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NOÇÕES DE

ADMINISTRAÇÃO
TRIBUTÁRIA
RIO DE JANEIRO – 2016

Material didático elaborado por:


Prof. Cesar Augusto Barbiero

Rio de Janeiro, 2016


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO TRIBUTÁRIO ___________________________ 4


1.1 Autonomia dogmática e estrutural ______________________________________________ 5
1.2 Relações com outros ramos do Direito: ___________________________________________ 5

2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL - SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL ____________________ 8


3 CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL ___________________________________________ 9
4 CONCEITO LEGAL DE TRIBUTO ____________________________________________ 10
5 NATUREZA JURÍDICA DO TRIBUTO ________________________________________ 11
6 ESPÉCIES DE TRIBUTO ___________________________________________________ 12
6.1 Conceito Legal de Imposto ____________________________________________________ 13
6.2 Conceito Legal de Taxa _______________________________________________________ 14
6.3 Conceito Legal de Contribuição de Melhoria ______________________________________ 14
6.4 Empréstimo Compulsório _____________________________________________________ 15
6.5 Contribuições Especiais_______________________________________________________ 15
6.5.1 Espécies de Contribuições Especiais _________________________________________________ 16
6.5.1.1 Contribuições Corporativas ____________________________________________________ 16
6.5.1.2 Contribuições Sociais _________________________________________________________ 17
6.5.1.3 Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico _______________________________ 17

7 CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS ___________________________________________ 17


8. MACROPROCESSO TRIBUTÁRIO ESQUEMATIZADO ___________________________ 19
8.1 A Obrigação Tributária _______________________________________________________ 19
8.1.1 Política Fiscal – a delimitação do potencial econômico-tributário __________________________ 20
8.1.2 A Legislação Tributária ____________________________________________________________ 20
8.1.2.1 Atos normativos com força de Lei _______________________________________________ 20
8.1.2.2 Tratados ou Convenções Internacionais __________________________________________ 21
8.1.2.3 Atos infralegais ______________________________________________________________ 21
8.1.2.3.1 Decretos e Resoluções ____________________________________________________ 22
8.1.2.3.2 Atos Normativos _________________________________________________________ 22
8.1.2.3.3 Decisões Administrativas __________________________________________________ 22
8.1.2.3.4 Usos e costumes _________________________________________________________ 22
8.1.2.3.5 Convênios ______________________________________________________________ 23
8.1.2.4 Jurisprudência e Doutrina _____________________________________________________ 23
8.1.2.5 Vigência da Legislação Tributária ________________________________________________ 23
8.1.3 CTN – Fato Gerador da Obrigação Tributária ___________________________________________ 24

8.2 Crédito Tributário ___________________________________________________________ 25


8.2.1 Constituição do Crédito Tributário Pelo Lançamento ____________________________________ 25
8.2.2 Confissão de Dívida -Outra forma de constituição do Crédito Tributário _____________________ 27
8.2.2.1 Por Declaração ______________________________________________________________ 27
8.2.2.2 Pela solicitação de parcelamento ________________________________________________ 27
8.2.2.3 Pela denúncia espontânea _____________________________________________________ 28

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8.3 Crédito Tributário - Controle e Cobrança Administrativa ____________________________ 28
8.3.1 Suspensão da Exigibilidade ________________________________________________________ 29
8.3.1.1 Moratória __________________________________________________________________ 30
8.3.1.2 Depósito em montante integral _________________________________________________ 30
8.3.1.3 Impugnações e recursos _______________________________________________________ 30
8.3.1.4 Liminar em Mandado de Segurança______________________________________________ 31
8.3.1.5 Parcelamento _______________________________________________________________ 31
8.3.2 Modalidades de Extinção do Crédito Tributário ________________________________________ 31
8.3.2.1 Pagamento _________________________________________________________________ 32
8.3.2.2 Compensação _______________________________________________________________ 32
8.3.2.3 Transação __________________________________________________________________ 33
8.3.2.4 Remissão ___________________________________________________________________ 33
8.3.2.5 Decadência _________________________________________________________________ 33
8.3.2.6 Prescrição __________________________________________________________________ 34
8.3.3 Modalidades de Exclusão de Crédito Tributário ________________________________________ 34
8.3.3.1 Isenção ____________________________________________________________________ 35
8.3.3.2 Anistia _____________________________________________________________________ 35
8.3.4 Garantias e Privilégios do Crédito Tributário ___________________________________________ 36

8.4 Administração Tributária _____________________________________________________ 37


8.4.1 Dívida Ativa _____________________________________________________________________ 38
8.4.2 Processo Fiscal __________________________________________________________________ 39

BIBLIOGRAFIA __________________________________________________________ 41

3
1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO TRIBUTÁRIO
De maneira muito resumida, pode-se afirmar que Direito é o conjunto de
normas que disciplinam a vida do homem em sociedade.
Embora esse conjunto de normas forme um corpo único, o direito é
segmentado em partes, de modo a propiciar um estudo mais detalhado de cada
ramo. Tem-se como resultado da primeira segmentação a divisão em Direito
Público e Direito Privado. Nesse sentido, o professor João Marcelo Rocha ensina
que os critérios normalmente usados pelos autores para estabelecer tal divisão
dizem respeito às partes envolvidas, ao conteúdo da norma jurídica e ao interesse a
ser protegido.

Quanto às partes envolvidas – classifica-se como direito público quando pelo menos uma das
partes envolvidas for o Estado e, de modo diverso, direito privado, quando as partes envolvidas forem
particulares.

Quanto ao conteúdo da norma – se a norma for imperativa, impondo obrigatoriedade, define-se


como direito público; se a norma for dispositiva, regulando aspectos da manifestação da vontade,
define-se como direito privado.

Quanto ao interesse a ser protegido – quando o interesse a ser tutelado for o interesse público, ou
em outras palavras, as relações entre estados e o interesse da sociedade em geral, classifica-se
como direito público. Se a norma visa proteger o interesse individual, seja nas relações entre
indivíduos, seja na relação entre o indivíduo e o Estado, temos direito privado.

O Direito Público, por sua vez, divide-se em constitucional, tributário, penal,


administrativo, etc... Já o Direito Privado divide-se em civil, trabalhista, comercial.
Tais ramos se relacionam face a existência de regras comuns ou de regras de um
dos ramos que produzem consequências jurídicas em áreas de influência de outro.

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A divisão apontada acaba criando uma autonomia dogmática e estrutural em
relação a cada ramo do Direito. No caso do Direito Tributário, essa autonomia
estrutural está consagrada no ápice do ordenamento jurídico pátrio, uma vez que a
Constituição Federal dedica um capítulo especial ao Sistema Tributário Nacional
(artigos 145 ao 162) e prevê que lei complementar estabeleça normas gerais em
matéria de legislação tributária (artigo 146, inciso III).
Na Constituição encontram-se os princípios que norteiam o todo o sistema,
as garantias dos cidadãos frente o poder de tributar, a divisão da competência
tributária e a partilha das receitas.
A autonomia do Direito Tributário é, pois, uma realidade. Este ramo do
direito atinge suas finalidades, alcança os seus objetivos e realiza os seus fins de
modo inconfundível. Atende, incontestavelmente, os requisitos didáticos,
dogmáticos e estruturais, essenciais para a autonomia.
Logo, temos como conceitos de direito tributário, dentre outros:

“O Direito Tributário é o ramo didaticamente autônomo do Direito, integrado pelo conjunto de


proposições jurídico-normativas, que correspondam, direta ou indiretamente, à instituição,
arrecadação e fiscalização de tributos.” Ver in Carvalho. Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário.
Saraiva: São Paulo, 1997, p. 12.

“Ramo do direito que se ocupa das relações entre fisco e as pessoas sujeitas a imposições tributárias
de qualquer espécie, limitando o poder de tributar e protegendo o cidadão contra os abusos desse
poder”. Ver in Machado, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 52.

1.1 Autonomia dogmática e estrutural


– Decorre da existência de princípios (dogmática) e institutos próprios
(estrutural).
• Princípios próprios:
– capacidade contributiva, não confisco, anterioridade tributária,
seletividade, não-cumulatividade, etc...
• Institutos próprios:
– Contribuinte, conceito de tributo, base de cálculo, substituição
tributária, lançamento, imunidade, isenção, elisão, evasão, etc...

1.2 Relações com outros ramos do Direito:


– Direito Constitucional
• Constituição Federal

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– Fonte formal do direito tributário
» Normas gerais e de conduta
– Contém os princípios que regem a tributação
» Impõe os limites ao poder de tributar
– Estabelece a competência tributária de cada ente político;
– Elenca as espécies de tributos;
– Estabelece a repartição das receitas tributárias
– Direito Administrativo
• Por especialização
– Direito tributário
• Disciplina o exercício das atividades administrativas
– Tributárias e fiscais
» Fiscalização, controle da arrecadação, processo administrativo
fiscal, etc...
» Define os conceitos de União, Estados, distrito Federal,
Municípios, etc..
– Direito Financeiro
• Por especialização
– Direito tributário
• Disciplina a atividade financeira do Estado.
– Obtenção das receitas públicas.
– Direito Penal
• Ilícitos tributários tipificados como crimes
– Crimes contra a ordem tributária;
– Sonegação fiscal;
– Corrupção
– Direito Civil
• O tributo incide sobre atos, fatos e situações jurídicas
– Renda, circulação de mercadorias, sucessão, patrimônio, etc..
• Utiliza seus institutos
– A norma tributária utiliza definições dos institutos dos outros ramos
do direito

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» Pessoal natural, pessoa jurídica, empresa ...
» Renda, propriedade ...
» Herdeiro, adquirente ...
– Direito Processual
• Código de Processo Civil
– Ações judiciais
» Ação de execução fiscal;
» Mandado de segurança;
» Ação de consignação em pagamento;
» Ação declaratória;
» .....
– Processo Administrativo Fiscal
» Utiliza os institutos de forma subsidiária.
– Direito Internacional:
• tratados e convenções internacionais firmados entre diversas Nações,
no sentido de evitar a dupla tributação.
Considerando o que foi exposto, percebe-se claramente que a autonomia não
é absoluta. O direito tributário é subordinado aos princípios constitucionais, é uma
especialização em relação ao direito administrativo e vinculado muito fortemente ao
direito financeiro. Nesse último caso, tal vinculação se dá pela importância da receita
tributária na formação das receitas públicas e seu papel dentro do orçamento
público.
Em termos de orçamento público, é possível afirmar que os ingressos
públicos dividem-se em próprios e de terceiros. Os próprios, por sua vez, dividem-se
em receitas originárias e derivadas.
Por fim, convém ressaltar que o preço público ou tarifa classifica-se como
receita originária. As diferenças e as similaridades entre estes e as taxas serão
abordados mais adiante, quando essa espécie de tributo for estudada.
Resumidamente, pode-se sintetizar esses conceitos da seguinte forma:

Receita originária – é aquela que o Estado aufere a partir de suas próprias fontes, ou seja, pelas
rendas de seu patrimônio, pelos lucros auferidos pelas empresas públicas e de economia mista, etc...

Receita derivada - A Lei nº 4.320, de 17 de março de 1964 estatui as normas gerais de direito
financeiro para elaboração e controle do orçamento público. Em seu artigo 9º define que tributo é a
receita derivada instituída pelas entidades de direito público, compreendendo os impostos, as taxas e

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contribuições nos termos da constituição e das leis vigentes em matéria financeira, destinando-se o
seu produto ao custeio de atividades gerais ou especificas exercidas por essas entidades

2 CONSTITUIÇÃO FEDERAL - SISTEMA TRIBUTÁRIO


NACIONAL

A Constituição Federal trata do Sistema Tributário Nacional no Título VI,


Capítulo I, assim resumido:

1. TÍTULO VI – DA TRIBUTAÇÃO E DO ORÇAMENTO (art. 145 ao 169)


a. Capítulo I – Do sistema Tributário Nacional (art.145 ao 162)
i. Seção I – Dos Princípios Gerais (art. 145 ao 149)
ii. Seção II - Limitações constitucionais ao Poder de Tributar
(art. 150 ao 152)
iii. Seção III – Dos Impostos da União (art. 153 e 154)
iv. Seção IV – Dos Impostos dos Estados e do Distrito Federal (art.
155)
v. Seção V – Dos Impostos dos Municípios (art. 156)
vi. Seção VI – Da Repartição das Receitas Tributárias (art. 157 ao
162)
b. Capítulo II – das Finanças Públicas
i. Seção I – Normas Gerais (art. 163 ao 169)
ii. Seção II – Dos Orçamentos (art. 165 ao 169

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3 CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL

LIVRO PRIMEIRO – SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL (Do art. 2º ao 95)

1. Título I – Disposições Gerais (art. 2º ao 5º)


2. Título II – Competência Tributária (art. 6º ao 15)
a. Capítulo I – Disposições Gerais (art. 6º ao 8º)
b. Capítulo II – Limitações da competência Tributária (art. 9º ao 15)
3. Título III – Impostos (art. 16 ao 76)
a. Capítulo I – Disposições Gerais (art. 16 ao 18)
b. Capítulo II – Impostos sobre o Comercio Exterior (art. 19 ao 28)
c. Capítulo III – Impostos sobre o Patrimônio e a Renda (art. 29 ao 45)
d. Capítulo IV – Impostos sobre a Produção e a Circulação (art. 45 ao 73)
e. Capítulo V – Impostos Especiais (art. 74 ao 76)
4. Título IV – Taxas (art. 77 ao 80)
5. Título V – Contribuição de Melhoria (art. 81 e 82)
6. Título VI – Distribuição de Receitas Tributárias (art. 83 ao 95)
a. Capítulo I – Disposições Gerais (art. 83 e 84)
b. Capítulo II – Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural e sobre a
Renda e Proventos de Qualquer Natureza (art. 85)
c. Capítulo III – Fundo de Participação dos Estados e dos Municípios (art.
86 ao 94)
d. Capítulo IV – Imposto sobre Operações Relativas a Combustíveis,
Lubrificantes, energia Elétrica e Minerais do País (at. 95)

LIVRO SEGUNDO – NORMAS GERAIS DE DIREITO TRIBUTÁRIO (Do art. 96


ao 218)

1. Título I – Legislação Tributária (art. 96 ao 112)


a. Capítulo I – Disposições Gerais (art. 96 a 100)
b. Capítulo II – Vigência da Legislação Tributária (art. 101 ao 104)
c. Capítulo III – Aplicação da Legislação Tributária (art. 105 e 16)
d. Capítulo IV – Interpretação e Integração da Legislação Tributária (art.
107 ao 112)
2. Título II – Obrigação Tributária (art. 139 ao 193)
a. Capítulo I – Disposições Gerais (art. 113)
b. Capítulo II – Fato Gerador (art. 114 ao 118)
c. Capítulo III – Sujeito Ativo (art. 119 e 120)
d. Capítulo IV – Sujeito Passivo (art. 121 ao 127)
e. Capítulo V – Responsabilidade Tributária (art. 128 ao 138)
3. Título III – Crédito Tributário (art. 139 ao 193)
a. Capítulo I – Disposições Gerais (art. 139 ao 141)
b. Capítulo II – Constituição do Crédito Tributário (art. 142 ao 150)

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c. Capítulo III – Suspensão do Crédito Tributário (art. 151 ao 155-A)
d. Capítulo IV – Extinção do crédito Tributário (art. 156 ao 174)
e. Capítulo V – Exclusão de crédito Tributário (art. 175 ao 182)
f. Capítulo VI – Garantias e Privilégios do Crédito Tributário (art. 183 ao
193)
4. Título IV – Administração Tributária (art. 194 ao 218)
a. Capítulo I – Fiscalização (art. 194 ao 200)
b. Capítulo II – Dívida Ativa (art. 201 ao 204)
c. Capítulo III – Certidões Negativas (art. 205 ao 218)

4 CONCEITO LEGAL DE TRIBUTO


O conceito legal de tributo está expresso no art. 3º do Código Tributário
Nacional (CTN):

Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir,
que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa
plenamente vinculada.

Para aprofundar o entendimento desse conceito, se faz necessário analisá-lo


por partes:

➢ Prestação – a palavra obrigação tem origem no direito romano. Este instituto


é composto de quatro elementos: sujeito ativo, sujeito passivo, o objeto da
obrigação e o vínculo jurídico. O objeto da obrigação desdobra-se em dar,
fazer (não fazer) ou prestar. Nesse caso, prestar significa a obrigação de
realizar o pagamento.

➢ Pecuniária – significa que é uma prestação em dinheiro.

➢ Compulsória – não é facultativa. O dever de pagar o tributo nasce


independentemente da vontade.

➢ Em moeda ou cujo valor nela se possa expressar – o tributo deve ser pago
em moeda corrente. No entanto, nos casos previstos em Lei, pode ser pago
por meio de dação em pagamento em bens imóveis (art. 156, XI do CTN) ou
em cheque, vale postal, estampilha ou papel selado (art 162 CTN). Nosso
ordenamento jurídico não prevê o pagamento in natura ou in labore.

➢ Que não constitua sanção de ato ilícito – tributo não é penalidade. A


hipótese de incidência deve ser sempre um ato lícito.

➢ Instituída em Lei – vige no Brasil o princípio da legalidade estrita. Esse


princípio está expresso no artigo 150, inciso I da CF: .... é vedado à União,
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - exigir ou aumentar
tributo sem lei que o estabeleça...

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➢ Cobrada mediante atividade administrativa vinculada – O CTN prevê no
parágrafo único do art. 142 que o lançamento tributário far-se-á mediante
atividade administrativa vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade
funcional. Isso significa dizer que o agente fiscal não pode interpretar o fato
ao seu livre arbítrio.

Cabe ressalvar que, em determinados casos, os conceitos trazidos pela


norma não são claros e precisos. Nesse caso, se está diante de interpretação
da norma, dando-lhe conteúdo e alcance e não de um ato discricionário ou
arbitrário.

Não se conclua, por isto, que um rendimento auferido em atividade ilícita não está sujeito ao tributo.
Nem se diga que admitir a tributação de tal rendimento seria admitir a tributação do ilícito. É
importante, neste particular, a distinção entre hipótese de incidência, que é a descrição normativa da
situação de fato, fato gerador do tributo, estudada no Capítulo IV da Segunda Parte deste Curso
(Obrigação Tributária). Quando se diz que o tributo não constitui sanção de ato ilícito, isto quer dizer
que a lei não pode incluir na hipótese de incidência tributária o elemento ilicitude. Não pode
estabelecer como necessária e suficiente à ocorrência da obrigação de pagar um tributo uma
situação que não seja lícita. Se o faz, não está instituindo um tributo, mas uma penalidade. Todavia,
um fato gerador de tributo pode ocorrer em circunstâncias ilícitas, mas essas circunstâncias são
estranhas à hipótese de incidência do tributo, e por isso mesmo irrelevantes do ponto de vista
tributário.

Demonstrando o dito acima, tomemos o exemplo do imposto de renda: alguém percebe rendimento
decorrente da exploração do lenocínio, ou de casa de prostituição, ou de jogo de azar, ou de qualquer
outra atividade criminosa ou ilícita. O tributo é devido. Não que incida sobre a atividade ilícita, mas
porque a hipótese de incidência do tributo, no caso, que é a aquisição da disponibilidade econômica
ou jurídica dos rendimentos, ocorreu. Só isto. A situação prevista em lei como necessária e suficiente
ao nascimento da obrigação tributária no imposto de renda é a aquisição da disponibilidade
econômica ou jurídica da renda ou dos proventos de qualquer natureza (CTN, art. 43) (HUGO DE
BRITO MACHADO, Curso de Direito Tributário).

5 NATUREZA JURÍDICA DO TRIBUTO


Da mesma forma que o conceito legal de tributo, encontra-se no art. 4º do
CTN a definição de sua natureza jurídica:

A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação,
sendo irrelevantes para qualificá-la:
I - a denominação e demais características formais adotadas pela lei;
II - a destinação legal do produto da sua arrecadação.

Segundo Becker, o fato gerador é o elemento da base de cálculo que


descreve o fato, aspecto, modo de ser ou estado que será medido, mensurado, ou
transformado em cifra (Alfredo Becker. Teoria Geral do Direito Tributário, 2. Ed, são
Paulo. Ed. Saraiva, 1972). É por meio do fato descrito na hipótese tributária, em seu
aspecto material, que se define a espécie tributária.

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O referido autor cita o exemplo em que o legislador especifica a propriedade
como fato gerador, mas escolhe como base de cálculo o valor dos rendimentos
obtidos pelo proprietário. Nesse caso, se estaria tributando a renda e não a
propriedade.

Também é irrelevante para se determinar a natureza jurídica o erro na


denominação ou a vinculação de sua arrecadação. É o caso da Súmula 306 do
STF, ao enunciar que as taxas de recuperação econômica e de assistência
hospitalar de Minas Gerais são legítimas, quando incidem sobre matéria tributável
pelo Estado.

6 ESPÉCIES DE TRIBUTO
A classificação mais conhecida é aquela utilizada pelo Código Tributário
Nacional em seu artigo 5º, ou seja, as espécies de tributos são impostos, taxas e
contribuição de melhoria.

A Constituição Federal, por seu turno, repetiu essa classificação no art. 145:

Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes
tributos:
I - impostos;
II - taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de
serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua disposição;
III - contribuição de melhoria, decorrente de obras públicas.

Ocorre que, no título reservado ao Sistema Tributário Nacional, além dessas


três espécies, o texto constitucional engloba outras duas possibilidades. Trata-se
dos empréstimos compulsórios e das contribuições.

Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios:

I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou


sua iminência;

II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o


disposto no art. 150, III, "b".

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio
econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua
atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo
do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o dispositivo

Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas
leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III. (EC nº
39/2002)

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Tal inserção gerou intenso debate entre os doutrinadores de modo que a
corrente majoritária, como também o Supremo Tribunal Federal, entendem que
atualmente são cinco as espécies tributárias, quais sejam:

6.1 Conceito Legal de Imposto


O artigo 16 do CTN conceitua imposto como o tributo cuja obrigação tem por
fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica,
relativa ao contribuinte. Em outras palavras, tem por fato gerador a manifestação
exterior de riqueza decorrente da capacidade econômica, incidindo basicamente
sobre o patrimônio, a renda ou o consumo.

A Constituição Federal disciplina no parágrafo primeiro do artigo 145 que


sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo
a capacidade econômica do contribuinte. Além disso, estabelece no segundo
parágrafo que as taxas não poderão ter base de cálculo própria de impostos.

É a espécie tributária dirigida aos contribuintes em geral (uti universi) com a


finalidade de custear a administração estatal em benefício da coletividade. Por conta
disso, sua receita não é vinculada a nenhuma atividade estatal específica, exceto
aquelas previstas no texto constitucional. Logo, diferentemente da taxa, não é
divisível nem específico.

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6.2 Conceito Legal de Taxa
▪ CTN – Art. 77.

• As taxas cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos
Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como fato gerador
o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial,
de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à
sua disposição.

6.3 Conceito Legal de Contribuição de Melhoria


• CTN - Art. 81.

• A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito


Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é
instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra
valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como
limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel
beneficiado.

DECRETO-LEI Nº 195, DE 24/02/1967.


Art 9º. Executada a obra de melhoramento na sua totalidade ou em parte suficiente para beneficiar
determinados imóveis, de modo a justificar o início da cobrança da Contribuição de Melhoria,
proceder-se-á ao lançamento referente a esses imóveis depois de publicado o respectivo
demonstrativo de custos.
Art 12. A Contribuição de Melhoria será paga pelo contribuinte da forma que a sua parcela anual
não exceda a 3% (três por cento) do maior valor fiscal do seu imóvel, atualizado à época da
cobrança.

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6.4 Empréstimo Compulsório
Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios:
I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou
sua iminência;
II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o
disposto no art. 150, III, "b".
Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à
despesa que fundamentou sua instituição.

6.5 Contribuições Especiais

Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no


domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como
instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o disposto nos arts. 146, III, e 150, I
e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o
dispositivo
Art. 149-A Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das
respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art.
150, I e III. (EC nº 39/2002)

15
6.5.1 Espécies de Contribuições Especiais

6.5.1.1 Contribuições Corporativas

16
6.5.1.2 Contribuições Sociais

6.5.1.3 Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico

7 CLASSIFICAÇÃO DOS TRIBUTOS

▪ QUANTO À COMPETÊNCIA IMPOSITIVA:


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• Federais

• Estaduais

• Municipais

• Distrito federal

▪ QUANTO À FUNÇÃO:

• fiscal

• extrafiscal

• parafiscal

▪ QUANTO À PRESTAÇÃO ESTATAL:

▪ Vinculado

• Taxas, contribuições de melhoria e contribuições sociais.

▪ Não vinculado

• Impostos, empréstimos compulsórios e contribuições sociais.

▪ QUANTO AO FATO TRIBUTÁRIO:

– pessoais

– reais

▪ QUANTO AO ÔNUS TRIBUTÁRIO:

– direto

– indireto

18
8. MACROPROCESSO TRIBUTÁRIO ESQUEMATIZADO

8.1 A Obrigação Tributária

Quatro são os elementos que estruturam a chamada obrigação tributária, a


saber (Profº. Edmilson Machado):

19
A obrigação tributária pode ser principal ou acessória (CTN, art. 113).

8.1.1 Política Fiscal – a delimitação do potencial econômico-


tributário

Entende-se por política fiscal o ajuste dos gastos de um Ente político e a sua
influência na economia. No caso dos municípios, por exemplo, a influência não é tão
relevante como ocorre na União, entretanto, o permanente estudo e
acompanhamento dos indicadores econômicos e fiscais pode auxiliar na otimização
da arrecadação tributária.

Mensurar e acompanhar o mercado é fundamental para a previsão de


receitas, como também para a comparação entre o ideal esperado e o efetivamente
arrecadado, visando encontrar desvios, perdas ou sonegação.

Além disso, torna-se importante instrumento de desenvolvimento local no


sentido de indicar quais os locais ou setores que necessitam de incentivos para o
crescimento econômico, a geração de renda e emprego dos cidadãos. É importante
também para mensurar a renúncia fiscal e as suas relações com o desenvolvimento
das políticas públicas.

Por fim, cabe salientar talvez a mais importante das funções, qual seja, a de
alinhar a legislação tributária com as ações de Secretarias ou Agências de
Desenvolvimento Econômico que tenham por objetivo a atração de novos
investimentos e o desenvolvimento sustentável do Ente político administrado.

8.1.2 A Legislação Tributária

Art. 96. A expressão "legislação tributária" compreende as leis, os tratados e as convenções


internacionais, os decretos e as normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre
tributos e relações jurídicas a eles pertinentes.

8.1.2.1 Atos normativos com força de Lei

De forma superficial pode-se conceituar lei como a norma escrita emanada do


poder competente que tem por objetivo o pronunciamento solene do direito.
20
Para fins de direito tributário, o princípio da legalidade é de suma importância,
uma vez que, de acordo com o artigo 5º, inciso II, da Constituição Federal, ninguém
pode ser obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa, senão em virtude da
lei. Em outras palavras, é da força da lei que nasce a obrigação tributária, uma vez
que exige-se lei para instituir ou aumentar tributo como regra geral.

De acordo com o art. 59 da Constituição Federal, classificam-se como atos


normativos com força de lei as emendas à Constituição Federal, as leis
complementares, as leis ordinárias, as leis delegadas, as medidas provisórias, os
decretos legislativos e as resoluções.

OBS: Não há necessidade de lei para se proceder a atualização monetária da


base de cálculo do tributo.

8.1.2.2 Tratados ou Convenções Internacionais

Em matéria tributária, os tratados são notadamente importantes no que tange


à Aduana e para se evitar a bitributação internacional.

As convenções que visam evitar a bitributação são aquelas firmadas por dois
ou mais países com o fim de evitar-se que os cidadãos de um deles, que possuam
domicílio, residência, propriedades ou negócios no outro, fiquem isentos da
duplicidade ou da multiplicidade da tributação (Profº. Edmilson Machado).

8.1.2.3 Atos infralegais

Atos infralegais são aqueles utilizados para detalhar ou disciplinar a execução


de determinada lei ou de outro ato administrativo de maior hierarquia.

Nos termos do artigo 110 do CTN. são normas complementares das leis, dos
tratados e das convenções internacionais e dos decretos:

I - os atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas;

II - as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição administrativa, a


que a lei atribua eficácia normativa;

III - as práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas;

IV - os convênios que entre si celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e


os Municípios.

21
8.1.2.3.1 Decretos e Resoluções

No sistema jurídico brasileiro os decretos são atos administrativos da


competência dos chefes do Poder Executivo. Tem por finalidade, nos termos do
inciso IV do artigo 84 da Constituição Federal, regulamentar ou detalhar leis
publicadas. Tem também a finalidade fazer nomeações, organizar estruturas
administrativas e disciplinar a execução de serviços públicos.

As resoluções, por sua vez, podem ter força de lei ou se classificarem como
atos administrativos. Tem força de lei, conforme previsto no artigo 59 da constituição
Federal, quando disciplinarem ou regularem matéria de competência do Congresso
Nacional, tanto de caráter político como administrativo. São classificadas como atos
administrativos quando publicadas por autoridades superiores, que não o Chefe do
Executivo, para disciplinarem matérias específicas de sua competência.

8.1.2.3.2 Atos Normativos

Esses atos, como previsto no artigo 100, inciso 1, do CTN, são aqueles
expedidos pelas autoridades administrativas, necessários à perfeita execução das
leis, inclusive para o bom funcionamento da Administração e da conduta funcional
de seus agentes.

Os atos administrativos normativos são fundamentados no poder de direção,


inerente aos dirigentes, para harmonia e unidade dos serviços públicos.

O ato normativo administrativo é gênero, do qual constituem espécies, dentre


outros, as Portarias, as Circulares, os Avisos, as Instruções e as Instruções
Normativas (Profº. Edmilson Machado).

8.1.2.3.3 Decisões Administrativas

São as decisões dos órgãos singulares ou coletivos de jurisdição


administrativa, a que a lei atribua eficácia normativa.

Essas decisões não se originam da atuação dos órgãos judiciais ou dos


juízes. Tratam-se de decisões consequentes da atuação da Administração. O que
interessa é o resultado da interpretação administrativa, ou melhor, a maneira como a
Administração interpreta os textos legais (Profº. Edmilson Machado).

8.1.2.3.4 Usos e costumes

22
As práticas reiteradamente observadas pelas autoridades administrativas, no
dia-a-dia das repartições, são normas complementares.

O costume administrativo é fonte privilegiada do direito, pois exprime a ordem da


sociedade, uma norma que não é repelida pela ordem social.

8.1.2.3.5 Convênios

Nos termos do artigo 100, inciso IV, do CTN, os convênios que entre si
celebrem a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, são normas
complementares das leis, dos tratados e das convenções internacionais e dos
decretos.

8.1.2.4 Jurisprudência e Doutrina

A Jurisprudência dos Tribunais e a doutrina não constituem fonte criadora ou


complementar do Direito Tributário, ou seja, não fazem parte do conjunto da
legislação tributária.

Não se pode negar, contudo, a inegável colaboração da jurisprudência e da


doutrina para o entendimento e aplicação do direito (Profº. Edmilson Machado).

8.1.2.5 Vigência da Legislação Tributária

A vigência de uma lei representa a identificação do momento em que uma lei


(existente; já publicada no Diário Oficial) se integra na ordem jurídica com aptidão
para ser eficaz, ou, melhor dizendo, do momento em que uma lei passa a ter
validade formal, estando em condições de ser aplicada a todos.

Existem 3 momentos principais e distintos que se referem ao aspecto


temporal da vigência da norma jurídica tributária, a saber:

23
Como regra geral, no Brasil, a lei tributária, tem por costume definir a sua data
de entrada em vigor, com a menção da expressão: “Esta lei entrará em vigor na
data de sua publicação.”

Existem hipóteses, contudo, em que a lei é publicada numa data, mas só


começa a vigorar em outra, posteriormente. Nesses casos, embora a lei já esteja
integrando o ordenamento jurídico, em razão de sua publicação no Diário Oficial, ela
ainda não é eficaz ou seja, ainda não está produzindo seus efeitos.

Denomina-se VACATIO LEGIS o período de tempo que se inicia com a


publicação da lei e que termina com a sua efetiva entrada em vigor, ou, melhor
dizendo, com a sua efetiva aplicação.

Durante esse período da vacatio legis, os atos praticados em conformidade


com a lei anterior são perfeitamente válidos.

Para as leis, ver regras referentes ao princípio da anterioridade. Para as


normas complementares, vale o art. 103 dos CTN (Salvo disposição em contrário,
entram em vigor).

8.1.3 CTN – Fato Gerador da Obrigação Tributária

Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como


necessária e suficiente à sua ocorrência.

Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que, na forma da


legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure
obrigação principal.

Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e


existentes os seus efeitos:

24
Parágrafo único. A autoridade administrativa poderá desconsiderar atos ou
negócios jurídicos praticados com a finalidade de dissimular a ocorrência do
fato gerador do tributo ou a natureza dos elementos constitutivos da obrigação
tributária, observados os procedimentos a serem estabelecidos em lei ordinária.

8.2 Crédito Tributário

O crédito tributário corresponde à prestação em moeda ou outro valor nela se


possa exprimir, que o sujeito ativo da obrigação tributária (União, Estados, Distrito
Federal e Municípios) tem o direito de exigir do sujeito passivo direto ou indireto
(contribuinte, responsável ou terceiro).

8.2.1 Constituição do Crédito Tributário Pelo Lançamento

O artigo 142 do CTN define o lançamento como o ato que constitui o


crédito tributário, praticado, privativamente pela respectiva Autoridade
Administrativa, sendo o procedimento administrativo tendente a:

a) verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente;

b) determinar a matéria tributável;

c) calcular o montante do tributo devido, ou seja, o débito a pagar;

d) identificar o sujeito passivo; e

e) propor a aplicação da penalidade cabível, quando for o caso.

LANÇAMENTO COM BASE NA LEI VIGENTE À ÉPOCA DO FATO GERADOR

Nos termos do artigo 144 do nosso CTN, a atividade de lançamento deve


reportar-se à data da ocorrência do fato gerador da respectiva obrigação e
formalizar-se com base na lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou
revogada.

25
Art. 147. O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro,
quando um ou outro, na forma da legislação tributária, presta à autoridade administrativa
informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua efetivação.
§ 1º A retificação da declaração por iniciativa do próprio declarante, quando vise a reduzir ou a
excluir tributo, só é admissível mediante comprovação do erro em que se funde, e antes de
notificado o lançamento.
§ 2º Os erros contidos na declaração e apuráveis pelo seu exame serão retificados de ofício pela
autoridade administrativa a que competir a revisão daquela.

Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos
seguintes casos:
I - quando a lei assim o determine;
II - quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na forma da legislação
tributária;
III - quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declaração nos termos do
inciso anterior, deixe de atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de
esclarecimento formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste
satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade;
IV - quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na
legislação tributária como sendo de declaração obrigatória;
V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no
exercício da atividade a que se refere o artigo seguinte;
VI - quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente obrigado,
que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária;
VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo,
fraude ou simulação;
VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do lançamento
anterior;
(...)
IX - quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da
autoridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade especial.
Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada enquanto não extinto o direito da
Fazenda Pública.

Art. 150. O lançamento por homologação, que ocorre quanto aos tributos cuja legislação atribua
ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade

26
administrativa, opera-se pelo ato em que a referida autoridade, tomando conhecimento da
atividade assim exercida pelo obrigado, expressamente a homologa.
§ 1º O pagamento antecipado pelo obrigado nos termos deste artigo extingue o crédito, sob
condição resolutória da ulterior homologação ao lançamento.
(...)
§ 4º Se a lei não fixar prazo a homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do
fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-
se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a
ocorrência de dolo, fraude ou simulação.

8.2.2 Confissão de Dívida -Outra forma de constituição do Crédito


Tributário

8.2.2.1 Por Declaração

Na esfera federal a confissão de dívida por declaração está prevista no


decreto-Lei nº 2.124/84:

Art. 5º O Ministro da Fazenda poderá eliminar ou instituir obrigações acessórias relativas a tributos
federais administrados pela Secretaria da Receita Federal.
§ 1º O documento que formalizar o cumprimento de obrigação acessória, comunicando a existência
de crédito tributário, constituirá confissão de dívida e instrumento hábil e suficiente para
a exigência do referido crédito.
§ 2º Não pago no prazo estabelecido pela legislação o crédito, corrigido monetariamente e acrescido
da multa de vinte por cento e dos juros de mora devidos, poderá ser imediatamente inscrito em dívida
ativa, para efeito de cobrança executiva, observado (...) (grifos meus).

Em maio de 2010 o Superior Tribunal de Justiça publicou a Súmula 436 com


o seguinte enunciado:

“A entrega de declaração pelo contribuinte reconhecendo débito fiscal constitui o crédito tributário,
dispensada qualquer outra providência por parte do fisco”

8.2.2.2 Pela solicitação de parcelamento

Em regra, as leis de parcelamento de dívida tributárias estabelecem


determinadas condições para a adesão por parte dos contribuintes. Entre elas, está
a exigência de que o contribuinte assine um termo confessando o débito, bem como
desista de todas as ações nas quais esteja discutindo a validade da dívida a ser
parcelada.

Em decisão recentemente publicada o STJ consolidou entendimento que a


confissão de débito não valida a constituição de crédito tributário atingido pela

27
decadência. Esse acórdão consolida posicionamento de que a confissão não impede
a discussão deste e de outros aspectos jurídicos dos débitos (Machado e Cardinali
Advogados. http://mca.adv.br/?p=2250)

8.2.2.3 Pela denúncia espontânea

Muito pouco usado, está previsto no art. 138 do CTN:

Art. 138. A responsabilidade é excluída pela denúncia espontânea da infração, acompanhada, se for
o caso, do pagamento do tributo devido e dos juros de mora, ou do depósito da importância arbitrada
pela autoridade administrativa, quando o montante do tributo dependa de apuração.
Parágrafo único. Não se considera espontânea a denúncia apresentada após o início de qualquer
procedimento administrativo ou medida de fiscalização, relacionados com a infração.

8.3 Crédito Tributário - Controle e Cobrança Administrativa

Essa é uma das fases mais importantes do processo, mas também é aquela
que as Administrações Tributárias dedicam menos importância. Tal pensamento é
reflexo da cultura de fiscalização, cuja carreira sempre foi a mais privilegiada em
termos de poder e remuneração. A ideia é fiscalizar! Raros são os fiscais que tem
pensamento gerencial e mais raros ainda aqueles que se dedicam às outras fases
do macroprocesso tributário. Trabalhar na área de controle e cobrança parece ser
uma coisa menor e na área meio é uma espécie de castigo.

Mesmo na Receita Federal, isso ainda é muito forte. Recentemente todos os


fiscais que eram chefes de agências no interior, que lidam basicamente com
atendimento, controle e cobrança do crédito tributário foram exonerados de seus
cargos.

Prevalece a cultura do lançamento! A cobrança e controle pode ficar com


servidores de carreiras “menos nobres”.

Por conta disso, a prescrição é elevada, normalmente, a dívida ativa acumula


valores estratosféricos e se aceita a cultura do “crédito podre”, fruto de lançamentos
equivocados que não são saneados pelas carreiras “mais nobres”

Mas essa cultura está mudando! As modernas administrações tributárias e o


próprio cidadão estão exigindo cada vez mais eficiência nos processos, eficácia nos
resultados e efetividade nas políticas públicas. Tudo isso requer recursos e não se
pode mais aceitar que posturas corporativistas impeçam a busca pela excelência
nos serviços públicos.

Na busca dessa performance, nenhum detalhe pode ser negligenciado, a


começar pelos cadastros. Em regra, estão desatualizados ou incompletos,
28
principalmente, no caso dos municípios, a falta de CPF ou CNPJ nos registros do
IPTU. Essa é uma falha gravíssima, pois a partir do ano que vem o boleto bancário
deve ser emitido com CPF constando no código de barras e a Justiça não aceita
mais ações de execução que não identifiquem o devedor com esses números.

Ainda na esteira da busca pela excelência não se pode olvidar o controle dos
maiores contribuintes. Preferencialmente, deve ser montada uma equipe dedicada a
esse mister, selecionando aqueles que representem 70% da arrecadação, para um
controle quase que individual, e os que representam 90%, para um controle um
pouco mais brando.

Além desses, elenca-se outros fatores muito importantes para controle e


acompanhamento:

• controle da prescrição e decadência


• controle da rede arrecadadora;
• controle das restituições;
• controle dos prazos para a cobrança
• controle de conta corrente por sujeito passivo;
• cobrança de juros e multas de mora

Retornando ao macroprocesso tributário, o CTN prevê, do artigo 151 em


diante, aquilo que na prática se chama de administração do crédito tributário. Assim,
logo após o lançamento, o valor registrado será extinto pelo pagamento, por
exemplo, por parte do contribuinte, se houver concordância; terá sua exigibilidade
suspensa, se houver alguma discordância ou negociação; ou será excluído, nos
casos de anistia ou isenção

8.3.1 Suspensão da Exigibilidade

O artigo 151 do CTN elenca seis hipóteses de situações em que o crédito


tributário não pode ser cobrado. A Administração Tributária deve aguardar que
cesse os efeitos da causa suspensiva para dar prosseguimento nas fases de
cobrança, como a inscrição em dívida ativa, por exemplo.

Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:


I - moratória;
II - o depósito do seu montante integral;
III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário
administrativo;
IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança;
V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial;
VI – o parcelamento.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das obrigações assessórias
dependentes da obrigação principal cujo crédito seja suspenso, ou dela consequentes.

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8.3.1.1 Moratória

Hipótese de suspensão prevista no CTN entre os artigos 152 a 155-A,


raramente usada pois deve ser estabelecida por lei, justificada por situações
específicas (calamidade pública, por exemplo).

Pode ser estabelecida pela União em relação aos tributos estaduais e


municipais, desde que concedida aos tributos federais

Em linhas gerais, a moratória:

• pode ter caráter geral ou individual


• é sempre a prazo determinado, podendo ser dividida em prestações
• pode ser regionalizada e dirigida a uma determinada classe
• não aproveita aos casos de dolo, fraude ou simulação
• individualmente, não gera direito adquirido, podendo ser revogada de
ofício.

Obs: Nos termos do art. 155 CTN, a moratória em caráter individual poderá ser
revogada, não gerando direito adquirido, no entanto, em se revogando a respectiva
moratória, o prazo entre a concessão e a revogação da moratória não conta como
prazo prescricional quando estiverem presentes o dolo, a fraude ou a simulação.
Conta-se como prazo de prescrição em situação contrária.

Em caso de dolo, fraude ou simulação, cobra-se o tributo acrescido de juros e


multas. Caso contrário, cobra-se apenas o respectivo tributo acrescido de juros.

8.3.1.2 Depósito em montante integral

Processo administrativo ou judicial em que se discute sobre o crédito


tributário, a fim de evitar a cobrança, pois efetuado o depósito, não pode o Estado
tomar qualquer medida executiva, já que o valor do crédito discutido encontra-se
garantido.

O depósito não é pressuposto da discussão, mas garantia de que o devedor


não será cobrado. Tem o efeito também de fazer estancar a fluência de acréscimos
moratórios ao Crédito Tributário. Não há que se confundir o depósito do montante
integral possuidor dos efeitos acima com o depósito recursal de uma % do Crédito
Tributário,

8.3.1.3 Impugnações e recursos

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Pelo simples fato de o sujeito passivo ter se socorrido da esfera administrativa
para a solução da sua inconformidade para com o crédito tributário, a Fazenda
Pública fica impedida de mover ação de Execução Fiscal. Fica suspensa a
exigibilidade do crédito tributário até decisão do respectivo processo administrativo,
A impugnação ou recurso remetem a exigência a um controle interno de legalidade,
isto é, a uma revisão interna.

8.3.1.4 Liminar em Mandado de Segurança

Liminar é o provimento emergencial dado pelo juiz, a fim de evitar a


irreparabilidade do dano pelo retardamento da sentença. Pelo referido despacho do
magistrado, a Fazenda deve se abster de efetuar cobrança do crédito até que seja
julgado o mérito do mandado ou até que a liminar seja revogada.

A tutela antecipada também é decisão no curso do processo, antes da


sentença, que suspende a exigibilidade do crédito. Difere da liminar por possuir
conteúdo de mérito, produzir efeitos de sentença, apesar de não ser sentença e
passível de alteração quando desta última. Tanto a liminar quanto a tutela
antecipada são passíveis de serem revogadas.

8.3.1.5 Parcelamento

O parcelamento foi inserido no CTN pela Lei Complementar 104, de 2001,


regulamentando uma situação de fato que já existia antes da previsão legal.

8.3.2 Modalidades de Extinção do Crédito Tributário

Art. 156. Extinguem o crédito tributário:


I - o pagamento;
II - a compensação;
III - a transação;
IV - remissão;
V - a prescrição e a decadência;
VI - a conversão de depósito em renda;
VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo
150 e seus §§ 1º e 4º;
VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164;
IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que
não mais possa ser objeto de ação anulatória;
X - a decisão judicial passada em julgado.
31
XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei.

8.3.2.1 Pagamento

Os artigos 157 a 169 tratam do assunto e, dentre esses, cabe ressaltar os


seguintes tópicos:

• A legislação tributária pode conceder desconto pela antecipação do


pagamento, nas condições que estabeleça;
• O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de juros de
mora de, salvo disposição em contrário, 1% ao mês;
• Existindo simultaneamente dois ou mais débitos vencidos do mesmo
sujeito passivo para com a mesma pessoa jurídica de direito público,
relativos ao mesmo ou a diferentes tributos ou provenientes de penalidade
pecuniária ou juros de mora, a autoridade administrativa competente para
receber o pagamento determinará a respectiva imputação, obedecidas as
seguintes regras, na ordem em que enumeradas:
o I - em primeiro lugar, aos débitos por obrigação própria, e em
segundo lugar aos decorrentes de responsabilidade tributária;
o II - primeiramente, às contribuições de melhoria, depois às taxas
e por fim aos impostos;
o III - na ordem crescente dos prazos de prescrição;
o IV - na ordem decrescente dos montantes.
• A importância de crédito tributário pode ser consignada judicialmente pelo
sujeito passivo e, se julgada procedente, o pagamento se reputa efetuado e
a importância consignada é convertida em renda; julgada improcedente a
consignação no todo ou em parte, cobra-se o crédito acrescido de juros de
mora, sem prejuízo das penalidades cabíveis.

8.3.2.2 Compensação

A compensação está prevista nos artigos 170 e 170-A, dispondo que a lei
pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja estipulação em cada
caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos
tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo
contra a Fazenda pública.

Sendo vincendo o crédito do sujeito passivo, a lei determinará, para os efeitos


deste artigo, a apuração do seu montante, não podendo, porém, cominar redução
maior que a correspondente ao juro de 1% (um por cento) ao mês pelo tempo a
decorrer entre a data da compensação e a do vencimento.
32
É vedada a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto de
contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva
decisão judicial

8.3.2.3 Transação

No artigo 171 está consignado que a lei pode facultar, nas condições que
estabeleça, aos sujeitos ativo e passivo da obrigação tributária celebrar transação
que, mediante concessões mútuas, importe em determinação de litígio e
consequente extinção de crédito tributário.

8.3.2.4 Remissão

Remissão (há diferença entre remissão e anistia) significa o perdão da dívida


referente a créditos tributários vencidos, estabelecido por lei específica que autoriza
a autoridade administrativa a conceder, por despacho fundamentado, remissão total
ou parcial do crédito tributário (principal), atendendo:

• à situação econômica do sujeito passivo;


• ao erro ou ignorância escusáveis do sujeito passivo, quanto a matéria de
fato;
• à diminuta importância do crédito tributário;
• a considerações de equidade, em relação com as características pessoais
ou materiais do caso;
• a condições peculiares a determinada região do território da entidade
tributante.

8.3.2.5 Decadência

Como modalidade de extinção do crédito tributário, é o evento que retira da


Fazenda Pública o direito de constituir o crédito tributário, por não tê-lo exercido
dentro do prazo previsto na lei. É o fenômeno que corresponde a perda do direito de
lançar. O prazo decadencial é sempre de cinco anos, não se suspende e nem se
interrompe, variando caso a caso o momento do início da contagem.

• Nos casos de lançamento por homologação, conta-se o prazo a partir do fato


gerador (regra geral), salvo nos casos de dolo, fraude ou homologação.

33
• Nos casos de lançamento de ofício ou por declaração, conta-se 5 anos a
partir do primeiro dia do exercício subsequente em que o lançamento poderia
ter sido efetuado (regra geral).
• Se o caso é de anulação de lançamento anteriormente efetuado por vício
formal, conta-se 5 anos da data em que se tornar definitiva a decisão.
• Para os casos em que houver notificação de medida preparatória do
lançamento, conta-se 5 anos a partir da data da notificação.

8.3.2.6 Prescrição

A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados


da data da sua constituição definitiva. Entende-se como constituição definitiva a data da
ciência do lançamento não impugnado ou a data que tornou definitiva a decisão
administrativa que julgou o lançamento.

A prescrição se suspende e se interrompe. Nos casos de suspensão, a


contagem recomeçará de onde parou tão logo cesse a causa que provocou a
suspensão. Por outro lado, nos casos de interrupção, a contagem do prazo será
reiniciada do zero. Nos termos do artigo 174 do CTN, a prescrição se interrompe:

• pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal;


• pelo protesto judicial;
• por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
• por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em
reconhecimento do débito pelo devedor.

A inscrição do crédito em dívida ativa suspende o prazo prescricional por 180


dias, ou até a distribuição da execução se esta se der antes (art. 2º, §2º, da Lei
6.830/80).

8.3.3 Modalidades de Exclusão de Crédito Tributário

Essas modalidades estão previstas nos artigos 175 a 182 do CTN e


referem-se a situações em que a Fazenda Pública está impedida de constituir o
crédito tributário mediante lançamento, embora tenha ocorrido o fato gerador de
tributo ou a infração geradora de obrigação tributária principal.

Excluem o crédito tributário:

I - a isenção;

II - anistia.

34
A exclusão de crédito tributário não dispensa o cumprimento das
obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja
excluído, ou dela consequente.

8.3.3.1 Isenção

A isenção é sempre decorrente de lei que especifique as condições e


requisitos exigidos para a sua concessão, os tributos a que se aplica e, sendo caso,
o prazo de sua duração. Há exceção no caso do ICMS, quando poderá ser
concedida por Convênio. (CF, art. 150 § 6.º; 155 § 2.º ,XII, g e 34 §8.º ADCT).

A isenção:

• Pode ser restrita a determinada região do território da entidade tributante, em


função de condições a ela peculiares.
• Não é extensiva aos demais tributos, nem aos tributos instituídos
posteriormente à sua concessão, exceto se previsto em lei.
• A interpretação dos dispositivos legais deve ser literal, de acordo com o art.
111 do CTN.
• Se concedida a prazo determinado e sob determinadas condições não pode
ser revogada a qualquer tempo.
• Quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em cada caso, por
despacho da autoridade administrativa, em requerimento com o qual o
interessado faça prova do preenchimento das condições e do cumprimento
dos requisitos previstos em lei ou contrato para concessão.
• Tratando-se de tributo lançado por período certo de tempo, o despacho
referido neste artigo será renovado antes da expiração de cada período,
cessando automaticamente os seus efeitos a partir do primeiro dia do período
para o qual o interessado deixar de promover a continuidade do
reconhecimento da isenção
• O despacho referido neste artigo não gera direito adquirido

8.3.3.2 Anistia

A anistia deve ser estabelecida por lei específica (CF, art. art.150, §6º) e está
prevista nos artigos 180 a 182 do CTN. Consiste no perdão do ato ilícito cometido e
consequentemente o perdão da sanção respectiva (multa). Além disso:

• Não se aplica a infrações ocorridas posteriormente à vigência da lei da


anistia, somente a infrações que já tenham sido cometidas antes da vigência
da respectiva lei.

35
• Não se aplica a infrações tributárias que, ao mesmo tempo, sejam tipificadas
como crimes ou contravenções ou que tenham sido cometidas mediante dolo,
fraude ou simulação por parte do sujeito passivo.
• Salvo disposição de lei, não se aplica a casos de conluio.
• Pode ser concedida em caráter geral ou individual. Quando individual, é
efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade administrativa, em
requerimento com a qual o interessado faça prova do preenchimento das
condições e do cumprimento dos requisitos previstos em lei para sua
concessão. Não gera direito adquirido.
• Pode ser concedida limitadamente:
o a) às infrações da legislação relativa a determinado tributo;
o b) às infrações punidas com penalidades pecuniárias até determinado
montante, conjugadas ou não com penalidades de outra natureza;
o c) a determinada região do território da entidade tributante, em função
de condições a ela peculiares;
o d) sob condição do pagamento de tributo no prazo fixado pela lei que a
conceder, ou cuja fixação seja atribuída pela mesma lei à autoridade
administrativa.

8.3.4 Garantias e Privilégios do Crédito Tributário

Na forma do art. 186 do CTN, o crédito tributário prefere a qualquer outro,


ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de
trabalho.

A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de credores


ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, inventário ou
arrolamento. O concurso de preferência somente se verifica entre pessoas jurídicas
de direito público, na seguinte ordem:

I - União;

II - Estados, Distrito Federal e Territórios, conjuntamente e pró rata;

III - Municípios, conjuntamente e pró rata.

São pagos preferencialmente a quaisquer outros os créditos tributários


vencidos ou vincendos, a cargo de pessoas jurídicas de direito privado em
liquidação judicial ou voluntária, exigíveis no decurso da liquidação.

São extraconcursais os créditos tributários decorrentes de fatos geradores


ocorridos no curso do processo de falência, aplicando-se também aos processos de
concordata. Também são pagos preferencialmente a quaisquer créditos habilitados
em inventário ou arrolamento, ou a outros encargos do monte, os créditos tributários
vencidos ou vincendos, a cargo do de cujus ou de seu espólio, exigíveis no decurso
do processo de inventário ou arrolamento

36
Contestado o crédito tributário, o juiz remeterá as partes ao processo
competente, mandando reservar bens suficientes à extinção total do crédito e seus
acrescidos, se a massa ou o espólio não puder efetuar a garantia da instância por
outra forma, ouvido, quanto à natureza e valor dos bens reservados, o representante
da Fazenda Pública interessada.

Na falência:

• o crédito tributário não prefere aos créditos extraconcursais ou às


importâncias passíveis de restituição, nos termos da lei falimentar, nem aos
créditos com garantia real, no limite do valor do bem gravado.
• a lei poderá estabelecer limites e condições para a preferência dos créditos
decorrentes da legislação do trabalho; e
• a multa tributária prefere apenas aos créditos subordinados

8.4 Administração Tributária

A Administração Tributária é compreendida na prática como o controle e


administração do Crédito Tributário desde seu lançamento até a sua extinção. No
CTN, entretanto, está prevista nos artigos 194 a 218.

Mediante intimação escrita, são obrigados a prestar à autoridade


administrativa todas as informações de que disponham com relação aos bens,
negócios ou atividades de terceiros:

• os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício;


• os bancos, casas bancárias, Caixas Econômicas e demais instituições
financeiras;
• as empresas de administração de bens;
• os corretores, leiloeiros e despachantes oficiais;
• os inventariantes;
• os síndicos, comissários e liquidatários;
• quaisquer outras entidades ou pessoas que a lei designe, em razão de
seu cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão.
A obrigação não abrange a prestação de informações quanto a fatos sobre os
quais o informante esteja legalmente obrigado a observar segredo em razão de
cargo, ofício, função, ministério, atividade ou profissão.

As informações obtidas pelos servidores fazendários em razão do ofício estão


cobertas pelo sigilo fiscal. Excetuam-se:

• representações fiscais para fins penais;


• inscrições na Dívida Ativa da Fazenda Pública;
• parcelamento ou moratória.
37
A Fazenda Pública da União e as dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios prestar-se-ão mutuamente assistência para a fiscalização dos tributos
respectivos e permuta de informações, na forma estabelecida, em caráter geral ou
específico, por lei ou convênio.

8.4.1 Dívida Ativa

É a que provém de crédito tributário ou não tributário não pago na época


própria pelo sujeito passivo. Diz-se ativa pois é passível de cobrança mediante ação
de execução fiscal. A inscrição do crédito tributário em dívida ativa tem como
principal finalidade instrumentalizar a ação de execução, uma vez que a certidão de
dívida ativa constitui título executivo extrajudicial, nos termos do Código de Processo
Civil.

Constitui dívida ativa tributária a proveniente de crédito dessa natureza,


regularmente inscrita na repartição administrativa competente, depois de esgotado o
prazo fixado, para pagamento, pela lei ou por decisão final proferida em processo
regular.

Entretanto, há uma falsa ideia que a inscrição em dívida ativa seja o melhor
instrumento de cobrança. Na verdade, é o que possibilita maior coerção e depende
de uma boa gestão de sua carteira. Não inscrever valores muito baixos, por
exemplo, que propiciam um retorno tão insignificante que não paga nem a hora
trabalhada, é uma forma de evitar milhares de processos que demandarão o mesmo
tempo de outros de maior valor.

De acordo com as melhores práticas de cobrança, quanto antes o devedor for


instado a adimplir o débito, maiores as chances de seu recebimento. Assim, é
recomendável iniciar a cobrança ainda na fase administrativa, com a expedição de
cartas assim que o débito vencido não for pago, mesmo que seja durante o
pagamento das cotas de IPTU, por exemplo.

Por outro lado, não resta outra alternativa senão inscrever em o débito em
dívida ativa, nos casos em que o contribuinte, após sucessivas tentativas de
cobrança administrativa, não paga o que é devido.

Assim, realizada a inscrição, as Procuradorias Fiscais tentam ainda uma vez


mais a cobrança administrativa, melhor conhecida como amigável, nessa fase, antes
de partir para a execução fiscal.

Outra alternativa recente e muito eficaz é o protesto extrajudicial da dívida.


Tem sido recomendado inclusive pelos tribunais, como forma de diminuir o número
de processos de execução.

Por fim, se nada foi conseguido com todas essas iniciativas, recomenda-se
instaurar a fase de cobrança executiva, buscando o mais rapidamente possível

38
satisfazer o crédito tributário, lançando mão de instrumentos poderosos, disponíveis
atualmente, como o leilão e a penhora online.

Voltando à teoria, o CTN estabelece eu a dívida regularmente inscrita goza da


presunção de certeza e liquidez e tem o efeito de prova pré-constituída. Entretanto,
a presunção é relativa e pode ser ilidida por prova inequívoca, a cargo do sujeito
passivo ou do terceiro a que aproveite. Cabe registrar que a fluência de juros de
mora não afasta a liquidez do crédito

O termo de inscrição da dívida ativa indicará obrigatoriamente:

• o nome do devedor e, sendo caso, o dos co-responsáveis, bem como,


sempre que possível, o domicílio ou a residência de um e de outros;
• a quantia devida e a maneira de calcular os juros de mora acrescidos;
• a origem e natureza do crédito, mencionada especificamente a disposição
da lei em que seja fundado;
• a data em que foi inscrita;
• sendo caso, o número do processo administrativo de que se originar o
crédito.

A omissão de quaisquer dos requisitos previstos acima, ou o erro a eles


relativo, são causas de nulidade da inscrição e do processo de cobrança dela
decorrente, mas a nulidade poderá ser sanada até a decisão de primeira instância,
mediante substituição da certidão nula, devolvido ao sujeito passivo, acusado ou
interessado o prazo para defesa, que somente poderá versar sobre a parte
modificada.

A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado tributo, quando


exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à vista de requerimento do
interessado, no prazo máximo de 10 (dez) dias da data da entrada do requerimento
na repartição.

Tem os mesmos efeitos de negativa a certidão de que conste a existência de


créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em que tenha sido efetivada
a penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa.

Independentemente de disposição legal permissiva, será dispensada a prova


de quitação de tributos, ou o seu suprimento, quando se tratar de prática de ato
indispensável para evitar a caducidade de direito, respondendo, porém, todos os
participantes no ato pelo tributo porventura devido, juros de mora e penalidades
cabíveis, exceto as relativas a infrações cuja responsabilidade seja pessoal ao
infrator.

8.4.2 Processo Fiscal

Para fins do processo administrativo fiscal, os prazos fixados no CTN ou na


legislação tributária serão contínuos, excluindo-se na sua contagem o dia de início e
39
incluindo-se o de vencimento, salvo disposição em contrário. Os prazos só se
iniciam ou vencem em dia de expediente normal na repartição em que corra o
processo ou deva ser praticado o ato.

Para os entes que não possuem legislação própria, pode-se usar


subsidiariamente a Lei Federal nº 9.784/99, que regulamenta o processo
administrativo no âmbito federal.

Em regra, o contencioso administrativo possui duplo grau de jurisdição, nos


moldes do modelo federal ou do judiciário. Em alguns casos existe mais um grau
recursal, que remete a matéria para o Secretário de Fazenda, a fim de examinar
toda a matéria ou alguns casos específicos, conforme previsão na legislação própria.

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BIBLIOGRAFIA

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Saraiva, 1972

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Financeiro para elaboração e controle dos orçamentos e balanços da União, dos
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