pós-Operatório de Cirurgia
Cardíaca e no Pós-COVID19

Maria de Fátima M. P. Leite

INTRODUÇÃO

Novembro 1944 – primeira


cirurgia cardíaca pediátrica.
Cirurgia de Blalock-Taussig-
Thomas
Desde então muitos
progressos!
Atualmente há mais adultos
convivendo com cardiopatias
congênitas que crianças.

INTRODUÇÃO
Todas as cardiopatias congênitas, uma vez operadas, podem apresentar lesões residuais ou
sequelas tardias mecânicas ou elétricas.

A liberação para prática de atividades físicas, recreativas ou competitivas, em pacientes com


cardiopatias congênita, corrigida ou não, é sempre motivo de preocupação para o pediatra.

Como liberar o paciente em pós operatório de cirurgia cardíaca para atividades físicas? Que
exames são essenciais?

O paciente com cardiopatia congênita operada pode realizar atividades competitivas?

Há risco importante de Morte Súbita?

E o paciente com cardiopatia adquirida ou com doença sistêmica que afete o coração, pode
fazer atividade física? Recreacional ou Competitiva?

O advento da COVID19, doença nova, ainda com uma série de perguntas sem resposta, que
riscos apresenta para a prática de atividades físicas?

1
05/04/2022

Atividade Física e Cardiopatia Congênita

Exercício físico e participação em atividades esportivas são parte do


desenvolvimento físico, psicológico e metabólico de crianças e
adolescentes.

Esportes são importantes na educação e na formação do indivíduo

A atividade física regular funciona como prevenção de obesidade,


diabetes tipo II, hipertensão arterial e doença coronariana.

Nas crianças, em pós-operatório de cirurgia cardíaca, deve-se levar


em consideração a condição funcional e o risco de complicações
como as arritmias.

Journal of Cardiovascular Medicine 2006, 7:234–238

Determinants of Physical Fitness in Children with


Repaired Congenital Heart Disease

Alguns estudos demonstram que crianças com cardiopatia congênita têm menores
níveis de atividade física e maior grau de obesidade quando comparadas a crianças
saudáveis

Avaliou 167 crianças e adolescentes submetidos a correção cirúrgica de


cardiopatia congênita, entre 7 e 14 anos de idade, na Belgica.

Todas crianças com correção biventricular e sem necessidade de


betabloqueadores ou outros agentes cronotrópicos.

Realizou teste de aptidão física

E concluiu que entres os fatores modificáveis para alcançar a aptidão física, o mais
importante foi a motivação.

Zaqout M, et al. Determinants of Physical Fitness in Children with Repaired Congenital Heart Disease. Pediatr Cardiol. 2021 Apr;42(4):857-
865. doi: 10.1007/s00246-021-02551-y

Causas de Morte
Súbita em Atletas

• A maioria das causas de


morte súbita durante a
prática desportiva está
relacionadas ao coração.
• As doenças funcionam
como gatilho levando
geralmente a morte por
arritmia ventricular.

Circulation March 27, 2007

2
05/04/2022

Can a child who has been operated on for congenital heart disease
participate in sport and in which kind of sport?

Qual a cardiopatia da criança e sua fisiopatologia?

Quais os tratamentos realizados? (tipo de cirurgia ou


procedimento hemodinâmico e há quanto tempo)

Quais as potenciais complicações da doença e da


cirurgia ou procedimento hemodinâmico?

Qual a sintomatologia atual?

Faz uso de medicação?

Journal of Cardiovascular Medicine 2006, 7:234–238

Classificação das cardiopatias operadas pela gravidade

JACC Vol. 37, No. 5, 2001 Warnes and Liberthson

Avaliação Clínica

Excelente
• Classe functional I pela NYHA
• Ausência de lesão residual hemodinâmica ou arritmogênica
• Capacidade funcional pelo menos 80% da prevista
Boa
• Classe funcional I-II pela NYHA
• Defeitos residuais leves (valvar ou gradiente de pressão)
• Ausência de arritmias durante o exercício
• Capacidade funcional 70–80% da prevista
Pobre
• Classe funcional II-III pela NYHA
• Lesão residual significativa (shunt, gradiente de pressão, regurgitação valvar)
• Aumento da Pressão arterial Pulmonar
• Arritmias expontâneas ou induzidas
• Capacidade funcional 70% da prevista
Journal of Cardiovascular Medicine 2006, 7:234–238

3
05/04/2022

Cardiopatias Leves

Baixo risco para complicações futuras

Boa função ventricular

Ausência de fatores de risco ou sintomas sugestivos de arritmias

Avaliação clínica, eletrocardiográfica e ecocardiográfica sem lesão residual


significativa.

Liberar atividade física recreativa ou competitiva após 6m da correção

Journal of Cardiovascular Medicine 2006, 7:234–238

Considerações Especiais

Pacientes com coarctação da 60% dos pacientes com


aorta operada ou dilatada com coarctação corrigida têm algum
balão, podem participar de Evitar atividades isoméricas, grau de lesão residual, neste caso
atividades competitivas, se não preferindo exercícios aeróbicos. atividades recreativas de
apresentares lesão residual intensidade leve a moderada
significativa. devem ser recomendadas.

Pacientes em pós-valvoplastia
pulmonar sem lesão residual ou
Além da avaliação clínica deve
com regurgitação trivial, podem
ser realizado pelo menos um ECG
ser liberados para atividades
e um ecocardiograma pré-
tanto recreativas, quanto
participação.
competitivas após 6m da
correção.

Journal of Cardiovascular Medicine 2006, 7:234–238

Doenças da Valva Aórtica

Merecem consideração especial, pois envolvem diretamente a função


ventricular esquerda, risco de isquemia miocárdica, dilatação da aorta.

Em presença de defeitos leves, sem sobrecarga pressórica significativa,


regurgitação leve após correção cirúrgica ou hemodinâmica podem participar
de atividades competitivas com envolvimento cardíaco leve a moderado.

Pacientes em condições consideradas boas, com obstrução ou regurgitação


residual leve ou em uso de anticoagulação por prótese, sugere-se a
participação em atividades recreacionais com envolvimento cardiovascular
leve.
A presença de sequelas hemodinamicamente significativas, dilatação da aorta
ascendente, obstrução aórtica residual importante, devem limitar as atividades
físicas pelo risco maior de morte súbita.

Journal of Cardiovascular Medicine 2006, 7:234–238

4
05/04/2022

Cardiopatias Complexas

São um grupo heterogêneo de cardiopatias, no qual estão incluídas as transposição dos


grandes vasos, tetralogia de Fallot como as cardiopatias complexas mais comuns da infância.

Fazem parte deste grupo também as cardiopatias de fisiologia univentricular que têm como
via final de tratamento a cirurgia de Fontan.

As sequelas pós operatórias são mais frequentes e podem ser mecânica, elétricas ou ambas.

Necessitam mais cuidado para liberação de prática desportiva.

Tetralogia de Fallot

• O defeito básico é a anteriorização


do septo infundibular com
hipertrofia das trabeculações
septoparietais do infundíbulo
subpulmonar

• Consequentemente ocorrem os
quatro defeitos que compõem a T4
Fallot.
➢ CIV
➢ Estenose subpulmonar
➢ Dextroposição da aorta
➢ Hipertrofia do VD

Tetralogia de Fallot

A correção consiste no fechamento da comunicação interventricular e alívio da


estenose pulmonar.

Formas com boa anatomia podem evoluir com mínima sequela, principalmente lesão
pulmonar residual leve a moderada

Formas graves da doença podem apresentar lesões residuais mais importantes tanto
mecânicas quanto elétricas.

Atualmente, a perspectiva de vida dos pacientes em PO de Tetralogia de Fallot é


normal. A maioria das complicações principalmente insuficiência cardíaca e arritmias
ocorrem na idade adulta.

5
05/04/2022

Tetralogia de Fallot

Pacientes com lesão residual leve podem realizer atividades não competitivas
com envolvimento cardíaco moderado.

Pacientes com resultado excepcionalmente bom podem ser liberados para


práticas competitivas

Pacientes com formas excepcionalmente graves da doença, com sequelas mais


importantes devem ser avaliados caso a caso.

Pelo menos um ecocardiograma e um ECG devem ser realizados antes da


liberação para prática de atividades físicas.

Journal of Cardiovascular Medicine 2006, 7:234–238

Transposição dos Grandes Vasos

• Necessita do canal arterial e da comunicação


interatrial para sobrevivência.

• As formas simples podem ser corrigidas pela


transmutação arterial (cirurgia de Jatene), que
é a preferida atualmente. Ou pela cirurgia de
transmutação atrial (cirurgia de Senning ou
de Mustard).

• A transmutação atrial foi substituída pela


arterial devido a grande incidência de
complicações mecânicas e elétricas.

Cardiopatia complexa com circulação em


paralelo.

Transposição dos Grandes Vasos (TGA)

• A técnica cirúrgica exige que se


faça a troca das artérias acima
do nível das valvas.
• É necessário também
transmutar as artérias neoaorta
coronárias para a raiz da
neoaorta.
coronária

CIV FECHADA

6
05/04/2022

TGA

• Principais complicações:
• Transmutação arterial (Switch arterial ou
Jatene)
- Obstruções nas áreas de sutura aórtica ou
pulmonar
- Lesão da coronária, com isquemia, disfunção
ventricular, IAM
- Regurgitação da neoaorta

• Transmutação atrial (Switch atrial, Mustard


ou Senning)
- Insuficiência ventricular direita
- Obstrução dos condutos atriais
- Arritmias atriais

Journal of Cardiovascular Medicine 2006, 7:234–238

Cirurgia de Mustard

TGA

• Liberação para prática de atividades físicas:


• Switch atrial
- Atividades aeróbicas, isotônicas e de baixa
intensidade.

• Switch Arterial Cirurgia de Jatene


- Avaliar a reserva coronariana e o grau de
regurgitação neoaórtica, se não houver
sequelas significativas podem participar de
atividades livremente, inclusive competitivas.

Journal of Cardiovascular Medicine 2006, 7:234–238

Cardiopatias Complexas de Correção Univentricular


#Cirurgia de Fontan#

Fazem parte deste grupo cardiopatias em que


não é possível realizar a correção cirúrgica
aproveitando os dois ventrículos. H

Hipoplasia de cavidades esquerdas

Atresia tricúspide

Ventrículo único

Atresia pumonar com VD hipoplásico entre


outras

A via final da correção cirúrgica destes pacientes


é a cirurgia de Fontan.

7
05/04/2022

Cirurgia de Fontan

• Na prática é uma cirurgia paliativa


• Objetiva diminuir a sobrecarga volumétrica
do Ventrículo Sistêmico, seja ele o esquerdo
ou o direito, separando a circulação
sistêmica da pulmonar
• É realizada em 2 estágios
Estágio 1- cirurgia de Glenn (anastomose da CIR DE GLENN
veia cava superior na artéria pulmonar)
Estágio 2- cirurgia de Fontan propriamente dita
(anastomose da veia cava inferior na artéria
pulmonar.

Croti UA, Mattos SS, Pinto Jr. VC, Aiello VD, Moreira VM. Cardiologia e cirurgia
cardiovascular pediátrica. 2ª ed. São Paulo:Roca;2012.

CIR DE FONTAN

Cirurgia de Fontan

Coração atua com uma única cavidade ventricular. Dependendo da


cardiopatia de base, a fisiologia muda um pouco

A circulação funciona com um ventrículo somente, e uma grande pós-carga.


O aumento do débito é muito dependente da frequência cardíaca,
limitando a capacidade funcional destes pacientes.
Para estes pacientes com muitas limitações, exercícios aeróbicos de baixa
intensidade, são a melhor indicação.

COVID19
• https://portal.fiocruz.br/noticia/fiocruz-
analisa-dados-sobre-mortes-de-criancas-por-
covid-19
• 16/08/2021

8
05/04/2022

Gravidade da COVID
Leve/Assintomática
Totalmente assintomático (teste +)
Período de febre (> 38º C) menor que 4d
Menos de 1 semana de mialgia, calafrios e letargia
Moderada
Período de febre (> 38º C) maior que 4d
Mais de 1 semana de mialgia, calafrios e letargia
Internação em unidade hospitalar não-UTI e não SIM-C
Grave
Internação em UTI/Intubação
SIM-C
Last Updated 09/20/2021
Source American Academy of Pediatrics

COVID-19 Interim Guidance: Return


to Sports and Physical Activity

Após diagnóstico de COVID19, independente da gravidade, sugere visita ao médico de atendimento primário (pediatra, clínico
ou médico de família, no Brasil), que após o período de isolamento, deve avaliar as condições de retorno à atividade física.

Nos EUA, o teste de triagem de 14 elementos

Se normal, retorno gradual à atividade física

MESMO CASOS LEVES DEVEM TER AVALIAÇÃO MÉDICA PARA RETORNO ÀS ATIVIDADES!

Last Updated 09/20/2021


Source American Academy of Pediatrics

COVID19

Last Updated
09/20/2021
Source American
Academy of Pediatrics

9
05/04/2022

COVID19

Last Updated
Abbreviations: PCP: primary care physician; SOB: shortness of breath; URI: 09/20/2021
upper respiratory infection; PE: physical exam; EKG: electrocardiogram; MIS-C: Source American
multisystem inflammatory syndrome in children. Academy of Pediatrics

Exames Complementares

Fazer sempre uso racional dos exames!

Pós-operatórios de cardiopatias simples não


requerem mais que uma boa avaliação clínica, um
ECG e um ecocardiograma para liberação
desportivas.

Cardiopatias com maior complexidade podem


necessitar de outros exames, como teste
ergométrico e Holter 24h

Exames mais caros como ressonância magnética,


tomografia computadorizada e cateterismo cardíaco
devem ficar reservados para situações específicas.

No caso da COVID19, formas leves e assintomáticas


são a maioria dos casos em crianças e adolescentes,
necessitam sempre de avaliação clínica, não
necessariamente exames complementares.

CONSIDERAÇÕES
FINAIS

A prática de atividades físicas é essencial para


o bom desenvolvimento físico e mental de
crianças e adolescentes

A maioria das crianças com cardiopatia


congênita operada, podem participar de
algum tipo de atividade física

Respeitar sempre o tempo de recuperação


pós operatória de 3m para atividades
recreativas e 6m para atividades competitivas

O acometimento do coração pela COVID19 é


um fato novo, por isso ainda em estudos.

Em presença de sintomas cardiovasculares, o


retorno às atividades deve ser gradual e com
orientação pelo cardiologista.

10
05/04/2022

Obrigada!

11

Você também pode gostar