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Logo no princípio, nos deparamos com Dante no meio de uma floresta escura,
sem sabermos como ou o que o levou até lá. O próprio não nos diz muito, além do
fato de ser uma floresta “no meio da vida”. Ao encontrar uma saída, é logo atacado
por feras, marcadamente alegóricas, que o fazem retornar. É onde o alcança Virgílio
e revela sua missão de o guiar, mas não pelo caminho usual. É preciso descer ao
inferno, enfrentar provações e desventuras, para que se alcance o intento almejado
de reunir-se com sua amada Beatriz, que também o guiará. Desde aqui, vemos uma
característica de Dante que me cativou a atenção: sua vontade pusilânime, melhor
dizendo, sua descrença em si mesmo. Apesar de ter todos os indícios de que sua
empreitada está assegurada por alguém superior, Dante frequentemente demonstra
um espírito tenso. De todos os heróis que desceram ao submundo que conheci nas
mitologias, em Dante foi o primeiro que encontrei esse aspecto. Obviamente ele não
era um soldado, um lutador, mas ainda estava amparado por uma intenção divina.
Refletindo comigo, talvez esse fato tenha-o aproximado mais de nós enquanto
humanos do que aqueles heróis que torcíamos nas epopeias. Dante se apieda e
chora, desmaia e treme, diante de tanto horror. Muito possivelmente isso sucederia
a mim também.
Por outro lado, Virgílio é quem se destaca como força moral, incorruptível.
Curioso pensar que Virgílio é quem acredita piamente no sucesso da missão dada a
ele por um ser iluminado pela graça de uma fé alheia. Virgílio viveu na época
anterior ao cristianismo primitivo, quer dizer, não foi alcançado pela graça, estando,
portanto, apartado da redenção por uma questão de poucos anos. Mas ele não
titubeia. Sempre temos pessoas próximas que, ainda que não sejam religiosas,
ainda que professem outras fés, nos amparam em momentos da vida quando
estamos desanimados.
Outro episódio que me cativou foi a passagem pelo sétimo círculo, onde se
encontram os suicidas transformados em árvores espinhosas. Interessante a forma
como Dante escolhe retratá-los, pois a árvore sempre foi associada à vida; uma
semente pode passar anos guardada mas ainda germinará se plantada. É como se
aqueles que se desfizeram de suas próprias vidas voltassem para gerar a vida
nesse terreno inóspito, e ainda sangram quando cortados igual se derrama a seiva
das árvores de verdade. Uma imagem poética bonita até e, ao mesmo tempo, triste.
Questão 3