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Projeto Ético Político e exercício profissional em Serviço Social - CFESS

I-Liberdade: o valor ético central do codigo (três notas didáticas)

● 1)….as prescrições contidas em todos os seus títulos dispõem de sólida articulação


interna: a linha condutora do Código vincula a dimensão ética do exercício
profissional na intercorrência da defesa dos direitos/deveres do assistente social com
o compromisso de prestações de qualidade aos usuários e do relacionamento com as
organizações da sociedade civil e os movimentos sociais.

● O Código, nesta medida e à diferença de outros diplomas similares, não possui duas
faces, uma “interna”, centrada em determinações corporativas, e outra “externa”,
voltada para a interação com o público, as outras profissões, a sociedade etc. Em
todos os seus títulos, o Código mantém a integração das suas prescrições com os
seus “princípios fundamentais”.

● 2)A variabilidade do sentido que se confere à liberdade não se registra apenas no


curso da história – ela é constatável no quadro de uma mesma sociedade: quando
esta se mostra dividida e marcada por antagonismos de classes, a sua cultura (e a
categoria de liberdade só existe como parte integrante de um sistema cultural, que
comporta tensões e subsistemas diferenciados) necessariamente os expressa; nem
mesmo o controle que alguma classe sempre detém sobre os meios de divulgação de
ideias (escolas, igrejas, veículos de comunicação social) pode ocultar por completo
as contradições reais existentes. Para dar um exemplo bastante simples, veja-se
como é utilizada no Brasil atual a ideia de liberdade pelos grandes proprietários de
terras (representados pela Confederação Nacional da Agricultura e da Pecuária/CNA)
e pelos milhões de trabalhadores rurais expropriados (representados pelo Movimento
dos Trabalhadores Rurais sem Terra/MST).

● O conceito de liberdade é muito variável de acordo com o povo, a cultura etc. e


portanto só são válidos dentro de cada uma de suas culturas, não podendo ser
comparados. Os intelectuais que hoje acreditam e professam essa interpretação
negam que haja um conceito ahistórico de liberdade e são relativistas, negando a
relação construída entre liberdade e capitalismo típica da modernidade (pensamento
pós -moderno)

● Ao ser posta no Código como “valor ético central”, a liberdade funda todos os outros
“princípios fundamentais” (por isto, não é acidental que seja o primeiro): é
imediatamente fundante de sete dos outros (“defesa intransigente dos direitos
humanos”, “ampliação e consolidação da cidadania”, “defesa do aprofundamento da
democracia”, “empenho na eliminação de todas as formas de preconceito”, “garantia
do pluralismo”, “opção por um projeto profissional vinculado ao processo de
construção de uma nova ordem societária”, “exercício do Serviço Social sem ser
discriminado”) e mediatamente dos três restantes (“posicionamento em favor da
equidade e justiça social”, “articulação com os movimentos de outras categorias” e
“compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população”).

● Opções como essas infirmam, negam uma visão relativista da liberdade: assumindo o
caráter histórico dos valores que abriga, o Código não os equaliza a outros – situa-os
como melhores e os prioriza, põe-nos como fundamentais e faz deles suportes de
projetos societários (“sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero”). Por
outra parte, o Código infirma também a possibilidade de tomar a vida social
contemporânea como fragmentária e segmentar, realidade fundamentalmente
simbólica, resultante dos sentidos que lhe conferem sujeitos singulares. Nestes dois
componentes reside a fronteira entre o espírito do Código e tendências do
pensamento pós-moderno.

● Todavia, o núcleo duro dessa recepção crítica parece-me residir noutro lugar: o
Código assume o princípio da individuação (conquista absolutamente fundamental da
Ilustração), mas expurga da herança ilustrada o individualismo (conexo ao liberalismo
clássico e exacerbado nas suas derivações). Com este expurgo, a concepção de
liberdade que o Código incorpora remete expressamente a indivíduos sociais e, com
isto, alteram-se estruturalmente as condições concretas do exercício da liberdade: os
outros não são limites para a liberdade de cada um, mas a própria possibilidade
dela (correlatamente, o direito de um não se constrange pelo espaço ocupado pelo
direito de outrem – o direito deixa de ser definido negativamente). Por isto, a
liberdade que é, para o Código, “valor ético central”, exige o “respeito à diversidade” e
a “discussão das diferenças”; é liberdade que, para realizar-se, requer a “garantia do
pluralismo”. Também aqui, contudo, o Código evita o grave equívoco de confundir
democracia com liberalismo; a superação das concepções liberais é nítida: o
pluralismo consagrado pelo Código tem fronteiras, uma vez que propõe o “respeito
às correntes profissionais democráticas” (itálicos meus) – exclui-se, portanto,
qualquer “respeito” a correntes afetas a posições fascistas, racistas ou de
qualquer ordem que atentem contra os direitos humanos e aqueles
tradicionalmente constitutivos da cidadania moderna (direitos civis, políticos e
sociais).

● Não há, no Código, nenhuma função providencial atribuída à profissão – duas


notações são aqui suficientes para mostrá-lo: 1ª. ao assinalar a “ampliação e
consolidação da cidadania”, ele a situa como “tarefa primordial de toda a sociedade”
(itálicos meus); 2ª. na sequência imediata da opção por um projeto profissional
vinculado à construção de uma nova ordem social, o Código confere tal relevância à
“articulação com os movimentos de outras categorias” que a insere no próprio elenco
dos “princípios fundamentais”.

● 3) A essencialidade da determinação concreta da liberdade reside nas exigências a


atender para o seu efetivo exercício: a “autonomia, emancipação e plena expansão
dos indivíduos sociais”. Sem “definir” a liberdade, o Código patenteia que a
concepção de liberdade que assume tem no seu núcleo a individuação que supera o
individualismo: trata-se da expansão de indivíduos sociais emancipados porque
autônomos e porque podem desenvolver livre e socialmente as suas potencialidades.
O conteúdo concreto da liberdade é assim exposto de modo inequívoco e diz respeito
a toda a humanidade, a todos os homens e mulheres sem qualquer discriminação
(“por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade,
orientação sexual, identidade de gênero, idade e condição física”). Sem “definição” da
liberdade, mas com tais determinações, parece-me correto interpretar o espírito do
Código afirmando que, nele, liberdade é a possibilidade de escolher entre
alternativas concretas; se assim é, o Código põe a liberdade sem o
constrangimento de limites previamente formulados: põe-na exatamente como um
horizonte de possibilidades. Uma profissão – e o Serviço Social é apenas uma
profissão – não se explica e se compreende sem que se explique e compreenda
a sociedade em que se desenvolve.

● A construção do perfil socioeconômico para possibilitar a formulação de estratégias


de intervenção, bem como a criação de mecanismos e rotinas de ação que facilitem e
possibilitem o acesso dos usuários aos serviços cabem às ações
socioassistenciais. Já as ações de articulação com as equipes de saúde dizem
do processo, junto com equipe de saúde, de elaboração, organização e realização de
treinamentos e capacitação do pessoal técnico administrativo para fins de
capacitação. As ações socioeducativas se propõem a desenvolver ações de
mobilização junto à comunidade, objetivando a democratização das informações da
rede de atendimento aos direitos sociais.

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