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RESENHA 08

TEXTO RESENHADO: FROSI, Vitor Eduardo. O amor enquanto valor


jurídico. Curitiba: Juruá, 2015, p. 73-121.
Luís Guilherme Nascimento de Araujo

O texto resenhado investiga a incidência do amor, ou afeto, como um


eixo de sentido e de valores necessário, que deve estar na composição do
direito desde a sua essência como fenômeno próprio de organização social e
de compartilhamento, entre pessoas, de objetivos, vontades, projetos e visões
de mundo. O autor refere o afeto e o amor como conceitos determinantes na
realização plena das vidas individuais, no contexto da socialização. Tratam-se
de concepções que permitem ultrapassar os limites semânticos da dignidade
da pessoa humana como princípio individual, referente ao domínio particular,
para reestabelecer um parâmetro de constituição dessa dignidade no exercício
das liberdades individuais em coexistência, comunicação e cooperação.
Faz-se uma crítica às idealizações do direito como um sistema
exclusivamente deontológico, formalizado, que promove uma “entificação” da
norma e do Estado e os toma como sustentos teóricos e práticos. Segundo
Frosi (2015), esse sistema, ainda que abrace o fundamento metafísico da
dignidade da pessoa humana, o faz em abstração e simplificação,
empobrecimento de sentidos e de potencialidades, limitando-o às instâncias
individuais, sujeitando-o à lógica instrumental e ignorando a magnitude dos
seus aspectos mais dinâmicos e plurais. O autor indaga se o direito como
sistema formal e técnico, que não promove o amor e o afeto como principais
arrimos, é capaz de tutelar eficazmente a dignidade e, questiona, ainda, a
possibilidade de se proteger essa dignidade sem que se tutele amor e afeto em
sua integralidade.
Nesse sentido, percebe-se o entendimento de que é necessário
evidenciar as limitações da produção racionalista do discurso científico sobre o
direito, entendendo-se, retomando Warat1, que as ciências sociais comportam
não somente formalidades e “pureza” teórica, mas também, e
expressivamente, significações, sensibilidades, relações afetivas. Essas
relações não afastam a objetividade científica do direito, mas, pelo contrário,
permitem concebê-lo mais adequadamente, e, em consequência, construí-lo
cotidianamente em torno de uma melhor proteção das pessoas e das
coletividades.
Denota-se uma necessidade de afastamento do fenômeno jurídico dos
arcabouços teóricos que, na modernidade, instituíram a clivagem do direito e
da moral. Se se tem clareza do direito como fenômeno social umbilicalmente
ligado ao compartilhamento da vida em sociedade e à afirmação de parâmetros
institucionais, principiológicos, procedimentais para que essa congregação
ocorra da forma mais eficaz possível, tem-se que a moral, o amor, o afeto e a
eleição de valores compartilhados são questão fundamental e inafastável
daquele. Isto é, a moral e o direito não só são relacionáveis, mas inafastáveis,
e a sua segmentação não faz mais do que simplificação e instrumentalização
de um fenômeno essencialmente complexo, histórico, relacional e afetivo.
1
WARAT, Luís Alberto. Introdução geral ao direito. v. II. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris
Editor, 1995, p. 45.

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