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O dever da desobediência
set 16, 2009
Uma das perguntas era: Como o senhor concebe a obediência ao Papa? Eis a
resposta dada há dez anos:
A obediência supõe uma autoridade que dá uma ordem ou decreta uma lei. As
autoridades humanas, mesmo sendo instituídas por Deus, apenas têm autoridade
para atingir o �m determinado por Deus, e não para dele se desviarem. Quando
uma autoridade usa o seu poder em oposição à lei pela qual esse poder lhe foi dado,
não tem direito à obediência, e devemos desobedecer-lhe.
Já São Paulo teve que dizer a São Pedro que ele “não andava direito segundo a
verdade do Evangelho” (Gal. II,14). E o mesmo São Paulo encorajou os �éis a não lhe
obedecerem se lhe acontecesse pregar um Evangelho diferente daquele que lhes
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São Tomás, quando fala da correção fraterna, alude à resistência de São Paulo face a
São Pedro, e comenta-a assim: “Resistir na cara e em público ultrapassa a medida
da correção fraterna. São Paulo não o teria feito em relação a São Pedro se não fosse
de algum modo o seu igual (…). No entanto, é preciso saber que, caso se tratasse de
um perigo para a Fé, os superiores deveriam ser repreendidos pelos inferiores,
mesmo publicamente. Isso ressalta da maneira e da razão de agir de São Paulo em
relação a São Pedro, de quem era súdito, de tal forma, diz a glosa de Santo
Agostinho, que ‘o próprio Chefe da Igreja mostrou aos superiores que, se por acaso
lhes acontecesse abandonarem o reto caminho, aceitassem ser corrigidos pelos
seus inferiores’” (S. Tomás., Sum. Theol. IIa-IIae, q. 33, art. 4, ad 2m).
O caso evocado por São Tomás não é ilusório pois aconteceu, por exemplo, em
relação a João XXII. Esta Papa julgou poder a�rmar que as almas dos eleitos só
gozariam a visão beatí�ca depois do Juízo Final. Emitiu essa opinião pessoal em
1331 e, em 1332, pregou uma opinião semelhante sobre o castigo dos condenados.
Queria impor essa opinião à Igreja por um decreto solene.
E eis o que diz o Papa Leão XIII na sua encíclica Libertas praestantissimum, de 20
de junho de 1888: “Suponhamos, pois, uma prescrição de um poder qualquer que
estivesse em desacordo com os princípios da reta razão e com os interesses do bem
público (e, com mais razão ainda, com os princípios da Fé): ela não teria nenhuma
força de lei…” E, um pouco adiante: “Quando faltar o direito de mandar, ou quando a
ordem for contrária à razão, à lei eterna, à autoridade de Deus, então é legítimo
desobedecer – queremos dizer: aos homens – para obedecer a Deus.“
Ora, todos os teólogos dignos desse nome ensinam que, se o Papa pelos seus atos
destrói a Igreja, não lhe podemos obedecer e deve ser repreendido, respeitosa mas
publicamente. (Vitoria, Obras…, pp. 486-487; Suarez, De �de, disp. X, sec.VI, no. 16;
São Roberto Bellarmino, De Rom. Pont., lib. II, c. 29; Cornelius a Lapide, Ad. Gal. 2,
11; etc.),
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ordenam as relações entre uma autoridade delegada e os seus súditos. Eles só não
se aplicam à autoridade divina, que é sempre infalível e indefectível e, portanto, não
supõe qualquer falha.
Mas fora desses casos, a autoridade do Papa é falível, e, por isso, os critérios que
obrigam a desobediência aplicam-se aos seus atos. Não é, pois, inconcebível que
haja um dever de desobediência em relação ao Papa.
A autoridade que lhe foi conferida foi-lhe conferida para �ns determinados e, em
de�nitivo, para glória da Santíssima Trindade, de Nosso Senhor Jesus Cristo, e para
salvação das almas.
Tudo o que for realizado pelo Papa em oposição a esse �m não terá qualquer valor
legal, nem qualquer direito à obediência e, mais ainda, obriga à desobediência para
permanecer na obediência a Deus e na �delidade à Igreja.
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alvoroçou Roma, que, �nalmente, decidiu aceder ao nosso pedido de uma visita
apostólica e enviou, em 11 de novembro, o Cardeal Gagnon e Mons. Perl.
Tanto quanto nos foi dado saber pelos discursos e comentários dos visitadores, o
seu julgamento foi dos mais favoráveis, e o Cardeal não hesitou em assistir à Missa
Ponti�cal de 8 de dezembro, celebrada pelo prelado suspenso “a divinis”.
Que concluir de tudo isto, a não ser que a nossa desobediência dá bons frutos,
frutos reconhecidos pelos enviados da autoridade à qual desobedecemos?
E eis-nos perante novas decisões a tomar. Estamos mais do que nunca animados a
dar à Fraternidade os meios de que precisa para continuar a sua obra essencial: a
formação de verdadeiros padres da Santa Igreja Católica Romana, isto é, dotar-me
de sucessores no Episcopado.
Roma compreende esta necessidade, mas aceitará o Papa que os bispos sejam
oriundos da Tradição? Para nós não pode ser de outro modo. Qualquer outra
solução seria sinal de que nos querem alinhar pela Revolução Conciliar, e, nesse
caso, o nosso dever de desobediência surge imediatamente.
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