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o design como

potência para
transições
As tendências de Design Thinking
para 2022 e além

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A partir do desejo de imaginar o futuro pelo design, uma conversa
entre Marcio Leite e Coral Michelin foi organizada pela Echos em
dezembro de 2021.

As perguntas e provocações que organizam essa publicação


direcionaram a discussão naquela ocasião, e refletem algumas
tendências identificadas para 2022 e além. Essas questões
explicitam uma visão influenciada pela acelerada transformação
digital, consequência do contexto padêmico.

Esse ebook é fruto daquela conversa. Esperamos que seja uma


inspiração para você projetar um futuro com Design Thinking ;)

Marcio Leite Coral Michelin

Designer Estratégico | Designer Ecossistêmica |


professor | palestrante | Estrategista para inovação |
autor do livro Geração Pensadora sistêmica |
Pixelada Pesquisadora em design
1 futuro, tecnologia
& pensar design

2 mudanças nas práticas


de design

3 design thinking &


cultura de trabalho

4 design thinking,
gestão & liderança

5 design thinking
& inovação
1 futuro, tecnologia & pensar design

Considerando toda tecnologia que irá


nos cercar nos próximos anos, como o
pensamento de design pode trazer
métodos, abordagens e processos para
times e equipes de não-designers?
Impacto e interdependência Transdisciplinaridade e
pensamento sistêmico
Algumas perguntas deveriam vir a mente, quando
tratamos da tecnologia: quem usará a tecnologia?
O segundo ponto a respeito do Design Thinking é sua
Para quem estão sendo projetados os artefatos?
capacidade de operar em transdisciplinaridade e
Para quais contextos e situações? Para quem e
fomentar a visão sistêmica para gerar inovação.
para quê estamos desenvolvendo as novas
soluções?
Transdiciplinaridade: equipes de projeto compostas
por profissionais com diferentes expertises e de
Por exemplo, num país com um contexto como o
campos diversos do conhecimento são muito mais
do Brasil, o acesso à tecnologia é ínfimo e a língua
produtivas e inovadoras.
inglesa é restrita a alguns grupos privilegiados
que têm acesso a uma boa educação. Contudo,
Ezio Manzini, em seu livro Design Quando todos
seguimos dando nomes em inglês para produtos,
Fazem Design, explica que a capacidade de projetar é
serviços e funcionalidades. Acabamos
inata ao ser humano, mas é o designer profissional
restringindo, ao invés de democratizar, o uso da
que escolhe lapidar e desenvolvê-la com diferentes
tecnologia.
práticas e ferramentas. As equipes de projeto devem
contar com pelo menos um designer especialista, mas
Como designers — especialmente nós, que
o restante, quanto mais diverso, melhor. É a
atuamos com Design Thinking —, a pergunta que
individualidade aliada à coletividade para a inovação!
temos de nos fazer é: em uma realidade
Isso significa que cabe ao designer especialista
brasileira de analfabetos funcionais e digitais,
combinar e conectar pessoas e conhecimentos
como podemos endereçar respostas e soluções
diversos, estimulando a transdisciplinaridade.
para tal contexto, usando da tecnologia?

Pensamento sistêmico: traz a lente necessária para


Ou seja, primeiro existe um trabalho subjetivo
compreendermos a aceleração tecnológica que
do/a projetista, entendendo seu próprio impacto
estamos vivendo hoje, por gerar visões de sistemas
no mundo: as escolhas que nós fazemos, como
complexos dentro do design.
designers, reverberam no todo e ajudam a moldar
o mundo em que vivemos. Isso é
Precisamos entender que “independência” é um
interdependência: minhas ações individuais
conceito fabricado inexistente na Natureza. A vida é
reverberam no todo.
feita de uma teia de interconexões e
interdependência. Ou seja, no pensamento sistêmico,
Depois desse ponto esclarecido, podemos pensar
tudo está invariavelmente conectado. Dentro dessa
em como incluir os não-designers em equipes de
visão, a individualidade só faz sentido se combinada a
projetos voltados à criação digital e tecnológica.
outras individualidades para compor um coletivo
Caso contrário, estaremos formando times cada
diverso e complementar.
vez mais múltiplos, porém destituídos da
consciência do impacto social que causam com
Somos dependentes de outros seres e de todo
suas (supostas) soluções.
ecossistema ao nosso redor, para mantermos nossas
dinâmicas de vida. Dependemos inclusive de outros
E, neste sentido dos times multidisciplinares,
ecossistemas, se considerarmos o mundo globalizado
temos muito o que aportar, a partir do Design! O
como o que vivemos. Alimentação, roupas,
Codesign e o Design Centrado no Humano são
tecnologia, insumos, tudo o que nos cerca é, de
duas abordagens poderosas que têm as pessoas
alguma maneira, produzido em sua totalidade ou em
como foco projetual e que, por conta disso,
partes, por outros países e nações. Comunidades
podem engajar diferentes atores em um processo
distantes que são impactadas por nosso consumo, ou
colaborativo, por exemplo.
nossas criações. Estamos absolutamente conectados
com o todo e com todos.

= EU ISOLADO

= EU COLETIVO = EU INTERDEPENDENTE
2 mudanças nas práticas de design

Qual a grande diferença do fazer


design para o pensar design? O que
o pensamento crítico, reflexivo e
sistêmico pode trazer para times e
profissionais da era digital?
Pensamento reflexivo
e capacidade crítica

Fazer design e pensar design são dois lados da


mesma moeda. A prática projetual relevante
pressupõe o pensamento crítico e também o
sustenta, uma vez que a teoria alimenta a prática e
vice-versa.

Sofremos um déficit no Brasil, consequência do


ensino tecnicista imposto para formar mão de obra
barata em territórios “subdesenvolvidos”, como o
nosso. Fomos paulatinamente desestimulados a
pensar e refletir criticamente. Disciplinas como
Filosofia, História e Sociologia, fundamentais para
estimular o pensamento crítico, são tiradas dos
currículos acadêmicos e taxadas como saberes
secundários, diante do que o mercado exige. Dessa
forma, a crítica é mal vista, e não é culturalmente
bem aceita por nossos pares, em nossos meios de
trabalho.
Marcas e empresas
conscientes, sociais e políticas
O que ocorre como consequência dessa realidade é
Uma das vantagens que o pensamento crítico
a simples repetição de padrões e modelos. Quando
nos dá é a clareza a respeito do presente e da
agimos no automático, sem trocas assertivas, sem
realidade que nos cerca: uma compreensão mais
críticas e sem reflexão, estamos despindo o mundo
lúcida sobre o encadeamento dos fenômenos
de capacidade inovadora. Tendemos a reprisar os
que nos trouxeram até aqui, ou seja, sobre as
mesmos erros. Ou seja, se somos formados apenas
consequências presentes das escolhas passadas.
para seguir e replicar modelos, e não para criticá-los,
cria-los e recriá-los. Acaba sendo um árduo desafio,
E justamente agora vivemos um momento de
senão impossível, gerarmos o novo.
despertar de consciência acerca do que
estivemos fazendo de errado no passado, que
Por isso, o pensamento crítico, aplicado ao design,
culminou nesse ponto de colapso climático,
nos prepara a conceber a crítica como matéria
democrático, social etc. É urgente refletirmos
essencial para a construção do novo. A vantagem do
sobre os modelos que estivemos adotando e a
design, nesse caminho, tem a ver com o processo
lógica “business-as-usual” a eles atrelada.
iterativo: a constante experimentação, o erro
frequente, nos leva mais rapidamente ao acerto à
Dentro das tentativas do mercado de responder
solução.
a essa urgência, vemos o crescimento da pauta
ASG. A sigla é acrônimo de Ambiental, Social e
Isso também é capacidade crítica: tentar, testar,
Governança, e surge refletindo o desejo da
reconhecer e trabalhar a falha, aprender pela
sociedade por sustentabilidade. Ainda que os
observação, exercitar a empatia, colaborar
esforços corporativos dentro do ASG sejam
horizontalmente quebrando o apego do ego à
aquém do esperado, esse é um reflexo de uma
autoria — tudo isso faz parte do processo do design.
consciência mais desperta, isto é, de um
pensamento mais reflexivo e, portanto, crítico.

O próximo passo — um que o Design Thinking


pode ajudar — é que as organizações entendam
e introjetem a dimensão do impacto positivo
como sendo indispensável para a sobrevivência
de empresas, negócios e, ao fim, da espécie
humana.
3 design thinking & cultura de trabalho

Como o design thinking pode


transformar a cultura de trabalho de
empresas que estão na transição para
modelos de negócio digital?
Como a prática do design muda as
relações internas de uma corporação?
Novos modelos de trabalho

O meio e soluções digitais nos trazem a necessidade de


iterar — projetar, testar, corrigir, testar de novo, ajustar,
recursivamente — em uma velocidade nunca antes vista.

O modelo Ágil, herdado da Tecnologia da Informação,


mas em muito já modificado pela interação com outras
disciplinas e “modus operandis”, tem se infiltrado nas
mais diversas organizações, exigindo novas
configurações estruturais. As estruturas organizacionais
que absorvem a mentalidade ágil buscam menor
verticalidade e hierarquia, maior fluidez, distribuição e
horizontalidade.

Modelos com essa nova natureza são mais eficientes, nos


quais atores constroem e trocam informação para a
realização de tarefas com base em propósitos claros e
compartilhados.

Claro que cada empresa terá a sua própria realidade e a


sua forma única de interpretar e adotar tais preceitos.
Empresas que fomentam a diversidade têm maior
pluralidade de visões e modos de conceber estruturas e
soluções. Isto pois a diversidade radical entende que não
existe universalidade, ou seja, não existe um modelo que
sirva a todas organizações, assim como não existe uma
única forma de ser no mundo: cada indivíduo é único,
assim como cada empresa também é única.

Em oposição à visão dominante — patriarcal,


antropocêntrica e eurocêntrica — a visão da diversidade
— decolonial, biocêntrica e plural — admite que não há
uma resposta única, nem um modelo único de trabalho,
abrindo caminho para possibilidades híbridas,
participativas, distribuídas e horizontais, como a
sociocracia e a halocracia.

Para trabalhar com esses modelos descentralizados e


distribuídos com foco em desafios comuns, as abordagens e
pensamento do Design permitem testar diferentes
possibilidades, considerando
contextos e realidades diversos, auxiliando na desconstrução
da mentalidade limitante.

É necessária uma ressalva, contudo, em relação ao Ágil:


quando este é praticado sem que exista a ele atrelado o já
mencionado pensamento crítico, o resultado pode ser
catastrófico, em termos sistêmicos: a pressão pela agilidade,
pela velocidade e pelos resultados rápidos pode ter resultados
impensados que em nada contribuem para a transição do
mundo rumo à sustentabilidade e ao Bem Viver.
4 design thinking, gestão & liderança

Qual o lugar do design na liderança de


times? Como o design thinking poderá
ajudar níveis de gestão de negócios no
futuro que se aproxima?
Lideres
facilitadores

Designers têm a possibilidade de ser


mediadores de processos, usando recursos e
linguagem próprios para esse fim. O já
conhecido “facilitador” das dinâmicas de Design
Thinking é justamente o profissional apto a
fazer esse papel de mediação.

O designer, então, quando treinado na


abordagem centrada no humano, é habilitado a
fazer pontes entre diferentes interlocutores,
usando sobretudo a escuta empática. Por meio
desse tipo de escuta atenta e afetiva, o
projetista coloca a dor do outro no foco do
processo projetual.

Nisto, transformam-se o discurso e o resultado


do projeto: enquanto o discurso se volta para
compreender, interpretar e traduzir sua dor em
requisitos projetuais; o resultado se torna o
espelho dessa dor, buscando solucioná-la. É
uma visão de dois lados, que media o desejo da
organização com a necessidade da audiência
pretendida.

Desse modo, lideranças treinadas no Design


Thinking podem ser facilitadoras que
direcionam a organização na solução das dores
reais de seus clientes.

Além disso, um “líder designer”, ao usar


abordagens e recursos próprios, tira as pessoas
da organização do automatismo e as provoca a
experimentar.

Imbuído do pensamento sistêmico, provoca os


envolvidos no processo a refletir sobre como as
coisas estão conectadas e, consequentemente,
como o resultado é afetado pelo pelo percurso
projetual, agora voltado para o outro. Ou
melhor, para a pluralidade que é este “outro”.

Tendo clareza sobre o outro e sobre o processo


necessário entre identificar e solucionar sua
dor, consegue propor transições para novos
modelos transformadores.
5 design thinking & inovação

O mundo está em transformação, escassez de


recursos, uma nova economia emerge… um
mundo antigo está morrendo e um mundo
novo ainda não nasceu.
Como o design thinking pode trazer novas
visões de futuros, mais sustentáveis e
colaborativos?
Alfredo Jaar, Sesc Pompeia. Novembro 2021. https://alfredojaar.net/ Metaverso. https://about.facebook.com/meta/

O mundo em novas dimensões

Assim como as camadas sedimentares geológicas O interessante de observarmos é que o Antropoceno


guardam o passado do planeta, as futuras guarda em seus registros históricos para o futuro, não
gerações serão capazes de ver, gravado na terra, apenas camadas geológicas alteradas, como também
tudo que estamos vivendo (e causando) hoje. registros virtuais, dados e imagens — aquilo que compõe
a nossa noosfera digital.
A consequência do nosso presente será o impacto
a perdurar por milhares de anos na superfície Nesse contexto, o design pode contribuir com
terrena. Se nos damos conta dessa dimensão ferramentas para que pessoas e instituições aprendam a
temporal, passamos a entender que não existem exercitar hoje a construção dos futuros desejáveis (e
respostas rápidas ou a curto prazo, para os evitar indesejáveis), com o objetivo de projetar uma
problemas que estamos causado hoje. realidade possível e ao mesmo tempo positiva.

Modern Fossil. http://www.heartlessmachine.com/modern-fossils

Plastic Ocean. https://plasticoceans.org/


Referências &
recomendações de conteúdo

Design Design, When Design for the


Strategico Everybody Designs pluriverse
Francesco Zurlo Ezio manzini Arturo Escobar

Zurlo, Francesco. Design Strategico. In: XXI Manzini distingue entre design difuso Uma nova visão da teoria e prática do
Secolo, vol. IV, Gli spazi e le arti. Roma: (executado por todos) e design especializado design que visa canalizar a capacidade de
Enciclopedia Treccani. 2010. (executado por aqueles que foram treinados fazer mundo do design para maneiras de
Disponível em: como designers) e descreve como eles ser e fazer que estão profundamente
http://www.treccani.it/enciclopedia/designst interagem. Ele mapeia o que os especialistas em sintonizados com a justiça e a Terra.
rategico_(XXIecolo). Acesso em 30 de abril de Escobar mostra como a reconfiguração
design podem fazer para desencadear e apoiar
2014. das práticas de design atuais pode levar à
mudanças sociais significativas, com foco em criação de ordens sociais mais justas e
formas emergentes de colaboração. sustentáveis.

Teoria U O livro Tibetano dos mortos O Tao da física


C. Otto Scharmer W. Y. Evans-Wentz Fritjof Capra
Como liderar pela percepção e realização do Uma coleção de fragmentos de textos Uma Análise Dos Paralelos Entre A Física
futuro emergente. Em uma época de inúmeros tibetanos religiosos. Aborda as perspectivas Moderna E Misticismo Oriental. Obra sobre o
fracassos institucionais, uma nova budistas tibetanas sobre a morte e a novo paradigma científico, por um dos maiores
consciência aliada a uma capacidade peculiar experiência da morte, os estados alucinatórios pensadores sistêmicos do mundo. A visão que a
de liderança coletiva torna-se requisito de transição (ou Bardo) entre vidas e o ciência moderna tem do universo físico, bem
essencial de sobrevivência.Inovador e processo de renascimento. Um guia dos como a da mística oriental, estão envolvidos
reflexivo, este livro nos convida a ver o mundo fenômenos do reino do Bardo, esse estado de numa contínua dança cósmica, formando um
sob uma ótica nova e fornece elementos para existência que continua por 49 dias após a sistema de componentes inseparáveis,
o desenvolvimento de uma liderança morte até a próxima reencarnação. correlacionados e em constante movimento, do
revolucionária.  qual somos parte integrante.

link da playlist link youtube


Escola Design Thinking
Innovation Lab

A Echos é um laboratório de inovação


que acredita no poder do design de
criar futuros desejáveis.

Somos uma escola com a ambição de desenvolver


novas lideranças mundiais em design. A Escola
Design Thinking é um espaço de aprendizagem
pioneiro em design thinking no Brasil, fundada em
2012 pela Echos – laboratório independente e
global de inovação. Vem contribuindo com a
formação da nova geração de inovadores no Brasil
e no Mundo, impactando mais de 40 mil pessoas.

A escola nasceu a partir de um movimento, de um


grupo de pessoas inquietas e insatisfeitas com os
modelos tradicionais de educação com o objetivo
de elevar a qualidade da aprendizagem, assim
como do design e inovação no Brasil.

A Escola Design Thinking é mais que uma escola, é


um novo tipo de aprendizagem baseada na prática
onde não temos todas as respostas, mas muitas
perguntas.

Um movimento na direção de uma sociedade mais


inclusiva, mais humana e em constante
transformação. Um novo espaço de aprendizagem
para preparar indivíduos e organizações a
enfrentar os desafios mais complexos de uma
sociedade em transição. Entendemos o que o
design é o veículo para gerar impacto positivo.
somos um laboratório
de inovação global

Apresenta ferramentas e Consultoria que ajuda Aceleração de negócios e


mindset de inovação para organizações em desafios oportunidades pela lente
pessoas e organizações. complexos de design e do design e da inovação.
inovação.
nosso impacto

+40k +150
pessoas de diferentes organizações projetos de inovação em estratégia,
desenvolveram o mindset de negócios, design e cultura de
inovação impulsionado pelo design produtos e serviços.
por meio de nossas plataformas
nosso oi@echos.cc
contato 11 3476 2300

nossos
cursos https://escoladesignthinking.echos.cc/

sobre a A Echos é um laboratório de inovação pioneiro em ensino e


echos consultoria de inovação e Design no Brasil e no mundo. Única
organização de mercado na América Latina reconhecida pelo
GDTA – Global Design Thinking Alliance e parceiro do Google
News Initiative Asia Pacific. Acreditamos no poder do Design
para transformar realidades e construir futuros desejáveis.

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