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GESTÃO de PESSOAS

As 10 novas

A
habilidades para o trabalho
As rupturas que mudarão o futuro também afetarão o desenvolvimento
de habilidades pessoais, conforme mostram Marina Gorbis e Devin Findler,
pesquisadores do Institute for the Future

A natureza do trabalho e das carreiras está protótipos de “organizações superestrutu-


fadada a alterar-se drasticamente nos próxi- radas” que vão além das formas e dos pro-
mos anos. Ao mesmo tempo que houve mu- cessos básicos a que estamos acostumados.
danças na maneira como se trabalha, nossas Esses fatos estão levando ao desenvolvi-
pesquisas sugerem, cada vez mais, que uma mento da ecologia de novas mídias e novas
nova transformação, talvez de maior mag- ferramentas de comunicação, as quais re-
nitude do que a revolução que a terceiriza- querem mais conhecimento do que saber
ção representou, pode estar tomando corpo. preparar um texto. O surgimento de máqui-
Em colaboração com o Apollo Research nas e sistemas inteligentes traz consigo um
Institute (ligado à University of Phoenix), nível de automação que, de um lado, libera
o Institute for the Future realizou uma pes- as pessoas de tarefas rotineiras e repetiti-
quisa para entender como as mudanças vas, mas, de outro, faz surgir novas tarefas.
grandes e de ruptura tendem a dar nova Finalmente, tem-se a emergência de um
forma às organizações e às habilidades no mundo conectado, no qual a interconec-
ambiente de trabalho. Algumas rupturas tividade crescente coloca a diversidade e
criativas ocorrerão, principalmente asso- a adaptabilidade no centro da vida orga-
ciadas à emergência de tecnologias de auto- nizacional. Por exemplo, o velho modelo
mação e à robótica. As pessoas mais valiosas das multinacionais que usam suas subsi-
serão aquelas capazes de encontrar o espaço diárias como canais de apoio para a matriz
onde a cooperação entre humanos e siste- não é mais viável, especialmente quando
mas automatizados pode conquistar muito Estados Unidos e Europa já não detêm o
mais do que cada um poderia por si só. monopólio sobre criação de empregos,
Novas habilidades serão necessárias para inovação e poder. Contratar mais pessoas
navegar nesse ambiente que emerge, e uma locais, em vez de enviar expatriados da
coisa é certa: as pessoas terão de se tornar matriz, é um passo na direção certa. Outro
aprendizes adaptáveis para a vida toda. é desenvolver novos meios de integrar fun-
cionários e processos locais a uma estrutu-
Marina Gorbis é direto- ra organizacional mundial e, a partir daí,
ra-executiva do Insti- FORÇAS DE RUPTURA tornar-se mais competitivo.
tute for the Future, or- Transformações radicais serão as respon- Tudo isso acontece em paralelo à trans-
ganização de pesquisa sáveis pelas mudanças previstas em termos formação demográfica profunda: o fato de
com sede na Califórnia, de habilidades. O movimento na direção de estarmos vivendo mais, que tem grande
Estados Unidos, dedi- um mundo computacional está converten- impacto sobre a natureza das carreiras e
cada a projetar o futuro. do o planeta, como um todo, em uma sobre- do aprendizado.
Devin Findler é cola- posição de sistemas programáveis. Ligado a Tendo essas forças de ruptura como
borador do Technology isso, está o uso da tecnologia social, que vem ponto de partida, dez habilidades críticas
Horizon Program, da gerando novos modos de produção e cria- para o sucesso da força de trabalho do fu-
mesma instituição. ção de valor. Já estamos vendo os primeiros turo foram identificadas.

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Pensamento
computacional

M
uitos papéis
requererão
habilida-
de de pensamen-
to computacio-
nal, a fim de dar
sentido aos dados
cujo volume au-
menta exponencial-
mente. Precisare-
Mentalidade
de design

O
2
s sensores cada vez mais baratos, as ferramen-
tas de comunicação e o poder de processamento
do mundo computacional trarão com eles novas
oportunidades de adotar uma abordagem de design no
trabalho, que nos permitirá planejar nossos ambien-
tes de modo a torná-los aptos a produzir os resultados
que desejamos.
mos de linguagem As descobertas da neurociência evidenciam como o
de programação ambiente físico molda a cognição. Fred Gage é neuro-
fácil e tecnolo- biólogo e estuda ambientes para a neurogênese, isto é, a
gia que ensine criação de novos neurônios. Ele argumenta: “Mude o am-
os fundamentos biente, mude o cérebro, mude o comportamento”.
da programação Em estudo recente, por exemplo, ele descobriu que a
dos mundos virtual altura do teto tem impacto sobre a natureza do pensa-
e físico, as quais nos per- mento e o humor da pessoa pesquisada. Os participan-
mitirão manipular nossos ambientes e tes que estavam em salas com teto mais alto reagiram
aperfeiçoar nossas interações. mais favoravelmente a palavras associadas a liberdade,
O uso de simulações será uma expertise central, e os de- como “irrestrito” ou “aberto”; aqueles em salas com teto
partamentos de recursos humanos, que hoje valorizam can- mais baixo tenderam a se descrever com palavras as-
didatos familiarizados com softwares básicos, como os do sociadas a confinamento. Identificou-se, então, que as
Microsoft Office, buscarão capacidade de análise estatística pessoas do grupo do teto mais alto foram mais eficazes
e raciocínio quantitativo. em pensamento relacional, criação de conexões e livre
No entanto, será preciso ter consciência de que mesmo os lembrança de fatos.
melhores modelos são aproximações da realidade, e não a A força de trabalho do futuro precisará, assim, reconhe-
realidade em si. Além disso, será necessário lapidar a capa- cer que tipo de pensamento cada tarefa requer e fazer os
cidade de agir na ausência de dados. devidos ajustes a seu ambiente de trabalho.

SINOPSE
l O desenvolvimento acelerado da computação liberará as pessoas de certas atividades e isso é ponto pacífico. O que muitos
ainda não se deram conta, porém, é de que o fenômeno também exigirá delas novas habilidades para realizar novas tarefas.
l Estudo do renomado Institute for the Future projeta a ascensão do pensamento computacional, do raciocínio quantitativo, da
capacidade de decidir sem dados e mais sete habilidades na lista das preferidas dos recrutadores corporativos.
l Nesse novo cenário, em um futuro não muito distante, o aprendizado, por pessoas e por organizações, deverá ser ainda mais
frequente –sobre novas mídias, novas disciplinas, novos ambientes e modos de trabalho e capacidade de interação.

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GESTÃO de PESSOAS

Gestão da
carga cognitiva
Conhecimento
de novas mídias

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explosão de mídias geradas
por usuários, incluindo vídeos,
blogs e podcasts, será completa-
mente sentida no ambiente de traba-
lho na próxima década. As apresen-
tações de slides estáticos se tornarão
obsoletas, e aumentarão as expectati-
vas sobre a habilidade das pessoas de
produzir conteúdo usando novas fer-
ramentas. A próxima geração de traba-
lhadores precisará ser capaz de “ler” e
avaliar vídeos da mesma forma como
hoje lemos e avaliamos um texto ou
uma apresentação. Também terá de
sentir-se confortável na criação e apre-
sentação de sua informação visual.

DESAFIOS PARA O RH
A fim de se preparar para as rupturas
que afetarão o trabalho nas próximas
décadas, a área de recursos humanos
deve rever seus métodos tradicionais

U
m mundo rico em fluxos de informação trará à baila a questão da so- e considerar:
brecarga cognitiva. As organizações e os funcionários serão capazes de l Enfatizar especialmente o desenvolvi-
transformar a massa de dados em vantagem apenas se puderem aprender mento de pensamento crítico, insights
a filtrá-los e focar o que é importante. e capacidade de análise.
Pense nos corretores da bolsa, que constantemente monitoram dados finan- l Integrar o conhecimento de novas mí-
ceiros e precisam reconhecer as principais mudanças sem ficar sufocados com dias aos programas de treinamento.
muitos detalhes. l Incluir aprendizado vivencial que dê
Os pesquisadores da Tufts University estão trabalhando num equipamento destaque às habilidades compor-
que mede o nível de oxigênio no sangue e o fluxo de oxigênio para o cérebro. Em tamentais, como as capacidades
sua pesquisa, um corretor de ações é solicitado a observar dados financeiros e, ao de colaborar, trabalhar em equipe,
mesmo tempo, escrever um e-mail sensível a um colega. Quanto mais envolvido perceber o ambiente social e reagir
ele está com o texto do e-mail, mais difícil é sua concentração nos dados comple- adaptativamente.
xos em tempo real. Para compensar, um equipamento simplifica a apresentação l Ampliar o alcance do aprendizado para
dos dados financeiros de acordo com o estado mental do corretor, de modo que todos os grupos etários.
ele se concentre em uma tarefa sem abandonar completamente a outra. l Integrar treinamento interdisciplinar
A próxima geração de trabalhadores terá, então, de desenvolver as próprias que dê às pessoas acesso a amplo es-
técnicas para enfrentar o problema da sobrecarga cognitiva e usar ferramentas pectro de assuntos.
que a ajudem nisso.

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habilidades para o trabalho

Transdisciplinaridade Capacidade de Inteligência


conferir sentido social

H
averá demanda crescente por
habilidades que as máquinas
não têm, como o pensamento,
que não pode ser codificado. Trata-se

M
uitos dos problemas mun- da capacidade de conferir sentido, que
diais de hoje são complexos nos ajuda a gerar conhecimento único
demais para ser soluciona- e crítico à tomada de decisão.
dos por uma área de especialização Um computador pode ser capaz de
apenas. O próximo século verá abor- derrotar um humano em uma partida
dagens transdisciplinares tomarem de xadrez, mas não tem capacidade de
o centro do palco. Já se observa isso crítica. Apesar de a computação poder

E
na emergência de novas áreas de es- ajudar as organizações a vencer em mbora estejamos assistindo aos
tudo, como a nanotecnologia, que determinado ambiente regulatório, a primeiros movimentos de pro-
combina biologia molecular, bioquí- computação ainda está longe de poder tótipos de robôs sociais e emo-
mica, química das proteínas e ou- explorar, quanto mais recomendar, a cionais, que vêm surgindo em vários
tras especialidades. Essa mudança formulação criativa de novas políticas. laboratórios de pesquisa, a capacidade
tem implicações significativas para Portanto, à medida que renegociarmos social e emocional deles ainda é mui-
o conjunto de habilidades que os tra- a divisão de tarefas entre computado- tíssimo limitada. Por uma razão sim-
balhadores do conhecimento terão res e pessoas na próxima década, a ca- ples: sentir é tão complicado quanto
de trazer às organizações. pacidade de conferir sentido emergirá conferir sentido a algo, se não mais. Os
Segundo o proeminente prognosti- como central. robôs sociais e emocionais que esta-
cador e autor Howard Rheingold, “a mos criando não conseguem ser má-
transdisciplinaridade vai além de reu­ quinas que sentem.
nir pesquisadores em equipes multi- Nem todos os profissionais da espé-
disciplinares. Significa educar pesqui- cie são socialmente inteligentes, mas
sadores que possam falar a língua de aqueles que o são se mostram capazes
muitas disciplinas –biólogos que te- de avaliar as emoções dos que estão a
nham entendimento de matemática, sua volta e de adaptar as palavras fala-
matemáticos que entendam biologia”. das, os gestos feitos e até o tom de voz
Os funcionários ideais da próxi- utilizado a essas emoções.
ma década terão a forma de um “T”, Essa, diga-se, sempre foi uma capa-
isto é, profunda compreensão de ao cidade vital para pessoas que têm de
menos um campo, mas com capaci- colaborar e construir relações de con-
dade de conversar no idioma de vá- fiança com grupos maiores em dife-
rias áreas do saber. Isso requer senso rentes ambientes –e a empresa não é
de curiosidade e desejo de continuar exceção. O QI social e emocional, de-
aprendendo sempre. Conforme o senvolvido ao longo de milênios de
tempo de vida maior promova car- vida em coletividade, continuará a
reiras múltiplas e exposição a mais ser um ativo fundamental aos seres
setores e disciplinas, será especial- humanos, oferecendo-lhes vantagem
mente importante aos trabalhadores competitiva imbatível sobre as mais
desenvolver essa qualidade. sofisticadas máquinas.

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habilidades para o trabalho

Pensamento original Competência Colaboração


e adaptativo intercultural virtual

D E
avid Autor, professor de econo- m um mundo conectado, as pes-
mia do Massachusetts Institute soas tendem a ser enviadas a
of Technology (MIT), acompa- muitas localidades, de maneira
nhou a polarização dos empregos nos que precisam ser capazes de trabalhar

A
Estados Unidos ao longo das últimas em qualquer ambiente. Isso demanda tecnologia de conexão faz com
décadas. Em particular, seu trabalho sa- habilidades linguísticas, capacidade que seja mais fácil trabalhar,
lienta a importância do que ele denomi- de adaptação e de perceber e respon- compartilhar ideias e ser produ-
na “adaptabilidade situacional”, que é a der a novos contextos. tivo apesar da separação física. Mas o
capacidade de responder a circunstân- A competência intercultural se tor- ambiente de trabalho virtual também
cias únicas, inesperadas no momento. nará importante para todos que traba- exige um conjunto de competências.
Autor entende que as oportunida- lham, já que as organizações veem a Como líderes de uma equipe virtual, os
des estão diminuindo em empregos diversidade, cada vez mais, como con- indivíduos têm de desenvolver estraté-
que exigem habilidades medianas, em dutora da inovação. Construir e ge- gias para engajar e motivar um grupo
grande parte por uma combinação de renciar a diversidade, portanto, cons- disperso. Para estimularem a partici-
automação e produção em mercados tituirá uma competência central na pação e a motivação, podem precisar
externos. De outro lado, as oportuni- próxima década. fazer com que plataformas colaborati-
dades estão sendo concentradas em Para serem bem-sucedidos em equi- vas incluam características típicas dos
ocupações técnicas e gerenciais que pes diversificadas, os funcionários preci- games, tais como feedback imediato,
exigem alta capacidade e oferecem sarão ser capazes de identificar e comu- objetivos claros e desafios sequenciais
salários substanciais, bem como em nicar pontos de conexão (metas comuns, em estágios.
funções que requerem menos capaci- prioridades, valores) que transcendam Membros de equipes virtuais também
dades, como as dos setores de restau- suas diferenças e lhes permitam cons- devem tornar-se adeptos de ambien-
rantes e de cuidados pessoais. truir relacionamentos e trabalhar juntos tes que promovam a produtividade e o
Os empregos da ponta mais alta en- eficazmente. Os empregadores, por sua bem-estar. Um espaço que ofereça possi-
volvem tarefas abstratas; os de nível vez, necessitarão ser melhores em atrair bilidade de socialização ajuda a superar
mais baixo, tarefas manuais –mas indivíduos diferentes. uma potencial sensação de isolamen-
ambos requerem pensamento origi- to, seja um espaço físico ou virtual. Um
nal e adaptabilidade, capacidades que bom exemplo deste é o Yammer, micro-
serão remuneradas como premium na blog focado em negócios que só pode ser
próxima década. acessado por indivíduos com o mesmo
domínio corporativo.
Se as pessoas têm de reavaliar suas
habilidades nessa área e ir atrás do que
falta, os profissionais de RH devem re-
considerar seus métodos de identificar,
selecionar e desenvolver talentos.

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