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DESENVOLVIMENTO

HUMANO I

Profª. Clarice Alves


A perspectiva histórico-cultural
Algumas ideias vygotskianas

Funções psicológicas elementares/ Funções psicológicas superiores

Mediação: instrumentos e signos

Pensamento e fala (linguagem)

Conceitos espontâneos e conceitos científicos

Zona de desenvolvimento proximal


Vygotski (1995d, p.151) esclarece que “tudo o que é cultural é social” e que “a cultura é
um produto da vida social”, defendendo que não existem conceitos que correspondam
ao cultural e ao social na conduta humana”(p.21).
• Pino (2000), explica que Vygotski,

[...] faz do social um gênero e do cultural uma espécie. Isso quer dizer que o campo do
social é bem mais vasto que o da cultura, ou seja, que nem tudo o que é social é
cultural, mas tudo o que é cultural é social. [...] o social é um fenômeno mais antigo
que a cultura pois [sic] é um dos atributos de certas formas de vida, o que nos permite
falar de uma sociabilidade biológica, natural. Anterior à cultura, o social adquire dentro
dela formas novas de existência. Sob a ação criadora do homem, a sociabilidade
biológica adquire formas humanas, tornando-se modos de organização das relações
sociais dos homens. Neste sentido, o social é, ao mesmo tempo, condição e resultado
do aparecimento da cultura. É condição porque sem essa sociabilidade natural a
sociabilidade humana seria historicamente impossível e a emergência da cultura seria
impensável. É, porém resultado porque as formas humanas de sociabilidade são
produções do homem, portanto obras culturais (2000, p.53) [grifo do autor e grifos
nossos].
• Na interpretação de Pino (2005, p.89), Vygotski propõe o seguinte:

• cultura é uma “produção humana” e


• essa produção tem duas fontes simultâneas: a “vida social” a
“atividade social do homem”.
• Segundo Pino (2005, p. 89) “[a]nalisando em separado essas duas
afirmações, pode-se verificar que, ao dizer que a cultura é o “produto”
da vida social e da atividade social, está afirmando que ela é obra do
homem e, por conseguinte, que não é obra da natureza. Isso quer dizer
que entre cultura e natureza existe uma linha divisória que as separa e
que as une e essa linha passa pelo homem, ao mesmo tempo natureza
e agente da sua transformação; portanto, alguém capaz de produzir
cultura, mas incapaz de criar a natureza (PINO, 2005, P.89) [ grifos
nossos].
Vygotski (1998, p.96-97) enfatiza:

• Nosso conceito de desenvolvimento implica a rejeição do ponto de vista


comumente aceito de que o desenvolvimento cognitivo é o resultado de
uma acumulação gradual de mudanças isoladas. Acreditamos que o
desenvolvimento da criança é um processo dialético complexo
caracterizado pela periodicidade, desigualdade no desenvolvimento de
diferentes funções, metamorfoses ou transformações qualitativas de
uma forma em outra, imbricamento de fatores internos e externos, e
processos adaptativos que superam os impedimentos que a criança
encontra [grifos nossos].
• O comportamento humano deve ser estudado, pela nova ciência, “[...]
dialeticamente em seu movimento, pela perspectiva de sua dinâmica, de
seu crescimento, desenvolvimento, evolução. É desse ponto de vista que
se deve avaliar e compreender cada etapa de desenvolvimento”
(VYGOTSKI, 1997a, p.337).

• Vygotski (1998) explica que há duas linhas de desenvolvimento que


diferem qualitativamente quanto à sua origem:
a dos processos psicológicos elementares, de origem biológica;
dos processos psicológicos superiores, de origem cultural.
Funções psicológicas elementares
• Estão no “plano da natureza”.
• São da ordem do biológico.
• Não exigem controle consciente.
• Estão presentes nos animais e na criança pequena.
• São hereditárias.
• São instintivas.

• São funções psicológicas elementares:


Atenção e memória involuntárias.
Ações reflexas.
Associações simples, entre outras.
Funções Psicológicas Superiores – (FPS)
• Estão no “plano da cultura”.
• São de origem cultural.
• São tipicamente humanas.
• São processos mentais que se desenvolvem por meio da mediação
simbólica.
• São Funções psicológicas superiores:
Pensamento verbal.
Memória lógica.
A formação de conceitos.
A atenção voluntária.
• Luria (1986, p.60) explica que, para Vygotski,

[...] as funções psicológicas superiores do ser humano surgem da


interação dos fatores biológicos, que são parte da constituição
física do Homo sapiens, com os fatores culturais, que evoluíram
através das dezenas de milhares de anos de história humana
[grifos do autor].
Funções
Segundo Pino (2005, p.89), existem simultaneamente, uma Psicológicas
“ruptura” e uma “continuidade” entre as funções psicológicas
superiores e as elementares. Isso quer dizer que o Superiores – (FPS)
desenvolvimento das funções psicológicas superiores pressupõe
a existência das elementares. Entretanto, a existência destas não
garante o desenvolvimento daquelas, pois o desenvolvimento das
superiores está fundamentado nas relações sociais e culturais das
quais o sujeito participa, como já comentamos.
• “É o processo de intervenção de um elemento
intermediário numa relação; a relação deixa,
então, de ser direta e passa a ser mediada por
esse elemento” (KOLL, 1997, p. 26).
Mediação
• “[...] A mediação não é a presença física do
outro, não é a corporeidade do outro que
estabelece a relação mediatizada, mas ela
ocorre através dos signos, da palavra, da
semiótica, dos instrumentos de mediação. A
presença corpórea não garante a mediação”.
Molon (2003, p.102)
• Vygotski (1995b) argumenta que a relação do
homem com o mundo não é uma relação direta,
mas uma relação mediada.

• O autor distinguiu dois tipos de elementos


mediadores:
as ferramentas (instrumentos) físicas e
os signos, também denominados de
instrumentos psicológicos.

A semelhança entre os signos e as ferramentas é a


função mediadora desempenhada por ambos,
segundo Vygotski (1995b).
• As ferramentas físicas, - o indivíduo age
sobre o objeto, modificando-o Para Vygotski (1995b),
externamente; essas ferramentas embora as
medeiam ações humanas sobre os
objetos e modificam a natureza. ferramentas físicas e
os signos sejam
• Os signos - medeiam as ações do homem equivalentes na
sobre os outros homens e sobre o próprio atividade mediadora,
psiquismo. O emprego dos signos elas atuam de forma
modifica a atividade natural do ser
humano, ou seja, suas funções diferente sobre o ser
psicológicas elementares, e proporciona o humano.
desenvolvimento de funções psicológicas
superiores.
Vygotski (1995c), faz as seguintes ponderações:

• o domínio da conduta é sempre um ato mediado por estímulos


auxiliares, fazendo referência, especialmente, aos signos;
• a função do signo é “modificar algo na reação ou na conduta do próprio
homem;
• o signo não troca nada no próprio objeto; se limita a proporcionar uma
nova orientação ou a reestruturar a operação psíquica”;
• o signo é sempre um meio de relação social, um meio de influência
sobre os outros e, somente depois, se transforma em um meio de
influência sobre o próprio indivíduo.
Vygotski (1998, p.75) explica que
• a) Uma operação que inicialmente representa uma atividade externa é
reconstruída e começa a ocorrer internamente. É de particular importância para o
desenvolvimento dos processos mentais superiores a transformação da atividade
que utiliza signos, cuja história e características são ilustradas pelo desenvolvimento
da inteligência prática, da atenção voluntária e da memória.

• b) Um processo interpessoal é transformado num processo intrapessoal. Todas as


funções no desenvolvimento da criança aparecem duas vezes: primeiro, no nível
social, e, depois, no nível individual: primeiro, entre as pessoas (interpsicológico). E,
depois, no interior da criança (intrapsicológico). Isso se aplica igualmente para
atenção voluntária, para a memória lógica e para a formação de conceitos. Todas as
funções superiores originam-se das relações reais entre os indivíduos humanos.
• De acordo com Vygotski (2009), o desenvolvimento psíquico do ser humano
aparece em dois planos: primeiro no plano social e depois no plano psicológico.
Esse processo de reconstrução interna de uma operação externa, o autor
denominou de internalização.
• Vygotski (1995d, p.151) esclarece que “[t]odas as funções psíquicas superiores
são relações interiorizadas de ordem social e são o fundamento da estrutura
social da personalidade.
• O principal instrumento mediador para o desenvolvimento da psique humana é a
linguagem, de acordo com a interpretação vygotskiana.
• Para Vygotski (2009), o sistema cognitivo do ser humano desenvolve-se ao longo
da vida, passando por diferentes etapas, que envolvem variados processos
mentais, um deles sendo o de formação de conceitos, processo que inicia na
infância e completa-se somente na adolescência.
• O autor enfatiza que não existe conceito sem palavras, isto é, só é
possível o pensamento em conceitos se houver o pensamento verbal.
• O desenvolvimento de um conceito percorre diferentes estágios, sendo
os fatores sociais componentes importantes nesse desenvolvimento
(VYGOTSKI, 2009).

• Vygotski (2000) propõe a diferenciação entre dois tipos de conceitos:


Conceitos espontâneos (CE)
Conceitos científicos (CC)
Conceitos Espontâneos
• Referem-se à experiência concreta, vivenciada pela criança no seu
quotidiano; são formados por intermédio da observação e da
manipulação dos objetos que a cercam e das interações com as pessoas
com as quais convive.
• Segundo Vygotski (2000, p.247), o conhecimento adquirido por meio
dos conceitos espontâneos – ou cotidianos – não é conscientizado pela
criança, isto é, ela opera com esse conhecimento de uma forma
espontânea, porque esse conhecimento está atrelado ao objeto que
representa.
Conceitos Científicos
• São conhecimentos conscientes e sistematizados, ligado aos objetos
por meio de outros conceitos verbais veiculados, principalmente, por
meio da instrução formal.

• Vygotski (2000) ressalta, no entanto, que “o ensino direto de


conceitos sempre se mostra impossível e pedagogicamente estéril”.

• O estudo dos conceitos científicos, segundo Vygotsky (2000), é de


fundamental importância para a educação, pois entender como se dá
o desenvolvimento desses conceitos, é compreender como ocorre o
desenvolvimento mental do indivíduo.
A relação entre Pensamento e fala
• O principal instrumento mediador para o desenvolvimento da psique
humana é a fala/ linguagem.

• A fala nasce da necessidade de exteriorizar o pensamento.

• A fala/ a linguagem tem papel crucial na determinação de como a


criança vai aprender a pensar, uma vez que as formas avançadas de
pensamento serão transmitidas a ela por meio das palavras.
• É no significado que o pensamento e a fala/linguagem se unem em
pensamento verbal, ou seja, expresso por meio de palavras (orais ou
escritas).

• O significado (geral) é diferente do sentido (particular).

• O significado de uma palavra representa uma união tão estreita do


pensamento e da linguagem, que fica difícil dizer se trata de um
fenômeno da fala/linguagem ou do pensamento.
• Fala egocêntrica – (fala alta para si) para Vygotski, ela não desaparece,
apenas submerge, dando origem a linguagem interna. A medida que a
linguem egocêntrica se torna mais independente e autônoma de sua
função subjetiva, mais pobre ela se torna enquanto manifestação
externa; deixa de ser vocalizada e “parece” desaparecer.

• Discurso interior/linguagem interna – (fala socializada) indica para o


sujeito o curso de seu pensamento.
Referências
• COLE, M.; SCRIBNER, S. Introdução. In: VIGOTSKI, L.S. A formação
social da mente. São Paulo, Martins Fontes, 1998.
• LURIA, A.R. Pensamento e linguagem: as últimas conferências de
Luria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
• MOLON, S. I . Subjetividade do Sujeito em Vygotsky. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2003.
• PINO, A. O social e o cultural na obra de Vigotski. Educação &
Sociedade, Campinas, V.21, N.71, p. 45-78, 2000.
• PINO, A. As marcas do humano: às origens da constituição cultural da
criança na perspectiva de Lev. S. Vigotski. São Paulo: Cortez, 2005.
• VYGOTSKI, L.S. Obras escogidas: El significado histórico de la crisis de
la psicología. Madrid: Visor Distribuciones, 1997a. Tomo I.
• VYGOTSKI, L.S. Obras escogidas: método de investigación. Madrid:
Visor Distribuciones, 1995b Tomo III.
• VYGOTSKI, L.S. Obras escogidas: estructura de las funciones psíquicas
superiores. Madrid: Visor Distribuciones, 1995c Tomo III.
• VYGOTSKI, L.S. Obras escogidas: génesis de las funciones psíquicas
superiores. Madrid: Visor Distribuciones, 1995d Tomo III.
• VYGOTSKY, L.S. A construção do pensamento e da linguagem.
Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
• VYGOTSKY, L.S. A construção do pensamento e da linguagem.
Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2009.

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