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Artigo

O papel dos gestores


atuais para sobreviver
num ambiente VUCA
O objetivo deste artigo é refletir sucintamente sobre velocidade e com um nível de disrupção
as profundas e rápidas mudanças que estão ocorrendo nunca antes experimentado pelos seres
humanos de qualquer época - “um tsuna-
no nosso mundo e, mais profundamente, sugerir um mi hiper-tecnológico”.
modelo para que os indivíduos que dele fazem parte e Imprevisível: os resultados das nossas
as organizações que nele operam, possam liderar uma ações são cada vez menos previsíveis; os
transformação e uma mudança de paradigma, nossos modelos mentais, com base na ex-
periência anterior, deixaram de ser úteis
co-criando essa nova realidade. na avaliação do que acontece à nossa volta
e não ajudam a decidir o melhor curso de
ação a seguir - “80% das profissões do futu-
ro não existem na atualidade.”
Complexo: a interligação e interdepen-
ssim como a “steam en- trial (Revolução 4.0), que tem uma série de dência entre culturas, países e economias

A
gine” (máquina a vapor) mudanças drásticas que estão impactando é impossível de abarcar e produz conse-
levou à revolução indus- profundamente o nosso mundo. Estamos quências sociais, económicas, políticas e
trial do final de S. XVIII, imersos num ambiente em constante mu- culturais que não podemos antecipar.
o “STEAM” (acrónimo dança e, a cada dia que passa, torna-se um Ambíguo: o mundo não é binário. Não
em inglês de ciência, pouco mais VUCA (Volatile. Uncertain, existem respostas certas ou erradas. Na
tecnologia, engenharia, artes e matemáti- Complex, Ambiguos). maioria das vezes, a melhor resposta é
ca) está lançando a quarta revolução indus- Volátil: as mudanças ocorrem a uma “depende”. Há tantas opções disponí-

40 RHMAGAZINE // Maio Junho 2017


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“LET VOLATILITY LEAD Liderar a transformação


TO VISION, UNCERTAINTY da cultura organizacional
LEAD TO UNDERSTANDING, A mudança da cultura organizacional deve ser holística e não pode ser liderada
COMPLEXITY LEAD TO exclusivamente desde a alta direção, tendo que ser assegurada por toda a organização. É
essencial promover um fluxo contínuo de conhecimento e de feedback da direção para as
CLARITY AND AMBIGUITY equipas (top-down) e das equipas para a direção (bottom-up). Este efeito aparentemente
LEAD TO AGILITY. THIS IS simples de implementar, é terrivelmente complicado e requer uma série de premissas:

THE AGE WHEN EITHER


YOU INNOVATE OR DIE” Criar equipas cross funcionais com membros de diferentes departamentos da empresa para
alcançar um objetivo comum, da forma mais eficiente e eficaz possível. Estas equipas (X-Teams),
devem funcionar com elevado desempenho muito rapidamente, sendo vital que os critérios
para a sua formação equilibrem papéis e estilos cognitivos que sejam capazes de, como dizia
Deborah Ancona, desenvolver os quatro elementos básicos da liderança: Visioning (Definir
um propósito); Relating (Conetar dentro e fora da equipa e da organização), Inventing (Criar
novos processos, novas disrupções e novos modelos de negócios para alcançar o propósito) e
veis que as diferenças estão nos matizes. Sensemaking (Encontrar o sentido no ambiente em que operam, sem preconceitos).
VUCA não é uma realidade que pode ser A partir da alta direção, migrar de um “Fixed Minset”, baseado no medo da opinião
combatida ou que vá desaparecer. É o novo dos outros e a proteção do status quo, para um “Learning Mindset”, destinado a eliminar
quadro de referência em que convivem in- preconceitos e aberto ao feedback, abraçando e permitindo os erros como uma forma de
divíduos e organizações. É uma situação aprendizagem. Isto tem que permitir que o “Locus of Leadership” se transfira da hierarquia
que nos deixa inseguros, que não pode tradicional para as equipas.
obter respostas das estruturas rígidas que Em todos os níveis, abraçar a tecnologia como um motor (driver) de mudança disruptiva.
formam a maioria das organizações. Num Neste sentido, é necessário alfabetizar digitalmente a empresa a todos os níveis, permeabilizar-
contexto em transformação, a agilidade e se com novas tecnologias disruptivas, novos modelos de negócio e permitir-se alguma
a flexibilidade tornam-se competências- divergência, revisitando a “viagem do cliente” (customer experience), para finalmente assentar
-chave, mas são insuficientes. E, apesar as ideias num plano estratégico adaptado à realidade dos produtos e serviços em que a
de não podermos definir agora o que de- empresa pode agregar valor.
vemos fazer para alcançar os nossos obje- Neste processo de transformação organizacional, o papel do CHRO (Chief Human Resources
tivos, possuir valores sólidos permite-nos Officer) é fundamental às funções tradicionais (buscar, manter e motivar talento e aumentar as
predizer que as nossas ações estarão em competências das equipas), junta-se a missão de evangelização. Além disso, o CHRO também
consonância com esses princípios. Nas pa- será convidado a participar na transformação, não só através das equipas cross funcionais, mas
lavras do Sr. Vijay Rai “Let Volatility lead também na adopção de novas tecnologias na GRH e gerando mesmo novas fontes de receita.
to Vision, Uncertainty lead to Understan- Eventualmente assistiremos à transformação do CRHO em CPO (Chief People Officer), retirando
ding, Complexity lead to Clarity and Am- definitivamente o estigma associado ao conceito de “recurso”.
biguity lead to Agility. This is the age when
either you innovate or die.“

MUDANÇA DE PARADIGMA
Gestores e organizações não podem con- necessários nesse contexto sócio-económi-
tinuar a fazer o que sempre fizeram até co. Por outro lado, a organização atual pre-
agora para ter sucesso e competir de for- cisa modificar a sua estratégia à medida que
ma eficaz. Nem sequer serve fazer o mes- os acontecimentos surgem, sendo capaz de
Ruben Llop Lluis Rosés
AUTORES

mo, mas melhor. Num ambiente diferente avaliar situações de forma rápida e tomar
e em constante mudança, há que fazer algo decisões ajustadas às mudanças. Num am-
completamente distinto. A alta direção das biente onde a agilidade e criatividade para
organizações do S. XX baseou-se em plane- se adaptar as mudanças tecnológicas sus-
ar a longo prazo, nas relações “comando e ceptíveis de gerar disrupção no modelo de
controle” e numa forte organização hierár- negócio, uma estrutura em rede é muito
quica com cargos e funções bem definidas, mais eficiente do que uma estrutura hie- Concha Mayo Salvador Araújo
elementos que muito provavelmente, eram rárquica. Em vez de fazer as coisas de uma IFTL-BLUE ONION ISCAP-IPP, IFTL

Saiba mais em: www.inforh.pt // RHMAGAZINE 41


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Conclusões
Se a gestão foi a maneira de dirigir as empresas do S. XX, a liderança parece mais
adequada para gerir a mudança, não sendo as duas incompatíveis no século XXI.
EM VEZ DE FAZER AS
COISAS DE UMA MANEIRA
CORRETA, FAZ-SE O Kotter em “Accelerate” apresenta um
modelo de organização dupla: 1) uma
CORRETO DA MELHOR estrutura hierárquica com a gestão bem
estruturada de processos necessários para
FORMA POSSÍVEL produzir resultados fiáveis, eficientes e
escalonáveis; e 2) uma estrutura em rede,
ou “redárquica”, mais ágil que incentive e
lidere as mudanças. Nas organizações do S.
XXI a função RH não pode resumir-se a uma
maneira correta, faz-se o correto da melhor atividade de suporte. Para transformar o
forma possível dadas as circunstâncias, pre- GRH num CPO é necessário muito mais do
cisando a organização do S. XXI mais dos que uma mudança de título ou posição no organograma. A organização atual deve incorporar
a liderança transformacional e o humanismo à alta direção, e integrá-los na visão e estratégia.
talentos de um líder do que dos talentos
Deve possuir uma cultura que promova a mudança e em que os centros de poder estejam
de um gestor. O líder promove a cultura de descentralizados, de modo que o tempo de reação e a resposta ao ambiente seja mais ágil.
mudança para que pessoas e organizações Tem de antecipar os acontecimentos e lidera-los a partir do futuro emergente, co-criando com
estejam preparadas para adaptar-se a “esse as suas equipas, inovando, encorajando o trabalho em rede e formando equipas ad-hoc de
algo” indefinido que está por ocorrer. elevado desempenho de acordo com as circunstâncias.
Contudo, não é algo que uma pessoa
No Institute For Transformational Leadership (IFTL) estamos convictos que a transformação
ou departamento possam realizar de for-
cultural só é possível com a participação ativa da alta direção e do compromisso individual.
ma isolada. Toda a organização deve es- Só então é possível criar equipas de elevado desempenho que proporcionam excelentes
tar comprometida com esta nova maneira resultados ao trabalhar projetos e processos vitais para a organização. Só através da criação
de agir. A organização precisa de equipas de um ambiente de segurança psicológica (um espaço onde ninguém é melhor que ninguém,
autónomas que podem conduzir projetos em que todos os membros são tratados com empatia, humildade, sentindo respeito pelo
estratégicos, mais além das suas áreas fun- conhecimento e as habilidades dos outros). Só acolhendo a diversidade e aceitando o erro se
cionais, tomando decisões rápidas, coe- podem criar equipas capazes de priorizar objetivos coletivos face aos pessoais, atingindo desta
rentes com a estratégia, a visão e os valores forma resultados extraordinários que influenciam ativamente a transformação da realidade,
da organização. co-criando um futuro melhor e distinto.

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