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LECTORIUM ROSICRUCIANUM

ESCOLA INTERNACIONAL DA ROSACRUZ ÁUREA


TRABALHO PÚBLICO · CURSO DE ORIENTAÇÃO
MÓDULO 4 . TEMA 1

O CAMINHO DA ENDURA

epois de termos falado, durante os módulos anteriores, sobre o


significado do corpo e, em especial, sobre o papel do sangue para quem
percorre o caminho da libertação, podemos agora tratar de algumas das
conseqüências fundamentais que esse caminho da libertação – o processo da
transfiguração – traz consigo. Em primeiro lugar, devemos distinguir entre o
conhecimento adquirido e a atitude de vida concordante com ele.

Com certeza, o pesquisador já se deu conta de que, na existência humana, há


uma separação muito grande entre conhecer e praticar. A causa disso se deve ao
poder que as leis dialéticas deste plano de vida exercem sobre a personalidade.

O homem, fustigado pelo átomo-centelha do Espírito, em seu microcosmo,


conhece a imperfeição deste mundo. Deseja afastá-la de si e dirige seus atos para
consegui-lo. Porém sempre fracassa, uma vez que a perfeição na dialética não
pode ser alcançada. Não obstante, essa atitude do homem é totalmente
compreensível, pois ainda não tem o discernimento que a perfeição só é possível
no Campo de Vida divino.

Apesar disso, o homem encontra uma força motriz que o inquieta e o impulsiona
a buscar, a pesquisar, levando-o, finalmente, a um amadurecimento pelas
experiências. Este amadurecimento permite-lhe, em determinado momento,
reconhecer onde está seu erro e, assim, encontrar o verdadeiro caminho de saída.
Esta saída consiste em deixar de tentar alcançar a perfeição no mundo dialético e
permitir que se liberte o Homem Espiritual Original, por meio do átomo-
centelha do Espírito. O homem vive então em e pela perfeição divina. Desse
modo, é construída uma ponte entre o conhecimento e a ação, pois é possível
harmonizá-los quando se trilha o caminho da libertação.
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O candidato que percorre esse caminho orienta-se rumo à Estática, em direção


ao Reino de Deus em seu próprio ser, pois a isso corresponde tanto o correto
conhecimento como a atitude de vida correspondente. O Evangelho nos diz,
sem lugar para mal-entendidos, que o homem que deseja entrar no Reino de
Deus deve renascer da “Água e do Espírito”. Por isso, é lógico que, se uma
alma quer renascer, também devem ser satisfeitas algumas exigências corporais,
já que alma e corpo encontram-se em interdependência. Um homem que entra
no processo evangélico do renascimento alimenta sua alma com a Água da
substância divina original, com os quatro alimentos santos que as Escrituras
Sagradas denominam de “o maná da vida”. São os quatro éteres do mundo
original. Assim se forma no microcosmo, paulatinamente, um novo corpo de
substância eterna. Esta é a única possibilidade de vencer a morte.

Poder-se-ia, então, perguntar: como podemos alimentar nossa alma com os


quatro éteres santos? Como percorre o homem o caminho da liberdade?
Realizando a mudança fundamental, neutralizando os pensamentos e
sentimentos orientados para a natureza terrena. Quem orienta sua vida de
pensamentos e sentimentos para a meta da libertação – unicamente para essa
meta – recebe os quatro alimentos santos do mundo divino.

Porém, é evidente que essa nova orientação dos pensamentos e sentimentos pode
ser fortemente entorpecida pelo sangue.

Em um dos temas anteriores, vimos que o sangue possui propriedades


magnéticas, pelas quais se pode explicar a especial individualidade do homem.
Toda a vida de pensamentos e sentimentos do homem reflete-se no sangue e é,
de novo, influenciada por ele. Tudo o que exerce influência sobre o sangue recai
também sobre os pensamentos e sentimentos humanos. Pois bem: se o homem
quer receber os quatro alimentos santos em sua vida de pensamentos e
sentimentos, deve prestar a devida atenção ao seu sangue.

Esse contexto remete-nos à nossa alimentação material, já que a parte física do


sangue é influenciada pelos alimentos e pelas forças que eles contém. Também
nesse aspecto, deve ocorrer um processo de limpeza, de purificação. Não se trata
só dos pensamentos e sentimentos. A orientação dos pensamentos e sentimentos
deve apoiar-se na parte material e possuir um bom fundamento. Se isso não
ocorre, o progresso iniciado no caminho da libertação fica detido pela
incapacidade do sangue, e tudo se mantém, no melhor dos casos, como teoria e
filosofia.

A natureza não pode libertar a natureza, porém, o corpo nascido da matéria,


como ferramenta de serviço para o caminho, deve manter-se são e apto o maior
tempo possível.

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Assim, o candidato ao caminho espiritual escolhe o menos prejudicial dos


alimentos da natureza. Isso quer dizer, por exemplo, que evitará absolutamente a
carne animal. Comer carne animal cria carma e nos aprisona a ela. Todos os
alimentos materiais estão carregados de forças etéricas concretas, com sua
própria freqüência, cujas vibrações repercutem no sangue. Por isso, depois de
uma reflexão, pode-se compreender por que o sangue e a carne animal têm
efeito explosivo e desarmônico no sangue humano, e por que o prendem
carmicamente.

Muitos homens, carentes de orientação bíblica, invocam o preceito bíblico “de


submeter a terra e dominar todos os animais” como defesa da alimentação
carnívora, porém, precisamente a invocação destas palavras assinala o terrível
erro do pensamento humano que deturpou a verdade.

Nós vos falamos acerca do microcosmo e também do “firmamento”, ou seja, o


zodíaco no microcosmo. A exigência bíblica de “dominar todos os animais”
coloca igualmente o homem perante a tarefa de dominar seu próprio zodíaco.

Todavia, o homem segue por outros caminhos. Por sua conduta opositora ao
Plano de Deus, perdeu o domínio sobre si mesmo. Seu zodíaco microcósmico
fez-se independente e dominou-o. Isso teve conseqüências terríveis. Expulso do
interior, o homem dirigiu-se para o exterior e, em pânico por ter perdido o
domínio espiritual, tomou o animal sob o seu domínio e comeu dele com a
finalidade de sobreviver. Os efeitos da maldição manifestaram-se totalmente. O
homem deslocou-se para a escala animal, desumanizou-se e envenenou toda a
natureza.

Talvez seja do conhecimento do pesquisador que os animais são conduzidos por


um espírito de grupo, que se encontra por trás de todas as formas de vida animal
tal como um eu coletivo. Um animal que é conduzido ao matadouro sofre todos
os horrores das criaturas assassinadas. Medo, ódio e tensão do espírito de grupo
o pressionam, atraindo todas as forças correspondentes até a última célula de sua
carne, até a última gota de seu sangue. E dessas forças alimenta-se o homem.
Somente ele é responsável por seu comportamento animal. Esse sangue
acompanha o homem diariamente; esse sangue mantém seu corpo que foi, um
dia, “o Templo do Espírito”. Para que o candidato possa progredir no caminho, é
preciso que se abstenha de comer carne animal. Dessa maneira, a culpa
acumulada pode diminuir.

Para completar nossa exposição, nesse aspecto, devemos comentar ainda que é
recomendável se evitar também o uso de vestimentas de pele, o que terá ficado
claro através de nossas explanações.

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Também devemos dar algumas indicações sobre o comportamento de vida de


alguém que se encontra no caminho. Este, compreensivelmente, deve abster-se
de consumir drogas e todo o tipo de entorpecentes que contenham narcóticos,
álcool ou nicotina. A nicotina acelera a degeneração do corpo etérico, danifica
as vias respiratórias, o coração, os vasos sangüíneos e os nervos. No decorrer do
curso expusemos o significado desses órgãos para o caminho da libertação. O
álcool danifica a faculdade do pensamento e entorpece a consciência. Os efeitos
que o álcool provoca temporariamente são prolongados pela nicotina, e, assim,
todo o ser se faz dependente dos narcóticos.

Dito isto, devemos expor com toda clareza que a saúde do corpo não deve
jamais ser tomada como meta final. É somente uma preparação necessária para
percorrer o caminho. Não importa o quanto estejamos sãos segundo esta
natureza; enquanto não tivermos alcançado a consciência original e, com isso,
tenha nascido a nova corporeidade, estaremos absolutamente doentes, do ponto
de vista da Natureza divina.

Deveria ser evidente levar em conta os direitos humanos e uma sensata


moralidade na marcha pela vida. O vegetarianismo, por exemplo, pode
fundamentar-se sobre a ética e a saúde, porém todos esses fundamentos não são
a meta da vida para um aluno no caminho. Não queremos fazer disso uma
religião, nem esperamos com isso alcançar a libertação ou a perfeição do mundo
terreno. O aluno quer abrir caminho em direção ao núcleo da Verdade! Na
dialética, tudo ocorre sempre especulativa e experimentalmente: troca-se uma
coisa indevida por outra. O agitado eu é continuamente impelido a deslocar os
centros de gravidade no interior desta natureza. O verdadeiro pesquisador busca
só a essência divina. Esta é a diferença decisiva ao fixar a meta. Só estamos no
caminho, se, com base no verdadeiro objetivo, nos orientarmos em direção à
verdadeira libertação. Sem essa orientação, vagueamos sempre de um lado para
outro, como num labirinto. Por isso, as exigências das quais falamos devem
estar continuamente relacionadas com o grande processo da neutralização do eu,
da auto-oferenda à natureza divina, aceita livre e voluntariamente. Somente
sobre esta base, o candidato encontra-se capacitado para extrair as
conseqüências necessárias.

Pelo profundo anseio interior, o anelo de salvação, a Força de Luz gnóstica é


atraída para o sistema microcósmico, e, uma vez preenchido por essa força, as
citadas exigências convertem-se em certeza para ele. Então, não será necessário
forçar nada para realizar algo que se oponha ao seu estado de sangue. Sobre a
base do sangue renovado uma mudança de comportamento será levada a efeito
voluntariamente. Por isso, o pesquisador não é colocado ante essas exigências
imediatamente, na ante-câmara da Escola Espiritual. Somente depois de certo
tempo de preparação, já aluno, será confrontado com essa necessidade.

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Devemos agora ter em conta que todos os aspectos que mencionamos sobre a
orientação da vida representam apenas medidas complementares no grandioso
processo de libertação. Nesse processo, o aspecto decisivo é a entrega à natureza
divina. Essa entrega era denominada pelos cátaros de Endura.

Nos temas anteriores, tentamos esboçar uma imagem de nosso verdadeiro ser.
Mostramos superficialmente a constituição do microcosmo e indicamos em que
medida nós, como personalidades, somos formados e conduzidos pelo campo
aural desse microcosmo. Todos os nossos pensamentos e ações são
determinados por impulsos que provêm do campo de respiração de nossa esfera
microcósmica. Devemos ter em conta também que todos os microcosmos que
constituem em seu conjunto a humanidade interpenetram-se e influenciam-se
mutuamente, formando um poderoso campo de radiação magnético.

Esse campo magnético configura também, na atmosfera, uma nuvem radiante


que envolve toda a Terra. Essa nuvem, que expressa a condição humana
coletiva, está inteiramente preenchida pelo resultado de todas as ações humanas
e transborda os incontáveis desvarios e a carga do caos cármico. Posto que
existe uma interação entre a atmosfera e os microcosmos, tal nuvem se faz cada
vez mais escura e opaca. Essa erva daninha no campo de vida da humanidade é
cada vez mais espessa e se constitui num emaranhado sem saída.

Antes de ter chegado a esse ponto, as circunstâncias eram melhores. No começo


da queda dos microcosmos, a atmosfera estava vazia. Era virginal e neutra.
Porém com o decurso do tempo, essas nuvens foram-se configurando devido às
ininterruptas atividades de auto-afirmação dos seres humanos, e paulatinamente
tornaram-se mais fortes, influentes e satânicas. Os homens acumularam culpa
atrás de culpa, e as amarras que nos prendem a esse estado tornaram-se agora
quase invebcíveis, já que as forças que nos cercam nos influenciam
incessantemente e provocam uma reação. E a cada reação fortalecemos mais
nossas ligações.

Tais reações podem surgir de um pensamento, um desejo, um temor, uma


intensa aspiração em direção à justiça terrena, ou qualquer outro ideal. E, dado
que essas reações repetem-se constantemente, forças são liberadas em grandes
agrupamentos que se convertem em poderosos impulsos cada vez mais
influentes. O mesmo ocorre em sentido coletivo. Pensemos no efeito sobre as
massas das orações continuamente repetidas pelas crenças religiosas. Pensemos
no selvagem entusiasmo das massas nos estádios desportivos ou em outras
concentrações. Estados coletivos de explosões passionais são as conseqüências.
Também as sugestões advindas de jornais, rádio, televisão e outros meios de
comunicação configuram fortes nuvens de força.

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Todas as vibrações irradiadas na atmosfera unem-se desta maneira numa


gigantesca estação de força, que se torna tão poderosa a ponto de transformar-se
num ser, numa entidade com determinado grau de consciência. Esse feito foi
conhecido pelas Escrituras Sagradas de todos os tempos que chamam tais forças
de: eões, arcontes, principados e potestades.

O pesquisador tem agora uma idéia de como se produzem em nossos dias os tão
freqüentes estados de pertubação coletiva, os desenvolvimentos tão extremados
em torno da sexualidade e o contínuo crescimento da criminalidade. Por suas
ligações internas a as ondas de forças, os homens mantêm todo o edifício em pé
e, como reação, alimentam essas forças inteligentes que os dirigem. Essas
inteligências invisíveis que regem o mundo pretendem somente, como seus
criadores, assegurar sua existência. Por todos os meios à sua disposição,
perseguem a meta de unir os homens ao caminho de vida terrestre como
fornecedores de força, pois, segundo sua natureza, não podem fazer outra coisa.
Por isso, nosso entendimento é cada vez mais e mais coagido. Quantos homens
ainda podem pensar e compreender de forma independente e com total
profundidade as relações deste mundo?

Quando nos tornamos diferentes frente aos acontecimentos resultantes das leis
que regem esta natureza e já não mais nos identificamos com eles, somos
verdadeiramente abençoados e obtemos a possibilidade de levar adiante o
essencial para a libertação. Que é o essencial agora? É a ação, pela qual nos
retiramos das garras dos eões, dos deuses deste mundo. Isto não é exaltação
mística nem sentimentalismo, mas o claro discernimento de que nossa forma de
vida, centrada no eu, é uma amarra que nos mantém presos no poço deste
mundo.

Com tal atitude de vida, já não lutamos contra as coisas a nosso redor; ao
contrário, cravamos a espada do discernimento em nosso próprio peito e
vencemos nosso mundo interior ímpio. Efetivamente, todos nós contribuímos
para a formação dessas forças eônicas e, desse modo, nos tornamos cúmplices.
Possivelmente entenderemos agora as palavras: “Perdoai as nossas dívidas,
como nós perdoamos aos nossos devedores”.

Quando as novas forças etéricas do mundo gnóstico penetram o aluno, este


deixa de alimentar as forças eônicas e liberta-se delas. Suas dívidas são
perdoadas e, se ele não reage aos ataques e às influências da dialética e perde
seu interesse interior pelos objetivos dialéticos, debilita os eões e as influências
ímpias que são irradiadas sobre seus semelhantes. Ele não responde com ataques
nem críticas aos ataques e críticas à sua volta. Este é também o processo que
Paulo define como “a morte diária”. Em nossa Escola falamos de Endura. É a
mudança fundamental, o regresso em direção à Gnosis.

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É possível que o pesquisador pense que um comportamento semelhante poderia


acarretar-lhe dificuldades em sua vida, no trabalho ou em seu meio familiar, porém
podemos assegurar que quem percorre o caminho da libertação atrai em seu sistema
a Força que lhe possibilita levar uma nova vida, sem descuidar o mínimo das
obrigações que a vida na matéria lhe impõe. Portanto, o pesquisador não deve ter
medo dessa transformação em sua vida interior. A força que talvez o inquiete agora,
o impulsionará para um estado de ser plenamente consciente.

Quem quiser que o Outro nele possa atuar e manifestar-se, deverá necessariamente
conduzir ao silêncio sua atividade egocêntrica do querer, pensar, sentir e agir. Não
pode ser de outra forma!

Atenciosamente,
Seus amigos do Trabalho Público do
LECTORIUM ROSICRUCIANUM
Escola Internacional da Rosacruz Áurea

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