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Para entendermos a história da loucura, é fundamental recorrermos à Michel Foucault,

que no clássico História da Loucura, faz o resgate do tratamento dado aos loucos desde a
Idade Clássica.

A partir do século XVII é iniciado o processo de dominação da loucura pela razão. A


loucura é desmontada enquanto experiência trágica do homem, por uma leitura cartesiana de
mundo centrada na verdade e na moral.

É neste período que a questão da pobreza torna-se mais visível e há a necessidade de


dar respostas ao problema. Como forma de intervenção foram criadas instituições asilares,
para abrigar um contingente populacional, que desviava da ordem moral da burguesia
nascente.

Durante o reinado de Luís XIV, no ano de 1656, tem-se o marco da criação dos
Hospitais Gerais, “uma estrutura semijurídica, uma espécie de entidade administrativa que, ao
lado dos poderes já constituídos, e além dos tribunais, decidia, julgava e executava.”

“Durante a segunda metade do século XVIII, a desrazão, gradativamente, vai


perdendo espaço e a alienação ocupa, agora, o lugar como critério de distinção do louco ante
a ordem social.” (Amarante, 1995, 24).

A Revolução Francesa, com os ideiais de liberdade, igualdade e fraternidade, encerra


a possibilidade de explicação da verdade de modo místico. A Revolução termina com os
hospitais gerais. (Heidrich, 2007).

As experiências de tratamento aos loucos, a partir de Pinel, no século XIX, abrem as


portas para a existência dos manicômios. É neste cenário que temos o Alienismo, buscando
dar respostas científicas à loucura e sua relação de causalidade.

As ações de Pinel não levam à libertação efetiva dos alienados, elas fundam uma
ciência que os classifica e os acorrenta como objeto de saberes na instituição da doença
mental. Com as críticas recebidas, inicia-se o processo de reforma das práticas destinadas a
este público de modo menos restritivo.

É neste cenário que se propõe a colônia de alienados. As colônias surgiram, portanto,


como alternativa ao tratamento de Pinel, propondo a “Liberdade” aos loucos.

As colônias de alienados não resolveram a questão da inclusão, já que não havia


articulação para a inserção do louco no mercado de trabalho e associava práticas de violência.
Desde o início do século XVIII, a dor era utilizada como técnica de tratamento (Mattos,
2006). Eram legitimadas técnicas que buscassem a disciplina total por meio de
ameaças, castigos físicos e contenção. Queimava-se a genitália com soda cáustica; indução de
vômitos; sangrias (1790); afogamento (1828); amputação do clitóris (1890) assim com a
retirada do útero; hidroterapia; terapias endócrinas (1899); esterilização masculina (1913);
extração de dentes (1916); hibernação (1920); coma insulínico (1933); convulsoterapia
(1934); eletrochoque (1938); lobotomia (1940) e os psicofármacos após a II Guerra Mundial.

O hospital psiquiátrico passou a ser então um espaço de produção de sofrimento, ao


tornar-se especialidade médica e imputada aos pacientes, foi autorizada uma sorte de práticas
manicomiais que, associadas à segregação, eram acrescidas de sofrimento físico além do
psíquico.

Basaglia (1985) sinaliza que nas instituições há uma nítida divisão das funções e,
logo, de quem detém o poder. Nesta relação de violência e opressão, aqueles que estão
submetidos ao poder sofrem a exclusão a partir daqueles que exercem o poder.

No que se refere aos processos pelos quais a Psiquiatria passou, para repensar
estratégias de assistência às pessoas em sofrimento mental, datando do pós II Guerra,
questionando as instituições asilares e o saber psiquiátrico.

Os movimentos de Reforma Psiquiátrica começaram de dentro das instituições para


fora, seguido da prevenção e abordagem à comunidade e findado na proposta de desconstruir
práticas manicomiais.

A experiência da desinstitucionalização não se resume à desospitalização, mas às


novas formas de lidar com a loucura, com tratamento de base territorial, sem romper vínculos
familiares e comunitários.

Na passagem do século XIX ao século XX, de acordo com Carrara (1998), o estudo
sobre o crime e o criminoso vinha ganhando espaço. A sociedade viu crescer o número de
crimes com o avançar da industrialização. Este cenário exige do Estado um reposicionamento
para controlar e reprimir as camadas populares, com ações voltadas à contenção, vigilância e
disciplinarização. Pensava-se o que fazer com o louco criminoso?

Manicômio Judiciário do Rio de Janeiro começa em 1921, mudando o nome para Manicômio
Judiciário Heitor Carrilho na década de 1950. Após as reformas na legislação penal brasileira,
foi renomeado para Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Heitor Carrilho, em 1986.

Em 08 de janeiro de 1852 foi inaugurado o Hospício Pedro II, conhecido como


Palácio dos Loucos. Com a República passa a chamar-se Hospício Nacional de Alienados,
sendo desanexado da Santa Casa de Misericórdia.

Em 1911 foi criada a Colônia de Alienados do Engenho de Dentro, destinado às


mulheres. Em 1923 tem-se a Colônia de Alienados de Jacarepaguá, destinada aos homens
que, em 1935, passa a chamar-se Colônia Juliano Moreira.
A Reforma Psiquiátrica Brasileira teve inspirações na Reforma Psiquiátrica Italiana,
cujo principal ator foi Franco Basaglia, que impulsionou produções com vistas ao desmonte
do hospital psiquiátrico.

No final dos anos 1970 foi possível observar movimentos de Reforma Psiquiátrica em
diversos países. No Brasil este movimento data de 1978, quando foi criado o Movimento de
Trabalhadores da Saúde Mental (MTSM), com o questionamento do modelo
hospitalocêntrico e luta pelos direitos das pessoas com transtorno mental.

A I Conferência Nacional de Saúde Mental data de 1987, com o lema Por uma
Sociedade sem Manicômios.

O marco legal da Reforma Psiquiátrica Brasileira é a Lei no 10.216, de 06 de abril de


2001, conhecida também por Lei Deputado Paulo Delgado, redirecionando a assistência
prestada às pessoas com transtorno mentais.

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