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Viva Cristo Rei!

Alexandre Pereira Pinheiro

A festa do Natal de Nosso Salvador e Redentor, o Filho de Deus encarnado, Jesus Cristo,
é ocasião propícia para se meditar sobre vários mistérios de nossa santa religião. Não deve o
católico descurar de refletir acerca do mistério da Encarnação, por exemplo. Mas além desse
elevado mistério, outros há que também se podem meditar com proveito. Uma das importantes
lições que podemos tirar dos fatos que cercaram Seu nascimento diz respeito ao Seu Reinado.

Jesus foi adorado pelos Reis Magos que lhe trouxeram ouro, incenso e mirra. São Mateus
(II, 11) nos diz:

“E, entrando na casa, encontraram o menino com Maria, sua mãe e, prostrando-se, o
adoraram; e, abrindo os seus tesouros, lhe ofereceram presentes (de) ouro, incenso e
mirra”.

São Gregório Magno tece o seguinte comentário acerca dessa passagem:

“Isto também pode significar outra coisa, entendendo-se pelo ouro a sabedoria, segundo a frase
de Salomão: ”Tesouro apetecível repousará no boca do sábio” (Prov 21,20); pelo incenso que se
queima diante de Deus, a virtude da oração, conforme o versículo de Davi: "Suba direita a ti a
minha oração, como incenso” (Sal 140, 2), e pela mirra a mortificação da carne. Oferecemos,
pois, ouro a este novo Rei, se resplandecemos diante dele com a luz da sabedoria; o incenso, se
com nossas orações exalamos em sua presença um odor suave; e a mirra se com a abstinência
mortificamos os apetites da sensualidade. (São Tomás de Aquino, Catena Aurea, Wipf & Stock
Publishers, 2005, Vol I, parte I, p. 76-77).

Da rica simbologia que nos apresenta a cena da visitação dos reis magos, podemos tirar,
então, a seguinte conclusão: ao oferecer incenso como presente a Jesus, os reis faziam sua
profissão de fé na divindade do Menino ali deitado, ao passo que o ouro ali oferecido comprova a
certeza dos reis de que aquele era o Rei dos Reis.

Nosso Senhor, então, é Rei. Essa frase aparentemente simples tem conseqüências
incomensuráveis, e nisso se vê claramente a mão de Deus e a origem divina da Igreja Católica,
que tira uma infinidade de sublimes conclusões de uma proposição, à primeira vista, tão simples.

Hoje, muitos católicos podem até afirmar que Jesus é Rei, mas quantos não negam as
consequência práticas desse reinado de Nosso Senhor?

O Cardel Pie disse que muitos, hoje, entregam o incenso a Deus, mas não o ouro, ou seja,
não o reconhecem como Rei. “[E] o papa São Gregório, mais enérgico do que o Syllabus, vos
inflige a nota de heresia, se vós sois daqueles que, fazendo-se um dever o oferecer a Jesus o
incenso, não querem acrescentar a esse oferecimento o ouro” (Pe. Theotime de Saint Just, La
Royauté Sociale de N.S. Jesus-Christ, reimpressão, Editions Saint-Remi).
É óbvio que o Reinado social de Jesus não guarda semelhança com o delírio de construir
um paraíso terrestre. Como veremos adiante, dizer que Jesus é Rei, e que este reino é social,
significa simplesmente afirmar que tudo está submetido a Jesus, não somente aquilo que está na
esfera particular de cada um de nós, mas também o que se encontra na esfera pública, na vida
política da sociedade civil.

O reinado de Jesus, de fato, se estende a todos os homens, como nos ensina o Papa Leão
XIII, citado por Pio XI na Encíclica Quas Primas:

“15 (...) O império de Cristo se estende não só sobre os povos católicos e sobre aqueles que,
tendo recebido o batismo, pertencem por direito à Igreja, ainda que o erro os tenha extraviado ou
o cisma os separe da caridade, mas também compreende a todos quantos não participam da fé
cristã, de sorte que sob a potestade de Jesus se encontra todo o gênero humano”.

Houve um tempo, disse o Papa Leão XIII na Encílica Immortale Dei, que a filosofia do
evangelho guiava todas as atividades das nações ocidentais:

“28. Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a
influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os
costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a religião
instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em
toda parte era florescente, graças ao favor dos príncipes e à proteção legítima dos magistrados.
Então o sacerdócio e o império estavam ligados em si por uma feliz concórdia e pela permuta
amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda
expectativa, frutos cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros
documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer”.

Isso nada mais foi do que um reconhecimento prático de que Cristo é o Rei de todas as
coisas, de todas as pessoas, de todos os povos e de todas as nações.

Muitos católicos há que olvidaram ou, o que é pior, rejeitaram o reinado social de Nosso
Senhor. E rejeitar Nosso Senhor depois de tê-lo conhecido é um crime gravíssimo, como assevere
o Papa Leão XIII na Encíclica Tametsi:

“3. O maior de todos os infortúnios é nunca ter conhecido Jesus Cristo; e, contudo, quem se
encontra nesse estado é livre do pecado de obstinação e ingratidão. Mas tê-lo conhecido
primeiramente, para depois negá-lo ou esquecê-lo é um crime tão repugnante que parece ser
impossível a qualquer homem cometê-lo. Pois Cristo é a fonte de todo bem.”

E, contudo, os homens o cometeram e ainda o cometem. "Não serviremos!", repetem com


Lúcifer. “A recusa de servir a Deus foi o hino de guerra sob o qual Satanás reuniu seus
revolucionários entre os anjos para criar uma violenta guerra contra Deus (...)” (Pe. Vincent
Miceli, The Roots of Violence, 1991, Roman Catholic Books, p. 9).

A atitude de praticamente todos os Estados modernos, nascidos dos princípios liberais da


Revolução Francesa, foi descrita por Leão XIII, naImmortale Dei:
“32. Destarte, como se vê, o Estado não é outra coisa mais senão a multidão soberana e que se
governa por si mesma e desde que o povo é considerado a fonte de todo o direito e de todo o
poder, segue-se que o Estado não se julga jungido a nenhuma obrigação para com Deus, não
professa oficialmente nenhuma religião, não é obrigado a perquirir qual é a única verdadeira entre
todas, nem a preferir uma às outras, nem a favorecer uma principalmente; mas a todas deve
atribuir a igualdade em direito, com este fim apenas, de impedi-las de perturbarem a ordem
pública”.

Esse é o Estado laico.

A forma insidiosa por meio da qual se tenta destruir o Reinado de Nosso Senhor, muitas
vezes sem atacá-lo explicitamente, parece ser uma prova clara de que a mão do demônio está por
trás dessa laicização do Estado, guiando as ações dos malfeitores. Mas o problema não reside
apenas nisso.

Os próprios membros da Igreja têm culpa - direta ou indireta - bem grande pelo deplorável
estado em que se encontra, hoje, a nossa religião.

O Pe. Robet Mader escrevia mais de 60 anos atrás:

“O catolicismo contemporâneo é cauteloso e envergonhado. Chamam isso de engenhoso. Na


verdade, é covardia. Muitos daqueles que deveriam carregar avante a ‘tocha da verdade’ com
fervor apostólico a escondem (...). Como Pio X disse uma vez, eles tratam a verdade ‘como
contrabandistas na fronteira’, carregando os fundamentos do Catolicimo sob suas capas. Querem
ajudar na reconstrução de Jerusalém, mas medrosamente escondem a pedra de contrução em
seus bolsos”. (Pe. Robert Mader, Cross and Crown, 1999, Sarto House, p. 49).

Isso deve mudar, nos diz o Pe. Mader. Como?

Adoremos e cantemos publicamente a Cruz de Nosso Senhor! Proclamemos a todos o


triunfo da Cruz!

São Luís de Montfort nos ensinou como cantar este inefável triunfo: “Chrétiens chantons à
haute voix, Vive Jésus, vive sa Croix!” (Cristãos, cantemos com alta voz, Viva Jesus, viva a sua
Cruz!).

Quem hoje se orgulha da Cruz de Cristo? Certamente há pessoas piedosas que a


carregam com alegria.

Mas esse altar de nossa redenção é uma devoção privada?

Não é necessário proclamá-la publicamente?

O Poder Público não deve reconhecer o Reinado Social de Nosso Senhor?

Leão XIII disse a esse respeito na Encíclia Immortale Dei:


“11. Sendo a sociedade política fundada sobre estes princípios, evidente é que ela deve,
sem falhar, cumprir por um culto público os numerosos e importantes deveres que a unem
a Deus. Se a natureza e a razão impõem a cada um a obrigação de honrar a Deus com um culto
santo e sagrado, porque nós dependemos do poder dele e porque, saídos dele, a Ele devemos
tornar, à mesma lei adstringem a sociedade civil. Realmente, unidos pelos laços de uma
sociedade comum, os homens não dependem menos de Deus do que tomados
isoladamente; tanto, pelo menos, quanto o indivíduo, deve a sociedade dar graças a Deus,
de quem recebe a existência, a conservação e a multidão incontável dos seus bens. É por
isso que, do mesmo modo que a ninguém é lícito descurar seus deveres para com Deus, e que o
maior de todos os deveres é abraçar de espírito e de coração a religião, não aquela que cada um
prefere, mas aquela que Deus prescreveu e que provas certas e indubitáveis estabelecem como
a única verdadeira entre todas, assim tambémas sociedades não podem sem crime comportar-
se como se Deus absolutamente não existisse, ou prescindir da religião como estranha e
inútil, ou admitir uma indiferentemente, segundo seu beneplácito. Honrando a Divindade,
devem elas seguir estritamente as regras e o modo segundo os quais o próprio Deus
declarou querer ser honrado.

12. Devem, pois, os chefes de Estado ter por santo o nome de Deus e colocar no número dos
seus principais deveres favorecer a religião, protegê-la com a sua benevolência, cobri-la com a
autoridade tutelar das leis, e nada estatuírem ou decidirem que seja contrário à integridade dela”.

Viva o Papa! Viva Cristo Rei!

É um crime abominável, então, relegar Nosso Senhor para a esfera privada. Sendo
homem e Deus, ele é Rei de todas as coisas, de todos os povos, de todas as nações e de todos
os Estado, sem exceção alguma.

Pio XI disse a esse respeito na Encíclica Quas Primas:

“16. (...). É só Ele [Cristo] quem dá prosperidade e felicidade verdareira, tanto para os indivíduos
como para as nações: porque a felicidade da nação não é outra coisa que o conjunto concorde de
cidadãos. Não se neguem, pois, os governantes das nações a dar por si mesmos e pelo povo
mostras públicas de veneração e de obediência ao império de Cristo se querem conservar
incólume sua autoridade e fazer a felicidade e a fortuna de sua pátria.”

E o Papa Leão XIII completa o raciocínio, de novo na Immortale Dei:

“32. (…) Excluir a Igreja, fundada por Deus mesmo, da vida, das leis, da educação da
juventude, da sociedade doméstica é um erro grave e fatal”.

O reconhecimento público da divindade de Nosso Senhor não é uma opção para os


governos, mas um dever. Nosso Senhor é Rei das nações, e como tal deve ser reconhecido por
meio de um culto público e verdadeiro, o culto que a Ele se dá por meio da Igreja Católica. O País
que assim proceder demonstrará reconhecer, na prática, o Reinado de Jesus.

O que pensar, então, das leis que, nos Estados majoritariamente católicos, asseguram o
direito de culto indiferentemente a todas as religiões? Responde o Cardeal Pie:
“A tolerância pode ser ou civil ou teológica; a primeira não é de nossa alçada, e por isso não me
permito mais que uma palavra sobre ela. Se a lei quer dizer que ela permite todas as religiões
porque, a seus olhos, elas são igualmente boas, ou mesmo ainda porque o poder público é
incompetente para tomar partido sobre essa matéria, a lei é ímpia e atéia; ela professa não
mais a tolerância civil, tal qual vamos definir, mas a tolerância dogmática e, por uma
neutralidade criminosa, ela justifica a indiferença religiosa mais absoluta entre os
indivíduos. Ao contrário, se, reconhecendo que uma só religião é boa, ela tolera e permite
somente o tranquilo exercício das outras, a lei, nesse caso, pode ser sábia e necessário segundo
as circunstâncias”. (Pe. Theotime de Saint Just, op. cit., pp. 210-211, grifos nossos).

O que vemos hoje? Um culto digno prestado a Deus pelos chefes dos Estados? As leis
civis respeitando as leis divinas e da Igreja?

Na verdade, o que via o Pe. Mader há muitos anos, hoje o vemos com maior clareza ainda:

“O Sinal do Filho do Homem ainda por ser encontrado em Igrejas, nas casas das famílias cristãs,
em cemitérios e sobre o peitos de algumas almas piedosas. Entretanto, ele não é mais, como o foi
um dia, o sol que ilumina o dia, que direciona e influencia toda a vida pública, os pensamentos e o
trabalho das pessoas. Estamos vivendo em um período espiritual escuro, frio, uma noite sem
Cristo.

Essa ignorância é um desastre mundial. Pois é sempre um precursor de catástrofes sérias quando
líderes de povos tornaram-se tão cegos que não conseguem distinguir entre dia e noite,
verdadeiro e falso, o caminho e o precipício. Pior ainda do que a cegueira, não ser capaz de ver, é
não querer ver.

Nesse momento, este é o estado de grande parte da raça humana. Sob qualquer nome que seja,
liberalismo, neutralidade, “não-denominacionalismo” ou laicismo, o pecado do mundo moderno é
que ele não quer ver o Sinal do Filho do Homem nos céus.

Jesus não é mais reconhecido como um Poder público, comandante, que dá vida. De acordo com
as Constituições válidas, Ele não tem, oficialmente, nada mais a dizer nos Parlamentos, nos
sagüões dos ministérios, nas cortes, nas escolas e nas oficinas. No máximo, Sua participação na
discussão é ocasionalmente tolerada.

Se uma pessoa sabe quem é Jesus Cristo: o Criador, o Mantenedor, o Salvador, o Dono da Terra,
então ela deve enxergar o pecado liberal, a recusa social fundamental de reconhecer a monarquia
espiritual de Cristo sobre a sociedade, como o mais atroz pecado cometido desde a Sexta-Feira
Santa. Isso é deicídio, assassinato de Deus, cometido em nome da Lei e de Satanás, verdadeiro
anticristianismo. O Cardinal Mercier, acertadamente, chamou a apostasia oficial das nações o
maior crime de nosso tempo”. (Op. cit., p. 52)

Essa apostasia das nações é uma confissão clara de que não mais se acredita na
divindade de Nosso Senhor. Quando se afirma que não é mais conveniente que Jesus reine sobre
nós como antes aconteceu, nega-se a divindade de Cristo. Diz o Cardeal Pie:
“Se Jesus Cristo, que nos iluminou quando estávamos sentados nas trevas e nas sombras da
morte e que deu ao mundo o tesouro da verdade e da graça, não enriqueceu o mundo, e refiro-me
ao mundo social e político, de bens melhores do que o que ele possuía quando estava no seio do
paganismo, é porque a obra de Jesus Cristo não é uma obra divina. E tem mais: se o Evangelho
que fez a salvação dos homens é impotente para proporcionar um verdadeiro progresso das
pessoas, se a luz revelada, proveitosa para os indivíduos, é prejudicial às sociedades, se o cetro
de Cristo, doce e generoso para as almas, talvez para as famílias, é mal e inaceitável para as
cidades e os impérios, em outros termos, se Jesus Cristo, prometido pelos profetas e a quem Seu
Pai deu as nações por herança não pode exercer seu poder sobre elas sem prejuízos e
infelicidade temporal, deve-se concluir que Jesus Cristo não é Deus” (op. cit., p. 55).

E nem se alegue que esse tipo de reinado não deve existir porque Jesus disse que seu
reino não é deste mundo:

“Ele [Cardeal Pie] responde com toda a tradição católica que essa palavra de Jesus a
Pilatos indica simplesmente que o reinado de Jesus é, antes de tudo, um reinado espiritual que se
estabelece pelo poder divino e não pela força das armas. Mas dessas palavras não resulta de
forma alguma que Jesus não deseja reinar socialmente, ou seja, impor suas leis aos soberanos e
às nações” (op. cit., p. 38).

O que devemos fazer?

“Quanto mais se ignora o nome de Nosso Senhor com um silêncio abominável em


conferências internacionais e nos parlamentos, mais é necessário gritar bem alto e proclamar em
todos os lugares os direitos de seu Poder de rei e Sua dignidade” (Pe. Robert Mader, op. cit., p.
49).

Infelizmente, não se poder dizer que o Concílio Vaticano II tenha ajudado na expansão do
Reinado Social de Jesus, pois, como diz Michael Davies, a declaração Dignitatis Humanae, do
Concílio Vaticano II, contém ao menos uma negação implícita do Reinado Social de Nosso
Senhor; em outro momento, ele chega a afirmar que a ausência de qualquer alusão a este reinado
é a maior omissão da declaração (Michael Davies, The second Vatican Council and Religious
Liberty, Neumann Press, 1999, pp. xx e 189).

A eliminação de algumas estrofes do hino de Vésperas de Liturgia do dia de Cristo Rei


parece reforçar essas percepção ainda mais. Segundo relata Michael Davies, as seguintes
estrofes foram eliminadas do hino Te saeculorum:

“2. A turba ímpia ulula: não queremos que Cristo reine; nós proclamamos-te, ovantes, Senhor
supremo dos homens;
6. Rendam-te, pois, os governadores dos povos a vassalagem a que tens direito; venerem-te os
juízes e os magistrados, e a arte e a lei sejam a expressão da tua realeza;
7. Gloriem-se já os diademas fulgurantes dos monarcas de se curvarem diante de Ti e reduze à
obediência do teu cetro brando a nossa pátria e os nossos lares”. (op. cit., p. 246).

Se tudo isso pesa sobejamente na alma cristã, que fica constristada ao perceber o
Reinado Social de Jesus em ruínas, o entendimento da essência de nossa religião nos faz reagir:
“Religião de oração, de perdão, de paz, de fraternidade, o catolicismo também é a religião do
combate. A Igreja sobre a terra não é chamada de militante? Ela é o campo de batalha do Deus
dos exércitos. Ela combate os erros, os vícios, o orgulho, a barbárie. Ela ordena a todos os seus
filhos a fazerem como ela; tranportar, à sua consciência, em primeiro lugar, a luta contra as
paixões; depois, ajudá-la, em todos os lugares, na sua dolorosa, mas magnífica luta”. (Pe. Joseph
Lémann, Le religion de Combat, 1891, reimpressão, Editions Saint-Remi, p. V-VI)

Ajudemos, pois, a Santa Igreja em seu combate pelo reinado de Nosso Senhor!
Carreguemos a Cruz de Jesus altivamente, como cristãos dignos desse sublime nome! Não
tenhamos medo de confessar publicamente nossa fé e nossa submissão ao Rei. Não nos
envergonhemos de ser fiel a Deus em público.

Não nos deixemos vencer pelo respeito humano, que tanto mal faz às almas. São Luís de
Montfort, em uma de suas mais belas canções, nos ensina o seguinte acerca do respeito humano:

“1. Grand Dieu, depuis que je vous sers (Grande Deus, desde que vos sirvo
Et que je veux être fidèle E que quero ser fiel
L'homme et quasi tout l’univers O homem e quase todo o universo
Me fait une guerre cruelle. Fazem-me uma guerra cruel
Hâtez-vous, prêtez-moi la main Apressai-vos, dai-me a mão
Pour vaincre le respect humain. Para vencer o respeito humano).

(…)

4. Je ne puis définir ton nom, (Eu não posso definir teu nome
Respect humain, maudite engeance, Respeito humano, maldito gênero de mal,
O grand favori du démon Ó grande favorito do demônio,
Pour décrier la pénitence, Para maldizer a penitência,
O grand ennemi des vertus Ó grande inimigo das virtudes
Dont les plus forts sont abattus. Onde os mais fortes são abatidos).

(…)

6. Je ne puis exprimer le maux (Eu não posso exprimir os males


Que fait ce respect pour les hommes Que esse respeito pelos homens causa
Les plus savant, le plus dévots, Os mais sábios, os mais devotos,
Et presque tous, tant que nous sommes, E quase todos, enquanto o somos,
Ressentons la malignité Sentimos a malignidade
De ce monstre d’iniquité. Deste monstro de iniquidade).

7. O quelle injure au Créateur (Ó que injúria ao Criador


De craindre plus sa créature, o temer mais sua criatura
De respecter moins sa grandeur o respeitar menos sua grandeza
Qu’un ver de terre qui murmure, do que a um verme da terra que murmura
Et de préférer un vrai rien E de preferir um verdadeiro nada
A ce seul et souverain bien! A este único e soberano bem!)

(…)
21. Dieu cherche la fidélité, (Deus busca a fidelidade
A toute chose il la préfère, A toda coisa, Ele a prefere
Il accorde à sa fermeté Ele concede à sua firmeza
Ce qu’il refuse à l’ordinaire. Aquilo que ele normalmente recusa.
Ce n’est qu’aux dévots éprouvés É apenas aos devotos provados
Qu’il fait de dons très élevés. Que ele concede dons muito elevados).

(Oeuvres complètes de saint Louis-Marie Grignion de Montfort, 1966, Éditions du Seuil, p. 1164,
canção 34, «Le respect humain»).

Não deixemos, portanto, o respeito humano nos impedir de trabalhar publicamente para o
Reinado Social de Nosso Senhor. Nem nos deixemos enganar por algumas aparências contruídas
para ludibriar os incautos. Obviamente, nenhum Estado tem como slogan explícito: “Não aos
católicos”. Como dissemos, a perseguição é mais sutil, mas a destruição do Reinado de Jesus é
certa.

O Estado não precisa utilizar este slogan para demonstrar os seus princípios. Basta adotar
o liberalismo. É suficiente que adote a Declaração de Direitos do Homem como fundamento
jurídico da sociedade.

Para que os católicos não se iludam acerca dessa infame declaração, vejamos o que nos
ensimam vozes autorizadas da Igreja.

O Papa Pio VI assim se expressou sobre essa declaração adotada em primeiro lugar pela
Revolução Francesa, e hoje universalmente aceirta sem ressalvas.

“É suficiente relembrarmos aqueles dezessete artigos, nos quais os Direitos do Homem foram
tomados em sentido idêntico aos que eles tinham quando foram expostos e proclamados nos
decretos da Assembléia Nacional da França, digo, aqueles direitos tão opostos à religião e ao
bem da sociedade, e eles foram tomados de tal forma a constituir a base e a fundação da nova
Constituição” (citado em: Pe. Denis Fahey, The Mystical Body of Christ in the Modern World,
1934, reimpressão do ano de 1994, Christian Book Club of America, p. 52, Fahey).

O cardeal Pie, em um impressionante discurso na frente do imperador Napoleão III,


afirmou o seguinte:

“Mas deixai-me acrescentar que nem a restauração, nem vós, fez por Deus aquilo que deveria ter
sido feito, porque nem um nem outro levantou o Seu trono, porque nem um nem outro negou os
princípios da Revolução (cujas consequência práticas vós, contudo, combateis), porque o
evangelho social no qual se inspira o Estado ainda é a declaração de Direitos do Homem, que não
é outra coisa, senhor, do que a negação formal dos Direitos de Deus” (op. cit., pp. 89 e 91).

O Pe. Denis Fahey nos explica como muitos são enganados com tais direitos (que têm um
sentido liberal patente), e qual o real significado deles:

“Obviamente, há certa vagueza acerca de alguma fórmulas. Esse é um truque maçônico bem
conhecido para enganar os incautos. Por exemplo, os não-iniciados interpretam o primeiro artigo
da seguinte maneira: os homens são livres, isto é, eles podem fazer o que a lei não proíbe, eles
podem professar a religião que lhes agrada; os homens têm direitos iguais, isto é, todos são iguais
perante a lei, todos podem ocupar cargos públicos, todos estão sujeitos aos deveres públicos,
impostos, etc. Mas o significado real, o que está por trás de tudo o que guia a Maçonaria e as
sociedades secretas em geral, é que cada homem no estado de natureza, ao qual devemos
retornar para sermos felizes, é livre e independente assim como Deus. Todos são igualmente
Deus. O homem nasce livre, isto é, a licensiosidade absoluta é uma exigência da natureza
humana; toda forma de submissão a qualquer homem é contrária à natureza. Como todos são
igualmente Deus, a natureza exige que uma estrita igualdade deveria acontecer entre os homens,
e que, portanto, todos deveriam votar. Dessa forma, em um Estado formado corretamente, uma
absoluta igualdade social deveria contrabalançar as desigualdades naturais. É despiciendo dizer
que a consequência lógica disso é o Comunismo”. (op. cit., p. 54).

É curioso notar que a Constituição Brasileira fornece mais um exemplo do estado


deplorável das coisas. A invocação da “proteção de Deus” no preâmbulo constitucional pelos
representantes do povo reunidos em Assembléia Nacional Constituinte não é nem de longe
suficiente para estabelecer o Reinado de Nosso Senhor. Ademais, não se faz aí qualquer
referência explícita à Santissima Trindade (referência esta que foi feita na Constituição Imperial de
1824); esse “Deus” constitucional é provavelmente o Grande Arquiteto Maçônico, o deus liberal, o
deus cidadão.

O Pe. Fahey criticou muito uma das Constituições Irlandesas porque, apesar de
reconhecer como lícito o culto da Igreja Católica, a colocava em pé de igualdade com as outras
seitas. Ele afirmou:

“A nova Constituição Irlandesa deveria reconhecer como a Igreja Verdadeira a Igreja


Católica, Apostólica, Romana, e deveria declarar seus propósito de prestar culto a Deus de acordo
como rito da Igreja”. (op. cit., p. 249).

O contraste teórico existente entre as Constituições modernas e a Declaração dos Direitos


do Homem, de um lado, e o Reinado de Nosso Senhor Jesus Cristo de outro, se torna ainda mais
patente quando se averigua, na prática, o que tem sido feito para promover o reinado de Jesus. É
só cada um se indagar: qual partido político colocou como meta de campanha a total abolição da
idolatria? Qual partido político está do lado de Cristo Rei? Qual partido político tem como objetivo,
uma vez eleito, lutar pelo reconhecimento da Igreja Católica como a única verdadeira? Qual
partido político está do lado de Cristo Rei? Qual partido político adota uma política de combate às
blasfêmias contra Deus, contra sua única Igreja e seus santos? Qual partido político está do lado
de Cristo Rei? Qual partido político luta pelo banimento de toda imoralidade, em livros, revistas,
anúncios na rua? Os partidos políticos defendem todos os tipos de direitos: das feministas, dos
imigrantes, dos animais, das plantas, dos homossexuais, dos assassinos, etc. Qual partido político
está do lado de Cristo Rei? “Quem não é comigo, é contra mim; e quem não junta comigo,
desperdiça” (Mt, XI, 30).

A constatação do Pe. Mader, feita há muitos anos, se aplica aos dias de hoje mais do que
nunca:

“Em relação à nossa sociedade, devemos afirmar que Jesus não reina mais. Tiraram Sua coroa e
Seu cetro. A vida do dia-a-dia excluiu quase que completamente o sobrenatural. O mundo está
descristianizado, naturalizado, “ecologizado”, e longe de Jesus – não somente na parte do mundo
cuja população é 99% pagã, mas também nas regiões cuja população é 99% cristã. Tão logo se
deixa a Igreja, e talvez a sala de estar da família, geralmente não se nota que se vive entre
Cristãos.

(...)

Jesus deve reinar novamente, não somente nas Igrejas, mas também nas oficinas, em nossas
famílias, em nossas festividades, em todas as ruas e praças públicas, em nossas prefeituras e em
nossas escolas. A vida dos Cristãos, que se tornou completamente naturalista e puramente
secular, deve virar sobrenatural de novo. O milagre de Caná deve ser repetido em nossa
sociedade presente (...). O milagre de Caná é um milagre de transformação. O mundo deve não
apenas ser melhorado, mas também transformado; não simplesmente renovado, mas
completamente mudado”. (op. cit., pp. 69 e 71).

E que ninguém use as palavras “em nossas festividades, em todas as ruas e praças
públicas” como pretexto para fazer verdadeiros carnavais modernos, apelidados de cristotecas ou
coisa semelhante.

A ordem de se louvar a Cristo publicamente não se cumpre fazendo festas com pessoas
carregando uma imagem de Nossa Senhora e dançando danças imorais pelas ruas. A ordem de
se louvar a Cristo publicamente não se cumpre gritando seu nome em meios às notas bárbaras ou
mesmo satânicas do rock.

Calha, neste ponto, a canção de São Luís de Montfort sobre a dança e os bailes:

“3. Oui, Satan est l’inventeur (Sim, Satanás é o inventor


De la danse malheureuse, Da dança infeliz,
Il est le premier auteur Ele é o primeiro autor
De cette peste joyeuse Dessa alegre peste,
Pour damner bien joyeusement Para danar alegremente
Et comme insensiblement. E como que insensivelmente).

4. A la danse il est le roi, (Da dança ele é o rei,


C’est là qu’on lui fait hommage, É lá que ele é homenageado,
C’est là qu’il donne la loi É lá que ele dá a lei
D’un joyeux libertinage; De uma alegre libertinagem,
Il a pris séance en ce lieu, Ele realiza suas reuniões nesse lugar,
Il a son trône au milieu. Ele tem seu trono no meio [desse lugar]).

(...)

6. Il anime les danseurs (Ele anima os dançarinos


A danser, chanter e rire; A dançar, cantar e rir;
C’est là qu’il gagne leurs cœurs, É aí que ele ganha os corações,
Et leurs corps et son empire; E seus corpos e seu império;
Il en fait tous les mouvements, Ele faz todos os movimentos,
Les pas et les tournoiements. Os passos e as voltas).
(...)

13. En parlant en général, (Falando de uma maneira geral,


La danse est indifférente, A dança é indiferente,
De soi ce n’est pas un mal, Em si não é um mal,
Elle peut être innocente, Ela pode ser inocente,
Car David dansa de ferveur Pois Davi dançou de fervor
Devant l’arche du Seigneur. Diante da arca do Senhor).

14. Mais pour danser sans pécher, (Mas para dançar sem pecado,
Il faut tant de circonstances, É preciso tantas circunstâncias,
Qu’on ne peut pas s’empêcher Que não se pode evitar
D’offenser Dieu dans les danses. De ofender a Deus com as danças.
C’est un mal ordinairement, É um mal normalmente,
C’est un grand dérèglement Um grande desregramento)

(...)

22. On danse aux jours défendus, (Dança-se nos dias proibidos,


Et plus qu’aux jours ordinaires, E mais que nos dias ordinários,
Et c’est en ces temps perdu E é nesse tenpo perdido
Que Satan fait ses affaires; Que Satanás faz seus negócios
Et l’on fait du jour du Seigneur E faz-se do dia do senhor
La fête du tentateur. A festa do tentador).

(op. cit., p. 1131, canção 31, «Seconde piège: la danse et le bal»).

Jesus deve reinar novamente! Ah, se todos soubessem que essa é a resposta para todos
os males. “E Eu, quando for levantado da terra, atrairei tudo a mim” (Jo, XII, 32). Para a
cultura moderna, “que é completamente pagã” (Pe. Robert Mader, op. cit, p. 75), a solução é
outra: educação para o povo.

Ora, “qual período da história deve ser caracterizado como o mais bárbaro? Aquele que
construiu as maiores escolas e bibliotecas, aquele no qual mais se leu e no qual os anos
escolares foram os mais longos: o século XX”. (Pe. Robert Mader, op. cit, p. 73).

Não adianta dar alfabetização sem dar Cristo em primeiro lugar e acima de tudo. Por
causa dessa inversão que hoje há, de colocar as coisas secundárias no lugar das mais
importantes e que têm mais precedência, ou seja, com a rejeição pública a Jesus, e a colocação
de ídolos ou outras “soluções” em seu lugar, a sociedade moderna vive necessariamente em
estado de desordem em relação ao Criador, o que tem reflexos claros.

Como disse o Papa Pio XI na Encíclica Quas Primas:

“Desterrados Deus e Jesus Cristo das leis e do governo dos povos – lamentávamos - e derivada a
autoridade, não de Deus, mas sim dos homens, aconteceu que até os fundamentos mesmos da
autoridade foram arrancados, uma vez que foi suprimida a causa principal do direito que têm
alguns de mandar e os outros o dever de obedecer. Disso não poderia seguir-se menos do que
uma violenta comoção de toda sociedade humana, privada de todo apoio e fundamento sólido.”

Como venceremos? A vitória vem pela conformidade absoluta à vontade de Deus e no


total abondono a ela, pela oração, pelo terço, por Nossa Senhora, por meio da qual nos chegam
todas as graças. Rezemos. Combatamos. Carreguemos nossa Cruz. Não a escondamos.

A vitória vem, enfim, pelo Natal de Nosso Senhor, que nos dá uma grande lição sobre seu
Reinado.

“Então veio o Menino Jesus, e a primeira coisa que Ele ensinou à humanidade, o primeiro assunto
de Sua educação ao mundo, foi o Glória. Uma das grandes revoluções da história começou com a
declaração de direitos do homem, assim como a primeira das revoluções começou com a
declaração de Satanás de direitos humanos sobre e contra Deus. A salvação da humanidade, o
oposto da revolução, iria, portanto, começar com uma lembrança de Cristo e com uma
proclamação dos Direitos de Deus. Esse é o significado do Glória. Deus é Deus! Homem é
homem! Deus é o Senhor. A Humanidade é Sua serva. A Criação pertence ao Criador! A
propriedade pertence ao Dono! Glória a Deus!

Os direitos de Deus estão acima dos direitos humanos. Glória a Deus nas alturas! (...). A maior
ênfase do Cristianismo está na primeira das duas tábuas da Lei. A primeira contém os direitos de
Deus. Deus deve ser Deus! A soberania de Deus deve ser proclamada sem reservas, em todos os
tempos e localidades, em todos os lugares. Essa é a coisa mais necessária de se dizer do púlpito
hoje.

O maior pecado da ciência, da escola, primária mas principalmente secudária e superior, o


pecado da arte, o pecado da política e o pecado da vida comercial, o real pecado do século é
esse: não se canta mais o Glória. (...).

Aprendemos a mensagem de Natal da Divina Criança. E qual a nossa? Resposta: devemos fazer
que o Glória seja cantado em todos os lugares do mundo inteiro, nas prefeituras, nas escolas, nas
universidades, nas fábricas. (...).

Quando chegará o Natal em que o Glória se tornará de novo um grito de guerra contra toda
negação de Deus e toda blasfêmia contra Deus?” (Pe. Robert Mader, op. cit, pp. 77-78).

Quando chegará?

Para citar este texto:

"Viva Cristo Rei!"

MONTFORT Associação Cultural

http://www.montfort.org.br/bra/veritas/politica/cristo_rei/

Online, 12/08/2016 às 20:15:19h

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