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Ana Luiza Bernardes Henriques Amaral, Dandara Camélia da Silva Domingues,

Giovanna Alves Lourenço, Priscila Larcher Longo


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A INVISIBILIDADE DAS POPULAÇÃO LGBTQIA+ E O


ATENDIMENTO POR ESTUDANTES E PROFISSIONAIS DA
SAÚDE

INVISIBILITY OF LGBTQIA+ POPULATION AND


SERVICE BY STUDENTS AND HEALTHCAREPROFESSIONALS

LA INVISIBILIDAD DE LA POBLACIÓN LGBTQIA+ Y EL


SERVICIO POR PARTE DE ESTUDIANTES Y PROFESIONALES
DE LA SALUD

Ana Luiza Bernardes Henriques Amaral1


Dandara Camélia da Silva Domingues2
Giovanna Alves Lourenço3
Priscila Larcher Longo4

DOI: 10.54751/revistafoco.v16n7-037
Recebido em: 13 de Junho de 2023
Aceito em: 12 de Julho de 2023

RESUMO
A invisibilidade social é o atributo de não ser visível perante o outro. No caso das
pessoas LGBTQIA+ consiste, principalmente, no fato desses indivíduos não obterem
reconhecimento social e, consequentemente, serem colocados/as/es em situações de
marginalização social. Em razão disso, o citado grupo se depara com percalços de
desafios ao longo de sua jornada, como em fragilidades e precariedades na qualidade
de atendimento e tratamento no setor da saúde. Dito isto, esse projeto teve como
objetivo analisar se a invisibilidade social da população LGBTQIA+ atinge a capacitação
e qualidade de atendimento dos profissionais e futuros profissionais do campo da saúde.
Tratou-se de um estudo transversal observacional quantitativo composto por um
questionário enviado por aplicativo de mensagens (WhatsApp) a profissionais e
estudantes da área da saúde. Foram incluídos, no estudo, 292 participantes, onde cerca
de 90% afirmaram que acreditam que os profissionais da saúde estão preparados para
atender adequadamente essa população. Porém, cerca de 32% já presenciaram atos
de preconceito ou tratamento diferenciado devido à identidade de gênero e/ou
orientação sexual de um paciente. Além disso, 92,9% entendem que as pessoas

1
Graduanda em Medicina. Universidade São Judas Tadeu (USJT). R. São Paulo, 328, Jardim São Francisco, Cubatão -
SP, CEP: 11500-020. E-mail: analuizabha@gmail.com
2
Mestranda em Ciências do Envelhecimento pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências do
Envelhecimento da Universidade São Judas Tadeu (PGCE - USJT). Rua Taquari, até 799/800, Mooca – SP,
CEP: 03166-000. E-mail: psidandaradomingues@gmail.com
3
Graduanda em Medicina da Universidade São Judas Tadeu (USJT). R. São Paulo, 328, Jardim São Francisco, Cubatão
- SP, CEP: 11500-020. E-mail: gicaalveslouren@gmail.com
4
Doutora em Ciências. Programa Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciências do Envelhecimento da Universidade São
Judas Tadeu (PGCE - USJT). Rua Taquari, até 799/800, Mooca – SP, CEP: 03166-000.
E-mail: priscila.longo@saojudas.br

Revista Foco |Curitiba (PR)| v.16.n.7|e2334| p.01-10 |2023


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A INVISIBILIDADE DAS POPULAÇÃO LGBTQIA+ E O ATENDIMENTO
POR ESTUDANTES E PROFISSIONAIS DA SAÚDE
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LGBTQIA+ enfrentam dificuldades no acesso a atendimentos em saúde. No mais, a


partir dos dados obtidos, notou-se a necessidade da criação e implantação das políticas
públicas de saúde LGBTQIA+ e da capacitação dos estudantes e profissionais da área
da saúde.

Palavras-chave: Saúde; LGBTQIA+; profissionais da saúde; marginalização social.

ABSTRACT
Social invisibility is the attribute of not being visible to others and, in the case of
LGBTQIA+ people, it consists mainly in the fact that these people do not obtain social
recognition, consequently, this population is placed in a condition of social
marginalization. This population is placed on the margins of society and, consequently,
in a situation of fragility and lower quality of healthcare and treatment by the healthcare
sector. This project aimed to analyze if the social invisibility of the LGBTQIA+ population
affects the training and quality of healthcare of professionals and future health
professionals. This is a quantitative observational cross-sectional study composed by a
questionnaire sent via text messaging application (WhatsApp) to health professionals
and students. A total of 292 participants were included in the study. About 90% of the
participants stated that they believe that healthcare professionals are prepared to
adequately attend to this population. However, about 32% have already witnessed acts
of prejudice or different treatment due to a patient's gender identity or sexual orientation.
In addition 92. 9% believe that LGBTQIA+ people face difficulties in accessing
healthcare. From the data obtained, it is clear the necessity to create and implement
LGBTQIA+ public health policies, and to train students and health professionals.

Keywords: Health; LGBTQIA+; healthcare professionals; social marginalization.

RESUMEN
La invisibilidad social es el atributo de no ser visible para los demás y, en el caso de las
personas LGBTQIA+, consiste principalmente en que estas personas no obtienen
reconocimiento social, en consecuencia, se coloca esta población en una situación de
marginación social. Esta población se encuentra al margen de la sociedad y, en
consecuencia, en una situación de fragilidad y menor calidad de atención y tratamiento
en el sector salud. Este proyecto tiene como objetivo analizar si la invisibilidad social de
la población LGBTQIA+ afecta a la formación y calidad asistencial de los profesionales
y futuros profesionales sanitarios. Se trata de un estudio transversal observacional
cuantitativo que consiste en un cuestionario enviado a través de una aplicación de
mensajería (WhatsApp) a profesionales de la salud y estudiantes. Un total de 292
participantes fueron incluidos en el estudio. Cerca del 90% de los participantes
manifestaron que creen que los profesionales de la salud están preparados para atender
adecuadamente a esta población.Sin embargo, cerca del 32% ya han sido testigos de
actos de prejuicio o trato diferenciado por la identidad de género o orientación sexual de
algún paciente. Además 92,9% cree que las personas LGBTQIA+ enfrentan dificultades
para acceder a la atención médica. De los datos obtenidos, se desprende la necesidad
de crear e implementar políticas de salud pública LGBTQIA+, y de capacitar a
estudiantes y profesionales de la salud.

Palabras clave: Salud; LGBTQIA+; profesionales de la salud; marginación social.

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1. Introdução
Atualmente, as discussões sobre diversidade, gênero e sexualidade estão
em disputas em diversos setores da sociedade. Indivíduos possuem
características únicas, mas tambem há aquelas que são comuns a toda a
humanidade (JESUS, 2012), como a a sexualidade que abrange sexo,
orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução, sendo influenciada
por um conjunto de fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos,
políticos, culturais, jurídicos, históricos, religiosos e espirituais (OMS, 2015).
Partirndo disso, tem-se que a orientação sexual diz respeito à atração sexual,
romântica e/ou afetiva que uma pessoa sente por outra, sendo os principais
tipos: a heterossexualidade, a homossexualidade, a bissexualidade, a
pansexualidade e a assexualidade.
Já a identidade de gênero, relaciona-se a como o indivíduo se reconhece,
se autopercebe e como a sociedade irá identificá-lo dentro de um gênero e/ou,
em alguns casos, fora ou transitando por ele. Isto posto, têm-se a cisgeneridade
e a transgeneridade, sendo a última composta por agentes trans binários e não
binários. Quando dispõe de atores cisgêneros, aponta-se para aqueles e aquelas
que se identificam com o gênero designado ao nascimento ao longo de sua vida.
Já os transgêneros/as/es, são os que não se identificam com o gênero designado
ao nascimento e que, em razão disso, necessitam passar por um processo de
transição (CIASCA, HERCOWITZ & JUNIOR, 2021).
A violência contra a população LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais,
Travestis e Transexuais, Queers, Intersexuais e Assexuais) se estende por
vários séculos. Durante a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, experimentos
eram realizados em homossexuais com objetivos de reversão da orientação
sexual (CAMPOS & ALVES, 2015). Nesse cenário, o Brasil ocupa a posição de
país onde mais pessoas LGBTQIA+ são assassinadas no mundo (ANTRA,
2023). De acordo com o relatório de pesquisa do Grupo Gay da Bahia, ocorreram
276 homicídios e 24 suicídios de pessoas LGBT+ no país em 2021 (MOTT &
OLIVEIRA, 2022).
O termo invisibilidade social, apresentado na psicologia, em 1963, por
Edward Clifford, refere-se a um cenário onde o indivíduo não é visto como um

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ator ou atriz social. Posteriormente, alguns estudos definiram a invisibilidade


social como o não reconhecimento, falta de dados e informações, exclusão e
desigualdade (TOMÁS, 2010). No Brasil, os aspectos da sociedade heterocis-
normativa são impostos à população LGBTQIA+, acarretando na marginalização
social desse grupo e, consequentemente, sua invisibilização (CIASCA,
HERCOWIT & JUNIOR, 2021; OLIVEIRA et al, 2020). Sendo assim, as
características sociais, culturais, econômicas e políticas do país, pautadas no
binarismo sexual e de gênero, levaram a supracitada comunidade a um processo
de precarização e vulnerabilidade social (FERREIRA et al, 2019).
Diante dos fatos abordados, a literatura aponta que na área da saúde, ao
acessar tais espaços, a população LGBTQIA+ se depara com a falta de
capacidade dos profissionais e serviços de saúde para atender às suas
demandas. Além disso, existe uma culpabilização desse grupo pelos
profissionais por não buscarem os serviços de saúde, o que acarreta na
edificação de barreiras e fronteiras no acesso desses sujeitos às esferas de
saúde (CIASCA, HERCOWITZ & JUNIOR, 2021).
Ademais, a existência de dados a respeito da população LGBTQIA+ é
extremamente escassa, gerando uma invisibilidade acerca das questões
específicas desse universo. Não só isto, a falta de informações imprescindíveis
prejudica o reconhecimento de suas necessidades e a criação de políticas
públicas, sobretudo quando se trata da efetivação de uma política de saúde
integral para a comunidade (CARVALHO & BARRETO, 2021).
Nota-se, portanto, através do levantamento bibliográfico e dos resultados
da coleta de dados realizada nesta pesquisa, que há nos serviços de saúde a
falta de conhecimentos dos profissionais acerca das questões LGBTQIA+. Por
essa razão, para alcançar a equidade para a população LGBTQIA+, é necessário
o conhecimento acerca das demandas de saúde e do processo saúde-
adoecimento-cuidado desses indivíduos (CAMPOS & ALVES, 2015; PAULINO,
2016). Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi analisar a percepção da
invisibilidade das pessoas LGBTQIA+ nos serviços de saúde e na formação na
visão dos profissionais e futuros profissionais da saúde.

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2. Metodologia
Tratou-se de um estudo quantitativo transversal observacional composto
por um questionário enviado por aplicativo de mensagens (WhatsApp) à
profissionais e estudantes da área da saúde. O estudo possui o CAAE
59827922.6.0000.0089 e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade São Judas Tadeu (Número do Parecer: 5.498.621).
Após aceitar participar do estudo por assinatura online do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), os participante acessaram o
questionário, composto por questões para identificação dos mesmos, assim
como sua área de trabalho/estudo, percepções sobre o público LGBTQIA+,
conhecimento sobre o tema e, ainda, formas de atendimento à esse público. Os
que não responderam a todas as questões foram excluídos. Por fim, o
questionário foi respondido por 300 estudantes e profissionais da área da saúde
das mais diferentes áreas sem limite de idade e destes, 18 foram excluídos e
282 foram incluídos no presente estudo.

3. Resultados e Discussão
As coletas dos dados foram realizadas entre os meses de julho e agosto
de 2022. A maior parte dos respondentes (n=189, 67,02%) identificaram-se
como pertencentes ao gênero feminino. Já 92 participantes identificaram-se
como do gênero masculino (32,62%?), tendo apenas uma pessoa que se
declarou agênero.
A maioria (n=224, 79,43%) afirmou possuir entre 18 e 25 anos de idade e
16,6% (n=47) afirmaram possuir de 26 a 40 anos de idade, enquanto apenas 11
participantes (3,9%) declararam possuir entre 41 e 60 anos. Ademais, 270
respondentes (95,74%) declararam-se estudantes da área da saúde, e 12
(4,25%?) responderam ser profissionais da saúde.
Quando perguntado aos participantes se eles sabiam o significado de
cada uma das letras da sigla LGBTQIA+, 248 (n=87,9%) afirmaram que sim.
Grande parte dos integrantes da pesquisa (n=255, 90,42%) anunciaram acreditar
que os profissionais da saúde estão preparados para atender pacientes
LGBTQIA+ sem colocá-los em situações constrangedoras. Entretanto, quando

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questionados se já presenciaram algum ato de preconceito, ou tratamento


diferenciado devido à identidade de gênero ou orientação sexual de um paciente,
92 (32,62%) responderam que sim. Quando os entrevistados foram
questionados se acreditavam que o sistema único de saúde oferece um bom
suporte psicológico para as pessoas LGBTQIA+, mais de dois terços declararam
acreditar que não (n=134, 47,5%).
Paulino (2016) aponta que a ausência de capacitação dos profissionais
de saúde acerca das questões da população LGBTQIA+ implica no
comprometimento do cuidado em saúde dessa população na atenção básica.
Além disto, a falta de conteúdos relacionados à saúde da população LGBTQI+
nos currículos de formação dos profissionais da saúde e que há necessidade de
desenvolver formações e capacitações permanentes, baseadas na
humanização, para profissionais da saúde (PARANHOS, WILLERDING E
LAPOLLI, 2021).
A sigla LGBT e a palavra sexualidade não estão presentes nas Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN) do curso de graduação de Medicina e as palavras
gênero e orientação sexual aparecem apenas duas vezes no documento (no
artigo 5º e no artigo 12º, item II). Isto é, o assunto é abordado de forma genérica,
demonstrando o silenciamento e invisibilidade das demandas da agenda
LGBTQIA+ até mesmo nos registros que servem como base para o currículo dos
cursos de graduação em Medicina no Brasil (PAULINO, 2016).
Em 2013, o Ministério da Saúde (MS) lançou a Política Nacional de Saúde
Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, cujo um dos
objetivos específicos é: “reduzir os problemas relacionados à saúde mental,
drogadição, alcoolismo, depressão e suicídio entre lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais, atuando na prevenção, promoção e recuperação da
saúde” (BRASIL, 2013). Todavia, é necessário que haja a oferta de capacitações
adequadas aos profissionais de saúde para que, por meio disso, desenvolvam
mecanismos adequados para abordarem e lidarem com a população LGBTQIA+,
e suas demandas, para que esse objetivo seja efetuado.
Por fim, foram apresentados casos hipotéticos para que os participantes
aplicassem seus conhecimentos sobre a temática da pesquisa. Em um dos

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casos, foi questionada a conduta de um médico que solicita dosagem de PSA


(antígeno prostático específico) para um homem transgênero de 60 anos. A
maior parte dos respondentes (n=206, 73,1%) afirmou não concordar com a
conduta. Esse resultado pode ser interpretado de duas maneiras, pois não é
possível evidenciar se os participantes entendem que não há necessidade de
solicitar o exame visto que um homem transgênero não possui a estrutura
prostática, ou se os participantes responderam baseando-se na recomendação
de rastreamento para câncer de próstata do Ministério da Saúde, que não indica
a realização da dosagem de PSA para rastreamento em pacientes
assintomáticos (BRASIL, 2010).
Em outro caso, uma usuária que é travesti, de 25 anos, que utiliza seu
documento sem retificação de nome e gênero, recorre ao serviço de emergência
de um hospital. Os participantes foram questionados como, de acordo com a
vivência deles em núcleos de atendimento, a usuária seria chamada. 61
participantes (21,6%) acreditam que ela seria tratada por pronomes masculinos
e 221 (78,4%) acreditam que ela seria respeitada e tratada por pronomes
femininos.
A partir deste caso apresentado, é importante reiterar que o uso do nome
social nas redes de serviços de saúde é um direito garantido pela Portaria MS n.
1.820/2009 do Ministério da Saúde. Por conseguinte, o desrepeito ao nome
social de travestis e transexuais é uma forma de violência e é um fator relevante
para o afastamento e resistência dessa comunidade ao buscarem atendimentos.
Em contrapartida, o uso correto do nome social é uma importante ferramenta
para os profissionais da saúde, gerando vínculo dos usúarios transgênero com
os serviços de saúde e com os profissionais, e ainda, maior adesão aos cuidados
em saúde (SILVA et al, 2017).
Na sociedade atual, ainda que muitas conquistas tenham sido alcançadas
quanto à criação de políticas públicas de saúde para população LGBTQIA+,
ainda ocorre a hegemonia da heterossexualidade e cisgeneridade. A
desinformação e a discriminação acarretam prejuízos de saúde para essas
agentes. Segundo um estudo realizado com estudantes de medicina acerca do
currículo médico em uma faculdade na Inglaterra, com objetivo de avaliar a

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conscientização dos estudantes de medicina acerca das necessidade em saúde


da população LGBT e a postura em relação a esses pacientes, 69% dos
participantes receberam capacitação acerca das questões específicas de saúde
dessa população, e 85% dos estudantes que participaram do estudo afirmaram
que gostariam de receber treinamento acerca dessas questões, ademais, os
participantes acreditam que é menos comum para pacientes LGBT se sentirem
acolhidos nos serviços de saúde (JAMIESON et al, 2021).
Em vista dos dados coletados, é possível identificar a falta de formação e
capacitação de profissionais preparados para acolher e tratar a população
LGBTQIA+, além da falta de conhecimento acerca de suas questões e
determinantes sociais e de saúde.

4. Conclusão
Os resultados obtidos nesse estudo reforçam a necessidade do
desenvolvimento de mais pesquisas em relação à saúde da população
LGBTQIA+, da criação e implantação das políticas públicas de saúde voltadas e
focadas nas agendas desta comunidade, e da capacitação dos estudantes e
profissionais da área da saúde. Essas ações podem produzir marcadores de
saúde que possibilitem a construção de dados epidemiológicos para essa
população e que estratégias sejam tomadas para melhorar a qualidade de vida
e o atendimento desse público.

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