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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Unidade III
7 BRASIL E A EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA

7.1 Entre a Era Vargas e a Ditadura Militar

Com o fim do Estado Novo de Vargas, o Brasil passava por um novo momento democrático,
retomando discussões que foram caladas anteriormente pelo autoritarismo. Da eleição de 1945 saiu
vitorioso o general Eurico Gaspar Dutra (1883‑1974), que governou de janeiro de 1946 a janeiro de 1951.
Foi sucedido por Vargas, que voltou ao poder eleito pelo voto popular em um período democrático, até
seu suicídio em 1955. O governo de Dutra iniciou o alinhamento do Brasil aos Estados Unidos em suas
disputas com a União Soviética após a Segunda Guerra Mundial, o que ficou conhecido como Guerra
Fria, já que as duas potências não entravam em guerra diretamente, mas dando apoio a grupos rivais
que lutavam pelo controle de países em que pretendiam exercer influência política e econômica, como
ocorreu em guerras de independência dos países africanos, no Oriente Médio ou no Sudeste Asiático,
como na Guerra do Vietnã, entre 1955 e 1975.

Sobre a Guerra Fria, assim apresenta Eric Hobsbawm:

Gerações inteiras se criaram à sombra de batalhas nucleares globais que,


acreditava‑se firmemente, podiam estourar a qualquer momento e devastar
a humanidade. Na verdade, mesmo os que não acreditavam que qualquer
um dos lados pretendia atacar o outro achavam difícil não ser pessimista,
pois a Lei de Murphy é uma das mais poderosas generalizações sobre as
questões humanas (“Se algo pode dar errado, mais cedo ou mais tarde vai
dar”) (HOSBSBAWM, 1995, p. 224).

O medo de uma nova guerra era uma constante, além do risco nuclear. São inspirados nesse momento
histórico os filmes de super‑heróis, simbolizando o poder norte‑americano como salvadores do planeta
frente aos maiores perigos, ou ainda os filmes de espiões.

Porém, durante as décadas que seguiram, a vida das pessoas, especialmente na Europa e no continente
americano, passou a melhorar. Aos poucos as lembranças da Segunda Guerra foram se afastando, a
Europa passou por um processo de reconstrução com apoio financeiro dos Estados Unidos, ampliando o
acesso a serviços públicos pela população. Essa postura dos países europeus era importante para conter
novas instabilidades políticas e crises econômicas que poderiam fazer com que grupos comunistas
ganhassem apoio popular e buscassem uma revolução inspirada na União Soviética. Parte da Europa
ficou sob influência russa, especialmente o leste.

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Em 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU), que fora criada no final da Segunda Guerra,
atualizou a Declaração dos Direitos Humanos,

com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo


sempre em mente esta Declaração, esforce‑se, por meio do ensino e da
educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção
de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o
seu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos (ONU, 1948).

Em seus 30 artigos, a declaração trata especialmente de temas fundamentais que deveriam ser
observados pelos países que fizessem parte da ONU, sendo que o primeiro artigo apresenta: “Todos os
seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e
devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade” (ONU, 1948). Se todos são iguais e
livres, então o segundo artigo é consequência do primeiro:

Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades


estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja
de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza,
origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição
(ONU, 1948).

Além disso, todas as pessoas têm direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal (art. 3º), ninguém
pode ser mantido em escravidão ou servidão (art. 4º) e ninguém pode ser submetido à tortura (art. 5º).
Também, ninguém deve ser arbitrariamente preso, detido ou exilado (art. 8º), e, uma vez acusado de
um crime, deveria receber julgamento justo de um tribunal independente e imparcial (art. 10), sendo
considerado inocente até que se prove sua culpa (art. 11) (ONU, 1948).

Esses artigos respondiam à necessidade de não mais aceitar situações como ocorreram na Alemanha
nazista, em que pessoas com deficiências físicas e mentais ou que não se enquadrassem no que era
chamado de “raça ariana” – como negros, ciganos, judeus –, ou ainda aqueles que não seguissem uma
série de comportamentos considerados adequados (comunistas, homossexuais etc.) eram retirados do
convívio social, presos sem qualquer julgamento, tratados de modo humilhante, trabalhando à exaustão
sob maus‑tratos, até serem finalmente aniquilados nas câmaras de gás e outras formas ainda mais
torturantes de morte. Onde o progresso tecnológico e econômico tinha avançado e gerado um país
forte e com grande nacionalismo, com o orgulho do desenvolvimento, as maiores atrocidades foram
cometidas. Mas não apenas a Alemanha era um exemplo de tratamento desumano a certos grupos de
pessoas; as colônias europeias na África e na Ásia já haviam passado por experiências extremamente
violentas contra as populações locais, como o caso do Congo Belga, ou os regimes ditatoriais e a
perseguição aos opositores.

No que diz respeito especificamente à educação, a Declaração Universal dos Direitos Humanos
dedicava o artigo 26, que assim declara:

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1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo
menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar
será obrigatória. A instrução técnico‑profissional será acessível a
todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento


da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos
direitos do ser humano e pelas liberdades fundamentais. A instrução
promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as
nações e grupos raciais ou religiosos e coadjuvará as atividades das
Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução


que será ministrada a seus filhos (ONU, 1948).

Alguns dos aspectos apresentados já estavam em discussão e já eram motivo de lutas, como o
direito de todos à instrução, à gratuidade – que garante que mesmo os mais pobres possam acessar o
ensino elementar e fundamental – e o direito de a família escolher como seus filhos serão instruídos.
Esses direitos também já estavam em pauta nas propostas apresentada no “Manifesto dos Pioneiros
da Educação Nova”. Mas é preciso destacá‑los, como uma necessidade da época que se expressa nos
objetivos da educação, a promoção da paz, do respeito, da liberdade e da cooperação.

Observação

Observe como, a partir desse momento, as políticas nacionais se


relacionarão com eventos e instituições estrangeiros.

No Brasil, os anos entre 1946 e 1964, apesar de serem democráticos, apresentavam alguns limites
à plena democracia. Mesmo com o retorno às eleições diretas em todos os níveis, analfabetos continuavam a
não poder votar. O Partido Comunista Brasileiro (PCB), que havia sido legalizado em 1945, é novamente
posto na ilegalidade em 1947. Afinal, não havia espaço para o comunismo entre aqueles que eram aliados
dos Estados Unidos durante a Guerra Fria. As discussões sobre a ampliação ao acesso à escola pública e
gratuita também continuariam, e há acenos sobre essa questão na Constituição Nacional de 1946:

Art 166 – A educação é direito de todos e será dada no lar e na escola.


Deve inspirar‑se nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
humana. […]

Art 168 – A legislação do ensino adotará os seguintes princípios:

I – o ensino primário é obrigatório e só será dado na língua nacional;

II – o ensino primário oficial é gratuito para todos; o ensino oficial ulterior ao


primário sê‑lo‑á para quantos provarem falta ou insuficiência de recursos;

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III – as empresas industriais, comerciais e agrícolas, em que trabalhem mais


de cem pessoas, são obrigadas a manter ensino primário gratuito para os
seus servidores e os filhos destes;

IV – as empresas industrias e comerciais são obrigadas a ministrar, em


cooperação, aprendizagem aos seus trabalhadores menores, pela forma que
a lei estabelecer, respeitados os direitos dos professores;

V – o ensino religioso constitui disciplina dos horários das escolas oficiais, é


de matrícula facultativa e será ministrado de acordo com a confissão religiosa
do aluno, manifestada por ele, se for capaz, ou pelo seu representante legal
ou responsável;

VI – para o provimento das cátedras, no ensino secundário oficial e no superior


oficial ou livre, exigir‑se‑á concurso de títulos e provas. Aos professores,
admitidos por concurso de títulos e provas, será assegurada a vitaliciedade;

VII – é garantida a liberdade de cátedra (BRASIL, 1946a).

Alguns aspectos devem ser destacados. Em primeiro lugar, a disposição de que o ensino é direito de
todos, mas apenas o ensino primário é gratuito nas instituições oficiais, demonstrando preocupação
em assegurar ao menos essa primeira fase de estudos em que os alunos são alfabetizados. Também
se mantém a preocupação com a formação profissional na indústria e no comércio para os menores
como aprendizes. O ensino religioso, que havia sido tema de embate nas décadas anteriores, volta a se
apresentar nas escolas, mas com matrícula facultativa. Também, a contratação de professores no ensino
secundário e superior seria realizada por meio de concurso, não por nomeação que poderia beneficiar
pessoas ligadas aos governantes.

Também são apresentadas na Constituição os recursos que deveriam ser destinados pela União,
pelos estados e municípios. Essa questão já aparecia no Manifesto dos Pioneiros, pois era necessário dar
autonomia orçamentária às escolas a fim de que não ficasse a educação refém das iniciativas pessoais
e descontinuadas dos governantes. Além disso, era defendida a liberdade nas ciências, letras e artes; o
Estado tinha o dever de amparar a cultura; seriam criados por lei institutos de pesquisa, de preferência
junto às instituições de ensino superior; além de ser responsabilidade do Poder Público a proteção
de monumentos naturais, além das obras, monumentos e documentos de valor histórico e artístico
(BRASIL, 1946a).

Estava indicado na Constituição também que competiria à União legislar sobre diretrizes e bases
da educação nacional, o que viria a ser efetivado na publicação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB), em 1961, mas as discussões na câmara até a edição definitiva da lei duraram
13 anos, durante os quais muitos movimentos buscaram expandir e melhorar a educação no Brasil.

Muitas campanhas foram organizadas para tentar melhorar e ampliar a educação no país, como
a Campanha de Aperfeiçoamento e Difusão do Ensino Secundário (Cades), criada em 1953, durante o
período de governo democrático de Getúlio Vargas (ente 1951 e 1954) e que tinha por objetivo melhorar
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a qualidade e o acesso ao ensino secundário e auxiliar na formação de professores para esse nível, com
estágios e cursos de aperfeiçoamento, bolsas aos professores já atuantes para realizar especialização,
entre outras medidas (BRASIL, 1953). Em 1954 foi instituída também a Campanha de Aperfeiçoamento
e Difusão do Ensino Comercial (Caec), para promover a educação profissional comercial, voltada para
o incentivo a criação de escolas destinadas a esse ramo de ensino, formação de professores, com
especializações etc. (BRASIL, 1954).

Em 1947 o Ministério da Educação criou, sob direção de Lourenço Filho, a Campanha da Educação
de Adultos. O ministério financiava e orientava as ações da campanha que, segundo Piletti e Piletti
(2002), tiveram bons resultados, sendo que o número de alunos matriculados nos supletivos no Brasil
aumentou de pouco mais de 120 mil alunos em 1946, antes da campanha, para mais de 473 mil
no primeiro ano da campanha, crescendo para cerca de 604 mil em 1948 e chegando a 720 mil em
1950. A partir de 1959 também foi criada a Campanha de Erradicação do Analfabetismo, além da
Campanha da Educação Rural, a Campanha de Educação do Surdo, a Campanha de Reabilitação
dos Deficientes Visuais, a Campanha da Merenda Escolar e a Campanha de Material de Ensino. Essas
campanhas demonstram esforços em direcionar algumas ações para solucionar problemas específicos
da educação, como analfabetismo, em especial entre os adultos, o acesso ao secundário, ou ainda
demandas de grupos específicos pelo direito à educação, como os surdos e deficientes físicos, ou
ainda aspectos materiais que favoreciam a permanência das crianças e adolescentes na escola, como
a merenda e o material escolar.

Também foi criado em 1955 o Instituto Superior de Estudos Brasileiros, o Iseb, que era um órgão
vinculado ao Ministério da Educação e contava com um quadro de intelectuais de relevo que deveriam
estudar academicamente os problemas brasileiros, o que serviria de base, como um assessoramento, para
as políticas públicas. Em sua criação, pela Lei n. 37.608, era indicado que a finalidade do Iseb se voltava
ao estudo, ensino e divulgação das ciências sociais para a compreensão crítica da realidade brasileira
e com o objetivo de que essas análises fossem transformadas em instrumento do desenvolvimento
nacional. Entre esses intelectuais estavam Hélio Jaguaribe, Álvaro Vieira Pinto, Cândido Mendes,
Alberto Guerreiro Ramos, Nelson Werneck Sodré e Roland Corbisier; apesar de não terem conseguido
efetivamente influenciar nas políticas públicas nesse ideal de “nacional desenvolvimentismo”, que seria a
plena inserção do Brasil em um modelo de desenvolvimento industrial, eles tiveram o papel de formação
de pesquisadores voltados para a compreensão do Brasil (OLIVEIRA; ARAGÃO, 2020).

Em 1961, após longas discussões no Congresso Nacional (o projeto havia chegado para a
discussão em 1948), foi aprovada a primeira lei a tratar de todos os níveis de ensino no país: a
LDB. O primeiro projeto foi elaborado por uma comissão de educadores presidida por Manoel
Lourenço Filho, diretor do Departamento Nacional de Ensino do Ministério da Educação e da
Saúde, e teve como relator geral Antônio de Almeida Júnior, professor da Universidade de São
Paulo. Esse primeiro projeto, segundo Hilsdorf (2015), tinha orientação liberal e descentralizava o
controle da educação, e foi duramente combatido pelo ex‑ministro de Vargas, Gustavo Capanema,
que era um dos deputados da câmara a discutir o projeto. Carlos Lacerda, deputado da União
Democrática Nacional (UDN), também tentou aprovar novas propostas para essa lei, privilegiando
a educação privada com a justificativa de que assim as famílias teriam a primazia em educar seus
filhos. O Estado teria que assumir os custos daqueles que não pudessem assumir esses gastos.
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A educação nesse momento ainda era um privilégio de poucos, com elevadas taxas de analfabetismo
na década de 1950. A União Nacional dos Estudantes (UNE), juntamente com educadores e intelectuais
ligados à Escola Nova (Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Fernando de Azevedo, Lourenço
Filho, Anísio Teixeira etc.), chegou a realizar a Campanha de Defesa da Escola Pública, com a demanda
de mais verbas para a educação pública.

O papel do Estado na educação, o centralismo ou as autonomias locais, o ensino público e privado


etc., muitas eram as questões a serem debatidas e definidas por essa nova lei. Dois grupos principais
se opunham em relação à redação final da lei: por um lado aqueles que defendiam o uso dos recursos
públicos favorecendo a escola pública, representados principalmente por educadores ligados à Escola
Nova, e aqueles que pretendiam favorecer o ensino privado e, dessa forma, garantir maior controle das
famílias sobre a maneira como a educação dos filhos seria encaminhada, empresários educacionais e
grupos católicos (PILETTI; PILETTI, 2002).

Em 1959, devido ao engavetamento da primeira proposta para a LDB, Fernando de Azevedo,


responsável por redigir o “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, em 1932, preparou um novo
texto, o “Manifesto dos Educadores: mais uma vez convocados”, apresentado ao povo e ao governo
em 1959, assinado por 161 educadores e intelectuais. Nesse documento, é reforçado o papel do Estado
na promoção da educação para todos e é defendida a escola pública e o desenvolvimento de uma
educação democrática.

Na LDB alguns pontos dessas discussões foram solucionados de modo a conciliar interesses
conflitantes. Logo no início da legislação, ao proclamar seus princípios, é reforçada a relação entre
educação e democracia, já que a educação se baseava nos princípios da liberdade e solidariedade.
A educação é direito de todos, ocorre no lar e na escola. É destacado o papel da família ao escolher
o gênero de ensino que daria a seus filhos. O Estado promoveria o ensino com as escolas públicas,
mas se mantinha a liberdade das escolas privadas de atuarem em todos os níveis de ensino. Tanto as
escolas públicas quanto as escolas particulares têm representação nos conselhos estaduais de educação,
contanto que legalmente autorizadas.

Os estados e o Distrito Federal deveriam inspecionar as escolas de ensino primário e médio (que não
fossem mantidas pela União), verificando instalações, idoneidade e formação de professores, registros e
documentos de alunos, se a remuneração dos professores era adequada.

Ficava indicado nessa lei que os estabelecimentos de ensino oficiais médio e superior deveriam
recusar a matrícula dos alunos que tivessem sido reprovados mais de uma vez em qualquer série ou
conjunto de disciplinas (BRASIL, 1961b, art. 18).

Sobre o ensino pré‑primário, é indicado que se destina às crianças de até 7 anos e ocorre nas escolas
maternais ou jardins de infância. O primário é obrigatório e se inicia a partir dos 7 anos; é organizado
em, no mínimo, quatro séries anuais, podendo ser estendido por até seis anos pelos sistemas de ensino
(estadual, municipal, federal). Nesse caso os dois últimos anos seriam dedicados ao ensino de artes
aplicadas “adequados ao sexo e à idade”. O ensino primário só pode ser ministrado em língua nacional e,
se for iniciado após os 7 anos, pode ser realizado em cursos supletivos ou classes especiais.
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Os estados e Distrito Federal deveriam fazer o levantamento anual das crianças em idade escolar,
incentivar e fiscalizar a frequência às aulas. Sobre a finalidade, o ensino primário é assim apresentado:
“Art. 25. O ensino primário tem por fim o desenvolvimento do raciocínio e das atividades de expressão
da criança, e a sua integração no meio físico e social” (BRASIL, 1961b).

O ensino médio (aqui o termo não tem o mesmo sentido que o ensino médio atual, que seria
correspondente apenas ao ciclo colegial) era destinado aos adolescentes, e se organizava como
a sequência ao ensino primário. O grau médio era formado por dois ciclos, o ginasial e o colegial.
Faziam parte do grau médio os cursos secundários, técnicos e de formação de professores para o
primário e pré‑primário.

O quadro a seguir traz um resumo da divisão:

Quadro 1 – Organização do ensino primário e médio

Ensino primário – Ensino médio –


obrigatório dividido em ginasial e colegial
Regular: a partir Supletivo: quando – Secundário
dos 7 anos iniciado após a – Técnico
de idade idade ideal
– Escola Normal

O grau médio era um dos principais focos dessa legislação, que era bastante breve em relação
ao pré‑primário e primário. É possível perceber o esforço em compatibilizar duas necessidades na
ordenação desse nível de ensino. Por um lado, estabelecer um ensino comum a todo o Brasil, ao
mesmo tempo garantir espaços no currículo destinados a acomodar necessidades e particularidades
regionais. Pois no artigo 35 menciona‑se que haveria disciplinas obrigatórias e optativas e que
caberia ao Conselho Federal de Educação indicar até cinco disciplinas obrigatórias comuns a todos
os sistemas de ensino médio. As demais disciplinas seriam indicadas pelos conselhos estaduais
de educação. Além de indicarem as disciplinas, os conselhos de educação também definiriam os
programas para cada ciclo. As duas primeiras séries do primeiro ciclo teriam as mesmas disciplinas
obrigatórias em todos os sistemas.

A desarticulação entre os níveis de ensino foi mantida nessa lei, pois a conclusão e aprovação no
ensino primário não garantia o acesso ao ensino médio uma vez que ainda era necessário fazer exame de
admissão para ingressar na primeira série do primeiro ciclo. Esse era um aspecto de exclusão, pois, além
dos exames, havia maior número de candidatos ao ensino nas escolas públicas do que vagas (PILETTI;
PILETTI, 2002). Mas a progressão para o colegial era garantida apenas com a conclusão do ciclo ginasial.

Era fixada também a quantidade de dias de trabalho para o ano letivo e de horas semanais de
aulas para esse grau de ensino, e as escolas também tinham autonomia para a realização de exames,
verificação de rendimento escolar, expedição de certificados e diplomas. Além disso, tanto no ensino
primário como no médio, empresas e proprietários rurais eram incentivados a manterem escolas para
os filhos de seus funcionários.

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Para o ensino secundário também havia maior flexibilidade nos conteúdos, com disciplinas optativas.
O ciclo ginasial do secundário tinha duração de quatro séries anuais, com nove disciplinas sendo
ministradas nesse período, além das práticas educativas, sendo no mínimo cinco e no máximo sete
disciplinas por série (uma ou duas optativas). O colegial devia ter duração de ao menos três séries anuais,
com oito disciplinas sendo ministradas, além das práticas educativas, sendo uma ou duas disciplinas
optativas, e a realização de ao menos cinco e no máximo sete disciplinas por série. Havia também a
preocupação com as particularidades locais ao se inserir uma disciplina optativa no primeiro e segundo
ciclos chamada de “vocacional” e que atendesse a necessidades e possibilidades locais. A terceira série
do colegial era pensada como preparação para o ensino superior, sendo que as disciplinas cursadas (no
mínimo quatro e no máximo seis) poderiam ser ministradas em colégios universitários.

O ensino técnico continuava sendo pensado nos cursos industrial, agrícola e comercial. Também
seriam divididos em dois ciclos: ginasial (quatro anos) e colegial (mínimo de três anos). O ensino técnico
incluiria disciplinas do curso secundário ginasial (quatro disciplinas, sendo uma optativa) e colegial
(cinco disciplinas, sendo uma optativa), além das disciplinas específicas do técnico. Nas escolas técnicas
e industriais houve a tentativa de aproximar a formação técnica e secundária.

Essa aproximação do técnico ao secundário tinha precedentes. Até 1949, aqueles que desejassem
se candidatar ao ensino superior e tivessem concluído o ensino técnico precisavam também frequentar
o secundário. A partir de 1950, os alunos que tivessem cursado o primeiro ciclo do ensino técnico
industrial e comercial ou agrícola poderiam realizar matrícula no clássico ou científico, mas precisavam
realizar provas das disciplinas não cursadas. Em 1953, os alunos que tivessem realizado curso normal ou
técnico poderiam se candidatar ao ensino superior, mas precisavam realizar exames das disciplinas não
cursadas (PILETTI; PILETTI, 2002).

O ensino normal era mantido como parte do grau médio e tinha por função a formação de
professores, orientadores, supervisores e administradores escolares para o ensino primário. A formação
poderia ser continuada em cursos de especialização aos que já tivessem concluído o grau colegial das
Escolas Normais.

A formação dos professores do grau médio seria realizada nas faculdades de Filosofia, Ciências e
Letras, e a dos professores das disciplinas específicas do ensino técnico se daria em cursos especiais de
educação técnica.

O ensino superior poderia ser ministrado em estabelecimentos agrupados ou não em universidades,


que poderiam também ter a cooperação de institutos de pesquisa e centros de treinamento profissional.
Os cursos do ensino superior se dividiam em graduação (para os candidatos que concluíram o ensino
médio), pós‑graduação (para os que haviam concluído a graduação), além de especializações,
aperfeiçoamentos e cursos de extensão.

Vale salientar que a lei também menciona a “educação de excepcionais”, termo utilizado na época
para tratar os alunos com deficiência intelectual, que deveria ser realizada, sempre que possível, dentro
do sistema geral de educação, com integração à comunidade. Além da possibilidade de inserção nas
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escolas públicas e privadas comuns, as iniciativas privadas em que se realizasse a educação desse público
de forma eficiente (avaliação dos conselhos estaduais de educação) receberiam tratamento especial dos
poderes públicos, com empréstimos, bolsas e subsídios (BRASIL, 1961b, art. 89).

Seriam estimulados nas escolas serviços de assistência social, médico‑odontológico e de enfermagem,


que seriam prestados sob a orientação dos diretores da instituição. Nesse sentido, pode‑se perceber que
a escola passava a incluir necessidades mais amplas da sociedade e da comunidade em que se inseria, o
que também se relacionava com as discussões ocorridas na época e as reivindicações populares de maior
abertura, ampliação e democratização do acesso ao ensino.

Fazia parte dos gastos com educação não apenas a manutenção das escolas públicas e a expansão
dessas, mas também a concessão de bolsas em escolas particulares quando não houvesse vaga em
estabelecimentos oficiais. O poder e os recursos públicos estabeleciam uma relação com a rede privada,
o que era bastante favorável aos estabelecimentos particulares, com auxílios e subsídios que deveriam
ser revertidos em matrículas gratuitas a alunos pobres.

Segundo Hilsdorf (2015), a LDB não trazia muitos avanços, a não ser pela flexibilização do currículo
e pela aproximação e possibilidade de aproveitamento de estudos entre o ensino técnico e secundário,
o que seria um fator de democratização da escola. Além disso, havia muitos acenos ao setor mais
conservador pela manutenção do ensino religioso, ainda que de matrícula facultativa, e com os subsídios
e auxílios às escolas particulares, o que contribuiu para a expansão da rede privada de ensino.

Nesse contexto também é criada a Universidade de Brasília, com a participação de Anísio Teixeira,
Darcy Ribeiro (1922‑1997) e edifício projetado por Oscar Niemeyer (1907‑2012).

A transferência da capital do país para o centro do território nacional, especificamente no planalto


central, com a criação de uma nova cidade, Brasília, era uma possibilidade aventada muito antes do
governo de Juscelino Kubitschek (1902‑1976), de 1956 a 1961, como mencionava Francisco Prestes
Maia em 1957, em seu texto “Mudancistas e fiquistas”, sobre os debates em torno da mudança
ou não da capital do Rio de Janeiro para o centro do país (MAIA, 2012). Inclusive, havia menção à
transferência da capital em nossa primeira Constituição republicana, de 1891: “Fica pertencendo
à União, no planalto central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será
oportunamente demarcada para nela estabelecer‑se a futura Capital federal” (BRASIL, 1891, art. 3º).

A construção de Brasília iria acontecer seis décadas após essa indicação legal, justamente em um
momento de grande modernização do país que estaria claramente expresso na configuração urbana
dessa nova capital, projetada depois da realização de um concurso público para o traçado urbano,
vencido por Lúcio Costa (1902‑1998) e com o projeto dos principais edifícios por Oscar Niemeyer.
A arquitetura modernista brasileira estava em alta, assim como o Brasil e sua cultura no exterior, com
a bossa nova, Carmen Miranda (1909‑1955), Zé Carioca etc. O Brasil era o país do futuro, cuja cultura
era valorizada nos Estados Unidos e na Europa. Eram os “anos dourados”. Essa imagem de modernização
e de construção do futuro estava claramente expressa em Brasília, e a criação de uma universidade
nessa nova capital também partilhava desse olhar otimista, de superação do atraso.

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Observação

O nacional‑desenvolvimentismo foi o projeto de nação predominante a


partir desse momento, que pretendia criar um país forte economicamente,
com empresas estatais e instalação de empresas estrangeiras no país.

Darcy Ribeiro foi um dos importantes nomes desse período a pensar a formação do Brasil e os rumos
que deveriam ser tomados para a construção de uma nação menos desigual. Atuou como antropólogo,
formado pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) em 1946, tendo trabalhado
no Serviço de Proteção ao Índio (SPI), entre 1946 e 1949. Foi criador do Parque Indígena do Xingu
(1961), da Universidade de Brasília (1962) e do Memorial da América Latina (1989).

Em 1957, Darcy Ribeiro passou a dirigir a Divisão de Estudos e Pesquisas Sociais do Centro Brasileiro
de Pesquisa Educacionais, através do convite de Anísio Teixeira. Seriam esses os dois criadores da
Universidade de Brasília, que pensariam essa nova instituição como uma resposta modernizadora ao
ensino superior brasileiro, superando certas características vistas como motivos de atraso, sendo a
universidade um agente de desenvolvimento nacional a ser imitado por outras fundações. As bases
da universidade foram pensadas por Darcy Ribeiro, que também foi o primeiro reitor da instituição, e
o modelo pedagógico foi planejado por Anísio Teixeira.

Uma das críticas feitas ao modelo de universidade vigente no Brasil até então eram as cátedras.
Elas eram conduzidas por um professor que mantinha um mesmo grupo ligado a ele por muito tempo
em posição de autoridade dentro dos rumos do ensino universitário, impedindo mudanças de posturas
educacionais e teóricas, sem cooperação entre as diferentes faculdades, mantendo uma postura de
disputa no interior da universidade (NÓBREGA; FARRERO; PULINO, 2021). Além disso não havia a
formação de pesquisadores e docentes para o ensino superior, porque não havia uma pós‑graduação
efetiva. A principal função das universidades desse momento era a formação profissional das elites,
perpetuando os privilégios desse grupo. Darcy Ribeiro era um dos críticos a esse modelo tradicional de
ensino, considerando que deveria surgir de fato uma comunidade universitária, com maior contato e
solidariedade entre professores e estudantes.

Para a formulação do projeto da nova instituição, a questão sobre o que se esperava de uma
universidade moderna no país foi discutida juntamente a comunidades científicas que já existiam no
país, como a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC, criada em 1948), o Centro Brasileiro
de Pesquisas Físicas (CBPF, fundado em 1949), o Instituto Nacional de Pedagogia (criado em 1937, hoje
Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, Inep), o Centro Brasileiro de Pesquisas
Educacionais (CBPE). Dessa forma, a Universidade de Brasília foi pensada para ser uma instituição de
pesquisa, não apenas voltada à formação profissional da elite. A nova universidade formaria pesquisadores
e técnicos qualificados para atender às necessidades do país, alcançando o mesmo nível de qualidade
dos países mais desenvolvidos tecnologicamente no mundo (NÓBREGA; FARRERO; PULINO, 2021).

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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Assim, pela Lei n. 3.998, de 15 de dezembro de 1961, é instituída a Universidade de Brasília, que
deveria servir de modelo para a renovação e modernização do ensino superior no Brasil. Em seu Plano
Orientador, de 1962, ficava registrado o objetivo de formar cidadãos comprometidos com a democracia
e com o desenvolvimento do país, preparar especialistas altamente qualificados em suas áreas, reunir e
formar cientistas, pesquisadores e artistas, contando para isso com um ambiente acadêmico autônomo
e com liberdade.

Sua estrutura era assim organizada:

• Instituto Central de Ciências, que compreendia os cursos de Física, Química, Biologia, Geociências,
Ciências Humanas e Artes.

• As Faculdades: Ciências Políticas e Sociais, Educação, Ciências Médicas, Ciências Agrárias,


Tecnologia e Arquitetura.

• Unidades Complementares: Biblioteca Central, Editora Universitária, Museu, Grande Salão, Centro
Militar, Estádio Universitário, Casas Nacionais de Língua e Cultura, Centro Brasileiro de Estudos
Portugueses, Centro de Estudos do Português Brasileiro e Instituto de Teologia Católica.

Durante a Ditadura Militar, a Universidade de Brasília sofreu com grande repressão aos seus
alunos e professores, e o próprio Darcy Ribeiro, que tinha deixado a reitoria da universidade para
se tornar ministro da Educação e da Cultura no Governo João Goulart, foi cassado e exilado após o
golpe de 1964.

Ao mesmo tempo, muitas iniciativas de educação popular foram elaboradas, em alguns momentos
com apoio do Estado, que democratizaram o acesso ao ensino.

O analfabetismo era uma questão ainda muito difícil de se solucionar, especialmente devido aos
adultos que não tinham frequentado a escola. Por isso uma das ações destacadas nesse momento por
Piletti e Piletti (2002) foi o Serviço de Educação Supletiva do Estado de São Paulo, criado em 1948 para
atender aos adultos. Como aponta Brandão e Fagundes (2016), em 1947 a Unesco havia relacionado o
analfabetismo com o grau de desenvolvimento econômico dos países. Dessa forma, para desenvolver o
Brasil, era necessário reduzir o analfabetismo ao máximo. Nesse sentido, os conteúdos mínimos a serem
ensinados ao maior número possível de brasileiros compreendia a leitura, a escrita e os cálculos mais
simples, para assim desenvolver o pensamento.

Lembrete

A partir dos anos 1950, a necessidade de combater o analfabetismo


implicava cumprir critérios internacionais que qualificavam os países em
diferentes graus de desenvolvimento (países desenvolvidos e subdesenvolvidos).

141
Unidade III

A partir de 1961 foram criados os Centros Populares de Cultura, por iniciativa da UNE (que
foi fundada em 1937 e até hoje representa os estudantes universitários do Brasil). Esses centros se
espalharam pelo Brasil até 1964, quando foram proibidos de funcionar pela Ditadura Militar. Nesses
centros eram promovidas diferentes expressões artísticas para a criação de uma cultura nacional,
popular e democrática. Os artistas que participavam dessa experiência buscavam também conscientizar
as classes populares através da arte, por isso os centros tinham função educativa (GARCIA, 2004).

Também surgiram nesse momento os Movimentos de Educação de Base (MEB), que foram criados
em 1961 pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); eles eram mantidos pelo governo federal
durante a gestão de Jânio Quadros (janeiro a agosto de 1961) e tinham como objetivo a alfabetização
das populações rurais das regiões Norte, Nordeste e Centro‑Oeste, com a utilização do rádio. Durante a
década de 1960, o papa João XXIII reforçou um discurso da Igreja em que os cristãos católicos deveriam
ser ativos na luta por dignidade das populações mais pobres e excluídas. Essa postura oficial da Igreja
reverberou no Brasil no surgimento da Teologia da Libertação, que foi a base teológica para a ação de
muitos jovens no mundo (ARANHA, 2006).

Também surgem nesse momento os Movimentos de Cultura Popular (MCP), sendo o primeiro
ligado à prefeitura de Recife, criado em 1960. Fez parte desse movimento Paulo Freire.

Paulo Freire (1921‑1997), provavelmente o pedagogo brasileiro de maior fama, era um dos jovens
católicos que se inspiraram pela Teologia da Libertação. Nascido no Recife, era professor, carreira
compartilhada com a esposa, Elza, com quem se casou aos 23 anos. Apesar de ser formado em
Direito, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), atuou muito brevemente como advogado.
Trabalhou por oito anos no Serviço Social da Indústria (Sesi) de Pernambuco. Seria esse um momento
importante de diálogo com a população e de realização das primeiras experiências educativas que
depois desembocariam na criação do Método Paulo Freire (BRANDÃO; FAGUNDES, 2016).

Ele também participou da criação do Serviço de Extensão Cultural da Universidade do Recife


(atual UFPE), pensado para desenvolver maneiras de acessibilizar a universidade para a sociedade em geral,
ultrapassando sua função tradicional de formar a elite. Com esse serviço, a universidade e a população
deveriam elaborar em conjunto propostas de difusão da cultura e da educação. A universidade deveria
oferecer cursos de extensão de nível médio (em sentido amplo, como é apresentado na LDB) e superior.

Os Movimentos de Cultura Popular foram criados por iniciativa da prefeitura de Recife para atuarem
na redução do analfabetismo. Paulo Freire foi um dos envolvidos nessa ação, buscando não apenas
atuar na alfabetização, mas promover na população a construção de uma cultura popular e uma visão
crítica e transformadora. Entendia‑se a educação como uma ação coletiva, que se dá através de relações
sociais. No processo de educação deveria ocorrer também um processo de tomada de consciência dos
indivíduos sobre sua própria identidade e a realidade em que estavam inseridos.

Nessa iniciativa a cultura popular era muito valorizada, dando destaque às produções e valores
compartilhados pelos alunos. Dessa forma, elaborava‑se uma educação muito diferente da tradicional,
que “transferia” valores e produções alheias ao universo dos estudantes provenientes das camadas
populares, tendo como referência a cultura das elites. Em um segundo momento, as aulas davam lugar
142
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

ao círculo de cultura, em que o foco do trabalho estava no diálogo e no debate de ideias, ao invés das
aulas expositivas tradicionais. Segundo Brandão e Fagundes (2016, p. 98): “Assim, o próprio ensino de
leitura de palavras do português começava e continuava por uma reflexão coletiva, a partir da questão
teórica da cultura e dos elementos da cultura local de cada grupo de educandos”.

Além da valorização da cultura popular, Paulo Freire buscava em suas iniciativas aproximar autores
e conhecimentos da cultura dita erudita à cultura popular, promovendo assim intercâmbios e novas
criações. Não era a imposição da cultura erudita sobre a popular. As duas culturas eram colocadas em
igualdade de importância e podiam se transformar mutuamente nesse contato. Da mesma forma, ao
promover o debate se desenvolvia o pensamento crítico, para depois os indivíduos poderem agir no
mundo para transformá‑lo, buscando soluções para seus problemas sociais.

Em 1962, Paulo Freire atuou em Angicos, no Rio Grande do Norte, alfabetizando 300 trabalhadores em
45 dias. Por causa dessa experiência inovadora e bem‑sucedida, o governador do estado do Pernambuco,
Miguel Arraes, autorizou que realizasse o mesmo trabalho nas favelas de Recife, o que depois foi alargado
para todo o estado. O seu método de alfabetização partia do respeito aos adultos que se encontravam
nesse processo de letramento, sobretudo o respeito pela vida, história e os conhecimentos que eles
desenvolveram e de que se apropriaram ao longo da vida. Por isso o método era baseado em relações
que se estabeleciam na sala de aula evocando a cultura dos alunos, com um método ativo, em que a
alfabetização se fazia ao mesmo tempo que o indivíduo se conscientizava do seu valor.

A postura de Paulo Freire na educação compartilhava com os Movimentos de Educação de Base


e os Centros Populares de Cultura um ideal de que não se devia apenas preparar as pessoas para o
exercício do trabalho, mas que a educação seria capaz de formar a consciência crítica dos educandos
que poderiam, assim, transformar a realidade social, política e econômica do nosso país.

Mais do que um método de alfabetização, Paulo Freire tinha uma concepção de sistema de educação,
que partia da alfabetização, mas que se desenvolvia e aprofundava nos demais níveis, que compreenderia,
segundo Brandão e Fagundes (2016), seis etapas:

• Primeira etapa: alfabetização infantil.

• Segunda etapa: alfabetização de adultos. Em seu método, a alfabetização de adultos deveria


ocorrer de forma rápida, de 28 a 40 horas. Eram recrutados os alunos na região em que se iria
realizar o processo. Também se realizavam entrevistas para levantamento das palavras geradoras
do processo de alfabetização. Não eram utilizadas cartilhas, e o professor que encaminhava o
processo não se colocava como um professor nos moldes tradicionais. Havia auxílio de materiais
audiovisuais (tecnologia da época – projeções fixas) e de situações da vida e das experiências do
grupo que era alfabetizado; fazia‑se um levantamento do universo vocabular dos alfabetizando,
que servia como base para as palavras geradoras para a alfabetização, a partir das quais se
aprendiam as sílabas, depois se organizavam palavras e frases. A aula se desenrolava com diálogo
informal e franco, em que alfabetização e conscientização se desenvolviam simultaneamente.

143
Unidade III

• Terceira etapa: compreendia um ciclo primário rápido voltado para os adultos, que duraria entre
8 e 10 meses. Nessa etapa os educandos começariam a ler pequenas antologias de textos com
vocabulário limitado. Também estudariam nesse momento “pequenos manuais de capacitação
cívica”, que se tratava de textos com noções básicas de legislação trabalhista, economia, sobre
sindicalismo, geografia econômica etc. Esses manuais não eram fixos e podiam ser incorporados
temas importantes para a vida daquele grupo específico de educandos, como assuntos técnicos
ligados às profissões e ocupações dos alunos, temas de arte popular e folclore. Nessa etapa
também, os adultos começariam a escrever pequenos artigos para um jornal próprio, além de
pequenos livros escritos em conjunto e que circulavam por outros grupos nos “círculos de leitura”.
Esses textos formariam bibliotecas populares.

• Quarta etapa: consistiria na aproximação com a universidade, construindo uma experiência


popular no ensino universitário, com a extensão cultural, ligada à Universidade do Recife.
Buscava‑se nessa etapa a construção de uma universidade popular, com o intercâmbio entre
a universidade e os “círculos de leitura”, as associações de bairro, os sindicatos rurais. Várias
iniciativas do momento contribuíram para a formação dessa etapa, como o Serviço de Extensão
Cultural (SEC) da Universidade do Recife, o Movimento de Cultura Popular (MCP), o Movimento
de Educação de Base (MEB), a Ação Popular (AP), o Setor de Reformulação Agrária.

• Quinta etapa: os trabalhos desenvolvidos na etapa anterior desembocariam no Instituto


de Ciências do Homem, da Universidade do Recife, que atuaria em conjunto com o Serviço de
Extensão Cultural (SEC).

• Sexta etapa: criação de um Centro de Estudos Internacionais (CEI), da Universidade do Recife,


que promoveria intercâmbios e diálogos com países subdesenvolvidos para que se desenvolvesse
um esforço de integração do chamado Terceiro Mundo.

Ou seja, nesse sistema, o adulto – antes excluído da vida política por ser analfabeto, sem direito
a voto – iniciava seu processo de alfabetização, ao mesmo tempo que também se conscientizava
sobre seu lugar no mundo e passava a se ver como um instrumento de transformação. Esse mesmo
indivíduo avançaria no acesso à educação, chegando a partilhar da construção de uma universidade
verdadeiramente popular. A universidade deixaria de ser o espaço da reprodução da elite e passaria a
se voltar para as necessidades e para a vivência da sociedade, além de partilhar com outros países em
situações semelhantes a nossa experiência e projetos de superação de nossos problemas em comum.

Em 1964, com o início da Ditadura Militar, Paulo Freire foi preso pelo regime. Ao sair da prisão, foi
exilado e viveu por 14 anos fora do Brasil. Nesse momento passou a escrever suas obras, como o livro
Educação como prática da liberdade, de 1965, e Pedagogia do oprimido, de 1970. Nesse período também
atuou alfabetizando adultos em diversos países africanos, como Guiné‑Bissau, Cabo Verde, Angola, São
Tomé e Príncipe, e na América Central, na Nicarágua.

Quando retornou do exílio, retomou suas atividades como escritor e assumiu cargos em universidades
e foi secretário municipal de Educação em São Paulo, de 1989 a 1991.

144
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

A longa experiência em educação, especialmente na alfabetização de adultos, permitiu que Paulo


Freire desenvolvesse um pensamento pedagógico próprio que apoiava e motivava sua prática. A chamada
“pedagogia do oprimido” partia do pressuposto da desigualdade entre os homens no mundo capitalista
em que o Brasil se insere. Nas palavras de Aranha:

Paulo Freire parte do princípio de que vivemos em uma sociedade dividida


em classes, na qual os privilégios de uns impedem a maioria de usufruir
os bens produzidos. Se a vocação humana de se realizar só se concretiza
pelo acesso aos bens cultura, ela é negada na injustiça, na exploração,
na opressão, na violência dos opressores, mas afirmada no anseio de
liberdade, de justiça, de luta dos oprimidos, pela recuperação de sua
humanidade roubada.

Um desses bens necessários é a educação, da qual tem sido excluída grande


parte da população dos países periféricos (ARANHA, 2006, p. 337).

Ou seja, a educação é um bem cultural que por muito tempo foi acessível apenas a um grupo
muito pequeno e privilegiado da sociedade. Esse grupo também exercia seu domínio através
da manutenção da educação em um círculo reduzido, convencendo‑se de que sua posição era
natural, como se seus privilégios não escondessem a opressão e a exclusão do outro. O oprimido,
mesmo que se reconheça como tal, muitas vezes se convence, ou aceita seu lugar, como uma
situação que não pode ser transformada, vendo‑se também como um ser inferior, naturalizando
a desigualdade. Por isso, era preciso que, através da educação, o oprimido se conscientizasse de
seu lugar, desejasse a mudança e passasse a agir no mundo para alcançar lugar de dignidade
e igualdade como cidadão de mesmo valor que os privilegiados. Esse movimento de libertação
deveria partir do próprio oprimido. Ou seja, em sua concepção pedagógica a figura central no
processo educativo não é o professor, mas o aluno. E o objetivo da educação é mais amplo que
aprender a escrever, ler e calcular; é a educação que empodera o aluno e o torna protagonista nas
transformações da sua vida.

Em 1993, depois de ter atuado na Secretaria de Educação de São Paulo, Paulo Freire escreveu um
livro chamado Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar, no qual trata de temas relacionados
à educação direcionados especialmente aos professores. Em uma dessas cartas, republicada em 2001
na revista Estudos Avançados com o título “Ensinar, aprender: leitura do mundo, leitura da palavra” há
considerações que devem ser destacadas para que possamos compreender ao menos em termos gerais
o pensamento freiriano.

O primeiro ponto a ser destacado é sobre a necessidade de o trabalho docente ser constantemente
repensado pela prática, pela interação com os alunos e pela autocrítica. Por isso, aquele que
ensina está também constantemente aprendendo a construir o seu trabalho. O que não significa,
de forma alguma, que o trabalho docente se faz apenas pela prática, prescindindo de uma boa
formação anterior:

145
Unidade III

O aprendizado do ensinante ao ensinar se verifica à medida que o


ensinante, humilde, aberto, se ache permanentemente disponível
a repensar o pensado, rever‑se em suas posições; em que procura
envolver‑se com a curiosidade dos alunos e dos diferentes caminhos e
veredas, que ela os faz percorrer. […]

O fato, porém, de que ensinar ensina o ensinante a ensinar um certo


conteúdo não deve significar, de modo algum, que o ensinante se aventure
a ensinar sem competência para fazê‑lo. Não o autoriza a ensinar o que não
sabe. A responsabilidade ética, política e profissional do ensinante lhe coloca
o dever de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo de iniciar
sua atividade docente (FREIRE, 2001, p. 259).

A curiosidade do aluno deve ser valorizada nesse processo, mas o professor deve estar preparado
para auxiliar na construção do conhecimento a partir de sua própria formação.

Sua postura também se coloca como firmemente contrária ao estudo e à leitura como mera
memorização de conteúdos, ou frases e fórmulas presentes no texto consultado. Estudar é ler, e a leitura
é necessariamente a compreensão do que está sendo lido. Por isso, quem lê precisa se colocar de forma
ativa na busca da compreensão do significado do texto. Não é tarefa fácil, mas pode ser extremamente
prazerosa. Além disso, é necessário que seja ensinado como ler e escrever de forma correta, pois não é
uma habilidade dada naturalmente:

Estudar é desocultar, é ganhar a compreensão mais exata do objeto,


é perceber suas relações com outros objetos. Implica que o estudioso,
sujeito do estudo, se arrisque, se aventure, sem o que não cria nem recria
(FREIRE, 2001, p. 264).

Dessa forma, ensinar não pode ser uma transferência direta de conteúdos, ou uma ação mecânica
de memorização. É preciso ensinar os alunos a lerem, tantos os textos escritos quanto o mundo em
que se inserem. Para isso, há instrumentos que devem ser utilizados, como dicionários, a leitura de
outros textos para se comparar as formas de abordagem de um determinado assunto, enciclopédias
para adquirir certas noções e contextos para compreender o que o autor está dizendo em seu texto. É
preciso trabalhar na leitura, buscar ativamente a compreensão. Nas palavras de Freire:

A compreensão do que se está lendo, estudando, não estala assim, de


repente, como se fosse um milagre. A compreensão é trabalhada, é forjada,
por quem lê, por quem estuda que, sendo sujeito dela, se deve instrumentar
para melhor fazê‑la. Por isso mesmo, ler, estudar, é um trabalho paciente,
desafiador, persistente.

Não é tarefa para gente demasiado apressada ou pouco humilde que, em


lugar de assumir suas deficiências, as transfere para o autor ou autora do
livro, considerado como impossível de ser estudado (FREIRE, 2001, p. 265).
146
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Durante o processo de aprendizagem da leitura é preciso que os textos apresentados aos alunos
estejam adequados ao nível de compreensão que eles podem atingir sobre um determinado assunto
abordado, seleção feita pelo professor, a partir das características dos estudantes e do acompanhamento
do processo de aprendizagem que eles estão percorrendo:

Quando a distância entre aqueles níveis [entre o texto e a possibilidade de


compreensão do aluno] é demasiado grande, quando um não tem nada que
ver com o outro, todo esforço em busca da compreensão é inútil (FREIRE,
2001, p. 265‑266).

O estímulo à leitura e à escrita também deveriam ser nutridos nas escolas, desde a mais tenra idade,
para que os alunos gostassem de ler e não vissem essa atividade como uma obrigação enfadonha,
cansativa, desinteressante ou desnecessária:

Se estudar, para nós, não fosse quase sempre um fardo, se ler não fosse
uma obrigação amarga a cumprir, se, pelo contrário, estudar e ler fossem
fontes de alegria e de prazer, de que resulta também o indispensável
conhecimento com que nos movemos melhor no mundo, teríamos índices
melhor reveladores da qualidade de nossa educação (FREIRE, 2001, p. 267,
grifo do autor).

Essas considerações sobre o trabalho do professor nos mostram a seriedade com que Freire tratava
a educação, que deveria ser desenvolvida com responsabilidade e muita dedicação, e o alcance dessa
educação, que deveria ter reflexos ao longo de toda a vida das pessoas.

Saiba mais

Para saber mais sobre Paulo Freire, sugerimos o documentário da TV


Escola e o livro da Coleção Educadores:

PAULO Freire contemporâneo. Direção: Toni Venturi. Brasil: TV Escola,


2006. 55 min.

BEISIEGEL, C. R. Paulo Freire. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora


Massangara, 2010. (Coleção Educadores). Disponível em: https://cutt.ly/s0WGMIj.
Acesso em: 20 out. 2022.

As reivindicações populares desse período para a ampliação das vagas e democratização do acesso à
escola pública também surtiram soluções bastante criticadas por especialistas na época. Um exemplo
a se destacar foram as iniciativas dos prefeitos da cidade de São Paulo. Para criar mais vagas houve
redução no tempo de duração dos turnos dos grupos escolares entre 1956 e 1957. Dessa forma haveria
de três a quatro turnos diários de menos de 3 horas/aula de duração cada. Também foram instaladas

147
Unidade III

“classes de emergência”, sendo que em 1959 havia 1.200 delas. O número médio de alunos por sala era
de 25 em 1935 e passou a 40 em 1955. Em 1960, foi adotado o regime de promoção automática; sem
reprovação as vagas se abririam mais rapidamente aos novos alunos. Também adotaram a aprovação
compulsória de 80% dos alunos matriculados nos ginásios e Escolas Normais com a mesma intenção.
Foram criadas turmas nas Escolas Normais e ginásios no período noturno (HILSDORF, 2015).

Além disso, foram construídos galpões de madeira, com mobiliário improvisado com caixotes
para a instalação de escolas elementares. Essa iniciativa ignorava o Convênio Escolar, órgão técnico
criado em 1943, responsável por projetar escolas da prefeitura seguindo práticas que visavam
garantir a higiene e a salubridade desses espaços, além de ser pensado para acomodar bem as
funções da escola.

Também houve a instalação de “seções”, que eram uma forma de utilizar alguns espaços das
escolas privadas ou dos prédios de grupos escolares para o funcionamento de extensões dos ginásios
tradicionais. O uso desses espaços permitiu grande expansão do número de vagas no ginásio. O objetivo
dessas inúmeras iniciativas era conseguir dar acesso à matrícula no ginásio a todos os alunos que
concluíam o curso primário, o que foi alcançado, não sem críticas pela perda de qualidade e falta de
critérios técnicos para a elaboração dessas políticas, consideradas populistas e que desvalorizavam o
trabalho dos professores, especialmente ao tratarem das aprovações compulsórias. Com essa expansão
foi possível que em 1967 fossem suprimidos legalmente os exames de admissão ao ginásio, que antes
excluíam cerca de metade dos candidatos pela falta de vagas.

Todas essas reivindicações por acesso à educação, a organização de movimentos populares e o desejo
de ampliar a cidadania e o direito ao ensino sofreriam grandes mudanças a partir de abril de 1964.

7.2 A Ditadura Militar e a Educação

O período de democracia não duraria muito, e as conquistas dos movimentos sociais que reclamavam
maior acesso à educação, ampliando vagas e abrindo possibilidades de avanço escolar às camadas
menos favorecidas foram em muitos aspectos silenciadas e paralisadas após 1964.

O Governo João Goulart enfrentou grande oposição desde o início de seu mandato, em 1961,
especialmente contrários às reformas propostas. Dentro do contexto da Guerra Fria e do alinhamento
do Brasil ao bloco, a oposição conseguiu se articular para dar um golpe de Estado sob o pretexto
de enfrentar um “perigo comunista”. Com a Revolução Cubana, ocorrida em 1959, o continente
americano passou a ser território de maiores cuidados pela política norte‑americana, com a chamada
Doutrina de Contenção do Comunismo Internacional, mais conhecida como Doutrina Monroe.
Essa preocupação com o comunismo se justificava no momento vivido: a União Soviética alargava sua
zona de influência, especialmente no Oriente, rivalizando como potência econômica e como ideologia
política a ser seguida. Nesse contexto, a Escola Superior de Guerra do Brasil aderiu claramente à
defesa dos interesses norte‑americanos em nosso país na elaboração de sua própria Doutrina de
Segurança Nacional.

148
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Segundo o especialista em Ditadura Militar, o historiador Marcos Napolitano, a tomada de poder


pelos militares apoiada por empresários em 1964 tinha dois objetivos a serem realizados no novo
regime. Primeiramente, destruir uma elite política e intelectual que defendia reformas no Brasil, por isso
foram cassadas muitas lideranças políticas, sindicais e militares que se comprometiam com reformas,
sobretudo na área trabalhista. O segundo objetivo era controlar e impedir maiores reivindicações de
operários e camponeses (NAPOLITANO, 2014). Esses dois grupos foram os principais alvos dos primeiros
quatro anos do regime. Durante o governo do general Castelo Branco, de 1964 a 1967, foram editados
os quatro primeiros Atos Institucionais, a partir dos quais se consolidava o caráter ditatorial do regime,
além da Lei de Imprensa e a nova Constituição. O Ato Institucional 2 (AI‑2) foi um marco importante
na consolidação do regime, ao reforçar o poder do presidente da República e dar maior abrangência à
atuação da Justiça Militar. Segundo Napolitano:

O presidente da República ainda poderia decretar Estado de Sítio por 180


dias, fechar o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas e as Câmaras
de Vereadores, intervir em estados, cassar deputados e suspender os direitos
dos cidadãos por dez anos. […]

O AI‑3, em fevereiro de 1966, completa a obra: estabelecem‑se eleições


indiretas para governadores e nomeação para prefeitos das capitais
(NAPOLITANO, 2014, p. 79).

Dessa forma, a população não participava mais da política nem ao menos com o voto, já que as
eleições eram indiretas, e aqueles que questionavam o poder ou os considerados inimigos do regime
podiam ser cassados em seus mandatos. Apenas dois partidos passaram a atuar politicamente a partir
de 1966: a Arena (Aliança Renovadora Nacional), que era o partido do regime; e o MDB (Movimento
Democrático Brasileiro), que representava uma oposição consentida.

Saiba mais

Para saber mais sobre o período da Ditadura Militar no Brasil sugerimos


a coleção de livros do jornalista Elio Gaspari:

GASPARI, E. A ditadura envergonhada. São Paulo: Intrínseca, 2016.

GASPARI, E. A ditadura escancarada. São Paulo: Intrínseca, 2016.

GASPARI, E. A ditadura derrotada. São Paulo: Intrínseca, 2016.

GASPARI, E. A ditadura encurralada. São Paulo: Intrínseca, 2016.

GASPARI, E. A ditadura acabada. São Paulo: Intrínseca, 2016.

149
Unidade III

A situação das escolas e da educação em termos gerais não foi um oásis em meio à repressão e
ao terror que pouco a pouco se instalou. O Serviço Nacional de Informações (SNI) era responsável por
enviar agentes às escolas e universidades para observarem as aulas e as relações entre estudantes,
professores e funcionários, se alguém poderia se apresentar como crítico ao governo ou participar da
resistência ao regime, ou ainda se a maneira como o ensino era realizado poderia representar posturas
subversivas. Como resultado dessa fiscalização, ocorreram invasões em escolas pela polícia, professores
e alunos presos e exilados (PILETTI; PILETTI, 2002).

Em 9 de novembro de 1964 foi editada a Lei Suplicy de Lacerda, nome do então ministro da Educação
da época, que tentava acabar com o movimento estudantil. A UNE foi substituída pelo Diretório Nacional
de Estudantes. As uniões estaduais também foram substituídas pelos diretórios estaduais. Dessa forma,
os estudantes não podiam mais se reunir, discutir seus problemas, reivindicar vagas e melhoria do ensino.
Porém, a UNE continuou a atuar clandestinamente, assim como uniões estaduais e outras entidades que
foram postas na ilegalidade.

Em 1967 foi criado o Conselho Nacional de Segurança, que reforçava a vigilância a qualquer indivíduo
da população. Porém o auge da repressão viria a partir de 1968. Nesse ano, durante uma manifestação
estudantil dentro do restaurante universitário chamado de Calabouço, no Rio de Janeiro, motivada
pelo aumento do preço da refeição, o local foi invadido pela polícia e o estudante Luís de Lima Souto
foi morto. A violência desmedida na repressão teve como resposta uma enorme passeata, conhecida
como Passeata dos 100 Mil, em 26 de junho de 1968. A manifestação teve grande adesão da sociedade.
Em julho daquele ano as passeatas foram proibidas.

Figura 16 – Passeata dos 100 Mil

Fonte: Sant’Anna (2019b, p. 19).

150
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

No mesmo ano, em outubro, o XXX Congresso da União Nacional dos Estudante acontecia
na cidade de Ibiúna, interior do estado de São Paulo, quando o local foi invadido por mais de
250 policiais. Cerca de 900 estudantes foram detidos no Presídio Tiradentes, em São Paulo, sendo
interrogados no local por uma semana. Após esse período a maioria foi liberada, depois de fichados
e fotografados.

No mesmo mês ocorreu a chamada Batalha da Maria Antônia. A Rua Maria Antônia, no centro
de São Paulo, era dividida pelos alunos do Mackenzie e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
da Universidade de São Paulo. Em agosto de 1968, os estudantes ocuparam o prédio da USP
como maneira de se manifestarem contra a violência policial e para fortalecer suas reivindicações
sobre alguns aspectos de uma possível reforma universitária, o que foi tolerado inicialmente.
A permanência dos estudantes no prédio acabou por também ser uma demonstração de força
do movimento estudantil que, por isso, deveria ser reprimido. Os estudantes do Mackenzie que
eram ligados ao Comando da Caça aos Comunistas (CCC), com apoio da Guarda Civil, entraram em
conflito com estudantes da USP. Como resultado do conflito, o edifício da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras ficou destruído, uma pessoa foi morta, houve vários feridos e alguns carros
incendiados. O prédio foi fechado e as aulas apenas foram retomadas no início do ano seguinte
(MAIA, 2018).

Figura 17 – Batalha da Maria Antônia

Fonte: Sant’Anna (2019b, p. 20).

151
Unidade III

Durante o ano de 1968 ocorreram muitas manifestações estudantis em vários países, como nos
Estados Unidos, Alemanha, França, Egito, Polônia. Os movimentos estudantis tinham crescido ao
longo dos anos 1960 como um reflexo do período pós‑guerra e da Guerra Fria, das transformações
no conhecimento, na política e na economia. O número de estudantes universitários na Europa e
nos Estados Unidos também crescia, além do fato de as mulheres passarem a ter mais acesso ao
ensino, o que contribuiu para que diferentes visões e reivindicações fizessem parte dos anseios
dessa juventude. Essa juventude também questionava as autoridades e participava da construção
da contracultura, movimento questionador em relação às tradições e convenções da sociedade. Nos
anos 1960 o número de estudantes também aumentaria no Brasil, permitindo que se organizasse
efetivamente um movimento estudantil. Havia anteriormente movimentos político que atraíam
a juventude, como o movimento comunista e o integralista (influenciado pelo fascismo), que
passariam então a se mobilizar na vida universitária com a ampliação do acesso ocorrida nesses
anos (MAIA, 2018).

Os movimentos estudantis desejavam mudanças na universidade, que incluíam a ampliação do


número de vagas e de professores, além do aumento dos recursos para a manutenção das universidades
públicas. Também desejavam a extinção das cátedras – o que significaria, na percepção dos estudantes,
a promoção de uma universidade mais crítica, aberta e livre – e a criação de um ciclo básico para a
integração de toda a universidade.

Maia (2018) aponta que, após a LDB de 1961, os estudantes passaram a reivindicar maior participação
nos colegiados das universidades. Em suas manifestações eram paralisadas as atividades didáticas e
havia ocupação das universidades pelos grevistas, o que muitas vezes tinha como reação o acionamento
do Comando Militar com a justificativa de preservação do patrimônio público.

Nas formulações dos estudantes sobre a universidade que desejavam, segundo Maia:

Propunham uma reforma que pusesse a universidade a serviço das massas


populares, refletindo a consciência nacional e popular da realidade brasileira,
influenciados pelas propostas de Paulo Freire de uma educação libertadora.
Há uma intensa produção de atividade nos CPCs, os Centros Populares de
Cultura (MAIA, 2018, p. 703‑704).

Eram discutidas em seminários da UNE questões envolvendo a autonomia da universidade, a


participação de docentes e discentes nas decisões e na administração universitária, a dedicação integral
dos docentes, a ampliação das vagas para os estudantes nas instituições públicas (democratização do
ensino superior) e a flexibilização dos currículos (FÁVERO, 2006).

No entanto, a mobilização estudantil era considerada perigosa e radicalizada pelo Regime Militar, o
que foi uma das justificativas para que se firmassem os convênios com órgãos do governo dos Estados
Unidos. A Reforma Universitária que ocorreria então em 1968 foi preparada com algumas divergências
em relação ao desejo dos estudantes e professores. Sua formulação se deu em um dos acordos firmados
entre o governo brasileiro e a Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos (Usaid,

152
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

do inglês United States Agency for International Development). A atuação dessa agência junto ao
Ministério da Educação – que geraria a Reforma Universitária e a Reforma do 1º e do 2º Grau, além de
terem influenciado a publicação de livros – ficou conhecida como os Acordos MEC‑Usaid.

A Usaid surgiu em 1961, como uma ampliação da escala de atuação de um órgão existente
anteriormente, o ICA (International Cooperation Administration), que financiava projetos de
interesse norte‑americano em diversas áreas em países pobres, como treinamento de produtores
rurais, ensino técnico e formação de professores primários. Com a instituição da Usaid, os recursos
destinados para esses programas foram ampliados. A América Latina e, particularmente, o Brasil
eram locais de atuação da Usaid, que estava presente em diferentes áreas, como pesquisas
científicas, na segurança pública (assessorando e treinando policiais), na agricultura, habitação
popular etc. (MOTTA, 2010).

A Usaid se inseria nas políticas norte‑americanas da Guerra Fria. O objetivo, assim como havia
ocorrido com os auxílios para a reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial, seria reduzir
as chances de emergirem movimentos que propusessem mudanças profundas na política e economia
dos países. Com a Revolução Cubana, de 1959, as preocupações sobre a expansão do comunismo na
América passaram a tomar maior atenção, e os Estados Unidos reforçaram o investimento financeiro e
de auxílio técnico para a modernização dos países latino‑americanos.

Em 1961 foi anunciado pelo presidente John F. Kennedy a Aliança para o Progresso, voltada
especialmente para o fomento da modernização dos países da América Latina, visando diminuir a
pobreza e as desigualdades, que poderiam gerar atitudes revolucionárias através da movimentação
popular. Segundo Motta, a percepção por trás dessas iniciativas era de que:

se os países atrasados pudessem seguir a trilha da modernização, com


desenvolvimento econômico, melhoria dos indicadores sociais e estabilidade
política, os defensores da revolução perderiam poder de convencimento
(MOTTA, 2010, p. 239).

Os Acordos MEC‑Usaid foram os que ganharam maior repercussão naquele momento, mas fizeram
parte da atuação da Usaid no país o treinamento e o investimento no setor de segurança pública.
Nesse sentido, as ações se dirigiam para duas vertentes complementares com o objetivo de reforçar o
pertencimento da América Latina à zona de influência norte‑americana: a princípio, modernizar o país
para conter o avanço revolucionário‑comunista; mas, se esse projeto apresentasse limites e não pudesse
conter todo movimento que se inspirava no comunismo, a ação se direcionava para a outra vertente, a
contenção policial desses movimentos, com treinamento das forças repressivas.

153
Unidade III

Figura 18 – Página do jornal carioca Correio da Manhã, de 27 de maio de 1967,


noticiando as manifestações de estudantes contrárias ao Acordo MEC‑Usaid

Fonte: Correio da Manhã (1967, p. 7).

154
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

As notícias sobre os acordos MEC‑Usaid, mesmo antes da realização da Reforma Universitária (1968)
e da Reforma do 1º e do 2º Graus (1971) encontraram oposição dos estudantes, que consideravam essa
atitude uma evidente interferência norte‑americana no Brasil, justamente em um momento em que o
intervencionismo americano era mais criticado internacionalmente, sobretudo pelo encaminhamento
da Guerra no Vietnã, que mobilizava a opinião pública.

Por outro lado, os professores organizavam comissões e documentos tratando da reforma, enquanto
o movimento estudantil fazia suas mobilizações e reivindicações. Professores foram aposentados
nesse momento, com alegação de subversão. A própria professora do Departamento de História da
USP, historiadora consagrada por suas obras hoje, Emília Viotti da Costa, foi aposentada e relatou o
ambiente universitário do momento, com alunos suspeitos de envolvimento em atividades subversivas
sendo arrancados das salas de aula, professores e alunos sendo escoltados com soldados portando
metralhadoras (MAIA, 2018).

Entre junho e setembro de 1965, o consultor americano Rudolph Atcon, a convite do MEC,
preparou um documento com sugestões de mudanças nas universidades brasileiras, visando um
modelo de maior eficiência e rendimento para essas instituições, conhecido como Plano Atcon. Em
1966, é editado pelo MEC um documento com as sugestões e recomendações do consultor Atcon,
com o título “Rumo à reformulação estrutural da universidade brasileira”. A proposta de reforma
incluía mudanças administrativas, pedagógicas e de regime de trabalho dos docentes. Era proposta a
criação de um conselho de reitores das universidades brasileiras, que foi efetivado em abril de 1966:
Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB). Atcon trabalhou nesse conselho como seu
primeiro secretário‑geral.

Em 1967, o governo criou uma comissão especial para tratar da Reforma Universitária, presidida
pelo general Meira Mattos. Segundo Fávero, a comissão tinha as seguintes finalidades:

a) emitir pareceres conclusivos sobre reivindicações, teses e sugestões


referentes às atividades estudantis;

b) planejar e propor medidas que possibilitassem melhor aplicação das


diretrizes governamentais no setor estudantil;

c) supervisionar e coordenar a execução dessas diretrizes, mediante


delegação do Ministro de Estado (FÁVERO, 2006, p. 31).

O relatório final da comissão indicaria algumas propostas para a Reforma Universitária, como a
ampliação das vagas, o “fortalecimento do princípio de autoridade e disciplina nas instituições de ensino
superior” (FÁVERO, 2006, p. 32), um princípio bastante ligado à lógica militar e muito distante do desejo
de uma universidade crítica, aberta às discussões, com liberdade, que estava em pauta no movimento
estudantil, indicando que a reforma reforçaria o controle e a repressão dentro da universidade. Também
eram propostos o vestibular unificado e a criação de cursos de curta duração.

155
Unidade III

As reformas educacionais realizadas no período também deixavam transparecer o autoritarismo


com que se tratava a educação, sem participação dos alunos, professores e outros setores da sociedade,
mantendo grande índice de reprovação, evasão escolar, além de falta de recursos materiais e humanos
nas instituições de ensino (PILETTI; PILETTI, 2002).

Até a Reforma Universitária, realizada pela Lei n. 5.540, de 28 de novembro de 1968, os candidatos ao
ensino superior deveriam realizar o exame vestibular e seriam considerados aprovados se alcançassem
uma determinada nota mínima. Mas frequentemente havia menos vagas do que pessoas aprovadas no
vestibular, o que gerava críticas. A UNE reivindicava o aumento das vagas no ensino superior, o que foi
parcialmente atendido com a duplicação das vagas na Universidade do Brasil (atual UFRJ) em março de
1964. Porém, ainda faltavam vagas e as reivindicações da UNE continuavam, mas com o novo regime
essa postura passava a ser considerada subversiva.

Algumas mudanças ocorridas na Reforma Universitária tentavam calar o movimento estudantil


sem atender a seus pedidos. Entre as mudanças instauradas, o vestibular passava a ser classificatório,
eliminando a nota mínima. A partir das vagas existentes se definiria o número de candidatos que
seriam aprovados, considerando as notas mais altas. Dessa maneira, não havia mais excedentes de
aprovados sem vagas, ainda que não se ampliasse o acesso. Foram introduzidos também os exames
vestibulares unificados e o ciclo básico, que era um conjunto de disciplinas comuns a estudantes de
vários cursos.

Também foram extintas as cátedras, que eram motivo de críticas de estudantes e professores devido
ao seu caráter autoritário, e em substituição foram criados os departamentos. A Faculdade de Filosofia
deixou de ser o espaço a partir do qual a universidade se organizava, e foram criadas unidades com pouca
interação entre si, com os institutos (voltados para a pesquisa e o ensino), as faculdades e escolas (para
formação profissional). Com essa divisão por unidades, a interação entre os estudantes foi diminuída.
Além disso, as matérias filosóficas dos cursos tornaram-se optativas.

Os currículos se tornaram mais flexíveis, com cursos parcelados e semestrais. Era introduzido nesse
momento o sistema de créditos. Foram instituídos regularmente os cursos de pós‑graduação (mestrado
e doutorado) e os cursos de curta duração. Ademais, o reitor passou a ter maior comando sobre os rumos
da universidade e houve crescimento da burocracia à qual professores e alunos estavam submetidos.

Pela reforma também foram aumentadas as vagas em universidades particulares, produzindo


excedente de vagas e superando o número de vagas das universidades públicas e gratuitas. Além
disso, as reformas que seriam realizadas posteriormente para o 1º e o 2º grau reforçaram o caráter
profissionalizante dessa formação, o que também era considerado um modo de reduzir o desejo dos
estudantes pelo ensino universitário (MAIA, 2018).

Se os estudantes e professores discutiam nos anos 1950 e 1960 sobre a construção de uma
universidade mais aberta à comunidade, livre, crítica, voltada para os problemas sociais, a reforma
realizada se baseava no modelo empresarial e burocrático, visando eficiência, modernização e
flexibilização administrativa.

156
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Lembrete

A Reforma Universitária de 1968 adotou um novo modelo de instituição


de ensino superior, com uma lógica empresarial e burocrática, visando
eficiência.

No final de 1968, em 13 de dezembro, o governo decretaria o AI‑5, um dos mais conhecidos entre
os Atos Institucionais, que tornaria mais dura a repressão. Se até então a violência política se dirigia aos
líderes políticos e aos movimentos sociais, “poupando” em grande parte os artistas e intelectuais – o que
gerava um certo ar de normalidade, já que havia crítica desses grupos ao regime –, o cenário mudaria
radicalmente. Como aponta Napolitano:

A partir de então, estudantes, artistas e intelectuais que ainda ocupavam


uma espera pública para protestar contra o regime passariam a conhecer
a perseguição antes reservada aos líderes populares, sindicais e quadros
políticos de esquerda (NAPOLITANO, 2014, p. 95).

Além do AI‑5, o Decreto‑lei n. 477, de 26 de fevereiro de 1969, foi criado para tratar especificamente
daqueles que se encontravam nas instituições de ensino do país, definindo o que seria considerado
como infrações disciplinares praticadas por professores, alunos, funcionários ou empregados de
estabelecimentos de ensino público ou particulares, e as punições a serem aplicadas. Segundo a referida lei:

Art. 1º Comete infração disciplinar o professor, aluno, funcionário ou


empregado de estabelecimento de ensino público ou particular que:

I – Alicie ou incite à deflagração de movimento que tenha por finalidade a


paralisação de atividade escolar ou participe nesse movimento;

II – Atente contra pessoas ou bens tanto em prédio ou instalações, de


qualquer natureza, dentro de estabelecimentos de ensino, como fora dele;

III – Pratique atos destinados à organização de movimentos subversivos,


passeatas, desfiles ou comícios não autorizados, ou dele participe;

IV – Conduza ou realize, confeccione, imprima, tenha em depósito, distribua


material subversivo de qualquer natureza;

V – Sequestre ou mantenha em cárcere privado diretor, membro de corpo


docente, funcionário ou empregado de estabelecimento de ensino, agente
de autoridade ou aluno;

VI – Use dependência ou recinto escolar para fins de subversão ou para


praticar ato contrário à moral ou à ordem pública (BRASIL, 1969).

157
Unidade III

O que se considerava subversão seria qualquer crítica ao regime ou utilização de autores e conceitos
não permitidos dentro do regime. O controle sobre o pensamento e a ação dos estudantes e professores
era tamanha que, mesmo com a anistia geral de 1979, a UNE e as uniões estaduais continuaram ilegais
até 1985 (PILETTI; PILETTI, 2002).

Segundo Maia (2018), com esse decreto toda uma geração de líderes estudantis foi desarticulada.
Havia listas indicando aqueles que não poderiam realizar matrícula na universidade, ou ainda para impedir
a contratação de professores que anteriormente tivessem sido considerados subversivos. Os estudantes
que praticassem qualquer atitude considerada por esse decreto eram desligados da universidade e não
poderiam realizar matrícula na instituição de origem, nem iniciar ou retomar os estudos em outras
instituições, pelo prazo de três anos, ou até indefinidamente.

Passaremos a tratar agora dos demais níveis de ensino, que atendiam a parcelas muito maiores da
população em relação ao ensino superior.

Segundo Hilsdorf (2015), os 12 acordos celebrados entre o MEC e a Usaid de 1964 a 1968 importavam
dos Estados Unidos para o Brasil a teoria do “capital humano”. Nas palavras da autora:

Basicamente essa teoria propõe que o processo de educação escolar seja


considerado como um investimento que redunda em maior produtividade
e, consequentemente, em melhores condições de vida para os trabalhadores
e a sociedade em geral. As habilidades e os conhecimentos obtidos com a
escolarização formal representam o “capital humano” de que cada trabalhador
se apropria: a teoria propõe que basta investir nesse capital para que o
desenvolvimento pessoal e social aconteça (HILSDORF, 2015, p. 123).

Dessa maneira, a educação seria a principal ferramenta para se alcançar o desenvolvimento do país,
o que será percebido também na Reforma do 1º e do 2º Grau.

Em 1971, pela Lei n. 5.692, de 11 de agosto, foi realizada a Reforma do 1º e do 2º Grau. A aprovação dessa
lei ocorreu de maneira muito rápida e praticamente sem discussões. O antigo curso primário (de quatro a
seis anos de duração) e o antigo curso ginásio foram unificados, formando o 1º grau. Os ramos profissionais
existentes no antigo ginásio (industrial, comercial, agrícola e normal) são extintos e, com isso, o 1º grau deixa
de oferecer formação profissional para se destinar à formação geral dos estudantes. Segundo Piletti e Piletti
(2002), essa medida foi bastante prejudicial às camadas populares, pois muitos que iniciavam e mesmo
finalizavam o ginásio acabavam não continuando seus estudos após essa etapa de ensino e, sem a formação
profissional nesse momento, perdiam espaço e qualificação no mercado de trabalho.

Em contrapartida, a partir de então o 2º grau se tornou obrigatoriamente profissionalizante. Ao


concluir esse nível de ensino o aluno também adquiria um certificado de auxiliar técnico (em cursos
de três anos) ou de técnico (em cursos de quatro anos). O Conselho Federal de Educação regulamentou
mais de 200 habilitações profissionais como consequência dessa medida.

158
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Quadro 2 – Mudanças no ensino a partir de 1971

Nova divisão do Primeiro grau Segundo grau


ensino básico
Correspondência com Antigo primário + ginásio Antigo colegial
a divisão anterior
Deixa de oferecer Necessariamente implica
Outras mudanças ensino profissional uma formação profissional:
(nos antigos ginásios) auxiliar técnico ou técnico

Aquele que desejava candidatar‑se ao ensino superior deveria terminar o 3º ano do 2º grau e ser
aprovado no exame vestibular. Como consequência dessa medida e pelo fato de muitas escolas não
terem condições de oferecer essa formação profissional, duas medidas foram comuns naquele momento.
Algumas escolas elaboravam um currículo oficial, que seria apresentado em caso de fiscalização, mas de
fato as disciplinas ministradas eram diferentes, voltadas para a preparação dos estudantes no vestibular.
Ou, ainda, a escola oferecia as habilitações que seriam mais baratas para que a instituição pudesse
desenvolvê‑las, o que muitas vezes desprezava a necessidade do mercado daqueles profissionais
formados. Tal situação foi alterada pela Lei n. 7.044, de 18 de outubro de 1982, que determinava que os
estabelecimentos ficariam livres para oferecer ou não a habilitação profissional.

A reforma de 1971 ainda aumentou o número de matérias obrigatórias, a saber:

• Língua Portuguesa

• História

• Geografia

• Organização Social e Política do Brasil

• Matemática

• Ciências Físicas e Biológicas

• Educação Física

• Educação Artística

• Educação Moral e Cívica

• Programas de Saúde

Além disso, o ensino religioso foi mantido com matrícula facultativa.

159
Unidade III

As matrículas no 1º e no 2º grau aumentaram após as medidas reformistas, mas sem grandes avanços.
Em 1960, 10,6% da população estava matriculada no 1º grau, porcentagem que cresceu para 14,7% em
1970, para 18,6% em 1980 (após a reforma do ensino de 1º e 2º grau) e para 18,3% no final do regime,
em 1985. Em relação ao 2º grau, as matrículas em 1960 eram de 1,68% da população nacional, passando
para 5,28% em 1970, para 2,37% em 1980 e para 2,23% em 1985. As matrículas no ensino superior
também cresceram, de 107.299 em 1962 para 278.295 em 1968; para 425.478 em 1970; para 1.377.286
em 1980 e para 1.518.904 em 1989 (PILETTI; PILETTI, 2002).

Outra questão importante relativa à educação eram as altas taxas de analfabetismo. Para solucionar o
problema, o governo criou, em 1967, o Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral), iniciando suas
atividades apenas em 1969, com estrutura que funcionava de maneira paralela ao MEC. Era realizado o
recrutamento de alfabetizadores sem muita experiência, preparando uma ação com algumas semelhanças
em sua superfície ao Método Paulo Freire. Eram utilizadas palavras geradoras, retiradas do contexto de
vida dos educandos, e a partir delas se aprendiam padrões silábicos. As diferenças estavam no aspecto
crítico e problematizador inerente ao Método Paulo Freire, que é esvaziado no Mobral. Além disso, era
utilizado material padronizado para todo o país. Os resultados do Mobral foram muito questionados,
com acusações de que os números de alfabetizados eram inflados e que os recursos que o Ministério da
Educação destinava a suas atividades eram desviados. Por isso, foi instaurada uma Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) para investigar essas acusações e o Mobral foi extinto em 1985 (SOARES; GALVÃO, 2021).

Além do Mobral, a própria sociedade civil se mobilizou para a realização de iniciativas voltadas à
alfabetização de adultos, algumas vezes utilizando‑se de recursos do próprio Mobral, mas criando ações
que não apenas aplicavam o material e a metodologia indicados. Havia ações em igrejas, associações
comunitárias, sindicatos etc.

Observação

Taxa de analfabetismo: é calculada levando‑se em consideração a


porcentagem de analfabetos na população nacional com 15 anos de idade
ou mais.

Ainda assim, a taxa de analfabetismo era um problema para o país, mesmo que estivesse em um
movimento decrescente, tais resultados eram alarmantes. Em 1960, a taxa de analfabetismo era de 39,35%,
passando para 33,01% em 1970, para 25,94% em 1980 e para 18,8% em 1989 (PILETTI; PILETTI, 2002).

Outra questão importante que impedia maior acesso à escolarização eram as condições econômicas
de grande parte da população. Mesmo com a economia crescendo, as desigualdades sociais se
intensificaram, com a inflação e as condições de trabalho bastante difíceis no final do Regime Militar e
início do período de redemocratização. Por isso, o oferecimento de merenda escolar, transporte, livros
didáticos e de escolas de tempo integral tentava mitigar as dificuldades dos estudantes mais pobres
(HILSDORF, 2015).

Ficariam muitos desafios na educação para serem enfrentados nas próximas décadas, a partir de
1985, com o fim do regime.

160
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

8 A EDUCAÇÃO NA REDEMOCRATIZAÇÃO E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO


NO BRASIL

Em 1985 é realizada eleição indireta para presidente, que era parte da transição para o fim do Regime
Militar. Porém, algumas mudanças políticas ocorridas anteriormente já indicavam que o encerramento
da ditadura estava se aproximando, seguindo a linha indicada pelo general Golbery do Couto e Silva, de
que a transição deveria ser lenta, gradual e segura. Entre 1979 e 1985, ocorreu o processo de anistia
política, que permitiu que pessoas antes perseguidas pelo regime pudessem retornar do exílio. Porém,
ao final do regime, todos os excessos cometidos pelos militares no poder também foram perdoados,
o que apenas foi revisto na Comissão Nacional da Verdade, criada como órgão temporário pela Lei
n. 12.528, de 18 de novembro de 2011, que passou a ouvir as pessoas que foram torturadas, perseguidas
ou que tiveram parentes mortos e desaparecidos, descortinando os aspectos mais violentos desses anos.
Ainda que o resultado dessa comissão não tenha sido a punição de nenhum dos torturadores ou outros
envolvidos em crimes do passado, o direito a ter suas histórias tiradas do esquecimento faz parte de um
movimento de busca por justiça pelos mortos e desaparecidos.

Saiba mais

Você pode acessar os documentos produzidos pela Comissão Nacional


da Verdade pelo site oficial:

COMISSÃO Nacional da Verdade. Brasília: CNV, 2014. Disponível em:


https://cutt.ly/lB03qmo. Acesso em: 20 out. 2022.

O retorno à democracia no Brasil aconteceu em um momento conhecido como Nova Ordem


Mundial, ou neoliberalismo. Como aponta Saviani (2018), em 1989 havia ocorrido a reunião do
International Institute for Economy, de Washington, em que se discutiram as reformas consideradas
necessárias para a América Latina nesse momento, o que ficou conhecido como Consenso de
Washington. Nas palavras do autor:

No que se refere à América Latina o consenso implicava, em primeiro


lugar, um programa de rigoroso equilíbrio fiscal a ser conseguido
por meio de reformas administrativas, trabalhistas e previdenciárias
tendo como vetor um corte profundo nos gastos públicos. Em
segundo lugar, impunha‑se uma rígida política monetária, visando à
estabilização. Em terceiro lugar, a desregulação dos mercados tanto
financeiro como do trabalho, privatização radical e abertura comercial
(SAVIANI, 2018, p. 293).

161
Unidade III

O final do Regime Militar no Brasil também coincidiu com o fim da Guerra Fria, simbolizado
na queda do Muro de Berlim. O mundo estava se reorganizando em suas dinâmicas internacionais
de poder e influência. E nesse momento, a agenda neoliberal passou a ser hegemônica em muitos
países da Europa e da América Latina. Ainda, são revistos os ideais de estado de bem‑estar social,
que previam a participação dos governos para garantir dignidade à população através do acesso
a serviços públicos na área educacional, na saúde, no transporte, em políticas de promoção de
habitação social etc.

A princípio, a agenda neoliberal foi imposta por agências internacionais de financiamento, mas
posteriormente foi assumida pelas elites econômicas dos países latino‑americanos. Esse contexto
tem impactos nos rumos das políticas educacionais do Brasil a partir da década de 1990, já que a
educação faz parte do contexto histórico e dialoga com as necessidades e características de seu
tempo. Ainda segundo Saviani:

Nesse novo contexto as medidas de política educacional vão ser marcadas


por uma espécie de neoconservadorismo. Diante do mote do “Estado
mínimo” passa‑se a considerar a chamada “decadência da escola pública”
como resultado da incapacidade do Estado de gerir o bem comum. Com isso
advoga‑se, também no âmbito da educação, a primazia da iniciativa privada
regida pelas leis do mercado (SAVIANI, 2018, p. 293).

Em 1982 ocorreram novamente eleições diretas para governador, e em 1989 também aconteceriam
para presidente, após a redação da nova Constituição brasileira de 1988, conhecida também como
Constituição Cidadã.

Segundo Piletti e Piletti (2002), houve grande movimentação social de diferentes grupos para que
suas pautas tivessem presentes na redação final da Constituição, que seriam as “emendas populares”.
Mais uma vez, no campo educacional, as discussões se dividiam entre grupos defensores da destinação
de verbas públicas e favorecimento das instituições privadas de ensino e aqueles que defendiam a escola
pública e gratuita.

Os profissionais da educação também começaram a se mobilizar em relação às novas leis que seriam
criadas nesse campo. Mesmo durante a ditadura, grupos ligados ao ensino iniciaram a mobilização,
ainda que as políticas educacionais sempre fossem tomadas de cima para baixo, sem participação social.
No final da década de 1970 surgiu a Associação Nacional de Pesquisa e Pós‑Graduação em Educação
(ANPEd), criada em 1977; também a Associação Nacional de Educação (Ande), fundada em 1979 e que
surgiu da antiga Confederação dos Professores Primários do Brasil (CPPB); a Associação Nacional dos
Docentes do Ensino Superior (Andes), entre outras.

A partir de 1980 foram organizadas pelos educadores as Conferências Brasileiras de


Educação (CBEs), que discutiam a política educacional no Brasil. Observe a seguir os temas de cada
conferência realizada:

162
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

• 1980 – I CBE: “A política educacional”

• 1982 – II CBE: “Educação: perspectiva na democratização da sociedade”

• 1984 – III CBE: “Da crítica às propostas de ação”

• 1986 – IV CBE: “A educação e a Constituinte”

• 1988 – V CBE: “A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional”

• 1991 – VI CBE: “Política Nacional de Educação”

A Assembleia Constituinte só foi reunida a partir de fevereiro de 1987, mas já em 1986 o grupo
estava discutindo a educação na nova Constituição; ou ainda, logo em 1988 estavam preparando uma
proposta para a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que chegou a ser protocolada na Câmara dos Deputados
em dezembro do mesmo ano, mas acabou derrotada nas discussões políticas, divergindo da legislação
que foi efetivamente aprovada em 1996. Mesmo com a derrota, houve mobilização dos educadores
no I e II Congressos Nacionais de Educação, em 1996 e 1997 respectivamente, cujo resultado foi a
elaboração de um Plano Nacional de Educação, conhecido como “projeto da sociedade brasileira”, mas
que também foi sobreposto pelo projeto elaborado pelo MEC. Ou seja, os educadores se organizaram e
apresentaram propostas para a educação, mas sem conseguirem efetivamente participar desse processo
de construção das leis no momento da redemocratização.

Na Constituição de 1988, no artigo 6º, são apresentados como direitos sociais “a educação, a saúde,
o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados” (BRASIL, 1988), e posteriormente são acrescidos os direitos à moradia (Emenda
Constitucional n. 26, de 2000), à alimentação (Emenda Constitucional n. 64, de 2010) e ao transporte
(Emenda Constitucional n. 90, de 2015). Mas é fundamental notar que a educação é o primeiro direito
social mencionado.

Nesse sentido, é de competência da União legislar sobre as diretrizes e bases da educação nacional,
além de proporcionar os meios para que as pessoas tenham acesso a cultura, educação, ciência (texto
original), tecnologia, pesquisa e inovação (acrescidos por Emenda Constitucional n. 85, de 2015) (BRASIL,
1988, arts. 22‑23).

É mantido o princípio da educação como direito de todos, dever compartilhado entre


Estado e família:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será


promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (BRASIL, 1988).

163
Unidade III

E os princípios sobre os quais se baseia a educação promovida no país são assim apresentados
no artigo 206:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento,


a arte e o saber;

III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de


instituições públicas e privadas de ensino;

IV – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

V – valorização dos profissionais do ensino […];

VI – gestão democrática do ensino público, na forma da lei;

VII – garantia de padrão de qualidade […] (BRASIL, 1988).

A Constituição também defende a autonomia das universidades (BRASIL, 1988, art. 207) e define
a organização da educação. O ensino fundamental é obrigatório e gratuito “inclusive para os que a
ele não tiveram acesso na idade própria” (BRASIL, 1988, art. 208), sendo posteriormente definido, pela
Emenda Constitucional n. 59, de 2009, que a educação básica obrigatória ocorre dos 4 aos 17 anos
de idade. Pela Emenda Constitucional n. 14, de 1996, o ensino médio gratuito seria progressivamente
universalizado. Ou seja, ainda na primeira década após o fim da ditadura, o que compreendemos hoje
como o ensino básico, não era acessível a todos, mas sua expansão a todos estava prevista. A ideia
de universalização da educação aparece também com a preocupação da inclusão, sendo indicado o
“atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede
regular de ensino” (BRASIL, 1988, art. 208).

O ensino privado é livre, contanto que atenda às normas da educação nacional, seja autorizado e
passe pelas avaliações do Poder Público.

Já é preconizada na Constituição a fixação dos “conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de


maneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais
e regionais” (BRASIL, 1988, art. 210), o que seria realizado através da Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) recentemente.

A divisão da atuação dos municípios e dos estados é organizada com os municípios agindo
prioritariamente no ensino fundamental e infantil, e os estados no ensino fundamental e médio.

164
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Também fica indicado que haverá legislação voltada a planejar a educação nacional, com a intenção
de atender aos seguintes objetivos:

I – erradicação do analfabetismo;

II – universalização do atendimento escolar;

III – melhoria da qualidade do ensino;

IV – formação para o trabalho;

V – promoção humanística, científica e tecnológica do país (BRASIL, 1988,


art. 214).

Nesse momento, a maneira como a educação é pensada sofre uma mudança significativa no
que diz respeito à educação infantil, que passa a ser compreendida como direito da criança, não
apenas um direito da mãe que precisa da escola para poder deixar seus filhos enquanto trabalha.
Nesse sentido, não é mais uma “terceirização” do papel da família, mas uma etapa importante
de desenvolvimento das potencialidades da criança (FILIPIM; ROSSI; RODRIGUES, 2017). Por esse
motivo a obrigatoriedade do ensino vai sendo adiantada. Essa nova percepção da infância se reflete
também no Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069, de 1990) e na LDB de 1996, em
que pela primeira vez a educação infantil é considerada como parte da educação básica. Assim,
segundo artigo 21 da LDB:

Art. 21. A educação escolar compõe‑se de:

I – educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e


ensino médio;

II – educação superior (BRASIL, 1996).

Segundo a LDB, a finalidade da educação básica seria “desenvolver o educando, assegurar‑lhe a


formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer‑lhe meios para progredir no
trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, 1996, art. 22).

Mais especificamente sobre a educação infantil, é definido no artigo 29 que sua finalidade seria
“o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico,
intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (BRASIL, 1996).

Em 2013, o artigo 4º da LDB é alterado, passando a ser obrigatória a educação dos 4 aos 17 anos.

Sobre o ensino fundamental, o artigo 32 trata de seus objetivos:

165
Unidade III

I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos


o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da


tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

III – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a


aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;

IV – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade


humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social
(BRASIL, 1996).

E para o ensino médio, com duração mínima de três anos, a etapa final da educação básica teria
então as seguintes finalidades, definidas no artigo 35:

I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no


ensino fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;

II – a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para


continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade
a novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;

III – o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo


a formação ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do
pensamento crítico;

IV – a compreensão dos fundamentos científico‑tecnológicos dos processos


produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada
disciplina (BRASIL, 1996).

A definição de educação do documento indica que:

Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem


na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de
ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil
e nas manifestações culturais (BRASIL, 1996).

Cabe complementar que, dessa definição ampla de educação, a legislação apresentada apenas
trataria da educação escolar, que deveria estar vinculada ao mundo do trabalho e à prática social,
inspirada na liberdade e solidariedade humana, para o pleno desenvolvimento do indivíduo, sendo que
o ensino seria baseado nos princípios a seguir:

166
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o


pensamento, a arte e o saber;

III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;

IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;

V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

VII – valorização do profissional da educação escolar;

VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação


dos sistemas de ensino;

IX – garantia de padrão de qualidade;

X – valorização da experiência extraescolar;

XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais


(BRASIL, 1996, art. 3º).

Sobre o respeito às particularidades e diferenças, o artigo 28 trata especificamente sobre a oferta


da educação básica para a população rural, que deveria se adequar àquela realidade em cada região,
com “conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos
da zona rural”, além de contar com organização própria, respeitando o calendário agrícola e condições
climáticas, e com “adequação à natureza do trabalho na zona rural” (BRASIL, 1996). Mais grupos serão
incorporados nessa legislação ao longo dos anos, como a educação bilíngue português‑libras para
surdos, a educação especial etc.

A LDB também determina a existência do Conselho Nacional de Educação e passam a ser realizados
exames nacionais dos cursos superiores, os chamados “provões”, que seriam realizados em 1996. Com os
resultados insatisfatórios de algumas instituições privadas, o MEC criou uma linha de crédito para
financiar programas para melhoria na qualidade dos cursos das escolas privadas, o que foi criticado
no jornal Folha de S.Paulo, em 15 de março de 1997, como um prêmio dado àqueles que deveriam ser
punidos pela incompetência (SAVIANI, 2006).

O Decreto n. 2.306, de 19 de agosto de 1997, trataria especificamente do ensino superior, dando


completa abertura para que a iniciativa privada criasse cursos superiores. Há nesse documento a
distinção entre “universidades” e “centros universitários”, os últimos não precisariam desenvolver
pesquisa, visando, com essa postura, abrir mais vagas no ensino privado.
167
Unidade III

Para lidar com a preocupação com o financiamento do ensino fundamental, é criado pela Emenda
Constitucional n. 14, de 12 de setembro de 1996, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério. Esse fundo seria substituído pelo Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que tinha
função mais ampla, pois incluía o financiamento do ensino infantil, fundamental, médio, da educação
de jovens e adultos (EJA), além da educação especial, educação rural, educação indígena e quilombola e
a educação profissional integrada ao ensino médio.

Outra importante política educacional criada após a redemocratização foi a montagem do sistema
nacional de avaliação, através da Medida Provisória n. 1.568, de 14 de fevereiro de 1997, que transforma
o Inep em uma autarquia federal, deixando de ser um órgão voltado para a realização e fomento de
pesquisas educacionais para tornar‑se um órgão dedicado à avaliação da educação nacional, em todos
os níveis e modalidades (SAVIANI, 2006).

Em 2004 foram criados o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) e o Exame
Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), pela Lei n. 10.861.

O que se nota nesses anos após a redemocratização são muitas políticas buscando ampliar o acesso
à educação, tornando o ensino obrigatório, e a tentativa de diagnosticar seus problemas através das
avaliações. Nesse momento houve uma mudança na percepção da população sobre o significado da
educação, que deixaria de ser privilégio da elite e da classe média urbana. Tornando‑se progressivamente
obrigatória, passou a ser vista como algo indesejado, sem sentido muitas vezes, pelas classes populares,
pois nem sempre a ampliação do acesso à escola implicava melhoria na vida e nas oportunidades de
trabalho desses grupos que passaram a frequentar o ensino básico regular. Nunca em nossa história
tivemos tantas pessoas efetivamente com direito à escola, e justamente nesse momento passamos a
enfrentar questionamentos sobre a efetividade da educação em beneficiar os indivíduos e a sociedade.
A violência e as classificações baixas nas avaliações internacionais fizeram com que se buscassem
culpados por um suposto “fracasso” da escola.

Mesmo os problemas identificados e enfrentados havia tantas décadas pareciam não ser superados,
como o caso do analfabetismo. As propostas do governo, após a redemocratização, para erradicar o
analfabetismo não inovaram muito inicialmente. Em 1985, foi criada a Fundação Educar, que fazia
parte do MEC e tinha a função de supervisionar as ações de alfabetização de adultos e que existiu
apenas até 1990. Nesse mesmo ano surgiu o Movimento de Alfabetização (Mova), voltado para a
educação popular.

Em 1996, foi lançado o Programa de Alfabetização Solidária, que tinha duração de seis meses,
sendo o primeiro mês dedicado ao treinamento dos alfabetizadores e os cinco meses seguintes,
para a alfabetização em si. A supervisão do programa era feita por instituições de ensino superior
do Sul e do Sudeste, mas o programa era realizado em municípios com Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH) inferior a 0,5, o que ocorria, sobretudo, nas regiões Norte e Nordeste do país.
O programa recebeu muitas críticas, com destaque para o tempo de duração – considerado muito
curto –, pois era realizado por alfabetizadores com apenas um mês de treinamento, os quais não
precisavam ser formados em pedagogia, ou em qualquer curso da área educacional, reforçando
168
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

a ideia de que qualquer pessoa podia ensinar outra a ler e escrever, bastava estar alfabetizada.
Havia críticas que indicavam que a organização do projeto também reforçava uma relação de
dependência e de distinção entre Norte‑Nordeste e Sul‑Sudeste, sendo que haveria possibilidades
de universidades muito mais próximas das cidades atendidas realizarem o treinamento e supervisão
dos educadores.

Também foi criado o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), em 1998, e
o Programa Brasil Alfabetizado, em 2003, muito semelhante ao Programa de Alfabetização Solidária,
mas com duração mais longa e com uma meta ambiciosa de erradicar o analfabetismo em quatro anos
(SOARES; GALVÃO, 2021).

Valeria a pena observar alguns dados de 2019 sobre a situação educacional do Brasil. Segundo os
dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o analfabetismo ainda não foi erradicado.
A conclusão do ensino básico ainda não é realizada por mais da metade dos brasileiros acima de 25 anos,
mesmo com sua obrigatoriedade.

Figura 19 – Taxa de analfabetismo entre pessoas de 15 anos de idade ou mais, em 2019

Disponível em: https://cutt.ly/U0wHt6x. Acesso em: 10 set. 2022.

169
Unidade III

Figura 20 – Taxa de analfabetismo, nível de instrução e número médio de anos de estudo no Brasil, em 2019

Disponível em: https://cutt.ly/TB2g1cW. Acesso em: 10 set. 2022.

São apontados nesse momento muitos desafios a serem enfrentados pela educação nacional. Vamos
listar alguns, que devem servir como convite à reflexão em sua atual e/ou futura prática profissional
como educador:

Erradicação do analfabetismo: como apresentado, esse problema é persistente em nossa história.


Como são os programas atuais para alfabetização de adultos? Como eles se organizam? Quem são os
educadores envolvidos? São profissionais da educação?

170
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

O analfabetismo funcional: nos últimos anos a discussão sobre a capacidade de compreensão


dos textos lidos por aqueles que são considerados alfabetizados vem se destacando no ambiente
acadêmico e na opinião pública. Como essa questão vem sendo discutida ao longo de sua formação?
Quais instrumentos você adquiriu nessa trajetória para lidar com essa situação em sua atuação
profissional?

O desempenho da educação brasileira nas avaliações nacionais e internacionais: o que essas


avaliações nos dizem sobre o nosso ensino? Por que os resultados vêm sendo tão baixos em suas notas?
Qual o papel dessas avaliações?

Qualidade do ensino: como melhorar a qualidade do ensino, considerando que a escola vem
adquirindo mais e mais responsabilidades, além de atender a grupos com características e necessidades
muito distintas?

O papel da escola: formação profissional, desenvolvimento pessoal (físico e intelectual), socialização


de conhecimentos, desenvolvimento da capacidade de reflexão, formação para a cidadania, entre tantos
outros são os objetivos colocados para a escola. Mas o que se espera efetivamente da educação? A
escola consegue lidar com objetivos tão amplos? Como se mede o sucesso da educação nesses mais
diversos aspectos?

A escola e os avanços da internet e da tecnologia: a educação tradicional voltada para a


memorização de conteúdos vem sendo questionada há muito tempo, como apontamos na unidade
anterior. Essa crítica à memorização ganhou mais um argumento importante com os avanços da
tecnologia e da internet, afinal, as informações estão disponíveis de modo muito mais acessível
hoje. No entanto, como podemos encontrar informações confiáveis? Como checá‑las? Ainda, o
conhecimento não se resume à aquisição de informações. É preciso aprender a interpretá‑las,
compreender o que está sendo informado, a utilidade e a aplicação de certos conhecimentos. Além
disso, os avanços tecnológicos são acompanhados de novas necessidades por parte de seus usuários.
Por mais que muitas dessas ferramentas tecnológicas sejam “intuitivas”, é preciso saber operá‑las de
maneira segura, proteger‑se de golpes, manter a privacidade de suas informações, acessar de forma
adequada os serviços oferecidos por meio dessas novas tecnologias etc., além de incorporar essas
novas tecnologias no cotidiano escolar.

A violência nas escolas: esse tema aflige muitos profissionais temerosos sobre sua própria segurança
no ambiente de trabalho. Por que a escola se tornou um espaço de violência? As soluções, especialmente
as arquitetônicas, tomadas como resposta a essa situação de fato contribuem para tornar o ambiente
mais seguro? Grades, corredores isolados, salas fechadas, a sensação de estar aprisionado no interior
das escolas, a impossibilidade de criar um espaço de convivência, de prazer em aprender e compartilhar
discussões e ideias com os colegas – seria essa a melhor solução? O que os projetos e propostas que
conseguiram bons resultados na redução da violência escolar fizeram para serem bem‑sucedidos?

171
Unidade III

Saiba mais

Além do questionamento sobre a educação regular, sobre sua qualidade


e o quanto suas soluções estão sendo bem executadas, há ainda, como em
todas as épocas, um questionamento sobre os métodos e princípios tidos como
a norma na educação atual e a observação de formas alternativas, projetos
pioneiros. Por isso, também indicamos alguns documentários para pensarmos
outras propostas e possibilidades a serem desenvolvidas por meio da educação.

TARJA Branca. Direção: Cacau Rhoden. Brasil: Maria Farinha Filmes,


2014. 80 min.

QUANDO sinto que já sei. Direção: Antonio Sagrado, Raul Perez e


Anderson Lima. Brasil: Despertar Filmes, 2014. 79 min.

SEMENTES do nosso jardim. Direção: Fernanda Heinz Figueiredo. Brasil,


2012. 118 min.

NUNCA me sonharam. Direção: Cacau Rhoden. Brasil: Maria Farinha


Filmes, 2017. 94 min.

MITÃ: criança brasileira. Direção: Lia Mattos e Alexandre Basso. Brasil:


Espaço Imaginário, 2013. 52 min.

Aqui, ao finalizarmos esta unidade e o livro‑texto, gostaríamos de que ficasse a reflexão sobre o
percurso desenhado nestas páginas e como elas podem contribuir para nos afastarmos de lugares comuns,
preconceitos e mitos sobre a educação brasileira – primeiramente, o de que escola era muito melhor no
passado, com professores mais qualificados e valorizados. Foi um longo processo para que pudéssemos
chegar à ampliação do acesso à escola que temos hoje e uma longa conquista a participação do Estado
na promoção dessa educação. A educação era privilégio e era acessível apenas às camadas mais altas,
pois era promovida pelas famílias. Quando o Estado passou a promover a educação, o acesso começou a
ser expandido para as camadas médias da sociedade, ainda assim, de forma muito restrita, com muitas
exclusões, até ser acessível às camadas populares ao longo do último século. A formação de professores
também era muito mais curta e precoce, sendo valorizada em certos níveis de ensino e para certos públicos.
Ainda há muito a se valorizar no tocante aos docentes, mas já há a discussão sobre o assunto na sociedade
e há mobilizações e disputas políticas para avançar nesse sentido. E mais, o fato de os docentes serem
profissionais da educação, com formação específica e trabalho reconhecido é uma conquista histórica.
Muitas vezes os desafios a serem enfrentados nos fazem ignorar os caminhos e conquistas já alcançados.

Ou seja, há muito a ser percorrido, mas é preciso olhar para o passado e compreender as construções
históricas que resultaram no cenário atual, para valorizar as conquistas adquiridas, não permitir
retrocessos e ter esperanças de que ocorrerão avanços.
172
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Resumo

Após o fim da Era Vargas um novo período democrático permitiu que se


proliferassem as discussões sobre a educação e a diversidade de iniciativas
e experiências voltadas para a promoção de melhorias no ensino.

O Estado passou a se apresentar de maneira mais clara ao legislar para


estabelecer as diretrizes e bases da educação nacional (1961).

Além de diferentes campanhas que buscavam atuar promovendo a


melhoria de alguns dos problemas da educação brasileira, como campanhas
de alfabetização de adultos, para educação de surdos, deficientes físicos
etc., a educação popular ganhou grande fôlego, especialmente a partir da
atuação de Paulo Freire e seu método de alfabetização de adultos, que,
além de muito rápido e bem‑sucedido, incorporava o letramento e a
conscientização dos trabalhadores que participavam desse processo.

A questão do analfabetismo seria um problema persistente em nossa


educação. Durante o período da Ditadura Militar, com inspiração no
Método Paulo Freire, mas adaptando‑o para que não contasse com o
aspecto crítico do processo de aprendizagem dos adultos, foi criado o
Mobral, que não obteve sucesso. Após a redemocratização, outros projetos
foram criados para lidar com a questão, mas constantemente se apoiavam
no recrutamento de educadores não profissionais, com pouco preparo para
lidar com os desafios que enfrentariam.

Também é importante salientar o esforço em se criar uma universidade


moderna, voltada para a realização de pesquisa de alta qualidade e a
formação de pesquisadores com a criação da Universidade de Brasília.

Durante a Ditadura Militar houve repressão a professores e estudantes,


desde o secundário até o ensino superior. Havia fiscalização dentro das
escolas e universidades para identificar qualquer possibilidade de crítica ao
regime ou posturas consideradas subversivas. As organizações estudantis
foram proibidas e passaram a atuar na clandestinidade.

Algumas reformas foram realizadas no ensino a partir da cooperação


com a Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos:
eram os acordos MEC‑Usaid.

No ensino superior o vestibular deixou de adotar a nota mínima,


eliminando assim as vagas excedentes. Foram extintas as cátedras e foi

173
Unidade III

criado o ciclo básico com matérias comuns aos cursos. Porém, as divisões
em institutos, faculdades e escolas afastou os estudantes e diminuiu o
intercâmbio entre as unidades. As universidades particulares se expandiram,
diminuindo a pressão pela ampliação da universidade pública.

Na Reforma de 1971 o ensino nacional foi reorganizado. O antigo primário


foi unido ao primeiro ciclo do secundário (ginásio) para formar o 1º grau;
o antigo colegial passou a ser chamado de 2º grau, que necessariamente
oferecia uma formação profissional aos estudantes. Essa postura voltada à
educação profissional gerou vários problemas, sendo abandonada em 1983.

Após a redemocratização, a Constituição de 1988 tratou a educação


como direito fundamental de todo cidadão. Foram ampliadas vagas
nas escolas públicas, o sistema de ensino foi organizado, com grande
participação do Estado como promotor de ações de incentivo ao ensino,
como legislador e fiscalizador da educação, buscando assim garantir
as mesmas condições e qualidade em todos os estados brasileiros.
Ainda assim, há muitas críticas e desafios a serem superados, como o
analfabetismo, o analfabetismo funcional, a qualidade do ensino, os
objetivos e funções que a escola deve desempenhar, as mudanças e
posturas do ensino frente às inovações tecnológicas, como enfrentar a
violência no ambiente escolar etc.

174
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

Exercícios

Questão 1. Em relação à reforma do ensino brasileiro de 1971, avalie as asserções e a relação


proposta entre elas.

I – Na Reforma de 1971, o ensino no Brasil foi reorganizado: a antigo primário foi ligado
ao primeiro ciclo do secundário (ginásio) para constituir o 1º grau, e o antigo colegial passou a
ser o 2º grau.

porque

II – Pela Reforma de 1971, o 2º grau deveria ser exclusivamente propedêutico, ou seja, voltado à
preparação do aluno para o ingresso no ensino superior.

Assinale a alternativa correta:

A) As asserções I e II são verdadeiras, e a asserção II justifica a I.

B) As asserções I e II são verdadeiras, e a asserção II não justifica a I.

C) A asserção I é verdadeira, e a asserção II é falsa.

D) A asserção I é falsa, e a asserção II é verdadeira.

E) As asserções I e II são falsas.

Resposta correta: alternativa C.

Análise da questão

Vimos no livro‑texto que, em 1971, o ensino nacional foi reorganizado. O antigo primário foi unido
ao primeiro ciclo do secundário (ginásio) para formar o 1º grau; o antigo colegial passou a ser chamado
de 2º grau, que necessariamente oferecia uma formação profissional aos estudantes. Essa postura
voltada à educação profissional gerou vários problemas e foi abandonada em 1983.

“Em 1970, o governo nomeou nove especialistas para elaborar a reforma. O anteprojeto ficou pronto
em dois meses. Em junho de 1971, chegou ao Congresso. A reforma proposta implicava ‘abandonar o
ensino verbalístico e academizante para partir, vigorosamente, para um sistema educativo de 1º e 2º grau
voltado às necessidades do desenvolvimento’, dizia a mensagem do ministro da Educação, Jarbas
Passarinho, enviada com o projeto que daria origem à Lei n. 5.692. O ministro – senador licenciado –
também afirmava que a reforma possibilitaria o abandono do ensino ‘meramente propedêutico’
(preparatório para o ensino superior) para dar terminalidade à escola de 2º grau, formando ‘os técnicos

175
Unidade III

de nível médio de que têm fome a empresa privada e a pública’. A terminalidade a que se referia o
ministro significava que o aluno, ao se qualificar como técnico ou auxiliar, poderia dar por encerrados
os estudos e entrar no mercado de trabalho”.

Adaptado de: https://cutt.ly/s0wN4Hw. Acesso em: 6 out. 2022.

Questão 2. Em relação ao que se refere à educação na Constituição de 1988, avalie as afirmativas.

I – A Constituição de 1988 menciona que a educação é um direito fundamental de todo


cidadão brasileiro.

II – Pela Constituição de 1988, vemos que a União deve legislar sobre as diretrizes e as bases da
educação nacional e, também, proporcionar os meios para que as pessoas tenham acesso à cultura, à
educação, à ciência etc.

III – A Constituição de 1988 estabelece que a educação é um dever exclusivo do Estado, que não
pode ser compartilhado com a família.

É correto o que se afirma em:

A) I, II e III.

B) I e II, apenas.

C) I, apenas.

D) II, apenas.

E) III, apenas.

Resposta correta: alternativa B.

Análise da questão

No artigo 6º da Constituição de 1988, são mencionados os direitos sociais de todo cidadão brasileiro:
“a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e
à infância, a assistência aos desamparados” (BRASIL, 1988).

Posteriormente, foram incluídos os direitos à moradia (Emenda Constitucional n. 26, de 2000),


à alimentação (Emenda Constitucional n. 64, de 2010) e ao transporte (Emenda Constitucional
n. 90, de 2015).

176
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

É importante observarmos que a educação é o primeiro direito social mencionado na Constituição


de 1988.

Na nossa atual Constituição, temos que é de competência da União legislar sobre as diretrizes e
bases da educação nacional, além de proporcionar os meios para que as pessoas tenham acesso a
cultura, educação, ciência (texto original), tecnologia, pesquisa e inovação (acrescidos por Emenda
Constitucional n. 85, de 2015).

Na Constituição Cidadã, é mantido o princípio da educação como direito de todos, dever


compartilhado entre Estado e família: “Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado
e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno
desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho” (BRASIL, 1988).

177
REFERÊNCIAS

Audiovisuais

ARQUITETURA da destruição. Direção: Peter Cohen. Suécia: Poj Filmproduktion AB, 1989. 119 min.

DESMUNDO. Direção: Alain Fresnot. Brasil/Portugal: A.F. Cinema e Vídeo, 2003. 101 min.

O DESTINO. Direção: Youssef Chahine. França/Egito: Canal+, Centre national du cinéma et de l’image
animée (CNC), Fonds Sud Cinéma, 1997. 135 min.

EM NOME de Deus. Direção: Clive Donner. Reino Unido/Iugoslávia: Amy International Artists, FilmDallas
Pictures e Jadran Film, 1988. 115 min.

A GUERRA do Paraguai. In: GUERRAS do Brasil.doc. Direção: Luis Bolognesi. Brasil: Buriti Filmes, 2019. 26 min.

AS GUERRAS de Conquista. In: GUERRAS do Brasil.doc. Direção: Luis Bolognesi. Brasil:


Buriti Filmes, 2019. 27 min.

AS GUERRAS de Palmares. In: GUERRAS do Brasil.doc. Direção: Luis Bolognesi. Brasil:


Buriti Filmes, 2019. 26 min.

HANS Staden. Direção: Luiz Alberto Pereira. Brasil/Portugal: Instituto Português da Arte
Cinematográfica e Audiovisual (IPACA), Jorge Neves Produção Audiovisual, Lapfilme, 1999. 92 min.

JANE Eyre. Direção: Cary Joji Fukunaga. Reino Unido/Estados Unidos: Focus Features, BBC Films e Ruby
Films, 2011. 120 min.

JUVENTUDES roubadas. Direção: James Kent. Reino Unido/Dinamarca: BBC Films, BFI Film Fund e Heyday
Films, 2014. 129 min.

LADO a lado. Direção: Cristiano Marques e André Câmara. Brasil: Rede Globo de Televisão, 2012.
50 min. (154 episódios).

A MISSÃO. Direção: Roland Joffé. Reino Unido/França: Warner Bros., Goldcrest e Kingsmere, 1986. 125 min.

MITÃ: criança brasileira. Direção: Lia Mattos e Alexandre Basso. Brasil: Espaço Imaginário, 2013. 52 min.

O NOME da rosa. Direção: Jean‑Jacques Annaud. Alemanha Ocidental/Itália/França:


Constantin Film, 1986. 126 min.

NÓS que aqui estamos por vós esperamos. Direção: Marcelo Masagão. Brasil:
Agência Observatório, 1999. 73 min.

178
NUNCA me sonharam. Direção: Cacau Rhoden. Brasil: Maria Farinha Filmes, 2017. 94 min.

PAULO Freire contemporâneo. Direção: Toni Venturi. Brasil: TV Escola, 2006. 55 min.

QUANDO sinto que já sei. Direção: Antonio Sagrado, Raul Perez e Anderson Lima. Brasil: Despertar
Filmes, 2014. 79 min.

A REVOLUÇÃO de 1930. In: GUERRAS do Brasil.doc. Direção: Luis Bolognesi. Brasil: Buriti Filmes, 2019. 25 min.

SEMENTES do nosso jardim. Direção: Fernanda Heinz Figueiredo. Brasil, 2012. 118 min.

SILÊNCIO. Direção: Martin Scorsese. Estados Unidos/Reino Unido/Taiwan/Japão/México/Itália: SharpSword


Films, AI‑Film e CatchPlay, 2016. 161 min.

TARJA Branca. Direção: Cacau Rhoden. Brasil: Maria Farinha Filmes, 2014. 80 min.

Textuais

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