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20/11/23, 09:26 Quem são os “irmãos do Senhor”?

Quem são os “irmãos do Senhor”?


No Novo Testamento se fala muitas vezes dos irmãos e das irmãs do Senhor. Sobre
esse assunto, um aparente problema para a virgindade de Maria, há três soluções
possíveis: uma herética, outra infundada e uma comum e certa...

Equipe Christo Nihil Praeponere


21.Jul.2021Tempo de leitura: 9 minutos

No Novo Testamento se fala muitas vezes dos irmãos e das irmãs do Senhor
(cf. Mt 12, 46s; 13, 55ss; Mc 3, 31s; 6, 3; Lc 8, 19s; Jo 2, 12; 7, 3.5.10; 20, 17; At 1,
14; 1Cor 9, 5; Gl 1, 19). Não sabemos quem eram as irmãs; dos irmãos, quatro são
expressamente nomeados: Tiago, José, Judas e Simão.

Sobre esse assunto, um aparente problema para a virgindade de Maria, há três


soluções possíveis: uma herética, outra infundada e uma comum e certa.
Vejamos primeiro cada uma delas; em seguida, oito razões em prol da doutrina
católica; por último, algumas objeções frequentes entre protestantes e as respostas
que lhes podemos dar.

I. Irmãos do Senhor?

1.ª solução, heterodoxa. — Alguns antigos hereges (por exemplo, Helvídio, Bonoso
Sardenho, Celso, Joviniano etc.) e, mais tarde, os socinianos, muitos protestantes e
racionalistas ousaram afirmar que São José e a bem-aventurada Virgem Maria
tiveram outros filhos além de Jesus. Essa proposição é dogmaticamente inaceitável
em virtude da solene declaração da Igreja e da tradição constante e unânime dos
Padres, além de ser historicamente inadmissível pelas razões que daremos abaixo,
quando expusermos a doutrina verdadeira.

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2.ª solução, infundada. — Alguns Padres e autores antigos (por exemplo, Orígenes,
Santo Hilário, São Gregório de Nissa, Santo Ambrósio, Santo Epifânio, São Cirilo de
Alexandria, Eusébio, e também Crisóstomo e Santo Agostinho, que depois mudaram
de opinião), influenciados talvez por invenções apócrifas [1], pensavam que os irmãos
do Senhor eram filhos de São José nascidos de algum matrimônio anterior, antes de
ele se casar com a bem-aventurada Virgem Maria. Essa proposição não pode ser
sustentada pelos católicos, uma vez que, segundo o sentir comum da Igreja ao longo
dos séculos, São José guardou sempre a virgindade nem teve outra esposa além da
Virgem Santíssima.

Mas há ainda outra razão para rejeitá-la. A própria Escritura diz expressamente quem
era a mãe de dois dos irmãos do Senhor, Tiago e José. Trata-se de Maria, irmã da
Mãe do Senhor (cf. Mt 27, 56; Mc 15, 40; 16, 1; Jo 19, 25). Ora, como é possível que
São José, chamado justo pelo Espírito Santo (cf. Mt 1, 19), tenha atentado outro
matrimônio, enquanto ainda era viva a primeira (e legítima) esposa?

3.ª solução, comum e certa. — No Evangelho, a expressão “irmãos do Senhor” (o


mesmo vale para “irmãs”, naturalmente) não significa irmãos germanos, ou uterinos,
mas apenas consanguíneos em diferentes graus de parentesco. Assim pensa São
Jerônimo e a maioria maciça dos católicos. E há várias razões para isso.

II. A doutrina católica

1) Antes de tudo, é consequência do dogma da virgindade perpétua de Maria [2],


doutrina atestada por vários documentos, desde o início do cristianismo (por exemplo,
o símbolo apostólico, o símbolo de Epifânio, a profissão de fé de Dâmaso, a carta de
Santo Inácio aos efésios, a apologia de Aristides a Adriano, a apologia de São Justino
a Antônio, a carta de Sirício Accepi litteras vestras etc.).

2) Está em conformidade com o uso bíblico da palavra “irmão” (hebr. ’ach, gr.
ἀδελφός). De fato, vários exemplos tanto do Antigo como do Novo Testamento
demonstram que a expressão significa não apenas irmãos germanos, mas quaisquer
parentes. Ló, por exemplo, é chamado irmão de Abraão (cf. Gn 13, 8; 14, 12) e Jacó
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de Labão (cf. Gn 29, 15), embora nenhum dos dois fosse irmão, mas sobrinho. A
mulher e a esposa são chamadas irmãs (cf. Ct 4, 9), e também aos amigos e
membros da mesma cidade ou tribo se dá o nome de irmãos (cf. Ex 2, 11; 2Rs 2,
26; Mt 25, 40; At 11, 29 etc.) [3].

Vários exemplos demonstram que essa expressão significa não


apenas irmãos germanos, mas quaisquer parentes.

3) Em terceiro lugar, ainda que se fale muitas vezes dos irmãos do Senhor, ninguém
além de Jesus é chamado filho de Maria, assim como Maria não é chamada mãe de
ninguém a não ser de Jesus.

4) Além disso, se a bem-aventurada Virgem tivesse outros filhos, o Senhor, pouco


antes de morrer na cruz, não poderia ter dito: “Mulher, eis aí o teu filho” (ὁ υἱός σου);
João, com efeito, não era ὁ υἱός, o filho (com artigo definido), muito menos o primeiro
entre os filhos. Além do que, os outros filhos dela, entre os quais estaria o Apóstolo
Tiago Menor, irmão do Senhor (cf. Gl 1, 19), veriam o gesto quase como uma afronta,
isto é, uma acusação de que tinham pouco cuidado pela mãe, confiada por isso a um
dos caçulas…

Tampouco faltam razões para pensar que os chamados irmãos do Senhor eram, na
verdade, primos maternos ou paternos dele.

5) De fato, a Maria que é chamada mãe de dois deles, Tiago e José (cf. Mt 27,
56; Mc 15, 40.47; Lc 24, 10), é chamada também irmã de Maria, Mãe de Jesus
(cf. Jo 19, 25), como já foi dito antes.

Ora, a palavra “irmã” pode ser entendida aqui de dois modos: a) em sentido estrito,
enquanto significa que a primeira Maria era filha dos pais de Nossa Senhora, Joaquim
e Ana; b) ou em sentido amplo, na medida em que o marido dela, Cléofas (cf. Jo 19,
26), seria irmão de São José, o que já foi atestado por Hegesipo (cf. Eusébio, HE IV
22), palestino do séc. II. Nada impede, aliás, que admitamos ambas as hipóteses.

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6) Ademais, como também afirma Hegesipo, Tiago e Simão eram primos paternos do
Senhor, e ao menos Simão era filho de Cléofas. Eis as palavras dele referidas por
Eusébio: “Depois que Tiago, chamado o Justo, padeceu o martírio assim como o
Senhor, pela mesma razão um outro filho do tio dele [de Cristo ou de Tiago?], Simão
de Cléofas, foi constituído bispo, a quem todos indicaram por ser o segundo primo do
Senhor”.

7) Some-se a isto que Judas era irmão de Tiago (cf. Lc 6, 16; Jd 1), como atesta ainda
Hegesipo (cf. Eusébio, HE iii 20): “Naqueles tempos [a saber: de Domiciano], ainda
viviam alguns da família do Senhor, sobrinhos daquele Judas que era chamado irmão
dele [de Tiago] segundo a carne. Estes eram acusados de ser da estirpe de Davi” [4].

Tudo isso, no entanto, parece ir de encontro ao fato de o Apóstolo Tiago, que é


chamado irmão do Senhor (cf. Gl 1, 19), ser chamado também filho de
Alfeu em Mt 10, 3.

8) Mas isso se pode explicar também de dois modos: a) ou consideramos que


Cléofas, ou Clopas, é a mesma pessoa que Alfeu, o qual, como era costume, teria
dois nomes (por exemplo, João Marcos, Tomás Dídimo, Mateus Levi etc.); de fato, é
possível que Alfeu e Cléofas (ou Clopas, Κλωπᾶς) equivalham ao mesmo
nome, Chalpai (‫)ֲח לפי‬, pronunciado com maior ou menor suavidade. — b) Ou se trata
de duas pessoas distintas, de forma que Alfeu seria casado com Maria, irmã de
Cléofas e de São José, da qual nasceram Tiago e José, enquanto Cléofas seria pai de
Simão e Judas, todos eles, portanto, primos de Cristo [5].

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III. Objeções e respostas

1.ª objeção: No Evangelho (cf. Mt 1, 25; Lc 2, 7), Cristo é chamado primogênito (gr.
πρωτότοκος) de Maria. Logo, Maria, depois do parto de Cristo, teve outros filhos.

Resposta: Segundo a Lei (cf. Ex 13, 2ss; 34, 19s; Nm 3, 47ss; 18, 15), considera-se
primogênito todo o que primeiro sai da vulva (lt. quidquid primum erumpit e vulva, gr.
πᾶν διανοῖγον μήτραν), quer se lhe sigam outros filhos ou não. A razão é que sobre o
primeiro filho recaíam alguns preceitos da Lei que os pais estavam obrigados a
cumprir, para o que não deviam esperar até o nascimento de outro filho, obviamente
[6]. Logo, o vocábulo “primogênito” designa não só o filho depois do qual vieram
outros, mas também aquele antes do qual não veio nenhum. Noutras palavras, todo
unigênito é primogênito, embora nem todo primogênito seja unigênito [7].

Vale ainda recordar uma inscrição funerária judaica descoberta no início do século
passado e publicada por C. C. Edgar nos Annales des Antiquités de l’Egypte (cf. vol.
22, 1922, pp. 7–16). Nessa inscrição, pertencente à época de Augusto (provavelmente
ao séc. V a.C., ou seja, pouco antes do nascimento de Cristo), lê-se que certa jovem

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morreu em meio às dores do parto de seu primogênito. Logo, para ela o primogênito
foi também o unigênito [8].

2.ª objeção: No Evangelho, diz-se explicitamente


de José e Maria: “Estando Maria, sua mãe,
desposada com José, achou-se ter concebido por
obra do Espírito Santo, antes de coabitarem”
(Mt 1, 18). Logo, depois de coabitar e consumar o
casamento, tiveram outros filhos. E de José se diz
igualmente: “E não a conhecia até que ela pariu o
seu filho primogênito” (Mt 1, 25). Logo, depois do
parto a conheceu carnalmente.

Resposta: a) O verbo “coabitar” (lt. convenire, gr.


συνελθεῖν) não significa “consumar matrimônio”,
mas apenas que Maria e José, no tempo da
Encarnação, não viviam juntos na mesma casa, o
que fizeram só mais tarde (cf. Mt 1, 20.25). Com
Adoração dos Reis Magos” por Carlo Dolci.
efeito, as mulheres desposadas, entre os hebreus,
não eram levadas de imediato para a casa do
esposo e, por esse motivo, não costumavam viver com ele sob o mesmo teto antes de
celebrar solenemente as núpcias.

b) Além disso, a locução “até que” (lt. donec, gr. ἔως), assim como “antes que” e
outras similares, é utilizada na Escritura para exprimir muitas vezes o
que não aconteceu até um determinado tempo, sem que se possa inferir daí que
tenha acontecido depois [9]. Assim, por exemplo, lê-se em 2Sm 6, 23: “E Micol, filha
de Saul, não teve mais filhos até o dia da sua morte”, o que não significa que os teve
depois de morta, e em Sl 109, 2: “Senta-te à minha direita, até que ponha os teus
inimigos por escabelo de teus pés”, o que não significa que, feito isso, não se sentará
mais à direita de Deus etc. (cf. Gn 8, 7; 49, 10.26; Sl 122, 2 e muitos outros lugares).

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Ora, a finalidade do evangelista era mostrar que Cristo não foi concebido de José (= o
que não aconteceu), mas virginalmente, conforme o vaticínio de Isaías a que
explicitamente se refere, e não a de narrar o restante da vida de Maria, sobre a qual
não pretende afirmar ou negar nada. Por isso, ainda que se interprete “coabitar” como
“consumar matrimônio”, das palavras do evangelista não se segue de modo algum
que Maria e José tenham-se unido depois, só porque não o tinham feito até então.

3.ª objeção: Embora nas línguas hebraica e aramaica, de fato, não haja um termo
técnico e específico para designar os primos (tinham de dizer, com algum
incômodo, filho do irmão do pai…), daí não se segue que os irmãos do Senhor fossem
primos dele. A razão é que o grego do Novo Testamento, sim, possui um termo
técnico e específico para designar os primos (ἀνεψιοί), que os hagiógrafos deveriam
ter utilizado no lugar de ἀδελφοί, para não induzir o leitor em erro. Logo, se falam de
ἀδελφοί, é porque se trata realmente de irmãos de sangue, não de primos ou parentes
em outro grau.

Resposta: A tradução dos LXX sempre verte o vocábulo hebraico ’ach como ἀδελφοί,
e não como ἀνεψιοί, mesmo quando é evidente que ele está sendo usado em sentido
lato para significar “primos”. A expressão οἱ ἀδελφοὶ τοῦ Κυρίου surgiu no contexto da
catequese grega à imitação da versão grega dos LXX e por isso tornou-se como um
“termo técnico”, sem perigo algum de erro, já que todos sabiam por tradição o que ela
queria dizer. Além do mais, até o final do séc. II não houve qualquer discussão acerca
do sentido das palavras “irmãos do Senhor”; esse modo de dizer, por conseguinte,
não era visto como contrário ao dogma da virgindade perpétua de Nossa Senhora
[10].

Referências

Este artigo é uma tradução levemente adaptada, com acréscimos e omissões, de H.


Simón, Prælectiones Biblicæ. Novum Testamentum. 4.ª ed., iterum recognita a J. Prado.
Marietti, 1930, vol. 1, p. 248s, n. 162; p. 344, n. 236, e de Gabriel M.ª Roschini, Mariologia. 2.ª
ed., Roma: A. Belardetti (ed.), 1948, vol. 3, p. 262s.

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Notas

i. Concretamente, o Protoevangelho de Tiago (séc. II), o Evangelho da Natividade da Bem-


aventurada Virgem Maria, a História de José, o Carpinteiro (séc. IV) e o Evangelho de
Pedro (séc. II).

ii. É de fé divina e católica definida que a bem-aventurada Mãe de Deus Maria Santíssima
foi e permaneceu sempre e perfeitamente virgem, antes, durante e depois do parto, com
virginidade de corpo (integridade física inviolada) e de mente (disposição perpétua de abster-
se de toda e qualquer prática venérea, inclusive por simples desejo). Cf., por exemplo, a
definição solene do Concílio de Latrão, de 649, no cânon 3 (DH 503): “Se alguém não
professa… que depois do parto permaneceu inviolada a sua [de Maria] virgindade, seja
condenado”, e a declaração de Paulo IV, ao condenar na bula “Cum quorumdam hominum”
(DH 1880), de 1555, a seita dos unitários, que afirmavam que “a beatíssima Virgem Maria
não… permaneceu sempre na integridade virginal, a saber: antes do parto, no parto e
perpetuamente depois do parto” (ante partum scilicet, in partu et perpetuo post partum). Uma
explicação ao mesmo tempo sucinta e detalhada dessa doutrina encontra-se disponível
nesta resposta católica.

iii. Cf. F. Lucas Brugensis, In Sacrosancta IV Iesu Christi Evangelia Commentarius. Antuerpiæ,
1606, p. 190: “Tornou-se uso nas línguas hebraica e síria que o nome de irmãos significasse
os parentes e todos aqueles que são de uma mesma família”. — É evidente, de resto, que a
palavra “irmão”, no plural, serve muitas vezes, não só nos evangelhos como em outros livros
do Novo Testamento, para designar genericamente o conjunto dos fiéis cristãos. Assim, por
exemplo, se lê em Jo 21, 23: “Correu esta voz entre os irmãos (τοὺς ἀδελφοὺς) que aquele
discípulo não morreria”, e em At 1, 15: “Naqueles dias, levantando-se Pedro no meio dos
irmãos (τῶν ἀδελφῶν)” etc., entre os quais se incluem as santas mulheres, Maria, Mãe de
Jesus, e também os irmãos dele (cf. At, 1, 14: τοῖς ἀδελφοῖς αὐτοῦ), isto é, seus parentes e
discípulos. Cf. F. X. Patrizi, De Evangeliis Libri Tres. Friburgi Brisgoviæ, Herder, 1853, p. 104,
n. 42 (= l. I, c. 3, q. 5, §1).

iv. Cf. J. Knabenbauer, Commentarius in Evangelium secundum Matthæum. 3.ª ed., Paris: P.
Lethielleux (ed.), 1922, p. 565s: “É coisa conhecidíssima que, entre os hebreus, o nome ‘irmão’
designa não somente o irmão germano e uterino, mas também qualquer parente ou
consanguíneo (cf. Gn 14, 16; 13, 9; 24, 48; 29, 12; 2Sm 10, 13 etc.). Ora, os irmãos do Senhor,
Tiago, José, Simão e Judas, eram filhos de Maria, irmã da Mãe do Senhor, isto é, de Maria
esposa de Cléofas (cf. Mt 27, 56; Mc 15, 40.47; 16, 1; Jo 19, 25). E São Jerônimo escreve:
‘Nós, como está no livro que escrevemos contra Helvídio [De virginitate perpetua B. Mariæ],
entendemos que os irmãos do Senhor são primos do Salvador, filhos de Maria, tia de Cristo, a
qual é chamada mãe de Tiago Menor, de José e de Judas, que em outro evangelho são

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chamados irmãos do Senhor. Ora, que os primos sejam chamados irmãos, toda a Escritura o
demonstra’. — Hegesipo (cf. Eusébio, HE IV 30.4) diz que Cléofas era irmão de José.
Segundo Orígenes (cf. PG 13, 876), no evangelho [apócrifo] de Pedro se dizia que eles eram
filhos de José e sua primeira esposa, opinião que Jerônimo rejeita como delírio dos apócrifos,
e Santo Tomás também observa contra ela: ‘Cremos que, assim como a Mãe de Jesus foi
virgem, também José o foi, porque [Deus] confiou a Virgem a um virgem tanto no fim como no
princípio’. Que eles não possam de modo algum, contra os racionalistas e muitos outros, ser
considerados irmãos germanos e uterinos de Jesus, é evidente com base nas passagens
citadas e também em Lc 1, 34: ‘Porque não conheço varão’”.

v. Para outros, a Maria dita esposa de Alfeu seria filha de Cléofas, de sorte que o genitivo de
Cléofas seria de origem, não de posse (cf. Van Hasteren, Studien, vol. 65, p. 187).

vi. Cf. C. Pesch, Compendium Theologiæ Dogmaticæ. Friburgi Brisgoviæ, Herder, 1913, vol. 3,
p. 104: “A Lei se aplica a Maria tal como soa e foi dada a todos, não para este [e aquele] caso
particular. Jesus, que viera cumprir a Lei, quis também que este preceito fosse cumprido em si
e em sua Mãe porque não poderia ser omitido sem escândalo para outros, e porque Ele
mesmo era aquele a quem a Lei tipicamente prefigurava”.

vii. Cf. Santo Tomás de Aquino, STh III 28, 3c., onde dá quatro razões teológicas de
conveniência para a virgindade de Maria após o parto: “1) Por parte de Cristo, que, do
mesmo modo que o Unigênito do Pai segundo a divindade é perfeito Filho dele em tudo, assim
convinha que fosse o Unigênito da Mãe, como fruto perfeitíssimo dela. — 2) Por parte do
Espírito Santo, cujo sacrário foi o útero virginal no qual formou a carne de Cristo; donde, não
convinha que fosse depois violado pela comistão viril. — 3) Por parte de Maria, Mãe de Deus,
que pareceria ingratíssima se não se contentara com tão grande Filho, e se voluntariamente
quisesse perder pelo concúbito da carne a virgindade que nela fora milagrosamente
conservada. — 4) Por parte de São José, a quem se haveria de imputar a máxima
presunção, se atentasse poluir aquela que, por revelação do anjo, soubera ter concebido a
Deus. E por isso se deve afirmar absolutamente que a Mãe de Deus, assim como concebeu
virgem e pariu virgem, assim também permaneceu virgem após o parto para sempre [in
sempiternum]”.

viii. Cf. J.-B. Frey, La signification du terme πρωτότοκος d’aprés un inscription juive,
em: Biblica, vol. 11, n.º 4 (1930), p. 386, ll. 5–6: “… ὠδεῖνι δὲ Μοῖρα / πρωτοτόκου με τέκνου
πρὸς τέλος ἦγε βίου”.

ix. Já Helvídio pretendera impugnar a virgindade post partum nessa linha, interpretando “antes
de coabitarem” (lt. priusquam convenirent) como “antes de se conhecerem”. São Jerônimo
respondeu-lhe com seu habitual e cáustico bom humor (cf. De virg. perp. 4: PL 23, 195):
Helvídio, antes de fazer penitência, morreu. Quer dizer então que se arrependeu depois de

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morto, embora diga a Escritura que “na morte não há quem se lembre de ti” (Sl 6, 6)? V.
também J. Corluy, Commentarius in Evangelium S. Joannis. Gandavi, C. Poelman (ed.), 1878,
p. 168.

x. Cf. Dom Estevão Bettencourt, Pergunte e Responderemos, n.º 472 (2001), p. 432: “Não se
pode esquecer que a língua grega dos evangelhos supõe um fundo semita, pois o Evangelho é
a redação escrita da pregação oral dos Apóstolos feita em aramaico. Ora, em aramaico o
vocábulo ’ach significa parente ou familiar, e é com este sentido amplo que ele é traduzido
para o grego pelo termo ἀδελφός. Deve-se, pois, entender ἀδελφός no sentido
de ’ach aramaico”.

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